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sábado, 25 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24885: As nossas geografias emocionais (17): Empada: a Fonte Frondosa (1946): uma foto tirada à minha mulher, no dia 25 de dezembro de 1969, dia de Natal (Eduardo Moutinho Santos, ex-cap mil grad, cmdt, CCAÇ 2381, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70)



Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > 2011 > > A esposa do Eduardo Moutinho Santos, na Fonte Frondosa...que vem do tempo do governador-geral Sarmento Rodrigues... Vísivel no painel de azulejos a data: 1946. E pela foto vê-se que na época (1969). E sabemos que continuava a matar a sede aos viajantes em 2011 quando  Eduardo Moutinho e o Zé Teixeira a revisitaram em 2011, 65 anos depois da sua construção. 

Foto (e legenda): © Eduardo Moutinho Santos (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Eduardo Moutinho Santos, ex-alf mil,  CCAÇ 2366 (Jolmete e Quinhamel), e ex-cap mil graduado,  cmdt CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá e Empada) (1968/70); tem 26 referências no nosso blogue; juntamente com o Zé Teixeira, é o régulo da Tabanca de Matosinhos; profissionalmete é  advogado:

Data - 24 nov 2023, 18:54
Assunto - Fonte Frondosa, Empada

Luís Graça.

Que estejas bem.

Também tenho no meu Álbum de Guerra uma foto da Fonte Frondosa de Empada, ali tirada à minha mulher no dia 25 da Dezembro de 1969 - Dia de Natal. 

A Fonte tem a minha idade!!!

Aqui vai, caso queiras postá-la no Blogue.

Abraço

Eduardo Moutinho 
moutinhosantos-2044p@adv.oa.pt
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Nota do editor:

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24879: As nossas geografias emocionais (16): Empada: a Fonte Frondosa (1946), revisitada em 2011... e os amigos que lá deixámos, eu e o Eduardo Moutinho Santos (José Teixeira)



Foto nº 1A > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > 2011 > O Eduardo Moutinho Santos e o Zé Teixeira na Fonte Frondosa, inaugurada em 1946... Sessenta e cinco anos depois ainda funcionava e a lápide em azulejo ainda lá estava.


Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > 2011 > A visita obrigatória do Eduardo Moustinho Santos e o Zé Teixeira à Fonte Frondosa,


Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > 2011 > Outra perspetiva da bela fonte de Empada.


Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > 2011 > A janta à Fula, para alegria dos mais jovens e prazer dos mais velhos.


Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > 2011 > Moutinho Santos e o Braiama a saborear um bom momento de reencontro passados 41 anos.


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > 2011 > O último abraço do Braiama (já faleceu).


Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > 2011 > A alegria estampada no rosto que a câmara do meu filho colheu.


Foto nº 7 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > 2005> O Kebá vestido de cor rosa, o Braima e o Xico Allen (1950-2022)

Fotos (e legendas): © José Teixeira (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70; tem mais de 400 referências no blogue; régulo, juntamente com o Eduardo Moutinho Santos, da Tabanca de Matosinhos): 

Data - segunda, 30/10/2023, 12:07

Assunto - Fonte Frondosa

Luís e Carlos.
Bom dia.

A propósito das Fontes espalhadas pela Guiné (*), junto um artigo, para publicar se entender que vale a pena.

Fraterno abraço do Zé Teixeira



Fonte Frondosa, em Empada

por Zé Teixeira


Era o local onde se tentava “matar” todas as sedes.

Era a fonte mais linda de todas as fontes. Á água era fresca, límpida, inodora e não contava que trouxesse coliformes fecais ou outros que tais, mas se trouxesse a sede era tão grande que matava toda a bicharada.

Estava situada, num baixio, um pouco atrás da casa do Chefe de Posto, o tal que foi corrido (só não foi a tiro, porque apareceu o capitão), mas esteve quase. Ousara dar ordem de prisão a um pobre sofredor, o Kebá, que vira duas das suas mulheres e seus filhos serem apanhados pelo IN.

o Kebá  Uns tempos mais tarde, encheu-se de coragem e foi ao interior da mata tentar recuperá-los e estes negaram-se a regressar a Empada, voltando ele de mãos a abanar. Era muito estimado dentro do quartel, como auxiliar de enfermeiro e tradutor, mas recusava-se a vestir uma farda e combater, e nós compreendíamos as razões.

Pois o Kebá não tinha dinheiro para pagar o imposto de palhota, ou do pé descalço, como também se chamava, e foi detido. Como castigo tinha de ir buscar todos os dias vários barris de água à fonte Frondosa para uso na casa do Chefe de Posto e regar o seu frondoso jardim.

Quando os militares descobriram a situação em que se encontrava o Kebá, alguns, entre os quais, este que vos está a relatar a situação, pegaram na G3 e cercaram a casa do homem. Valeu-lhe o Eduardo Moutinho Santos, então a comandar a cmpanhia,  que, alertado, apareceu e acalmou as hostes, mas o Chefe de Posto seguiu no dia seguinte sob prisão para Bissau, por ordem do Governador Spínola, e Empada só ganhou, pois, o capitão foi nomeado Chefe de Posto e as mudanças para melhor bem-estar da população, começaram a notar-se.

Mas voltemos à Fonte Frondosa. Manhã cedo, as bajudas, recolhiam as roupas dos militares e dirigiam-se para a fonte, o tal lugar sagrado para “matar” todas as sedes. Os nossos rapazes, sentavam-se no alto da pequena colina com todos os sentidos em alerta máximo. As bajudas desvencilhavam-se das roupas que as impediam de se meterem na água, deixando o “deusificado” corpo à vista, para mergulharem as camisas, as cuecas, as calças, etc. e as baterem bem batidas nas rochas circundantes e assim tentarem lavar as nossas roupas tão carregadas de suor e outros detritos acumulados pelo uso. Apenas uma pequena tarja lhe cobria as partes púdicas. 

Entretinham-se numa “algarviada” que os mirones não entendiam, mas sentiam ser de gozo, pela aproximação e desejos libidinosos bem expressos nos olhares, posicionamento do corpo, e expressões verbais. Os olhos eram o espelho do estado de espírito e brilhavam ao apreciar o fruto proibido imanado daqueles jovens corpos de tez escura, bem torneados e de beleza infinita, e sonhavam… se sonhavam! Alguns ousavam aproximar-se para tentar um toque de magia, um apalpão, mas recebiam um sonoro “nega”, “nega memo” e eram afastados ao empurrão, para gáudio dos camaradas.

