Mostrar mensagens com a etiqueta Dossiê Os Libaneses. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Dossiê Os Libaneses. Mostrar todas as mensagens

domingo, 25 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14184: Dossiê Os Libaneses, de ontem (e de hoje), na Guiné-Bissau (8): Reencontrei o Michel Ajouz, de Bissorã, perto de Monte Real, cinco a seis anos depois, por volta de 1971/72... Ele andava a fazer termas, e eu na minha vida de delegado de propaganda médica... (Rogério Freire, ex-alf mil art, CART 1525, Bissorã, 1966/67)

1. Comentário de Rogério Freire (ex-alf mil art, minas e armadilhas, CART 1525, Bissorã, 1966/67) (*)

Caro Luís:

Vi a referência ao Michel Ajouz e ao meu nome e não posso deixar de contar uma história do "arco da velha".

Depois de regressar da Guiné, Bissorã, em finais de 1967, iniciei a minha atividade profissional como Delegado de Informação Médica (Propaganda Médica,  à moda antiga).

Uma das minhas zonas de trabalho era a região de Leiria. Num belo dia, creio que de 1971 ou 72, ao sair de Monte Real através do pinhal de Leiria a caminho da Marinha Grande, viajando a 80/90 km à hora, passo por um homem só,  que caminhava em direção a Monte Real e veio-me à memória o Sr. Michel Ajouz.

Fiquei de tal maneira incomodado com a visão que, passados uns bons 5 a 6 Km,  decidi voltar atrás e,  surpresa das surpresas, era mesmo... o Michel Ajouz!... Em pleno Pinhal de Leiria,  a fazer o seu passeio matinal.
Anúncio da casa comercial de Michel Ajouz, 1956 (*)

Foi uma grande alegria, ele lembrava-se perfeitamente de mim e da CART 1525 bem como dos outros alferes, o Rui, o Oliveira e o Silva bem como do Capitão Mourão [ Jorge Manuel Piçarra Mourão,]  que era ocasionalmente seu parceiro de bridge.

Fiquei a saber na altura que vinha às Termas de Monte Real à procura de alívio para as suas maleitas e depois de um grande abraço nos separámos.

Foi um dqueles acasos ... em pleno Pinhal de Leiria quem me diiria vir-me a encontrar com o Michel Ajouz, de Bissorã,  5 a 6 anos depois? (**)

E como dizia o nosso Pessa ..." E esta,  hem???!!!". 

(**)  22 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13639: Dossiê Os Libaneses, de ontem (e de hoje), na Guiné-Bissau (7): Vermeer teria gostado de pintar as libanesas de olhos verdes... (Valdemar Queiroz, ex fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13639: Dossiê Os Libaneses, de ontem (e de hoje), na Guiné-Bissau (7): Vermeer teria gostado de pintar as libanesas de olhos verdes... (Valdemar Queiroz, ex fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)


"A rapariga com brinco de pérola" (c. 1665)... Uma das obras primas do pintor holandês Johannes Vermeer (1632-1675). Óleo sobre tela (44,5 cm x 39 cm). Localização atual: Galeria Mauritshuis, Haia. Imagem do domínio público. Cortesia de Wikipedia.

 .
1. Mensagem do  Valdemar Queiroz 
[, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]

Data: 15 de Setembro de 2014 às 01:25

Assunto: Ainda sobre as libanesas (*)

Ora viva, caro Luís Graça.

Cá te temos, desta vez pra sabermos o que é o belo. Isto para voltarmos a falar das libanesas de Nova Lamego e/ou Bafatá.

Quanto eu gostava de saber o que é o belo, agora que em toda a zona da Agualva/Mercês há um florescer de plumas, milhares de plumas, que é uma beleza de ver, ou se só as 'Meninas de Avignon', do Picasso, ou 'As meninas' ,de Botticelli, são uma beleza de ver?

 E por que razão as raparigas/mulheres libanesas de Nova Lamego ou Bafatá, não seriam uma beleza de ver? Que mal estaria a rapazida a fazer,  se só apreciassem os olhos verdes das libanesas? Cometiam um grave sacrilégio de apreciar a sua beleza, ou querendo lá saber disso teriam que apreciar o saber do passar a ferro, o mudar a água ás azeitonas, o fazer uma sopa de beldroegas e esperar? 

Acho que não, a rapaziada gostava de ver raparigas bonitas, libanesas, fulas, mandingas e até as filhas dos da metrópole que eram mais finas. Não havia nenhum mal nisso, era absolutamente normal.

