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sexta-feira, 19 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11422: Álbum fotográfico de Carlos Fraga (ex-alf mil, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973) (2): Tabanca de Jugudul, a ferro e fogo, na sequência do ataque IN a 23/1/1973: mais de meia centena de moranças destruídas



Guiné > Região do Oio > Setor 4 (Mansoa) > BCAÇ 4612/72 (1972/74) > Jugudul > Foto nº 2/17 > 1973 > Ruínas de moranças , destruídas pelo PAIGC na sequência do ataque de 23/1/1973.


Guiné > Região do Oio > Setor 4 (Mansoa) > BCAÇ 4612/72 (1972/74) > Jugudul > Foto nº 2/18 > 1973 > Ruínas de moranças , destruídas pelo PAIGC na sequência do ataque de 23/1/1973.


 Guiné > Região do Oio > Setor 4 (Mansoa) > BCAÇ 4612/72 (1972/74) > Jugudul > Foto nº 2/19 > 1973 > Ruínas de moranças, destruídas pelo PAIGC na sequência do ataque de 23/1/1973.


  Guiné > Região do Oio > Setor 4 (Mansoa) > BCAÇ 4612/72 (1972/74) > Jugudul > Foto nº 2/21 > 1973 > Ruínas de moranças, destruídas pelo PAIGC na sequência do ataque de 23/1/1973.



  Guiné > Região do Oio > Setor 4 (Mansoa) > BCAÇ 4612/72 (1972/74) > Jugudul > Foto nº 2/23 > 1973 > Ruínas de moranças, destruídas pelo PAIGC na sequência do ataque de 23/1/1973.


Fotos: © Carlos Alberto Fraga (2013). Todos os direitos reservados

1. Continuação da publicação do álbum fotoográfico do Carlos Fraga, o mais recente membro da nossa Tabanca Grande (nº 611). Ele esteve em Mansoa, nos últimos meses de 1973, como alf mil, numa espécie estágio operacional, antes de ir comandar uma companhia em Moçambique, já depois de 25 de abril de 1974. Estas fotos, adquiridas por ele, terão sido tiradas em janeiro de 1973, de acordo com a nota, recente, que ele me mandou:

"Caro Luís: Na sequência das fotos do Jugudul tiradas por mim, sugeria-te publicares as que te enviei a preto e branco mostrando a destruição da tabanca. Como te disse creio que essas (a preto e branco) não terão sido tiradas por mim mas que as terei obtido na Guiné desconhecendo quem seja o autor.A destruição parece demasiado recente para ter sido eu a tirá-las (só cheguei meses depois) e eu tirava principalmente slides e fotografias a cores. Muito poucas a preto e branco."




Guiné > Região do Oio > Carta de Mansoa (1954) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Mansoa e Judugul, separadas pelo Rio Mansoa. E ainda Cussaná, a nordeste de Mansoa.

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Nota do editor:

Último poste da série > 18 de abril de 2013 >  Guiné 63/74 - P11417: Álbum fotográfico de Carlos Fraga (ex-alf mil, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973) (1): Jugudul, onde o PAIGC, em 23/1/1973, provocoiu 6 mortos e destruiu mais de meia centena de moranças

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11417: Álbum fotográfico de Carlos Fraga (ex-alf mil, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973) (1): Jugudul, onde o PAIGC, em 23/1/1973, provocoiu 6 mortos e destruiu mais de meia centena de moranças



Guiné > Região do Oio (Mansoa) > BCAÇ 4612/72 (1972/74) > Foto nº 1 > Jugudul. Reordenamento. [Não sabemos ao certo a data desta imagem, se é antes ou depois do ataque, referido por António Graça de Abreu: em 23 de janeiro de 1973, em que o PAIGC destruiu mais de meia centena de moranças, ataque de resto confirmado pela consultada à história da unidade].



Guiné > Região do Oio (Mansoa) > BCAÇ 4612/72 (1872/74) > Jugudul > Foto nº 2 >  s/d > Ruínas da tabanca, destruída pelo PAIGC.



