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segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24719: Notas de leitura (1621): "Tertúlias da Guerra Colonial"; edição da Associação dos Pupilos do Exército, 2021 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Janeiro de 2022:

Queridos amigos,
Fica aqui um histórico dado por um elemento da Marinha acerca do Destacamento de Fuzileiros Especiais 8 entre 1971 e 1973, um caso de Marinha no mato, pois estavam instalados num aquartelamento em Ganturé, com missões de patrulhamento no rio Cacheu, seguiram para Gampará, aí em instalações muito precárias, atividade operacional intensa e alimentação mais deficiente, conheceram o castigo, percorreram o rio Corubal e caminharam até Buba, voltaram para Ganturé, a comissão terminou em abril de 1973, assistiram ainda a intensidade da vida operacional do PAIGC e à chegada dos mísseis. Foi esta intervenção e a de Carlos de Matos Gomes que respigámos num conjunto de tertúlias promovidas pela Associação dos Pupilos do Exército.

Um abraço do
Mário.



O modo dos portugueses fazerem a guerra no mato (2)

Mário Beja Santos

Tertúlias da Guerra Colonial é uma edição da Associação dos Pupilos do Exército, 2021, o presidente da associação convidou um conjunto de oficiais das Forças Armadas que ao longo de quatro sessões, sempre através da plataforma Zoom, analisaram as quatro dimensões tidas como mais interessantes para as tertúlias: antecedentes políticos e fundamentos; combater no mato; efeitos colaterais e sentimentos coloniais; do 25 de Abril à descolonização. Estas quatro sessões realizaram-se em outubro e novembro de 2020. É da temática “combater no mato” que vamos aqui resumir as comunicações de Carlos de Matos Gomes sobre a quadrícula do Exército e a Marinha na guerra no mato da Guiné por Alcindo Ferreira da Silva. No número anterior procedeu-se a recensão da comunicação de Carlos Matos Gomes, vejamos agora aspetos principais da intervenção de Alcindo Ferreira da Silva. Começa por nos dizer que no início dos anos 1970 a Marinha tinha na Guiné três Destacamentos de Fuzileiros Especiais de origem metropolitana e dois Destacamentos de Fuzileiros Especiais Africanos. Ele chegara a Bissau em princípios de junho de 1971. Seguiu para o mato, primeiro para Ganturé, situado na margem norte do rio Cacheu, junto de um antigo armazém da CUF, 9 casamatas-abrigos dispostos em círculo, e descreve o ambiente. No rio havia uma ponte cais onde atracavam com frequência a lancha de fiscalização grande que estava em missão na área e as lanchas de desembarque média que patrulhavam o rio. Da ponte cais partia uma picada que atravessava a base e se dirigia em linha quase reta até Bigene, onde estavam outras unidades militares. A missão principal do destacamento consistia em efetuar a interdição da passagem de pessoal e material do Senegal para o interior do território da Guiné através do corredor de Sambuiá, para além de efetuar operações na margem sul com o objetivo de desarticular o dispositivo do PAIGC.

Dois botes com três fuzileiros cada, armados com uma metralhadora e bazucas e outros elementos armados com armas ligeiras fiscalizavam o tarrafo à procura de indícios da presença do inimigo. Por vezes os botes eram emboscados na entrada ou passagem de uma clareira ou deparavam com uma canoa ou bote de borracha atravessar o rio. Uma ou duas vezes por semana, o destacamento realizava uma operação na margem norte do rio Cacheu para tentar intercetar alguma coluna de reabastecimento do PAIGC. Quando as operações se realizavam na margem sul tinham como objetivo assaltar acampamentos, eram recontros normalmente breves.

Ao fim de uns meses, o destacamento saiu de Ganturé e foi enviado para Gampará onde decorria, desde há cerca de dois meses uma operação de reocupação do território e ali se preparava a construção de reordenamento. Ali se encontraram com o Destacamento de Fuzileiros Especiais 21 de fuzileiros africanos e uma companhia do Exército. O acantonamento era constituído por um quadrado desenhado por covas de lobo, cobertas por ramagem, à sua volta construíram-se mesas e bancos, enfim uma vida muitíssima rudimentar. Nas redondezas do acantonamento encontravam-se alguns grupos dispersos de população que tinha sido desalojada das suas tabancas quando estas foram destruídas no início da ocupação. As restantes populações e os guerrilheiros do PAIGC tinham retirado alguns quilómetros para a margem sul do rio Pedra Agulha, junto de Ganquelé. Foi intensa a atividade operacional, nas atividades de proteção, patrulhando a região afim de contrariar a penetração dos guerrilheiros para norte do rio Pedra Agulha. Operações que exigiam um esforço físico violento, em percurso em corta-mato, em zonas em que se respiravam impregnado de pó da terra e do capim queimado. Dois meses e meio que levaram a um pleno cansaço, foram depois rendidos por uma companhia de paraquedistas. Depois de uns dias de descanso em Bissau partiram para operação conjunta Pato Azul, na região do Quínara, em que participaram forças especiais. Após Gampará foram enviados para Cacheu, com a missão de patrulhar o rio e afluentes e de realizar semanalmente uma ou duas operações nas proximidades da Caboiana, um santuário do PAIGC. Com alguma regularidade, também efetuavam operações conjuntas. Ao fim de três meses, foram novamente enviados para Gampará, aqui houve um incidente entre um fuzileiro e um elemento do Exército, Spínola determinou que o destacamento, por castigo, realizasse uma operação, subiram em botes o rio Corubal e percorreram cerca de 40 quilómetros uma região controlada pelo PAIGC, até Buba.

Meses depois, seguiram novamente para Ganturé, aqui terminou a comissão em finais de abril de 1973. Foi em Ganturé que se começou a percecionar a intensificação da atividade da guerrilha, viveram os últimos dias em Ganturé com o aparecimento de dois mísseis. Esta foi a vida no mato do Destacamento de Fuzileiros Especiais 8. E concluiu assim a sua intervenção:
“O estar no mato significou, para todos os que por lá andaram, o possível e o próximo contato de fogo quando saiam para operações no mato ou no decorrer dos ataques ao aquartelamento nas suas horas de serviço ou descanso e, por isso, a necessidade permanente de manter a disciplina e a segurança, a coesão e o espírito de unidade, o treino e as armas sempre prontas, mas o que marcava este decorrer dos dias era, sobretudo, a rotina, a espera de que qualquer coisa acontecesse, a contagem do tempo que não passava, o isolamento, a solidão mesmo que rodeado de camaradas, ausência de informação, a saudade e para muitos a participação numa guerra imposta, ou injusta, ou sem sentido”.


Render fuzileiros na Guiné, imagem da RTP, com a devida vénia
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Nota do editor

Último poste da série de 29 DE SETEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24712: Notas de leitura (1620): "Tertúlias da Guerra Colonial"; edição da Associação dos Pupilos do Exército, 2021 (1) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20161: Notas de leitura (1219): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (24) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Maio de 2019:

Queridos amigos,
Era compreensível que os acontecimentos da Ilha do Como merecessem amplo destaque na gesta do bardo. Espero que quem ali combateu naquele terrível penar aqui venha exprimir outros pontos de vista, narrar outros episódios, clarificar situações que ficaram no olvido. A história da Unidade do BCAV 490 é parcimoniosa, como se disse, faz-se referência a um anexo, que não encontrei e se algum dos confrades o possuir bom seria que aqui se referenciasse outros episódios que não couberam na poesia nem nos testemunhos. A imaginação de quem acompanha o bardo saltitou para as belezas da natureza, sempre irresistíveis, a despeito das aflições e sofrimento vivido. Repare-se na descrição que Alpoim Calvão faz de uma missa ao ar livre e o maravilhamento do céu e das águas, a par da comoção dos mortos e da emoção dos vivos.

Um abraço do
Mário


Missão cumprida… e a que vamos cumprindo (24)

Beja Santos

“Temos muita companhia
já com pouco pessoal:
coxos, doentes e feridos
vão indo para o hospital.

Há muito tempo passado
e sempre a mesma labuta.
Há quase dois meses que se luta
e ainda há muito malvado
que tem que ser acabado
o bando que cá existia
é uma patifaria,
que dá cabo da rapaziada,
mas isso não lhes vale nada,
temos muita companhia.

Em duas ocasiões
no meio dos terroristas
morreram dois paraquedistas
deram gritos de aflições.
Fizeram muitas operações
dentro daquele matagal,
mas quase sempre se deram mal
devido a tantos bandidos.
Por isso, os pelotões reduzidos
já com menos pessoal.

Um dia Cauane atacaram
foi atingido Joaquim Augusto,
apanhando um grande susto
quando as granadas rebentaram.
No sacristão também acertaram,
dando grandes gemidos.
Com as mãos e dedos perdidos
Quítalo e o sapador doutra vez,
e em pouco mais de um mês
coxos, doentes e feridos.

Dois paraquedistas se perdiam
longe de S. Nicolau,
o caso esteve bem mau
porque entre os bandidos se viam.
Indicados por um avião saíam
sem perderem o moral.
Será isso o principal
no soldado cheio de heroicidade.
E os feridos com gravidade
vão indo para o hospital”.

