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sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16685: In Memoriam (270): Vasco Pires (1948-2016): missa do 7º dia, amanhã, 5, sábado, às 19h00, na igreja matriz de Arcos de Anadia, Anadia



Brasil , Bahía, Porto Seguro > Novembro de 2013 > O Vasco Pires com o seu amigo e camarada, Arménio Cardoso, da CART 6252/72, Os Indiferentes (Gadamael, 1972-74)

Foto (e legenda): © Vasco Pires (2013). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

(...) "Na semana passada recebi a honrosa visita do meu amigo e nosso camarada Arménio Cardoso - CART 6252/72, que também bebeu das 'águas escuras e amargas' do Rio Sapo. Lembrando quantos dos nossos por lá ficaram e outros tantos voltaram mutilados no corpo e/ou na a<lma, tivemos pois que concluir que somos todos privilegiados sobreviventes.

Há tempos ouvi o depoimento de um membro da E Company, 506 Infantry Regiment (United States), do tão mediatizado Band of Brothers, dizia ele que muitas décadas depois, nas frias noites do rigoroso inverno aqmericano, quando ia para a cama, falava para a esposa:
- Ainda bem que não estou em Bastogne!

Eu também, sem fazer comparações, claro, no fim desses dias em que a vida parece "Madrasta", penso:
- Ainda bem que não estou em Gadamael." (...)






Vasco Pires (1948-2016): notícia necrológica








BI de cidadão nacional do Vasco Pires

1. Celebra-se amanhã, na Anadia, dia 5,  sábado, pelas 19h00, missa  do 7º dia em honra da memória do nosso querido camarada Vasco Pires (Vilarinho do Bairro, Anadia, 15/6/1948 - Porto Seguro, Baía, 31/10/2016). (*)

O Vasco, que vivia no Brasil desde 1972, deixa 3 filhos, Mónica, Vasco e Catarina Pires. Tinha ainda a irmã, Isabel, a residir em São Paulo.

O elemento de contacto é o seu afilhado, Pedro Araújo, natural de Anadia, que nos deu a triste notícia e que já nos agradeceu também as "elogiosas palavras a respeito do Vasco" (**)... E acrescenta: "Foi ele que me enviou sempre os links para os postes que enviava para o blog da Tabanca Grande".

Páginas do Facebook dos familiares mais próximos:

Mónica Pires,  filha (deixou de ser atualizada desde 25/11/2015);

Isabel Pires, irmã.

Pelo que sabemos o Vasco terá morrido, de morte súbita,  em casa, em Porto Seguro, Bahía, de complicações respiratórias, e na sequência de uma gripe. O corpo foi cremado em Porto Seguro e as cinzas enviadas para São Paulo. 

À família enlutada, aos amigos e aos camaradas mais próximos, vai o nosso abraço solidário. 

O editor LG


2. Convidam-se os nossos leitores a visitar a sua série "Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires)", de que se publicaram, 16  postes, o último dos quais há 2 anos (****). 

Era  membro da nossa Tabanca Grande desde  27/9/2012 (*****). Era um querido camarada da diáspora lusitana, como ele próprio se nos apresentou:

(...) "Prezado Luís Graça: fico muito grato pela cordial acolhida, bem como pelo convite. Sou um desses milhões da multicentenária diáspora Lusitana. Em 1972 saí de Portugal, e por aí ando até esta data. Há talvez um ano, tive o primeiro contacto com o blog; quero te parabenizar como a toda a equipe pelo extraordinário trabalho, bem como pelo alto nível da edição do blog, em assuntos tão polémicos e carregados de emoção, com décadas de distância." (...)

Era seu editor, sempre dedicado e delicado, o Carlos Vinhal a quem o Vasco tratava por "padrinho".

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Postes anteriores:

18 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13623: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (15): Autorretrato de um soldado

11 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13600: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (14): Sou só o Comandante

15 de Setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12047: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (13): A minha singela homenagem aos pais de todos nós

11 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11929: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (12): Fotos do Cap Op Esp Fernando Assunção Silva em confraternização com oficiais e sargentos sob o seu comando

21 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11858: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (11): Terra firme e o pântano - Dois grandes líderes, Cap Op Esp Fernando Assunção Silva e ex-Cap Art.ª António Carlos Morais Silva

25 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11627: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (10): Perguntas sem resposta

23 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11302: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (9): INGORÉ... ou os inusitados caminhos da memória

16 de março de 2013 &amp;gt; Guiné 63/74 - P11262: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (8): Terei estado no "bem-bom de São Domingos"?

9 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11223: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (7): Fotos de um líder, do Cap Op Esp Fernando Assunção Silva

3 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11185: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (6): ...onde também tem lealdade, dedicação e competência

24 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11148: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (5): "Alfero di canhão"

31 de janeiro de  2013 > Guiné 63/74 - P11033: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (4): Quem vem lá?

14 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10941: Fantasmas do fundo do baú (Vasco Pires) (3): A morte, em 24/1/1971, do cap inf op esp Fernando Assunção Silva, 1º comandante da CCAÇ 2796, e meu amigo~

16 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10535: Fantasmas do fundo do baú (Vasco Pires) (2): Como fui parar a Gadamael, por acção do meu pai e reacção do 'Paizinho' ...

13 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10525: Fantasmas do fundo do baú (Vasco Pires) (1): Uma história do artilheiro de Gadamael, à beira da peluda, no 'bem-bom' de São Domingos...

(*****) Vd. poste de 27 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10443: Tabanca Grande (362): Vasco Pires, ex-Alf Mil, CMDT do 23.º Pel Art.ª (Gadamael, 1970/72)

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16663: In Memoriam (268): Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23º Pel Art (Gadamael, 1970/72), acaba de morrer, em Porto Seguro, Brasil (Pedro Araújo, seu afilhado)


Vasco Pires, natural de Anadia, ex-cmdt do 23.º Pel Art (Gadamael, 1970/72), emigrante no Brasil desde 1972. Morreu hoje em Porto Seguro.