Guiné > Região do Oio (Mansoa) > BCAÇ 4612/72 (1972/74) > Jugudul > Foto nº 4 >  s/d > Ruínas da  tabanca, destruída pelo PAIGC.


Guiné > Região do Oio (Mansoa) > BCAÇ 4612/72 (1972/74) > Jugudul > Foto nº 5 > s/ d Ruínas da tabanca, destruída pelo PAIGC.




Guiné > Região do Oio (Mansoa) > BCAÇ 4612/72 (1972/74) > Jugudul > Foto nº 82 > Ruínas da tabanca, destruída pelo PAIGC.


Fotos: © Carlos Alberto Fraga (2013). Todos os direitos reservados


1. Início da publicação do álbum fotoográfico do Carlos Fraga, o mais recente membro da nossa Tabanca Grande (nº 611). Ele esteve em Mansoa, nos últimos meses de 1973, como alf mil, numa espécie estágio operacional, antes de ir comandar uma companhia em Moçambique, já depois de 25 de abril de 1974.

Algumas das fotos do nosso camarada Carlos Fraga já foram aqui publicadas, integradas no álbum fotográfico do Jorge Canhão. Problemas de legendagem têm vindo a ser esclarecidos com o Carlos Fraga que, entretanto, teve a gentileza de nos enviar mais fotos para publicação. Vamos tentar manter a numeração original do seu CD que chegou às mãos do Jorge Canhão e do Agostinho Gaspar, e de que temos uma cópia (parcial, e com numeração diferente). Publicamos hoje imagens da martirizada tabanca de Jugudul.

No seu Diário da Guiné, António Graça de Abreu escreve (Mansoa, 3 de fevereiro de 1973):

(...) "Atravessámos o rio Mansoa de jangada, num lugar chamado João Landim e depois, já não muito longe de Bissau, em Safim, cortámos para a estrada até Mansoa. Três quilómetros antes de Mansoa fica uma aldeia chamada Jugudul onde os guerrilheiros, há dez dias atrás, destruíram cem tabancas acabadas de construir pela NT, destinadas a realojar população. A povoação está num estado miserável, toda a gente fugiu. Isto aconteceu por causa da estrada em construção que começa exactamente no Jugudul, vai até Porto Gole e irá terminar em Bambadinca, uns sessenta quilómetros a leste. As estradas novas, alcatroadas dão sempre problemas, os guerrilheiros tentam obstar à sua construção. "(...).

De acordo com a respetiva história da unidade, o BCAÇ 4612/72, em 28 de novembro de 1972, assumiu a responsabilidade do Setor 4, com a sede em Mansoa,  e abrangendo os subsetores de Mansabá, Mansoa, Jugudul e Porto Gole e, a partir de 29 de outubro de 1973, também o subsetor de Polibaque, então criado para assegurar a protecção e segurança dos trabalhos da estrada Jugudul-Bambadinca. Em Jugudul ficou a 2ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72. No regulado de Jugudul viviam, em 1972, cerca de 1500 habitantes, de maioria balanta.

Em janeiro de 1973, há pelo menos notícia de dois ataques violentos a Jugudul (aquartelamento e tabanca), a  10 e depois a 23, a seguir à notícia da morte de Amílcar Cabral. Nesta última flagelação, além de seis mortos, o IN queimou mais de meia centena de moranças do reordenamento, pronto a inaugurar.

Pode ler-se na história do BCAÇ 4612/72 o seguinte:

(i) (...) Em 102250JAN73 GR IN não estimado flagelou o aquartelamento e tabanca de JUGUDUL com MORT 82, RPG e AAUT durante cerca de 10 minutos, tendo causado mortos 03 (02 colaborantes da defesa),  02 feridos ligeiros (01H e 01C) na população e queimado 06 casas. As bases de fogos IN estavam instaladas: MORT 82 e AATU, em MANSOA 416.59, só AAUT em MANSOA 418.57. Simultaneamente flagelou MANSOA com tiros de Canhão S/R, sem consequências, com bases de fogos na região do CUFAR. Ainda conjuntamente com estas flagelações o IN flagelou o destacamento de BRAIA com 02 tiros de MORT.82 da região de MANSOA 5G2." (...)

