Mostrar mensagens com a etiqueta Estórias de Jorge Picado. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Estórias de Jorge Picado. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9167: Memória dos lugares (167): A localização do destacamento ou aquartelamento de Polibaque (em 1973) não é a mesma da antiga tabanca de Polibaque ( Jorge Picado, ex-Cap Mil, CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, 1970)





Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAC 2885 (1969/71) > Posição relativa da antiga tabanca de Polibaque (no Google, a vermelho).

Infogravuras: Jorge Picado (2011).


1. Mensagem do nosso amigo e camarada Jorge Picado [, engenheiro agrónomo, na vida civil, reformado, residente em Aveiro (e, no verão, na Costa Nova); na vida militar, ex-Cap Mil (CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, (1970/72)]:Data: 7 de Dezembro de 2011 22:32
Assunto: Polibaque

Caro amigo Carlos:





Acabo de ler o Poste do camarigo Mexia Alves em que fala sobre Polibaque (*), que o nosso Grande Chefe Luís procura situar.

Evidentemente que nada sei sobre os tempos posteriores à minha saída de Mansoa, mas envio em anexo um Mapa que reconstrui das Cartas de então, daquele concelho e a correspondente actualização (obtida creio que nos princípios deste ano) do Google onde se vê o traçado da nova estrada.

Ora acontece que o topónimo Polibaque das Cartas antigas fica muito longe do traçado da estrada "nova" [, Jugudul - Porto Gole - Bambadinca,] que os camarigos andaram a proteger durante a sua construção e mesmo da "antiga" via [, Bissau - Bafatá,] que só com muitos sacrifícios poderia ser "transitável" no meu tempo.

Aliás Porto Gole era abastecida directamente de Bissau, pelo Geba,  e não pelo BCaç 2885. Polibaque, aliás como todas as tabancas dessa área, com excepção do Destacamento de Bissá e mais para oeste Bindoro, tinham sido há muito abandonadas.

Quando aparece citado Polibaque, nas acções ou operações das NT no meu tempo, isso refere-se mais à região entre as bolanhas do rio Bará e as bolanhas a este, dum afluente desse rio e a antiga estrada onde, na carta de Mamboncó está assinalado FOBA (marco geodésico) [, ao canto inferior esquerdo da carta].

Não creio que para proteger a construção da estrada nova o "Destacamento" fosse "lá em baixo", mesmo no sitio de Polibaque da carta, pois todos esses terrenos eram baixos alagadiços na sua grande maioria.

Isto é o que me ocorre dizer assim a correr. (**)

Abraços para ti e todos.

Jorge Picado

PS - No Mapa [, croquis,], Polibaque é o n.º 53. No extracto do Google assinalei com ponto vermelho. Espero que não me tenha enganado ao "sacar" os anexos. 
__________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 7 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9150: Memória dos lugares (165): Polibaque, na estrada Jugudul-Portogole-Bambadinca (Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, CCAÇ 15, Mansoa, 1973)

(**) Último poste da série > 9 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9166: Memória dos lugares (166): a paliçada de troncos de palmeira do Cachil (José Colaço, CCAÇ 557, 1963/65)

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8098: Parabéns a você (244): Jorge Picado agradece à Tertúlia

1. Mensagem de Jorge Picado (ex-Cap Mil da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 13 de Abril de 2011:

Amigo Carlos Vinhal
Vejamos se desta vez consigo responder-te, sem que algum dos meus filhos me requisite para "trabalho não programado e urgente".

Como (in)subordinado, mas amigo de verdade, além de te agradecer desde já, aqui te envio mais uma prendinha.
Como sei no entanto que o trabalho não te falta, já que és um acumulador de "tachos insaciável", vão apenas umas poucas palavrinhas que publicarás quando houver disponibilidade.


Mansabá, Messe dos Oficiais, 11 de Abril de 1971 > O Cap Mil Jorge Picado, CMDT da CART 2732,  festejou assim o seu 34.º aniversário. Vê-mo-lo de pé à frente da coluna. Ainda pertencentes à "2732", também de pé, à esquerda, o ex-Alf Mil Nunes Bento e à direita o ex-Alf Mil Oliveira Rodrigues. Em primeiro plano, sentado à esquerda, o ex-Alf Mil Manuel Casal. Desconheço quando e como acabou a noite.
Foto de Jorge Picado
Legenda de Carlos Vinhal. Com o devido respeito a Vossa Senhoria, meu Capitão.


Agradecimento

Caríssimo(a)s Camarigo(a)s
É com profunda gratidão que venho agradecer a todos que tiveram a gentileza de me endereçar os parabéns pelas minhas "risonhas 74 primaveras".

É claro que enquanto celebrar aniversários, não deixarei de comemorar "primaveras", já que entramos há pouco tempo nesta "estação". Mas quanto a anos, aí o caso muda de figura, pois já nem de "outonos" de trata, mas na verdade são "invernos".

Meus querido(a)s amigo(a)s, para não cometer o erro de olvidar algum de vós, perdoem-me, mas não especificarei os vossos nomes, salvo as seguintes excepções que espero compreendam.

Em primeiro lugar às senhoras, D. Filomena Sampaio e D. Felismina Costa que não conheço pessoalmente, mas apenas dos seus escrito, já que quanto a "um dos anjos que descia do céu" lá na Guiné, e de que eu felizmente nunca precisei, conheci em Monte Real. Trata-se da Giselda Pessoa.

Por sua vez um agradecimento especial ao "cartoonista de serviço permanente da Tabanca Grande", já que há outos camarigos igualmente habilidosos para as artes gráficas, mas refiro-me ao "aéreo-strelado" Miguel Pessoa, que muito me favoreceu no "postal". Até pareço um "menino e moço"...

Cá o "Kota", ficou muito emocionado e sensibilizado com o que disseram e o vosso gesto, podem crer, e cada vez mais orgulhoso de pertencer a esta Grande Família de Veteranos da Guiné.

Muito obrigado.
Abraço-vos com muita amizade.
Jorge Picado
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8094: Parabéns a você (243): Luís Faria, ex-Fur Mil da CCAÇ 2791 (Tertúlia / Editores)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5838: Estórias de Jorge Picado (12): A minha passagem pelo CAOP 1 - Teixeira Pinto (VII): Colecta e roubo em Binhante

1. Mensagem de Jorge Picado (ex-Cap Mil da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72), dirigida ao nosso Blogue, com data de 16 de Fevereiro de 2010: 

 Amigo Carlos Vinhal 

Com este tempo invernoso que teima em recordar-nos que o Carnaval com o corpinho ao léu, só mesmo nos climas tropicais, deu-me para arrancar mais uma historieta daquelas passadas na Guiné, mas que nada tem a ver com esta quadra. Aliás, destas duas datas vividas naqueles anos de 1970/71, apenas deu para recordar a primeira, pois foi a partida que o Exército me fez de me enfiar no barco a caminho dessas longínquas paragens. A segunda nem dei por ela, apesar de estar em Bissau a aguardar a nova colocação. Para te distraíres, após as folias de hoje envio-te esta pequena prosa.

Abraços 
Jorge Picado


COLECTA E ROUBO EM BINHANTE 

Durante a minha estadia no CAOP 1, o IN fez uma incursão silenciosa a um aldeamento situado entre Teixeira Pinto, actual CANCHUNGO, e Pelundo. Este acto ocorreu na noite de 24 para 25 de Junho de 1971 na povoação de BINHANTE. Para os que não percorreram aquele Chão, BINHANTE situa-se a NNE de Teixeira Pinto, a uma distância desta, por estrada, de cerca de 5 quilómetros. Quase a meio do percurso de Teixeira Pinto para o Pelundo, virava-se para Norte e depois de percorrer pouco mais de 1 quilómetro entrava-se na povoação, conforme se pode observar na figura.

 
Binhante_1 

 Ao empregar a expressão incursão silenciosa, quero referir-me àquelas acções que militarmente eram classificadas como colecta e roubo das populações sob controlo das NT, feitas sempre pela calada da noite, muito provavelmente com a conivência de algum ou alguns elementos das próprias tabancas, quiçá familiares ou mesmo elementos da guerrilha oriundos dessas povoações que calmamente durante o dia ali penetrassem para durante a noite facilitarem a abertura das portas aos seus camaradas ou ainda, mais raramente sem essa conivência, mas sob fortes ameaças de vidas de raptados. Uma vez que o acontecimento só era comunicado pela manhã, as NT já não tinham possibilidade de interceptar os guerrilheiros. No entanto BINHANTE, como referi, ficava sensivelmente a meio do percurso de TEIXEIRA PINTO-PELUNDO, distando pouco mais do que 5 quilómetros de cada e os elementos do PAIGC, do CHURO ou COBOIANA, foram lá! Portanto no dia 25 pela manhã, lá tive de acompanhar os camaradas, possivelmente da CCaç 2660, que foram fazer o levantamento da ocorrência e ajuizar dos estragos, para que na medida do possível e, quanto mais depressa, se obtivessem os meios para recompor a situação. 
Das minhas breves notas respigo “Colecta e roubo em Binhante – Incendiaram 14 moranças, grandes estragos POP. Ameaças e sevicias, levaram POP como carregadores. 4 Sacos arroz na Gouveia em nome do CAOP. Assinei eu. Binhante 2 vezes”. 

Perante o sucedido e os lamentos da população ou do Chefe da Tabanca, recebendo evidentemente ordens para tal, tive de voltar a TEIXEIRA PINTO, onde levantei 4 sacos de arroz que requisitei na Casa Gouveia em nome do CAOP e fui entregá-los ao chefe da tabanca para satisfação das primeiras necessidades alimentares, isto evidentemente em nome da APSICO. 
Remeto uma fotografia referente a este acontecimento que, embora datada de JUN71, não deve ter sido obtida nesse dia 25, mas talvez posteriormente. Digo isto por não ter a certeza se no CAOP 1 se faziam recolhas radiofónicas de eventos. Se isto era verdade, então pode ter sido obtida nesse mesmo dia.
 
Binhante > 25JUN71 

Fotos: © Jorge Picado (2010). Direitos reservados. 

