Mostrar mensagens com a etiqueta CCAV 2747. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta CCAV 2747. Mostrar todas as mensagens

sábado, 4 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17104: (Ex)citações (323): Buruntuma, que foi grande na guerra e na paz... Uma pequena homenagem aos bravos que souberam fazer a guerra e a paz, do Jorge Ferreira (1961) ao José Valente (1974)


Guiné- Bissau > Região de Gabu > Maio de 2016 > Piche, entre Gabu (a 30 km a oeste) e Buruntuma (a 37 km, a nordeste, na fronteira com a Guiné-Conacri. Canquelifá, mais a norte, fica a 30 km.

 [Vd. poste de 31 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16151: Revisitando o "chão fula", e ligando o passado com o futuro (Patrício Ribeiro, Impar Lda) - Parte II: Piche]

Foto: © Patrício Ribeiro (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Região de Gabu > Buruntuma > Dezembro de 2015 > Tabanca e rua principal

Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Buruntuma > É uma das mais bonitas e originais capelas que temos visto nas nossas fotos da Guiné... Deve ter tido várias mãos, ao longo do tempo... Um delas, de arquiteto, mestre de obras e decorador, terá sido a de José Mota Tavares, nosso camarada, antigo alferes capelão miliciano, da CCS/BCAÇ 1856 (Nova Lamego, 1965/67) que nos mandou, recentemente, fotos da "sua" capela (*)...

Foto: © Mota Tavares (2016). Todos os direitos reservados.


Guiné > Região de Gabu > Buruntuma > Memorial da CART 1742, "arquitectado" por João Fernando Lemos dos Santos > "Que os vivos mereçam os nossos mortos"

[Vd. poste de 28 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14198: Em busca de... (253): João Fernando Lemos dos Santos, ex-Soldado Condutor Auto da CART 1742 (Abel Santos)]

Foto: © Abel Santos (2015). Todos os direitos reservados.


1. Temos 75 referências no nosso blogue sobre Buruntuma... As mais recentes são relativas ao livro de Jorge Ferreira, nosso grã-tabanqueiro, e o prmeiro dos oficiais portugueses  a comandar o destacamento de Buruntuma (sendo a sua área de açãpo o triângulo Buruntuma- Bajocunda- Piche): esteve com 45 homens, metade metropolitanos e metade guineenses (a quem já tinha dado instrução em Bolama), entre novembro de 1961 e outubro de 1962...  Era uma força mista, de "infantes" (3.ª CCAÇ) e de "cavaleiros" da CCAV 252 (1961/63).

De rendição individual, mobilizado para a o TO da Guiné em maio de 1961 (e regressado a casa em junho de 1963), o Jorge Ferreira pertencia à 3.ª CCAÇ, sediada em Nova Lamego. Entre o início e o fim da guerra, muitas coisas aconteceram nesta povoação de fronteira, de importância estratégica para a defesa do leste e em especial, da região do Gabu...

No seu tempo, e tal como hoje, Buruntuma  era uma povoação construída junto à fronteira, ao longo de uma rua, por onde passava a "pomposamente" chamada estrada internacional que ligava Bissau à recém independente república da Guiné-Conacri... O nosso camarada António Martins de Matos, ex-ten pilav (BA 12,  Bissalanca, 1972/74) diz que demorava 1h30 a chegar lá, de DO 27, e 25 minutos de Fiat G-91..., no limite do raio de ação da aeronave (que era subsónica)...

Buruntuma, em mandinga, quer dizer, "algum dia serás grande"... Como muitos topónimos do leste da Guiné, é de origem mandinga (caso de Bambadinca, "a cova do lagarto")... Pertenceu ao império  (ou reino do Gabu) (1537-1867), que por sua vez resultou da desagregação do grande Império do Mali (séc.  XIII-XVI)... E.m 1867, a "batalha de Kansalá" ditou o fim do reinado mandinga e a ascensão política dos fulas. Fulas e mandingas  coexistem hoje, pacificamente, no Gabu... O mesmo não aconteceu durante  a guerra colonial (ou do ultramar, ou de libertação, conforme as designações de uns e outros).

