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domingo, 21 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25096: Blogpoesia (795): "Os sítios que são só recordações", por Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR da CCS / BCAÇ 3872

Galomaro depois de forte chuvada. Foto: © Ex-Fur Mil Sapador António Maria Fernandes (BCAÇ 3872)


1. Em mensagem de 20 de Janeiro de 2024, o nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), enviou-nos este seu poema:


Os sítios que são só recordações

Vivíamos para o futuro
Como se estes momentos fossem um interlúdio
Um compasso de tempo
Sabíamos da beleza que nos rodeava
Não sei se estávamos tão presentes para ela
Estávamos obcecados por outras paragens.
Depois veio a saudade.
Fizemos planos para voltar
Chamemos-lhe quimera dos sentidos
Utopia que construímos
Nunca reencontraríamos a nossa juventude
Há muito perdida naqueles lugares.


Juvenal Sacadura Amado
09/01/2024

A caminho do Dulombi
Pôr-do-sol
Pôr-do-sol

Fotos: © Ex-Fur Mil Sapador António Maria Fernandes (BCAÇ 3872)
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Notado editor

Último poste da série de 17 DE SETEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24665: Blogpoesia (794): "Lágrima de Sol", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)

sábado, 13 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25066: In Memoriam (493): Falecimento do Capitão Miliciano de Artª da CCAÇ 3491 / BCAÇ 3872 (Dulombi e Galomaro, 1971/74), engº Fernando Pires (Luís Dias)




1. O nosso Camarada Luís Dias, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 3491 / BCAÇ 3872 (Dulombi e Galomaro, 1971/74), enviou-nos  a seguinte mensagem:





           Falecimento do meu capitão
 

Perder um companheiro que esteve connosco na guerra, mas especialmente alguém que era um bom amigo é imensamente doloroso. Fui hoje informado por um dos seus filhos, que o Engº FERNANDO PIRES, ex-Capitão Miliciano de Artª, que comandou a CCAÇ 3491, pertencente ao BCAÇ 3872, faleceu no dia 11 de Janeiro, no Hospital de Cascais, aos 81 anos, devido a problemas respiratórios. 

Antes do Natal, tinha falado com ele ao telefone e tínhamos combinado encontrar-nos no fim deste mês, pois ainda estava em convalescença de uma intervenção cirúrgica melindrosa. 

A história militar deste meu amigo é um "produto" daqueles tempos em que estávamos em três frentes de Guerra. O meu amigo esteve no Serviço Militar Obrigatório, em 1963, com a idade normal com que se era "chamado" e serviu o percurso normal de um oficial miliciano da especialidade de artilharia e teve a sorte, pensava ele, de não ter sido mobilizado para o Ultramar. Terminado o seu tempo de serviço, voltou à sua vida civil, trabalhava na EFACEC, namorava e tinha a sua vida organizada e um futuro promissor. Contudo, em 1971, foi "re-pescado" para ir para a Escola Prática de Infantaria - Mafra, tirar o Curso Para Capitães (CPC) e mais tarde vir a ser mobilizado para a Guiné a comandar uma companhia de caçadores, jovens "chavalos", onde, a seguir ao 1º Sargento Gama, era o mais velho, com cerca de 30 anos e eu o "puto" mais novo.

O Capitão Pires dirigia uma companhia (cerca de 150 elementos), também 2 pelotões de milícias e era responsável por 250 elementos da população que viviam numa Tabanca anexa ao nosso aquartelamento, isto no Dulombi, Leste da Guiné, região de Bafatá. Foi o nosso comandante entre 18 de Dezembro de 1971 e 4 de Abril de 1974 e dirigiu a companhia com competência e elevado brio profissional, sem nunca deixar de ser um excelente ser humano. Soube das dificuldades que era comandar tanta gente, pois eu próprio fui comandante da mesma, nas suas ausências e férias, o que me foi muito útil, quando fui nomeado comandante do CIM de Bambadinca, em Agosto de 1973.

Depois de terminada a nossa comissão e seguindo cada um o seu rumo, encontrávamo-nos, de quando em vez, mas após o 1º Convívio da companhia, realizado no então R.I. nº2, em Abrantes, de onde partíramos para a Guiné, almoçávamos muitas vezes e íamos aos convívios juntos. 


Na foto, em 1º plano, o Capitão Pires, com o General Spínola, estando eu em 2º plano, no dia da inauguração do nosso quartel em Abril de 1972.

Caro amigo Fernando Pires, que descanse em paz e até um dia destes, para voltarmos a falar da amizade que nos uniu nesta "vida". 

Luís Dias 
Alf Mil Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872 
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

10 DE JANEIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25055: In Memoriam (492): Fernando Peixinho de Cristo (1947-2004), ex-cap mil inf, cmdt, CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883 (Canquelifá, 1972/74); natural de Coimbra, e reputado hidrogeólogo a nível nacional e internacional

segunda-feira, 14 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23076: (De)Caras (185): Isabel Amora (1946-2020), a cantora "ié-ié" que atuou em Jabadá, para os militares da CCAV 2484 (1969/70) (Manuel Antunes / Fernando Feio)... mas também em Galomaro, em 1971, ao tempo do BCAÇ 2912 (António Tavares)


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5

Guiné > Região de Quínara > Jabadá > CCAV 2484 (1969/70) >  A cantora ié-ié Isabel Amora, atuando para os militares do aquartelamento, que ficava na margem esquerda do Rio Geba. Fotos do Manuel Antunes, ex-sold cond auto, CCAV 2484, Os Dragões de Jabadá (*)

Fotos (e legenda): © Manuel Antunes (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas dfa Guiné] 


1. O nosso camarada, Manuel Antunes, que vive há mais de meio século em Toronto, Canadá, acaba de confirmar o nome da artista que atuou para ele e os seus camaradas, os  "Dragões de Jabadá" (Fotos nº 1 e 2), em data que não precisa, mas que só pode ter sido entre 4 de março de 1969 e 9 de dezembro de 1970 (A CCAV 2484 / BCAV 2867 assumiu o subsector de Jabadá em 4 de março de 1969, e foi rendida em 9 de dezembro de 1970, recolhendo a Bissau para regresso à Metrópole.)

Quem primeiro identificou a cantora (Foto nº 2) foi o Francisco Feio, ex-1º cabo mecânico, também da CCAV 2484: "Isabel Amora, nome artístico, tenho fotos dela e dos outros dois artistas que estiveram no mesmo concerto" (11 de março de 2022 às 22:55, comentário ao poste P23069 (*)

O Manuel Antunes mandou mais duas fotos desse espectáculo com a tal Isabel Amora (Fotos nº 1 e  4). Tudo indica que, nesse espectáculo, a artista tenha aparecido com duas indumentárias diferentes: vestido curto, mas de manga comprida e minissaia (Fotos nºs 1 e 2) e blusa de manga curta e calça à boca de sino (Fotos nº 4 r 5).  

