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quinta-feira, 16 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14478: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (18): Operação Bola de Fogo - Construção de Gandembel (O Inferno)

1. Em mensagem do dia 7 de Abril de 2015 o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos esta memória da sua guerra que lembra a Operação Bola de Fogo - Construção de Gandembel.

Caros amigos
Tenho este trabalho pronto para encerrar o meu livro. Ele é fruto de alguns testemunhos que registam a participação da minha Companhia – a CART 1689. Portanto, perdoem-me a visão parcial e redutora dessa enorme e injustificada Operação que ficou bem marcada na história da Guerra Colonial.
Não sei se isto terá interesse para a publicação no nosso Blogue, até porque há vários testemunhos que já foram ali publicados.
Como hoje decorre o 47.º aniversário do início dessa Operação, lembrei-me de por o assunto à vossa consideração.

Um forte abraço do
Silva da CART 1689


Outras memórias da minha guerra

17 - Operação “Bola de Fogo” – construção de Gandembel 
(O inferno)



1 - DESTINO FELIZ OU PRÉMIO AO DEVER

Fui criado num ambiente extremamente humilde e bastante castigado pelo regime salazarista. Todavia, quando ouvi a minha Professora D. Irene, logo na primeira classe, ensinar-nos marchas e louvores a Portugal e aos nossos heróis, senti-me eternamente ligado à nossa Pátria. Recordo que, mais tarde, numa das redações que costumávamos fazer, exaltei o meu sentimento patriótico, prometendo que estaria disponível para dar a vida por Portugal. A Professora ficou comovida e, em lágrimas, aproveitou para me elogiar, arrancou a folha do meu caderno e colou-a na parede.
Orgulhoso pela história dos nossos antepassados, cimentei esse sentimento patriótico pela vida fora. Ainda hoje vibro de alegria ou choro de raiva, sempre que algum português se salienta ou é injustiçado.
Porém, quando a guerra do ultramar despoletou, já não sentia a mesma vontade e a mesma coragem de menino. No entanto, apesar de se notar bastante o interesse comunista em África, através da sua propaganda e apoio à libertação desses povos, era comum, entre nós, um sentimento de obrigação de lutar pela nossa defesa, pela defesa da nossa Pátria. Por outro lado, não havia grandes possibilidades de escolha; ou vais ou foges. Muitos fugiram porque tinham possibilidades financeiras ou contactos para fazer isso. Mais tarde, com o 25 de Abril, alguns deles beneficiaram, ainda, do estatuto de revolucionários, de antifascistas e de grandes patriotas.

Em 1965, quando ingressei no serviço militar, alimentava a esperança de que a guerra terminaria em breve. Porém, à medida que o tempo passava, as coisas pareciam piorar. Assim que me apercebi de que poderia ir para a guerra, procurei assimilar bem a instrução, especialmente quando tive que frequentar a especialidade de “Ranger” – Operações Especiais.
Na Guiné, tal como os outros combatentes, sofri com tristeza, raiva e angústia, os piores momentos da minha vida. Todavia, esforcei-me para dar o meu melhor na defesa dos meus interesses e dos meus camaradas, tendo participado nos maiores combates em que a minha CART 1689 esteve envolvida. Mas também tive a sorte de me safar positivamente deles.
Nunca faltei a nenhuma Operação até vir de Férias. Nem à OP Diabo Negro faltei (Vd. P7921 - Celebrando os meus 25 anos). Como fazia anos, poderia ter tido uma folga, normalmente concedida. Nessa altura o meu Pelotão estava mais desfalcado de graduados. Previa-se uma grande Operação e eu não me baldei. Quando falei nisso com o nosso Capitão, tive a oportunidade de lhe dizer:
- Enquanto estivermos em Intervenção, participarei em todas as Operações, mas quando regressar de férias “vou engolir um garfo” e não vou poder fazer mais nada!

Sempre soubemos que, depois de um ano em Intervenção, teríamos o chamado descanso. Por isso, programei as férias para Abril, com a convicção de que, atingido esse mês, poderia considerar-me livre de perigo.
Já de férias, enquanto me sentia efectivamente livre dos perigos da guerra e, ao mesmo tempo, já a entrar numa fase de projectos e de sonhos, coisas impensadas anteriormente, os meus camaradas da CART 1689 entravam (sem eu saber) na sua pior fase da guerra na Guiné.


2 - A CAMINHO DE GANDEMBEL
(Texto da autoria de Carneiro de Miranda)

"Depois da saída de Catió, a 22 de Março e passada a noite ao largo de Bolama, recordo bem aquela calma e descontraída deslocação em LDG, a caminho de Buba.
Os militares foram-se acomodando junto das suas mochilas, já rompidas de tanto uso e de tanta mudança. Quase não falavam. Limitavam-se a poucas palavras mas a muitos pensamentos, interrogando-se e matutando neste momento apreensivo. Quem se mostrava mais inquieto era o Machado, que questionava:
- Estamos a poucos dias de fazer um ano de Intervenção, cheio de porrada, de cansaço e de ronco, porquê sacrificar-nos mais uma vez?
Logo respondeu o Viana:
- Vamos pagar o custo do nosso bom comportamento.
- Claro - acrescentou o Rodrigues, que concluiu:
- Orgulhem-se do reconhecimento ao nosso valor.
- Boa Rodrigues. Só esperamos que esse valor não nos fique caro. – acrescentou o Zacarias.

Entretanto, enquanto alguns, mais isolados, mexiam no saco das fotos, cartas e outras recordações, quase a meio da LDG, estava o nosso capitão, sentado num mocho, de cabeça curvada, mais parecido com um condenado à decapitação. Esperava a intervenção do nosso Barbeiro. Talvez com alguma apreensão devido à sua necessária apresentação formal ao Comandante do Sector, o coronel Celestino Rodrigues. O tal que viria a ser punido com dez dias de prisão agravada, por problemas nesta Operação Bola de Fogo. Coisa nunca vista num Oficial Superior – segundo lamentava o sargento Viscoso.
Passámos mais de uma semana de “férias”, com actividades de lazer e de treino de tiro. Ainda me rio de ver o Sargento Biscaia a tomar banho com umas cuecas, cheias de carimbos, a fazer de conta que eram calções de banho. Até ao dia 6 de Abril ocupou-se o tempo com patrulhamentos com pelotões alternadamente, fez-se instrução de tiro, com competições de tiro ao alvo e outras de índole desportiva.
Dia 7 de Abril deu-se início à OP BOLA DE FOGO, uma das maiores realizadas na Guiné. Foi, talvez, a mais difícil, mais violenta e mais estúpida, depois da tomada da Ilha do Como.

O objectivo apontava para a implantação de um Aquartelamento (Gandembel) para efectivo de Companhia, no Corredor do Guileje, na região entre Gandembel e Ponte Balana.
Durante a Operação e dias subsequentes, além da nossa Cart 1689, actuaram também:
3.ª Companhia de Comandos
5.ª Companhia de Comandos
CCAÇ 2316
CCAÇ 2317
CART 1612
CART 1613
Pel Sap do BART 1896
Pel Caç Nat 67
Pel Caç Nat 51
Pel Mil 138
Pel Mil 139
Pel Rec Fox 1165
Pel Rec Daimler de Aldeia Formosa
BEng 447
27 Carregadores de apoio

A ida para Aldeia Formosa, por terra, em coluna auto, fez-se sem grandes receios aparentes. Na chegada reinava a calma. Foi muito agradável termos jantado com a Companhia de Comandos e ter-me encontrado com o tenente Carapeta, meu comandante de pelotão em Vendas Novas.
Saímos dali, pelas 22h00, também em coluna auto, em direcção a Chamarra, onde estacionámos até as 03H00 (08.Abril.1968). Estava iniciada a OP “Bola de Fogo”, uma das maiores e mais perigosas de toda a Guerra Ultramarina".


3 - OPERAÇÃO BOLA DE FOGO
Por José Neto
(Memórias de Guileje (1967/68) – blogue “luísgracaecamaradasda guine”)

"(…) A abertura da picada estava a dar pelas barbas à nossa tropa.

Era impossível jogar com o elemento surpresa porque tornava-se necessário retirar abatizes, detectar e fazer explodir fornilhos (até uma viatura GMC em tempos abandonada pelas NT foi pelos ares porque se desconfiava que estava armadilhada) e, principalmente, derrubar árvores para substituir os troncos apodrecidos que, no leito dos regatos, serviam de ponte para a passagem de viaturas.
Os turras nem precisavam de atravessar a fronteira para morteirar os lenhadores. E nós não podíamos ripostar por respeito às convenções internacionais.
Ao fim de duas ou três semanas, com muitos ferimentos ligeiros, mas sem qualquer morto, o itinerário foi dado como praticável e ia seguir-se a segunda fase, que era a marcha da Companhia para Gandembel.

Parecia-nos que, das duas, a CCAÇ 2316 era a que ia avançar, já que a CCAÇ 2317 tinha sido inicialmente designada para nos substituir em Guileje, mas afinal veio a ser esta última, a do 1.º sargento Martins, comandada pelo capitão Barroso de Moura, a quem coube o petisco.
Ao mesmo tempo, como manobra de pressão, iniciou-se do lado norte a abertura da picada Chamarra – Gandembel.
A valentia e pertinácia dos bravos de Gandembel devem ter impressionado o inimigo que fez deslocar para aquela zona um potencial de fogo considerável.
Pelo itinerário de Chamarra juntou-se à CAÇ 2317 a CART 1689 e, com acções pontuais dos Paraquedistas e dos Comandos e o apoio do fogo de artilharia e bombardeamentos dos Fiat da Força Aérea a posição consolidou-se, mau grado as flagelações contínuas de que era alvo.
Mas o cerne da questão continuava. Como o IN precisava de manter o reabastecimento dos seus grupos que actuavam no interior do território, passou a utilizar trilhos um pouco a sul de Gandembel, perto de Paroldade, e esses trilhos cruzavam-se com as nossas colunas que também iam reabastecer o novo aquartelamento.
Nestas condições, cada reabastecimento nosso era uma autêntica operação de três, quatro dias, com fogachadas por todos os lados.