Na imagem são bem evidentes os sinais de habitações destruídas pelo fogo. Pode-se ver parte duma casa, representada por uma parede – feita em adobos de lama – e rachada no canto, com sinais de fumo por cima duma abertura – janela ou porta –, sem telhado e os restos de cibes queimados, em segundo plano, que suportavam exteriormente a cobertura, sinais mais do que suficientes de ter sofrido um incêndio recente. Além disso há dois militares – um metropolitano sentado com gravador ao lado e um guineense, talvez cabo, segurando o microfone na mão direita – registando o depoimento dum nativo – que pela veste e pés calçados demonstra um certo estatuto, chefe de tabanca (?) – acompanhado de outros naturais, um dos quais – o do chapéu – revela uma cara carrancuda. Repare-se na forma tradicional de transporte natural dos bebés por estas mães que, pelas suas vestes, mostram igualmente possuir um certo estatuto social. Seriam as mulheres do que está a ser entrevistado? Quem seria o militar sentado? De alguma das subunidades do CAOP 1? Ou do PIFAS de Bissau? As mesmas interrogações faço sobre o que segura o microfone, mas como poucos são aqueles desse tempo que militam na Tabanca, não creio poder chegar a qualquer conclusão. 

É tudo por hoje. 

Abraços para todos 
Jorge Picado
 __________ 

Nota de CV: 

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5776: Estórias de Jorge Picado (11): A minha passagem pelo CAOP 1 - Teixeira Pinto (VI): Acompanhando visitas no Chão Manjaco

1. Mensagem de Jorge Picado (ex-Cap Mil da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 31 de Janeiro de 2010, dirigida ao nosso Blogue:

Amigo Carlos
Envio-te mais uma composição, sobre algumas das actividades desenvolvidas no CAOP 1*.
É capaz de ser um pouco longa, com as fotos que junto, mas, com a tua experiência, decidirás como melhor fazer.

Abraços para todos e desculpa-me por mais este trabalhito "á borliú".
Jorge Picado


ACOMPANHANDO VISITAS NO CHÃO MANJACO

Constituindo o CAOP 1 um dos “baluartes” da política “Uma Guiné Melhor”, do então GG e ComChefe, estava, por conseguinte, “transformado” numa das mais importantes, se não mesmo a mais importante, “sala de visitas” daquele TO.

Assim, os jornalistas e políticos, adidos militares e outros altos funcionários de várias nacionalidades, convidados por Portugal a tomar conhecimento e observar, com os próprios olhos, o que se fazia pelas POPs e como estas viviam “em paz e harmonia” connosco – justificando assim a guerra que nos era imposta por quem, não tendo razão, apenas queria desestabilizar e impedir o desenvolvimento dos nativos que apenas desejavam continuar a ser Portugueses e usufruir do bem que estes lhes proporcionavam – passavam praticamente todos pelo “Chão Manjaco”.

Normalmente, após um “briefing” restritivo à área – no seguimento do mais geral que lhes tinha sido apresentado em BISSAU – existia um programa, mais ou menos longo de acordo com o tempo de permanência disponível e com a personalidade em questão e, se bem que direccionado, procurava-se dar satisfação aos desejos dos visitantes.

Estando a minha actividade ligada aos assuntos da ACAP/POPs, como já referi em escritos anteriores, uma das funções de que estava incumbido era tratar da logística, diligenciando para que as respectivas unidades fornecessem a segurança, assegurassem os transportes e providenciassem para que os locais a visitar estivessem “conformes” e os contactos assegurados, acompanhando quase sempre “esses visitantes”.

Socorrendo-me das anotações que fiz, parcas, como também já tive oportunidade de dizer quando da minha apresentação, incompletas e algumas quase já indecifráveis, decidi agrupá-las e enviá-las, para conhecimento dos camaradas e com a esperança de que algumas, ao serem lidas por alguns daqueles que pertenciam aos efectivos que nesse período actuavam naquela área, lhes recordem estas actividades.

Reportando-se ao período de MAIO/71 a JANEIRO/72, estiveram envolvidas pelo menos, já que não especifíco aquelas cuja missão era a protecção aos trabalhos da estrada Bachile-Cacheu:

- CCS e CCaç 2660 do BCaç 2905; CCS, CCaç 3459 e CCaç 3461 do BCaç 3863, sedeadas em T. Pinto;

- CCaç 2637 em T. Pinto e Chulame, CCaç 3327 em Bassarel;

- BCaç 3833 no Pelundo e respectivas CCaç 3306 no Jolmete, CCaç 3307 no Pelundo e CCaç 3308 em Có;

- possivelmente certos GComb de várias CCaç (2789, 2790, 2791, 3328) dependentes do BCaç 2928 sedeado em Bula.

Eis o que me resta, chamando desde já a atenção para a grafia dos nomes estrangeiros, uma vez que não os copiei de documentos, mas os anotei de ouvido.


MAIO/71

No dia 7, meu terceiro dia nesta unidade, iniciei-me com a visita dum estrangeiro – por ventura uma visita rápida, já que não consta qualquer indicação de localidade – Dr. Wilensky, Arg., A? ?d, F. Milit.

Perante as anotações simbólicas que precedem o nome seria, muito provavelmente, de nacionalidade Argentina e Funcionário Militar –Arg., F. Milit – mas não relaciono agora a simbologia intermédia – A…d – uma vez que era o diminutivo de 2 palavras, em que a 1.ª começava por A com mais 2 letras riscadas – a ultima das quais provavelmente um v? – e a 2.ª começa por uma letra maiúscula – igualmente riscada – seguida do d.

A 8, visita de “Bob” – E.U., F. Emb. EU. Era um americano, provavelmente civil, de diminutivo “Bob” – Robert? – e funcionário da Embaixada – muito naturalmente em Lisboa – que se deslocou ao PELUNDO para observar “in loco” a nova política dos reordenamentos.

De 19 a 21, acompanhamento duma equipa de fotografia e cinema do PIFAS constituída por 3 elementos: José Ribeiro (militar ou civil?); 1 Fur.; 1 soldado.

No 1.º dia, após a recepção e delineamento do programa andou-se apenas em TEIXEIRA PINTO.

No 2.º dia começou-se com filmagens e fotos dos trabalhos na estrada para o CACHEU e prosseguiu-se com recolhas em BATUCAR e CAIÓ.

Caió 1-71

Caió 2-71

Caió 3-71

Batucar 1-71

Batucar 3-71

Batucar 4-71

Batucar 5-71
Fotos: © Jorge Picado (2010). Direitos reservados.


Estas 7 fotografias, que quase com toda a certeza se referem a “encenações” preparadas para estas filmagens. As 3 primeiras foram obtidas em CAIÓ, segundo anotação no verso das mesmas, mas as outras não sei se são desta povoação ou de BATUCAR.

Muito gostaria que os camaradas que “me acompanharam nesta deslocação, bem assim os que estavam estacionadas nestas povoações” aparecessem, para com base em elementos visíveis, identificassem melhor as mesmas. Na marcada com Caió_3_71, há lá muitos militares a assistir e, nas Batucar_1,_4 e_5, há edifícios que devem ser suficientes para identificar por quem lá esteve estacionado vários meses.

Finalmente no 3.º dia, foi-se para e PONTA LUIS CABRAL, já nas imediações do Rio Mansoa, onde se deram por finalizados os trabalhos e regressando a equipa a BISSAU.

Nestes trabalhos recolhiam imagens da paisagem, estradas, caminhos, povoações, casas construídas nos aldeamentos ou melhoradas, benfeitorias diversas de uso colectivo – Postos Escolares, Postos Sanitários, recuperação de bolanhas – tudo “embelezado” com as POPs “muito sorridentes” e as declarações de agradecimento dos chefes de tabanca, material necessário para a composição dos documentários promocionais.


AGOSTO/71

A 19, três dias depois de regressar de férias da Metrópole, participei na visita dum Adido Militar Americano, Cor Bloom(?). Quando se tratava de pessoal militar, privilegiava-se mais a parte operacional e as actividades de APSICO que as tropas desenvolviam, não só nos trabalhos de Eng.ª – reparação e mesmo abertura de caminhos –, mas também na Saúde – consultas e tratamentos efectuadas pelo Pessoal Militar nos Postos Sanitários – e na Educação – aulas dadas por militares transformados em Professores nos Postos Escolares Militares.

A 27 houve uma visita do Secretário-geral – Ten Cor ou Cor(?) Pedro Cardoso –, do Funcionário Superior da Administração Ultramarina, para a Agricultura – Eng.º Agrón.º Vinício Marques(?) –, do Director(?) dos Serviços de Veterinária – Dr. Sales – e do Intendente(?).

Depois duma sessão de trabalho no CAOP, seguiu-se uma ida ao chamado Porto de T.PINTO, à Escola Secundária – designada por Ciclo –, à Casa do Enfermeiro e ao Depósito(?) – de quê, não sei – seguindo-se para o PELUNDO e depois para BULA. Daqui eles regressaram a BISSAU e nós à sede.

Cais do Porto de TEIXEIRA PINTO
Foto: © Jorge Picado (2010). Direitos reservados.



Esta foto, que não está datada, pode referir-se ou não à visita destas individualidades neste dia. De qualquer modo, pelo aparato que se vê, não se refere a um dia normal, mas antes “festivo”.

Como se pode verificar, havia um cais feito de pedra e argamassa de cimento para a acostagem dos navios de cabotagem e militares, bem como uma rampa de acesso para colocação e recolha dos botes de borracha militares – e não só – e que permitia a acostagem das lanchas de desembarque que assim podiam embarcar e desembarcar viaturas e outras cargas.

Neste dia estava atracado um barco local de cabotagem e, a este, uma lancha de desembarque pequena (LDP) vendo-se ainda um bote de borracha dos Fuzos. Note-se que não era um dia normal, pois aparenta haver muita animação no cais, já que além dos militares, alguns até em calções de banho – o que não constituía surpresa visto que, quando de folga, aproveitavam para “brincar” na água –, vêm-se muitos nativos – crianças, homens e mulheres, algumas de guarda-sol aberto, lá bem no fundo – cuja presença daquele modo não se me afigura justificável pelo simples facto de haver um barco de cabotagem ali acostado. Como mera curiosidade sobressaem várias bicicletas e motorizadas – pertença do pessoal nativo – meios de transporte muito vulgarizados por aquelas bandas.