1. Mensagem de Pedro Araújo. com data de hoje, às 19h24:

Caro Sr. Luis Graça.

Faleceu em Porto Seguro esta noite (31/10/2016),  de enfarte, seu camarada Vasco Pires. Como sei que era participante em seu blog,  sinto-me no dever de o informar do sucedido.

Seu afilhado.
Pedro Araújo.


2. Comentário do editor LG:

Meu caro Carlos Vinhal, editor do Vasco Pires:

Acabo de ser surpreendido com a notícia da morte, súbita, do nosso camarada e amigo Vasco Pires, "teu afilhado" (como ele gostava de dizer, com delicadeza, ternura e bom humor, considerando que tu eras o"padrinho" dele no blogue, porque o acolheste e o apresentaste à Tabanca Grande e lhe editas a sua série "Fantasmas... e Realidades do Fundo do Baú")...

Vamos fazer de imediato um poste, "in memoriam"... Se quiseres e puderes acrescenta qualquer coisa mais da tua lavra... Recordo que ele era um apaixonado pelas suas raízes bairradinas  e que fora para o Brasil em 1972, depois do regresso da Guiné... 

Mas não temos grandes dados biográficos sobre ele: família, amigos, negócios... Mas, ao certo ao certo em que concelho da região da Bairrada nasceu: Anadia ? Águeda ?...Sei que estudara em Coimbra, mas desconheço a vida dele no Brasil, que terá começado em São Paulo. Não sabemos o ano exato em que nasceu,  talvez entre 1945 e 1948... Sabemos o nome da sua companheira, Maria Helena, psicóloga clínica...

A trágica notícia é dada pelo afilhado, Pedro Araújo, a quem agradeço, comovido, o seu gesto (que é também de gratidão e apreço pelo seu padrinho e pelos seus camaradas de armas)...

Sabemos que morreu de morte súbita, em Porto Seguro, mais perto das suas raízes...Foi aqui que em 1500 os portugueses aportaram, quando chegaram às terras do Novo Mundo. Porto Seguro, a 4000 km da sua Gadamael, na região de Tombali, Guiné-Bissau, onde foi um brioso artilheiro, comandante do 23º Pel Art, entre 1970 e 1972; e a 7000 mil da sua Bairrada querida, e do seu Portugal sofrido...

Estou desolado, estamos desolados, tu e eu. Ambos testemunhamos que o Vasco era uma presença, discreta mas constante, no nosso blogue. Tem 60 referências, afora muitas dezenas de comentários (que é preciso revisitar).

À família mais próxima, à sua companheira Maria Helena, e aos seus amigos, a todos eles na pessoa do afilhado Pedro Araújo (que agora é o nosso contacto com Porto SEguro), a Tabanca Grande, o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, quer transmitir toda a sua solidariedade na dor.

O Vasco, que era a gentileza em pessoa, apesar da distância (física) que nos separava, era um ser humano de grande estatura e um extraordinário camarada, de quem começamos já a ter saudades.

Até sempre, camarada!...
Gadamael, presente!
23.º Pel Art, presente!
Tabanca Grande, presente!,
Brasil e Portugal, presentes!...

O editor
Luís Graça



Guiné > s/l > 1970 > Uma "selfie" ("avant la lettre"...) do Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72; bairradino, vivia no Brasil desde que acabou a comissão de serviço no CTIG... Sempre longe tão perto de nós, como ele gostava de nos dizer...




Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72, o primeiro à esquerda, de óculos escuros, no final da comissão, em Ingoré, região do Cacheu, 1972.


Fotos (e legendas): © Vasco Pires (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


 3. Um camarada grato à Tabanca Grande



Caro Luis,

As palavras são de justiça, e agradecer não há que; não estou mitificando ninguém, a mim parece óbvio que a equipa que você lidera, presta relevante Serviço à nossa tão injustiçada geração.

Falando em justiça, não posso deixar de "confessar" a minha dívida pessoal, com duas pessoas, cada uma a seu modo, que me guiaram e incentivaram, nesses por vezes tão íngremes e tortuosos caminhos da memória; e só nós sabemos, que o "caminho da memória" dos veteranos de guerra, por vezes é ainda mais tortuoso que o do comum dos mortais.

A Maria Helena, minha companheira do pós-guerra, que é psicóloga clínica, foi quem me guiou com datas e factos que já estavam "jogados" no subconsciente, e me incentivou a essa catarse. E o camarada Carlos Vinhal, quem me recebeu nesta GRANDE TABANCA, criou até o caminho para os FANTASMAS saírem, e sempre me incentivou a encaminhá-los para o papel.

As palavras, como disse acima, são de JUSTIÇA e GRATIDÃO.

Forte abraço a todos

Vasco Pires


4. Comentário do coeditor CV.

Nesta época já de si nada alegre, uma notícia como a de hoje cala bem fundo em que estava habituado àquelas mensagens, curtas e concisas, que invariavelmente começavam por: Bom dia Padrinho, Cordiais saudações...

A última mensagem de trabalho, que guardo do meu afilhado é de 13 de Maio passado. O assunto era Fundo do Baú (revisitado), referente à sua série Fantasmas... e realidades do fundo do baú.

Quando se levantavam dúvidas na edição dos postes, deixava ao "meu exclusivo e avalizado critério" a escolha da melhor solução.

Refere o Luís a sua delicadeza, ternura e bom humor, o que confirmo após quase 5 anos de contacto. Os seus comentários, sempre correctos e oportunos, vinham no sentido de tentar esclarecer ou completar ideias ou acontecimentos, nunca depreciando qualquer camarada, mesmo os que davam palpites na área em que ele se sentia mais à vontade, a artilharia, aquela que usava obuses e peças, não a nossa, a da G3.