Evocamos, a talhe de foice, e a título meramente ilustrativo, alguns episódios, contados por camaradas que por lá andaram em diferentes épocas... Na esteira de Jorge Ferreira, podemos dizer que Buruntuma foi grande, na guerra e na paz...  Esta pequena antologia é também uma homenagem a todos aqueles que souberam fazer a guerra e a paz (******).


Manuel Luís Lomba > Não fui feliz em Buruntuma

Salvé, camaradas de Buruntuma!

Seguramente que sou um dos vossos mais velhos: CCav 703, 1965-66.

Não me exponho a grandes contradições ao dizer-vos que essa capelinha de Buruntuma remonta ao meu tempo: resultara da reconversão de um armazém de mancarra e complementada por um nicho votado à Senhora de Fátima, implantado no sítio da "torre" artística, que lhe é posterior. 

A sua concepção e execução pertencem ao furriel Manuel Francisco Moniz de Simas, um açoriano que combinava perfeitamente a sua alma de artista com a de guerreiro, que fará carreira nos Estados Unidos como escultor de ossos de baleia e a fechará como professor do Secundário em Ponta Delgada. Foi inaugurada pelo nosso capelão, tenente António Lavajo Simões, ora residente no Seminário de Vila Viçosa.

Na parte mais alta da tabanca mandinga deixamos (em abril de 1966) um parque de "roncos", à sombra e em redor de um grande poilão, com vedação feita com as leivas dos barris de vinho, inscrições apropriadas num pedregulho. Jamais me esquecerei de um rondo de arromba - a festa das "mulheres paridas"...

A ideia e a sua exploração partiu deste comentador e velho camarada, comandante da milícia e responsável pela "Apsico" local; a obra foi também mérito do Simas..

Ah, não fui feliz em Buruntuma. (**)


Domingos Gonçalves > Buruntuma, o meu batismo de fogo

26 de junho de 1966... Ao entardecer rebentou uma armadilha colocada pelas nossas tropas perto da fronteira.

Um alferes da guarnição local com o respectivo grupo de combate, reforçado por alguns dos soldados do meu grupo, comandados por mim, foi verificar as causas da explosão. Junto do local das armadilhas, que não sei se era em território português, ou da Guiné-Conacry, encontravam-se duas vacas quase mortas. Com alguns tiros de G3, acabou-se-lhes com a vida.

Imediatamente, do outro lado da fronteira, bastantes armas pesadas começaram a disparar sobre Buruntuma, enquanto que, as armas ligeiras, alvejavam o terreno fronteiriço onde nos encontrávamos.

Cautelosamente conseguimos retirar do local, mais para o interior, sem, contudo, conseguir entrar no nosso aquartelamento que, durante cerca de uma hora, ficou sob o fogo cerrado das armas do inimigo.

Abrigados por um ligeiro declive do terreno, e pela protecção do arvoredo, sentíamos nos ares o silvar das granadas que, às dezenas, choviam sobre Buruntuma.

Aqui e além as explosões provocavam incêndios, principalmente nas casas dos nativos, cujo telhado era feito de capim. Quase em simultâneo as armas de Buruntuma também abriram fogo. As bazookas e o canhão sem recuo vomitavam granadas ininterruptamente. Os morteiros cuspiam, para o outro lado da fronteira, os seus tenebrosos projécteis. Através das seteiras dos abrigos as metralhadoras consumiam centenas de munições. As armas ligeiras, os canos já aquecidos, disparavam, um pouco ao acaso, contra um inimigo que não tinham capacidade de atingir. De um e outro lado era ensurdecedor o ruído da fuzilaria e o detonar das granadas.

Anoiteceu. De ambos os lados começou a abrandar a intensidade do combate. Lentamente, o silêncio foi caindo sobre a povoação martirizada. Era o fim de uma pequena batalha. Cautelosamente, os soldados que estávamos fora do aquartelamento, longe da protecção dos abrigos subterrâneos, fomo-nos aproximando do arame farpado e entrámos no quartel.

Dirigi-me ao posto de socorros. Lá dentro, aguardando tratamento, já havia muitos feridos. Outros, brancos e negros, foram depois chegando. O médico, que na vida civil era cirurgião, trabalhava afanosamente, ajudado pelos enfermeiros, extraindo estilhaços, colocando ligaduras, injectando soro... Só muito tarde deu por findo o seu trabalho.
Contabilizados os prejuízos verificou-se que havia três mortos entre a população e bastantes feridos tanto entre os soldados como entre os civis. Para além disso o nosso sistema de transmissões estava inutilizado, as instalações danificadas e alguns indígenas tinham perdido as suas casas.