SETEMBRO/71

Em 19, recebeu-se a visita do Deputado Inglês do Partido Conservador, Ian Sproat, a quem se proporcionou o habitual “briefing” e uma volta pela vila, seguindo depois para PELUNDO onde almoçou. Após um rápido passeio pela localidade, seguiu-se para JOLMETE. Aqui se jantou e pernoitou junto das NT aí aquarteladas, podendo assim o visitante tomar conhecimento com as precárias condições a que as NT estavam sujeitos e o seu grau de isolamento numa zona onde existia um importante “corredor de trânsito IN” para abastecimento do CHURO-COBOIANA.

Em 28, depois de regressar pela manhã(?) a TEIXEIRA PINTO com o súbdito de Sua Majestade Britânica, após o almoço acompanhei um fotógrafo da REP/ACAP a BAJOPE, CHUROBRIQUE, BINHANTE e PELUNDO, para mais uma sessão de recolha de fotos promocionais.


OUTUBRO/71

Em 19, chegou a TEIXEIRA PINTO, na coluna de regresso de BISSAU, Sheike Sabidou, um Chefe Religioso(?) da Mauritânia, para contacto com os naturais deste concelho. Não ficou a sua estadia a cargo do CAOP 1, pois creio ter ficado a expensas do Chefe da Tabanca dos Mandingas da povoação, mas as deslocações para fora ficaram a cargo do Agrupamento.

No dia 24 realizou-se uma sessão na sede do Clube local – FC TEIXEIRA PINTO – pelas 10H, na qual ele falou para a população local. Evidentemente que assisti, no âmbito das funções que me competiam.

A 25, segui às 8H30M para o PELUNDO, acompanhando o Sheike Sadibou e respectiva comitiva, apresentando-o ao respectivo Comandante Militar.

Da visita desta Entidade Muçulmana da Mauritânia, guardo cópia de uma informação que elaborei e que, antes das férias do passado verão remeti para publicação no Blogue. Como naturalmente ficou perdida no imenso porão segue agora naturalmente.

Remeto em anexo o rascunho, com as correcções efectuadas antes da apresentação ao meu superior, Maj Lobo da Costa, da informação respeitante à VISITA DUMA ENTIDADE MUÇULMANA DA MAURITÂNIA AO CHÃO MANJACO.

Na perspectiva de não ficar legível o documento, transcrevo-o.

Em 18OUT71 o CAOP 1 foi informado telefonicamente por um oficial da REP ACAP (COMCHEFE) da vinda do SHEIKE SADIBOU na coluna de 19OUT.

Em 20OUT pela manhã, apresentou-se neste Comando o civil SHERIFO BALDÉ solicitando uma viatura para aquela entidade, não sabendo explicar qual o fim a que se destinava. Na ausência do Snr. Administrador, foi o mesmo acompanhado ao Snr. Secretário da Administração a quem foi exposto o assunto, sendo-lhe comunicado que deveria o referido SHEIKE SADIBOU apresentar-se na Administração para, ao mesmo tempo que apresentaria cumprimentos à entidade civil se providenciar para a resolução da sua petição.

Pouco tempo depois, apresentou-se no CAOP 1 a individualidade em causa, acompanhado de ALADJE INJAI – Chefe da Tabanca dos Mandingas – que vinha apresentar cumprimentos e solicitar viatura. Na ausência do Exm.º Comandante e na impossibilidade do Chefe do EM, nesse momento em reunião de trabalho com os empreiteiros da estrada, foi recebido pelo OF. APSIC.

Desta conversa há a salientar o seguinte:

- a viatura destinava-se apenas ao transporte do SHEIKE SADIBOU de casa à Mesquita (cerca de 100 m);

- comunicou-se-lhe que a administração facultar-lhe-ia a viatura, mas devia dirigir-se ao Snr. Secretário;

- relutância da individualidade em assumir tal atitude, declarando que apenas tinha de contactar com as Autoridades Militares. Posteriormente verificou-se que não foi à Administração;

- foi-lhe comunicado que as suas deslocações para fora de T.PINTO ficariam a cargo deste Comando.

Em 21 OUT cerca das 0830 o chefe Mandinga, ALADJE INJAI, esteve neste Comando a informar e a convidar para assistir a uma reunião que teria lugar no largo da Missão do Sono. Ficou combinado que mandaria avisar quando a população estivesse reunida, não o fazendo, apesar de posteriormente se ter tido conhecimento de que se realizou a referida reunião.

Em 22OUT à tarde, o Snr. Administrador compareceu com o SHEIKE SADIBOU e Homens Grandes Muçulmanos, sendo recebido pelo Exm.º Comandante, tendo ficado planeado o seguinte:

- 231500OUT cedência de 2 jeeps para uma visita ao Régulo da COSTA DE BAIXO;

- 240800OUT sessão na sala de cinema do Clube de T.PINTO;

- 250830OUT transporte do SHEIKE SADIBOU e Homens Grandes Muçulmanos ao PELUNDO;

- 26OUT transporte do SHEIKE SADIBOU do PELUNDO para BULA.

Posteriormente foi alterada a ida para BULA, que passou a ser na coluna de 29OUT.

Em 241000OUT realizou-se a sessão atrás indicada em que estiveram presentes o Snr. Administrador do Concelho, um Delegado do CAOP, o Rev. Padre FAUSTINO e o Régulo BATICÃ FERREIRA. A palestra proferida durante cerca de 1H45M pelo SHEIKE SADIBOU em marabu e traduzida para crioulo foi integralmente gravada, tendo abordado os seguintes tópicos:

- necessidade e importância de escolarização;

- necessidade do trabalho para desenvolvimento dos povos;

- alusão à união e adesão de todos na colaboração do esforço feito pelo Governo da Província para elevar a população da Guiné;

- igualdade dos sexos no trabalho e responsabilidades no desenvolvimento da sua terra;

- afinidades das religiões católica e muçulmana;

- aspectos puramente religiosos islâmicos;

- novas referências ao trabalho efectuado pelo Governador da Província;

- finalizou com a formulação de preces para que sejam concedidas Bênçãos a todos quantos trabalham no esforço de desenvolvimento da Guiné Portuguesa.

Em 250830OUT foi conduzido ao PELUNDO pelo Delegado do CAOP 1 que o apresentou ao Comandante Militar.

Segundo informações do Comandante do BCaç 3833 a visita ao PELUNDO decorreu bem, sendo na reunião realizada abordados os mesmos assuntos da de T.PINTO.

Assinado: JMSPicado
Cap.Mil.”


Conforme escrevi à mão no canto superior direito, esta informação foi transcrita na Nota n.º ? de 27OUT71 dirigida à REPACAP.

Quando refiro na informação “Delegado do CAOP 1”, só posso estar a referir-me a mim próprio, pois se assim não fosse acrescentaria o Posto respectivo.

Não me peçam mais pormenores, por que não os poderei fornecer. Se este papel não tivesse “sobrevivido”, apenas podia dizer que no dia 24OUT71, um domingo, tinha havido aquela sessão e no dia seguinte tinha ido para o PELUNDO às 8H30M, acompanhando o visitante.

Em 28, chegada do jornalista Francês, Phillip Marcovici, do jornal Combat, que nesse dia foi submetido ao tratamento de costume, na sede.

No dia seguinte (29) seguimos para BINHANTE, CHUROBRIQUE e para os trabalhos na estrada BACHILE-CACHEU.

A estadia deste jornalista prolongou-se até 1NOV, tendo-o acompanhado em 31OUT e 1NOV, como consta da Agenda, mas sem a indicação de locais. Porquê. Mero esquecimento ou teria permanecido em T.PINTO? Tenho imensas dúvidas que assim fosse, pois na sede, a permanência mais prolongada, quando muito só para dormida, já que os dias tinham de ser aproveitados para acções promocionais…

Entretanto, o Sheike Sadibou que devia ter seguido para BULA a 26 afim de continuar com a sua “endoutrinação”, só o fez neste dia, ficando entregue aos cuidados do BCaç respectivo, mas já sem a minha companhia.


NOVEMBRO/71

A 6, chegada de outro jornalista, o Português Santana da Mota, correspondente do jornal brasileiro Estado de S. Paulo. Não deve ter saído da sede…

A 9, mais um jornalista Português, Redondo Júnior, chefe de redacção de O Século. Passou por CHUROBRIQUE, BACHILE e PELUNDO, onde almoçou.

A 10, visita de Neil Bruce, Inglês, correspondente do jornal The Economist e Prof. de Ciência Política e História Contemporânea da U.I. Keele. Também não assinalei localidades!

A 22, nova visita, agora do Brigadeiro Inglês e jornalista, Michael Calvert, que também era Prof. de História (?).

Este visitante deslocou-se, pelo menos, à frente de construção na estrada para o CACHEU, cujos trabalhos se situavam, na altura, algures entre o BACHILE e CAPÓ.

Participei nesta deslocação em deficientes condições de saúde, em consequência duma grave intoxicação alimentar sofrida no almoço da véspera, um domingo, que constava de sardinhas de conserva. Por ter sido o primeiro a ser servido fui o único afectado, pois assim que engoli a primeira e única garfada dei o alerta de possível deterioração uma vez que o gosto era horrível. Alguém, não posso precisar quem, apenas colocou uma muito pequena porção na língua, confirmou e ninguém mais tocou naquela comida. Cerca de 2 horas depois os efeitos apareceram, ficando com o corpo em estado deplorável com uma urticária quase total e comichão insuportável. “Não fui desta para melhor”, como é costume dizer-se, mas fiquei mal, acabando por seguir na coluna do dia seguinte, terça-feira 23, para o HM em BISSAU, onde fiquei internado.


DEZEMBRO/71

Em 22, visita do jornalista Português, Metzener Leone, que se deslocou a CHUROBRIQUE e ao BACHILE.


JANEIRO/72

A 17, deve ter sido o último acompanhamento duma visita, neste caso do jornalista Português do Diário Popular, Botelho da Silva, bem como de uma Sub-inspectora dos Serviços de, Educação ou Saúde?

Durante a tarde houve deslocação, pelo menos da Sub-inspectora, a BAJOPE e BINHANTE, não sei se o jornalista acompanhou ou foi para outro destino, mas nesta data já andava perfeitamente fora de mim, assoberbado com a tarefa de regularizar a minha situação militar, uma vez que o Comandante do CAOP, Cor Rafael Durão, me tinha confirmado que me “passaria a guia de marcha” nos primeiros dias de Fevereiro, mesmo sem substituto.