O Vasco vai para a equipa dos que partiram, mas não sem antes deixar o seu valioso contributo no nosso Blogue.

Pela minha parte, agradeço ao seu afilhado Pedro Araújo o nobre gesto de nos dar a notícia, que não queríamos receber, do seu falecimento. Peço-lhe que seja portador, junto da família, do nosso pesar pela perda do seu ente querido e do desgosto destes velhos combatentes pela perda do seu camarada e amigo Vasco Pires, de quem se orgulham. 

Carlos Vinhal
Coeditor
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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de outubro de  2016 > Guiné 63/74 - P16653: In Memoriam (267): gen pilav ref Francisco Dias da Costa Gomes (BA12, Bissalanca, 1967/68, cmdt do Grupo Operacional 1201)... Foi o primeiro piloto de Fiat G-91 a ser abatido, em 28/7/1968, sob os céus de Gandembel (José Matos, investigador independente em história militar)

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13675: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (16): Um soldado de Artilharia na fronteira sul

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 26 de Setembro de 2014:

Bom dia Carlos,
Cordiais saudações.
Do velho e já desgastado baú, sempre algo pode surgir...

Lembro o já distante ano de 70, quando em meados do ano rumei a Gadamael, para assumir o Comando do 23.° PelArt, e por lá fiquei na maior parte da minha comissão de serviço.

A situação operacional de Gadamael, já foi descrita pelo Camarada Manuel Vaz na sua magistral "Uma visão alargada do ataque a Gadamael". Também, o Exmo. Sr. Coronel de Artilharia Morais Silva, caracterizou a situação: "...A CCaç 2796 foi fustigada de forma brutal nos seus primeiros passos em Gadamael numa primeira tentativa do PAIGC de, indirectamente, eliminar a posição de Guileje (o que veio a conseguir em 1973 por via directa). Sofreu baixas, incluindo o comandante da companhia (24Jan71)..." .

Gadamael - Espaldão de obus 10,5

Gadamael - Obus em acção de tiro
Fotos: © Humberto Nunes

O Pelotão era maioritariamente composto por soldados da incorporação local, somente o Comando, um Oficial e dois Sargentos vinham de Portugal, no sistema de rendição individual.
Os soldados (profissionais) eram operacionalmente eficientes, e sob aspecto disciplinar, só lembro um evento de relativa gravidade, quando um soldado na formação e revista diária do Pelotão, teve uma atitude (passiva) de insurbordinação.
Já falei antes da sorte que tive com os Furriéis, dedicados, eficientes e leais.

Coincidiu a minha chegada com a entrega das casas do reordenamento, sendo atribuida ao Pelotão, a última fileira de casas junto ao rio e aos obuses, conforme assinalado na foto.
Acredito que foi do Furriel Oliveira, a sugestão de também nós nos instalarmos na tabanca, e foi o que fizemos, na primeira casa junto aos obuses, aliás excelente sugestão, sob o ponto de vista operacional, como parece óbvio, se se olhar a foto.

Gadamael - Casas atribuídas ao Pel Art.ª
Foto: © Coronel Morais Silva

O Comando da Artilharia em Bissau (GAC 7), não permitia a saída do Pelotão sem sua prévia autorização, sendo portanto a atividade da Artilharia dentro do quartel, no "bem-bom" do arame farpado, segundo alguns.

Os quartéis da zona Sul, ficavam expostos a ataques de Artilharia, efetuados também além fronteira. As ordens do Comandante do Aquartelamento eram bem claras: "...Ao ... Pelotão sempre exigi, quando andava no mato, tempo de resposta que não podia exceder 1 minuto e perante uma "saída" das armas IN a resposta imediata de um obus fosse qual fosse, no momento, a direcção de vigilância..." - Ex-Capitão Art. Morais Silva.

Além da resposta a ataques IN, havia o apoio a tropas em movimento, e eventualmente atingir alvos determinados por alguma autoridade militar. ​Como somos poucos, e quase esquecidos, é sempre bom lembrar o papel da Artilharia na Guiné!!!

forte abraço
VP
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13623: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (15): Autorretrato de um soldado

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13623: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (15): Autorretrato de um soldado



1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 17 de Setembro de 2014:

Bom dia Carlos,
Raspando o fundo do baú, sempre aparece algo.

Nesses tempos de "selfies" (neologismo que significa autorretrato), chamou minha atenção essa foto de 1970, poucos dias após a chegada à Guiné.
Autorretrato acompanha a História da Humanidade, lembra Narciso filho de liríope, passa pela necessidade de autoconhecimento, até chegar na expressão dos modernistas angustiados.

Mas voltemos ao soldado, que parece perguntar:
- Como é que eu vim parar aqui?

É uma viagem à década de sessenta, jovens inexperientes, num país que se queria fechado ao mundo. Eu, particularmente, vinha da Bairrada profunda, de um grupo familiar que Gramsci apelidada "intelectuais rurais', logo por defenição conservadores, embora dela tenham saído alguns que ele chama de intelectuais urbanos.

Passando pelas escolas locais, cheguei na Academia Coimbrã em plena efervescência da segunda metade da década de 60, verdadeiro "ponto de clivagem", dos valores e hábitos Ocidentais (não vamos achar que somos o centro do Mundo, só porque assim fizemos como nosso mapa).
Um fervilhar de ideias, contestação dos valores tradicionais, onde poucos tinham uma visão cosmopolita.