Quem em 1969/70, na Guiné, não gostava de ver uma mulher de olhos verdes, sem estar a pensar nas mulheres de olhos castanhos, azuis ou pretos para fazer comparações e também pensar que todas as mulheres têm olhos bonitos, que elas haveriam de ser um dia as nossas companheiras e as mães dos nossos filhos?

Pois é, caro Luís, naquele tempo, há  45 anos, sem querer, já nós apreciávamos a 'Mulher com brinco de pérola', de Vermeer , sem com isso desgostar da 'Mulher de Afife com arrecadas', da 'Mulher com o joelho à mostra na Pastelaria Suíça', ou 'A Vera de biquíni amarelo na Caparica'.

Pois é, caro Luís, isto do belo dá pano para mangas e é só escolher, pra nós as libanesas chegavam: libanesas de olhos verdes, nunca tinhamos visto.

Um abraço e gostei de ver tuas fotos e de ler os teus poemas.
Valdemar Queiroz


Sintra > Zona da Agualva/Mercês  > Setembro de 2014 > "Há um florescer de plumas, milhares de plumas, que é uma beleza de se ver"...

Foto (e legenda): © Valdemar  Queiroz (2014). Todos os direitos reservados [ Edição: LG]
________________

domingo, 14 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13607: Dossiê Os Libaneses, de ontem (e de hoje), na Guiné-Bissau (6): Ainda as libanesas de Nova Lamego (José Martins / Valdemar Queiroz / Abílio Duarte)


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  c. 1966 > Uma rua (ou a rua principal), com  a estação dos CTT à esquerda..


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > c. 1966 > Uma rua (ou a rua principal).

Fotos do álbum de Manuel Caldeira Coelho (ex- fur mil trms, CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68)

Fotos: © Manuel Caldeira Coelho (2011). Todos os direitos reservados [ Edição: LG]


1. Comentários ao poste P13605 (*):

(i) José Marcelino Martins [. ex-fur mil trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70]



Das duas, três: ou andava cego, ou não via nada, uu as libanesas chegaram com os "Racal".

Ou será que "há um apagão" na minha memória?

Pouca me recordo de Nova Lamego. Guardo a memória da rua principal, da administração ao "aeroporto"; o edificio do batalhão, com a sua varanda, e a casa da CCaç 5, do outro lado da rua. Pouco mais.

Das libanesas não me lembro. Não lavei os olhos.


(ii) Valdemar Queiroz:

Que pena tenho eu não estar em Nova Lamego, em 1972/74, para ver as libanesas, porque em 1969/70 tinhamos que ir a Bafatá ver os seus olhos verdes.

Ó Marcelino Martins, tens toda a razão e eu, em 1969/70, também não me lembro de estabelecimentos de libaneses, no Gabu. Havia a casa do sr. Caeiro. Vendia tudo, pomada prós calos, ventoinhas, frigoríficos a petróleo, e até material militar (facas de mato) pra algum 'piriquito' despassarado.

Também havia, no Gabu, outro português, que fazia uns frangos de churrasco, de caír pró lado. Era na saída, para Bafatá e lembro-me que o empregado, um africano, tinha hora de saída. E o patrão dizia: “Vocês é que são os culpados, destes gajos terem horário de saída”…. O que nós fomos 'arranjar'.

Mas, José Marcelino Martins nunca vi nenhuma libanesa em Nova Lamego e eu não era cego. Lembro-me da filha do Sr. Caeiro, aparecia poucas vezes, era de cair pró lado, boa como o milho, rapariga prós vinte e poucos anos, sempre à espera dum capitão. Mas, ver as libanesas, de olhos verdes, raparigas bonitas, tinhamos que ir a Bafatá.

Quem me dera, estar em Bafatá naquele tempo, tinha vinte e poucos anos,.

(iii) Abílio Duarte [, ex-fur mil art, CART 2479 / CART 11, Os Lacraus, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70; foto atual  à esquerds]

Olá, Valdemar,Para entrar no debate, havia sim senhor várias lojas de Libaneses em Nova Lamego.
Na rua principal havia duas ou três, e numa rua perpendicular, para os lados do mercado também.

Reparei em algumas delas, apesar de na altura não andarem muito pelas ruas. Por ser obvio.
Não sei se passaste a passagem de ano 69/70, comigo , o Cunha, etc. no CineClub, lá de Gabú. Pois nessa noite de reveillon, mulheres libanesas e bonitas era mato. Vê lá se te recordas.