(ii) (...) "Em 232350JAN73 um grupo IN não estimado mas bastante numeroso flagelou MANSOA e CUSSANÁ sem consequências. Seguidamente iniciou flagelação ao aquartelamento e reordenamento de JUGUDUL, causando 06 mortos (01 colaborante da defesa), 04 feridos graves e 08 feridos ligeiros à população de JUGUDUL, queimando 54 moranças" (...).


2. Sobre as datas destas fotos, o Carlos Fraga acaba de nos dizer o seguinte, por mail:

"Caro Luís: A tabanca do Jugudul foi destruída no ataque de 23/1/73. Tirei as fotos que te mandei dos restos dessa tabanca. As moranças já estavam construídas,  quando lá estive a substituir as que foram destruídas no ataque. Não sei de que data são as fotos. As câmaras [fotográficas] nessa altura não eram digitais pelo que não tenho as datas. Algumas,  como as das operações,  seria fácil se encontrasse a agenda onde marquei todas as operações quando lá estive ou relendo a história da companhia no período em que estive lá,  também me é possível localizar. Mas fotos assim avulsas podem ter sido tiradas em qualquer dia. Abraço. C. Fraga".

´Consultando a história do BCAÇ 46127/72, verifica-se que o novo reordenamento de Jugudul começou a 7 de março de 1973, e que a construção da estrada Jugudul-Bambadinca era um "espinho" cravado na garganta do PAIGC... Citem-se excertos, relacionados com o setor de Mansoa e o subsetor de Jugudul,  com informações relevantes da "contra-informação" das NT, dando conta de um crescente mal-estar entre a guerrilha que atuava na região (Morés, Sara-Sarauol...).

(...) "Notícia de 10JAN73 refere que terroristas de IRACUNDA e MORÉS, estão muito descontentes por o PAIGC não ter cumprido as promessas ultimamente feitas, de a guerra terminar DEZ72, terão entrado em desacordo com LAMINE SISSE estando este em dificuldades para dominar os ânimos de alguns mais exaltados.

"CHICO BA, um dos mais descontentes, parece que ao ser chamado ao MORÉS para recomeçar as habituais reuniões, teria dado a entender que está farto de pregar mentiras às populações. Em conversa particular com o informador, CHICO BA mostrou-se arrependido por ter fugido de BISSAU há anos, e comentou, pois hoje estaria bem e ao serviço do PAIGC só AMÍLCAR CABRAL vive bem, não correndo os riscos da vida do mato.

"Acrescentou ainda que MAMADU INDJAI e PASCOAL de IRACUNDA, tendo receio de se apresentarem as autoridades portuguesas, seguiram ou esperam seguir para a fronteira abandonando o PAIGC e tratarem da vida no SENEGAL. Além das promessas não cumpridas outros motivos têm provocado grande descontentamento no IN, tais como falta de alimentos, vestuários e não terem os combatentes o mínimo de conforto.

"CHICO BA terá dito ao informador que até final da época seca [virão] muitos chefes do PAIGC apresentarem-se as autoridades portuguesas, incluindo ele próprio.

"Notícia de 10JAN73 refere ter chegado ao QUEREI, onde foi colocado como Comandante efectivo daquela área, o terrorista BASSANTE, da etnia Balanta, natural de IMBUÉ - ENCHEIA. Desconhece-se a sua procedência segundo a origem. UAGNA TCHUDA e MAMASSALI foram transferidos para a área de BIAMBE.

"(…) Notícia B-2 MA 1 12JAN73 refere que em 06JAN73 SALUM TURÉ, chefe de um grupo dependente da base do SARA, foi ao MORÉS pedir homens para atacar os trabalhos da estrada JUGUDUL/BAMBADINCA. JOSÉ, que estava no MORÉS, foi a SANTAMBATO buscar 01 grupo de 45 elementos. chefiados por LIFNE GUADE. Este grupo seguiu para a região do SARA na noite de 07JAN73, tendo cambado a estrada entre CUTIA e MANSABÁ. Neste grupo 27 elementos estão armados com armas ligeiras.