A água para o quartel era retirada da Fonte Frondosa e, eu mesmo, e tantos outros, antes de sairmos para o mato, sempre que havia tempo, íamos lá encher o cantil de água bem fresquinha. Para matar a sede, quantas vezes, me debrucei sobre a bica para aparar a água na concha da mão e a saborear com deleite!

Passados quarenta e um anos (2011), eu, os meus dois filhos e o Capitão voltamos à procura da água da Fonte Frondosa para matar a sede, reviver e recontar aos vindouros as nossas histórias, e que belas histórias!

Os tempo de guerra também tem bons momentos de bem-estar e alegria que são (ou devem ser) recordados com saudade e alegria.

Já não encontramos o Kebá, tinha falecido em 2007, mas ainda conseguimos dar um abraço ao Braima, com cerca de 90 anos. Era o último dos combatentes locais, e enfermeiro, do tempo da CCaç 2381 (1968/70).

José Teixeira (**)

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segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24847: Notas de leitura (1633): “A Guerra Que a História Quer Esquecer”, por Elidérico Viegas; Arandis Editora, Outubro de 2023 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Novembro de 2023:

Queridos amigos,
Colaborador desde o n.º 0 do jornal tavirense de nome Postal, li em número recente a publicação de um livro de um camarada nosso que fez comissão entre 1971 e 1973 em Empada e Bissau. Pedi-lhe o livro, foi célere a responder, fiz a recensão para Tavira e considero que esta tem todos os condimentos para chegar aos meus confrades. Elidérico Viegas é uma personalidade algarvia com o nome ligado à vida turística. Entendeu agora passar a escrito as suas memórias, elas seguem o curso que qualquer um de nós seguiu: assentou praça nas Caldas da Rainha, especialidade em Tavira, cabo miliciano colocado no RI3, em Beja, ingressa na Amadora na formação da CCAÇ 3373; viagem no Niassa, instrução de aperfeiçoamento operacional em Bolama, ida para Empada, quartel isolado só com saída para Bolama entre os rios Buba e Tombali. Registou 36 flagelações em Empada, sem consequências maiores. Certamente focado num público de não ex-combatentes, tece considerações sobre a população, descreve o quartel, as dependências administrativas, um quotidiano com lavadeiras, viaturas e mecânicos, a horta, ação psicológica, enfim, todos os serviços próprios de qualquer unidade, dá-nos conta dos patrulhamentos e da vida operacional em geral. Referencia os diferentes oficiais e sargentos, continua a guardar um ódio de estimação ao capitão. E depois a vida mais serena no Comando de Defesa de Bissau. Deplora a indiferença com que o sistema político trata os ex-combatentes. É este, em suma, o testemunho que nos entrega.

Um abraço do
Mário



Os equívocos e os paradoxos em torno da guerra colonial, uma História adventícia

Mário Beja Santos

Colaborador desde o n.º 0 do Postal, um jornal tavirense que tem décadas, fundado pelo meu amigo Henrique Dias Freire, tomei nota da publicação por um antigo combatente da Guiné de um seu livro relativo à sua comissão na Guiné, isto na edição de 3 de novembro passado. Teço agora comentários ao livro que ele amavelmente me enviou. Elidérico Viegas foi furriel-miliciano da CCAÇ 3373, Os Catedráticos, companhia independente, desembarcaram em Bissau em 7 de abril de 1971, foram diretos a Empada, no sul da colónia, entre os rios de Tombali e Buba.

Procede à apresentação do seu livro um artigo publicado no Postal com as suas reflexões. Confesso que não partilho uma boa parte das suas opiniões e explico porquê. Escreve que “O facto de não haver muita coisa escrita sobre esse período difícil da nossa história recente, e das obras conhecidas serem geralmente ficcionadas, incentivou-me a escrever este livro”

O que não corresponde à verdade, há centenas e centenas de livros sobre a guerra colonial, abarcando investigação histórica, ensaio, romance, novela, poesia, diários e memórias; os antigos combatentes movimentam-se ainda hoje à volta de reuniões anuais, são encontros por todo o país, aparecem antigos combatentes, filhos e netos; há blogues, entre os dedicado à Guiné, porventura o mais influente de todos os blogues de antigos combatentes, chama-se Luís Graça & Camaradas da Guiné, onde irei informar os leitores desta narrativa do Elidérico Viegas; além disso, a imprensa periódica e não periódica é atraída por depoimentos dos antigos combatentes, há mesmo publicações de delegações da Liga dos Combatentes onde eles conversam entre si, eu colaboro numa delas, O Combatente da Estrela, obviamente gente da Serra e arredores. E lembro que a guerra colonial é objeto de estudos universitários, e não só em Portugal.

Diz mais adiante no seu artigo que “É preciso que aqueles que combateram na guerra colonial escrevam as verdades sobre uma guerra que o poder político teima em ignorar, sobretudo os milicianos, aqueles que verdadeiramente estiveram na linha da frente dos combates na Guiné, Angola e Moçambique. Portugal não pode esquecer nem ver apagados 13 anos da nossa história.”

Nfão estão apagados estes 13 anos, estão profusamente documentados, obviamente que a questão ideológica da colonização/descolonização ainda separa muita gente quanto à profundidade das motivações do fim da guerra, o êxodo que se seguiu e o quadro horrível de execuções praticadas em novos países independentes.