Na última das três operações desta natureza em que a minha Companhia e outras unidades estiveram empenhadas, houve três mortos, sendo um nosso (o 1.º Cabo José Augusto da Silva Leal), outro do Pel Caç Nat 51 (o Fur Mil Sebastião Dionísio) e o terceiro do Pel Rec Fox 1165 (o Soldado Manuel Vieira).
Dois soldados nossos foram gravemente feridos e evacuados para Lisboa, o Júlio Rodrigues Calado e o José Alves Pereira e mais doze, de várias patentes, dos quais três do Pel Rec Fox 1165, feridos com menos gravidade e evacuados para Bissau.

O regresso ao quartel foi difícil e dramático.

O Capitão Corvacho teve de pedir fogo dos obuses de 8,8 dando as coordenadas dum lugar já bem do outro lado da fronteira, mas que sabia ser o ponto de onde o IN o estava a atacar com armas pesadas. O alferes comandante da força de artilharia hesitou e, ao pedir a rectificação dos elementos de tiro, fez saber que o fogo ia cair na zona da fronteira da Guiné-Conacri. Pelo rádio percebeu-se bem a irritação do capitão que insistiu e perguntou ao alferes se desconhecia que ele era oficial de Artilharia.

Resta um pormenor que revela a grandeza dos homens quando confrontados com situações extremas. Aquando do regresso desta última operação os tempos calculados para o trajecto modificaram-se devido à forte concentração de fogo do IN, com as consequências que já descrevi, e o Capitão Corvacho tinha a certeza que, se permanecessem na mata depois do sol-posto, poucos sairiam dali com vida. As viaturas rodavam em marcha lenta porque havia que inspeccionar cada metro da picada. (…)
Mais ou menos por esta altura chegou à Guiné o Brigadeiro António de Spínola, logo depois promovido a General, para substituir o General Schulz no Governo e Comando-Chefe da Província.
Notou-se perfeitamente uma alteração na cadeia de comando principalmente porque, como diziam os soldados, enquanto o primeiro nunca tinha saído do asfalto de Bissau, o segundo aparecia em todo lado sem se fazer anunciar.
Uma das suas primeiras visitas foi ao inferno de Gandembel onde quase obrigou à força o tenente piloto do helicóptero a descer. Foi-lhe fácil concluir que a posição era pouco sustentável e ordenou a retirada progressiva de modo a salvar a face das nossas tropas.

Constou, não posso garantir, mas acredito, que naquela aventura, as NT tiveram cinquenta e dois mortos e muitos feridos graves”.

(P527 de 16 de Fevereiro de 2006 - blogue “luisgracaecamaradasdaguine”)


4 – Do primeiro dia da OP Bola de Fogo
(Texto do livro “Cambança Final” de Alberto Branquinho)

“SÃO JOÃO NO PORTO”

Havia muita tropa envolvida na operação junto à fronteira com a Guiné-Conakri. Uns vindos de norte, outros de sul, em coluna auto.
A tropa que progredia na mata no sentido norte-sul começou a ouvir água a correr em declive acentuado. Era o rio assinalado na carta, que tinham de atravessar. Quando começou a ser visível, constataram que, então, na época seca, era um riacho com três ou quatro pequenos braços de água. Água doce, sem lodo nas margens, devido à altitude, embora muito baixa.
O pessoal que ia à frente e se preparava para atravessar o rio, agachou-se atrás das árvores, aguardando autorização para encher os cantis. A zona era muito perigosa. Não passava por ali tropa havia muitos anos. A autorização foi dada, mas, antes disso, devia passar para a outra margem um número suficiente de homens, por razões de segurança. Quando os primeiros se tivessem abastecido, iriam os outros substitui-los e depois a coluna, seguindo-se andamento lento.

A primeira secção preparava-se para sair da mata e atravessar o rio, quando surgiu, descuidado, na outra margem, um rapaz com sete ou oito anos. Trazia um barrete camuflado. Acocorou-se e retirou da água um pequeno caniço, dentro do qual se debatiam dois peixes. Depois de um momento de espanto e indecisão, um soldado apontou-lhe a G-3 e ia fazer fogo. O alferes agarrou-lhe a arma pelo guarda-mão e empurrou-a para baixo.
- Jubi ! – chamou-o.

O rapaz olhou em volta, procurando de onde vinha a voz. Viu os militares. Levantou-se e ficou estacado, largando caniço e peixes.
- Jubi, bô bem. – e fez-lhe sinal com a mão para se aproximar.

O rapaz fez menção de ir dar um passo em frente, mas voltou-se e desatou a correr para uma baixa do terreno do outro lado da margem e desapareceu na mata, não muito densa. O mesmo soldado e outro levaram as armas à cara, mas o alferes gritou-lhes:
- Não!

Toda a secção desatou numa correria, tentando agarrar o rapaz. Os que vinham atrás correram, também, sem entenderem o que se estava a passar. O alferes foi incapaz de os deter porque estava a comunicar ao capitão, pela rádio, o que acontecera.
- Instalar! Passa a palavra: instalar.
A correria parou e alguns começaram a regressar.
O capitão e o alferes, agachados, passaram para o outro lado do rio. Um furriel, que fora na perseguição, veio ter com eles.
- Há gajos por aqui. Há fogueiras apagadas, com cinzas quentes.
O capitão chamou o guia e deu-lhe instruções.
Recomeçou a marcha, lenta e cuidadosamente.

Não tinham passado mais que dez minutos – uma emboscada. Pouco tempo depois - outra emboscada. A marcha prosseguiu assim, entre emboscadas e tiros de morteiro, disparados não de muito longe, causando só ferimentos ligeiros, de estilhaços e areias.
Sobre o meio da tarde ou porque se lhe escassearam as munições ou porque detectaram a coluna de viaturas vinda do sul, pararam os ataques.
Feito o contacto entre as duas colunas, começou a preparar-se a instalação para passar a noite.
Em pequenos grupos, foram encher os cantis no auto-tanque.

Mal a noite ficou bem cerrada, recomeçaram os ataques. Agora muito fortes. Ora de leste, ora de norte, ora de nordeste – armas ligeiras, metralhadoras pesadas, lança-granadas e morteiros. Ao rasto das tracejantes, silvos de balas, acrescentavam-se os rebentamentos, quase ininterruptos. Na escuridão da noite, sem qualquer abrigo adequado, era impressionante e aterrador.
O alferes, instalado com o pelotão no lado oeste, teve de mudar de lugar, onde estava bem abrigado atrás de um poilão, para não ouvir o soldado que o acusava:
- A culpa é sua, meu alferes. Se eu tivesse “lerpado” o “puto”, isto não acontecia.

Junto à nova posição de abrigo do alferes, um outro soldado, deitado de costas, com a G-3 ao lado, no chão, olhava para cima e dizia, repetidas vezes, em sotaque nortenho:
- Parece o São João no Porto, carago!»

(IN: “Cambança Final” de Alberto Branquinho – Página 199 – Edição Vírgula, Maio de 2013)



Gandembel

Fotos: © Alberto Branquinho (2012). Todos os direitos reservados


5 - O INÍCIO DE GANDEMBEL/PONTE BALANA
(Texto de Idálio Reis)

"(...)
E por via disso, na superior linha de festo do rio Balana, nos viemos a quedar nessa manhã, para de imediato dar início à odisseia que representou a construção de um posto militar fixo, que se viria a chamar Gandembel e mais tarde a uma anexa afastada apenas de poucas centenas de metros, de nome Ponte Balana.

Sob a vigilância directa de uma tropa já bastante mais experimentada - a CART 1689 -, que já reconhecera o local antecipadamente, e que teve uma acção extraordinária durante a permanência que teve connosco até à sua retirada a 15 de Maio, e que é de elementar justiça salientar o papel relevante que sempre demonstrou, começámos a arranjar as nossas guaridas colectivas, autênticos abrigos-toupeira, que nos ofertassem uma maior segurança pessoal durante o tempo de construção dos abrigos definitivos.

Mas antes do mais, houve que proceder à limpeza arbórea da zona, onde a única ferramenta mecânica - a moto-serra -, nos propiciou uma ajuda preciosa. Não foi assim, mestre-soldado Horácio Almeida? Tu que desde criança, tens tido uma vida mancomunada com a floresta.”(…)

(P1654 de 12 de Abril de 2007 – blogue “luisgracaecamaradasdaguine”)


6 - EM GANDEMBEL
(Texto da autoria de Carneiro de Miranda)

"O furriel Marta, que se havia desviado para arrear a giga, ao sentir as formigas assassinas, a morder-lhe as partes, larga-se a correr agarrado às calças. Com este restolho, alerta uns turras que fugiram. Estavam a escamar peixe junto à margem. A nossa tropa, em descanso, não reagiu, para não espantar a caça.
Teríamos que continuar em direção ao Pontão, local apontado para nos juntarmos à CCAÇ 2317, futura defensora do aquartelamento a construir, com a designação de Toupeiras de Gandembel. Sob um sol escaldante, passámos entre um capim altíssimo, onde fomos atacados por moscas que, coladas ao suor, faziam de alguns de nós, pretos retintos. Seguíamos cautelosamente, tendo em atenção que o alerta já fora lançado, através dos fugitivos da beira rio.