********************

O tom pungente que o bardo usa, vamos encontrá-lo em obras do tempo e posteriores. Contemporâneo, temos os relatos de Armor Pires Mota e Alpoim Calvão. Naquele Sul, de 1963 em diante, andaram Álvaro Guerra, José Martins Garcia, Luís Rosa, José Brás, António Loja, Idálio Reis, entre outros. O sul de Mejo, Guilege, Gadamael, Cacoca, Sangonhá, Gandembel, Cacine, Catió. Páginas de fraternidade, de lástima pelas perdas, de revolta pela construção de aquartelamentos feitos com tanto de sangue, suor e lágrimas e depois abandonados. E mesmo nessa apoteose de sofrimento ou mágoa há a extraordinário revelação do feitiço africano, a descoberta de uma natureza viva.

E aqui lembro Leonel Olhero e o seu livro “Ultrajes na Guerra Colonial – Reminiscências de furriel de cavalaria”.
Primeiro, uma trovoada tropical:
“Uma trovoada, com carácter primitivo e sagrado, apavorou-nos. Receoso, o Sol estremeceu de inquietação e correu a esconder-se. Numa embriaguez de luzes, relâmpagos cintilaram em ziguezagues de fogo, bateram nas trevas e apanharam relâmpagos em resposta. De alto a baixo, raios riscaram rasgando fundo os céus. Irrequietos, os trovões estalaram implacáveis vibrando de tronco em tronco e em cada folha, assustando aves e ribombando pelos caminhos do céu imenso num estampido ensurdecedor, enquanto que o vento, carregado dos cheiros da terra e do odor da selva, bradou com fúria e em rajadas hirtas e tudo impeliu numa maluca confusão”.

Agora o Furriel de Cavalaria embarca num Sintex, vai a Bula buscar salários, assombra-se com a travessia do rio:
“Para lá das desviadas margens, num sussurro, naquele rio largo como uma promessa via-se água que penetrava na brumosa mata de onde, desafiando nos céus altas fasquias, se erguiam crescidas e seculares árvores. Por causa das investidas da nossa artilharia, com olhos cansados de procurar, vi cepos definhados com galhos despidos e rasgados. Braços vegetais abertos que nos desejariam abraçar e onde poisavam centenas de colónias de coloridos periquitos (…) Na tona da água, bandos de periquitos de rabo de junco rasavam, chispavam à nossa passagem e rabiscavam hieróglifos (…) Inumeráveis abutres repugnantes e agoirentos que poisavam nos poleiros altos da sossegada e densa ramagem, alteavam-se impassíveis, estremecendo penosamente as enormes e aborrecidas asas. Alguns, mais tímidos, alavam para o escuro daquele tão intemporal bosque e ali ficavam à espera, de olhos tristes e adiados”.

Mas vamos descer até ao Como e ouvir o que escreveram os biógrafos de “Alpoim Calvão, Honra e Dever”:
“Uma operação tão longa como a Tridente, que decorria há já cerca de mês e meio, sempre com duros combates e em que os estacionamentos temporários eram desconfortáveis e penosos, tinha necessariamente um impacto negativo no estado físico e anímico do pessoal. Mas o esforço compensava. Era notório que a actividade inimiga esmorecia, a resistência era agora fugaz e em nada se comparava já à bravura dos combates travados no início da operação.
O dispositivo inimigo nas ilhas de Caiar, Como e Catunco estava praticamente desmantelado, o prestígio do PAIGC e dos seus chefes abalado, a sua confiança desaparecera, o respeito e temor pelas autoridades portuguesas era evidente.
Tinha entretanto o Tenente Calvão criado um núcleo de guias guinéus que com os seus camaradas metropolitanos partilhavam as mesmas canseiras e os mesmos perigos. Havia, no entanto, dois homens que o seguiam para todo o lado como sombras e aos quais Calvão ficou eternamente grato pela coragem, desinteresse de si próprios e dedicação que sempre revelaram: um do Bombarral, o José António; e outro um Manjaco do Pecixe, o ‘Touré’. Mais tarde, num jornal, Alpoim Calvão recordou um caso ocorrido durante aquela operação e que tão profundamente o marcou:
‘(…) Os sucessos da guerra tinham causado várias baixas na minha Unidade. Pedi ao Capelão Militar que acompanhava as forças em operação para rezar uma missa pela alma dos mortos. Numa manhã, na praia onde estava localizado o estacionamento, preparou-se a realização da cerimónia. Aliás, tudo o mais simplificado possível: o altar era um caixote que servira para transportar rações de combate e o templo, o ar livre, com o mais maravilhoso dos tectos: um céu azul, incomparável.
Mal barbeados, sujos, com as faces vincadas pelo cansaço e pela tensão da luta, os homens foram-se chegando e a missa começou. Juntaram-se-lhes, por serem católicos, alguns dos carregadores negros que acompanhavam as forças. O profundo silêncio era apenas alterado pela voz do celebrante e pelo barulho do mar, que, em pequeninas ondas, se enovelava na praia.
Uns de joelhos, outros em pé, os homens seguiam, ou melhor, viviam o santo sacrifício. Acabrunhados pela morte de alguns camaradas, sentiam a necessidade daquele diálogo com Deus e muitos deles, pela primeira vez, souberam o que era a Missa.
Eu estava de pé, um pouco apertado, duplamente comovido pela lembrança dos mortos e pela emoção dos vivos.
E num deslumbramento, numa autêntica revelação de ecumenismo, vi, sobre a minha direita, alguns guias muçulmanos que olhavam a cena com muita dignidade e compostura e procuravam participar nela, orando também ao mesmo Deus, pelo descanso das almas dos que tinham caído e pela vitória das armas portuguesas’.”

E os autores chegam ao termo do seu relato:
“Decorridos mais de dois meses sobre o início da Operação Tridente, concluiu-se que militarmente nada mais havia a fazer na zona, pelo que foi decidido o regresso de todas as forças em acção, ficando apenas montado um aquartelamento em Cachil, onde foi instalada uma Companhia do Exército com a missão de controlar as margens do rio Cobade, numa posição estratégica muito importante para o reabastecimento de Catió. Sendo de prever que dentro em breve aquele local voltaria a estar sujeito a uma intensificação dos ataques, tornou-se necessário manter ali uma LDP em permanência, de modo a garantir o regular abastecimento do aquartelamento de água, mantimentos e munições. Às 12h00 do dia 22 de março, o DFE8 embarca no ‘Bor’ rumo a Bissau, onde chega na manhã seguinte. Era o fim da Operação Tridente”.

(continua)

 O bardo a caminho da Ilha do Como

O bardo e camaradas a caminho da Ilha do Como

O bardo faz leituras na Amura, inspira-se junto da velha peça de artilharia.

Página do jornal do BCAV 490, gentilmente cedida pelo confrade Carlos Silva, um investigador infatigável a quem devo muitas atenções.
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Notas do editor

Poste anterior de 13 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20145: Notas de leitura (1217): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (23) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 16 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20150: Notas de leitura (1218): “O Massacre Português de Wiriamu, Moçambique, 1972", por Mustafah Dhada; Tinta-da-China, 2016 (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Guiné 61/74 - P20046: Notas de leitura (1207): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (18) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Abril de 2019:

Queridos amigos,
Nesta fase do trabalho, mantenho a maior das expectativas quanto a contributos. A Operação Tridente foi alvo de propaganda do PAIGC: falou em 500 mortos das nossas tropas, em retirada caótica, numa derrota sem precedentes. A atoarda ganhou raízes, pessoas com a responsabilidade do historiador Carlos Lopes reproduzia em 1982 tal propaganda. Felícia Cabrita reproduziu atoardas semelhantes depois de ter visitado a Ilha do Como a convite de Nino Vieira, uma vergonha, o gosto pelo puro sensacionalismo, o desrespeito absoluto pelo contraditório. Há hoje muito material sobre a Operação Tridente, aqui se reproduzem dados sumários da história da Unidade e equacionam-se elementos da biografia de Alpoim Calvão que foi o comandante do DFE8 na referida operação, reconhecidamente com uma postura de valentia, dotando os seus homens de uma grande capacidade ofensiva e solidariedade com os outros militares.

Um abraço do
Mário


Missão cumprida… e a que vamos cumprindo (18)

Beja Santos

“Com o destino navegou
o Batalhão de Cavalaria
para a grande operação.
Algum pessoal morria.

Sua Excelência o Brigadeiro
no cais de Bissau se encontrava
e a saída ele ordenava
mais o comandante Cavaleiro.
Foi a 14 de Janeiro
que o cais se deixou.
O “Bor” e o “Geba” abalou,
ficando em terra uma Companhia
que na noite do mesmo dia
com o destino navegou.

Dia e noite navegando
ao largo do Como se chegou.
O 8.º Destacamento desembarcou,
debaixo de fogo avançando.
A 488 rastejando
com muita coragem seguia.
O bando que aí se acolhia
recuava com temor,
pois nunca perdeu o valor
o Batalhão de Cavalaria.

No mesmo dia se desceram
mais duas das Companhias
que, no espaço de alguns dias,
muita sede eles sofreram.
Rações de combate comeram,
com bolachas em lugar de pão.
Foi para cumprir a missão
que tudo isto passámos
e no Como nos instalámos
para a grande operação.