E por agora já chega.
Jorge Picado
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 13 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4681: Estórias de Jorge Picado (9): A minha passagem pelo CAOP 1 - Teixeira Pinto (V): Passeio fluvial pelos rios Baboque e Mansoa

Vd. último poste da série de 25 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5339: Estórias de Jorge Picado (10): Como fui a Fátima a pé, comandando a CART 2732

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5339: Estórias de Jorge Picado (10): Como fui a Fátima a pé, comandando a CART 2732

1. Mensagem de Jorge Picado*, ex-Cap Mil da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 22 de Novembro de 2009:

Amigo Carlos
Se tiveres possibilidade de confirmar que não escrevi sobre o que agora mando, na Tabanca Grande e julgares que vale a pena também lá ser publicado decide por ti.
Creio que houve alguma coisa que mandei já há muito tempo para a Tabanca Grande que deve ter ficado esquecido no "porão da memória" da caixa do correio, mas não tenho a certeza.

Como tenho digitalizado o Relatório da Acção URTIGA NEGRA efectuada em 29MAR71, vou enviá-lo, mas acrescento-lhe parte do que entretanto tinha escrito entre FEV-ABR06.


Quinta-feira, 25MAR71
Desloquei-me novamente a FARIM, para ver se convencia o “Chefão” a deixar-me seguir para TEIXEIRA PINTO, argumentando que o verdadeiro Cmdt da CArt tinha entrado de férias e, portanto, podia muito bem ser substituído pelo subalterno mais graduado, como era habitual e tinha assim sucedido na “minha” anterior CCaç, tal como acontecia em todas as outras.

Voltou a dar-me “com os pés” e eu, como resposta, com a determinação de fazer cada vez o menos possível, ao mesmo tempo que contactei com o Cmdt do CAOP, manifestando-lhe a apreensão que sentia por tal atraso em ocupar o lugar. Da minha parte havia pelo menos duas razões para tal apreensão:

a) dado o CAOP ser uma estrutura com um peso muito importante na manobra militar do GG e ComChefe, temia vir a perder o lugar, se entretanto não o ocupasse;
b) por outro lado, quanto mais tardasse a sair daquela situação, tanto mais riscos me sujeitava a correr.

Houve de facto contactos e isso mais deve ter acirrado o dito Major
Deixei de ir para a estrada, permanecendo mais no quartel, mas, o “Fulano”, tratou de me meter em actividade.

ACÇÃO URTIGA NEGRA

Segunda-feira, 29MAR71

A vingança do Major executou-se, friamente.

Neste princípio de semana e talvez para me “castigar”, enviou-me para o mato, não para aquelas “tarefas” de segurança próxima aos trabalhos da estrada como até aí, mas para participar numa acção cujo nome de código não era nada agradável – URTIGA NEGRA – duas palavras com um certo significado “malévolo”.

Se não vejamos, “urtiga” – nome de planta que possui como órgãos de defesa uns pêlos que injectam um liquido irritante na pele de quem lhes toca, provocando urticária – “negra” – palavra que se pode associar a algo nefasto – o que, convenhamos, não era nada animador associado ao objectivo da operação.

Mas esta palavra era consequência do Plano de Operações existente para as forças do sector a Sul do Rio Cacheu enquadradas no COP 6, que se chamava “FAIXA NEGRA”, dando depois lugar às Directivas Operacionais e às Ordens de Operações que teriam sempre de se chamar qualquer coisa “negra” e, as “urtigas”, foram várias (pelo menos em 24ABR71 executou-se a XXIX).

A CArt, como era uma unidade de “quadrícula” e a ZA tinha sido reforçada com outros meios, tinha uma missão mais destinada à segurança da povoação e da estrada e, era menos utilizada para outras acções de maior envergadura. Estas eram destinadas às forças “de reforço” para estes fins – Páras e julgo que a CCaç do K3 – enquanto que as restantes – subunidade de CAV e de ART – tinham por missões respectivamente, fornecer protecção às colunas auto nos seus deslocamentos em estrada e, os obuses, naturalmente em posições fixas, apoiarem com fogo pesado sempre que solicitados. Isto em termos muito gerais.


Destinaram-me, pois, uma ida a
FÁTIMA a pé, neste dia, como Cmdt do Agrupamento (Agr) A.

Só por analogia digo isto, já que este vocábulo não tem nada a ver com o da povoação portuguesa. Este da Guiné e, numa região habitada por Fulas e Mandingas – povos islamizados – seria sem dúvida de origem muçulmana, já que este é o nome da filha de Maomé.

Nota: Na Carta (folha de Binta) existe assinalada uma “povoação de tipo indígena, dispersa, com 10 a 50 casas”, a cerca de 500 m a Oeste do itinerário OLOSSATO (povoação)-OLOSSATO (vértice geodésico secundário) no encontro da estrada
MANSABÁ-FARIM.


Tendo por base as recordações que ainda guardo na memória, procurarei descrever aquela acção, tanto quanto possível mais conforme com o que se passou e que, como é evidente, não podia constar da descrição oficial. Há passos que gostava fossem melhor concretizados por ex-camaradas que nela participaram e que poderiam até corrigir deficiências minhas, mas há lembranças que permanecem quase intactas.

Conjuntamente com o Agr A que comandava saiu uma força (Pel?) de Pára-quedistas – Agr? – comandada por um Tenente (?), efectuando-se o percurso apeado pelo mato, em conjunto, até ao ponto referenciado no relatório como “ponta da Bolanha de BERECODIM”. Uma vez aí, separámo-nos, prosseguindo na direcção Oeste pelo lado Norte da Bolanha, enquanto eles a contornariam pelo lado Sul, julgava eu, já que não tinha conhecimento das suas directivas.

Ao separarmo-nos nessa posição, olhando para o relógio terei dito ao Tenente algo como:

- Então até daqui a "n" minutos - isto porque, de acordo com o determinado na alínea “Transmissões”, da Ordem de Operações, era indicado o intervalo de tempo, em minutos, para o estabelecimento de contacto via rádio entre os 2 Agr, bem como entre estes e o PCA onde estaria o Cmdt do COP.

Só que o “nosso” Major, enquanto os “pedestres” tinham iniciado o percurso às 6H30M, subiria para uma DO – PCA – já com a manhã bem alta e, sobrevoando a zona, dirigiria “ o circo” mais ou menos do seguinte modo – “ siga para ali… vire para aqui… agora em frente… marche… não recue…” –, lá de cima, bem folgado e resguardado da situação real de fogo que porventura acontecesse, enquanto os tais “pedestres”, já bem cansados a essa hora, teriam de desempenhar o difícil papel de “heróicos defensores da pátria”, mas duma pátria que não era seguramente a sua.

- Não é possível, meu Capitão, estou sem comunicações rádio - foi a resposta obtida para meu espanto.

- Como? - retorqui.

- Os rádios avariaram - voltou ele, com uma cara meio estranha.

Só passados mais uns segundos se fez luz no meu cérebro e, talvez com cara de parvo, por necessitar de duas respostas para momentaneamente voltar à realidade, lembro-me que, meio encabulado, tentei emendar a situação dizendo algo como:

- Este material deveria ser substituído, o nosso também não está em boas condições.

Desde logo havia aqui algumas lições a extrair desta situação.

Primeiro que tudo, a “nossa” guerra – da maioria dos Oficiais do QC e de já grande número de Oficiais do QP pelo menos até ao posto de Capitão – não era seguramente a mesma da do Major.

Pena que tivesse de aprender isso com um Oficial subalterno do QP e duma arma de elite, Pára-quedista.

Mas porquê um Oficial destes a dar-me tal lição?

Talvez por:

a) não tolerar ser enviado para Operações com um Cmdt que o não acompanhasse no terreno, preferindo antes a comodidade dum PCA em que se encontrava livre de perigo. Como subalterno de tropas especiais, habituado a actuar em situações de elevado risco, com os “seus” comandos ao lado e não refugiados num meio aéreo, também não gostavam muito de ser “usados” como “caçadores de troféus”, para vanglória de quem não os merecia;

b) ou, sabe-se lá, estar já “tocado” por outros sentimentos…

Depois da operação fiquei sempre com a dúvida: “Será que ele prosseguiu ou mais à frente escolheu um bom lugar à sombra e aí ficou a fazer horas até ao regresso?”. A verdade é que, não tendo convivência com ele, pois mantinham-se aquartelados à parte, não se misturando com a chamada “tropa macaca”, nunca pude aflorar o assunto. Mas em matéria tão delicada, não creio que obtivesse uma resposta verdadeira.


Em segundo lugar, a minha reacção demonstrava o modo alheado como me deslocava naquelas circunstâncias... para não sofrer qualquer ataque de “histeria” e ficar amalucado. Só assim se admite que não tenha compreendido imediatamente o sentido da primeira resposta.

Afinal não tinha acabado de chegar da Metrópole! Já não era pira!

Estava há 14 meses no TO e já tinha visto muita coisa.

Verdade seja que aqui me “drogava” mais, bebendo muito mais uísque e possivelmente, como ia para uma operação donde poderiam ocorrer mais riscos, antes de sair talvez me tivesse precavido com uma boa dose, para ir mais afoito…

Também a desculpa que alvitrei sobre o material assentava num facto concreto. A realidade é que o material usado – e não era só o de transmissões, mas a generalidade – era obsoleto, pois na grande maioria era uma herança ainda da II Guerra Mundial e estava constantemente a “dar barraca”, como se dizia.

O que é certo é que, naquela operação, a partir daquele momento dei ordens ao operador – seria soldado ou cabo (?) – das Transmissões, que carregava o rádio às costas e me precedia na coluna, para manter só a recepção…

Pouco tempo antes do contacto com o IN, começou a ouvir-se o barulho do avião sobrevoando a área, de certeza a uma altitude bem confortável para melhor garantia de segurança e, pouco depois, a tentativa de estabelecimento de contacto via rádio do PCA com qualquer das forças. Bem se esforçava porém o Cmdt com os seus apelos, mas as respostas eram… nenhumas.