Pelas 13H00, com o PCV e os T-6 à nossa vertical e quando já se ouvia o barulho das viaturas da coluna que vinha do Sul, o IN, instalado do lado Leste da estrada, desencadeou uma emboscada, cujo tiroteio demorou uns 10 minutos. Felizmente, tudo correu bem. De seguida avançámos para ver o ronco e fomos surpreendidos pelas abelhas. Situação resolvida e recebemos a ordem para avançar para o Pontão.
Inicialmente ficámos na dúvida se aqueles nativos, que vinham na frente. Seriam turras ou milícias. Valeu a nossa calma e uma dedução muito lógica: aquele barulho que os acompanhava não podia ser dos turras. Eles nunca se ouviam. Efectivamente, tratava-se da coluna que trazia os periquitos da CCAÇ 2317, acompanhados de outro pessoal, para iniciarem a instalação do aquartelamento. (…)
Fez-se a junção e procedemos à inversão de rumo, visando um local mais próximo do rio, para se fazer o aquartelamento. Guileje.
Mal nos distribuímos no espaço idealizado e logo sofremos um violento ataque de morteiros. Valeu-nos a 3.ª Companhia de Comandos, que acompanhava de perto a coluna e que deteve o avanço das tropas inimigas. Esta rápida intervenção dos Comandos deve ter tido grande influência intimidatória junto do IN, uma vez que passou a atacar mais de longe.

Nesta primeira noite em Gandembel, sofremos ataques às 20H00, às 23H30 e às 2h30.
Mal amanheceu, sofremos ataques às 6H00 e às 6H20.
Pelas 8H00, depois de reconhecido o local, procedeu-se à construção dos abrigos, cabendo à nossa CART 1689, a zona Norte e Oeste de um aquartelamento idealizado em forma de quadrado.
Neste dia 9, tivemos a primeira evacuação (por doença). Foi a de Joaquim Sousa Campos.
Grupos de 3 ou 4 elementos, com pequenas sacholas individuais, iniciaram escavações para se abrigarem do IN. Mal se cabia nas covas, cobriam-se com madeira e tudo que aparecesse. Enquanto uns trabalhavam no duro, outros tratavam da protecção da zona e do acesso à água. Apesar desta diminuta distância de 100 metros aproximadamente, o percurso foi sempre picado pela nossa CART 1689. Foram quase sempre os mesmos a fazer esta tarefa.

No dia seguinte (10 de Abril), pelas 10H30, sofremos um ataque que nos provocou dois feridos; João Inácio Sousa e o Eduardo Rodrigues Lopes.
O dia 11, que iniciou com um ataque sofrido durante 40 minutos, foi muito activo. Depois de uma boa resposta das NT, distribuímos pelotões por lugares chave, onde estiveram emboscados durante o dia. A partir deste dia, foi evidente o aparecimento de elementos doentes, que não podiam sair dos abrigos.
No dia 12, o ataque veio pelas 3H30. Nestes dias já encontrámos vário material deixado pelo IN e vestígios de sangue. Voltou a ser atacado pelas 22H30.
Este dia destaca-se pela chegada do primeiro correio e pelo início da construção da padaria.
Cedemos quatro “especialistas” para isso. O pessoal da nossa 1689, andava sempre ocupado em emboscadas e a montar segurança aos trabalhos da CCAÇ 2317, que veio a ser apelidada de “Os Toupeiras de Gandembel”. Abate das árvores e construção dos abrigos, eram trabalhos quase ininterruptos.
O tempo corria vagarosamente. Normalmente sofríamos ataques todas as noites. Por vezes, nem tempo nos davam para dormir.

Enquanto nós ansiávamos pelo regresso, cientes que terminaria o nosso período de intervenção, pensávamos nos desgraçados dos Toupeiras que iriam viver naquele inferno.
No dia 13 foi evacuado, por doença, Fernando Martins da Cunha.
No dia 17, quando faziam um patrulhamento de reconhecimento, foram atingidos por uma mina, o Furriel Belmiro Santos João e o nosso Capitão Manuel Moreira Maia. Foram evacuados para Bissau, onde viria a falecer o Belmiro.
No dia 19, dia em que deixou de haver pão, Foram atingidos por um dilagrama: Una Infalé, José M. Martins Costa Rêgo e Raul Pires. Foram evacuados para Bissau, onde veio a falecer o Una Infalé.
No dia 20, houve a primeira visita de um médico.

Dia 24. Já se havia entrado em comportamentos de rotina. Várias baixas, vários doentes inertes, dentro dos abrigos e muitos elementos debilitados, já se acomodavam ao esforço mínimo. Os Toupeiros, talvez mais cansados fisicamente, devido ao trabalho permanente, parecem agora pouco motivados e muito acomodados. Os militares da 1689, já com algumas baixas e sem o Capitão, chegaram a protestar por esta situação.
Lembro-me de termos ido montar segurança para protecção a uma coluna vinda do Guileje, comandada pelo Cap Corvacho, em que nos acompanhou um pelotão dos “Toupeiras”. Os turras soltaram as abelhas, que se dirigiram para este pelotão. Ia sendo um desastre! Estes militares descontrolaram-se e fugiram para o trilho, aos gritos, sujeitos a outro tipo de acção do IN. Muitos estavam tão inchados das ferradelas que nem se reconheciam. Regressámos ao aquartelamento e esperámos o que fazer. Chega a ordem para se voltar para a segurança à coluna e a maioria dos militares da 1689 recusa-se a fazê-lo, alegando o perigo da actuação da Companhia dos periquitos (Toupeiras). Estes apareceram mas, da 1689, só foram 14 elementos. Alguns, mais afoitos, isolam-se na coluna e provocam alguma confusão, porque outros não querem ir na frente. Rebenta um forte ataque do IN, que se havia emboscado à espera da coluna de Guilege. Aproximámo-nos do local do “assalto” e vimos o camião GMC carregado de cerveja, metido na cratera de um fornilho. Quando perguntei ao Corvacho o que iriam fazer à GMC e à cerveja, uma vez que estava a ficar tarde, ele disse:
- Não te preocupes, se a GMC não sair, rebento as garrafas com meia dúzia de granadas. Estes filhos da puta não vão beber nenhuma.

Felizmente a GMC saiu do buraco, para bem de todos e, muito especialmente, para os da 1689 que se abasteceram razoavelmente. Soubemos que no seu regresso a Guileje, esta coluna sofreu mais ataques em emboscadas e teve mais feridos.
Dia 26 de Abril, a nossa CART 1689 completava um ano. E todos os dias 26 davam motivo há maior bebedeira do mês. Ali, não havia Messes, Refeitórios ou Bares. Só buracos no chão e alguma água do rio. No entanto, sabe-se lá como, o nosso pessoal foi bafejado com a oferta de algumas garrafas de bagaço. Fracos e doentes como andavam, os soldados acusaram rapidamente o efeito exponencial de tais cargas etílicas. E o IN, talvez sabedor do significado desta data, resolveu atacar desmedidamente. Valeu-nos o ânimo bagaçal adquirido, para uma resposta compatível. E quando o festival acabou e se concluiu que ninguém havia sofrido ferimentos, foi a alegria generalizada".


7 – NOS PRIMEIROS DIAS

Vejo, pela História da Companhia, que a minha CART 1689 permaneceu naquele espaço, que veio a ser o quartel de Gandembel, cerca de um mês e meio.
Eu já tinha vivido com a Companhia a experiência de longos dias na construção de outro quartel totalmente novo (“Gubia”, no sector de Empada). Mas, devido a perigosidade da zona onde ia sendo construído o quartel de Gandembel, a poucos quilómetros da fronteira com a Guiné-Conakry, situado no chamado Corredor da Morte/Corredor de Guileje, eu calculava que os primeiros dias deveriam ter sido muito difíceis. Eram os ataques constantes de que falavam, a necessidade de água, organização do terreno para efeitos defensivos, para albergar (com a segurança necessária) duas-Companhias-duas num espaço tão limitado e em terreno praticamente plano.
Já tinha abordado estes aspectos com alguns graduados, mas a conversa derivava sempre para outros aspectos pessoais, de cada um, relacionados com a actividade operacional em período de tempo mais avançado e não durante a bagunça que, entendia eu, teriam sido os primeiros dias.

Num convívio da CART 1689 abordei este aspecto com alguns soldados:
- Então e nos primeiros dias, como é que foi? Muita confusão? E água? Havia água ou era cerveja?

Vou tentar reproduzir, com a realidade possível, partes do diálogo que as minhas perguntas causaram.
- Água? Água, a gente tinha. Havia um rio ali pertinho. Foi o único rio que eu vi na Guiné que não tinha água salgada.
- De dia os gajos atacavam, mas era só de longe. Com canhões e morteiros. Mas de noite os filhos da puta vinham de ao pé e com metralhadoras e tudo. E era todos os dias, de manhã e à noite e se não era de dia, chateavam-nos a noite toda.
- Então, quando a gente ainda estava a cavar os abrigos para três ou quatro de nós (que ficaram tapados com troncos em cimba e despois com chapas de bidões e depois com terra por cimba), não havia mais nada e tínhamos que ir “arrear o calhau”. Ora, pois! Como não havia inda onde ir, cagávamos do lado de lá das árvores maiores. Arreávamos as calças, púnhamos a G3 encostada às árvores, sempre com os olhos a olhar à volta. Feito o serviço, voltávamos p’rá picareta e p’rá pá. Quando os gajos vinham à noite p’rá atacar, deitavam-se ó detrás dessas árvores e cagavam-se todos. Eh! Eh! Eh! Eh! Eh!
- Póis! Mas as mais das vezes a gente andava a montar emboscadas e a fazer patrulhamentos de segurança às obras que os periquitos andavam a fazer.
- Mas, quando precisavas, também cagavas assim, daquela maneira, ou não?