Trabalhava em Buruntuma um agente da PIDE que, através do sistema de transmissões particular, de que dispunha, alertou Bissau para o sucedido e pediu que fossem evacuados para o Hospital Militar os feridos mais graves. Eram já altas horas da noite quando nós, os oficiais, nos fomos deitar.

No abrigo onde dormíamos comentavam-se os acontecimentos com alguma insensibilidade. Já deitado, o capitão murmurava:
- Os filhos da puta não nos deixam em paz...

A guerra para ele era algo a que já estava habituado e pouco o impressionava. Quando em conversa se referia a acções de combate transmitia até a ideia de gostar das sensações da guerra. Eu sentia-me de certo modo aterrorizado com a baptismo de fogo que, sem o desejar fui obrigado a receber.

Foi um baptismo sério e prolongado... E cheio de calor!... (***)


Mota Tavares > Buruntuma, o silêncio de Deus...

Li, com muito entusiasmo o relato da vossa visita ao Gabu [, poste por AO - antigo alferes capelão], no meu tempo Nova Lamego. Aí passei quase dois anos. Todas as terras de que vocês falam, me foram familiares e de que tenho muitas fotografias e diapositivos. Estive [lá] em 1965-67.

Tenho imensas histórias de Piche, Canquelifá (uma operação e duas vezes debaixo de fogo), Fá (emboscada e… aventura!), Bajocunda, Copá, Madina do Boé (8 ou 10 vezes debaixo de fogo, três mortos, duas fugas durante a missa para o abrigo…), Buruntuma onde construí uma linda capela – fui o arquitecto, o engenheiro, o pintor, o mestre de obras com o apoio do capitão de que ainda hoje sou amigo. 

[Foi] inaugurada pelo brigadeiro Reimão Nogueira e [nela foi] baptizado um furriel de Lisboa. Chegou-me há tempo uma foto dessa capela 'vandalizada' pelos militares que lá estiveram depois – transformaram-na em escola!…

Bafatá, Bula, Bissau… as escoltas, 12 vezes debaixo de fogo, 27 operações com muitas histórias que dariam um enorme texto! Mas, por hoje, fico por aqui e ao vosso dispor. (*)


António Martins Matos > Buruntuma, cu de Judas...

Buruntuma era mesmo no cu de judas.

Tinha igualmente aquele estigma, (semelhante a Guidage e Pirada) demasiado próximo da fronteira com o país vizinho, podia ser utilizada como tiro ao alvo do PAIGC sem que pudéssemos ripostar, já que o Spínola não autorizava missões da FAP no estrangeiro.

Os aviadores aterravam na direcção da fronteira e descolavam na direcção oposta (qualquer que fosse o vento ou as condições meteorológicas).

Andei várias vezes por ali à procura de MiGs imaginários, nunca os vi!!!

Um dia deixaram-nos ir partir umas bilhas lá para Koundara, quando aterrámos em Bissau já estávamos a dever combustível ao G-91. (**)


C. Martins > Buruntuma, turismo em tempo de guerra...

Contava-se entre os artilheiros que o alferes miliciano,  comandante do Pel Art  de Buruntuma, em 73, resolveu um dia ir de Buruntuma até Nova Lamego em bicicleta, vestido à civil e munido de máquina fotográfica... Ia  parando pelo caminho e fartou-se de fazer fotos de pássaros, passarinhos e até passarões.

Quis regressar da mesma forma, mas o comandante do sector obrigou-o a ir numa coluna... Resultado: a coluna sofreu uma emboscada, ele levou um tiro num pé e estragou a máquina fotográfica...

Não sei se foi verdade, mas que se contava, contava. (**)


 Luís Borrega > Buruntuma e o carisma de Spínola

Caro António Matos: Quando foste a Buruntuma bombardear Kuundara (?), não seria Kandica?.. O gen Spínola estava lá em Buruntuma. A CCav 2747 tinha tido um valente ataque IN na noite de 25/11/71. Dia 27, Spínola vai de DO a Buruntuma. Manda formar a guarnição, a milícia e a população.. Nesse momento chegam seis Fiats G-91, rasam Buruntuma e Kandica, ali as antiaéreas começaram a disparar mas calaram-se logo. A seguir ouviram-se enormes rebentamentos em Sofá, a base do PAIGC. Nova passagem e largaram o resto das bombas e retiraram-se para Bissau.