Isto também era possível, felizmente, dadas as condições do terreno em que nos deslocávamos. Tratava-se de floresta povoada por espécies arbóreas de grande porte e mato de espécies sub-arbóreas muito denso, formando um coberto cerrado que, nem nos deixava ver o céu, nem permitia a quem de cima nos sobrevoava, ver-nos.

Sempre à escuta, ia aguardando por qualquer resposta dos Páras, mas como deles, “nem novas, nem achados”, quem era eu?

Afinal, dos dois Agr, quem eram os melhores preparados para a guerra? Não eram os Páras? Se tinham desaparecido… seria justo que fossemos nós a arcar com todas as consequências?... e pouco depois as circunstâncias quase me obrigavam a isso, já que as rajadas de G3 surgiram quase inesperadamente.

A situação não se desenrolou tão sucinta e friamente como se descreve no relatório, pois que, à medida que caminhávamos para Oeste, mais vigilantes e cautelosos nos íamos tornando, principalmente depois de atravessar o tal “trilho largo e muito batido”.

Era talvez uma faixa – e não um trilho – de 4 a 5m de largo, sem arvoredo cerrado e falho de mato, não verdadeiramente a céu aberto, mas donde se vislumbravam nesgas dum céu bem azulado àquela hora do dia e com a terra toda calcorreada, cheia de pegadas, a maior parte antigas, mas possivelmente algumas recentes.

Estendia-se no sentido Norte-Sul e foi atravessado com prudência, de acordo com os procedimentos militares para estes casos como às vezes se vê nos filmes de guerra…

Do lado oposto ao da nossa procedência é que se detectaram pegadas indicativas de passagem de pessoas, que obrigaram ao reconhecimento e a abandonar a chamada “fila de pirilau”. Preparámo-nos para evitar ser surpreendidos por qualquer emboscada.

Com o GComb da frente comandado pelo Alf Casal seguia uma secção de Milícias que creio terem sido eles quem primeiro disparou, quando menos se esperava.

Passados segundos (?)… minutos (?)… como não houve reacção procurei, sempre rastejando ou de “gatas”, chegar-me mais à frente à fala com o Alf, sempre com o soldado-rádio atrelado.

Uns metros à frente, junto a umas palmeiras com ralos arbustos, vi de relance umas esteiras, dois corpos escuros estendidos, uns soldados e milícias – nem sei quantos – a recolher objectos e a pesquisar o mato para além das palmeiras. Tudo aquilo foi muito rápido e, quando voltaram, disseram que os vultos estavam mortos e havia quem tivesse fugido para Oeste, mas não sabiam precisar quantos.

Mandei então prosseguir na sempre na direcção Oeste e, pouco depois, entrámos na zona de alcance dos seus morteiros 82.

Reconhecemo-la logo, pois o solo estava estranhamente remexido, como se tivessem andado com uma enxada a abrir covachos para plantar qualquer coisa e não foi preciso andar muito, para que ouvíssemos o tão característico som abafado duma primeira saída de granada de morteiro, a que logo se seguiram as restantes.

Toca a sair dali, inflectindo na direcção Norte ou seria Este/Nordeste (?), para debaixo de mato cerrado novamente e, não com “os calcanhares a bater no cu”, mas em passo acelerado, só parando quando aquela música, das saídas e subsequentes rebentamentos das granadas ficaram bem para trás.

Neste ponto é que deve ter acontecido perder-se o “chamado norte”, isto é, ao entrar-se novamente debaixo de floresta cerrada e em andamento acelerado o rumo podia não ser bem o que suponhamos, até porque nem se usava qualquer instrumento de orientação, já que estávamos apenas dependentes da orientação definida pelos tais guias, por isso escrevi atrás “direcção Norte ou seria Este/Nordeste”, mas a partir daqui, continuar a seguir na direcção de Fátima, já não fazia sentido.

Qualquer efeito de surpresa tinha desaparecido.

O IN já estava no terreno preparando “recepção adequada” e entretanto aquela dúvida “mas por onde andam os Pára-quedistas?”, sempre a martelar-me a cabeça.

Entretanto com este “fogachal” todo, o PCA tentava entrar em contacto, mas como não havia problemas nas NT, mantivemos o silêncio rádio.

Após um pequeno alto, para recuperar forças e acalmar o nervoso miudinho, prosseguiu-se o patrulhamento e foi ao passar por uma “ilhota” de palhotas, já destruídas anteriormente pelo fogo, como os restos carbonizados demonstravam – destruição provocada pelo IN ou pelas NT (?) – que ainda encontrámos o milho-miúdo armazenado a quem deitámos fogo.

A emboscada foi montada depois de mais de hora e meia a palmilhar.

Durante esse intervalo, comentando com os alferes os acontecimentos, inclinámo-nos para a hipótese de que não seria grupo IN em movimento, mas simplesmente elementos do “tipo das milícias”, muito usados pelo IN como sentinelas ou guardas avançados dos seus locais de acantonamento que estivessem de serviço. Se assim não fosse, não tinham permitido que apanhássemos a espingarda e as granadas, nem nos tinham deixado prosseguir sem tentarem surpreender-nos, tanto mais que conheciam muito melhor o terreno e onde se movimentavam com maior à vontade. Quem escapou, 1… 2… 3(?) elementos, dissimularam-se, comunicaram, não sei como com a base onde existiam os Mort 82 (que mais tarde o Bravo Vítor Junqueira silenciou) procurando não se deixar apanhar, para mais tarde recolher os corpos que ficaram no terreno.

Quando chegámos à estrada para sermos recolhidos, então comecei a descomprimir e a pensar sobre o que me podia ter acontecido.
Até aí, vinha meio “entorpecido”: pelo nervoso; pelo cansaço; pelo medo de ser apanhado ou deixar apanhar o pessoal numa situação de maior gravidade, correndo riscos que ninguém valorizava e duma coisa tinha a certeza. Íamos sendo apanhados pelos seus Mort 82.


No quartel, depois dum banho de chuveiro retemperador, pensei ironicamente, sem nunca o ter revelado, nas partidas que o destino nos reserva.

Tinha sido necessário ir parar à Guiné, para quase, sem dar por isso, “ir a FÁTIMA a pé”!


Nota. Ao procurar reconstituir nas folhas, de Binta e Farim da Carta Militar entretanto conseguidas, o trajecto da operação face às coordenadas indicadas no relatório, deparo com um obstáculo. As coordenadas indicadas no relatório ou não batem certo ou já não sei trabalhar com a grelha.
Ainda que com bastantes dúvidas, posso tentar delinear um certo percurso mais ou menos virtual.

Assim, o ponto de início (PI) na estrada situar-se-ia entre 1 a 2 km a Norte do vértice geodésico Bironque e a pontada bolanha está bem identificada.

Na carta estão indicados vários “caminhos indígenas” saindo de SOLINTO. É evidente que naquela época todas as povoações como essa, BERECODIM e BERECOBÁ, estavam desabitadas e estes “caminhos” estariam com certeza recobertos de mato, mas é provável que o “trilho largo” e o “carreiro” do relatório se situassem entre o 1.º e o 2.º “caminho” desta carta (onde coloquei ??) e, o contacto deu-se numa zona de floresta e palmeiras depois disso.
O trajecto seguinte é que fica um pouco mais confuso, pois ainda avançámos após o contacto, entrando na zona de alcance dos Mort 82 e, só então, derivámos seguindo um rumo que, como descrevi pode estar “baralhado” e não ser o que julgava para Norte, mas sim mais Este/Nordeste, passando por uma “ilhota” de palhotas destruídas pelo fogo que podia ser a tal antiga “povoação de tipo indígena, cerrada”, denominada SOLINTO e onde encontrámos o milho miúdo que destruímos.

A quarta posição, onde se montou a emboscada, seria provavelmente num dos “caminhos indígenas” a Norte de BERECOBÁ, já que o ponto de recolha na estrada se aproximaria do ponto de partida.

Posteriormente, ao ultimar este relato, quando cheguei a esta parte – meados de FEV06 – procurei obter informações que me esclarecessem este tipo de identificação então usado, mas até ao momento – ABR06 – não consegui.

Apenas uns esclarecimentos sobre o "Comentário ao Relatório da Acção":

Quanto ao indicado no ponto 02 pelo "meu amigo" Cmdt do COP 6 que foi escrito e assinado em 30ABR71, quando eu já me encontrava em Bissau, pois deixei a CART 2732 no dia anterior, dia 29 pelas 11H10m, possivelmente numa coluna via Mansoa e, de que só tive conhecimento no dia em que consultei os processos no AHM em Junho ou Julho de 2009, fiquei perplexo.

De facto, saber agora que revelei "espírito de decisão e iniciativa" até me faz "babar" de felicidade por ver reconhecido o meu "valor militar". E eu que me julgava "um falhado para tais artes". Se tivesse tido conhecimento disto naquela época, ainda era capaz de reconsiderar e pedir mais acções.
Ou seria que o "meu amigo" Cmdt me quiz apenas recompensar, por não me ter deixado seguir para o CAOP 1 logo que recebi a colocação naquele Agrupamento? Com toda a certeza teve um rebate de consciência e resolveu compensar-me desta maneira.
E isto até chegou à REP OPER do COMCHEFE!!!
Oh gentes estou a ficar mesmo vaidoso e vou arranjar uma moldura adequada para que os meus vindoros fiquem a admirar mais "o velhote".

Amigo Carlos, não gozes mais comigo, pois aquele champanhe que bebi à noite na messe era merecido.

Abraços
Jorge Picado

Relatório da Operação "Urtiga Negra, integrada no Plano de Operações "Faxa Negra"
 

Para ler os Relatórios, clicar nas imagens
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 18 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5129: Direito à indignação (6): As míseras migalhas que os comensais da mesa estatal deixam cair (Jorge Picado)

Vd. último poste da série de 13 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4681: Estórias de Jorge Picado (9): Passeio fluvial pelos rios Baboque e Mansoa

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4681: Estórias de Jorge Picado (9): A minha passagem pelo CAOP 1 - Teixeira Pinto (V): Passeio fluvial pelos rios Baboque e Mansoa

1. Mensagem de Jorge Picado (*), ex-Cap Mil da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 12 de Julho de 2009:

Caríssimos Carlos, Luís, Briote e MRibeiro

Deu-me hoje na mona para escrevinhar umas recordações do passado.
Se entenderem que não são oportunas, delete...m-nas.