Na época, muitos devem lembrar, a figura do "passador", que mediante determinada quantia, fazia chegar as pessoas, além Pirenéus.
Pois, tinha um que era amigo da família, pai de um amigo, e que trabalhava em parceria com um frade (não sei se este o fazia por dinheiro ou convicção), eu tinha também, grande parte da família do outro lado do Atlântico. Assim, com essa facilidade, eu, que jamais pensei que a missão era "dilatar a fé e o império", nunca me passou pela ideia de usar os seus serviços, ou me reunir aos parentes. Penso, talvez, que não queria romper com os valores culturais em que estava inserido.
Contudo, "nesta altura do campeonato", não é mais relevante. Alguns de nós foram à guerra por convicção, outros movidos pela propaganda, muitos por inércia, e alguns outros com receio de enfrentar usos e costumes estrangeiros.

Forte abraço
VP
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13600: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (14): Sou só o Comandante

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13600: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (14): Sou só o Comandante

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 8 de Setembro de 2014:

Caríssimo Carlos,
Há dias, lendo sobre Marinha na Guiné e "raspando o fundo do baú", lembrei de uma viagem que fiz de Gadamael para Bisau.

Como muitos sabem, Gadamael (Porto) fica num braço de rio, também dito rio Sapo.
A nossa locomoção para fora de Gadamel era preferencialmente, pegar boleia com o Dornier do correio, ou eventualmente com algum "tubarão" em visita aos "perdidos" na fronteira Sul.

Ora, quando tínhamos alguma bagagem mais robusta, a saída era mesmo por mar.
Numa dessas idas, peguei uma embarcação, que não recordo se seria LDG, ou outro barco de guerra. A saída foi ao fim da tarde, e me acomodei no convés da melhor maneira possível. Ao raiar do dia apareceu um Sargento da Marinha, que com a formalidade que lhes é peculiar, me informou que o Comandante estava me convocando para que me apresentasse nos aposentos do Comando.


Guiné -  LDG (Lancha de Desembarque Grande) 105
Foto: © Humberto Reis (2005)

O Comandante era um oficial com patente equivalente a Tenente, talvez Capitão; pediu desculpas de não me ter chamado antes, mas só naquele momento tinha tomado conhecimento da minha presença a bordo. Convidou-me a tomar uma refeição com ele, e lá fomos conversando até Bissau.
Dada altura, perguntei da formação para tal função, e outros detalhes da "arte de marear".
Fiquei surpreso, quando perguntei o que ele fazia a bordo, e me respondeu:
- Sou só o Comandante.

Até hoje lembro a humildade desse Oficial de Marinha!!!

Forte abraço
Vasco Pires
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de Setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12047: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (13): A minha singela homenagem aos pais de todos nós

domingo, 15 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12047: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (13): A minha singela homenagem aos pais de todos nós

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72) com data de 24 de Agosto de 2013:

Cordiais saudações.
Tem-se falado muito que a nossa geração foi sacrificada, no que concordo plenamente.
Tenho dito em alguns comentários, e confirmo, que os nossos toscos, arrogantes e oportunistas líderes políticos nos derespeitaram e continuam fazendo-o, ao não reconhecer que estávamos a serviço compulsório do ESTADO PORTUGUÊS,  aliás é essa a minha opinião sobre as as nossas PSEUDO ELITES de longa data, com raras e honrosíssimas excepções.

Mas divaguei demais sobre algo que não era a minha ideia inicial.
Queria lembrar a ansiedade e sofrimento de nossos pais e demais familiares, enquanto nós estávamos por lá "perdidos" nas bolanhas de uma África inóspita.

Ao enviar a foto de meus pais, quero homenagear os de todos nós.
Será que o sofrimento deles foi em vão?

Forte abraço
Vasco Pires

 A família de Vasco Pires e um amigo (com óculos, à direita) da diáspora de Goa


José Martins Pires, pai de Vasco Pires, em 1930
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Nota do editor

Último poste da série de 11 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11929: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (12): Fotos do Cap Op Esp Fernando Assunção Silva em confraternização com oficiais e sargentos sob o seu comando

domingo, 11 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11929: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (12): Fotos do Cap Op Esp Fernando Assunção Silva em confraternização com oficiais e sargentos sob o seu comando

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72) com data de 31 de Julho de 2013:

Caríssimos Carlos/Luís,
Cordiais saudações.
Através desta nossa GRANDE TABANCA, recebi um e-mail (quarenta e um anos depois) de um velho amigo de Coimbra, que também foi premiado com umas férias nesse magnífico balneário às margens do Rio Sapo. Assim, fui raspar o fundo do baú, e recuperei essas fotos do saudoso Capitão de Operações Especiais Fernando Assunção Silva, confraternizando com Oficiais e Sargentos (CCAÇ 2796, Pel Rec Fox 2260 e 23° Pel Art) sob seu Comando, na messe.

Forte abraço
Vasco Pires







Outras fotos:




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Nota do editor:

Último poste da série de 21 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11858: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (11): Terra firme e o pântano - Dois grandes líderes, Cap Op Esp Fernando Assunção Silva e ex-Cap Art.ª António Carlos Morais Silva

domingo, 21 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11858: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (11): Terra firme e o pântano - Dois grandes líderes, Cap Op Esp Fernando Assunção Silva e ex-Cap Art.ª António Carlos Morais Silva





1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72) com data de 12 de Julho de 2013:




DOIS GRANDES LÍDERES

GADAMAEL - 70/71

(...) "A CCaç 2796 foi fustigada de forma brutal nos seus primeiros passos em Gadamael numa primeira tentativa do PAIGC de, indirectamente, eliminar a posição de Guileje (o que veio a conseguir em 1973 por via directa)."

Caríssimos Carlos/Luís,
Cordiais saudações.

Houve momentos difíceis, mas não são eles que quero ressaltar.
Um grupo de homens, quer seja num quartel em África, ou num País em qualquer lugar no espaço ou no tempo, dependendo das lideranças, é conduzido ao "pântano" ou a "terra firme.