Na praia de Caiar
o resto do pessoal desceu
onde desci também eu
para o material descarregar.
Com os meus colegas a ajudar
muito frete se fazia.
Fez-se um buraco onde se dormia
tranquilo e descansado,
mas no grande mato cerrado
algum pessoal morria.”

********************

O que o bardo aqui nos dá conta é da Operação Tridente, do seu início. Sobre a mesma, considerada um dos principais acontecimentos de toda a guerra colonial, dispõe-se de inúmera documentação. Logo a história da Unidade, um relato detalhado. Vejamos alguns elementos essenciais. Tudo começa a 14 de janeiro, a Tridente durou 71 dias, as forças executantes iniciaram o regresso em 24 de março. Foi a primeira no seu género, integraram a operação forças terrestres, navais e aéreas. As forças terrestres eram constituídas por três destacamentos de fuzileiros especiais, uma companhia de caçadores mais um pelotão, um pelotão de paraquedistas, um grupo de comandos, um pelotão de obuses e outros efetivos do BCAV 490. Não houve resistência ao desembarque. O IN revelou-se bem instruído e muito agressivo e com poder de fogo extraordinário. O seu moral foi sendo abatido ao longo do tempo, no final da operação atuava em pequenos grupos dispersos, sem qualquer agressividade e fugindo ao contacto. Do lado das nossas tropas são repertoriados oito mortos e vinte e nove feridos e mortos confirmados do lado IN setenta e seis. É transcrita a carta em que Nino apela a reforços ao fim de 48 dias.

A biografia de Alpoim Calvão intitulada “Alpoim Calvão, Honra e Dever”, por Abel Melo e Sousa, Luís Sanches de Baêna e Rui Hortelão, Caminhos Romanos, 2012, dá amplo destaque ao comportamento deste oficial da Armada à frente do Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 8. Vamos reter alguns dados, outros acompanharão a evolução da Operação Tridente.
Porém, antes de mais, um dado singular da liderança de Calvão:
“Os processos utilizados pelo comandante do DFE8 para assegurar a eficiência da sua unidade nem sempre seguiam à risca o disposto nos manuais militares, mas eram seguramente os mais eficazes. Por vezes, quando as infracções cometidas por um dos seus fuzileiros caíam sob a alçada do Regulamento de Disciplina Militar, o que não era invulgar, o Tenente Calvão dava-lhe a escolher entre receber o castigo previsto por este regulamento ou calçar as luvas de boxe e com ele resolver o assunto a murro. Geralmente era esta segunda opção a escolhida pelos infractores, apesar do grande porte e da poderosa força do seu comandante”.

Estamos no Como, vejamos o registo de dia 23 em que Calvão sai com uma secção do seu destacamento, outra da CCAV 488 e um grupo de comandos a fim de proteger a progressão deste último que tencionava passar para o Uncomené (um local da ilha do Como).  
“O inimigo que aguardava emboscado na orla da mata, junto a uma picada, abre fogo com uma metralhadora pesada e armas ligeiras. Apesar de ter garantido a surpresa inicial, acaba por ser batido pelas forças portuguesas apoiadas pela aviação, sofrendo vários feridos e abandonando dois mortos no terreno. Ainda assim o grupo de comandos não conseguiu passar devido ao lodo existente junto ao tarrafo. Nesse mesmo dia, horas depois, um avião T6 despenhou-se a oeste de Cauane, pelo que antes de regressar ao estacionamento a força passou pelo local onde jazia o corpo do piloto, que foi recuperado meio carbonizado para de seguida ser recolhido por um helicóptero Alouette II.
Logo no início do mês de Fevereiro, o DFE8 recebe ordem para penetrar na mata a oeste de Cauane. Objectivo: a fixação e envolvimento da tabanca grande de Cauane. Inicia a penetração na mata sem ser detectado, colocando-se atrás da posição inimigo que a mata cerrada tornava invisível, apesar de estar a menos de 30 metros. Qualquer movimento naquela densa vegetação poderia denunciar a presença dos fuzileiros, pelo que o Tenente Calvão decide emboscar com um dispositivo estático comandado pelo imediato e constituído por duas secções com esquadras de MG42 em linha à frente. Em cada flanco, uma secção e o resto dos homens de apoio à retaguarda, ficando o comando colocado numa posição central um pouco descaído sobre o flanco direito. Um pequeno grupo inimigo, sem se aperceber da manobra, passa a alguns metros desse flanco, que de imediato abre fogo abatendo um inimigo armado e ferindo outros. A reacção foi pronta e resultou num fuzileiro ferido. Com o inimigo a dar mostras de grande vitalidade, as forças terrestres continuavam a pressionar toda a região das três ilhas.

No dia 7 de Fevereiro, uma companhia de cavalaria ataca a tabanca de S. Nicolau, fixando naquela povoação os guerrilheiros que reagiram com o poder de fogo de uma metralhadora pesada. Enquanto decorre o combate, o DFE8 progride silenciosamente em direcção ao objectivo, iniciando o envolvimento sem ser detectado. Abre fogo ao entrar em contacto com o inimigo, abate um guerrilheiro e provoca diversos feridos, pondo os restantes em fuga. Por duas vezes tentou o adversário reagir com a mesma estratégia, sendo de ambas repelido.

Dez dias passaram. Pelas 04h30 do dia 17 de Fevereiro, o DFE8 com um grupo de comandos e um grupo de combate da Companhia 488 inicia a progressão em direcção à ponta nordeste da mata de Curcô, de acordo com a táctica habitualmente seguida pelos fuzileiros. É sempre feita por fora de picadas e trilhos, o que apresentava duas grandes vantagens: evitar possíveis minas e armadilhas e surgir junto do inimigo por onde ele menos esperava.
Cerca das 10h00, um pequeno grupo inimigo tenta atacar a retaguarda da coluna, mas é sacudido e posto em debandada com duas granadas de mão. Depois, destruíram-se alguns depósitos de arroz. Uma hora mais tarde, a coluna chega à mata a norte de S. Nicolau onde avista homens armados, aos quais monta imediatamente uma emboscada com óptimos resultados: o DFE8 abate três inimigos e os comandos um. Os guerrilheiros entram, então, numa fuga desordenada, estimulada pela metralha cuspida por uma aeronave T6.
A progressão acabaria por ser retardada por um ataque de abelhas que inferiorizou os paraquedistas e as três secções da vanguarda da DFE8.

No dia 24 de Fevereiro, a Companhia do Capitão Cidrais, ao desembarcar no Uncomené, vê-se fixada na bolanha debaixo de violente fogo, ao abrigo do pequeno quadrado de um ourique, a cerca de 150 metros da orla de uma mata onde o inimigo se encontrava bem instalado e devidamente protegido. Os soldados mal podiam responder ao fogo pela exiguidade da posição ocupada e desprotegida. É então que o comandante das forças terrestres toma a decisão de fazer sair o DFE8 em seu socorro. Quando alcançou a posição dos sitiados, o Major Romeiras, Comandante do Agrupamento A, pediu aos fuzileiros para procurarem na mata os dois mortos que a CCAV 487 deixara no terreno durante uma investida à posição inimiga. Desta incumbência se encarregou o Segundo-Tenente Malhão Pereira, Imediato do DFE8, com duas secções, e após uma breve batida, veio a encontrar os dois corpos despidos e sem armas, estando um deles armadilhado com granadas. Enquanto isto, o Tenente Calvão e o Capitão Cidrais, em reconhecimento expedito, exploravam para sul da sua posição, a fim de conseguirem uma visão táctica completa da situação e poderem retirar a tropa da CCAV 487, esgotada pelo intenso e penoso combate. Acabou a força toda por ter de recolher às lanchas de desembarque para a conduzir à Fragata Nuno Tristão, onde os fuzileiros foram recebidos uma vez mais, entre marinheiros, com a amabilidade e amizade habituais”.

(continua)

Convívio em 2010 do BCAV 490
fotografia retirada do blogue Ilha do Como (Guiné)
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Notas do editor

Poste anterior de 2 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20028: Notas de leitura (1204): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (17) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 5 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20036: Notas de leitura (1206): “Guiné-Bissau, das Contradições Políticas aos Desafios do Futuro”, por Luís Barbosa Vicente, Chiado Editora, 2016 (1) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18963: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (110): Na Tabanca de Candoz fomos reencontrar dois velhos amigos, a irmã e o cunhado do infortunado 1º Grumete Fuzileiro Especial, do DFE 8 (1971/73), José Manuel Ferreira de Jesus Tomé, morto por acidente em 9/12/1971, e homenageado pela sua terra natal, Senhora da Hora, Matosinhos, em 8/10/2016


Matosinhos > Senhora da Hora >  8 de outubro de 2016 >  Homenagem ao filho da terra, José Manuel Ferreira de Jesus Tomé, 1º GR FZE, do DFE nº 8, morto na Guiné por acidente em 9/12/1971 >  Em primeiro plano, à esquerda, as irmãs do nosso infortunado camarada. A iniciativa foi do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes.