8 - 15 de Maio – DIA TERRÍVEL
Primeiro ferido grave da CCAÇ 2317 – Furriel António Alves
(Texto da autoria de Carneiro de Miranda)

“Julgo que era o segundo ou terceiro dia em que os Toupeiras efectuavam o trabalho do abastecimento de água. A Cart 1689 sairia neste dia de Gandembel e já deixara de o fazer.
A Companhia “Os Ciganos”, apesar dos seus cuidados bastante experimentados, tivera ali, em Gandembel, 2 mortes e dezenas de evacuados. Todavia, sempre manteve os cuidados essenciais de comportamento, incluindo, neste caso, a prática diária de picar esse escasso percurso de cerca de 150 metros.
Ora, os Toupeiras, ao contrário dos “Ciganos”, não sentiram necessidade de picar esse pequeno percurso. Claro que o experimentado IN estava atento a estes facilitismos e, logo no dia seguinte, ouviu o rebentamento das minas colocadas.
Disse-me o Cabo Mendes:
- Ó furriel, foi chocante ver o estado do seu colega que, com as pernas esfaceladas, dos joelhos para baixo, gritava:
- Tirem-me as botas! Tirem-me as botas!”


9 – No último dia da CART 1689 na OP BOLA DE FOGO
(Texto do livro “Cambança Final” de Alberto Branquinho)l

“DESPOJOS”

"Eram cerca de nove horas da manhã. O calor começava já a apertar. O pessoal da Companhia estava pronto e equipado para sair, com os seus pertences dentro dos sacos de lona. Estavam encostados nas sombras possíveis, na proximidade dos abrigos, prevenindo a necessidade de terem que se proteger em caso de ataque.
Aguardavam a coluna auto que estava a chegar, de norte, para, depois, saírem desse quartel fortificado, com as mesmas viaturas, em marcha apeada, fazendo o movimento de retorno. A norte ouviram-se três ou quatro (cinco?) rebentamentos de grande potência. A primeira reacção foi correr para os abrigos. Muitos estacaram imediatamente, porque, estouros com aquela força, não tinham nada a ver com “saídas” de canhão ou de morteiro. Todos os rostos se viraram, com expressão ansiosa para norte. Uma nuvem de fumo e pó começou a surgir e a avantajar-se muito ao longe.
- Que merda foi aquela?

A resposta chegou pouco depois, via rádio e retransmitida boca a boca: “Fornilhos”.
Chamam-se os enfermeiros e saem viaturas, com mais pessoal, em socorro.
A coluna tarda e não há mais notícias.
Chegam as viaturas que tinham saído. Os homens vêm com ar soturno. Duas viaturas tinham sido despedaçadas e havia muitos pedaços de corpos.
Quantos? Ninguém sabe responder.
As primeiras viaturas da coluna começam a chegar. Entra a viatura, de caixa aberta, com os pedaços de corpos. Alguns, curiosos, agarram-se às cancelas e espreitam:
- Foda-se! Queimados! Parecem todos pretos.

A viatura é coberta com panos de tenda amarrados, depois de enxotarem as moscas, que teimavam em ficar por debaixo dos panos.
Mais do que medo, uma raiva enorme, surda, irracional enche as cabeças e os peitos. Muitos cospem para o chão de forma maquinal, contínua, inconscientemente.
As viaturas são abastecidas de combustível para o regresso, directamente dos bidões, ao mesmo tempo que é retirada a carga que se destina ao quartel
Reorganiza-se a coluna para o regresso, com a indicação de que a viatura com os pedaços de corpos seguirá em último lugar. O pessoal da Companhia que aguardava seguirá apeado, espaçado, pelotão a pelotão, entre as viaturas.

Começa o andamento, desenrolando o “novelo” de viaturas e de homens. A raiva sobe-lhes às cabeças. Os dentes cerrados. Há indicação para estarem, também, atentos às copas das árvores.
Não demoraram muito tempo a chegar ao local de rebentamento dos “fornilhos”. Cabia um homem agachado dentro de cada buraco. Um furriel, quando viu um braço ou, talvez, uma perna, pendurado de um ramo, disse para um soldado:
- É pá, deixa aí a G-3 e vai lá em cima buscar aquilo, que a gente dá-te cobertura.
- Foda-se! Ir lá em cimba?! Bá lá bocê!

Frente à recusa, ficou parado, a olhar fixamente para “aquilo” e desistiu.
Ia recomeçar a andar e olhou para o chão. Viu, junto ao tronco de uma árvore, três ou quatro formigas grandes, pretas, que, com as pinças da cabeça cravadas, tentavam arrastar um pedaço de carne, ainda com um farrapo de farda camuflada agarrado. Com raiva, elevou o pé para esmagar as formigas (e, ao mesmo tempo, o pedaço de carne), mas susteve o pé no ar, com a perna flectida e acabou por dar um passo mais largo, passando adiante. Voltou-se para observar melhor e verificou que havia mais pedaços de carne, em volta. Ficou a olhá-los, sem dar conta que viaturas e homens iam passando por ele. Ele já não estava ali. Pairava, cérebro vazio…
Retomou a marcha, maquinalmente, devagar, muito devagar, titubeante e, entre dentes, ia repetindo Lavoisier: “Na natureza nada se cria… nada se… nada se… nada se perde… nada se perde… nada se perde…"

(IN: “Cambança Final” - página 157, edição Vírgula - Maio de 2013)


10 - O ALFERES MONTEIRO
(Texto do livro “Na Tenda do Mestre Isaías” de Emídio Soares)

"Quando passámos por Aldeia Formosa, onde jantámos na noite de 7 de Abril, tivemos a oportunidade de conviver com os militares ali estacionados. Dentre eles, destacamos o alferes Monteiro que, com a comissão quase terminada, aguardava, sem pressa, o seu regresso a Bissau e a Lisboa. Para além de manifestar essa satisfação do dever cumprido, o Monteiro, exteriorizava uma agradável camaradagem e uma evidente simpatia. Parecia que todos o admiravam. Todavia, quem mais o apreciava era o seu grupo de africanos com quem viveu intensamente quase dois anos.
No dia 14 de Maio, o Monteiro ainda estava em Aldeia Formosa. Precisamente nesse dia, o seu Comandante dava-lhe conhecimento que o seu pelotão teria que seguir de madrugada na coluna auto para Gandembel, a fim de levar materiais de construção e géneros alimentícios e, ao mesmo tempo, trazer de volta a CART 1689 que havia terminado a sua missão.
O Monteiro, numa atitude de solidariedade e de despedida do seu grupo, solicitou ao Comandante que o deixasse fazer esse último serviço.

A coluna seguia normalmente e cerca das nove horas já estava perto de Gandembel. Perante umas rajadas de armas ligeiras, a coluna parou e os militares atiraram-se para a as margens da estrada, a fim de se posicionarem e de se defenderem. Logo de seguida explodiram 12 fornilhos, transformando as valetas em crateras, e massacrando a maioria do pelotão do alferes Monteiro.
Seguiram-se cenas horrorosas na procura de corpos e pedaços de carne humana, espalhados em redor daquela zona de morte. Grande parte deles pendiam das árvores, para onde foram disparados.
(…)
No início desta recta, à terceira cratera, do lado direito, e junto à estrada, via-se um tufo de três palmeiras. Numa delas, estava uma perneira de calças de camuflado, com uma bota amarrada e pendurada na copa da palmeira. No tronco da palmeira central, estava a tampa do crânio de uma cabeça com cabelo loiro, à altura de um metro e quarenta, do chão. O resto do tronco até ao chão, era uma massa de carne e sangue, impregnada na casca da palmeira. Deduzimos que eram os restos mortais do alferes Monteiro. Ele era o único branco e loiro do pelotão”.(…)

(IN: “Na Tenda do Mestre Isaías” – página 120, de Emídio Soares, edição do autor)


11 – GANDEMBEL - A TERRA DOS HOMENS DE NERVOS DE AÇO

Por Idádio Reis

"(…) A briosa e colaborante CART 1689 despede-se definitivamente do nosso convívio, e a partida-separação deste bravo punhado de homens, deixou-nos claramente mais pobres, porquanto ficávamos francamente mais indefesos e inseguros. Em mais de um mês que nos acompanhou, até 15 de Maio [e 1968], desenvolveu um trabalho extremamente meritório, tendo-se empenhado denodada e esforçadamente em nos acompanhar. Passou também por graves vicissitudes, em que perde fatidicamente um furriel, alvo de um dos vários artefactos armadilhados por ela mesma, e sofre mais de uma dezena de evacuações, por ferimentos e doenças, entre os quais o seu capitão-comandante.” (…)

(IN: “No Corredor da Morte – A CCAÇ 2317, na guerra da Guiné” – página 112 de Idálio Reis, edição do autor – Fevereiro de 2012)


12 - HINO DE GANDEMBEL
Recolha de José Teixeira
Revisão e fixação de texto: L.G.

“Ó Gandembel das morteiradas,
Dos abrigos de madeira
Onde nós, pobres soldados,
Imitamos a toupeira.

- Meu Alferes, uma saída! -
Tudo começa a correr.
- Não é pr’aqui, é pr’ponte! (i),
Logo se ouve dizer.

Ó Gandembel,
És alvo das canhoadas,
Verilaites (ii) e morteiradas.
Ó Gandembel,
Refúgio de vampiros,
Onde se ligam os rádios
Ao som de estrondos e tiros.

A comida principal
É arroz, massa e feijão.
P’ra se ir ao dabliucê (ii)
É preciso protecção.

Gandembel, encantador,
És um campo de nudismo,
Onde o fogo de artifício
É feito p’lo terrorismo.

Temos por v’zinhos Balana (i),
Do outro lado o Guileje,
E ao som das canhoadas
Só a Gê-Três (iv) te protege.

Bebida, diz que nem pó,
Só chocolate ou leitinho;
Patacão, diz que não há,
Acontece o mesmo ao vinho!”