Na primeira atuação, está ao nível dos espectadores, uns sentados, outros de pé, e outros ainda empoleirados numa árvore. O local pode ser a parada do quartel ou as proximidades de alguma das casernas. Na  segunda atuação, está num plano mais alto, num murete, junto à parede de um edifício. 

Na foto nº 3 pode ver-se um pormenor dos sapatos, que parece estarem parcialmente enlameados ou sujos com terra. Na foto nº 5, destaca-se um elemento, feminino, que parece estar a tocar teclas (ou piano elétrico). O Fernando Feio  fala em "mais dois artistas que estiveram no concerto".

2. Quem era a Isabel Amora, que entretanto já morreu, em 2020, com 74 anos?

Segundo elementos que recolhidos na Net, foi uma "pioneira vocalista pop entre nós e que hoje em dia poucos porventura recordarão" (**)... Nasceu na Amora, concelho do Seixal, distrito de.Setubal em 1946.

Isabel Baptista, de seu nome, de muito cedo "começou a mostrar os seus dotes artísticos e musicais cantando o “IÉ IÉ” (estilo de música pop surgido na França, Itália, Espanha e Portugal no início da década de 1960). Há quem diga que o seu estilo preferido era o seguido por Rita Pavone, cantora com sucesso na música Italiana. Infelizmente não temos nenhum registo de som da Isabel a Solo." (...)

(...) "Entre 1965 e 1966, no Teatro Monumental, em Lisboa, teve lugar o famoso Concurso Ié-Ié, e Isabel Amora cantou no evento (embora fora de competição) acompanhada pelos Jovens do Ritmo, da Amora - localidade onde nasceu e que guardou como apelido artístico. (...)


Com Paula Amora, sua prima, Isabel faz o duo Elas, com supervisão do músico Carlos Portugal.  "Entre 1971 e 1972 gravam cinco discos, contando com arranjos de Pedro Osório e com originais de Portugal e de Luís Romão (com percurso de destaque então a solo).

Mas em Jabadá  Isabel deve ter atuado a solo... Segundo a  fonte que estamos a citar (**), "antes do lançamento do Duo Elas, Isabel pela mão da Senhora D. Helena Félix, parte para o Ultramar para cantar para os militares. O seu empresário era o Sr. Munhoz, pai da Sra. D. Eunice Munhoz, com escritório na Praça da Alegria em Lisboa. (...).

(...) "Ainda em 1971, este duo pop canta na inauguração do Centro Comercial Apolo 70, em Lisboa, e participa no único Festival da Canção da Guarda, com 'Sim, Meu Amor Foste o Primeiro'. Depois dos dois últimos discos do duo, em 1972, Isabel Amora ainda cantou em Moçambique a solo e fez teatro alguns anos mais tarde, mas os tempos de glória tinham ficado para trás."

(...) "Em 1972 fizeram uma tournée por todas as praias de Portugal - Concurso Miss Praia 72 - com o patrocínio duma Rádio, com um grupo de músicos de Almada. Participam no programa televisivo que passa na RTP1 - Canal13 - todas as segundas feiras à noite. Programa esse que era gravado no Teatro ABC nos sábados anteriores no Parque Mayer, em Lisboa. (...)

(...) "Alguns anos depois vão para o Porto, onde passam a viver durante um tempo e actuam em vários Casinos portugueses. Acabado esse contrato, a Paula decide casar-se e o Duo dissolve-se. A Isabel retorna a Moçambique, onde encontra família e onde faz a sua vida a cantar com um novo contrato, regressando a Portugal no final deste e dando por finalizada a sua carreira artisitica. A sua vida deixa de ser artística e passa a viver uma vida fora dos palcos. Mais tarde casa-se, mas divorcia-se uns anos a seguir" (...)



3. Diz o António Tavares, também em comentário (*):

(...) "No dia 31 de Março de 1971 houve festa no Quartel de Galomaro. O BCaç 2912 recebeu a Isabel, Tino Costa, Eva Maria e Fernando Correia. Os quatro actuaram a solo e em conjunto, num palco construído para tal fim, na parada do quartel.

"Os Militares e a População local durante umas horas esqueceram a guerra. Existem fotos comprovativas dos artistas em Galomaro. Acabada a actuação os artistas seguiram viagem para Bafatá ou Bambadinca." (*)

Ficamos sem saber quem promoveu o espectáculo em Jabadá (e noutros sítios, como Galomaro): O Movimento Nacional Feminino (MNF)?A atriz Helena Félix (Porto, 1920 - Lisboa, 1991)?  O pai da Eunice Muñoz, que se chamava Hernâni Cardinali Muñoz, e que era o empresário da Isabel Amora?... 

Enfim,  será que estes e outros empresários  fizeram digressões, com artistas da Metrópole,  pelos três teatros de operações (Angola, Guiné e Moçambique), independentemente do Movimento Nacional Feminino? Nesse caso, quem pagava? Era o Exército?

quinta-feira, 17 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22291: Fichas de unidades (18): BCAÇ 2912 (Sector L5, Galomaro), CCAÇ 2699 (Cancolim), CCAÇ 2700 (Dulombi) e CCAÇ 2701 (Saltinho)


BCAÇ 2912 (Sector L5, Galomaro, 1970/72) > 
"Excelente e Valoroso"

Batalhão de Caçadores n.º 2912

Identificação: BCaç 2912 (Tem cerca de 6 dezenas de referências no nosso blogue)

Unidade Mob: RI 2 - Abrantes

Cmdt: TCor Inf Octávio Hugo de Almeida e Vasconcelos Pimentel

2.° Cmdt: Maj Inf Arnaldo Alfredo do Carmo Sousa Teles

OInfOp/Adj: Maj Inf José Baptista Mendes

Cmdts Comp:

CCS: Cap Inf Joaquim Rafael Ramos dos Santos

CCaç 2699: Cap Mil Art João Fernando Rosa Caetano

CCaç 2700: Cap Inf Carlos Alberto Maurício Gomes

CCaç 2701: Cap Inf Carlos Trindade Clemente

Divisa: "Excelente e Valoroso"

Partida: Embarque em 24Abr70; desembarque em 01Mai70 | Regresso: Embarque em 20Mar72 (CCaç 2699), 22Mar72 (CCaç 2700), e 23Mar72 (restante)


Síntese da Actividade Operacional


Em 10Mai70, após sobreposição com o BCaç 2851, assumiu a responsabilidade do Sector L5, com sede em Galomaro e abrangendo os subsectores de Dulombi, Saltinho, Cancolim e Galomaro.

Desenvolveu intensa actividade operacional de patrulhamento, reconhecimentos, emboscadas e de vigilância das infiltrações inimigas no rio Corubal e sobre o eixo Boé-Bafatá, efectuando algumas operações e acções sobre grupos inimigos esporadicamente instalados na zona de acção. 

A par disso, actuou prioritariamente no campo da acção psicossocial, apoiando a organização do sistema de autodefesa das populações e a construção de diversos postos escolares e de reordenamentos, nomeadamente os de Contabane e Deba.