Abraços para todos e que as férias que se aproximam serenem os ânimos.
Jorge Picado


PASSEIO FLUVIAL NO RIO BABOQUE E RIO MANSOA

Indiferente às guerrilhas, armadilhas e outras ratoeiras que alguns nos vão lançando pelo caminho, tentando eliminar-nos ou pelo menos desmoralizar-nos para que não contemos as nossas estórias, porque não são feitos bélicos ou não se enquadram nos altos valores que defendem e a que só eles se julgam com direito, vou tentar passar a escrito um passeio de barco que fiz na outrora florescente estância de veraneio da Guiné Portuguesa.

Este passeio ocorreu num belo domingo, tal como a maioria dos passeios que se fazem aos fins de semana, dia 29 de Agosto do longínquo ano de 1971.
Já lá vão pois cerca de 38 anos... vejam lá... mais do que a idade que então tinha... Ai como eram belos ainda os 33 aninhos...

I. JETE, c/ T.C. Herdade, Reg. Agr. Dias, das 13.30 às 17.10. Banhos de água salgada ao dobrar UMPACACA”.

É a parca anotação que consta nos meus poucos registos e vai a azul como homenagem marítima.

Começando pelas apresentações direi:

I.JETE – uma grande zona baixa toda recortada por linhas de água que a tornavam de facto uma ilha, ainda que não fosse no mar, como a ILHA de JETA em pleno Atlântico frente a CAIÓ. Situada a Sul de PELUNDO, as suas margens Sul eram banhadas pelo Rio MANSOA e tinham na sua frente a ILHA de LISBOA. Havia uma picada de PELUNDO para lá, encontrando-se um Pel da CCaç 3307 aí instalado;

T.C. Herdade – Ten Cor Herdade (Ten Cor Inf Nívio José Ramos Herdade), Cmdt do BCaç 3833 colocado no Sector 07, com sede em PELUNDO e abrangendo CÓ e JOLMETE;

Reg. Agr. Dias – como já mencionei num escrito anterior, era o técnico dos SAF de BISSAU responsável ou encarregado pelo andamento dos trabalhos agrícolas da zona do CAOP 1. Tendo chegado a 27, já tínhamos visitado CAJEGUTE e CAIÓ, seguindo agora para JETE, onde julgo que terminou esta inspecção;

UMPACACA – o nome do lado nascente da foz do Rio BABOQUE que, vindo de TEIXEIRA PINTO, desagua no Rio MANSOA. Digamos assim qual Cabo das Minhas Tormentas;

Objectivo – ajuizar do estado dos trabalhos de recuperação das bolanhas daquela(s) Tabanca(s).

Embarcámos no Cais ou Porto de TEIXEIRA PINTO e começou aí o meu espanto. Era a primeira vez que me confrontava com tal meio de navegação.

Sendo oriundo de uma terra marítima e de marinheiros, farto de ver (e de andar na ria) barcos de ria e de mar, de várias dimensões e feitios, que se deslocavam com a força de braços (remos e varas), movidos pelo vento ou a motor fora e dentro de borda, fiquei extasiado quando me fazem entrar naquilo que julgava ser uma banheira de fibra a que tinham acoplado um motor fora de borda e chamavam agora pomposamente barco.
Sinceramente, foi esse o meu primeiro pensamento.
Nunca tinha visto tal... mas logo me interpelaram:

- Então não entra no SINTEX?.

Estava à espera de um zebro, dos Fuzos... e sai-me uma banheira…

Na fotografia que anexo do Porto de TEIXEIRA PINTO, obtida em algum dia festivo, pela manga de pessoal presente, vê-se pelo menos um zebro junto de uma LDP (?) que está atracada a um barco de cabotagem, já que não tem ar de ser da Marinha de Guerra.
Nunca tinha reparado no tal Sintex, se é que ele lá costumava parar.


Pois é camarigos Luís Graça e Mexia Alves (desculpem-me os outros que também neles andaram, mas estes dois é que andam sempre a exibir-se fotograficamente em trajes, mais apropriados a quem vai a banhos - depois não se queixem se aparecer algum mirone a dizer que não andavam na guerra -, pavoneando-se no GEBA-ESTREITO), não tenho é foto para me vangloriar igualmente e, quanto a fatiota, íamos todos devidamente equipados, com fardamento de trabalho como garbosos militares das nossas FA.

Sentando-me naquilo que se chamaria proa ou popa, por causa das coisas, i.é. o meu desconhecimento daquela prática chamada natação, disfarçadamente tinha colocado dois coletes de salvamento ao alcance das mãos, não fosse o diabo tecê-las... de modo que, ao dobrar o tal Cabo ou seja, quando entrámos no Rio MANSOA, coloquei mesmo um no regaço a servir quase de antepara aos banhos forçados das águas salgadas desse rio, consequência das fortes bátegas que eram projectadas pelo encontro daquela pseudo popa, mais parecida como uma antepara, contra a corrente e forte ondulação do MANSOA, que naquele local tem uma largura de quase 6 quilómetros.

Na imagem obtida no Google Earth, que anexo, onde se pode visualizar o trajecto desde o ponto de partida 1, até ao presumível ponto de chegada 2, onde ainda em 31JAN06 (data das respectivas imagens do Google) se localizam os arrozais, são cerca de 20 km. O ponto 3 assinalado, era o ancoradouro existente na Carta Militar, mas fica no lado oposto aos arrozais, pelo que não era lógico aportarmos aí.
Se algum camarada desse tempo que lá estivesse estacionado ou, ainda melhor seria, o militar – 1.º Cabo – condutor do barco, aparecessem para contar...


Só por curiosidade direi que no dia 25JUN70, foi sensivelmente nesta zona do Rio MANSOA, que foi engolido pelas suas águas o helicóptero que transportava os Deputados da ANP tendo morrido os seus ocupantes.

Eu lembrava-me, por isso não ia muito satisfeito...

Mas tudo correu bem e, às 17H10M, desembarquei novamente em TEIXEIRA PINTO.

Jorge Picado
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 1 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4620: Estórias de Jorge Picado (8): A minha passagem pelo CAOP 1 - Teixeira Pinto (IV): Reunião com o Secretário Geral - Informação

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4620: Estórias de Jorge Picado (8): A minha passagem pelo CAOP 1 - Teixeira Pinto (IV): Reunião com o Secretário Geral - Informação

1. Mensagem de Jorge Picado, ex-Cap Mil da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 26 de Junho de 2009:

Caros amigos e camaradas, Luís, Briote, Vinhal e MRibeiro
Segue mais uma transcrição duma informação que elaborei em 17NOV71, lá no CAOP 1.

Abraços para vós e todos os camaradas da Guiné
Jorge Picado


INFORMAÇÃO

Sobre o exposto em 01.a. da nota nº. 3561/POP/71 de 14NOV71 do COMCHEFE POP informo o seguinte:

1-1 - A MSG 2585/POP de 10AGO71 endereçada ao BCAÇ 2905 e mais 02 Unidades e não enviada a este CAOP 1, diz o seguinte:

“Deve levantar máxima urgência até 20AGO árvores disposição essa Serviços Agricultura. Plantio deverá ser efectuado obrigatoriamente durante mês corrente.”

2-2 - Nesta altura as árvores à disposição do BCAÇ 2905 eram apenas as que constavam da distribuição feita através da nota nº. 1873/POP/71, de 21MAI71, do COMCHEFE POP, que a seguir se indicam:

Bananeiras... 4000
Limoeiros... 400
Mangueiros...350 no início das chuvas, 200 no fim das chuvas

Aquele BCAÇ não tinha conhecimento dos cajueiros.

3-3 - Acerca dos cajueiros, foi perguntado a este Comando se estava interessado neles e em bissilons e caso afirmativo quais as quantidades (MSG 2465/POP, de 23JUL71, do COMCHEFE POP).

4-4 - Transcreveu-se a referida MSG para o Delegado dos SAF em T.PINTO (N/MSG 5940 de 24JUL71), que informou verbalmente haver interesse só nos cajueiros e em número de 10000.

5-5 - Pela N/MSG 6008 de 29JUL71 informou-se o COMCHEFE POP que desejávamos 10000 pés de cajueiros, tendo sido comunicado à Rep. Prov. dos SAF que deviam ser fornecidos 1500 ao CAOP 1, que contactaria com aqueles Serviços (Nota nº. 2517/POP/71, de 30JUL71, do COMCHEFE POP).

6-6 - Em 01AGO71 transcreveu-se aquela nota ao Delegado dos SAF em T.PINTO, solicitando-se os bons ofícios no sentido de contactar com a Rep. Prov. dos SAF a fim de que nos fossem enviados os referidos cajueiros (N/Nota nº. 6042, de 01AGO71). Aquele Delegado informou verbalmente que a plantação deveria ser feita no fim das chuvas, portanto só a partir de Setembro. Em conversas posteriores, foi-nos sempre focado que a plantação deveria ser efectuada com as últimas chuvas.

7-7 - Quando aquele Delegado informou que estava na altura de se começar a preparar a plantação dos cajueiros, até porque a população só no fim de Setembro acabaria as suas lavouras e ficava disponível para os trabalhos de preparação (limpeza e abertura de covas) dos pomares, foi solicitado ao BCAÇ 2905, com conhecimento à Autoridade Administrativa, a distribuição de pés a efectuar pelos diversos Reordenamentos e as providencias necessárias para que fossem executados os trabalhos inerentes à plantação daquelas árvores (N/Nota nº. 6484, de 24SET71).

8-8 - Dado que o Delegado dos SAF informou nos princípios de Outubro, não possuir viatura para o transporte dos 1500 pés de cajueiro de BISSAU para T.PINTO, como tinha sido transmitido pela N/Nota nº. 6042, de 01AGO71 (veja-se alínea 6), comunicou-se ao BCAÇ 2905 para efectuar o levantamento e o transporte das plantas em causa (N/Nota nº. 6637, de 09OUT71).

9-9 - Quanto ao indicado na alínea 1.b da nota em questão, não se tem conhecimento de quaisquer insistências para que fossem levantadas as plantas à disposição do CAOP 1.