Refiro-me agora a um grupo, nessa data num quartel no Sul da Guiné. Eu, e os meus camaradas, Africanos e Europeus, tivemos a sorte de ter no Comando dois Grandes Líderes, cada qual com a sua singularidade: o saudoso Capitão de Infantaria Operações Especiais Fernando Assunção Silva, e o então Capitão de Artilharia António Carlos Morais Silva.

Assim a CCAÇ 2796... "Com muito trabalho de todos, reagiu, recuperou, deixou obra feita (reordenamento, escola, posto sanitário, casernas, organização do terreno) e garantiu a posse de Gadamael, a segurança da população, o apoio logístico a Guileje e a liberdade de movimentos no seu sector".

À esquerda: o saudoso Cap Op Esp Fernando Assunção Silva

Não poderia deixar de registar publicamente a minha gratidão ao Capitão Assunção Silva, "in memoriam", e ao Exmo. Senhor Coronel de Artilharia Morais Silva, por nos terem conduzido, a mim e aos meus Camaradas, a "terra firme". E quantos pântanos, reais e metafóricos, rodeavam Gadamael!!!

Forte abraço
Vasco Pires
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Foto e texto: Vasco Pires
Emblema da CCAÇ 2796: Colecção de Carlos Coutinho
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Nota do editor

Último poste da série de 25 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11627: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (10): Perguntas sem resposta

sábado, 25 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11627: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (10): Perguntas sem resposta

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 1 de Maio de 2013:

Caros Luis/Carlos,
Desta vez no lugar de memórias vão perguntas (ainda) sem resposta.

Se acharem publicável, podem fazê-lo.

Estava tentando responder a uma pergunta do Camarada Manuel Vaz, sobre um ataque a acampamento em Janeiro 71.

Numa leitura apressada pensei tratar-se de ataque ao quartel, ato contínuo,"vi" a Panhard chegar do fim da pista com o atirador já sem vida (P11033)*. Será assim que funcionam as "madalenas proustianas"?

Fui rever um ensaio sobre as tais madalenas, a cena do bolinho amanteigado que faz o narrador recuperar a memória do passado, a modos de um transe. Memória involuntária ligada aos sentidos, em contraste com a memória racional, voluntária e fragmentada, as duas incompletas, cada a uma à sua maneira, e complementares(?).

Será que a memória racional é a reconstrução de fragmentos do passado à luz de valores presentes?

E a visita dos meus fantasmas que vem lá das margens do Rio Sapo? Ou será que eles estão alojados em alguma "couraça reichiana"?

Qual será a amarga madalena que os chama?

E porque será que a minha memória se "negou" a gravar a palavra INGORÉ (P11302)**, apesar de tudo ter transcorrido em paz por lá?

E estas e outras tantas inúmeras perguntas precisam de resposta, ou será melhor não se levar muito a sério?

forte abraço
Vasco Pires
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 31 DE JANEIRO DE 2013 &gt; Guiné 63/74 - P11033: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (4): Quem vem lá?

Foi num dia, o que na altura se entendeu como tentativa de invasão do quartel. Lembro que alguém informou que o IN estava no fim (começo) da pista, o Capitão duvidou, contudo, por segurança, mandou uma Panhard fazer um reconhecimento. É um facto conhecido, que o apontador foi morto e o condutor voltou "transtornado"; em seguida, desencadeou-se um dos piores ataques a Gadamael no período (aliás no P7142 e no P7186 tem foto da parede da messe com os estilhaços desse dia). 

Guiné-Bissau &gt; Região de Tombali &gt; Gadamael Porto &gt; 10 de Outbro de 2010 &gt; Ex-edifício do comando, com vestígios de estilhaços
Foto e legenda: © Pepito / AD -Acção para o Desenvolvimento (2010). Todos os direitos reservados


(**) Vd. poste de 23 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11302: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (9): INGORÉ... ou os inusitados caminhos da memória

E realmente o Mundo é Pequeno ...e a nossa Tabanca é Grande..

O Major Sampaio, presente no almoço, se identificou e a quase todos os Oficiais da foto.

Na foto, a partir da esquerda: Capitão Saraiva, Comandante da CCAV 3364 (a Companhia do Carlos Nóvoa) e presente no almoço; Major Sampaio, Oficial de Operações; Major (Tenente-Coronel?) Mateus; com barba, Alf Mil Ribeiro da CCAV 3364; de frente, Alf Mil de Transmissões Almeida; com o copo na mão, Alf Mil Agostinho Miranda; o Oficial de óculos não foi identificado; Alf Mil Vasco Pires; o último à direita é o Tenente Nobre da CCS; de costas, Alf Mil Teixeira (?) da CCAV 3364.

Sim, os últimos meses da minha comissão foram em INGORÉ, todavia, essa palavra continua "adormecida' no meu inconsciente... Vai saber...!!!

sábado, 23 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11302: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (9): INGORÉ... ou os inusitados caminhos da memória

1. Em mensagem do dia 20 de Março de 2013, o nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), dá-nos conta dos resultados da investigação que lhe deu a certeza de não ter passado os seus últimos tempo de comissão em S. Domingos, como pensava, mas em Ingoré.
Colaboraram nesta pesquisa os camaradas Delfim Rodrigues e Carlos Nóvoa.

Caro Carlos,
Encerrando o assunto "SÃO DOMINGOS?"...

Em primeiro lugar quero agradecer a tua ajuda nesta busca, para encontrar o local dos últimos meses da minha comissão.

No P10525, fiz um resumo desses três meses, e sempre que via as os fotos desse tempo, o nome que vinha à minha memória era SÃO DOMINGOS, contudo, li mais tarde neste blogue, que São Dominngos não era sede de Batalhão.