(iv) Anónimo:

Qual delas, das filhas do Caeiro, estás-te a referir àquela que andou com o Vera Cruz, e tinha a alcunha de “Rebenta minas” ?


(v) Valdemar Queiroz [, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]

Boas, Duarte.
Não me lembro das libanesas em Nova Lamego. Lembro-me do tal fim de ano (69/70) no cine-club, mas não me lembro das libanesas, também não me lembro de quantas garrafas de 'bioxene' foram deitadas a baixo, se calhar foi por isso.

A filha do sr. Caeiro que me recordo, era uma bem jeitosa que andava sempre 'doente' atrás do, julgo, Ten Médico, mas ela queria era um Capitão, a outra, a “rebenta-minas” era gordinha mas fazia torcer o pescoço à rapaziada.

Mas das libanesas de Nova Lamego não me lembro e naquela altura tinha boa memória.
__________________

Nota do editor:

sábado, 13 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13605: Dossiê Os Libaneses, de ontem (e de hoje), na Guiné-Bissau (5): O libanês, ou melhor, a libanesa de Nova Lamego (António Santos, ex-sold trms, Pel Mort 4574/72, 1972/74)


Guiné > Região de Bagu > Nova Lamego > Pelo Mort 4574/72 > O António Santos operando [, ou posando para a fotografia com ] um Racal TR 28-B2. Foto  tirada nas traseiras do edificio do comando em Nova Lamego.

Foto: © António Santos (2007). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Mensagem do António Santos ], grã-tabanqueiro da primeira hora, ex-sold trms, Pel Mort 4574/72, Nova Lamego, 1972/74],

Data: 11 de Setembro de 2014 às 22:30

 Luís, Vinhal e Cardoso.

Abraços para todos.

Agradeço a partilha deste texto do Joaquim, que como todos os outros nos transporta por momentos à nossa Guiné, e por conseguinte às boas ou menos boas lembranças que todos nós transportamos.

Para acrescentar ao texto do Cardoso, se isto for possível. Eu, o que recordo mais  é do libanês que se situava em frente ao CAOP, E a mulher que era boa como o milho!

Assim que entrávamos na loja,  o Libanês tratava logo de a fazer desaparecer para a parte de trás da mesma,  Recordo que as minhas visitas poucas vezes eram de cliente, era mais de olheiro, (como no futebol). Hoje diria., mais apropriadamente,  que ia "lavar a vista".

Andei dois anos a visitar a loja e poucas vezes fui cliente, normalmente andava com os bolsos vazios, e isto porque para lá chegar passava quase e sempre pelo Jacó onde gastava o pouco que havia no comes e bebes.

Dou por terminada a minha pequena recordação do libanês, ou melhor,  da libanesa.

Despeço-me com valente alfa bravo.
ASantos
SPM 2558

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13597: Dossiê Os Libaneses, de ontem (e de hoje), na Guiné-Bissau (4): os comerciantes de Nova Lamego... Era gente de confiança ? (Joaquim Cardoso, ex-sold trms, Pel Mort 4574, 1972/74)



Guné > Região de Gabu > Nova Lamgo > Pel Mort 4574 (1972/74) > Eram tapetes, de estilo oriental, com motivos exóticos (como a fauna e a flora africanas), que os militares  compravam aos comerciantes libaneses. Eles também aproveitaram a "economia de guerra" (LG).

Fotos: © Joaquim Cardoso  (2014). Todos os direitos reservados.



1. Mensagem de Joaquim Cardoso [, ex-sold trms,   Pel Mort 4574, Nova Lamego, 1972/74],, com data de 17 de agosto passado:


Olá, caro amigo Vinhal

Este simples Olá, é o cumprimento sugerido, em e-mail do nosso " Comandante "Luís Graça, em gozo de férias (?), que, apesar de simples, encerra nele toda a minha consideração, esperando, estou certo, que te encontrarás muito bem por essas praias Matosinhenses, tomando banhos de água e sol.

No dito e-mail, o Luis refere-se também ao estado da sua nova anca e, pelo que diz, está em evolução muito positiva. Ainda bem, pois certamente toda a tertúlia espera que em breve fique em condições de fazer parte de uma qualquer corrida de atletismo ou até de tríplo salto!