(P2319 de 1 de Dezembro de 2007 – blogue “luisgracaecamaradasdaguine”)


13 – NOTAS FINAIS

1 – Já em Catió, regressado de férias, deslocava-me amiúde para o Cais, esperando a chegada da minha Companhia. Na manhã do dia 24 de Maio ouvi um tiroteio a jusante. Era a LDG a ser atacada de ambas as margens, tendo-lhe sido causado dois rombos: um do lado esquerdo e outro à ré.
2 – Ao registar aqui a maior e mais perigosa OP realizada pela minha CART 1689, sem ter participado nela, pretendi somente transmitir alguns testemunhos que possam vincar a sua acção.
3 – Para assimilar melhor o que foi a guerra em Gandembel, aconselhamos o livro” No Corredor da Morte”, escrito pelo alferes Idálio Reis, da CCaç 2317, que esteve lá desde o início da OP Bola de Fogo até ao abandono do quartel, por ordem de Bissau (10 meses depois), do qual são transcritas acima algumas passagens.

Silva da Cart 1689
____________

Nota do editor

Último poste da série de 23 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12887: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (17): O Asdrúbal do Cu da Serra e os seus amores tardios

quinta-feira, 29 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9676: O Cancioneiro de Gandembel (2): Do Hino de Gandembel ao poema épico Os Gandembéis (Parte II) (Idálio Reis)



Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > Aspeto geral do aquartelamento (foto de cima) e vista de um doa abrigos (foto de baixo).


Foto: © Idálio Reis  (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados




1. Continuação do texto da autoria de Idálio Reis (ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 2317 / BCAÇ 2835 (Gandembel e Ponte Balana, Nova Lamego, 1968/69):


Os Gandembéis: O Nosso Cancioneiro, as nossas músicas, os nossos poetas (Parte II) (*)


por Idálio Reis
 

(...) [O Hino de Gandembel] caiu em graça, ao ajudar a libertar sentimentos de desesperança e inquietação, e o pessoal, indistintamente, parecia denotar um incontido júbilo no trauteio deste canto, onde os sons e o silêncio se sincronizavam em gesto de deslumbrante generosidade, do louvor à vida.


Quando surge o hino de Gandembel, continuavam a manifestar-se,  nesse acantonamento, situações particularmente amargas, e quando o descomedimento amainava, parecia ter o condão de apaziguamento, quando alguém exclamava de forma sentida “Oh Gandembel das morteiradas!”. O seu contributo para o estímulo da Companhia foi valiosíssimo, na aquietação das animosidades, na pacificidade das tensões 

Fundamentalmente, o hino teve a graça de contextualizar a gesta dos que tiveram a desdita de viverem coactivamente naquele soturno lugar, com inúmeros e alongados estremecimentos de inquietação.

Permita-se-nos uma leitura deste anódino poema, para referir alguns aspectos.

Hino de Gandembel [Ouvir aqui a interpretação do António Almeida]

Ó Gandembel das morteiradas,
Dos abrigos de madeira
Onde nós, pobres soldados,
Imitamos a toupeira.


- Meu Alferes, uma saída! -
Tudo começa a correr.
- Não é pr’aqui, é prá Ponte! (i),
Logo se ouve dizer.


Refrão


Ó Gandembel,
És alvo das canhoadas,
Verilaites (ii) e morteiradas.
Ó Gandembel,
Refúgio de vampiros,
Onde se liga o rádio
Ao som de estrondos e tiros.


A comida principal
É arroz, massa e feijão.
P’ra se ir ao dabliucê (iii)
É preciso protecção.


Gandembel, encantador,
És um campo de nudismo,
Onde o fogo de artifício
É feito p’lo terrorismo.


Refrão (...)


Temos por v’zinhos o Balana (i),
Do outro lado o Guileje,
E ao som das canhoadas
Só a Gê-Três (iv) te protege.


Bebida, diz que nem pó,
Só chocolate ou leitinho;
Patacão, diz que não há,
Acontece o mesmo ao vinho!


Refrão (...)


 [Notas: (i) Ponte Balana; (ii) Verylights; (iii) WC;  (iv) G-3; revisão e fixação de texto: L.G.]


Eis o que uma letra de um poema de um profundo sentimento popular, que atendendo aos incríveis circunstancialismos em que foi escrito e musicado, num arrepiador ambiente de uma guerra, que cruentamente avassalava, ferindo e matando, se viria a transformar tão-só num hino à vida, porquanto:

(i) Uma das facetas mais horrendas ao longo da sobrevivência daquele poiso, foram as míseras condições com que nos defrontávamos no dia-a-dia. Pernoitámos em abrigos, onde os corpos se deitavam sobre uma simples tela de borracha, que se estendia sobre o chão de terra nos abrigos-toupeira («imitamos a toupeira») e posteriormente no piso de cimento das casernas-abrigo. Em ambos, os troncos das centenas de árvores abatidas, vieram a desempenhar um contributo muito especial na nossa segurança («dos abrigos de madeira»). Mas estes abrigos, único meio para possibilitar tomar algum descanso, quantas vezes viria a ser suspenso pelas («morteiradas, canhoadas, tiros»), impedindo alívio, apaziguamento e serenidade.

(ii) Das peripécias de guerra mais agressivas, foi a audição dos milhares dos ecos das saídas dos morteiros, em que os de calibre 82 se mostravam demolidores: («Gandembel das morteiradas»), que quase quotidianamente flagelavam aquele poiso; os momentos de ansiedade e expectativa, enquanto a granada silvava os ares na sua trajectória indefinida, eram aterradores: («Meu alferes, uma saída/Tudo começa a correr»). Havia um estrépito quando deflagrava, e tudo se poderia esvair naquele contacto com o solo: onde? longe? ao lado? («Não é p´ra aqui, é p´ra Ponte/Logo se ouve dizer»).

(iii) Um outro negro aspecto, que envolve um doloroso e prolongado tempo, foi a do espectro da fome, pois a variedade das refeições quase não se alterava, em que os frescos praticamente não existiram: («A comida principal/É arroz, massa e feijão»). E quantos períodos sem uma qualquer bebida, que não fosse a água do Balana: («Bebida, diz que nem pó, /Acontece o mesmo ao vinho»).

(iv) A relevância dada à intimidade das valorosas e fidelíssimas companheiras que não largávamos, as nossas G3, que descansavam a nosso lado enquanto dormitávamos, e que em geral tinham um nome de estimação. Sempre limpas e asseadas, mostraram-se sempre ágeis em momentos cruciais: («E ao som das canhoadas/Só a G-3 te protege»).

Sim, Gandembel foi um local onde o perigo pairava a cada momento, e o seu tempo mais agradável conhecia-se por bonança. E, por vezes, ao entardecer, saía de uma caserna-abrigo, um coro à capela, à busca de um contentamento de tranquilidade, e também de rogo para que a noite decorresse sem queixumes

Mas quantas vezes, no pedido não satisfeito, as noites estremunhavam e o cansaço ou desalento agudizavam-se. E mal despontava o alvor da madrugada, ouvia-se um forte brado, de revolta, não mais que um grito de coração, de chamamento para todos
- “TIREEEEEM-NOS DAQUI!”.

A este eco lancinante, de tantas vezes repercutido, incutimos-lhe uma secreta aspiração, ainda que reconhecêssemos ser muito difícil de sobrepujar. De todo não chegou ao seu destino, tudo indiciando que os seus ais se vieram a sumir no marulhar de um macaréu de lua, acabando por se esvanecer na salsugem do Geba. E aí, enquistada talvez nalguma concha perlífera, se quedou de mansinho durante mais alguns meses, de modo a que alguém a remoçasse em melopeia cândida e dolente. Afortunadamente, encontrá-la-íamos quando regressávamos a Bissau, a caminho de um outro futuro mais promissor.

Procurámos perceber as causas desse estancamento repentino, e agora nos lembramos que, naqueles tempos de antanho, havia imensas dificuldades para transpor as fronteiras do império. A autocracia totalitária tudo abafava, inclusive o exaspero ou o desalento.

Nos tempos de agora, o hino de Gandembel, cativantemente, nos vem seduzindo e incontidamente nos emudece, já que ele teve o condão de aglutinar miríades de recordações marcadas por aquele frenesim delirante que aquela tremenda Guiné tantas vezes nos avassalou.

Deleitantemente, houve enlevos que parecem ter-se mantido para sempre, até à chegada 
do dia-noite final, em que definitivo, nos havemos de separar. (...)


[Continua]


(**) Fonte:  REIS, Idálio - A CCAÇ 2317 na Guerra da Guiné: Gandembel / Ponte Balana. Ed. de autor, [Cantanhede], 2012, pp. 198-201.
___________________


Nota do editor:


(*) Vd poste anterior da série > 28 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9672: Cancioneiro de Gandembel (1): Do Hino de Gandembel ao poema épico Os Gandembéis (Parte I) (Idálio Reis) 

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4281: Tabanca de Matosinhos (10): O nosso camarada Almeida de Gandembel precisa de ajuda (José Teixeira)

1. Mensagem de José Teixeira, ex-1.º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70, com data de 2 de Maio de 2009:

Caros amigos e camaradas.

Junto o texto que escrevi sobre o Almeida de Gandembel.
Pela sua leitura podeis sentir o seu estado de saúde e o meu estado de alma.
Na segunda-feira vou à ADFA saber o que se pode fazer por ele

Abraço fraterno
José Teixeira


O MONSTRO DE GANDEMBEL CONTINUA A FAZER VÍTIMAS

O dia estava a chegar ao fim. Minha mãe, velhinha de oitenta e oito anos, esperava-me à porta do Centro de Dia de apoio à terceira idade.

Ali ao lado um rosto conhecido de alguém da minha idade, que não via há uns tempos e nunca pensei encontrá-lo ali. Era o camarada Almeida de Gandembel. Abatido, psiquicamente destruído.

Ao ver-me a comoção tomou conta dele, as lágrimas deslizaram pela face. Eu contive as minhas, mas o meu coração estremeceu e chorou também. Era o seu primeiro dia naquela casa que outrora os povos do norte da Europa batizaram de casa dos elefantes.