Spínola mostrou o seu carisma de chefe. Falou às populações locais:
-Viram o que aconteceu? Agora vão dizer aos do lado de lá, que se tornam a fazer outro ataque com morteiros, mando o dobro dos aviões e o dobro das bombas!

Com esta atitude moralizou extraordinariamente os militares da CCav 2747 e milícias. (**)


José Manuel Matos Dinis > Buruntuma, as famosas 13 horas debaixo de fogo

É verdade,  o sentimento de Spínola em relação àquela fronteira. Não sei desde quando, mas o general teria mandado informar que, se Buruntuma fosse atacada, as NT ripostariam sobre Kandika. Em 27 de fevereiro de 1970, após um ataque àquele aquartelamento em 24  (é o que consta da História da Unidade, embora me pareça que decorreu mais tempo), que provocou 28 mortos civis, depois de vários transportes de material (obuses, canhões e morteiros, bem como munições, guarnições, e outra tropa de segurança), as NT retaliaram durante cerca de duas horas. O IN respondeu durante 13 horas.

As famosas 13 horas de Buruntuma. As NT sofreram 1 morto e 5 feridos.

Da mesma história da unidade consta que o IN sofreu 8 mortos militares, incluindo o tenente comandante, e o chefe da alfândega [do outro lado da fronteira].

Foi a primeira acção em que participou a minha companhia, através do 1º.pelotão e do Fur mil Azevedo, de armas pesadas. (**)


Luís Guerreiro > Buruntuma: Pel Caç Nat 65, e o 1º cabo Ismael que chegou a levar para o mato o cano do morteiro 60 cheio de vinho

Tem sido com interesse que tenho seguido as crónicas do José Manuel Dinis da CCaç 2679, pois os nossos caminhos cruzaram-se em Piche, Buruntuma e Bajocunda, onde menciona diversas vezes o Pel Caç Nat  65.

Na sua chegada na coluna de Nova Lamego para Piche, e que teve como escolta o Pel. Fox e o Pel Caç Nat 65, onde menciona que era comandado por um cromático alferes que deambulava de pistola à cinta, empunhando uma moca com um lenço amarelo, esclareço que o dito alferes se chamava Monteiro, e esse era o seu equipamento preferido mesmo em patrulhamentos.

Estivemos implicados no ataque de 27 de fevereiro de 1970 à base de Kandica, retaliando o ataque a Buruntuma, onde o Pel Caç Nat 65 permaneceu cerca de um mês, antes de ser transferido para Bajocunda.

Também menciona o apontador do morteiro, que chegou a levar [o ando de] este cheio de vinho durante uma saída para o mato, é verdade, chama-se Ismael, era cabo, e um excelente operador do morteiro 60, embora por vezes se encontrasse sob os efeitos do álcool, era bom rapaz e excelente combatente.


Ramón Pérez Cabrera > Buruntuma, cemitério do jovem internacionalista cubano Ramón Maestre Infante

Na 2ª fase da Op Djassi (a primeira tem a ver como os três G - Guidaje, Guileje e Gadamael, maio / junho de 1973, ainda no tempo do Spínola), Ramon Pérez Cabrera [, autor de "La historia cubana en África: 1963-1991: pilares del socialismo en Cuba", edição de 2005], iz que participaram "14 internacionalistas cubanos", um dos quais, um jovem oficial que tinha partido de Cuba por via aérea em 13/12/1973, e que vai encontrar a morte nas imediações de Copá (ou de Canquelifá?), às 8 da manhã do dia 8 (ou 7?) de janeiro de 1974, surpreendido por tropas portuguesas. 