Concordo com Elidérico Viegas que é nossa obrigação contribuir com o dever de memória, e ainda bem que ele se acometeu a escrever numa literatura memorial singela, tocante e afetiva, o que viveu na Guiné entre 1971 e 1973. Oxalá o seu relato “A Guerra Que a História Quer Esquecer”, Arandis Editora (arandiseditora@gmail.com), outubro de 2023, passe por muitas mãos, seja alvo de muitos encontros com antigos combatentes e até conversas em estabelecimentos de ensino. Porque a sua narrativa possui um chamamento universal, é um registo que qualquer um de nós, antigo combatente, pode gizar e adaptar à experiência vivida. No seu caso: recruta nas Caldas da Rainha, no curso de sargentos-milicianos, a descoberta de novos relacionamentos, a aspereza de tais aprendizagens, o juramento de bandeira, segue-se a instrução em Tavira, intercalam-se muitas lembranças da juventude, a promoção a cabo-miliciano, a colocação no quartel de Beja, a formação da CCAÇ 3373 no Regimento de Infantaria 1 na Amadora, o batismo da Companhia como “Os Catedráticos”, mais tardes Os Catedráticos de Empada, a viagem para a Guiné; ele conta que precedia a viagem a compra dos uniformes (“Comprei, em segunda mão, por pouco mais de 500 escudos, os uniformes que me haviam sido fornecidos aquando da minha incorporação nas Caldas da Rainha”), ala que se faz tarde, já está a bordo do Niassa, seguem-se as surpresas que reservam Bissau, os bafos quentes e tropicais; no dia seguinte, aparece o general Spínola e depois a viagem da Companhia para ir substituir os Leões de Empada. 

Sente-se tudo quanto vai escrever se destina fundamentalmente a um público não combatente, já que a generalidade das observações que faz sobre a Guiné são, de um modo geral, conhecidas pelos antigos combatentes.

Dentro deste contexto que tem um discurso universalizante, vê-se que o autor tem o afã em nos transmitir usos e costumes, um pouco da história da colónia, pretende que o leitor se sinta inserido naquele ambiente e conheça a gente do local onde ele penou, e por isso vai falar das bolanhas que rodeiam Empada, do Rio Grande de Buba, da fauna, das duas estações do ano, a caracterização do quartel de Empada, do posto administrativo e da escola primária, da companhia de Milícia ali existente, ficamos a saber que Empada se encontrava isolada e sem acesso a outros aquartelamentos, podia-se ir até Bolama de barco. 

Entramos na esfera do quotidiano, a importância da lavadeira (“As lavadeiras eram verdadeiros entrepostos comerciais, comercializavam de tudo um pouco – galinhas e ovos, entre outros produtos, que trocavam por conservas e Coca-Cola”), o abastecimento de água, a fonte Frondosa que tinha sido renovada em 1946, exercia esse papel vital; e havia o hastear e o arrear da bandeira, os cães, a horta, a enfermaria, o departamento de ação psicológica, o papel da Força Aérea, quem era quem dentro do quartel de Empada, desde o vague-metre, as transmissões, a secretaria, o capelão.

E para que o leitor não se esqueça que havia guerra, Empada conhecia muitas flagelações, o autor comenta: 

“Parece impossível não ter havido baixas nas mais de três dúzias de ataques que o inimigo levou a cabo durante o ano em que permanecemos em Empada. Pura sorte, digo eu.” 

Descreve a vida operacional e a organização dos pelotões, ficamos a saber dos seus ódios de estimação, sobretudo com o comandante da Companhia, hoje é comportamento raro, no início da literatura da guerra havia uso e costume de proceder a assassinatos de caráter, o tempo ensina-nos a desvalorizar estas nódoas negras do passado, e até se dá a circunstância de que estes homens não estimados têm família.

O grande cometimento militar em que estiveram envolvidos foi a Grande Emboscada, a força de centenas de guerrilheiros foi dizimada, entre os mortos encontrava-se o comissário político Quintino Gomes. Volta-se ao quotidiano, a vida da messe de sargentos, aos petiscos, as madrinhas de guerra. E de Empada vem-se para Bissau para o COMBIS (Comando de Defesa de Bissau), uma vida muito mais amena, com patrulhamentos guarda ao palácio, descreve-se a vida de Bissau e o regresso no Uíge. 

No final da sua narrativa observa que Portugal precisa de reconciliar-se com o passado mais recente da sua História, fala na sorte dos antigos combatentes e no imperativo de os dignificar.

Questiono-me muitas vezes se existe algum propósito deliberado em esquecer a guerra colonial e acabo sempre por concluir que o facto de ela estar associada ao fim do império e à criação de novos Estados independentes, todas as decisões políticas deliberadas em torno do seu reconhecimento, os conflitos violentíssimos que ocorreram em Angola e Moçambique e que levaram ao êxodo das populações, por exemplo, precisam da cura da História, a serenidade da interpretação dos factos. 

Em meio universitário, consegue-se chegar à proeza de se aprovar uma tese de doutoramento, num fenómeno que dá pelo nome de pós-colonialismo, de uma senhora expender apreciações grosseiras sobre o que se passou com a perseguição e execução de Comandos guineenses sem ter tido o mínimo de cuidado em basear-se nos documentos sobre o comportamento dos políticos e dos militares na sequência dos Acordos de Argel. Isto só para sublinhar que ainda há muita manipulação no tratamento dos factos históricos, inevitavelmente envenena as consciências. Procuro assim também responder às preocupações de Elidérico Viegas.
Fonte Frondosa, Empada, a dar água desde 1946
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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE NOVEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24839: Notas de leitura (1632): "No Limiar da Guerra", por José Manuel Barroca da Cunha; RARO, Tomar, 2021 (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 9 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24380: (In)citações (247): Já comíamos ostras em Empada, em junho de 1969: abertas em chapa quente com o lume por baixo e passando depois pelo picante e limão... (José Manuel Samouco, ex-fur mil, CCAÇ 2381, 1968/70)


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3

Guiné : Região de Quínara > Empada > Junho de 1969 > CCAÇ 2381, "Os Maiorais" (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70) >  Já então se comiam ostras em Empada, em Buba... Os militares da foto nº 3 estão a extrair as ostras em conglemarados ou cachos agarrados aos "paus" do tarrafe...

Fotos (e legenda): © José Manuel Samouco (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do José Manuel Samouco [ex-fur mil, CCAÇ 2381, "Os Maiorais" (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada , 1968/70); vive em Torres Vedras; é membro da nossa Tabanca Grande desde 4 de abril de 2006]

Data - 8 jun 2023 16:24 
 
Assunto . Ainda as ostras (*)

Boa tarde,  Luís

Quando se fala de ostras até parece que sou dependente!

Resolvi escrever um pequeno texto, recordando coisas boas da Guiné.

Como é normal só publicam se entenderem, o mesmo com as fotos de Empada.

Um abraço, 
J. M. Samouco


Ainda as Ostras ! Empada, Junho de 1969 (**)

Finalmente os “Maiorais” reunem-se depois de praticamente 12 meses espalhados por onde havia guerra.. Não que em Empada não houvesse guerra. Mas agora com a Companhia reunida,  tinhamos a sensação de estar ainda mais fortes.