"(…) Notícia de 15JAN73 refere que nas duas últimas flagelações a JUGUDUL, foram orientadas por INFANDA NABENA este participou directamente no último (10JAN73) e com 30 elementos retirados do seu grupo, actuou na estrada em frente ao reordenamento. Segundo a origem, foram nativos de BINDORO que indicaram àquele terrorista o local onde se encontravam os elementos da auto-defesa de JUGUDUL. Notícia de 15JAN73 refere que em reunião recentemente efectuada no MÓRES, orientada por ANDRÉ PEDRO GOMES e a que teriam assistido vários chefes de grupo, entre os quais MARTINHO DE CARVALHO, UAGNA TCHUDA, MAMASSALI e INFANDA NABENA este apresentou como necessária e muito urgente a captura de FERNANDO INDAFÁ CUBALA, Régulo de JUGUDUL, porque nos últimos tempos tem colaborado activamente com as autoridades portuguesas.

"(…) Notícia de 27JAN73 refere que após o falecimento de AMÍLCAR CABRAL foi emitida em CONAKRY uma directiva assinada pelos elementos preponderantes do PAIGC, mandando incrementar actividade IN em todas as frentes de luta. Notícia refere que na última flagelação contra JUGUDUL pelo grupo IN de INFANDA NABENA auxiliados por um grupo de Comandos sob chefia de IRENEU DO NASCIMENTO LOPES. Na retirada o IN sofreu 04 feridos, provocados por uma granada de Obus.

"(…) Será de prever a intenção do IN de tentar por todos os meios evitar ou no mínimo dificultar a abertura da estrada JUGUDUL /BAMDADINCA, cujo traçado vai colidir com zonas onde têm locais de refúgio. A abertura da estrada facilitará a intervenção das NT na região SARA-SARANOL, onde o IN tem implantado um forte dispositivo militar – CE 199/C/70 - pelo que será de esperar uma forte reacção aos trabalhos de abertura, tendo o IN possibilidades de actuar por emboscadas, flagelações, implantação de engenhos explosivos e até por ataques à frente de trabalhos, não esquecendo as intimidações que as Pop vêm de há muito a ser sujeitas.

"(…) Em 07MAR/73 tem inicio a construção do novo reordenamento do JUGUDUL

"(…) Em 09MAR73 SªEX.ªGENERAL GOVERNADOR desloca-se ao JUGUDUL onde presidiu a cerimónia de graduação do Comandante da CMIL do JUGUDUL COBANA INTCHUDA". (...)


segunda-feira, 18 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11271: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (22): A guerra no setor de Mansoa, ao tempo do BCAÇ 4612/72, entre fevereiro e junho de 1973


1. O António Graça de Abreu  esteve em Mansoa, no CAOP1, entre inícios de fevereiro de 1973 e meados de junho de 1973… Foi lá fazer os seus 26 anos. [Foi "apanhado na rede" no 3º ano da Faculdade de Letras, daí a diferença de idade em relação à média etária dos milicianos...].   Em Mansoa conheceu a guerra por perto, mas ainda não teve o seu batismo de fogo, que só chegaria aos 17 meses, em Cufar, no sul, na região de Tombali.

No seu Diário da Guiné (Lisboa: Editora Guerra e Paz, 2007),  o  António Graça de Abreu dá-nos conta do recrudescimento da atividade operacional do PAIGC, no setor de Mansoa,  com  (i)  ataques ao destacamento de Cussaná, nas imediações de Mansoa; mas também às guarnições de (ii) Braia, Infandre, Jugudul e Bissá;  assim como  (iii) emboscadas na estrada Mansoa-Mansabá-Farim e ainda (iv) emboscadas e flagelações na estrada Jugudul-Bambadinca (em construção)… 

O nosso camarada esteve lá, em Mansoa,  no tempo do BCAÇ 4612/72,do Jorge Canhão e do Agostinho Gaspar. Em finais de junho de 1973, o CAOP1 é transferido para Cufar. A 38ª CCmds [, do Amílcar Memdes,] estava nessa altura afeta ao CAOP 1, tendo vindo de Teixeira Pinto para Mansoa, com o António Graça de Abreu e o pequeno staff do CAOP1, que era comando pelo cor pára Durão.   Eis aqui a descrição, no seu diário, de escaramuças entre o PAIGC e as NT, no setor de Mansoa, de que resultarão diversos mortos e feridos.