Da sua actividade refere-se a detecção e levantamento de 17 minas.

Em 11Mar72, foi rendido no sector pelo BCaç 3872, recolhendo a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.


A CCaç 2699 (com 5 referências no nosso blogue) manteve-se inicialmente no sector de Bissau, na dependência do BArt 2866, tendo substituído a CCaç 2401 no dispositivo de segurança e protecção das instalações e das populações da área.

Em 22Jun70, iniciou o deslocamento, por fracções, para Cancolim (vd. carta de Cansissé), a fim de render, por troca, a CCaç 2446, tendo, em 30Jun70, assumido a responsabilidade do respectivo subsector, com um pelotão destacado em Sangué Cabomba, ficando integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão.

Em 10Mar72, foi rendida pela CCaç 2489 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

 

A CCaç 2700 (tem cerca de 3 dezenas de referências no nosso blogue) seguiu em 4Mai70 para Dulombi (vd, carta de Duas Fontes) a fim de efectuar a sobreposição e render a CCaç 2405. 

Em 10Mai70, assumiu a responsabilidade do respectivo subsector de Dulombi, ficando integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão, tendo ainda tomado a seu cargo a continuação de construção dos reordenamentos de Sangué Cabomba e Cancolim.

Em 10Mar72, foi rendida pela CCaç 3491 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

A CCaç 2701 (tem mais de 4 dezenas de referências no blogue) seguiu em 4Mai70 para Saltinho, a fim de render a CCaç 2406. Em 10Mai70, assumiu a responsabilidade do respectivo subsector, com pelotões destacados em Cassamange, até meados de Jun71 e Cansonco, até meados de Jan72, ficando integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão.

A partir de 9Nov72, destacou ainda um pelotão para Cansamba, no subsector de Galomaro.

Em 11Mar73, foi rendida pela CCaç 3490 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações:  Tem História da Unidade (Caixa n.º 93 - 2ª. Div/4.ª Sec, do AHM).


Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da Actividade Operacional: Tomo II - Guiné - Livro I (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2014), pp. 144/145.

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Nota do editor:

Último poste da série > 10 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P21989: Fichas de unidade (17): CCAÇ 1550 / BCAÇ 1888 (Farim, Binta e Xime, 1966/68)

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21535: (Ex)citações (378): Talvez por causa de Madina do Boé... (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR, CCS / BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74)


1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da  autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem", com data de 9 de Novembro de 2020:


TALVEZ POR CAUSA DE MADINA DO BOÉ

Talvez como consequência do abandono de Madina do Boé e o grande espaço de progressão que ficou livre até à zona de Galomaro, resultou em 5 mortos no local e mais 3 em consequência dos ferimentos, em emboscada feita à CCS/BCAÇ 2912 nas Duas Fontes em Outubro de 1971.

A CCAÇ 3491 - Dulombi - Fevereiro de 1972

Logo no período de transição teve um encontro de frente durante uma patrulha com IN, do qual só por milagre não resultaram baixas, mas cantis e casacos furados por balas, foram vários tal a violência de parte a parte.

CCAÇ 3489 - Cancolim - 1972/73

Depois seguiu-se Cancolim. Já depois de duas flagelações, a 2 de Março de 1972, Cancolim foi fortemente atacada com morteiros 82 mm tendo daí resultado a morte dos seguinte camaradas:

José António Paulo - 1.º Cabo Atirador - natural de Mirandela.
João Amado - Soldado Aux. Cozinheiro - natural de Carvide - Leiria.
Domingos do Espírito Santo Moreno - Soldado Atirador - natural de Macedo de Cavaleiros.

No final de 1972 a CCAÇ 3489 tinha 60 operacionais.

Não ficou por aí e, assim, morreram ainda em combate, alguns já em 1973:

António Martinho Vaz - Soldado Atirador - natural de Grijó da Parada - Bragança
Álvaro Geraldes Delgado Ferrão - Soldado Ap Morteiro -natural de Silvares - Fundão
Domingos Moreira da Rocha Peixoto - Soldado Atirador - natural de Alto da Vila - Duas Igrejas - Paredes
Califo Baldé - Soldado Milícia - natural de Anambé - Cabomba - Bafatá
Samba Seide - Soldado Milícia - natural de Anambé - Cabomba - Bafatá

Juntamos a este numero duas deserções (um capitão e um alferes) e a captura do Soldado António Manuel Rodrigues, que veio a fugir do cativeiro para o Saltinho já nós estávamos para embarcar para a Metrópole.

CCAÇ 3490 - Saltinho - 1972

Armandino da Silva Ribeiro - Alf Mil Inf - natural de Magueija - Lamego
Francisco de Oliveira dos Santos - Fur Mil Inf - natural de Ovar
Sérgio da Costa Pinto Rebelo - 1.º Cabo Ap Metralhadora - Vila Chã de São Roque - Oliveira de Azeméis
António Ferreira [da Cunha] - 1.º Cabo Radiotelegrafista - Cedofeita - Porto
Bernardino Ramos de Oliveira - Soldado Atirador - Pedroso - V. N. de Gaia
António Marques Pereira - Soldado Atirador - Fátima - V. N. de Ourém
António de Moura Moreira - Soldado Atirador - S. Cosme - Gondomar
Zózimo de Azevedo - Soldado Atirador - Alpendurada - Marco de Canaveses
António Oliveira Azevedo - Soldado - Moreira - Maia (**)
Demba Jau - Soldado Milícia - Cossé - Bafatá
Adulai Bari - Soldado Milícia - Pate Gibel - Galomaro - Bafatá
Serifo Baldé - Assalariado - Saltinho - Bafatá

Juntar o soldado António Baptista feito prisioneiro, bem como os diversos feridos com mais ou menor gravidade.

CCS/BCAÇ 3872 - 1972/73

Manuel Ribeiro Teixeira - 1.º Cabo Rec e Inf - natural Cimo da Vila - Varziela - Felgueiras - Vítima de mina antipessoal na estrada do Saltinho.
Mamassaliu Baldé - Soldado Milícia - natural de Cossé - Bafatá
Mama Samba Embaló - natural de Cossé
Ila Bari - Soldado Milícia - natural de Campata - Nossa Senhora da Graça - Bafatá
Alberto Araújo da Mota - Alf Mil TRMS - natural de Curral - Pico de Regalados - Vila Verde - Evacuado com hepatite, morre 2 dias depois em Bissau. 

Antes tinha sido evacuado o Soldado Radiomontador Carlos Filipe e aos 20 meses de comissão é igualmente evacuado com a mesma maleita o Alferes da ferrugem Amadeu.

Para fechar o ano de 1972 foi a CCS/BCAÇ 3872 violentamente atacada ao arame no dia 1 de Dezembro.

Em 1973 uma mina na estrada do Dulombi destrói Unimog e fere gravemente o meu camarada Falé que é evacuado e já não volta.