Matosinhos > Senhora da Hora >  8 de outubro de 2016 >  Homenagem ao filho da terra, José Manuel Ferreira de Jesus Tomé, 1º GR FZE, do DFE nº 8, morto na Guiné por acidente em 9/12/1971 > Momento em que  a nosssa amiga Maria da Conceição Ferreira de Jesus Tomé Novais Ribeiro e o Vice-Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, dr. Eduardo Pinheiro, descerravam a placa evocativa da memória do único combatente, natural da Senhora da Hora, morto na guerra do ultramar.


Matosinhos > Senhora da Hora >  8 de outubro de 2016 >  Homenagem ao filho da terra, José Manuel Ferreira de Jesus Tomé, 1º GR FZE, do DFE nº 8, morto na Guiné por acidente em 9/12/1971 > Rotunda do Combatente: aspeto geral do monumento.


Matosinhos > Senhora da Hora >  8 de outubro de 2016 >  Homenagem ao filho da terra, José Manuel Ferreira de Jesus Tomé, 1º GR FZE, do DFE nº 8, morto na Guiné por acidente em 9/12/1971. > Placa afixada no monumento da Rotunda do Combatente, frente ao edifício da junta de freguesia.


Matosinhos > Senhora da Hora >  8 de outubro de 2016 >  Homenagem ao filho da terra,  José Manuel Ferreira de Jesus Tomé, 1º GR FZE, do DFE nº 8, morto na Guiné por acidente em 9/12/1971 > A Maria da Conceição Ferreira de Jesus Tomé Novais Ribeiro, ladeada pela sua irmã, agradecendo a homenagem prestada ao irmão de ambas.


Matosinhos > Senhora da Hora >  8 de outubro de 2016 >  Homenagem ao filho da terra, José Manuel Ferreira de Jesus Tomé, 1º GR FZE, do DFE nº 8, morto na Guiné por acidente em 9/12/1971 >  Porto de Honra no Salão Nobre da Junta de Freguesia da Senhora da Hora. Do lado esquerdo, o Comandante da Zona Marítima do Norte.

Fotos (e legendas): © Carlos Vinhal / Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes (2016). [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)


1. Na nossa Quinta de Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses, recebemos hoje a visita de velhos amigos da família, o engº António Novais Ribeiro e a esposa Maria da Conceição, que vivem no Porto. Têm casa aqui perto e almoçaram connosco.

O António, que por sinal nasceu em Paredes de Viadores, onde se situa Candoz, e portanto é também nosso vizinho, foi furriel miliciano de transmissões, entre 1968 e 1970,  no Comando de Agrupamento 2951 (Mansoa), e no Cmd Agrup 2952 (extinto em 7 de janeiro de 1969, sendo o seu pessoal integrado no Combis - Comando de Defesa de Bissau) (**).  Trabalhou, nomeadamente com o, na altura, major inf Carlos Fabião, de quem tem algumas deliciosas histórias. Teve também como camarada alferes o hoje prof catedrático jubilado, da Universidade de Coimbra, o historiador Luís Reis Torgal [Luís Manuel Soares dos Reis Torgal, n. 1942].

O nosso editor já o convidou, de viva voz, para integrar a nossa Tabanca Grande, aguardando agora a sua formalização, por email. O António é, além disso, um grande conversador e exímio tocador de cavaquinho e de bandolim, participando em várias formações musicais de cavaquinho. Pertence ao Lions Clube da Lusofonia, é amigo do Jaime Machado e do José Martins Rodrigues... e, ainda por cima, ele e o nosso Álvaro Basto, cofundador da Tabanca de Matosinhos, são compadres, tendo um neto em comum, o Sebastião...

2. Falando com a sua esposa,  Maria da Conceição, o nosso editor veio a saber que ela teve um irmão, mais novo, morto por acidente no TO da Guiné em 9/12/1971, no dia seguinte ao seu casamento com o António Novais Ribeiro... Um duro golpe para toda a família e amigos. Chamava-se José Manuel Ferreira de Jesus Tomé, era 1º GR FZE, do DFE nº 8.

Em conversa, soubemos que os procedimentos da Marinha, nestes casos, eram muito diferentes do Exército: este mandava um telegrama seco a dar a terrível notícia: a Marinha mandava pessoalmente, a casa dos pais, dois representantes seus...

Fazendo uma pesquisa na Net encontrámos apenas duas referências ao nosso infortunado camarada José Manuel Ferreira de Jesus Tomé: (i) a primeira, no nosso blogue (*); e (ii) uma segunda,  no blogue do DFE 8 (***).

Prometi à Maria Conceição e ao António Novais Ribeiro recordar aqui a saudosa memória do seu irmão e cunhado, publicando este poste que faz juz ao nosso ditado: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". (****)


3. Dois comentários ao poste P16601 (*)

(i) Tabanca Grande [Luís Graça]: 

Carlos [Vinhal], transmite ao Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, de cujos órgãos sociais fazes parte (1.º secretário da da Mesa da Assembleia Geral), o meu apreço por mais esta iniciativa, homenageando um camarada nosso, o 1º grumete fuzileiro do DFE 8, José Tomé, morto por acidente de viação, na Guiné, em 9/12/1971.

Deixa-me também, mais uma vez, destacar o grande brio, competência e dedicação que vocês põem em tudo o que fazem... O vosso Núcleo passa sempre com distinção e deve ser tomado como um exemplo para todos nós, antigos combatentes e respetivas associações de veteranos ou núcleos da LC. 

Um abraço do Luís

(ii) Alcindo [Manuel Pacheco] Ferreira da Silva, ex-1º tenente, cmdt do DFE nº 8 (1971/73)

Caro amigo

Gostava de transmitir ao Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes o meu apreço pela homenagem ao Grumete Fuzileiro Tomé. Fez parte do destacamento que tive a honra de comandar, era o mais novo de todos nós e foi o nosso primeiro camarada a partir. Era um jovem alegre, sempre bem disposto. Aproveitava todas as viagens que se tinham de fazer a Bigene para dar uma volta. Numa dela infelizmente teve um acidente.

(**) Vd. poste de 28 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13059: Comandos de Agrupamento, Operacionais e Temporários (1) (José Martins)

(***) Vd. blogue  Destacamento 8 de FZE (1971-73)

(****) Último poste da série > 15 de junho de  2017 > Guiné 61/74 - P17474: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca ... é Grande (108): Na Lourinhã, fui encontrar o ex-1º cabo at inf Alfredo Ferreira, natural da Murteira, Cadaval, que foi o padeiro da CCAÇ 2382 (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1968/70)... e que depois da peluda se tornou um industrial de panificação de sucesso, com a sua empresa na Vermelha (Luís Graça)

sábado, 11 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14863: Tabanca Grande (470): Carlos Manuel Baptista Nunes, ex-Marinheiro Fuzileiro Especial do DFE 8 (Ganturé, Cacheu e Gampará, 1971/73)

1. Mensagem do nosso camarada e novo amigo, Carlos Manuel Baptista Nunes, Marinheiro Fuzileiro Especial do DFE 8, Ganturé (Begene), Cacheu e Gampará, 1971/73, com data de 29 de Junho de 2015:

Camarada
Aqui estou, a juntar-me a este - já vasto - grupo!

Carlos Manuel Baptista Nunes
Marinheiro Fuzileiro Especial N.º 288/70
Unidade: Destacamento n.º 8 de Fuzileiros Especiais
Guiné 1971/1973
Ganturé (Begene), Cacheu e Gampará

Atualmente aposentado.
Servi no Corpo de Fuzileiros, de Janeiro de 1970 a Setembro de 1980.
Polícia Marítima: De Setembro de 1980 a Junho de 2006

Com um abraço
Carlos Baptista


2. Comentário do editor:

Caro camarada Carlos Baptista
É uma subida honra receber nesta tertúlia um combatente da nossa muito honrosa Marinha de Guerra Portuguesa. Em maioria, por aqui, somos combatentes do Exército, pelo que alguém do ar ou da água é especialmente bem recebido. Aqui tens a vantagem de não precisares de colete salva-vidas ou paraquedas porque a nossa Tabanca está sediada em terra firme.

Como sabes, este Blogue tem como finalidade o registo, na primeira pessoa, de memórias de ex-combatentes da Guiné. Depoimentos de pessoal da Marinha há relativamente poucos, uma vez que além dos camaradas Manuel Lema Santos e Pedro Lauret, ex-Imediatos da LFG Orion,  não me lembro de outras colaborações. Será que tu estás disposto a relembrar e a escrever sobre a actividade da Marinha de Guerra naquela terra de chão vermelho e águas turvas, especialmente sobre os nossos valorosos Fuzileiros?
Já agora, quero pedir-te que me esclareças o seguinte: referes Ganturé (Begene). Este Begene é algum local próximo de Ganturé ou quererás dizer Bigene? Vê as localizações nas respectivas Cartas, é só clicares em cima.

Para veres o que temos sobre o DFE 8 clica neste link.
Como podes verificar temos só 5 entradas pelo que tu poderás aumentar o registo de memórias da tua Unidade neste Blogue. Grande responsabilidade te propomos..