O Almeida de Gandembel que algumas vezes nos deliciou na Tabanca de Matosinhos cantando o Hino de Gandembel e tantas outras canções que nos transportavam de novo para a nossa juventude. O Almeida deixou de cantar o seu hino. Agora chora de desalento.

O Hino que os camaradas da CCaç 2317 cantarolavam, quantas vezes acompanhados pelo ribombar das canhoadas que o um inimigo impiedoso, raivosamente despejava sobre Gandembel, bem no meio da mata do Cantanhez, como que a porta do carreiro da morte.

O Hino que nos fins dos anos sessenta era o símbolo da nossa resistência, nos muitos campos de batalha semeados pela Guiné, como que um grito de lamento.

O Hino que o Almeida gravou em CD com tanto carinho em 2007 e foi o centro do show musical que animou a festa de recepção aos participantes do Simpósio de Guilege em 2008, no antigo quartel general em Bissau, agora transformado num Resort.

Ali, ao som da sua música, combatentes das duas frentes, deram as mãos, cantaram e dançaram, animados pelo Conjunto Furkuntunda que deu nova alma ao nosso hino, transformando um lamento de guerra num grito de paz.

O Almeida perdeu a vontade de cantar.

http://www.youtube.com/watch?v=wPZ05F0eo7w

-Sabes, Teixeira, a mulher continua a trabalhar e eu fico sozinho em casa, mas não consigo suportar o isolamento. Aquele silêncio!...
Os fantasmas que te perseguem
, pensei eu.

A sorte tem sido madrasta para o Almeida. Não lhe bastou, a fome a sede, o medo e a raiva ao ver os seus camaradas tombar, mortos ou feridos a seu lado. Não lhe bastou ter fintado tantas vezes a morte, nos trezentos e setenta e dois encontros (ataques e emboscadas) com o inimigo, que um se camarada foi contabilizando, nos cerca de oito meses que viveu em Gandembel, sem contabilizar tantos outros que vivenciou nas picadas de Buba.

Uns anos mais tarde, o seu filho único, quando cumpria o serviço militar, morreu num estúpido acidente. Regressava à sua Unidade vindo de Santa Margarida onde estivera em treino operacional. Um acidente na estrada, entre duas viaturas de civis, fê-lo saltar da viatura para acorrer às vítimas na sua missão de enfermeiro. Nesse instante uma terceira viatura, ceifa-lhe a vida.

A família Almeida ficou destroçada. Ele nunca mais voltou a ser o mesmo Almeida, mas a sua grande fé ia lhe dando forças. Tentava abafar as suas mágoas rezando e cantando. Na última vez que esteve na Tabanca de Matosinhos, trouxe a Biblia para nos ler um Salmo e a sua voz para nos deliciar mais uma vez com a sua canção preferida – O Hino de Gandembel e outras canções do seu reportório de outros tempos, que acompanhamos com prazer.

Agora, passa o dia sentado num velho sofá a ver televisão, absorto da realidade que o rodeia.

O Monstro Gandembel que um governador mandou construir, enterrando lá centenas de contos, e outro governador, no mesmo ano, mandou abandonar, deixando lá cerca de cinquenta jovens vidas e enviando outras tantas para Lisboa, quantos delas estropiadas para o resto da vida. Esse terrível monstro continua a fazer vítimas.

Neste dia de quinta feira, a noite chegou mais cedo para mim.

O Almeida a cantar na nossa Tabanca de Matosinhos


2. Comentário de CV

Hoje o nosso camarada José Teixeira não veio até nós com as melhores notícias da Tabanca de Matosinhos. Infelizmente a vida também é composta de acontecimentos menos agradáveis, e a falta de saúde do nosso camarada Almeida de Gandembel, é um assunto preocupante, principalmente para os camaradas que mais de perto privam com ele.

Aqui deixamos os nossos votos de rápidas melhoras.
__________

Vd. último poste da série de 19 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4212: Tabanca de Matosinhos (9): Manga di ronco na grande Tabanca de Matosinhos (José Teixeira)

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2825: Nós, as Escolas,a história, a guerra colonial, o Hino de Gandembel... (Virgínio Briote)

O nosso blogue tem vindo a ser contactado por escolas e professores, pedindo autorização de materiais nossos, para efeitos didácticos. Citamos hoje dois casos, recentes

1.1. Mensagem de António Anacleto, Professor de História na Escola Básica e Secundária de Santa Maria, Açores:

Ao Sr. Luís Graça,

Eu sou um professor de Matemática com um largo interesse na História da Guerra Colonial, atento seguidor do seu blogue que muito me tem permitido conhecer mais sobre a mesma. Como tal, junto com os professores de História da minha escola (Escola Básica e Secundária de Santa Maria, Açores) decidimos participar no concurso Como se vivia em Portugal no tempo da Guerra Colonial, promovido pela Associação 25 de Abril e a Associação de Professores de História, com a realização de um vídeo com entrevistas a ex-combatentes da guerra.

Vinha por este meio pedir-lhe autorização para utilizar o áudio do Hino de Gandembel (1) nos créditos finais do nosso trabalho, música que pela sua letra valorizará ainda mais este trabalho.

Em jeito de rodapé antes de terminar, o vosso blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné é citado nos créditos finais uma vez que foi uma das várias fontes consultadas.

Tenho a informar também que o antigo Alferes Capelão Arsénio Puim (2) foi contactado por nós no sentido de dar o seu contributo como ex-combatente Mariense, mas recusou o mesmo (com muita pena nossa) evocando que primeiro deve contar os factos ocorridos nos dias seguintes a 1/1/1971 aos seus antigos camaradas, um dever que ele entende ser justo, antes de contar a terceiros. Contudo, ficou agendado um encontro com ele aqui em Santa Maria no próximo mês de Junho, pode ser que mude de ideias até lá.

Para terminar gostaria de um dia poder pôr o meu sogro em contacto com o vosso blogue, porque esteve na CCaç 2619/BCaç 2893 (Nova Lamego, 1969/71) e acho que ele também tem excelentes estórias cabralianas para contar.

Sem mais, um abraço

António Anacleto

2. Resposta do nosso editor, Luís Graça

Caro António:

Fico sensibilizado com o seu pedido. Tem, desde já, o meu acordo formal para utilizar os nossos materiais, citando sempre o autor (texto, fotografia ou vídeo) e o nosso blogue. Parabéns pela vossa iniciativa. Se mo permitir, vou dar conta dela nas páginas do nosso blogue. Já temos, de resto, colaborado, com outros professores de outras escolas.

Por outro lado, peço-lhe que ponha o seu sogro em contacto connosco. Quanto ao Puim, é um camarada nosso que eu conheci pessoalmente em Bambadinca e que muito estimava, como de resto pode depreender do que sobre ele já aqui escrevemos. Aguardo com ansiedade o dia em que ele decidir entrar pela nossa Tabanca Grande adentro…e contar-nos, em primeira mão, as suas alegrias e tristezas desse tempo…

Disponha do nosso espaço para dar a conhecer o bom trabalho que a sua escola está fazer para divulgar, aos nossos filhos e netos, acontecimentos marcantes da nossa história do Séc. XX.

Seria interessante também conhecer melhor o sacrifício que as populações das então ilhas adjacentes (Madeira e Açores) fizeram, com a participação dos seus filhos na guerra colonial. Como sabe, havia companhias "açorianas" e "madeirenses"... Os madeirenses e os açorianos eram considerados bons combatentes, aguerridos, corajosos…Não sei se não terão mais sido mais discriminados do que os outros… Sei que também pagaram um tributo elevado, em vidas, em sangue… Pode procurar no blogue: temos, entre as nossas palavras-chave, Madeira, Açores, açorianos, madeirenses…

2.1. Comentário de VB: Na conta do António Anacleto, no You Tube, podem ser visionados os 13 vídeos do Documentário sobre a Guerra Colonial, variando a duracção entre os 4 a 5 minutos e os 8 a 9 minutos. O trabalho é apresentado nestes termos: "Documentário realizado pela Escola Básica e Secundária de Santa Maria (Açores), para o concurso Como se vivia em Portugal no tempo da Guerra Colonial, organizado pela Associação 25 de Abril e pela Associação de Professores de História".

3. Mensagem de um outro professor, Vasco Vaz:

Exmo Sr:

Sou professor de história de uma escola oficial portuguesa e gostaria de saber se posso usar uma imagem do vosso blogue no meu próximo teste. O teste é para alunos do 6º ano e será reproduzido em 40 exemplares. A ser autorizada eu citaria o vosso blogue como fonte e o unico propósito da foto será o de ilustrar a seguinte questão:

"A partir dos documentos 3 e 4 refere quais foram as consequências da Guerra Colonial."

Antecipadamente Grato

Vasco Vaz

4. Resposta do nosso editor:


Meu caro professor: Sentimo-nos honrados e úteis com o seu pedido.... Esteja à vontade. Já agora, e se possível, diga-me depois qual a imagem que escolheu (já temos o enunciado da pergunta)...

É um bom exemplo, a ser seguido por outras escolas e por outros professores. Os meus parabéns. Se nos autorizar, e não vir inconveniente, apresentaremos este caso com um bom exemplo não só pedagógico como cívico... Nenhum povo pode viver acéfalo, e sem memória. Acredito que não seja fácil falar da dolorosa guerra que travámos em África durante 13 anos... É importante que os nossos filhos e netos tenham orgulho em nós.

Como sabe, no nosso blogue, damos muita importància à pluralidade de vozes, vivências, experiências e versões... Somos contra a versão redutora da história. A guerra colonial ou do ultramar tem múltiplas faces. Hoje, na Guiné-Bissau, a "luta de libertação" não chegou às escolas e, quando chega, é através da versão oficiosa, redutora, ideológica... Começa só agora a fazer-se investigação historiográfica... No entanto, estive lá há dias e o que mais me impressionou é que não há resquícios sequer de ressentimento ou de ódio contra nós... Vale a pena reflectir sobre isto... Boa saúde, bom trabalho.