Quartel em Teixeira Pinto, 17 de Novembro de 1971

As) JMSPicado
Cap.Mil.


Esta informação elaborada para resposta a nota do ComChefe, sobre assuntos respeitantes ao apoio agrícola das Populações, era sem dúvida para “colocar os pontos nos is” a alguma “piçada” que os “Senhores do ar condicionado se preparavam para dar ou quereriam dar” a alguém.

Do CAOP 1? Do BCaç 2905? Dos SAF da Província ou do seu Delegado em T.Pinto?
Não tenho qualquer ideia, mas deve ter havido qualquer coisa que não correu bem com a plantação daquelas Fruteiras.
É claro que não posso afirmar que se fosse outro a responder o fizesse com tanta minúcia.

Mas comigo isto era assim. Não costumava “encanar a perna à rã”, como por vezes se diz de quem se fica por meias respostas.
Posso sem qualquer dúvida afirmar que sobre este assunto, procurei todos os documentos existentes e falei com os prováveis intervenientes, para “escarrapachar” tudo que houvesse na resposta.

No que dependesse de mim, “burocraticamente” não me apanhavam.
Tinha uma tarimba já muito grande, neste capítulo da minha actividade profissional (burocracia estatal), graças a um excelente mestre que apanhei quando fui colocado nos Serviços Regionais. Estava farto de responder a funcionários do Terreiro do Paço (da Agricultura) que tecnicamente “nada pescavam” do assunto, mas de questões burocráticas eram catedráticos doutorados!!!

Claro que o assunto ficou arrumado e não houve mais notas.

Jorge Picado




__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 5 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4465: Estórias de Jorge Picado (7): A minha passagem pelo CAOP 1 - Teixeira Pinto (III Parte)

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4465: Estórias de Jorge Picado (7): A minha passagem pelo CAOP 1 - Teixeira Pinto (III): Reunião com o Secretário Geral - Generalidades

1. Mensagem de Jorge Picado, ex-Cap Mil da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 27 de Maio de 2009:

Caros Amigos e Camaradas

Segue mais uma transcrição dumas papeletas do CAOP 1, que Anexo respectiva digitalização, para vossa apreciação.
São 7 folhas mais o verso da última, escritas a lápis

Abraços
Jorge Picado


I – Generalidades

Sua Ex.ª o actual Governador e Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, após um estudo detalhado acerca do panorama desta Província, traçou uma linha de orientação e trabalho tendo como objectivo o desenvolvimento e progresso sócio-económico e cultural do Povo da Guiné, com tanta oportunidade sintetizado na expressão “Uma Guiné Melhor Para os Guinéus”.

Assim, a meio do ano de 1969 e por razões estratégicas definiu a zona de etnia Manjaca como área piloto para a incidência de um esforço colectivo exercido pelo Governo da Província, que ficou portanto conhecido como a “Manobra Socio-Económica e Cultural no Chão Manjaco”.

Este Chão Manjaco, actualmente mais reduzido do que nos tempos de outrora, pois segundo consta inicialmente estendia-se mais para o interior incluindo o regulado de Bula – agora área de Mancanhos – e as Ilhas de Bissau até Sanfins e de Bolama – hoje em dia zona de Papéis – encontra-se distribuído por (?) 28 Regulados (?) povoados na sua esmagadora maioria por Manjacos, aos quais se juntam diversas minorias étnicas, além de Mancanhos e Balantas já em percentagem significativa.

Actualmente a população nesta zona ronda os 60.000 habitantes, quase exclusivamente animistas, se bem que existam (?) alguns católicos e ainda mais islamizados, estes com tendências expansivas.

Para implantação e execução do pensamento governativo nesta(?) área foi criado o CAOP, (?) que posteriormente englobou a zona de Bula, predominantemente Mancanha e mais recentemente a de Binar, já de ocupação Balanta.

A missão dada ao CAOP foi a de “Restabelecer a vida normal no Chão Manjaco” e em face disso, a par das actividades puramente militares que garantissem o espaço, o tempo e a tranquilidade necessários à criação dum clima de Paz, atribuíram-se-lhe actividades pacíficas de colaboração na execução dos diferentes programas nos campos da educação, da saúde, da agricultura, da pecuária e das obras públicas.

Actualmente este esforço desenvolvido e ensaiado nesta área piloto do Chão Manjaco estende-se a outros Chãos, nomeadamente o Balanta.

II – Reordenamentos

1- Uma das características da estrutura populacional da Província é a sua grande pulverização em núcleos pequenos e dispersos por largas áreas, aliás própria das sociedades vivendo numa fase da agricultura (económica) economicamente de subsistência, em zonas do globo com determinadas características.

Em face disso, todos os benefícios primários de natureza colectiva em que assenta qualquer promoção perdem muito da sua rentabilidade quando aplicados a essa sociedade multidividida, nomeadamente qualquer esforço que se faça no campo da Instrução, Assistência Técnica e Comunicações, pontos base de qualquer programa sério e honesto de desenvolvimento (económico ?) destas sociedades primárias.

Surgiu consequentemente a necessidade de aglomerar essas sociedades dispersas, de modo a usufruírem os benefícios que a civilização moderna pode facultar, sem contudo as ferir nos seus interesses e tradições ancestrais. Deste modo, essa aglomeração estudada e planeada tem sido feita unicamente de acordo com aceitação livre das populações, previamente elucidadas dos objectivos a atingir e que se resumem:

- Obtenção da máxima rentabilidade no esforço de promoção realizado, aproveitando melhor as pessoas e os meios;
- Criação de hábitos de trabalho mais comunitários;
- Garantir uma melhor protecção às populações beneficiadas.

A reacção inicial a estes reordenamentos foi como se esperava de descrença na nossa capacidade de realização e de desconfiança na honestidade e fins dos nossos propósitos, consequência de atitudes passadas e de permeabilidade à propaganda IN.

No entanto apesar das dificuldades encontradas e traduzidas em insuficiência de meios e materiais e mão-de-obra, venceu-se essa reacção inicial e actualmente acreditam e aceitam estas realizações.

2 - 1.ª Fase

Sector de Teixeira Pinto

Reordenamentos - 7
Casas previstas - 1397
Casas concluídas (Época seca 70/71) - 575
Casas a construir - 819

Sector de Pelundo

Reordenamentos - 3
Casas previstas - 411
Casas concluídas (Época seca 70/71) - 347
Casas a construir - 64

III – Saúde

1- A saúde pública é um dos principais aspectos que mais afecta a vida das populações, muito especialmente em zonas caracterizadas por elevado índice de doenças endémicas, como é o caso da maioria das regiões africanas, onde numerosas doenças existem e grassam facilitadas pelo habitat sui generis existente. A acrescentar a estes flagelos endémicos há ainda todo o restante espectro de doenças vulgares, traumatismos e a elevada mortalidade infantil que, tornam a duração média de vida destes povos bastante baixa, em comparação com sociedades mais evoluídas, além de constituírem uma das causas inibitórias duma real promoção sócio-económica.

As próprias características destes povos primitivos e sub-desenvolvidos, sem qualquer educação sanitária e possuidores duma forte crença nos seus mézinhos, contribuem para a existência dum retrato sanitário francamente mau destes habitantes.

Conhecendo-se estas verdades e concomitantemente as necessidades sanitárias do Chão Manjaco, idênticas aliás a todos os outros Chãos, e sabendo-se ser neste campo onde os resultados positivos de promoção e captação das massas mais rapidamente podem surgir, procurou-se, aproveitando a estrutura dos serviços de saúde existentes, suprimir os inconvenientes e melhorar e ampliar o que havia de útil.

Resumidamente, desejava-se proporcionar uma melhoria de vida biológica e social do Povo Manjaco, praticando fundamentalmente uma medicina preventiva, assegurando a medicina curativa e incrementando a educação sanitária, de forma a:

- diminuir a mortalidade
- assegurar a cobertura sanitária de todo o “Chão” Manjaco
- actuar sobre a origem das doenças
- modificar os hábitos higiénicos da população
- elevar o estado geral de saúde.

2- Realizações

2.1- Reparação dos edifícios já existentes

2.1.1-Hospital de T.Pinto

2.1.2-Postos Sanitários de Cacheu
Caió
Calequisse
Jeta
Pecixe

2.2- Ampliação e construção de diversos serviços do Hospital

2.3- Construção de novos Postos Sanitários
-Batucar
-Carenque
-Pelundo

2.4- Construção de novos Postos de Socorros
-Bassarel
-Có

2.5- Simultaneamente procedeu-se a um apetrechamento adequado de todos os serviços em material e ampliaram-se os quadros de enfermagem e auxiliar.
Nota: Não se toma em consideração o volumoso trabalho de assistência prestado pelos serviços militares nos diversos destacamentos.
(Nas costas da folha que acabei de transcrever está escrito, igualmente com a minha letra, mas esferográfica vermelha: profilaxia tétano; profilaxia poliomielite; profilaxia cólera; profilaxia sono.)

IV – Educação

Num plano de promoção dirigido a massas populacionais primitivas com um tão baixo nível cultural e uma percentagem de analfabetismo bastante elevada, não se podia menosprezar o ensino, compreendido (?) como instrução quer como educação propriamente dita.

Deste modo, fácil se torna compreender que o esforço no campo educacional teria forçosamente de absorver grande parte do esforço aplicado ao desenvolvimento do Chão Manjaco, tanto mais que os meios existentes, se eram suficientes para atender a instrução solicitada, manifestavam-se insuficientes para satisfazer uma instrução obrigatória, necessária para criar uma nova geração com capacidade para assimilar as inovações trazidas pelo progresso e aplicá-las duma forma eficiente.

Por estas razões, trabalhou-se e trabalha-se com a finalidade de:

- Colocar a escola e o professor ao alcance de todos, tornando a instrução obrigatória, de forma a reduzir ao máximo o analfabetismo.
- Associar ao ensino escolar (o ensino?) uma iniciação agrícola elementar (?), para criar hábitos de trabalho, fazendo contactar tanto quanto possível as crianças com novas técnicas e novas culturas.
- Ministrar durante o ensino escolar conhecimentos de higiene pessoal e habitacional e (???) criar o gosto na juventude pelos regimes alimentares diferenciados e completos
- Seleccionar os mais inteligentes, proporcionando-lhes (?) através da concessão de bolsas de estudo, a possibilidade de atingirem níveis mais adiantados de cultura, pela frequência dos Liceus, Escolas Técnicas, Institutos e Universidades.
- Seleccionar os mais aptos para frequentar a Escola de Artes e Ofícios, a criar em T.PINTO, ou a Escola de Iniciação Rural, na Granja de T.PINTO.
- Mentalizar as crianças de acordo com os propósitos da Nação Portuguesa.