Alguém, entretanto regressado falou em ostras e como se devem comer e como as arranjar. Em Bissau são abertas em água quente como se fosse berbigão. e ficavam muito bem. Mas, boas, boas,  são abertas em chapas quentes com o lume por baixo e passando depois pelo picante e limão.

Foi como uma novidade que veio para ficar. Praticamente todas as semanas começaram a chegar em doses tais, que nem entravam na messe dos Sargentos. Numa das fotos que envio até o chefe de posto de Empada  (foto nº 1) veio sentar-se junto de nós.

Em 2015 voltei à Guiné, agora Guiné-Bissau, com camaradas da Tabanca de Matosinhos e até parece que as ostras estavam à minha espera. Foi um matar de saudades das ostras e ver calmamente a Guiné por onde tinhamos andado de G3.

Em 2017 voltei às ostras. Quinhamel esperava por mim.. Que maravilha.. A factura não engana. 4 pessoas :

7 minis, 3 sumos e 4 doses de ostras = 284,000 CFA (0,432 euros)

1 euro = 657,26 Franco CFA (BCEAO) em 14 março de 2017.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 7 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - 24376: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (36): As ostras do nosso (des)contentamento (Hélder Sousa / Luís Graça / José João Domingos / Valdemar Queiroz)

domingo, 30 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24269: E as nossas palmas vão para ... (23): Inês Allen, hoje nossa tabanqueira nº 875: Devolveu a Empada, em fevereiro de 2023, a efígie de "Os Metralhas", divisa da CCAÇ 3566 (1972/74), e nome do clube de futebol local, dando cumprimento à última vontade do pai, Xico Allen (1950-2022)




Guiné-Bissau  > Região de Quínara > Empada > 2005 > O emblema ou efígie da CCAÇ 3566, "Os Metralhas", uma peça em argila que foi encontrada pelo Xico Allen a servir de "tapete" ou "soleira" à casa do administrador local... Fotos do álbum do José Teixeira, que acompanhou o Xico Allen nessa viagem.

Foto (e legenda): © José Teixeira  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem do José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70)

Data . quinta, 27/04, 15:22 (há 1 dia)
Assunto -  Os Metralhas

Boa tarde Luís

Junto as fotos que tirei em 2005 em Empada com a pedra símbolo dos "Metralhas," que estava a fazer de tapete no acesso à porta da casa do Administrador de Empada. 

O Xico Allen foi cumprimentá-lo e descobriu a pedra e a sua função. Ficou muito aborrecido. e demonstrou o seu descontentamento, pegando na pedra e trazendo-a para o Saltinho. Dois dias depois embarcámos no avião de regresso e a pedra veio conosco.

Quando, no ano passado,  soube que tinha sido criado o Grupo de Futebol "Os Metralhas de Empada" logo se dispôs a ir lá levar a pedra para emblema do clube. Tinha combinado ir com o Silvério Lobo. Infelizmente adoeceu e, ainda antes de morrer,  encarregou a Inês de cumprir a sua vontade.

De recordar que os "Metralhas", a CCAÇ 3566, foram os últimos militares portugueses que estiveram em Empada.

Um xi coração para ti e para a Alice.




2. Resumo da viagem,  à Guiné-Bissau, da Inês Allen, acompanhada do Silvério Lobo (e mais alguns antigos combatentes que se lhes juntaram), em fevereiro de 2023; 

Segundo uma notícia da Agência Lusa, de 14 de fevereiro de 2023, que foi publicada nos jornais (e nomeadamente no "Observador", mas também da Rádio Voz da Guiné, no dia seguinte, no Facebook), "a portuguesa Inês Allen Pereira cumpriu a vontade do pai e entregou em Empada, no sul da Guiné-Bissau, o distintivo da companhia da tropa colonial portuguesa “Os Metralhas” a um clube de futebol com o mesmo nome", que havia sido criado em junho de 2021.

É sabido que o nosso Xico Allen, depois de reformado (era bancário), tornou-se uma "viajante compulsivo", tendo visitado a Guiné-Bissau por diversas ocasiões.  Numa delas, em 2005, e conforme relato acima do nosso camarada Zé Teixeira, encontrou em Empada o emblema ou a efígie da sua antiga companhia, a CCAÇ 3566, cuja divisa era justamente "Os Metralhas”,  

"Nostálgico, Francisco pegou naquele símbolo circular com cerca 50 centímetros de diâmetro, que levou para Portugal." - acrescenta a peça da Agència Lusa - com a ideia de o restaurar. Era uma peça feita de argila, pesando cerca de 19 quilos.

"A ideia, contou à Lusa em Bissau a filha Inês Allen Pereira, era restaurar aquela relíquia feita de argila da Guiné e um dia devolvê-la a Empada. Em outubro passado, quando Francisco tinha tudo planeado para trazer de volta o símbolo de “Os Metralhas”, acabou por morrer de doença".

Conhecedora da vontade do pai, a Inès decidiu viajar até Empada:

“Ele tinha muito orgulho porque soube que há muito pouco tempo tinha sido criado o clube de futebol “Os Metralhas” em Empada e estava a correr muito bem e que tinham subido de divisão”, explicou à Lusa Inês Pereira.

Francisco “tinha muito orgulho” pelo facto de em Empada terem dado, ao clube de futebol local, o nome da divisa da sua companhia, o tempo da guerra colonial, a CCAÇ 3566 (Empada e Catió, 1972/74).

Tão cedo Inês não se vai esquecer da “grande receção” que teve na vila onde o pai foi militar quando no passado domingo, dia 12 de fevereiro, fez 12 horas de viagem entre Bissau e Empada para entregar o símbolo de “Os Metralhas”, com cerca de 19 quilogramas.

(...)  "Dauda Cassamá, vice-presidente do Empada Futebol Clube “Os Metralhas”, criado há dois anos e que subiu da terceira para a segunda divisão, explicou à Lusa que o símbolo devolvido por Inês Pereira vai ser colocado numa vitrina no hall de entrada da sede do clube" (...).