Luís Graça.

5. Resposta do Vasco Vaz:

Caro Sr. Luís:

Eu é que me sinto bastante honrado por poder usar o testemunho de todos aqueles que estiveram no Ultramar ou que lutaram pela libertação das colónias.

É muito triste que esta parte da nossa história seja tão ignorada, como se tivessemos vergonha ou medo de relembrar o nosso passado.

Por curiosidade, tenho 40 anos e , portanto, não tenho experiência directa da Guerra Colonial.

Eu sou professor do ensino secundário e lecciono este conteúdo programático no 9º ano; presentemente estou com duas turmas do 6º ano onde também se faz referência à Guerra Colonial.

O nível etário dos alunos não permite que o tema seja muito aprofundado , no entanto só o facto de eles terem a noção de que a geração dos avós lutou em África já é muito importante.

Eu pensei em utilizar a vossa foto inicial de abertura:(bissau_halott_katona_1970.jpg) mas estou aberto a outras sugestões.

Relativamente ao uso do meu teste como "exemplo civico", embora seja um exagero por apenas ser um simples teste, não vejo inconveniente que seja citado.

Agradecia, no entanto, que se lhe referisse sem especificar qual a escola em concreto.

Pode citar o meu nome, o nível de ensino e a própria questão que serviu de base ao uso da vossa foto.

A minha preocupação neste campo é apenas a de que, infelizmente, nós, professores, vivemos momentos em que, na minha opinião, temos de ter todo o cuidado com o que dizemos sob pena de sermos julgados pelos meios de comunicação sensacionalista ou mesmo por existir uma certa falta de liberdade de expressão.

Devo dizer lhe que, ao leccionar temas como o da Guerra Colonial , se nota que este ainda continua a ser um tema que pode criar desconforto.

No próximo ano lectivo espero estar a leccionar os 9 anos e então fazer uma actividade em grande, mobilizando a comunidade escolar e convidando antigos combatentes para virem falar com os alunos. Nessa altura se houver interesse da vossa parte e disponibilidade seria muito agradavél contar convosco.

Finalmente, obrigado pela rapidez da vossa resposta.

Antecipadamente grato

Vasco Vaz

6. Nova resposta do editor:

Vasco:

A imagem que escolheu nem sequer é nossa... É de um fotógrafo húngaro, embebed - como se diria hoje - nas forças do PAIGC... Tenho algumas dúvidas sobre o seu comportamemto ético... Não creio que fosse um verdadeiro fotojornalista... Ele próprio deixou-se fotografar, empunhando uma Kalashikov... Não sei em que circunstâncias esteve nas "regiões libertadas" da Guiné, nos anos 1969/70... Hoje tem uma casa comercial de fotografia em Budapeste... Pode consultar o seu sítio e a sua fotogaleria (embora eu não saiba húngaro, parece-me que as fotos são do domínio público... Há tempos mandámos-lhe uma mail, em francês, a dar conhecimento e a pedir autorização, mas não respondeu)... Estas fotos circulam pela Net...

http://www.fotobara.hu/galeria/bissau_halott_katona_1970.jpg

Esta em especial é um bocado crua, para os seus alunos...Tenho dúvidas sobre a sua autenticidade, pela posição da arma (Kalash, russa) e do cadáver... Há belíssimas fotos noutro sítio, sueco, de um grande fotógrafio norueguês, tiradas na mesma época (1970), sítio esse que autoriza a sua utilização pública, exigindo apenas conhecimento ao webmaster... Veja o nosso poste de 15 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2762: PAIGC: Instrução, táctica e logística (11): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (XI Parte): A máquina logística (A. Marques Lopes).

Eu tenho a competente autorização para usar essas imagens, no nosso blogue. No seu caso, e como se trata de uma utilização para efeitos de ensino/aprendizagem, pode utilizar à vontade os nossos materiais, tendo a gentileza de divulgar o nome do autor e o endereço do blogue (mas temos também inúmeras páginas estáticas com cartas militares e fotos/memórias dos lugares... Vd. coluna do lado direito do blogue...). Nas duas versões do blogue (1ª e 2ª) há já milhares de fotografias disponíveis... A dificuldade é escolher.

Obrigado pelo seu interesse e apreço.

Luís Graça

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Fixação do texto: VB.

(1) Sobre o Hino de Gandembel, já publicámos diversos postes:

3 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2326: O Hino de Gandembel e a iconografia do soldado atormentado pelo desassossego (Idálio Reis)

1 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2319: Hino de Gandembel: interpretação de António Almeida (CCAÇ 2317, Gandembel/Balana, 1968/69)

22 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2295: Hino de Gandembel, cantado no almoço da mini-tertúlia de Matosinhos (A. Marques Lopes / Carlos Vinhal)

4 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2153: Hino de Gandembel: talvez a mais popular canção entre as NT no ano de 1969 (José Teixeira)

4 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2152: Hino de Gandembel, hoje um hino de alegria (Idálio Reis / Gabriel Gonçalves)

3 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2150: O Hino de Gandembel, cantado pelo GG [Gabriel Gonçalves], o baladeiro da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)

3 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2149: Hino de Gandembel: Quem foi o autor da letra ? (José Teixeira / Idálio Reis)

26 de Setembro de 2006> Guiné 63/74 - P2133: Guileje: Simpósio Internacional (1-7 de Março de 2008)(4): Hino de Gandembel, quem se lembra da música ? (Pepito / Luís Graça)

(2) Sobre o ex-Alf Mil Capelão Arsénio Puim, da CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), ver os seguintes artigos:


16 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2444: Arsénio Puim, ex-Alf Mil Capelão, CCS/BART 2917, hoje enfermeiro reformado e um grande mariense (Luís Candeias)

12 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2433: Em busca de ... (16): Pessoal da CCAÇ 4946/73, madeirense + Arsénio Puim, ex-capelão, açoriano, BART 2917 (Luís Candeias)

8 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2421: Em busca de... (15): Pessoal da companhia madeirense que esteve em Jemberem (1973/74) (Luís Candeia, amigo do Arsénio Puim)

5 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1925: O meu reencontro com o Arsénio Puim, ex-capelão do BART 2917 (David Guimarães)

17 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1763: Quando a PIDE/DGS levou o Padre Puim, por causa da homília da paz (Bambadinca, 1 de Janeiro de 1971) (Abílio Machado)

domingo, 9 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2620: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (2): O Hino de Gandembel, recriado pelos Furkuntunda

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Azalai > 29 de Fevereiro de 2008 > Actuação do grupo musical Furkuntunda (1) que animou a nossa primeira noite em Bissau, na sequência do cocktail oferecido a todos os inscritos no Simpósio Internacional de Guiledje pela Ministra dos Combatentes da Liberdade da Pátria e Presidente do Comité Interministerial de Pilotagem das Comemorações do 35 Aniversário da Morte de Amílcar Cabral, Senhora Isabel Mendes Correia Buscardini. Foi a primeira de uma série de dias e noites memoráveis (2)...

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Azalai > 29 de Fevereiro de 2008 > A anfitriã, dando as boas vindas a todos os convidados, e em especial aos estrangeiros, a Senhora Isabel Mendes Correia Buscardini, Ministra dos Combatentes da Liberdade da Pátria e Presidente do Comité Interministerial de Pilotagem das Comemorações do 35 Aniversário da Morte de Amílcar Cabral... Ao longo da semana irá acompanhar uma série de actividades previstas no âmbito do Simpósio Internacional de Guileje, incluindo a visita ao sul da Guiné-Bissau, nos dias 1 e 2 de Março de 2008 (fim de semana).

O grupo musical Furkuntunda, uma das revelações do ano de 2007... É constituído por talentosos jovens do Bairro do Quelélé, de Bissau. Já aqui divulgámos, no nosso blogue, um vídeo clip do grupo (Djunta Mon, 5 m 39 ss), produzido pela TV Klele (1).

O vocalista do grupo dos Furkuntunda deitou fogo à savana e pôs os tugas a correr... Infelizmente não fixei o nome dele...

O nosso querido amigo e camarada Zé Teixeira cantando o Hino de Gandembel com o vocalista dos Furkuntunda... Uma belíssima parelha! Que pena não poderem estar o Idálio Reis e o António Almeida, da CCAÇ 2317 (Gandembel/Balana, 1968/69)...

A Senhora Isabel Miranda, presidente da Direcção da AD e coordenadora do Simpósio, dançando com o cubano Ulisses Estrada, antigo combatente nas fileiras do PAIGC, em 1966... O Ulisses era o único representante de Cuba, para além de Oscar Oramas, antigo embaixador em Conacri, ainda no tempo de Amílcar Cabral... Na foto reconhece-se ainda o Zé Teixeira, de mão dada com um antigo combatente do PAIGC, e com um Gringo de Guileje, o Sérgio Sousa... Julgo ter visto o embaixador de Cuba e a a esposa nesta simpatíquíssima festa oferecida pelos nossos amigos guineenses... Não consta que o nosso representante diplomático estivesse presente. Aliás, durante toda a semana ignorou sistematicamente os seus compatriotas que vieram participar no Simpósio e que, até pelo seu número, deram nas vistas em Bissau (ou, pelo menos, nos restaurantes de Bissau, que são os únicos sítios frequentados pelos estrangeiros)...

O António Pimentel, ao fundo, alteirão, no meio de uma juventude, bonita e divertida... O António, como os nossos restantes compatriotas, estava encantado com a recepção e com pena de ter de voltar de novo a casa, e para mais de jipe...