Comento de seguida o tema que o Luís colocou, relativo aos Libaneses na Guiné (*):

Tendo estado em Nova Lamego em 1972/74,  direi, sem ter a certeza, que nessa altura na localidade, não chegariam a meia dúzia os estabelecimentos pertencentes a Libaneses, onde se vendiam entre outras coisas, tapetes de estilo oriental, idênticos aos das fotos que junto, adquiridos esencialmente por militares para suas recordações, e tecidos para a feitura de panos com que as nativas tapavam algumas das suas "vergonhas".

Partindo do pressuposto, que essas pessoas eram refugiadas de guerra no seu País, o seu refúgio na Guiné, também em guerra, era por isso muito polémico.

Era voz corrente que, sendo os militares os maiores compradores, esses comerciantes estariam interessados na continuação do conflito por forma a manter os seus negócios, colaborando por isso com o IN. Dizia-se também que, sempre que houvesse encerramento temporário dos seus estabelecimentos, estava à vista ataque iminente!


A ser verdade, é evidente que teriam informação antecipada, por parte do nosso adversário, permitindo-lhes, assim, a possibilidade de se ausentarem do local ou tempo suficiente para uma melhor proteção.

Nessa altura, nos dois principais ataques com foguetões a Nova Lamego, em que felizmente nada de grave aconteceu, não vi, nem obtive informações que dessem firmeza à versão desses procedimentos.

Termino, deixando estes simples apontamentos à consideração, com um fortíssimo abraço a todo o pessoal.

J. Cardoso
Ex-Sold. Transmissões em Nova Lamego - Guiné , 
1972/74 

[. Foto acima, com o António Santos, também do Pel Mort  4574, à sua direita, no posto de rádio]
_____________

Nota do editor:

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13410: Dossiê Os Libaneses, de ontem (e de hoje), na Guiné-Bissau (3): A Xerazade de Teixeira Pinto... (António Graça de Abreu, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74)

1. Mensagem do nosso camarada e amigo António Graça de Abreu [, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74] [, foto à direita, em Cufar, c. 1973/74]

Data: 15 de Julho de 2014 às 00:16

Assunto: Libanesa bonita

Meu caro Luís

Está no meu Diário a 1 de Janeiro de 1973, em Teixeira Pinto

Acredito que tenha sido exactamente assim. Não escrevi de memória. Com todo o respeito pelas mulheres libanesas, iguais ou mais bonitas do que as mulheres de todo o mundo, Creio que é de publicar.

Forte abraço,
António Graça de Abreu

2. Excerto de Diário da Guiné - Lama, Sangue e Água Pura, de António Graça de Abreu. Lisboa: Guerra e Paz, Editores. 2007.


[Foto à esquerda,. capa do livro, Guerra e Paz Editores, SA (2007), com a devida vénia]

Canchungo, 1 de Janeiro de 1973

Ontem à noite houve corrida de São Silvestre organizada pela Acção Psicológica do CAOP 1. Às nove e meia da noite, tínhamos noventa figurões equipados, com postura de grandes atletas, a dar três voltas à avenida principal. Fui assistir na companhia do alferes Paiva, da 38ª de Comandos [1].

Mas ele tinha outra ideia, sub-reptícia, fixa. Quase em segredo, queria-me mostrar a sua namorada (?) libanesa, uma mulher solteira, com quase cinquenta anos convencida que tem vinte e dois, e que atrai os homens. Vive no centro da vila, na praça Dr. Oliveira Salazar com a família de comerciantes vindos do Líbano. Como é que esta gente veio parar à Guiné? (*)

A senhora pinta o cabelo – uma tenebrosa cabeleira loira, – pinta os olhos, pinta os lábios, pinta as unhas, pinta tudo. Usa uns brincos de folheta vindos de Salamanca, Espanha – diz ela, – tem a cara envelhecida coberta de cremes e pós. É um mamarracho digno de exposição. O Paiva, pouco mais de vinte anos garbosos e valentes, conduziu-me até casa dela, queria que eu a conhecesse. A mulher recebeu-nos como se tivessem chegado dois príncipes da Pérsia. Cumprimentei-a e vim educadamente embora. O alferes Paiva, Comando, capaz de todos os gestos heróicos, ficou lá a desmaquilhar suavemente a dama libanesa. (**)

À meia-noite, em casa do capitão Pancada abriram-se umas garrafinhas de Magos e de champanhe. O Pancada e o alferes Gamelas têm consigo as esposas, simpáticas, bonitas, ambas de nome Helena. Estavam felizes, dançavam enlaçados, beijavam-se. Na sala havia mais quatro homens casados com as mulheres em Portugal. Olhávamos uns para os outros, mastigávamos em seco, sorumbáticos, tristes. Éramos o alferes Teixeira, um excelente rapaz do Batalhão 3863, o alferes Tomé, meu companheiro de quarto, o furriel Rodrigues também do Batalhão, e eu.