O prõximo desafio é fazer "cumprir um desejo dos cidadãos de Empada que querem batizar o campo de futebol com o nome Francisco Allen Pereira"

O acontecimento teve honras de conferência de imprensa Bissau, no dia 14 de fevereiro, em que a nossa Inês foi a "vedeta". E, merece, naturalmente as nossas palmas pelo seu gesto. (*).  



  Guiné > região de Quínara > Empada > Futebol Clube "Os Metralhas de Empada" > Fevereiro de 2023
Leiria > Convívio anual da CCAÇ 1790 > "Mais um convívio muito bem passado! Obrigada à CCAC 1790, 1967/69, por nos receberem e também pelas 150 'empadas' angariadas hoje, por amizade e pela compra de livros, para a concretização do 'Campo de Futebol Xico Allen' ". A Inês Allen aqui com  Silvério Ribeiro Lobo e Liliana Miguel Carvalho Dantas em Leiria.

Fotos: Cortesia da página do facebook da Inès Allen (2023)

3. Ficha da unidade > Companhia de Caçadores nº  3566, "Os Metralhas" (Empada e Catió, 1972/74)

Identificação:  CCaç 3566
Unidade Mob: BC 10 - Chaves
Cmdt: Cap Mil Inf João Nuno Rocheta Guerreiro Rua | Cap Inf Herberto Amaro Vieira Nascimento | Cap Mil Inf Pedro Manuel Vilaça Ferreira de Castro
Divisa: "Os Metralhas"
Partida: Embarque em 23Mar72; desembarque em 23Mar72 | Regresso: Embarque em 18Jun74

Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO, de 27Mar72 a 22Abr72, no CIM, em Bolama, seguiu em 24Mai72, para Empada, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCaç 3373.

Em 17Mai72, assumiu a responsabilidade do subsector de Empada, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 3852. 

Em 22Jan73, por remodelação do dispositivo, o subsector passou à dependência do BCaç 4510/72. 

Em 03 e  21Abr73, dois pelotões foram deslocados para Catió, em reforço da guarnição
local, onde se mantiveram até 23Jan74.

Em 25Fev73, a sua zona de acções foi alargada às áreas da península da Pobreza e Cubisseco de Baixo, por reformulação do dispositivo, incrementando então a sua actividade ofensiva, com realce para uma acção imediata sobre Iangué, em 190ut73, com bons resultados.

Em 14Jun74, foi rendida no subsector de Empada pela CCaç 4944/73, recolhendo seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações -  Tem História da Unidade (Caixa n.º 116 - 2.ª Div/4ª  Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 412.
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 19 de dezembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23896: E as nossas palmas vão para... (21): o Humberto Reis, que hoje faz anos e é um dos nossos grandes fotógrafos, para além de colaborador permanente e "cartógrafo-mor" do nosso blogue

quinta-feira, 27 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24259: Tabanca Grande (548): Inês Allen, senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar n.º 875... Voltou a Empada, 17 anos depois, para cumprir a última vontade do pai, Xico Allen, entregar ao clube de futebol local, "Os Metralhas", o emblema da divisa da CCAÇ 3566 (Empada e Catió, 1972/74)


Inês Allen: de acordo com a informação da sua página do Facebook, (i) é natural do Porto; (ii) vive em Vila Nova de Gaia; (iii) tem uma licenciatura em Design do Produto na ESAD Matosinhos (1998-2004); (iv) atualmente é  Freelancer, Visual Merchandiser + Project Coordinator; (v) em fevereiro de 2023 viajou até à Guiné-Bissau para cumprir uma última vontade do pai. Foto: cortesia da sua página do Facebook.



Brasil > Cidade de Praia Grande > Estado de São Paulo > 2014 > Três "Metralhas": da esquerda para a direita, o António Chaves, o Joaquim Pinheiro da Silva (o "Brasuca") e o Xico Allen, de seu nome completo Francisco Jorge Allen Gomes Pereira (1950-2022).  O Joaquim e o Xico são membros da Tabanca Grande e eram grandes amigos.

Foto (e legenda): © Joaquim Pinheiro da Silva  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Viagem Porto -  Bissau > Abril de 2006 

O   organizador desta viagem por terra, em abril de 2006, foi o Xico Allen (ex-1.º cabo at inf, CCAÇ 3566, "Os Metralhas", Empada e Catió, 1972/74). Levou o jipe, que lá ficaria para futuras viagens. O grupo regressaria depois de avião. Os "aventureiros" foram, além do Xico, e da sua filha Inês, o Hugo Costa (filho do Albano Costa), e ainda o A. Marques Lopes, o Manuel Costa e o Armindo Pereira. 
 
O Xico Allen, nosso grã-tabanqueiro desde 2006 (entrou pela mão do Albano Costa), foi um dos primeiros de nós, antigos combatentes, a voltar à Guiné, depois da independência. E nos últimos anos chegou mesmo a lá viver. De acordo com as memórias da Zélia Neno, também nossa tabanqueira (e infelizmente doente), o casal Allen visitou a Guiné do pós-guerra, em abril de 1992 (eles os dois, mais um outro casal). Voltaram lá em 1994 (desta vez foram 3 casais) e conseguiram ir a Empada, onde o Xico tinha feito a sua comissão.

Uma terceira viagem foi em 1996 e uma quarta em 1998. Temos vários fotos dessa viagem, em que o Xico (e a Zélia) foram inclusive a Madina do Boé. Depois disso, o Xico passou a lá ir regularmente. Perdemos as contas que fez essa viagem,  por terra e por ar...

Por sua vez,o Albano Costa, pai do Hugo Costa e primo do Manuel Costa, tinha lá estado em novembro de 2000 (incluindo o Armindo Pereira, o Manuel Casimiro, o Manuel Costa e mais uma vez o Xico Allen). Foi a sua primeira e única vez. Fotógrafo profissional, fez uma excelente cobertura fotográfica dessa viagem, ele e o filho, Hugo Costa, percorrendo a Guiné de lés a lés, incluindo uma ida a Guidaje, onde ele fizera a sua comissão. (Foi 1.º cabo at inf, CCAÇ 4150, Guidaje, Bigene, Binta, 1973/74).