De referir o aparecimento de minas na estrada do Dulombi e ataques em Bangacia, Campata e Cansamba, tudo na região das Duas Fontes (entre 6 e 9 km de Galomaro).

Posteriormente a CCS bem como Cancolim foram reforçados com pelotões de Dulombi em retracção, que também reforçam operacionalmente Nova Lamego. Fomos também ajudados com grupos de intervenção independentes bem como com Paraquedistas.

Tendo o meu batalhão chegado à Guiné na véspera de Natal de 1971, a sua partida só se viria a efectivar em 28 de Março de 1974. Escrevo isto para situar o período das minhas narrativas e assim dar a perspectiva da alteração e da intensidade da guerra a que estivemos sujeitos. A violência, bem como o equipamento utilizado contra nós, foram assim sendo alterados de região para região.

Enquanto o alcance da nossa artilharia era ultrapassada largamente pelo o alcance da artilharia do PAIGC, também nos vimos privados da normal utilização de meios aéreos, pese a grande coragem com que os pilotos se forçaram a voar após serem confrontados com uma arma da qual ignoravam tudo, ou quase tudo.

E passo citar o TenGeneral António Martins de Matos no seu livro Voando Sobre Um Ninho De “Strelas”:

A guerra estava a entrar numa nova fase, nada de emboscadas e confrontos directos mas sim, de duelos de artilharia e seria de esperar o aparecimento de uma aviação rebelde/mercenária.

Duelos de artilharia? Interroga-se o autor. A grande maioria desses obuses  estavam no Sul, autênticos monos da II Guerra com alcance não superior a 14.000 metros. Na maioria dos quartéis da Guiné só tinham direito a morteiros 81 mm (4000 metros) e ainda 11 morteiros 105 mm espalhados por diversos sítios de alcance igual.

O PAIGC usava o 120 (5700 metros) depois haviam os foguetes 122 mm (20.000 metros) e a breve trecho emprestados por Sekou Touré, peças de 130 mm (27.000 metros) e enquanto a artilhara utilizada pela guerrilha só podia ser posta em causa pelo aparecimento da nossa força aérea. Estas últimas peças fariam fogo directamente do Senegal e da Guiné Conácri e sete dos nossos aquartelamentos ficariam assim debaixo de fogo.

Tudo isto para relembrar que aquela guerra era intensificada consoante interesse do PAIGC, uma fez que lhe chegavam abastecimentos cada vez de maior qualidade e quantidade, enquanto a nós há muito enfermávamos de uma penúria franciscana.

PS: Publico os nomes dos nossos mortos porque lembrá-los é honrá-los e é uma obrigação registar os nomes de quem na flor da idade nos deixou.

*******************

O António Tavares que pertenceu à CCS do BCAÇ 2912, que nós fomos render, sobre a emboscada das Duas Fontes fez-me chegar a correcção sobre o numero de mortos e assim: 

Na emboscada morreram 5 militares e posteriormente três dos feridos que foram evacuados vieram a falecer em resultado dos ferimentos.

Os mortos foram oito e não seis como eu tinha inicialmente escrito.

Da parte do ex-Alf Mil Luís Dias, que chegou a comandar a companhia do Dulombi, chegaram-me estas informações mais precisas sobre a actividade operacional do Batalhão 3872.

CURIOSIDADES OU NOTAS SOBRE A NOSSA ZONA

Podemos verificar que os 4 quartéis do Batalhão sofreram 22 ataques/flagelações (CCS-1; CCAÇ 3489 - 12; CCAÇ 3490 - 0 e CCAÇ3491 - 9) e que as Tabancas das nossas populações em redor dos nossos aquartelamentos sofreram 23 ataques/flagelações, sendo que 9 deles foram contra populações indefesas e num acto de salteadores de estrada, o IN roubou dinheiro e bens a 16 elementos da população que transitavam na picada Saltinho-Galomaro.

BCAÇ 3872

FLAGELAÇÕES E ATAQUES AOS NOSSOS QUARTÉIS

CCAÇ 3489 - CANCOLIM

8 Flagelações em 1972 (1 delas c/ 3 mortos, 5 feridos graves e 5 feridos ligeiros)
2 Flagelações em 1973
2 Flagelações em 1974

CCAÇ 3490 – SALTINHO

Não sofreram quaisquer ataques ou flagelações durante a comissão

CACAÇ 3491 – DULOMBI

3 Flagelações em 1972
4 Flagelações em 1973
2 Flagelações em 1974

CCS - GALOMARO

1 Ataque/flagelação em 1972 c/1 IN morto confirmado e prováveis feridos IN

MINAS ACTIVADAS E DETECTADAS

Cancolim: Mina A/P reforçada accionada c/1 morto e 1 ferido+mina A/C accionada c/12 feridos graves, 1 ferido ligeiro e 2 feridos pop.+2 minas A/P levantadas
Saltinho: 3 minas A/C levantadas e 1 A/P levantada
Dulombi: 2 minas A/C levantadas e 2 minas A/P levantadas
Galomaro: 1 mina A/P reforçada accionada c/1 morto+1 mina A/C reforçada accionada c/1 ferido grave

EMBOSCADAS/CONTACTOS/FLAGELAÇÕES AUTO

CCAÇ 3489 - 1 contacto com o IN, após flagelação ao quartel, em 1972+1 emboscada aos milícias em Anambé, em 1973 c/2 mortos e 1 ferido
CCAÇ 3490 - 1 emboscada no Quirafo c/ 9 mortos+1 milícia e 2 civis+1 militar capturado. 1 emboscada c/feridos e mortos do IN+1 contacto do IN c/milícias de Cansamange
CCAÇ 3491 - Flagelação numa operação no Fiofioli+1 emboscada/contacto com 4 feridos ligeiros nossos e mortos do IN (s/confirmação de quantos, mas a rádio do PAIGC referiu que tínhamos tido 8 mortos e eles também tinha tido mortos+1 emboscada/flagelação junto à recolha de águas no Dulombi+2 flagelações a coluna de escolta e protecção na estrada Piche-Buruntuma.
CCS - Contacto entre forças milícias e o IN, após ataque a Campata c/elemento IN capturado.