Depois do “réveillon chez Pancada”, o Tomé foi ainda beber com os alferes Comandos – não sei se o Paiva já voltara do seu sortilégio libanês, – e regressou às tantas ao quarto, a gatinhar, a gritar a frase do costume “Tirem-me daqui, tirem-me daqui!”.

[1] Para a história da 38º. Companhia de Comandos, ver Resenha, 7º vol., tomo II, pag. 536.
_____________

Notas do editor:

(**) Xerazade de Teixeira Pinto; o subtítulo, irónico,  é da responsabilidade do editor.

Consulta da Infopédia:

(...) "Xerazade: Filha de um vizir, Xerazade é uma princesa bela e sagaz que, sob ameaça de morte, consegue distrair o rei Shahriyârnarrando-lhe os contos que constituem As Mil e Uma Noites. Esta personagem tornou-se um símbolo do Oriente muçulmano, fantástico e voluptuoso, tal como o imaginou romanticamente a Europa após a leitura da famosa coletâneade histórias. A figura de Xerazade inspirou diversas obras, tais como o ballet oriental de Léon Bakst, em 1908, e o de Michel Fokine, em 1910." [... Sem esquecer a popularíssima suite sinfónica para orquestra, nº 35, do genial compositor russo Rimsky-Korsakov, Scheherazade, de 1888, baseada no livro de As Mil e Uma Noites... Pode ser ouvida aqui, no You Tube... LG].

Fonte: Xerazade. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2014. [Consult. 2014-07-17].
Disponível em http://www.infopedia.pt/$xerazade,2

terça-feira, 15 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13403: Dossiê Os Libaneses, de ontem (e de hoje), na Guiné-Bissau (2): O meu Natal de 1965 em Bissorã, na casa do sr. Michel, bebendo whisky do bom... (Manuel Joaquim, ex-fur mil armas pesadas, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67)


Aerograma enviado pelo Manuel Joaquim à sua namorada: "Bissorã, 25 dez65" e onde fala sua festa de natal, oferecida à tropa,  pelo decano dos comerciante libaneses de Bissorã...

Foto: © Manuel Joaquim  (2012). Todos os direitos reservados. (Edição: L.G.)

1. Excerto de um poste do Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau,Bissorã e Mansabá, 1965/67)(*)

Na noite de Natal de 65, o decano dos comerciantes libaneses, sr. Michel (**), acho que era este o seu nome, preparou uma recepção na sua casa, para a qual convidou os comandantes das companhias alocadas em Bissorã, CART  643 e CCAÇ  1419, seus oficiais e 1.ºs sargentos e sendo o restante pessoal militar representado por um furriel e por um praça de cada uma das companhias. Posso estar enganado,  mas é a ideia que tenho.

Da CCAÇ 1419 fui eu o furriel escolhido. Não sei se “de motu proprio” ou cumprindo decisão superior, o 1º sargewnto  da companhia fez-me o convite que eu aceitei, algo contrariado, após alguma insistência.

Para a ocasião vesti o meu fato “de ir à missa” comprado na  então famosa casa de moda da baixa lisboeta, a Casa Africana, uns dias antes de embarcar. “Ótimo para usar em África”, disse-me o vendedor em resposta à minha inicial informação de que estava prestes a embarcar para a Guiné e precisava de um fato para levar.

[Imagem à direita: Cartaz publicitário da eitinta Casa Africana, uma loja emblemática da Rua Augusta, em Lisboa]

E lá fui de fatinho azul-ténue, muito leve, com risquinhas verticais pretas e muito finas. A confraternização correu bem. Houve “comes e bebes” e muita conversa, geral e particular, entre os convidados e o dono da casa.

Recordo bem a qualidade do uísque, uma maravilha, do resto tenho noção vaga duma conversa do anfitrião discorrendo sobre as suas relações com personagens conhecidas na política e na sociedade empresarial, tanto na Guiné como em Portugal (no Continente, como então se dizia).