Fotos (e legenda): © Albano Costa / Hugo Costa  (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


A Inès Allen com o "boneco"  
de "Os Metralhas",  exibido no
convívio anual do pessoal,
em Fátima, em 22/4/2023
1. A Inês Allen, filha do Xico Allen (1950-2022) aceitou, "com muito gosto",  o nosso convite para integrar a Tabanca Grande (*), preenchendo assim o vazio deixado pela morte do seu pai e dando continuidade aos seus desejos e sonhos para a Guiné, um deles era ajudar a terra, Empada, onde ele esteve, em comissão de serviço militar (há menos de dois anos foi criado o Futebol Clube de Empada "Os Metralhas", em homenagem aos antigos militares portugueses da CCAÇ 3566, Empada e Catió, 1972/74).

A Inês entra para a Tabanca Grande de pleno direito: é um lindo exemplo para outros filhos e netos de camaradas nossos que já nos deixaram ou não tem a mesma facilidade de comunicar connosco pelas redes sociais. E, como gostamos de dizer, os filhos dos nossos camaradas nossos filhos são...

Passa a ser a nossa tabanqueira n.º 875 (**).  E esperamos que ela, por email ou no seu Facebook nos vá dando conta do andamento do seu projeto em Empada.


Muito rapidamente, diremos só que, em fevereiro passado, a Inês, acompanhada pelo  nosso camarada Silvério Lobo,  de Matosinhos,  voltou à Guiné-Bissau, 17 anos depois, para cumprir a última vontade do Xico, que era entregar, em Empada, o distintivo da CCAÇ 3566, um "relíquia", feita em barro, que ele "redescobriu" em 2005: estava a fazer de degrau para acesso à escada de um edifício administrativo... 

O Xico trouxe-a para Portugal, com a intenção de a restaurar... A doença, e depois a morte, surpreendeu-o antes de ele poder concretizar o seu sonho de devolver, à origem, o símbolo de "Os Metralhas", quando ele soube da existência do clube de futebol local, que tinha o nome da divisa da sua companhia, a última deixar Empada antes da independência... 

"Os Metralhas" subiram, entretanto,  de divisão, da 3ª para a 2ª, mas, como não tem infraestruturas desportivas adequadas, para se manterem na 2ª divisão, a subida não foi homologada...

O emblema  de "Os Metralhas”, com cerca de 19 quilogramas, foi entregue em Empada num domingo,  dia 12 de fevereiro de 2023, depois de uma viagem de 12 horas entre Bissau e Empada.  A Inês teve uma receção emocionante e inesquecível.  A população local quer dar ao campo de futebol local o nome do Xico Allen. Contaremos essa história em próximo poste e publicaremos o "achado arqueológico" que o Xico encontrou em 2005 e que o Zé Teixeira fotografou.

(**) Último poste da série >  4 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24196: Tabanca Grande (547): Rogério Paupério, ex-1.º Cabo Escriturário, CCAV 3404 / BCAV 3854 (Cabuca, 1971/73). Natural de Valongo, vive atualmenmte em Vila Nova de Gaia; passa a ser o membro n.º 874 da Tabanca Grande.

segunda-feira, 24 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24247: Facebook...ando (26): Homenagem ao Xico Allen (1950-2022): a filha Inês, em Fátima, no passado sábado, no convívio anual da CCAÇ 3566, "Os Metralhas" (Empada e Catió, 1972-74)


A Inês Allen, filha do saudoso Xico Allen  (1950-2022) com um cartaz com o "boneco" dos "Metralhas", a CCAÇ 3566 (Empada e Catió, 1972/74). Foto: Cortesia da página do Facebook da Inès Allen (2023).





O Francisco Allen, mais conhecido por Xico Allen (1950-2022), e também por Xico de Empada, ex-sold cond auto, da CCAÇ 3566, "Os Metralhas" (Empada e Catió, 1972/74), era um histórico da Tabanca Grande, para onde entrou, em princípios de 2006, pela mão do seu amigo e vizinho Albano Costa. Bancário reformado, vivia em Vila Nova de Gaia.
 

1. Poste do nosso camarada Antero Santos [ex-fur ml at inf MA, CCAÇ 3566 e CCAÇ 18  (Empada e Aldeia Formosa, 1972/74), publicado ontem no Facebook da Tabanca Grande:

No sábado, dia 22, em Fátima, realizou-se mais um convívio da CCAÇ 3566, Os Metralhas de Empada".

Foi o primeiro convívio em que não esteve presente fisicamente o Xico Allen, o organizador de sempre destes convívios embora estivesse presente no espírito de todos os presentes.

Contámos ontem com a presença da filha do Xico Allen, a Inês, que nos deu conta de várias coisas e especialmente do projecto que já está em marcha para atribuir o nome do Xico Allen ao campo de futebol que o clube de futebol de Empada espera conseguir construir de forma a perpetuar a memória deste nosso camarada, o combatente que garantidamente visitou Empada depois do nosso regresso em 24 de Junho de 1974.

PALAVRAS DA INÊS ALLEN:

"Conheço-vos a 'todos' desde criança, mas hoje foi a primeira vez que estive fisicamente presente no vosso encontro anual.

"O Xico descobriu muitos onde ,'Judas perdeu as bota', visitou alguns no hospital e ia pôr flores à campa de tantos outros…

"Sem internet ou GPS comprometeu-se a dedicar horas e kms a encontrar os cerca de 150 Metralhas espalhados por Portugal e além fronteiras!

"Na estrada, por onde passava, fazia questão de telefonar… fosse para almoçar ou tomar um café!

"Hoje foi difícil…representá-lo foi uma grande responsabilidade, mas… a toda a família Metralhas de Empada - Guiné muito obrigada pelo vosso incrível carinho e apoio.

"O orgulho que me fizeram sentir do meu pai… não cabe no peito.

"Muito obrigada também pelas 375 'empadas' angariadas hoje, por amizade e pela compra de livros, para a concretização do  Csampo de Futebol Xico Allen”.


https://www.facebook.com/15492.../posts/10223198459100347/lp


2. Seleção de alguns comentários a este poste do Facebook:

(i) Manuel Galvão

(...) "Pois eu até fui um dos mais próximos companheiros do nosso querido Xico.  Por vezes tivemos diferenças na forma de viver,mas ele foi realmente um marco da companhia 'Os Metralhas'  do após-Guiné, aonde por meios diversos tentou procurar sempre este e aquele e a mim foi num belo
 de verão, em Agosto, no Gerês: eu pelo meu lado e ele com os seus,  ao passarmos uns pelos outros,uns metros após,ele gritou: 'Galvão, Galvão!'  e eu olhei para trás e deparei-me então com o Xico e os seus todos e eu claro logo o reconheci e então foi logo ali uma emoção de encontro uns oito anos após fim do serviço militar.