No P11262 coloquei a dúvida, apesar de ser São Domingos o nome que assomava à minha memória. No dia em que publicaste a minha dúvida, coincidentemente, foi publicado o Convívio do BCAV 3846; o camarada Delfim Rodrigues, organizador do Convívio a quem recorreste, não pôde ajudar na confirmação de que os oficiais da foto eram desse BCAV, pois a sua CCAV esteve estacionada em Suzana e Varela. Forneceu o e-mail do Carlos Nóvoa, que tinha servido na sede do BCAV, e que levou a foto para o almoço em Estremoz.

E realmente o Mundo é Pequeno ...e a nossa Tabanca é Grande..

O Major Sampaio, presente no almoço, se identificou e a quase todos os Oficiais da foto.

Na foto, a partir da esquerda: Capitão Saraiva, Comandante da CCAV 3364 (a Companhia do Carlos Nóvoa) e presente no almoço; Major Sampaio, Oficial de Operações; Major (Tenente-Coronel?) Mateus; com barba, Alf Mil Ribeiro da CCAV 3364; de frente, Alf Mil de Transmissões Almeida; com o copo na mão, Alf Mil Agostinho Miranda; o Oficial de óculos não foi identificado; Alf Mil Vasco Pires; o último à direita é o Tenente Nobre da CCS; de costas, Alf Mil Teixeira (?) da CCAV 3364.

Sim, os últimos meses da minha comissão foram em INGORÉ, todavia, essa palavra continua "adormecida' no meu inconsciente... Vai saber...!!!

Forte abraço
Vasco Pires
____________

Nota do editor:

Vd. último poste da série de 16 DE MARÇO DE 2013 &amp;gt; Guiné 63/74 - P11262: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (8): Terei estado no "bem-bom de São Domingos"?

sábado, 16 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11262: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (8): Terei estado no "bem-bom de São Domingos"?

1. Em mensagem do dia 9 de Março de 2013, o nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), levanta algumas dúvidas à sua própria afirmação de que no segundo trimestre de 1972 esteve estacionado em S. Domingos.


FANTASMAS DO FUNDO BAÚ

8 - São Domingos?

Caros Luís Graça/Carlos Vinhal,
Quando recebi o honroso convite de ingressar nesta "Grande Tabanca", expliquei que estou a morar no interior do Brasil, e que os meus pertences estavam em São Paulo, assim fui dispensado de na altura apresentar uma foto da Guiné.

Nós, de rendição individual, por vezes tínhamos que esperar substituto, que normalmente tardava. Como o Comandante do GAC7 (GA7) não podia ficar sem Oficiais e Sargentos, sempre que possível, enviava-nos nesse "excedente" de comissão, para um lugar de fraca ou nula atividade operacional.

Ao fim de mais de vinte meses de comissão, a maior parte deles passada em Gadamael, mandaram-me para a sede de um BCAV no Norte. Lá a atividade operacional da artilharia era nula, assim quando cheguei, falei para os Furriéis, que a minha comissão tinha terminado (21 meses), mas faltava o substituto.
Eram excelentes profissionais, tomaram conta do Pelotão e respeitaram a minha "aposentadoria" e, como eu pedi, só me chamariam quando houvesse algum problema, o que nunca aconteceu.

Entretanto, pedi ajuda à minha companheira do pós-guerra, que gentilmente me cedeu uma foto de um álbum, como não lembro datas dessa época, ela também me informou que eu voltei da Guiné em Julho 72.

Quando recebi essa primeira foto, dentro de um jipe, ao lado de outro oficial, pelo comprimento do cabelo e pelo uso de indentificação de posto, vi que era do fim da comissão, logo seria do segundo trimestre de 72. Um nome surgiu de imediato: SÃO DOMINGOS.



Resumi no P10525, os meus últimos meses na Guiné, que o editor apelidou de: "...bem-bom de São Domingos..."
Aí alguns camaradas reagiram, e disseram que São Domingos não era um "resort", mas: "...era bombardeamento diário. Não havia comida, não havia bebida ou até luz..."

Podiam ser outras datas, ou visões diferentes de uma mesma realidade, já que ela é "multifacetada" e ao fim de quarenta anos "esfumaçada".

Agora que veio outra foto dessa época, o nome que continua vindo à memória é São Domingos.

Na foto estão os oficiais do Comando do BCAV e CCS: a partir da esquerda, Capitão de uma CCAV (ou CCS), Major de Operações, Tenente-Coronel Segundo Comandante (que não queria me deixar voltar para casa ao fim de 24 meses), a partir da direita Tenente da CCS, Vasco Pires.
Os outros Oficiais lamentavelmente não consigo identificar.

Entretanto li neste Blog que a partir de certa data deixou de ser sede de Batalhão, aí surgiu a dúvida, será que eu errei "o nome do Santo"?

Cordiais saudações
VP
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 9 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11223: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (7): Fotos de um líder, do Cap Op Esp Fernando Assunção Silva

sábado, 9 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11223: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (7): Fotos de um líder, do Cap Inf Op Esp Fernando Assunção Silva, primeiro cmdt da CCAÇ 2797


À esquerda: O saudoso Cap Op Esp Fernando Assunção Silva


1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 17 de Fevereiro de 2013:


FANTASMAS DO FUNDO BAÚ

7 - Fotos de um líder - Cap Op Esp Fernando Assunção Silva

Caros Luis Graça/Carlos Vinhal,
Cordiais saudações.