Não sei que idade teria o sr. Michel mas para mim era um homem já idoso, um senhor culto, bem viajado, bom conversador e de óptimo trato. Penso que teria sido, antes da guerra, um grande comerciante. Em 1965 a sua actividade comercial já estava muito reduzida.

Havia música mas não havia “garotas”! A animação não foi muita mas deve ter havido alguma já que o evento durou umas boas horas. O certo é que não me lembro dela. Talvez por causa do meu estado de espírito naquela altura como se pode adivinhar pela breve referência que fiz ao assunto num aerograma enviado à namorada:

(…) “Há por aqui umas famílias de emigrantes libaneses que nos proporcionaram umas festazinhas agradáveis na quadra que passou há pouco. Mas o sofrimento cá anda roendo a alma. E para muitos de nós a bebedeira foi a fuga. O whisky aqui é barato. Assim a bebedeira fica barata também.” (…)

Uma nota final: Interessante o lembrar-me ainda hoje da qualidade do uísque do sr. Michel e não me lembrar de muitas outras coisas mais importantes. Pensando bem, compreendo. Pois para quem andava afogando mágoas, eu por exemplo, curtindo alegrias e lavando o estômago com VAT69, J. Walker red label e outros deste género, encontrar e saborear o uísque do velho libanês foi um momento inolvidável. Aquilo não era uísque, aquilo é que era whisky!

Manuel Joaquim


Ferreira do Alentejo > Figueira de Cavaleiros > 25 de Setembro de 2010 > Jantar em casa do Jacinto Cristina   > Até à última gota de... uísque. Buchanan's, from Scotland, for the Portuguese Armed Forces... with love... Esta foi comprada em Bissau, em Junho de 1974, e aberta no nosso primeiro encontro, na festa de anos da filha do Jacinto, em Março passado. Na Guiné, aprendemos  a distinguir o bom "scotch whisky" do "uísque marado de Sacavém" que se bebia nas noites de Lisboa e arredores, nos anos 60/70,nos primeiros bares de alterne que apareceram...

Foto: © Luís Graça (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
_____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 21 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10839: Conto de Natal (9): O meu Natal de 1965 em Bissorã (Manuel Joaquim)

(**)  Vd. poste de 15 de julho de  2014 > Guiné 63/74 - P13400: Dossiê Os Libaneses, de ontem (e de hoje), na Guiné-Bissau (1): Quem eram, onde viviam e trabalhavam, quando chegaram, etc. Propostas de TPC estival: factos, gentes, histórias, fotos...

Guiné 63/74 - P13400: Dossiê Os Libaneses, de ontem (e de hoje), na Guiné-Bissau (1): Quem eram, onde viviam e trabalhavam, quando chegaram, etc. Propostas de TPC estival: factos, gentes, histórias, fotos... precisam-se!

1. Amigos e camaradas da Tabanca Grande e demais leitores:

Estamos já em plena "época estival" e o blogue ressente-se da falta de colaboração... O Carlos Vinhal costuma queixar-se, nesta altura do ano, de ter pouco trabalho... Por outro lado, em agosto  o blogue, as férias e a praia são três coisas que não combinam bem... Eu, LG,  ainda estou no ativo e vou tirar férias em agosto (altura em que o meu estaminé fecha, parcialmente, durante 2 semanas...).

À boa maneira dos senhores professores, vamos  pedir-vos  um TPC, trabalho de casa, para alimentar o blogue durante a canícula... O tema é: "Os libaneses da Guiné"...

(i) Uma questão interessante é a de se saber quantos libaneses viviam na Guiné, antes e durante a guerra colonial (1963/74); .

(ii) Algumas famílias terão ficado por lá mesmo depois da independência, ou emigraram, para lá a seguir; se sim, quantas ? onde ? [Lemos, numa reportagem do jornal Expresso, de 2006, que seriam uns 200, a maior parte concentrados em Bissau];  (*)

(iii) Do nosso tempo estão sinalizados (ou têm sido referidos)  alguns comerciantes libaneses, ou de origem libanesa, em Bissau, Bafatá, Xitole, Gondomar e outros sítios:

(a) Bissau > Na baixa, havia as lojas do Taufik Saad, do Azis Harfouche, do Mamud el Awar;

(b) Bafatá > As "manas libanesas";

(c) Xitole > Jamil Nasser;

(d) Nova Lamego > (?)

(e) Bissorã > (?)