[Foto à direita: O alf mil António Graça de Abreu,   CAOP 1, junto ao obus 14, Mansoa, 1973. Foto: António Graça de Abreu ]



(...) Mansoa, 3 de Fevereiro de 1973 

As minhas mãos doem, estão inchadas. Tanto trabalho! A cabeça está boa, a laborar em pleno na aprendizagem das novas coisas da guerra.

Carregámos vinte e quatro Berliets com os materiais do CAOP 1 e da 38ª. de Comandos. Tanta tralha, dos armários e secretárias aos dossiers, aos cunhetes de balas! Foi empacotar, levar para as viaturas, chegar aqui, descarregar tudo, conferir o destino de cada peça, instalar.

O Tomé, que também teve de transferir o material das Transmissões – rádios, antenas, sei lá que mais! – dorme sossegado a um metro de mim. Temos um quarto minúsculo, o Cravinho safou-se da mudança, está de férias em Portugal. Quando regressar, vai abrir a boca até à nuca ao saber que tem Mansoa à sua espera.

A viagem correu bem. Saímos de Teixeira Pinto às sete e meia da manhã. Viemos com dois pelotões da 38ª. de Comandos - cerca de sessenta homens, - que nos deram segurança durante o percurso. Vim sentado num Unimog, a meio da coluna, de camuflado, a espingarda entre os joelhos, com bala na câmara. Só entre o Pelundo, Có e Bula era possível uma emboscada. Mas tudo sossegado.

Atravessámos o rio Mansoa de jangada, num lugar chamado João Landim e depois, já não muito longe de Bissau, em Safim, cortámos para a estrada até Mansoa. Três quilómetros antes de Mansoa fica uma aldeia chamada Jugudul onde os guerrilheiros, há dez dias atrás, destruíram cem tabancas acabadas de construir pela NT, destinadas a realojar população. A povoação está num estado miserável, toda a gente fugiu. Isto aconteceu por causa da estrada em construção que começa exactamente no Jugudul, vai até Porto Gole e irá terminar em Bambadinca, uns sessenta quilómetros a leste. As estradas novas, alcatroadas dão sempre problemas, os guerrilheiros tentam obstar à sua construção.

Mansoa é diferente, mais pequena, pobrezinha e feia do que Teixeira Pinto. O quartel também é mais fraco. Tive uma surpresa, vivem cá cinco ou seis mulheres de oficiais e dez de sargentos. Connosco, na coluna trouxemos a mulher do capitão Pancada e a esposa com os dois filhos, quatro e dois anos de idade, do capitão da 38ª. de Comandos. (...)
            

[Foto à esquerda: O alf mil António Graça de Abreu  CAOP 1, em Teixeira Pinto, setembro de 1972. Foto de António Graça de Abreu]


Mansoa, 9 de Março de 1973

O general Spínola encontra-se aqui próximo, em Jugudul a três quilómetros de Mansoa. Esta manhã há cerimónia de imposição de insígnias a novos milícias africanos. Jugudul precisa de ser defendida. A 10 e 23 de Janeiro deste ano, os guerrilheiros foram lá e quase arrasaram a povoação, queimaram tabancas, entraram nas casas dos que mais colaboravam connosco e limparam-nos. Ainda estávamos em Canchungo e esta terá sido uma das razões que motivou a nossa transferência para Mansoa, com carácter de urgência.

Os ataques de Janeiro foram muito bem planeados. Mansoa tem o grosso da tropa, antes de nós chegarmos e trazermos a 38ª. de Comandos já eram cerca de 400 homens, depois à nossa volta encontram-se 70 militares em Jugudul, 40 em Braia, outros tantos em Infandre, na estrada para Bissorã. Pois nos dois ataques de Janeiro, os guerrilheiros atacaram simultaneamente Mansoa, Braia e o Jugudul, com uma finalidade simples, fixar a tropa de Mansoa dentro do quartel enquanto, com sucesso, concentravam meios sobre Braia e o Jugudul. 