ATAQUES A TABANCAS EM AUTO-DEFESA E TABANCAS INDEFESAS

- Tabanca indefesa de Bambadinca/Cancolim, em 25/1/72;
- Tabanca indefesa de Mali Bula/Galomaro, em 1/2/72;
- Tabanca de Umaro Cossé/Galomaro, c/2 feridos civis, em 7/12/72;
- Tabanca de Campata/Galomaro, em 20/6/72;
- Tabanca indefesa de Sinchã Mamadu/Saltinho, na mesma data de 20/6/72;
- Tabancas indefesas de Sana Jau e Bonere/Saltinho, em 30/6/72;
- Tabanca de Cassamange/Saltinho, em 15/7/72;
- Tabanca indefesa de Guerleer/Galomaro, c/ morte de 3 prisioneiros civis e 1 ferido grave, em 27/7/72;
- Tabanca de Patê Gibele/Galomaro c/ 1 sarg. milícia morto+1 ferido grave e 2 feridos ligeiros da pop., em 11/8/72;
- Tabanca de Anambé/Cancolim c/1 morto (CCAÇ 3489)+3 feridos também da mesma CCAÇ, que ali estava de reforço, em 5/9/72;
- Tabanca de Sinchã Maunde Bucô/Saltinho, c/3 feridos IN confirmados, em 20/9/72;
- Tabanca de indefesa de Bujo Fulpe/Galomaro, em 26/9/72;
- Tabanca ainda indefesa de Bangacia/Galomaro, com 1 milícia e 2 civis mortos, no mesmo dia (26/9/72);
- Tabanca de Dulô Gengele/Galomaro, com 3 mortos IN confirmados e 3 mortos civis (que tinham sido feitos prisioneiros antes do ataque e que foram abatidos+1 ferido grave e 1 ferido ligeiro dos milícias e 4 feridos graves da pop e 5 feridos ligeiros da pop., em 17/10/72;
- Tabanca indefesa de Sarancho/Galomaro, com 2 mortos civis e 2 feridos civis;
- Tabanca indefesa de Samba Cumbera/Galomaro, c/1 ferido grave da pop., em 13/11/72;
- Tabanca de Cansamange/Saltinho, 17/12/72;
- Picada Saltinho-Galomaro c/16 elementos da pop. capturados e roubados dos seus haveres (dinheiro), em 18/1/73;
- Tabanca de Bangacia/Galomaro, c/2 mortos civis+2 feridos civis+2 feridos milícias, em 1/2/73;
- Tabanca de Campata/Galomaro, c/5 mortos do IN e 1 capturado+3 mortos milícias e 3 mortos civis, em 16/3/73;
- Tabanca de Sinchã Maunde Bucô/Saltinho, em 14/5/73;
- Tabanca de Bangacia/Galomaro, em 18/9/73;
- Tabanca de Madina Bucô, em 20/1/74.

09 de Novembro de 2020 às 21:26
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Nota do editor

Último poste da série de17 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21457: (Ex)citações (377): As visitas da D. Cecília Supico Pinto ao leste da Guiné (Abel Santos, ex-Soldado At Art da CART 1742)

Guiné 61/74 - P21534: Armamento (11): Material apreendido ao PAIGC em 1972 e 1973, em Galomaro e Dulombi (Luís Dias, ex-alf mil, CCAÇ 3491, Dulombi e Galomaro, 1971/74)


Foto nº 1 > Mina A/C


Foto nº 2 > Tambor e fita de metralhadora ligeira Dectyarev RPD


Foto nº 3 >  Granadas de RPG 2 e RPg 7 e outro material


Foto nº 4 > Baionetas de Kalashnikov AK-47 e AK-47/51


Foto nº 5 >  Estilhaços de RPG 2 e de RPG 7

Fotos (e legendas): © Luís Dias (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Luís Dias

1. Mensagem do Luís Dias[, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872 (Dulombi e Galomaro, 1971/74), o nosso especialista em armamento; tem mais de 8 dezenas de referências no nosso blogue]:

Date: sexta, 6/11/2020 à(s) 11:56
Subject: Material que pode ter interesse de museu

Caro Luís Graça

Atendendo ao teu pedido,  seleccionei um grupo de fotos que talvez aches interessantes, relativos às nossas actividades na Guiné.

Assim segue um grupo de "roncos" ou prendas"... do PAIGC.

Foto nº 1 > Mina A/C levantada na picada Dulombi-Galomaro, em Outubro de 1972; 

Foto nº 2 > Fita e tambor de metralhadora ligeira Dectyarev RPD, no calibre 7,62 x 45mm, apreendida num ataque a uma das tabancas da área de Galomaro, em 1973;

Foto nº 3 >  Material apreendido num contacto com o IN em Março de 1972, em Paiai Lemenei-Dulombi. 

Foto nº 4 > Baionetas de Kalashnikov AK-47 e AK-47/51, a primeira apreendida num ataque à tabanca de Campata- Galomaro e a outra, após contacto com o IN, na estrada Piche-Buruntuma, em 1973. 

Foto nº 5 >  Estilhaços de RPG 2 e de RPG 7, após flagelação ao aquartelamento do Dulombi, em 1972.

A seguir envio e-mail, com objectos da arte fula.

Abraço.
Luís Dias
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Nota do editor:

Último poste da séreie > 25 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21110: Armamento (10): As novas Armas Ligeiras para o Exército (Conclusão) (Luís Dias, ex-Alf Mil Inf)

domingo, 29 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20510: Estórias do Juvenal Amado (63): Galomaro, 1972 - Outros Natais

1. Em mensagem de hoje, 29 de Dezembro de 2019, o nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem", enviou-nos mais uma das suas estórias, esta passada no Natal de 1972.


OUTROS NATAIS

O Natal é uma época que traz ao de cima o que há melhor de nós e em que temos a sensibilidade mais à flor da pele.
É ponto assente.

Somos assaltados por recordações de Natais passados, diferentes, saborosos tendo em conta, que éramos mais jovens, onde muitos dos nossos entes queridos participavam e hoje são só recordação e saudade.

O consumismo e as televisões emboscadas espreitam para dentro das nossas compras divulgando o que compramos e o que vamos comer e por vezes onde o vamos comer.
As tragédias dos outros e para as quais não haverá nunca remédio, são sempre bem assunto para se escarrapachar se bem, que daí nada resulte na mudança da vida dessas pessoas para além dessa noite.

Para mim é um exercício marcado pela extrema falta de respeito para com os visados, que estão sós nessa noite da família. As razões que levaram à rua estas pessoas por vezes de extratos sociais bem diferentes, não são facilmente catalogados, embora nesta época se olhe para eles de forma diferente e haverá quem nunca olha para eles senão nesta altura. Mas fazer alguma coisa por eles também serve de expiação, conforta-nos, dá-nos uma visão de dever cumprido, quando afinal as nossas escolhas no tipo de sociedade cada vez mais desumanizada e materialista onde duvidamos cada vez mais das intenções dos outros, provocam essa mesma exclusão.
Diz-se que fazer algo pelo nosso vizinho ajuda a mudar o Mundo, pelos resultados é o mesmo que acreditar, que uma borboleta bate as asas na Ásia e provoca uma tempestade no Continente Americano.

Celebramos o nascimento de um menino pobre, perseguido e também refugiado, que os pais procuraram segurança para ele noutro país. No fundo é o que procuram os refugiados de todo o Mundo e, é doloroso defendermos esses valores e aplicarmos outros, condenando milhares de seres a vidas miseráveis à separação e à morte. Os meninos daquela terra, bem como de outras terras, continuam a ser perseguidos e mortos, perante a indiferença dos poderes vigentes, pese as grandes intenções nas palavras comovedoras dos discursos de ocasião.