Disponibilizando-nos desde já para qualquer informação adicional, deixo-te, em nome da tertúlia e dos editores Luís Graça, Eduardo Magalhães Ribeiro e eu próprio, um abraço de boas-vindas.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
____________

Nota do editor

Último poste da série de 8 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14850: Tabanca Grande (469): Tibério Borges, ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2726 (Cacine, Cameconde, Gadamael e Bedanda, 1970/72)

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13697: In Memoriam (199): Lisboa, Cemitério dos Olivais: a última homenagem ao comandante Alpoim Calvão (1937-2014) (Vídeo de José Colaço, ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)... Missa do7º dia, hoje, às 19h15, na igreja paroquial de Cascais


Lisboa, parque do cemitério dos Olivais,  2 de outubro de 2014 > Alpoim Galvão (1937-2014): cortejo fúinebre com as devidas honras militares



Vídeo e foto: © José Colaço (2014). Todos os direitos reservados


1. Mensagem do José Colaço, com data de 2 do corrente, mandando-os a foto e o vídeo que publicamos acima


Lisboa, parque do cemitério dos Olivais,  2-10-2014: o tenente coronel Marcelino da Mata e o nosso camarada ex-furriel trms José Marcelino Martins enquanto esperavam o cortejo fúnebre com os restos motais do Comandante Alpoim Calvão (1937-2014).

Se acharem que devem publicar ok, caso contrário pode ficar para arquivo do blogue.

Junto também um pequeno vídeo: Cortejo fúnebre, com carro que antecede o carro fúnebre, transportando as insígnias do falecido. Uma comopanhia de fuzileiros com um terno de cornetins fazem a continêbncia

José Colaço

[ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65, que conheceu o então 1º tenente Alpoim Calvão, conandante do DFE 8, por ocasião da Op Tridente,jan-mar 1964]


PS - Sabemos pela leitura dos jornais que hoje será celebrada missa do7º dia, hoje, às 19h15, na igreja paroquial de Cascais, por sua intenção. _____________________

Nota do editor:

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11532: Notas de leitura (478): Homem de Ferro, edição de autor, por Manuel Pires da Silva (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Janeiro de 2013:

Queridos amigos,
Um dos pontos mais curiosos destas memórias é a evolução do combatente, sobretudo o que ele viu na Guiné entre 1962 e 1974. Descreve a explosão dos acontecimentos no Sul, quando escreve é percetível que há uma enorme confiança coletiva em estancar aquela rebelião para a qual os guerrilheiros, nos primeiros meses, não dispõem de qualquer informação.
Promovido a sargento, avalia a progressiva escalada de meios e o moral das tropa especiais e das forças em quadricula. Transmite por escrito um estado de desfalecimento pessoal e coletivo, as escoltas aos comboios de navios, sobretudo no Sul, são sempre atos temerários. Apercebe-se que há um estado de decomposição, um encolher de ombros, uma fuga ao confronto direto, de 1973 para 1974.
E participa no fim da guerra, dizendo sem rebuço que a partir do 25 de Abril todos quiseram depor as armas.
Um testemunho íntegro e genuíno, o do Homem Ferro.

Um abraço do
Mário


Homem Ferro, Memórias de um combatente (2) 

Beja Santos

A segunda comissão de Manuel Pires da Silva envolve sobretudo escoltas e diversas atribulações operacionais. Colocado em Ganturé, os fuzileiros sabem que têm um inimigo motivado e bem municiado na região de Sambuiá, bem ali perto. Em Janeiro de 1970, o Homem Ferro acompanha o DFE 7 à península de Sambuiá, nada de espetacular. O DFE 8, em Fevereiro, segue para uma operação em frente a Cumbamori. “Nessa operação vai o Homem Ferro com a respetiva secção de morteiro 81, sob as ordens do COP3. Na véspera a secção reunira para acertar alguns detalhes e qual não foi o espanto do Homem Ferro quando lhe aparecem, a oferecer-se como voluntários, o Pinto e o Alfaiate”. Mais adiante fala na deserção destes três marinheiros, descreve as dificuldades em desalojar os guerrilheiros de Sambuiá, em Agosto regressa a Bissau para voltar às escoltas. Surge entretanto uma nova dificuldade, agora o PAIGC já usa minas aquáticas, é necessário levar uma equipa de mergulhadores para as desativar. E com todas estas idas e vindas a Companhia de Fuzileiros 10 é rendida em Janeiro de 1971.

O Homem Ferro tinha agora família constituída. Questiona-se se deve continuar neste vaivém de comissões. Oferecera-se como voluntário na Marinha, cumprira 6 anos de contrato, depois fizera curso para sargento, chegara a primeiro-sargento com 27 anos. Não queria pôr em causa a carreira que conquistara com tenacidade e muito sacrifício. Teve um desaguisado quando concorreu a oficial do Serviço Especial, sentiu-se preterido, encarou seriamente a hipótese de deixar a Marinha, a resposta que lhe deram é que só teria direito a uma pequena pensão a partir de 1975. Depois de algumas andanças, parte para a terceira comissão na Guiné, em Outubro de 1972, integrado na Companhia 2. Passa os primeiros 4 meses em missões de segurança interna. E começa a reparar que a tropa nos aquartelamentos começa a baixar os braços, tornou-se inequívoco que era às tropas especiais quem os altos comandos constantemente recorriam. Com a chegada dos misseis aumentaram as dificuldades com a perda da supremacia aérea, o Homem Ferro chegou a ir numa operação com o DFE 1 em buca dos destroços de 2 aviões abatidos na zona de Talicó. Comenta que esta nova arma obrigava a rever todos os procedimentos operacionais e logísticos, já que toda a estratégia assentava nos reabastecimentos feitos ou vigiados pela Marinha e nos apoios rápidos à responsabilidade da Força Aérea.

O Homem Ferro volta às escoltas e aos comboios de navios, intensificaram-se as medidas de segurança nos rios Cobade e Cumbijã. As operações do PAIGC em Maio, tanto em Guidage como em Guilege e Gadamael Porto deixaram mazelas, percebia-se bem que o inimigo fazia ofensivas à carta, estabelecia as regras de jogo, quem fazia escoltas nos rios do Sul estava sempre à espera do pior, ele sentia sempre receio enquanto percorria os rios a caminho de Cacine, Cufar ou Catió, entre outras paragens. De forma intermitente, assiste ao espetáculo dos misseis a voar por cima dos aquartelamentos. As escoltas para Cacheu, Ganturé e Binta são outras missões que lhe cabem. Mostra-se muito crítico sobre as forças na quadrícula, em meados de 1973: “Os quartéis no mato pareciam fechados para férias. Ninguém saía para lá do arame farpado e os relatórios das patrulhas eram viciados. Parecia um jogo combinado com os guerrilheiros, tu não atacas, eu também não ataco”. Mais adiante, observando a situação em Novembro: “No mato, a desmoralização é total. A toda a hora chegam notícias de novos ataques a Gadamael Porto, Chugué, Bedanda, Cameconde, Jemberém, Cafal Balanta, Buba, Gampará, Cadique, Bigene e Canquelifá. Tudo está a ferro e fogo. Fuzileiros, paraquedistas e comandos já não chegam a todo o lado, como faziam dantes. As operações são, agora, todas em grande escala, mas os guerrilheiros já nem as tropas especiais respeitam, têm armamento mais sofisticado do que o dos portugueses. Fala-se numa invasão eminente, a Guiné-Bissau declarou a sua independência, supõe-se que será uma invasão apoiada pela Organização da Unidade Africana”. Em Janeiro de 1974, o Homem Ferro regressa às escoltas. Em Fevereiro, tem pela frente uma estadia em Ganturé, prevista até fins de Maio. Retomam-se as idas a Sambuiá, quase sempre muito fogachal, às vezes o inimigo debanda e tece considerações sobre as emboscadas nos rios: “Não há comparação entre uma emboscada em terra e uma sofrida a meio do rio. Aí todos são obrigados a ser audazes, pois não têm por onde se esconder. Só quem passou por elas faz ideia do como são terríveis. Normalmente, só à traição um fuzileiro podia ser derrubado. Mesmo nestas difíceis condições, em que já nem com o apoio aéreo podiam contar, os fuzileiros nunca fraquejavam”. Observa uma escalada ofensiva na região Norte, sem resposta à altura: “A tropa está desmoralizada e os fuzileiros já nem têm sargentos especiais. Começam a aparecer os subsargentos, equiparados a furriéis, mas as praças mais antigas, também com duas ou três – algumas com quatro! – comissões cumpridas já não acreditam neles como acreditavam no sargentos. Chegam informações de que já têm navios rápidos e aviação forte”.

Informações sobre o 16 de Março e o 25 de Abril chegam a Ganturé. O regozijo é geral: “A guerra na Guiné acabou logo ali. Não houve mais tiros. Havia, agora, que negociar independência”. Há encontros amistosos com grupos do PAIGC. Parte com saudades, gosta muito daquele povo: “Apesar de todos os sacrifícios sofridos na pele e das desagradáveis surpresas da guerra, com tantas emboscadas violentas, nunca foi maltratado por nenhum guinéu. Pelo contrário, a lealdade que sempre lhes conheceu, levou-o a sentir grande consideração por todo o povo guineense”.