Congregaram-se por conseguinte todas as entidades empenhadas (?) desenvolvendo actividades de fomento educacional, – (?) serviços de educação civil, serviços de educação militar e missões – (para que se atingisse o objectivo global???) a fim de proporcionarem uma escolaridade para todos, combatendo assim o analfabetismo e possibilitando aos mais dotados o acesso a outro(a)s (fontes?) (graus) de ensino, tendo em atenção que a população a escolarizar, no Chão Manjaco (era em 1969 - 10139?) apresentava os seguintes valores:

- 1969 – 10139
- 1970 – 10640
- 1971 – 11172

Escolas Oficiais

Existentes - 4
Construídas - 13
A construír -

Escolas Missões

Existentes - 13
Construídas - 1
A construír -

Escolas Militares

Existentes -
Construídas - 7
A construír -

No verso da última folha estão as seguintes notas

- Delegacia de Saúde em Teixeira Pinto

– vacinação
- lepra e tuberculose
- materno infantil

Subdelegacias de Saúde em:
- Calequisse
- Cacheu - Postos Sanitários
- Pelundo - Brigadas de Socorros móveis
- Có

- Hospital Regional em Teixeira Pinto

Postos Sanitários em:
– Jeta
- Caió
- Pecixe
- Calequisse
- Cacheu
- Batucar
- Carenque
- Pelundo

Posros de Socorros em
- Bassarel
- Có

- Missão Combate Tripanossomiases

Concomitantemente, a par destas realizações materiais de construção e reconstrução de edifícios e apetrechamento adequado dos mesmos em material, aumentou-se o número de enfermeiros e parteiras na área.

Oficiais
Batucar
Carenque
Bassarel

P.E.M.
Batucar
Carenque

11 Oficiais + 7 P.E.M.

Acerca deste documento julgo que falta alguma(s) página(s), pois tal como se apresenta, está manifestamente incompleto. Por outro lado não está datado, ainda que saiba ter sido elaborado já em 1971 – uma vez que refere expressamente elementos desse mesmo ano –, nem assinado. Não me recordo já se foi alguma resenha que me tivessem mandado fazer para ser remetida ao COMCHEFE (como algumas correcções feitas e o que está escrito nas costas de certas folhas parecem indicar ser apontamentos de algo que faltava) ou se foi uma transcrição que fiz, de documento em arquivo, para mostrar depois em casa (coisa que aliás nunca fiz, já que não abri a boca sobre o passado na Guiné), algo onde estava envolvido, mas na verdade não sei precisar.

Destas transcrições ressalta a natureza dos trabalhos, no âmbito da ACAP e POP, fundamentais na execução das Directivas do ComChefe com vista à obtenção do sucesso militar e baseadas em: Reordenamento das POPs; melhoria do Estado Sanitário das mesmas; elevação do grau cultural com o desenvolvimento da Educação; apoio e desenvolvimento na Agricultura e Veterinária; fornecimento de infra estruturas diversas; etc.

Por isso é que eu me desloquei por diversas vezes a todas essas povoações, não só para aquilatar da execução do programado, mas também para acompanhar algumas das personalidades que eram aí enviadas, para visitarem a Obra que o Governo da Guiné estava efectuando em prol daquelas Populações.

Só tenho pena de não me recordar dos militares que me acompanhavam e protegiam nessas deslocações. Se algum deles for Tabanqueiro, ou tenha conhecimento destes escritos que dê sinal de vida par refrescar a memória.

Jorge Picado
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 28 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4430: Estórias Jorge Picado (6): A minha passagem pelo CAOP 1 - Teixeira Pinto (II Parte)

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4430: Estórias Jorge Picado (6): A minha passagem pelo CAOP 1 - Teixeira Pinto (II): Reunião com o Secretário Geral - Agricultura

1. Mensagem de Jorge Picado (*), ex-Cap Mil da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72, Engenheiro Agrónomo, com data de 22 de Maio de 2009:

Caros amigos, Luís, Carlos, Briote e MRibeiro
Na continuação da transcrição de papeis dos tempos de Teixeira Pinto, envio mais um para apreciarem e darem o encaminhamento que julgarem melhor (*).

Abraços para todos vós para todo o pessoal da Tabanca.
Jorge Picado

PS: Vai seguir dentro em pouco uma nota sobre a "Ponte" e as "estradas", prometo.


2. Na continuação da minha comunicação anterior segue agora a transcrição duma cópia, duma reunião, que fiz à mão intitulado “Agricultura”, reunião essa realizada no final de 1970 ou nos primeiros dias de 71, provavelmente em TEIXEIRA PINTO, portanto, quando ainda me encontrava algures por terras de MANSOA.

Agricultura

1. Cultura do Arroz.

Bolanha de Churobrique: Aproveitaram-se só 72kg. (Só a sementeira). Num Ano Bom poderia dar 6.000kg.
Arroz filipino – Foi dado à POP em todos os Reordenamentos
Vai começar a recolha da sementeira em Bajope – Capol a partir da 2.ª quinzena de Janeiro de 71. (reaver as sementes que o SAF deu para a sementeira). Depois seguir-se-ão os outros Reordenamentos.

2. Palmeiras.
Em Dezembro havia 170 sementes germinadas para irem para o viveiro. Depois sai para o lugar definitivo. Pretende-se com estas sementes aumentar os Palmares dos Reordenamentos

3. Árvores de Fruto e Outras Árvores.
Daqui a 2 meses já há novas Plantas para distribuir à população.

4. Granja de Teixeira Pinto.
A ideia do Regente Agrícola é que a Granja de Teixeira Pinto ficasse só com o Palmar. Abrir uma nova Granja, talvez em Calequisse ou Cajegute (depois de Bugulha->Fancate). Primeiro era preciso abrir uma estrada (eram precisos 1 D7 + 3 motosserras). O problema foi levantado em Fev70.

5. Granja de Calequisse.
Desenvolver ou a Granja de Fancate ou de Calequisse. Para desenvolver a de Calequisse, é o mesmo problema -> maquinaria (D7 + 3 motosserras).

6. Granja de Caió.
Só reservada a árvores de fruto. Desde que tivessem 1 tractor já poderiam começar os trabalhos.

7. Ensino à população de novas técnicas.

8. A verba para o ensino na Granja de Teixeira Pinto foi posta ao SAF. Já foi accionada?

9. Recuperação de Bolanhas.
Dar pelo menos 1 Ha.
A divisão ser feita de acordo com o escoamento das águas (-> obriga a que o Sr. Dias faça um estudo).

10. Reparação das cercas dos Reordenamentos (dizem que a população não colabora).

11. Palmar de Balombi. São precisas 3 motosserras + tractor.
Perguntar ao SAF:
verba para alimentação na Granja de Teixeira Pinto
3 motosserras
1 tractor
1 debulhadora-enfardadeira
1 autotanque
Pedir o maior número possível de novas Britadeiras
Pedir o maior número possível de Prensas para o óleo (a prensa pode ser acopulada à Britadeira)

12. Britadeira.
Para quebrar o quenoque. Falar com o Soldado José Carlos (do CAOP).
A população de BARÁ +

13. Palmar de PELUNDO.
O Palmar foi feito pelo Estado, pelos SAF. A exploração feita através dos SAF e em proveito da população do Pelundo.

Ressalta do rascunho, pois era escrito a lápis e esferográfica, que se tratou duma reunião para balanço da actividade desenvolvida no sector da actividade agrícola e no esboço duma programação para novas etapas a desenvolver, na zona de acção do BCaç 2905, pois todas aquelas povoações mencionadas pertenciam à área do Posto Administrativo cuja sede era TEIXEIRA PINTO e aos Regulados de: CHURO; COSTA DE BAIXO; CALEQUISSE; CAJEGUTE; BUGULHA; CAIÓ e PELUNDO.

Pelos vistos a cultura do arroz em CHUROBRIQUE (ponto 1) falhou. Teria sido bom procurar as causas, mas nada se diz.

Tinham sido criadas várias unidades para adaptação e demonstração de novas variedades de árvores de fruto e outras designadas por “GRANJA” e tentava-se criar ainda outras, para as quais seriam necessárias mais máquinas, incluindo Prensas para extracção do óleo de palma, e o que designavam por Britadeiras, para quebrar o quenoque. Note-se que para esta finalidade referem um soldado do CAOP, José Carlos. Seria o encarregado de trabalhar com as Britadeiras?

No ponto 11 refere-se o Palmar de BALOMBI, mas a grafia deve estar incorrecta, uma vez que julgo não existisse este nome, mas sim BALOMBE, a Sul da estrada TEIXEIRA PINTO – CALEQUISSE, mais próximo desta última e no Regulado de CATI.

Quando se fala num Sr. Dias, para fazer um estudo tendo em vista a divisão das bolanhas recuperadas, de acordo com o escoamento das águas, só se podem referir ao Regente Agrícola que, salvo erro, era o responsável pelo sector das bolanhas dos SAF (Serviços Agrícolas e Florestais da Guiné), que conheci depois no decorrer da minha actividade no CAOP 1.

Aproveito para juntar duas fotografias obtidas numa das muitas visitas que efectuei às Granjas.

Numa sobressaem várias Papaieiras, num dos talhões, que eram de variedade melhorada, para comparação e divulgação, tendo em vista a sua aceitação pela população. Na outra o pormenor do fruto duma palmeira de variedade melhorada em cultura numa das Granjas, para adaptação e demonstração da diferença, para melhor, relativamente às variedades nativas.

Todos as povoações mencionadas e as Granjas visitei-as mais do que uma vez, durante aqueles 8 meses em que percorri a região.

Jorge Picado

Papaieiras

Cacho de palmeira
__________

Nota de CV:

Vd. poste de 20 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4385: Estórias de Jorge Picado (5): A minha passagem pelo CAOP 1 - Teixeira Pinto (I Parte)