As razão das migrações são profundas, talvez não seja o local indicado aqui para se aflorar o tema, se bem que ninguém é dono da razão absoluta e seria frutífero que cada um pensasse no assunto longe dos comentários facebookianos.

Após este intróito passo a contar uma história com 47 anos e da qual só tomei conhecimento neste ultimo dia de Natal.

********************

Estávamos Galomaro em 1972, tinha sido um ano ruim para o nosso Batalhão com mortos no Saltinho e Cancolim, e a CCS do 3872 também não tinha escapado, pois em Novembro tivemos um morto numa mina, passado uma semana outro por doença e mais uma semana um ataque ao arame felizmente sem consequências graves para nós.

Era segundo Natal à porta longe das nossas famílias e ainda não sabíamos que lá passaríamos outro.
O Furriel Sapador Fernandes estava de regresso das suas férias e de que se havia de ter lembrado em boa hora? Já que não tinha levado muita roupa e também não precisava de trazer pensou:
- E seu levasse alguma coisa de diferente para a malta?
Se assim o pensou melhor o fez e dirigindo-se a uma mercearia fina que havia em Mangualde, resolveu comprar frutas cristalizadas, pinhões, amêndoas, avelãs etc, ingredientes com os quais se confecciona o bolo-rei tão apreciado e tão ligado às nossas tradições natalícias.

Falou com o nosso Furriel Enfermeiro Graça, que estava ligado familiarmente ao ramo da panificação, que lhe deu algumas indicações e conselhos de como se fazia o afamado bolo.

E assim, no dia combinado com o padeiro Léo, que não faço ideia como é que foi ocupar esse posto uma vez que era carteiro na vida civil e na tropa pertencia ao Pel Rec. Sem desprimor para nenhum padeiro ele era excelente a confeccionar uns pães individuais, que para além de serem bem saborosos, nas sandes vendidas na cantina, acompanhavam as rações de combate e evitavam o desperdício, que acontecia com o pão grande que a malta do miolo fazia bolas para atirar uns aos outros.

O Léo disse que dava bem para mais de uma dúzia de bolos-reis o que encheu de satisfação o Fernandes.
Às escondidas pela noite dentro, o Furriel Sapador, que nada percebia de fazer pão, acabou como pasteleiro a confeccionar bolo-rei, que como se bem se sabe não é para todos.

E que bolo maravilhoso.
Sabia a tudo que tínhamos cá deixado, lembrava o perfume das nossas casas, transportava-nos para uma realidade bem diferente. Tudo mercê da inspiração de quem pensou nos cento e muitos homens naquele pontinho do Mundo, quando resolveu trocar outras coisas da maleta da TAP por aquela ideia solidária, que faz de nós camaradas mais que irmãos, como tão bem descreve o escritor António Lobo Antunes.

A surpresa foi geral, a felicidade estampada nos nossos rostos deve ter sido a melhor prenda que aquele jovem furriel, que também escondia uma apuradíssima sensibilidade, acusado de ser tão exigente com os seus soldados recebeu na vida.

Como eu, penso que a grande maioria não soube até ontem e se de facto se temos sabido naquela hora como bem diz o nosso camarada Luciano (ex-TRMS), o tínhamos atirado ao ar e carregado em ombros.

O nosso comandante também não escapou à satisfação geral e desconfiando da fartura, mandou chamar o Fernandes para saber como raio tinha sido aquilo feito? Ele contou-lhe e perguntou-lhe se tinha gostado. O rosto do Coronel José Maria de Castro e Lemos alargou-se num grande sorriso (coisa rara nele) disse que tinha sido a melhor prenda de Natal da sua vida.

Nunca mais me esqueci, mas só agora sei a verdadeira história e não resisto a contar o segredo daquela noite mágica em que aconteceu o milagre de bolo-rei na ceia de Natal em Galomaro, na zona Leste da Guiné, o que prova que o Natal não é só quando um homem quer, mas especialmente como o quer, e a prova disso foi o Fernandes fazer a diferença.

Um abraço

PS: - Pedi a devida autorização ao Fernandes, que para além de excelente fotografo é caçador inveterado e continua a exercer a profissão de topografo para além de cultivar amizades.

Bem haja por tudo.
Juvenal Amado


O Fur Mil Sapador António Maria Fernandes com o resultado de uma caçada

 O Fur Mil Sapador António Maria Fernandes com o 2.º Sarg Silva da "Ferrugem"

O Fur Mil Sapador António Maria Fernandes com o Pelotão de Sapadores. É o primeiro à direita, de pé.

Fur Mil Sap António Maria Fernandes com os Fur Mil Claudino, Sousa e Marques, e 2.º Sarg Silva

 Fur Mil Enfermeiro Graça

O famoso bolo-rei num prato

Além dos camaradas já ref. está também o Pereira Nina da Liga que me parece ter começado o processo da minha ida lá

O 3872 presente. Pereira, Dulombi; Alcains, CCS; Juvenal Amado; João Romano, Saltinho e Cansamba; Fernandes e Luciano, CCS
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19029: Estórias do Juvenal Amado (62): O Vilela, num conto com bolinha vermelha

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20470: Blogpoesia (651): A G3 e a ingratidão (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR do BCAÇ 3872)

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo CAR da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem", com data de 2 de Dezembro de 2019:



A G3 E A INGRATIDÃO

Caros camaradas,

Vieram há tempos notícias de finalmente a G3 ia ser substituída no Exército Português.

A notícia tem o valor que tem, uma vez que a nós que carregamos com ela quase três anos isso agora para além do valor sentimental já não nos afecta. Decerto as milhares de G3, que foram usadas por nós já devem ter sido vendidas há muito tempo para alguns conflito regional, onde lhes continuaram a dar uso. Se assim não fosse muito me admiraria.

Tive três: Uma na recruta, outra na especialidade novinha em folha, finalmente a última com que privei na Guiné e fez precisamente no dia 1 de Dezembro 47 anos, que a usei com intuito de me defender de um ataque ao arame.

Por estranho que pareça a que me foi dada no Cumeré e que usei em zona de conflito, era a mais velha de todas com coronha mais protector do cano em madeira, a tinta preta mate que compunha a camuflagem evitando brilhos incómodos que já tinham passado por melhores dias. Julgo que era uma arma de 1962 por isso, com dez anos quando me chegou às mãos. Ao que julgo as armas também não se querem velhas.

Mas pronto, isto tudo para dizer que quando a entreguei foi um alívio e que até hoje não senti saudades. Compreenderei que este meu desprendimento cause a impressão de que eu sou mal-agradecido a muitos camaradas, que por alguma razão a idolatram por serviços prestados aos mesmos, mas opiniões são opiniões e eu, nunca escondi que preferia ter tido uma arma mais pequena, mais leve e com maior cadência de tiro para as eventualidades.