Aos 38 anos despediu-se da Briosa, guarda a Escola de Fuzileiros no coração. Partia rumos a novos sonhos. Pôs em letra de forma as suas memórias porque entende que os portugueses têm direito a saber o que fizeram os fuzileiros na Guiné. Junta as suas fotos na recruta, na Escola de Fuzileiros, nas primeiras operações na Guiné, na guarda aos prisioneiros do PAIGC, nas batidas em Jabadá, na operação Tridente, nas patrulhas do rio Cacheu, percebe-se bem que foi esta primeira comissão que mais o tocou, andou sempre na primeira linha do combate; depois as fotos nas operações em Sambuiá.
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de Maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11521: Notas de leitura (477): Homem de Ferro, edição de autor, por Manuel Pires da Silva (1) (Mário Beja Santos)

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7290: (De) Caras (7): Titina Silá poderá ter sido morta por forças do Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 8 (Comandante Alcindo Ferreira da Silva)




1. Mensagem de Alcindo Ferreira da Silva, um camarada nosso, comandante da Marinha, professor, especialista de ensino à distância, com obra publicada:

Data: 15 de Novembro de 2010 21:54
Assunto: Blog Luís Graça e Camaradas da Guiné

Caros senhores

Um amigo chamou-me a atenção para a uma notícia sobre a morte da guerrilheira Titina Salá [, foto à direita,] em 30 de Janeiro de 1973 no decorrer de um encontro com botes de fuzileiros no rio Cacheu publicada no vosso blog. (*)

Como me encontrava por esses lados na data referida, a curiosidade levou-me a consultar os meus arquivos dessa época.

Na altura encontravam-se sediados em Ganturé dois Destacamentos de Fuzileiros Especiais. O DFE8 e o DFE12, pelo que a ter acontecido esse encontro teria de ser com estas unidades.

Consultando os arquivos e notas que guardo, não encontro qualquer referência a contacto com o IN no dia 30 de Janeiro.

No entanto nos dias 31 de Janeiro e 1 de Fevereiro, durante o decorrer da Acção Salisburia há referências que podem ter  alguma coisa a ver com o acontecimento relatado.

No dia 31 pelas 1630 duas parelhas de botes do DFE8 interceptaram e atacaram um bote de borracha com 8 elementos armados perto da clareira do Jagali. O pessoal que seguia no bote lançou-se ao rio e, ao mesmo tempo, a parelha de botes que seguia à frente foi atacada da margem sul do rio Cacheu. Os botes reagiram e com a protecção da segunda parelha recolheu-se o bote abandonado e retirou para fora da clareira pedindo e regulando o fogo de obus enquanto eram flagelados com fogo de morteiro. 

A LFG Sagitário chegou ao local cerca de 20 minutos depois e bateu com fogo as duas margens do rio. O pessoal dos botes desembarcou de seguida, mas foi mandado retirar porque eram poucos homens e tinham esgotado quase todas as munições.

No relatório da operação referem-se baixas prováveis no IN. Uns dias depois receberam-se notícias de teria morrido nesse recontro várias pessoas entre as quais um cubano de nome Alexandre, instrutor/mecânico de Armamento que se dirigiria para o Morés.

No dia 1 de Fevereiro, na mesma zona num patrulhamento ofensivo realizado pelos DFE8 e DFE12 foram detectadas marcas da presença de muito pessoal e capturado material diverso e uma canoa de 6 metros abandonados .

Se a morte de Titina Salá se verificou realmente no dia 30 de Janeiro numa acção dos fuzileiros isso só poderia ter acontecido num disparo sobre qualquer movimento suspeito na margem, acções essas que, por serem muito frequentes, não eram registadas.

Com os melhores cumprimentos
Alcindo Ferreira da Silva




Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu > Ganturé-Bigene > "NRP Sagitário: 20-12-71. Feliz Natal".O fotógrafo estava lá... 

Uma foto muito feliz do Cmdt A. Rodrigues da Costa, gentilmente disponibilizada pelo ex-1º Tenente RN Manuel Lema Santos, que esteve connosco na Tabanca Grande até há poucos meses, e que é webmaster do sítio Reserva Naval.

Foto: © Manuel Lema Santos  (2006) (com a devida vénia ao Cmdt A. Rodrigues da Costa). Direitos reservados.


2. Comentário de L.G.:

Caro comandante Alcindo Ferreira da Silva (se é que o posso tratar assim), caro camarada, ex-combatente da Guiné, caro colega das lides pedagógicas: Estou-lhe grato pelos esclarecimentos que, de pronto, nos quis prestar. 

Qualquer dos cenários sobre a morte da Titina Silá que nos apresentam,  são verosímeis:   (i) a 30 de Janeiro de 1973, vítima de disparos efectuados sobre a margem sul do rio; (ii) 31 de Janeiro, por volta das 16h30, quando os dois botes do DFE 8 interceptam um bote do PAIGC com 8 elementos armados...

É possível a partir daqui apurar mais pormenores. O meu muito obrigado. Em nome da nossa Tabanca Grande. E do direito que todos temos, portugueses e guineenses, à informação e ao conhecimento, objectivo,  sobre a realidade (histórica) da guerra da Guiné (1961/74). 

Espero que apareçam mais antigos camaradas da Marinha que nos possam adiantar mais esclarecimentos sobre as circunstâncias da morte desta importante dirigente do PAIGC, ainda hoje envolta na penumbra da lenda. No fundo, o que ficará para a posteridade (se deixarmos morrer todas as testemunhas deste acontecimento, de um lado e do outro)  é a letra da canção, é o mito, é a construção social da heroína: " “Titina na riu di Farim, Titina nada i tchiga na metadi i fasi força pa iangasa kanua tuga odjale i kunsa lança bumba…” (...)

3. Comentário, a este poste,  do Nelsom Herbert, com data de 16/11/2010:

(...) A versão do ataque de 31 de Janeiro pelo destacamento de fuzileiros não difere da contada pelos guerrilheiros sobreviventes que acompanhavam na altura Titina Sila... Surpreendidos pelo fogo intenso dos fuzileiros, os ocupantes do bote ou canoa tiveram que se atirar ao rio... alguns feridos, caso da Titina Sila... que terá ainda chegado viva, mas gravemente ferida às margens do rio...

V
a-se ver que a data foi mesmo 31 de Janeiro..."instead of" [em vez de]  30 de Janeiro ! (...)

________________

Nota de L.G.:


(*) Vd. poste de 14 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7281: (De) Caras (6): Titina Silá (1943-1973), morta duas vezes, pelos fuzos e pelo esquecimento... (Nelson Herbert / Luís Graça)

segunda-feira, 30 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4108: Convívios (104): BCAÇ 1861, dia 25 de Abril em Vizela e, BCav 490 e DFUZ8, dia 30 de Maio em Viseu (J. César / V. Oliveira)

Encontros de ex-combatentes da Guiné


1.
Mensagem do nosso camarada Júlio César, ex-1.º Cabo da CCAÇ 2659/BCAÇ 2905 (Cacheu, 1970/71), com data de 23 de Março de 2009:

BCAÇ 1861

Buba- Guiné 65/67


Vizela, 25 de Abril de 2009

Concentração às 11,00 horas no Forum Vizela

Almoço/Convívio Park Clube

Contacto:

Boaventura Alves Videira
Tmovel: 964 534 332

________________________


2. Mensagem do Valentim de Oliveira, com o pedido para avisar que está próximo o

Almoço/Convívio dos

BCav 490 e

8º Destacamento de Fuzileiros


Caro Amigo,

Novo Ano, nova reunião de Camaradas, desta vez a 30 de Maio no prestigiado Restaurante na "Quinta dos Compadres" em VISEU, Cidade de VIRIATO.

Como sempre continuamos a diligenciar para encontrar novos e velhos camaradas para o nosso convívio, assim como qualquer outro camarada de outras unidades do T.O. da Guiné, familiares e amigos dos nossos amigos bem-vindos.

Preços:

- Adultos: € 30

- Crianças dos 3 aos 10 anos: € 15

A confirmação da vossa presença é obrigatória e deverá ser feita até ao dia 17 de Maio para:

Valentim Oliveira

Telefone: 232912219

Telemóvel: 914650566

E-mail: valentimoliveira@sapo.pt

ou

Luís dos Santos Coimbra

Telefone: 232951889

Telemóvel: 969187415

Nome:_______________________________________________________

Morada:_____________________Telefone:_________________________

Nº de Adultos:_______________Nº de Crianças:_____________________

Os internautas podem fazer a visita ao site: http://www.blogger.com/www.quintadoscompadres.com

Para não te perderes:


_________

Vd. último poste da série de 20 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4057: Convívios (102): Pessoal da CCAV 2748, dia 30 de Maio de 2009 em Benavente (Francisco Palma)

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2764: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Pedro Lauret: O papel da Marinha em Guidaje e Gadamael, Maio-Junho de 1973

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cacine > 2 de Março de 2008 > Visita de um grupo de participantes do Simpósio Internacional de Guileje, depois de um almoço em Cananime, na margem direita do Rio Cacine. É hoje uma povoação com evidentes sinais de abandono e decadência.

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Azalai > 7 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje > O último dia da nossa estadia > Três companheiros de uma jornada inesquecível: O Capitão de Mar e Guerra, na situação de reforma, Pedro Lauret, Iva Cabral, historiadora, primeira filha de Amílcar Cabral e da portuguesa Maria Helena Ataíde Vilhena, e o Cor Comando, na situação de reforma, Carlos Matos Gomes (também conhecido e celebrado autor de obras de ficção sobre a guerra colonial e as vivências de África, sob o pseudónimo de Carlos Vale Ferraz).