Depois, e como eu era emigrante,  continuei a minha vida  e fui o perdendo de novo de vista. Num belo ano de primavera,  ele foi a França ( a Paris, penso que em trabalho,  e lá de seguida ele me voltou a procurar de novo via telefone,aonde telefonou a todos Galvões da lista, até encontrar aquele que era eu e, claro, a partir daí ficámos muito ligados e apenas estávamos  desligados por razões da vida de cada um. Vivemos então muitas e belas coisas." (,,,)

(ii) Manuel Rocha

Eu não pertenço aos "Metralhas", mas permitam que, depois de ler o comovente texto anoto a minha admiração pela vossa amizade. Felicidades para vocês.

(...) Muito obrigado!!... É por estas e outras experiências, que sou adepto do lema.... "Que não sejam outros  a contar a nossa história. (...)

(iv) Manuel Mendes-Ponte

Excelente texto, gostei daquela citação, "conheço-os a todos", faz me lembrar o dia em que Spinola fazia o discurso de boas vindas às tropas chegadas da metrópole, aconteceu comigo em Dezembro 72 no Cumeré.

(v) Florinda Sousa

Conheço esta menina, Inês Allen,  desde que nasceu. Conheço o Xico desde 1974, depois do fim da sua comissão na Guiné , por intermédio da que mais tarde foi sua esposa e mãe de seus filhos a minha querida amiga Zélia Neno .

O Xico deixou os genes da aventura, do empreendedorismo e da vontade de conviver na sua querida filha Inês que tão bem tem dado continuidade aos seus desejos.

É com muita emoção que vou seguindo os seus objectivos - o ansiado Campo de Futebol.
Saudações para todos os seus "Amigos da Tropa".~

Na minha única mas emocionante viagem à Guiné, em 2009, foi o Chico o guia e impulsionador. Tive com ele convivências inesquecíveis. Louvo a filha por dar continuidade à obra solidária do pai.

(vii) Teixeira Jteix

Os 'Metralhas' não mereciam a fatalidade da perda do seu maior impulsionador, pós- "guerra", felizmente que tem na sua filha Inês a continuidade da sua obra. Parabéns!... Fazia parte do "Bando do Café Progresso" e acompanhou-nos sempre que possível. Descansa em paz amigo,  Xico!...


 
Justa homenagem, Inês. O Xico Allen, teu pai, continua connosco como grande amigo e camarada da Guiné!...Vou fazer um poste no blogue.

É uma "mulher de armas", a nossa Inês, que acompanhou o pai, Xico Allen e um grupo de antigos combatentes, numa das suas muitas idas à Guiné-Bissau, em 2006... Aqui em Jugudul, em Abril de 2006, na casa do empresário Manuel Simões (1941-2014). 

Olha, Inês, gostávamos que aceitasses o nosso convite para te sentares, aqui à sombra do nosso fraterno e simbólico poilão da Tabanca Grande, ajudando-nos a matar as saudades que sentimos pela falta do Xico Allen, um dos históricos do nosso blogue, tal como a tua mãe Zélia Neno

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Nota do editor:

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23965: Notas de leitura (1541): "Noites de Mejo", por Luís Cadete, comandante da CCAÇ 1591; edição de autor, com produção da Âncora Editora, 2022 (3) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Dezembro de 2022:

Queridos amigos,
Aqui se põe termo a estas histórias e memórias com que Luís Cadete nos mimoseou, tudo decorreu naqueles vastos pontos da região Sul por onde ele terá andarilhado, diz ter passado 8 meses e meio em Mejo, todo o aliciante desta narrativa passa pelo rigor com que ele apresenta os diferentes locais, o modo como entremeia risos e lágrimas, dores e alegrias, felizes acasos e momentos funestos. Excelente contador, lamentarei se este livro não vier a conhecer uma reedição e divulgação que permita, a quem gosta de boa leitura que a literatura de guerra permite, esta oferenda de memórias que vêm enriquecer o que há de melhor na literatura memorial da Guiné.

Um abraço do
Mário



Muita atenção, há aqui páginas que passarão à posteridade, temos Mejo na literatura! (3)

Mário Beja Santos

Coronel Luís Carlos Loureiro Cadete, ontem e hoje

A obra intitula-se "Noites de Mejo", o autor assina Luís Cadete, viremos a saber que de seu nome completo é Luís Carlos Loureiro Cadete, foi comandante da CCAÇ 1591, a quem também dedicou o livro, conjuntamente com os seus soldados guineenses. Escreveu estas histórias em 2016 e publicou-as em 2022, edição de autor com produção da Âncora Editora. Deu algum trabalho chegar ao livro, que não está no circuito comercial, o que é profundamente de lamentar, há aqui páginas admiráveis, não faltam tiradas bem urdidas de tragicomédia, revelando ternuras da aculturação, a vida dura num dos pontos mais ásperos que a guerra da Guiné ofereceu aos militares portugueses. Como já se referiu, Luís Cadete dá-nos quadros muito precisos sobre a situação dos destacamentos, fala dos militares e dos civis, veja-se o que diz de Gadamael Porto, poderá estar relacionado este episódio com a ida da sua Companhia para Mejo. Fala na implantação de Gadamael Porto à beira de um dos braços do rio Cacine, tão à beira estava que, quando a maré subia as águas entravam, pacifica e parcialmente pelo destacamento adentro, de tal modo que as barcaças encalhavam dentro do recinto. Foram muito bem recebidos, houve direito a almoço, e lá se conta a história de que apareceu um novo comandante de Companhia que pouco tempo depois de ter chegado verificou um dado insólito: faltavam 177 capacetes de aço modelo 940, rebuscou-se a papelada, ficou-se a saber que era um artigo que fazia parte da carga da primeira Companhia que ali assentara arraiais nos idos de 1963. Consultou-se Bissau, não havia dúvidas, a Companhia tinha os capacetes em carga e por eles teria de responder quando terminasse a comissão. Andou-se à procura da melhor solução, talvez um auto de ruína prematura alegando que tinham sido roídos pelo baga-baga. Assim se procedeu, o comandante militar despachou: “Concordo com o proposto. A Companhia elabora o respetivo auto de abate.”