Nesta última povoação visitada hoje pelo Spínola, queimaram mais de cem casas das cento e cinquenta existentes, e provocaram uma dezena de mortos entre a população. Nos nossos aquartelamentos, o costume, nem mortos nem feridos, só estragos materiais. Os homens do PAIGC não são capazes de tomar um aquartelamento português, mesmo pequeno e relativamente isolado como Braia ou o Jugudul. Atacam e fogem.

Esta zona aqueceu muito por causa da construção da estrada alcatroada que ligará a Bambadinca e a Bafatá, a segunda cidade da Guiné. Os guerrilheiros tentam impedir a construção de estradas e intimidar as populações que estão com as NT. A segurança nos trabalhos da estrada é levada a cabo por grupos de combate do Batalhão 4612, estacionado em Mansoa, e este nosso pessoal anda naturalmente nervoso, preocupado. (...)




Foto s/ nº > Constantino Veira da Rocha, sold cond auto, da 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72




Foto s/ nº > Constantino Veira da Rocha com outro camarada


Foto s/nº > "O troféu" [presume.-se que este grupo seja de  militares da 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72]


Foto s/ nº > "A tempestade" [ Instalações militares de Mansoa, depois de um temporal]


Foto s/ nº > "Guerrilheiro morto" (1)


Foto s/ nº > "Guerrilheiro morto" (2)

Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74) > Fotos do álbum do Jorge Canhão, ex-fur mil, da 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72 (Mansoa e Gadamael, 1972/74)-


Fotos (e legendas): © Jorge Canhão (2011). Todos os direitos reservados

Mansoa, 12 de Março de 1973


Bissá, um pequeno aquartelamento doze quilómetros a sul de Mansoa, foi atacado sábado passado às nove e meia da noite, estava eu a beber um café na esplanada do Simões, o restaurante. Foi um ataque a sério que se prolongou por quarenta e cinco minutos, apesar da distância ouviam-se os disparos e rebentamentos com muita nitidez. Os dois obuses de Mansoa ajudaram ao barulho e dispararam cinquenta e sete granadas de canhão sobre as zonas prováveis de retirada do IN. Só hoje soube os números.

Resultado, o IN destruiu e queimou oitenta e sete tabancas, houve três mortos entre a população, muitos feridos e gente intoxicada. As NT de Bissá não sofreram nada, além do desgaste psicológico que uma flagelação tão dura como esta costuma provocar.

Mantive-me tranquilo, mas se em vez de Bissá a ser atacada tivesse sido Mansoa diria, por certo, adeus à pacatez e à calma. Estar dentro de um quartel cercado de arame farpado e experimentar as sensações fortes de ouvir os foguetões, as granadas de morteiro e canhão sem recuo a vir em nossa direcção ou a cair não muito longe de nós, faz com que os rebentamentos comecem a ficar cá dentro. Agora entendo melhor porque é que, depois do regresso a Portugal, um ex-combatente ouve um foguete rebentar na romaria da aldeia e corre, tremebundo, a esconder-se no primeiro buraco que lhe aparece. (...)


Mansoa, 19 de Março de 1973


Foi a vez de Infandre “embrulhar”, um aquartelamento com quarenta militares e cerca de mil habitantes, dez quilómetros a norte daqui. Levaram com foguetões, canhão sem recuo, RPGs, morteiros, armas automáticas, foram atacados com um enorme potencial de fogo. No destacamento, não houve feridos, apenas os usuais estragos materiais. A pobre da população é que pagou as favas. Em Infandre, como em muitos outros lugares da Guiné, os negros tanto fazem o nosso jogo como apoiam o PAIGC. Mas a população é sempre infeliz. Nas flagelações à distância, os guerrilheiros não acertam na tropa portuguesa e acabam por provocar mortos e feridos nos habitantes negros que tantas vezes até não lhes são adversos. É a guerra impiedosa, cruel. (...)