(f) Teixeira Pinto / Canchungo > (?)

(g) Xime > Amin (?)

(h) Gondomar > Regala (?)

(i) Catió > ?

(j) Piche > Taufick ?

(iv) Não há estatísticas... Ou há ?  De qualquer modo, a diáspora libanesa é já muito antiga, e remonta aos seus antepassados fenícios que chegaram à nossa costa, atlântica,  muitos séculos antes de Cristo... Calcula-se que, para uma população atual de 4,4 milhões a viver no Líbano [, "Lebanon", em inglês], haja o dobro ou o até o triplo de libaneses, ou seus descendentes, pelo mundo fora, com destaque para o Brasil (5 a 7 milhões), a Argentina, os EUA,a Venezuela, a Austrália, etc. Mas também países árabes, África ocidental francófona (Costa do Marfim, Senegal, Guiné-Bissau...).

(v) Antiga colónia ou protetorado francês, depois da desintegração do império otamano, o Líbano alcançou a independência em 1943; as tropas francesas sairam de lá em 1946; e  a emigração para a África Ocidental francófona deve ser dessa época, ou até anterior (antes e depois da I Guerra Mundial); em geral, são cristãos, mas também muçulmanos xiitas, os que emigram, e são reconhecidos como uma comunidade próspera e influente, de gente que se dedica ao comércio (veja-se  o caso do Brasil);

(vi) Quando é que os libeneses começaram a vir para a Guiné ? [O Expresso diz que foi há mais de 120 anos] (*);

(vii) Não sei se o Joaquim Mexia Alves e outros camaradas que privaram com o Jamil Nasser (**), no Xitole, têm alguma informação sobre a história da família, sua chegada à Guiné, etc.

(viii) Alguns foram nossos camaradas como o cap grad comando Zacarias Saiegh, por exemplo, tendo começado como fur mil do Pel Caç Nat 52,antes e ingressar na 1ª CCmds Africanos.


2. Quem quer dar uma ajudinha para este TPC coletivo ?

Boas férias para quem for de férias, bom descanso para quem ficar em casa... Passear, a pé, é importante... Mas também conviver, pensar, ler, escrever... e blogar!

Um abraço (ativo, produtivo, saudável, camarigo...) para todos. Luís Graça, Carlos Vinhal e demais equipa.
___________

Notas do editor:

(*) Vd. excerto de reportagem, Expresso, de 7/972006 (Os libaneses na actual  Guiné-Bissau")

(...) O cônsul do Líbano em Bissau, o comerciante Hassib el Awar, garante que os "sirianus" – como eram conhecidos os libaneses antes da independência da Guiné-Bissau – estão cá há pelo menos 120 anos. Este druzo de 73 anos, natural da região de Baabda, no centro do Líbano e a 40 quilómetros de Beirute, sabe do que fala. Chegou à ex-Guiné Portuguesa em 1949, para trabalhar com o tio, de quem herdou a "Casa Mamud el Awar", loja que ainda hoje conserva o mesmo nome.

Hoje, o cônsul tem um registo de apenas 200 libaneses. Mas supõe-se que são muito mais, na maioria muçulmanos, xiitas. Discretos, por vezes, não hesitam em exibir as suas preferências políticas, como durante o recente conflito com Israel, em que o restaurante "Ali Baba", em Bissau ostentou um retrato de Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah.

Os irmãos Mazeh, xiitas, instalados a partir dos anos 90, abriram a primeira fábrica de espuma da capital guineense, onde está o grosso dos libaneses. Mas ainda há um punhado de comerciantes nas regiões. É o caso de Abibe Fares, ex- colaborador do general Aoun, que vive em Bissorã, no Norte. Outro apoiante do líder cristão, Ghassam S. Makarem, um famoso jornalista, explora duas papelarias em Bissau.

As diferenças confessionais não impedem a comunidade de coabitar. Em Julho, cristãos e muçulmanos organizaram uma marcha de protesto contra a ofensiva israelita no sul do Líbano. Mas difícil é manter a associação local, que apenas funcionou um ano.(...)


(**) Vd. poste de 8 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13378: No 25 de abril eu estava em...(24): Xitole, e foi o comerciante libanês Jamil Nasser quem me deu a notícia, ouvida na BBC, na sua emissão em árabe (José Zeferino, ex-alf mil at inf, 2ª CCAÇ / BCAÇ 4616, Xitole, 1973/74)