Mudemos de localidade, vamos agora às colunas de reabastecimento a Madina de Boé, do Gabu até à transposição do Corubal eram 60 quilómetros de mais estrada, a transposição do rio era um quebra-cabeças. “A cerca de 5 quilómetros do Ché-Ché a estrada bifurca-se: para a esquerda segue a picada para Béli, cerca de 40 quilómetros de poeira e buracos; para a direita, segue a estrada para Madina a mais de 25 quilómetros de distância. Madina de Boé era nessa altura uma tabanca reduzida à sua expressão mais simples, dominada a norte, Leste e Oeste – a não mais de 300/400 metros da tabanca – por duas linhas de alturas com cerca de 112 metros de altitude e cerca de 1500 de comprimento no sentido dos meridianos. A Sul, afastada mais ou menos 1000 metros, fica uma outra linha de alturas com cerca de 171 metros de altitude e cerca de 2600 metros de extensão, correndo no sentido Leste-Oeste e 1300 no sentido Norte-Sul que, qual triângulo isósceles, dá pelo pomposo nome de Dongol Dandum, de topo plano, careca, amplo e juncado de gravilha. Com a fronteira a pouco mais de 8 quilómetros, em linha reta, Madina passou a ser flagelada e atacada quase diariamente – quando não sucedia sê-lo várias vezes por dia – e, do alto das colinas que a enquadravam, o inimigo fazia tiro ao alvo, segundo se dizia".

Também não esquece de contar aqueles achados ditados pela boa sorte, caso daquela operação lá para os lados de Empada, um soldado ao aliviar a bexiga, reparou em algo que brilhava por baixo da cobertura. Meteu a mão àquilo que brilhava, apareceu-lhe uma espingarda AK, chamou os camaradas, tinha sido descoberto um depósito de armamento, dali saíram espingardas, metralhadoras, pistolas, minas e granadas de mão. Não esconde que terá sido um erro não se ter ocupado Salancaur, decisão tomada por Arnaldo Schulz, depois da ocupação de Mejo, aquele ponto era uma pedra no sapato das nossas tropas, e ele explica o porquê:
“Com cerca 400 metros no sentido Este-Oeste e o topo careca em forma de tampo de mesa, ligeiramente inclinado para Leste, Salancaur dominava uma vasta área em redor, nomeadamente o corredor de Guileje. É óbvio que a ocupação de Salancaur não impediria, em definitivo, as infiltrações do PAIGC, mas permitiria um melhor controlo da zona e forçaria o Inimigo a diligenciar itinerário alternativo. De encostas íngremes, exceto na ponta Leste, inçadas de matagal e de enormes poilões de tronco pregueado que davam proteção a ambos os contendores, Salancaur obrigava a nossas tropas a atacar a subir, coisa pouco agradável e que conferia vantagem manifesta às gentes do PAIGC.”

Tenho vindo a desenvolver estas pequenas histórias de Luís Cadete por as considerar muitíssimo bem elaboradas, por iluminarem a atividade militar desenvolvida nesta região Sul entre 1966 e 1968, tempos de Mejo, de Sangonhá e de Cameconde, posições que Spínola deliberou abandonar. Histórias de afetos, de dramas de guerra onde não falta a mina bailarina, o fornecimento de peixe e carne por expeditos nativos na pesca e na caça, as penosidades do abastecimento, havia que comer sem remissão o pãozinho com gorgulho; é manifestamente crítico com o abandono de certas posições, descreve a importância de Contabane, que depois de um ataque devastador, foi abandonada. As histórias multiplicam-se, andaremos entre Fulacunda-Buba-Catió, Aldeia Formosa, de Guileje a Gadamael, tudo enroupado com apreciações nem sempre positivas à burocracia militar, há notas soltas sobre obsessões de gente que só bebia água engarrafada, infidelidades conjugais, porventura com caráter autobiográfico será mencionada a aventura do cultivo de abacaxis que não surtiu efeito porque as cabras encontraram ali alimento. Sempre dentro desta linha que houve abandono de posições que se tornaram verdadeiras vitórias militares do PAIGC, volta-se a falar em Madina do Boé, e conta-se a história que havia para lá um corneteiro destemido que se punha em campo aberto a executar o toque de silêncio.

A última história que nos presenteia Luís Cadete é seguramente fidedigna, passou-se em Mejo e em 1966. Ouviu-se roncar motor de helicóptero, voava a Sul da estrada Guileje-Bedanda, notificou-se superiormente, e meses depois apareceu um outro helicóptero e ali aterrou, o piloto desfez-se em desculpas, confundira aquela pista com a de Boke. “Comunicado o facto superiormente, com o grau de prioridade máxima que a situação aconselhava, foi a Companhia informada de que a FAP iria tomar conta da situação. E cerca de quinze minutos depois havia dois T-6 sobre a pista e pouco depois um helicóptero.” Era um Antonov An-2, soviético. O aparelho levantou voo escoltado pelos T-6 e terá seguido para Bissalanca. Lá na Companhia não se soube mais nada, abateu-se um manto de silêncio. “Uma aeronave estrangeira, oriunda de um país apoiantes ostensivo do PAIGC, sobrevoara parte considerável do território português em guerra e dera-se ao desplante de nele aterrar sem que ninguém o referenciasse nem a FAP o intercetasse. E isto em pleno dia, com excelentes condições atmosféricas e não menos excelentes e extensa visibilidade!”

Insista-se que se trata de leitura imperdível.

Guileje, 1973
Numa vala no quartel de Guileje, CCAV 8350 ‘Os Piratas de Guileje’, imagem retirado do Correio da Manhã, com a devida vénia
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Notas do editor:

Postes anteriores de:

26 DE DEZEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23917: Notas de leitura (1536): "Noites de Mejo", por Luís Cadete, comandante da CCAÇ 1591; edição de autor, com produção da Âncora Editora, 2022 (1) (Mário Beja Santos)

2 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P23938: Notas de leitura (1539): "Noites de Mejo", por Luís Cadete, comandante da CCAÇ 1591; edição de autor, com produção da Âncora Editora, 2022 (2) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 6 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P23956: Notas de leitura (1540): "O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume I: Eclosão e Escalada (1961-1966)", por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2022 (11) (Mário Beja Santos)