Mansoa, 13 de Maio de 1973


Esta manhã, dia 13 de Maio, na hora da missa e do adeus à Virgem de Fátima, tivemos uma surpresa. Todas as noites estamos à espera do tal ataque das tropas do PAIGC e ele não vem. Agora, em pleno dia, com todo o descaramento, resolveram chatear. Canhão sem recuo e morteiro 82 contra Cussaná, a 800 metros do centro do nosso quartel. Daqui reagiu-se com as armas do costume, obuses e morteiros. Eu, muito calmo entre a tropa, a ver a movimentação dos soldados, a nossa capacidade de resposta numa flagelação deste tipo. O ping-pong não teve consequências, nem eles acertaram, nem nós. Escrevo quase a brincar, hoje tudo isto foi inofensivo, não passou de barulho.

A vida sexual das NT. Dizem-me que aqui em Mansoa há uma puta negra que a troco de comida, ou algum dinheiro, abastece todo o Batalhão. (...)


[Foto à direita: O alf mil António Graça de Abreu  CAOP 1, de G3 e máquina fotográfica, na estrada Mansoa-Porto Gole, 1973. Foto de António Graça de Abreu]


Mansoa, 21 de Maio de 1973 


Eu não quero, mas só oiço guerra, vejo guerra, sinto guerra. Hoje foi pior -  já não sei bem o que é pior! -  do que os três comandos mortos pela explosão dos dilagramas, em Teixeira Pinto. Atacaram, emboscaram a coluna de Mansabá para Mansoa, aqui abaixo de Cutia. Ainda há menos de duas semanas lá passei quando acompanhei os nossos condutores e os dois grupos da 38ª de Comandos na viagem sem regresso para o David Viegas. Todos os dias a tropa se desloca para cima e para baixo, armada, evidentemente, mas quase à vontade. 

Esta tarde, às três horas foram emboscados, a dezassete quilómetros de Mansoa. Nos primeiros disparos houve logo quatro mortos, um furriel e três soldados da companhia de Mansabá que está a um mês de regressar a Portugal. A tropa daqui foi dar uma ajuda. Quando lá chegaram, os guerrilheiros tinham retirado após incendiarem um Unimog e quase destruírem um camião Berliet. Os feridos foram chegando a Mansoa, os hélis não os vão buscar ao mato, mas voam até aqui. De Mansoa a Bissau é zona pacificada pelas NT. Vieram dois hélis e três DOs.

É difícil imaginar o que é a chegada das viaturas carregadas de mortos e feridos, os intestinos saídos para fora das barrigas, os tóraxes atravessados por balas, braços cortados, estilhaços e sangue por todo o lado. Os companheiros de armas não conseguiam suster as lágrimas. Colocaram-se os rapazes destroçados em macas, prestaram-se os primeiros socorros possíveis, os frascos de soro, as ligaduras de ocasião manchadas de sangue. Dez soldados, todos brancos, alguns em estado gravíssimo, foram evacuados para Bissau. Estive no transporte dos homens da enfermaria para a pista, para o heliporto. Sujei as mãos, a farda de sangue. Nunca tinha sentido a boca tão seca e, na garganta, uma espécie de coágulo de poeira e sangue.

A vida continua para os que continuam vivos. (...)

Mansoa, 11 de Junho de 1973

Dois pelotões da 38ª. de Comandos foram dar uma ajuda à tropa do batalhão que fazia a segurança nos trabalhos da estrada Jugudul-Bambadinca e foi flagelada. Houve contacto com o IN e os Comandos, que não sofreram feridos, fizeram quatro mortos. Para o CAOP, trouxeram as armas dos guerrilheiros, três Kalashnikovs e uma Simonov de fabrico russo e chinês. Eu escrevi:


Quatro armas frias,
puras do húmus da terra,
de sangue ainda fresco,
num pano de lona verde.

Uma a uma,
tomei nas mãos as Kalashs,
culatra atrás, bala na câmara,
patilha de segurança.

As armas dos homens que tombaram,
outra vez caídas,
silenciosas, mortas. 
 O canto doloroso da razão. (...)

_______________

Nota do editor:

25 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11000: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (21): A morte de Amílcar Cabral e a mudança do CAOP1 para Mansoa