Remexendo o fundo do baú, agora ligeiramente ilustrado, encontrei essas duas fotos de um LÍDER.
Esta é a minha modesta e respeitosa homenagem. Fica a imagem, as palavras já foram escritas:

Sereno, intrépido, generoso... um LÍDER

(...) "A CCaç 2796 foi fustigada de forma brutal nos seus primeiros passos em Gadamael numa primeira tentativa do PAIGC de, indirectamente, eliminar a posição de Guileje (o que veio a conseguir em 1973 por via directa). Sofreu baixas, incluindo o comandante da companhia (24Jan71) e nos finais de Janeiro de 1971 era uma subunidade extenuada psicologicamente. 

Com muito trabalho de todos, reagiu, recuperou, deixou obra feita (reordenamento, escola, posto sanitário, casernas, organização do terreno) e garantiu a posse de Gadamael, a segurança da população, o apoio logístico a Guileje e a liberdade de movimentos no seu sector. Em suma "Cumpriu a Missão". Não desmereceu do seu primeiro e valoroso comandante de companhia – Capitão Assunção Silva, dos seus restantes camaradas mortos e feridos em combate e da confiança da população que apoiou de múltiplas formas e com quem manteve relações de respeito e amizade." (...) 

Coronel Morais Silva

"O Capitão Assunção Silva comandou sempre magistralmente a reação a todas as flagelações, e ordenava patrulhas regulares, algumas delas comandadas por ele pessoalmente. Pois é, e numa delas aconteceu, um simples disparo de um franco-atirador atingiu-o mortalmente no peito."

Vasco Pires


Ao fundo o saudoso Capitão de Infantaria Op Esp Fernando Assunção Silva, à sua direita Alferes Campinho, Alferes Manso, os dois da CCAÇ 2796, e Alferes Costa Gomes, Pel Rec Fox 2260 (um "benemérito" de Guileje, pois fazia a segurança das colunas de reabastecimento), à sua esquerda Vasco Pires (camiseta branca) e Alferes Rodrigues CCAÇ, os restantes são Furriéis da CCAÇ e Pel Rec, que por estarem parcialmente retratados não dá para identificar. 
Me perdoem os camaradas, se quarenta anos depois errei algum nome.

Forte abraço
Vasco Pires
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 3 de Março de 2013 > Guiné 63/74 - P11185: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (6): ...onde também tem lealdade, dedicação e competência

domingo, 3 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11185: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (6): ...onde também tem lealdade, dedicação e competência

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 17 de Fevereiro de 2013:


FANTASMAS DO FUNDO BAÚ

6 - No fundo do "baú", também tem ...lealdade, dedicação e competência

Caros Luís Graça/Carlos Vinhal,
Segui a sugestão do Carlos de raspar o fundo do baú, agora ilustrado com algumas fotos que chegaram de São Paulo, e olhem o que eu encontrei... lealdade, dedicação e competência.

Na foto *, Vasco Pires (de camiseta branca) ladeado por dois Grandes Artilheiros, a partir da esquerda o Furriel Oliveira, e à direita o Furriel Krus. Foi pela dedicação e competência destes dois altamente empenhados Furriéis, que o Exmo. Senhor Coronel de Artilharia António Carlos Morais Silva escreveu, mais de quarenta anos depois, neste Blog (P9936):

"...sempre exigi, quando andava no mato, tempo de resposta que não podia exceder 1 minuto e perante uma "saída" das armas IN a resposta imediata de um obus fosse qual fosse, no momento, a direcção de vigilância. Cumpriram sempre e nunca esqueci os excelentes artilheiros...".

A partir da esquerda: Fur Mil Oliveira, um graduado da Companhia de Comandos Africana (?), Alf Mil Vasco Pires e Fur Mil krus

O Pelotão foi colocado, famílias incluídas, na última fileira da tabanca junto ao rio (facilmente localizada na foto de Gadamael). Acredito que foi do Furriel Oliveira, a sugestão de ocuparmos a primeira casa junto ao arame, na realidade uma verdadeira "mansão" com dois quartos sala e cozinha, bem próximo aos obuses. Excelente ideia, pois, como eu disse, eles já "saíam atirando", como nos velhos filmes do Clint Eastwood. Humor tardio à parte, tinham grande conhecimento das bases IN, e ajustavam o material rapidamente.

Temos que reconhecer, que não é tarefa fácil, dois jovens beirando os vinte anos, controlarem soldados profissionais, com vários anos de guerra, com mulheres (alguns com mais de uma) e filhos, e eles o fizeram muito bem; lembro, por exemplo, que no dia de pagamento, muitas vezes, passavam a noite administrando os problemas familiares dos soldados, agravados pelos vapores do álcool.

Não posso deixar de lembrar, a sofisticadíssima rede logística, que o Furriel Oliveira, assessorado pelo meu ordenança, o Cabo Apontador (da guarnição local) José Carlos, montou para interceptar caçadores e pescadores às primeiras horas da madrugada, garantindo assim as proteínas extra destes três Artilheiros.

O Furriel Krus sempre administrou brilhantemente a parte operacional do Pelotão, inclusive, durante um longo período formando o Pelotão diariamente para revista.

Mas, sobretudo, fica a certeza que durante a minha vida, civil e militar, nunca tive parceiros tão leais e dedicados, como os Furriéis Oliveira e Krus.

Onde quer que estejam, a minha gratidão.
VP
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 24 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11148: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (5): "Alfero di canhão"

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11148: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (5): "Alfero di canhão"

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 17 de Fevereiro de 2013:


FANTASMAS DO FUNDO BAÚ


5 - "Alfero di canhão"

Caros Luís Graça/Carlos Vinhal,
Chegaram algumas fotos de São Paulo, mal armazenadas, não estão em boas condições.
Tentei recuperar umas poucas. Acredito que esta foto foi tirada poucos dias depois da minha chegada. Em primeiro plano o então Capitão de Artilharia Rodrigues Videira, que muito me ajudou nestes primeiros tempos de guerra. Acredito que o segundo, da esquerda para a direita, atrás, é o oficial que eu fui substituir. Foi tão rápido o nosso contacto, que não posso ter certeza. 