Será quase como ter saudades da caneta de molhar no tinteiro da escola primária, quando já temos uma caneta de tinta permanente mal comparado mas é um bocado assim. Mete algum dó ver os nossos militares em zona de conflito a correr atrás dos insurgentes em África, armados com aquele artigo já na linhagem dos canhangulos com dezenas de anos e não tem comparação com o moderno e sofisticado equipamento do exército, que parecem ombrear com a Guerra da Estrelas “Star Wars em amaricano” onde só os manhosos dos Jedi usavam uma arma “espada” que parece mais antiga que a G3.

Assim para quê mentir e dizer que não me juntava aos com ar guloso miravam as kalashnikov's com os seus carregadores curvos com mais doze munições que a G3, que de vez enquanto eram atavio de tropas de elite que nos visitavam em Galomaro? Quando fui entregar material de guerra a Bissau iam algumas na bagagem e, quando entrei no paiol onde eram guardadas, fiquei abismado com a quantidade delas reluzentes ao lado das PPSH e dos lança-roquetes, que eram para ali encaminhados depois de capturados.

Mas finalmente parece que é desta, tendo em conta que ainda lá estávamos e já se falava na sua substituição, se entretanto não for agora, será noutra altura, porque a esperança mesmo que legitima e a pressa não combinam.

Não verterei uma lágrima
Não tenho saudades de ti
Do desconforto do teu peso
Da forma como me sacudias o corpo
Do teu tamanho nada maneiro
Não prometeram melhor, bem sei
Mesmo assim dormi contigo na cama
Levei-te ao Libanês e comi contigo à mesa
Limpei-te e acariciei-te
Nunca esperei grandes veleidades
Só desejava que ao menos não me falhasses
Um dia meteste-me em trabalhos
Disparei-te sem querer
Surpreendias-me sempre com o teu estampido
Foi para o ar, mas mesmo assim imperdoável
Qual cavaleiro justiceiro o Castro, empunhou a bengala
Um brado ecoo pelo terreiro - estás lixado pá
Mas a bengala parou no ar
Castigado com reforços lá estiveste ao meu lado
Ingrato, entreguei-te para abate
A partir daí pude andar com as mãos nos bolsos
Nunca mais em ti pensei
Mesmo com o carregador sem balas
Imagem que perdura vi-te dar flor
Esta imagem que te reaproxima de mim.
No dia inicial e limpo*
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*Excerto do poema de Sofia de Mello Andersen, "25 de Abril"

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'O Nome das Coisas'
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20457: Blogpoesia (650): "Igreja Matriz", "Palavras perdidas" e "Diametralmente oposto", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19328: Blogoterapia (290): O Medo - como nunca pensei que sentisse (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor do BCAÇ 3872)

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem", com data de 21 de Dezembro de 2018:

Carlos e Luís
Após a leitura do livro do nosso camarada António Martins de Matos e em especial o capitulo escrito pela psicóloga Teresa Matos sobre o medo, resolvi fazer uma pequena viagem sobre o meu medo ou medos.
Junto vai uma foto onde estão vários dos que seriam sobreviventes da emboscada do Quirafo em Abril de 1972. De notar que o que está na primeira fila ao centro é o condutor único sobrevivente da primeira viatura. Ao lado dele, à nossa esquerda, é o condutor da segunda.

Um Feliz Natal e um próspero Ano Novo para todos os membros da tabanca mais para as suas famílias.

Abraços
Juvenal Amado


O MEDO

No dia 24 de Dezembro faz 47 anos que desembarquei em Bissau integrado no meu Batalhão 3872, o que quer dizer, que no momento que escrevo estas linhas navegava ou estava ao largo da ilha da Madeira. Não tive medo quando fui mobilizado, nem quando embarquei, nem quando desembarquei. Havia um misto de curiosidade e distanciamento, que quase parecia que não me estava a acontecer aquilo e que era um simples observador.

Mas na noite do desembarque, já no Cumeré, provei o medo como nunca pensei que existisse tal sentimento. A violência da guerra chegou até mim, que tinha dado duas dúzias de tiros de G3 e era esse o som mais próximo que tinha dela. Não sabia na altura que a espiral do medo tinha tantos patamares e que, aquele som das antiaéreas, a fazer batimento de zona, que faziam tremer o chão, não era nada comparado com som de um ataque onde as explosões e o matraquear das armas ligeiras têm um resultado tão aterrador.

O medo tolda-nos os sentidos, desfaz-nos o discernimento, penetra perniciosamente nos músculos, tolhe-nos as passadas, encharca-nos a roupa com suor gelado, deixamos de ver e ouvir com clareza, por vezes não se tem controle sobre as mais elementares necessidades fisiológicas, a irracionalidade sobrevem à amálgama de sensações descontroladas, em que nos tornamos seres sem quereres nem vontades próprias. Desse estado, saímos em várias direcções e soluções impensáveis, quando, no estado da razão de que normalmente somos proprietários, faríamos ao contrário .

Ao longo da vida passamos por diversos medos por ou ignorância rotulamos de medo, pois o medo na infância do escuro, do professor, do resultado do exame, o medo de ser rejeitado, o medo do ridículo, em nada é equiparado ao medo que nos descontrola ao ponto de nada mais ter interesse que a preservação da vida.

O medo como escreve a psicóloga clínica Teresa Matos* (vale a pena ler) é bem mais complexo do que até aqui eu pensava. Envolve a produção ou ausência de substâncias que na nossa condição de humanos produzimos. Escreve ela, que sujeitos ao medo o nosso corpo se transforma com reacções físico-químicas, que nos preparam para receber em antecipação o impacto de qualquer agressão que nos ponha em perigo.

Depois respondemos ao medo por ordem de um superior, porque por vezes existe o medo hierárquico, que suplanta o medo do inimigo. Se assim não fosse, como se explicaria, que à ordem de comando um soldado salta para a frente afrontando cortinas de balas?

Noutras, o individuo reage em autodefesa, porque é necessário responder à agressão. Finalmente o medo pode tolher de tal maneira o individuo que nada fará para se defender.

No principio da guerra, falou-se de quem se matou após a mobilização com medo de morrer na guerra, quando afinal dessa forma certeira cumpriu o destino que temia mas, que lhe era incerto.

“o medo tem alguma utilidade, mas a covardia não”. Mahatma Gandhi

Quem esteve em situações de combate, ou participou em colunas em que minas mataram camaradas, sabe do terror que se sente após os acontecimentos, a dificuldade de abandonar a vala e em especial, em mexer os pés do sítio onde nos abrigamos na urgência.

Conheço um camarada que tendo sofrido uma emboscada onde morreram vários companheiros (Quirafo - Saltinho) sofre de stress pós-traumático e o medo apodera-se dele de tal forma que não consegue responder-lhe, não dorme, é visitado pelos acontecimentos e as caras dos que morreram não lhe saem da cabeça. Os sons da tragédia compõem a banda sonora do que poderia ser um filme. Neste caso são os psicólogos e psiquiatras a administrar químicos em substituição dos que não se produzem naturalmente de que fala a autora Teresa Matos. O organismo do nosso camarada não consegue responder ao medo que se pegou a ele de forma visceral. Cumpre-me aqui informar, que já não falo com o camarada desde que ele começou a ser tratado e por isso, não ter real conhecimento do seu estado hoje.