Fotos e legendas: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu > A LFG Orion a navegar no Cacheu em Janeiro de 1967.

Foto: © Lema Santos (2006). Direitos reservados.

"A revolta do navio Orion, da Marinha portuguesa, no dia 2 de Junho de 1973 foi decisiva para salvar a vida de centenas de soldados e população que fugiram dos bombardeamentos do PAIGC na batalha de Gadamael. Este episódio de desobediência a ordens de Spínola, desconhecido até hoje, é indissociável da resistência travada por meia dúzia de soldados no interior do aquartelamento de Gadamael. As suas histórias são aqui contadas por alguns dos seus protagonistas, como o comandante da Marinha Pedro Lauret, o coronel dos comandos Manuel Ferreira da Silva e o grumete Ulisses Faria Pereira. Eles são, com outros, os heróis desconhecidos de Gadamael". (In: "A nave dos feridos, mortos, desaparecidos e enlouquecidos. Uma investigação de Eduardo Dâmaso". Público, nº 5571, 26 de Junho de 2005).


1. Mensagem do Pedro Lauret (1), com data de 8 de Abril, respondendo ao meu pedido para publicar, no blogue, a sua comunicação ao Simpósio Internacionald e Guileje:


Caro Luís,

Tens toda a autorização para publicares a minha comunicação no Simpósio, que agradeço.

A gala da A25A [- Associação 25 de Abril ] foi espectacular muita emoção, muitas recordações… [Gala Vozes de Abril, no dia 4 de Abril de 2008, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa]

Tenho acompanhado, [no nosso blogue,] as reportagens da Guiné, que estão excepcionais. É muito bom que um acontecimento histórico, como foi o Simpósio, esteja devidamente documentado e divulgado.(...)

Brevemente teremos que falar sobre o nosso site da Guerra Colonial, que penso que estará pronto no último trimestre deste ano.

Um abraço

Pedro Lauret


2. Comunicação do Capitão de Mar e Guerra, na situação de reforma, Pedro Lauret, no Simpósio Internacional de Guileje: Bissau, Hotel Palace, de 5 Março de 2008, Painel 2. Título da comunicação: A Marinha no Teatro de Operações da Guiné. Guileje Gadamael, Maio Junho de 1973, o papel da Marinha.



A Marinha no Teatro de Operações da Guiné. Guileje Gadamael, Maio-Junho de 1973, o papel da Marinha (2)

por Pedro Lauret (3) . Subtítulos de L.G.


(i) Imediato da LFG Orion, em fim de comissão: subordinando as suas convicções políticas à vida dos seus subordinados


Tentei até agora dar uma visão sintética da História da Marinha após a II Guerra Mundial, seu enquadramento político, e a realidade que emergiu do início da Guerra Colonial.

Sinteticamente também pretendi transmitir o que era a Marinha no teatro de operações da Guiné.

Para terminar vou abordar os acontecimentos ocorridos em Maio e Junho de 1973 em que participei. Será uma narrativa muito mais pessoal e opinativa, embora, obviamente baseado em factos reais por mim vividos.

Fui imediato do NRP Orion uma LFG, de Setembro de 1971 a Julho de 1973 (4), o meu navio esteve sempre operacional pelo que tive oportunidade de conhecer bem todos os rios com água suficiente para o meu navio passar.

Quando em 1971 cheguei a Bissau, jovem guarda-marinha de 22 anos, já tinha sobre a guerra uma visão clara da sua natureza, já tinha uma visão clara da natureza do regime ditatorial em que nascera e logicamente sabia que iria combater por uma causa que não considerava justa. Era uma situação difícil, que aceitei lucidamente com a noção das dificuldades que iria encontrar. Tinha também uma certeza: uma vez que optara por ir, a prontidão e operacionalidade do meu navio nunca poderia estar em causa. A vida dos meus subordinados e o meu compromisso com eles sobrepunham-se às minhas convicções.

Nas muitas milhas que naveguei tive oportunidade de desembarcar em muitos aquartelamentos do Exército, apreciei o modo de vida dos soldados, o seu dia-a-dia, as casernas, os abrigos. Vi jovens como eu, condenados a passar dois anos fora das suas terras, das suas famílias e amigos, vivendo dias de tensão e de perigo, mal comidos, mal fardados, mal armados. Vi muitas companhias comandadas por jovens capitães milicianos, com início de carreira interrompida, completamente desmotivados e incapazes de conduzir satisfatoriamente os 170 homens que comandavam. Aqueles homens, além do mais, estavam também mal comandados.

Quando à noite no meu navio, fundeado no Cumbijã, ou Cacine, atracado em Bigene ou em Binta ou em qualquer outro local, via e ouvia os rebentamentos, ora dos morteiros ou foguetões de 122, ora a resposta dos obuses do exército, era um espectáculo inesquecível de uma beleza cruel. Por detrás de cada um daqueles rebentamentos e clarões poderia naquele momento ter acabado de morrer ou ficar ferido algum ser humano.

Todas estas situações me levavam a pensar: que regime era aquele que durante tantos anos atirava gerações sucessivas de jovens para aquela situação, uma guerra votada ao insucesso e à derrota.

(ii) Gudaje, a ferro e fogo, e três aeronaves abatidas no dia 8 de Maio de 1973

Foi já em fim de comissão, no início de Maio de 1973, propriamente no dia 8, que estando atracado em Bigene logo pela manhã sinto em terra, onde estava aquartelado o Destacamento de Fuzileiros nº 8 (DFE 8), movimento fora do comum, indiciando que algo de grave se passava ou iria passar.

Guidaje fora atacada logo aos primeiros alvores com enorme intensidade tendo feito um elevado número de feridos. Um Dornier tinha levantado de Bissau e dirigia-se a Bigene para recolher o médico que aí se encontrava para, posteriormente, ir socorrer os feridos. Logo após ter levantado e a meio caminho de Guidaje foi abatido.

O DFE8 estava em preparativos para se deslocar para o local. O destacamento devia embarcar no meu navio e ser largado, por botes, junto à foz do pequeno Rio Jagali. Neste meio tempo começa um movimento de helicópteros como em 2 anos nunca vira. A princípio não me apercebi do que se passava, depois fui informado que uma companhia de Páras fora transportada de Bissau para Bigene para a partir daí seguir ao encontro do DFE 8 e ambos tentarem resgatar o que fosse possível.

Entretanto vindos de Bissau dois T6 foram bombardear a zona e um deles foi de imediato abatido.

Conseguimos desembarcar o DFE8 conforme previsto, que conseguiu chegar ao local onde os aviões se encontravam, sem incidentes. O mesmo não aconteceu à companhia de Páras que à saída de Bigene fora emboscada e tivera um morto.

Algumas horas depois reembarcámos os fuzileiros que só encontraram destroços carbonizados, e entre eles um pedaço do míssil que abatera o avião. Esse pedaço de míssil foi por nós trazido para Bissau, poucos dias depois. Serviu para confirmar, com certeza, que se tratava de um míssil Strella.

Viemos posteriormente a saber que, nesse mesmo dia, tinha levantado um outro Dornier rumo a Guidaje para socorrer os feridos da manhã, conseguira aterrar, mas ao levantar, após ter embarcado os feridos, desaparecera sendo dado por abatido.

Três aviões no mesmo dia foram abatidos, o que levou a Força Aérea a interromper as suas missões, só as retomando algum tempo depois com perfis de voo defensivo e uma eficácia global muito reduzida.

Esta situação de perda da superioridade total do ar, como sempre tivéramos, teve de imediato duas muito graves consequências:

- As evacuações de feridos por helicóptero não se faziam;
- Não havia apoio aéreo próximo que permitisse interromper ataques às nossas tropas.

Estas circunstâncias vão permitir ao PAIGC cortar a estrada de Binta a Guidaje e montar-lhe um cerco que, apesar de muitos esforços, só consegue ser totalmente levantado através da Operação Ametista Real que envolve a totalidade do Batalhão de Comandos Africanos.


(iii) 1 de Junho: no sul, no Rio Cumbijã, para embarcar uma companhia de páras em Cafine

Após alguns dias de estadia em Bissau para pequenas reparações e reabastecimento, sigo para o Rio Cumbijã, render a LFG que aí se encontrava em missão. Tínhamos como força, além da própria LFG, duas LDM e transportávamos 8 botes e respectivos motores com elementos da companhia de fuzileiros para o seu manuseamento e condução.

No dia 1 de Junho ao jantar sou alertado pela cabine de TSF que estava a chegar uma mensagem “O” – designativo para mensagem de muito elevado nível de precedência – dirigi-me à cabine e assisti ao final da decifração da mensagem.

O teor da mensagem era preocupante: Dirigir-se a Cafine na margem esquerda do Cumbijã e embarcar uma companhia de Páras que aí se encontrava estacionada e de imediato seguir para Cacine.

Só o facto de efectuar o embarque no navio àquela hora e naquelas circunstâncias denotava uma situação grave e urgente.