Nós, oficiais e sargentos da Artilharia da Guiné, nos considerávamos injustiçados, pois, o restante da tropa ia para casa ao fim de vinte e um meses, e muitos de nós ultrapassávamos os vinte e quatro, à espera de substituto, foi o caso deste oficial de Artilharia, que já tinha mais de vinte e quatro meses. Assim quando eu cheguei, ele foi no primeiro voo.

Um periquito em Gadamael... e a velhice da CART 2478

Quanto à praxe, foi suave, acredito que foi fundamental a ajuda do meu saudoso amigo Augusto Pereira Alegre, que era um dos donos das Caves Monte Crasto, ele tinha sido da Companhia de Comandos do então Capitão Neves, conhecia pois as agruras africanas. Deu ordem à Casa Gouveia, para me entregar uma caixa de espumante, foi pois em "espécie líquida" que "paguei" o meu pedagio (portagem) de entrada nesse "paraíso" às margens do Rio Sapo. Um longo caminho, Mafra, Vendas Novas, Figueira da Foz, Bissau, e enfim Gadamael!!!

Foi também nessa data que soube, que o pessoal da EPA tinha-se enganado sobre o meu posto, o correto era "Alfero di Canhão"!

Sendo informado que o meu posto era "Alfero di Canhão"!

Forte abraço
Vasco Pires
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Nota do editor

Vd. último poste da série de 31 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11033: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (4): Quem vem lá?

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P11033: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (4): Quem vem lá?

Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CCAÇ 2769 (Gadamael e Quinhamel, de Janeiro de 1971 a Outubro de 1972) > Vista aérea de Gadamael Porto nos finais do ano de 1971. Foto do cor art ref António Carlos Morais da Silva, gentilmente cedida ao nosso camarada Manuel Vaz.
Foto: © Morais da Silva (2012). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 26 de Janeiro de 2013:

Caros Luís Graça/Carlos Vinhal,
Envio a minha modesta contribuição para o gigantesco trabalho, que vocês magistralmente desenvolvem e administram.


FANTASMAS DO FUNDO BAÚ

4 - QUEM VEM LÁ???

Quando cheguei a Gadamael, para assumir o comando do 23° Pel Art, lá pelos meados de 1970, encontrei uma Companhia em fim de comissão (tinham acabado de evacuar Ganturé), logo em seguida veio uma Companhia de Infantaria, e se seguiram alguns agitados dias.
É desses tempos, tentando responder a perguntas de um Camarada Historiador, o que, diga-se de passagem, não consegui fazer a contento, que surgiram do "fundo do baú", alguns "causos", cuja "gravação" era um pouco mais nítida.

Foi num dia, o que na altura se entendeu como tentativa de invasão do quartel. Lembro que alguém informou que o IN estava no fim (começo) da pista, o Capitão duvidou, contudo, por segurança, mandou uma Panhard fazer um reconhecimento. É um facto conhecido, que o apontador foi morto e o condutor voltou "transtornado"; em seguida, desencadeou-se um dos piores ataques a Gadamael no período (aliás no P7142 e no P7186 tem foto da parede da messe com os estilhaços desse dia).

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 > Ex-edifício do comando, com vestígios de estilhaços
Foto e legenda: © Pepito / AD -Acção para o Desenvolvimento (2010). Todos os direitos reservados

A outra suposta tentativa de invasão, penso "in the best of my recollection" (lá vem o recurso ao famigerado anglicismo), que o Comando já era do então Capitão de Artilharia Morais Silva, lembro ainda, que lá estavam os Comandos Africanos sob o comando do então Alferes Zacharias Sayeg. Julgo, que foi nessa data que fizemos disparo direto com o obus (10,5) para o fim da pista, num total do dia de cerca de 200 disparos, o que foi um erro meu, pois, entrei na "reserva estratégica" (que me perdoem os Artilheiros se não é este o termo exato); soube mais tarde por Oficiais lotados no comando da Artilharia, que por esse erro, o "Paizinho" pensou em me punir, o que não se concretizou.

Nesse dia, após uma violenta flagelação, com aproximação até à pista de pouso, aconteceu algo inusitado, que quase acabou em tragédia. Alguém falou que o IN tinha entrado no quartel no fim do ataque, então, o Capitão, serenamente, mandou todos para as valas, e ordenou que eu fizesse a volta no sentido contrário ao dele, e o encontrasse no Posto de Comando, assim, em tese, não haveria dentro do perímetro do quartel, ninguém em pé além de nós dois.
Como eu não tinha hábito de usar arma, havia um soldado do PelArt, Meta Camará, que além de excelente Artilheiro era atirador de elite (morreu com um tiro de um franco atirador numa viagem a Cacine), que normalmente me acompanhava, quando eu achava necessário. Disse a ele, sem deixar margem a dúvidas, que à minha ordem de fogo, ou se eu me atirasse no chão, deveria disparar a G3 da melhor maneira possível.

Eis senão quando, a meio caminho entre os obuses e o comando, junto à divisão com a tabanca (o trajeto fica bem claro na foto de Gadamael de autoria do Coronel Morais Silva) surgem dois vultos. Numa fração de segundo, que eu nunca soube precisar, decidi perguntar "quem vem lá", ... eram dois graduados da Companhia de Comandos, que provavelmente estavam na tabanca, e não ouviram a ordem do Capitão!!!

Eh, depois de mais de quarenta anos, fica assim...

forte abraço
Vasco Pires
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 14 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10941: Fantasmas do fundo do baú (Vasco Pires) (3): A morte, em 24/1/1971, do cap inf op esp Fernando Assunção Silva, 1º comandante da CCAÇ 2796, e meu amigo