Alguns destes camaradas sobreviveram à emboscada do Quirafo. O que está na primeira fila ao centro é o condutor único sobrevivente da primeira viatura. Ao lado dele, à sua direita, é o condutor da segunda

Naquele tempo também sofri do medo real e em antecipação ao que poderia acontecer quando ia em colunas mas por outro lado pernoitei em sítios onde só alguma inconsciência da minha parte, permitiu ignorar o perigo. Conheci quem com medo dos ataques, só se deitava após as 11 horas da noite, pois era norma que se não nos atacavam até aquela hora, já não fariam com medo de serem apanhados pela madrugada na retirada.

Fez no dia 1 de Dezembro anos que fomos atacados ao arame farpado. O sentinela na dúvida se eram cabras a pastar ou guerrilheiros, não quis disparar com medo de levar uma porrada do comandante. Valeu-nos outro camarada que pegou na G3 e despejou o carregador sobre os vultos.

Mas o medo também é motor da actividade humana. O medo de ficar para trás, o medo que pareça mal, o medo da solidão e da incompreensão, o medo da velhice quando afinal devíamos ter mais medo de não chegarmos a velhos.

Assim existem vários patamares para o medo. O medo é um sentimento que se revisita como nenhum outro, pois há quem tenha medo de ter medo.

“Todos os homens têm medo. Quem não tem medo não é normal; isso nada tem a ver com a coragem”. Jean Paul Sarte

Um Feliz Natal em paz é o meu maior desejo para todos os camaradas

(*) - Livro de António Martins de Matos Voando Sobre Um Ninho de Strelas, capitulo 42
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19145: Blogoterapia (289): Aquele toque a finados é uma coisa que me arrepia... (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19139: Efemérides (294): Há 49 anos, neste dia 24 de Outubro, no RAP 2, soube que estava mobilizado para a Guiné (António Tavares, ex-Fur Mil SAM)

Porta de Armas do Quartel da Serra do Pilar - Rua Rodrigues de Freitas


1. Mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil SAM da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), com data de 25 de Outubro de 2018:

Camarigos,
Há 49 anos neste dia 24 de Outubro soube que estava mobilizado para a Guiné. Era o meu dia de “Casamento” com o Teatro de Operações do Comando Territorial Independente da Guiné.

A proclamação foi publicada na Ordem de Serviço n.º 250 de 24.10.1969 do RAP 2, que transcrevo:

Nomeação de pessoal para o Ultramar
- Que segundo nota n.º 52400, Pº. 6/4 - HC de 13.10.1969 da RSP/DSP/ME, o pessoal abaixo indicado foi nomeado para servir no Ultramar nos termos da alínea c) do Art.º 3.º do Dec. 42937 de 22/4/60
BCaç.2912/C.Caç.2699, 2700 e 2701/RI 2
B. Caç.2912
ALIMENTAÇÃO – RI 2/RAP 2 ANTÓNIO CARLOS S. TAVARES – 2989/69 – NM 03175469.  

Ao longo dos anos outros nomes e números foram escritos em Ordens de Serviço. Com certeza só a alínea c) do Art.º 3.º do Dec. 42937 de 22/4/60 era comum e aterradora para um jovem em idade militar.

O Quartel de Vila Nova de Gaia – RAP 2 – viu partir milhares de jovens para a Guerra Colonial.
Recebia os Soldados de toda a região Norte mortos no Ultramar.

Nos três meses que estive no RAP 2 vi partir e regressar muitos militares.
Não sei qual o momento mais emotivo a que assisti. A partida era uma incógnita para o desconhecido… Para a Guerra!
Os familiares acompanhavam os militares até aos cais de embarque: Estação das Devesas ou um Cais Marítimo de Lisboa.
A chegada talvez fosse mais emotiva ao receber os Heróis do Ultramar.

As ruas de Rodrigues de Freitas e dos Polacos enchiam-se de pessoas. Estas, quando avistavam os camiões da coluna auto, que transportavam os regressados militares, gritavam e choravam de emoção a chamar os familiares que estiveram na guerra durante dois e até mais anos.
As barreiras colocadas no perímetro da Porta de Armas facilmente eram derrubadas pelo mar de gente.

 Rua dos Polacos

Os Comandos do quartel davam ordens para os militares, que faziam a segurança, recolherem ao quartel. Assim aconteceu com o meu pelotão.

Para todos uma infinidade de tempo decorria entre os períodos em que o militar entrava no RAP 2 e o que abraçava a família.
Militar que regressava diferente do Homem que tinha partido.
A chamada Peluda ficava para uns meses mais tarde.

O Quartel da Serra do Pilar ao longo dos anos teve vários nomes, a saber:
- Maio 1889 a 1897 – Brigada de Artilharia de Montanha;
- 1897 a 1911 – Baterias Destacadas do RA6, RA4 e RA5;
- 1911 a 1926 – Regimento de Artilharia n.º 6;
- 1926 a 1927 – Regimento de Artilharia n.º 5;
- 1927 a 1939 – Regimento de Artilharia Ligeira n.º 5;
- 1939 a 1975 – Regimento de Artilharia Pesada n.º 2;
- 1975 a 1993 – Regimento de Artilharia da Serra do Pilar;
- 1993 a Julho 2014 – Regimento de Artilharia n.º 5 e
- a partir de Agosto de 2014 - Quartel da Serra do Pilar.

Um Quartel onde assentaram Praça gerações familiares talvez predestinadas para a arma de Artilharia.

 Obuses na Parada General Torres

“ E AQUELES QUE POR OBRAS VALOROSAS SE VÃO DA LEI DA MORTE LIBERTANDO” 
Monumento aos Mortos na Guerra Colonial na Parada General Torres. 
O General Torres foi o 1.º Comandante da Fortaleza da Serra do Pilar.

 
A Caserna dos Polacos da Serra que se distinguiram durante a Guerra Civil (entre as tropas de D. Miguel e D. Pedro IV) e o Cerco Porto (entre Julho de 1832 e Agosto de 1833)

 Monumento na Parada General Torres, evocativo das Invasões Francesas

A minha despedida do Quartel de Galomaro, nas matas do Leste do Teatro de Operações do Comando Territorial Independente da Guiné, em Março de 1972.

Abraço do
António Tavares
Foz do Douro, Quarta-feira 24 de Outubro de 2018
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19135: Efemérides (293): Homenagem aos paraquedistas que completaram 50 anos de brevet (1968-2018): Tancos, 27 de setembro de 2018 (Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-alf mil pára, 1ª CCP/BCP 21, Angola, 1970/72)