Demos ordem às 2 LDM para seguirem para Cacine pelo Canal do Melo o que abreviava em muito a viagem. Nós não podíamos seguir aquele itinerário devido ao nosso calado.

Conseguimos embarcar a companhia sem incidentes e dirigimo-nos para Cacine, onde chegámos aos primeiros alvores do dia seguinte. Aí, após termos desembarcado a companhia, entrou a bordo o Major pára-quedista Pessoa que nos informou:
- Que Guileje, após intensos bombardeamentos, fora evacuada e o contingente aí instalado seguiu para Gadamael;
- Que o Major Coutinho e Lima, comandante do COP, que tinha dado a ordem, seguira para Bissau sob prisão;
- Que Gadamael estava sob fogo intenso e a grande maioria dos militares tinha fugido para as margens do rio Cacine;
- Que o General Spínola tinha estado em Cacine e tinha dado ordem explícita para ninguém ir socorrer o pessoal que andava fugido nas margens do rio, apelidando-os de cobardes.

O Major Pessoa ainda nos informou que, se nós não fossemos recuperar o pessoal, ele próprio iria nem que fosse de canoa.

Pela minha cabeça, de imediato, passou a imagem dos generais que em Nuremberga justificaram as atrocidades que cometeram por terem recebido ordens para as executar. Sem obviamente querer comparar a gravidade relativa do caso, foi isto que pensei. Pensei que há ordens que não se cumprem, apesar de nós, militares, sermos formados para obedecer. A recusa ao cumprimento de tal ordem era uma exigência de honra, era uma exigência moral.

(iv) No Rio Cacine, recolhendo o pessoal fugido de Guileje e de Gamadael


O navio por sua inteira responsabilidade, e sem nada comunicar ao Comando da Defesa Marítima, decidiu de imediato ir recuperar o pessoal. Foram dadas indicações aos patrões das LDM para seguirem nas águas da Orion.

Passámos o rio Meldabon junto a uma marca radar (marca Lira), a qual já não era passada por uma LFG há muito, não se conhecendo a situação dos fundos.

Conseguimos seguir até ao rio Dideragabi, para montante era impossível navegar pois já não tínhamos fundo.

Foram colocados botes na água que passaram revista à margem esquerda do Cacine bem como as duas LDM. Foram recolhendo pessoal que traziam para bordo da Orion onde os feridos passaram a ser tratados, os mais ligeiros no convés, os mais graves foram para a coberta das praças. Foi fornecida alguma alimentação ao pessoal. Como já havia muito pessoal a bordo as LDM passaram a levar o pessoal para Cacine.

Já de noite a Orion dirigiu-se a Cacine, não podendo desembarcar os feridos mais graves pois estávamos em baixa-mar e a pista de lodo impedia-o.

Nesse dia a coberta das praças funcionou como navio hospital. O soro, compressas e outra material de primeiros socorros esgotaram. Foi pedido reabastecimento urgente a Bissau. Na manhã seguinte o material chegou num pequeno avião da Marinha.

O ambiente na coberta das praças estava de tal forma carregado de vapores de éter, que, tendo entrado uma praça a fumar, provocou uma explosão que fez disparar os disjuntores dos geradores, colocando o navio, por breves momentos às escuras.

Não sei descrever a situação moral e psicológica daqueles homens, as palavras não eram muitas, só os seus olhares denunciavam, sem margem para dúvidas, os sofrimentos porque passaram.

Esta operação continuou nos dias seguintes, não sei quantos homens evacuamos naquele dia 2 de Junho, mas certamente entre militares e população ultrapassou o milhar (confirmei na visita a Guileje que da população eram mais de 600 pessoas).

Continuámos nos dias seguintes a dar apoio aos pára-quedistas que entretanto tinham desembarcado em Gadamael.

Após alguns dias fomos rendidos e regressámos a Bissau. A bordo, deixadas de lado, algumas dezenas de G3 abandonadas pelos soldados. O princípio de nunca abandonar a própria arma já não tinha qualquer sentido.

(v) A controversa ordem de Spínola, ditada pelo desnorte militar, prenúncio do 25 de Abril
Quero concluir com duas notas.

A ordem do general Spínola não corresponde, em minha opinião a uma intenção sincera, revela antes um desnorte pela situação militar que então se vivia e pela incapacidade de a debelar.

Revela ainda que uma derrota militar na Guiné se podia aproximar rapidamente, com consequências, em termos de sacrifícios humanos, imprevisíveis, e que o Estado Novo se preparava, como fez na Índia para culpar os militares pela derrota, lavando com sangue a sua i ncapacidade para encontrar soluções políticas para os conflitos.

O 25 de Abril estava em marcha.

______________
Notas de L.G.:

(1) Vd. poste anterior: 13 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2629: Fórum Guileje (3): A Marinha esteve como peixe dentro de água no CTIG, e teve um papel logístico fundamental (Pedro Lauret)

(2) Também está disponível, em formato.pdf, no blogue da A25A,
Avenida da Liberdade.

(3) No nosso blogue, também já está disponível a comunicação do Cor Art Ref Coutinho e Lima:

23 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2677: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Coutinho e Lima (1): Comandante do COP 5, com 3 comissões no CTIG

23 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2678: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Coutinho e Lima (2): A dolorosa decisão da retirada de Guileje

(4) Sobre o Pedro Lauret, vd os postes:

1 de Outubro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1137: Do NRP Orion ao MFA: uma curta autobiografia (Pedro Lauret, capitão-de-mar-e-guerra)

Sobre o desempenho da LFG Oiron e outros navios da nossa Marinha no TO da Guiné, vd.:


21 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXIII: Apresenta-se o Imediato da NRP Orion (1966/68) e 1º tenente da reserva naval Lema Santos

5 de Maio de 2006 >
Guiné 63/74 - DCCXC: Os marinheiros e os seus navios (Lema Santos)

15 de Junho de 2006 >
Guiné 63/74 - P878: Antologia (42): Os heróis desconhecidos de Gadamael (Parte I)

15 de Junho de 2006 >
Guiné 63/74 - P879: Antologia (43): Os heróis desconhecidos de Gadamael (II Parte)

5 de Outubro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1151: Resposta ao Manuel Rebocho: O papel do Orion na batalha de Guileje/Gadamael (Pedro Lauret)

31 de Outubro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1231: Estórias avulsas (5): Rio Cacheu: uma mina aquática muito especial (Pedro Lauret)

7 de Março de 2007 >
Guiné 63/74 - P1571: A Operação Larga Agora, o Tancroal / Porto Batu e as cartas náuticas do Instituto Hidrográfico (Lema Santos)

18 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2659: Histórias da Marinha (1): Um ataque à LFG Lira em 1967, em Cadique, no Rio Cumbijã (Manuel Lema Santos)

27 de Janeiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2483: Estórias de Guileje (3): Devo a vida a um milícia que me salvou no Rio Cacine, quando fugia de Gadamael (ex-Fur Mil Art Paiva)

(...) "Por obra do acaso, deparei hoje com alguns blogues sobre os acontecimentos ocorridos em Guileje e Gadamael no período de 1972 a 1974 (2). Porque na oportunidade desempenhava funções de furriel miliciano afecto à Unidade de Artilharia localizada inicialmente em Guileje, e posteriormente retirada para Gadamael (após o abandono do primeiro daqueles aquartelamentos), tomei parte nos referidos acontecimentos.

(...) "Este pelotão de artilharia retirou na totalidade para Gadamael quando foi dada ordem de abandono do aquartelamento de Guileje. Para além dos graduados e oficial acima referidos, retiraram ainda os cabos e praças (estes últimos naturais da Guiné).

"Em Gadamael, a artilharia passou efectivamente muito maus bocados mas não ficou totalmente inoperacional, tanto quanto me recordo. O seu alferes teve aliás um comportamento de bravura pois foi ferido e continuou a desempenhar as sua funções, embora numa situação bastante precária.

(...) "Já agora poderia acrescentar que uma parte dos militares que se deslocaram para Gadamael, acabaram por abandonar também este aquartelamento, acompanhados de parte da população. Porém uma parte dos militares conseguiu aguentar este aquartelamento até à chegada de reforços que entretanto para ali foram enviados.

"Alguns oficiais, sargentos e praças (acompanhados de parte da população) - nos quais me incluía eu -, iniciaram uma retirada para Cacine que foi efectuada debaixo de fogo e que se processou em botes dos fuzileiros. Já agora poderei acrescentar que a evacuação não foi totalmente conseguida nesse dia porque entretanto as operações de resgate foram suspensas por ter começado a anoitecer.

(...) "Eu próprio iniciei a travessia antes de se ter completado o vazamento da maré e, porque não era um nadador exímio, e por outro lado com o peso das botas e da G3 e a força da corrente, tive que a meio da travessia me desembaraçar da minha arma (foi para o fundo do rio) para não morrer afogado. E fiquei a dever a minha vida a um milícia guineense que na outra margem do rio - e a partir do lodo onde se encontrava e para onde eu pretendia arrastar-me - me estendeu a coronha da sua arma a que eu, num esforço titânico, consegui agarrar-me. Fiquei a dever-lhe a minha vida e, no meio da confusão e do caos, sem saber a quem concretamente (ainda hoje...)" (...)