O vocalista dos Furkuntunda é um também uma excepcional animador: ei-lo aqui, à esquerda, arrasando a plateia e contagiando todo o mundo, incluindo os cotas que vieram de Portugal...


Fotos, vídeo, legendas e texto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

1. Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça): O Hino de Gandembel ganta outra batida, na versão dos Furkuntunda


O convite, personalizado, falava em traje formal... E era feito pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da Cooperação Internacional e das Comunidades... Os guineenses vinham trajados a rigor. Eles e elas. Rapidamente conclui que há bons costureiros em Bissau e sobretudo bom gosto, aliando-se o moderno ao tradicional... Os tugas e os demais estrangeiros tiveram que improvisar... Lá se compuseram com os trapinhos que traziam nas malas.

A noite era quente e convidava ao convívio, à partilha, à alegria, à dança... Eu, pelo sim pelo não, tinha levado uma gravata, que nunca cheguei a usar, mesmo quando, já no penúltimo dia, fui integrado numa comitiva de antigos combatentes portugueses a uma audiência com o senhor 1º Ministro e, logo a seguir, com o senhor Presidente da República... Como bons africanos, os guineenes gostam do ronco, mas não são formais como os angolanos.

A grande surpresa da noite foi quando os Furkuntunda (em dialecto local, Levanta Poeira) subiram ao palco e ouviram-se os primeiros acordos, de trompete, do Hino de Gandembel !... Foi a primeira grande surpresa com que o Pepito e a organização nos brindou... O vocalista do grupo musical do Bairro do Quelélé (ou Klélé) fez gato sapato da música e da letra , e deu-nos uma versão africana, guineense, fabulosa, irreverente, do Hino da CCAÇ 2317 (Gandembel/Balana, Abril de 1968/Janeiro de 1969) (3)... Não há dúvida, que o Hino ganhou outra batida, outro ritmo...

Estalou o verniz dos tugas e, a pouco e pouco, uma boa parte do pessoal - guineense, tugas e demais convidados - estava na pista de dança, a mostrar que não há fronteiras entre os homens e as mulheres de boa vontade, apesar da guerra, no passado, que os dividiu, ou das diferenças culturais e linguísticas que modelam as suas atitudes e comportamentos...

Infelizmente as condições de luz ambiental, no recinto, junto à piscina do hotel, eram muito fracas, o que retira qualidade aos microfilmes que fizemos. O que reproduzimos acima permite ter uma ideia do ambiente fantástico daquela noite, que teve que acabar relativamente cedo, antes da meia noite, já que a jornada do dia seguinte era longa e pesada (partida, às 7h00, em caravana, para uma visita ao sul da Guiné-Bissau, com regresso na segunda-feira, dia 3).

A comida e a bebida estiveram à altura do acontecimento, se bem que os tugas, tratando-se do primeiro dia na Guiné-Bissau, ainda estivessem a pensar duas vezes antes de meter qualquer coisa à boca... É o que faz ir à consulta do viajante... No dia seguinte, irão esquecer todas as recomendações sanitárias, alegando que quem não arrisca, não petisca... Deve-se dizer que, em geral, durante toda a semana não houve problemas de saúde de maior, para além de uma ou outra diarreia do viajante...

É ainda de referir a actuação do Anastácio de Djens, outra das grandes vozes (masculinas) da música de hoje. Haveremos de voltar a falar dele, da sua música e das suas letras contestárias... Anastácio é uma voz contra o cinismo do sistema, o politicamente correcto e o beco sem saída dos jovens guineenses, sobretudo a partir do Golpe de Estado de 1998. O seu tema musical N' cansa tchora Guine (Em inglês, qualquer coisa como Don't Cry, Guinea-Bissau) é fortíssimo e é mais uma das produções da TV Klele. Apoiada pela AD - Acção para o Desenvolvimento, esta televisão comunitária está a ser um alfobre de novos talentos musicais.

A Alice, a Diana e o casal Quessange: Roberto (presidente da Assembleia Geral da AD - Acção para o Desenvolvimento - e antigo Secretário de Estado dos Recursos Naturais no governo que caiu com o golpe de Estado de 1998); e Francisca (antiga enfermeira do PAIGC, actualmente enfermeira no Hospital Regional do Gabu). O Roberto Quessange tem muitos amigos em Portugal, país de que gosta muito. Foi uma presença constante ao longo da semana, ele e a esposa.

Já agora aqui ficam apresentados os Corpos Sociais da AD - Acção para o Desenvolvimento para o Biénio 2006–2008, alguns dos quais passei a conhecer pessoalmente:

Mesa da Assembleia Geral - Presidente > Roberto Quessangue; Vice Presidente > Alfredo Simão da SilvaSecretária: Eurizanda Rodrigues.

Direcção - Presidenta: Isabel Miranda; Director Executivo: Carlos Schwarz [Pepito]; Tesoureiro: Tomane Camará; Vogal para os Programas de Crédito: Maria da Conceição Vaz; Vogal para os Programas de Educação: Domingos Fonseca; Vogal para os Programas de Comunicação: Maimuna Cassamá; Vogal para os Programas de Desenvolvimento: Abubacar Serra.

Conselho Fiscal - Presidente: Nelson Dias; Secretário: Aristídes Ocante da Silva.



Não faltaram iguarias no cocktail oferecido pela Senhora Ministra dos Combatentes da Liberdade da Pátria... (Que título tão bonito!),

O Armindo Ferreira, antigo combatente português (e hoje empresário em Moreira de Cónegos, Guimarães) e o espanhol Josep Sanchez Cervelló, um dos oradores do Simpósio. Ao fundo, o Sérgio Sousa, ex-Furriel Miliciano Atirador da CCAÇ 3477, Gringos de Guileje (1971)

Caras e vozes bonitas... Elementos (femininos) do Grupo de Teatro Os Fidalgos que irão animar o sarau cultural de 4ª feira, dia 5, no Centro Cultural Franco-Guineense... Aqui o Pepito pediu a uma das actrizes para mostrar os seus dotes vocais... Infelizmente não tomei nota do seu nome, mas o Pepito garante-me que é uma das melhores vozes (femininas) da Guiné-Bissau... Não tenho dúvidas, a avaliar só pela amostra...

Neste convívio, também estaca o Jorge Quintino Biaguê, que tive o prazer de conhecer pessoalmente, e que também faz parte da vasta equipa da AD - Acção para o Desenvolvimento: é actor de teatro e animador do Centro de Intercâmbio Teatral de Bissau (CIT) e coordenador do grupo teatral Os Fidalgos. O trabalho deste grupo de gente talentosa e generosa merece ser melhor conhecido em Portugal.

Uma noite agradável, de que todos levamos boas recordações: à esquerda, o Luís Moita e o Costa Dias; ao fundo, ao centro, o Francisco Silva (foi alferes miliciano, na CART 3492, Xitole, 19723/73 e depois na CCAÇ 51); à direita, o Paulo Santiago (ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 53, Saltinho,1970/72) e , em primeiro plano, um outro camarada, cujo nome me escapa (será o Armando Gonçalo Silva Oliveira, do BART 6520 ?).

Ao centro, um antigo guerrilheiro do PAIGC que tomou parte no cerco e assalto ao quartel de Guileje, e hoje oficial da Marinha guineense, Fefé Gomes Cofre, ladeado pelo Zé Teixeira (à esquerda) e o Coronel Coutinho e Lima (à direita), sob o olhar atento da Maria Alice. Riu-se muito quando lhe falei das suas parecenças físicas com o futebolista brasileiro Roberto Carlos, do Real Madrid...

A Maria Alice e a Isabel Levy Ribeiro, esposa do Pepito, que está a fazer um doutoramento em Espanha. Também faz parte da equipa da AD - Acção para o Desenvolvimento: "Desenvolvo actividades no domínio da educação e formação, apoiando o Centro de Animação Infantil e o Forum das Escolas Populares de Quelelé, através de concursos inter-escolas ligados a temas ambientais; no Norte trabalhando com as Escolas de Verificação Ambiental na produção dos Cadernos de Campo “Ambiente”; e nos programas de formação, de planeamento e coordenação pedagógica da EAO".

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Notas de L.G.:

(1) 26 de Janeiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2482: Guileje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (12): Notas soltas a quatro mãos (Luís Graça / Pepito)

(2) Vd. poste anterior: 8 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2618: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (1): Regresso a Bissau, quatro décadas depois...

(3) Sobre o Hino de Gandembel, já publicámos diversos postes:

3 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2326: O Hino de Gandembel e a iconografia do soldado atormentado pelo desassossego (Idálio Reis)

1 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2319: Hino de Gandembel: interpretação de António Almeida (CCAÇ 2317, Gandembel/Balana, 1968/69)

22 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2295: Hino de Gandembel, cantado no almoço da mini-tertúlia de Matosinhos (A. Marques Lopes / Carlos Vinhal)

4 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2153: Hino de Gandembel: talvez a mais popular canção entre as NT no ano de 1969 (José Teixeira)

4 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2152: Hino de Gandembel, hoje um hino de alegria (Idálio Reis / Gabriel Gonçalves)

3 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2150: O Hino de Gandembel, cantado pelo GG [Gabriel Gonçalves], o baladeiro da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)

3 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2149: Hino de Gandembel: Quem foi o autor da letra ? (José Teixeira / Idálio Reis)

26 de Setembro de 2006> Guiné 63/74 - P2133: Guileje: Simpósio Internacional (1-7 de Março de 2008)(4): Hino de Gandembel, quem se lembra da música ? (Pepito / Luís Graça)

Vd. ainda:

1 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2321: Humor de caserna (3): Hino de Gandembel: hino de guerra ou música pimba ? (Manuel Trindade)

2 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2323: Um insulto aos heróis de Gandembel (Zé Teixeira)

2 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2324: (Ex)citações (1): Um pouco de humor de vez em quando também nos faz bem (Henrique Matos)