O seu corpo terá sido "levado para Buruntuma", mutilado e exumado, diz Ramón Pérez Cabrera. Tratar-se-ia, quanto a nós, da mesma emboscada em que terá sido apanhado vivo, o cabo-verdiano Jaime Mota, 1940-1974, alegadamente executado depois

Ramón Maestre Infante terá sido o último dos 9 internacionalistas cubanos a morrer na "guerra de liberación" da Guiné-Bissau. Enfim, mais um caso para alimentar a nossa série Controvérsias, e que o nosso Jorge Araújo vai, por certo, querer explorar, ele que agora tem em mãos o "dossiê médicos cubanos". (****)


Luís Graça > Buruntuma: a chantagem do terror com o comandante Bobo Keita no pós 25 de abril

O Bobo Keita, antiga glória do futebol guineense, tinha feito parte da delegação do PAIGC, na 1.ª ronda de negociações de paz, em Argel... Depois de Argel, regressou à Frente Leste. E deve-lhe ter subido à cabeça a mania do protagonismo...

Aqui, no leste, foi claramente 'mais papista que o Papa', passando a perna à direção política do PAIGC. Foi ele quem teve a iniciativa de:

(i) colocar barragens para controlos dos nossos veículos militares, nas estradas do leste;

(ii) forçar a desocupação do quartel de Buruntuma;

...para além de (iii) ter resolvido, através do terror (3 fuzilamentos e diversas prisões), um conflito em Paunca com milícias (ou não seriam antes os militares da CCAÇ 11?)...

Ele próprio reconheceu, antes de morrer, na altura em que foi entrevistado para o seu livro de memórias, que a chantagem feita aos tugas de Buruntuma era mero bluff, que não era sua intenção atacar nenhum quartel...

A verdade é que este homem podia ter originado uma tragédia de consequências imprevisíveis e incalculáveis... A sua atitude de fanfarrão obrigou à intervenção pessoal do Fabião e do Juvêncio Gomes (delegado do PAIGC em Bissau) (*ª)


José Valente > Buruntuma: Guerra e paz

Há vários meses que estava em Buruntuma, como furriel do 28.º Pel Art quando no dia 5 de julho de 1974 fui obrigado a retirar para Ponte Caium. Tive que voltar a Buruntuma para inativar as munições de artilharia que tínhamos sido obrigados a abandonar. A tensão era tal que a todo o momento temíamos o pior. Felizmente tudo correu bem.

Mas o mais caricato da história da guerra é que passados alguns dias me sentei em Bafatá a uma mesa de café, a beber cerveja, com o comandante 'Nai', do comando leste do PAIGC, a quem e a seu pedido ofereci o livro "Portugal e o Futuro",  de António Spínola, e em troca recebi, tirado da própria lapela do uniforme, um pin original do PAIGC. Alguns dias antes éramos inimigos,  agora trocávamos presentes. Coisas de uma guerra que nunca compreendi nem quero compreender. (**)

Jose Valente
Furriel Mil 28.º PelArt


Luís Graça > Buruntuma > A primeira guarnição do leste a ser desocupada pelas NT, em 5/7/1974

Buruntuma foi a primeira guarnição da zona leste a ser desocupada pelas NT e ocupada de imediato pelo PAIGC, por uma força comandada pelo Bobo Keita, em 5 de julho de 1974. Camajabá e Canquelifá foram desocupadas a seguir, a 6 e a 7 de julho, respetivamente.

As restantes guarnições do leste só foram desativadas em agosto e setembro, respeitando os planos de retração do nosso dispositivo militar (aprovado pela 3.ª Rep/QG/CCFAG) (...)

Os factos acima relatados pelo Bobo Keita são confirmados pelo relatório da 2.ª rep. O ultimatum de Bobo Keita às NT em Buruntuma é vista uma clara violação ao acordo de cavalheiros estabelecido pelas NT e o PAIGC no que respeito à retirada, planeada, ordenada e concertada (a nível local), dos nossos aquartelamentos e destacamentos. 

Alega-se que Bobo Keita estaria "mal esclarecido" sobre esse acordo e os seus trâmites. Por outro lado, as instalações das NT eram particularmente apetecidas pelos combatentes do PAIGC, na zona leste, mais árida, com menos vegetação do que no sul, e em plena época das chuvas. No relatório da 2.ª Rep, diz-se explicitamente que o comportamento indisciplinado dos homens de Bobo Keita se devia também, em parte, ao facto de serem "periquitos", de serem novos na região e na guerrilha, viverem em condições precárias e estar-se na época das chuvas. (*****)