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segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23715: Notas de leitura (1506): "Missão Guiné 63-65 Companhia de Artilharia 494", por Augusto Carias, Adelino Domingues, Aníbal Justiniano; edição de autor, Amares, Julho de 2012 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Março de 2020:

Queridos amigos,
Esta obra tem três autores, são memórias referentes à CART 494, esteve adstrita ao BCAÇ 513, de cuja história já aqui se fez menção. Andaram no Sul, começaram em Ganjola e depois Gadamael, parece que foram pau para toda a colher, os abastecimentos chegavam a Gadamael Porto e eles faziam colunas ou montavam segurança em itinerários de muito risco, num território que estava a ser desencravado desde finais de 1963, abarcando Guileje, Cacoca, Sangonhá e Cameconde e mais tarde Gandembel. 

Obra profusamente ilustrada, vemos o hoje Coronel Coutinho e Lima a desfilar em Viana do Castelo, vão embarcar em Lisboa; seguem para Cacine, constroem o aquartelamento de Ganjola, segue-se a construção do aquartelamento de Gadamael Porto. São imagens elucidativas de encontros de unidades, como a imagem de Ponta Balana, na estrada Guileje - Aldeia Formosa. Tocante é a imagem do Augusto Silva a escrever as suas notas no resto de uma máquina de escrever, no meio da azáfama militar.

Um abraço do
Mário



Memórias do Sul da Guiné, 1963-1965, um tocante escrito a várias mãos

Mário Beja Santos

Na base deste ajuntamento de notas e imagens está alguém que se apresenta com esta singeleza: 

“Augusto de Jesus da Silva nasceu a 19 de Junho de 1942. Aprendeu a profissão de alfaiate em Goães – Amares, sua terra natal, com João Coelho. Foi chamado para o serviço militar em Janeiro de 1963, depois mobilizado para a Guiné, até 1965. Regressado, montou uma mercearia em Goães. Foi emigrante na Alemanha durante três anos, trabalhou em alumínios. Regressado a Portugal, trabalhou na construção civil como camionista. Durante 12 anos, foi condutor de autocarros, transportando senhoras para a confeção, na Trofa. Acabou por se dedicar à restauração”. Augusto de Jesus da Silva foi coligindo notas durante a sua comissão e outros contribuíram para dar letra de forma.

A CART vai de Bissau para Bolama, daqui para Catió e depois Ganjola, houve que preparar a defesa, quartel não havia, logo começaram os tiroteios, enquanto se constrói o aquartelamento o sobressalto é permanente. Estamos em outubro de 1963, Coutinho Lima decide fazer uma operação a Ganjola Velha, queimaram-se todas as tabancas, trouxe-se uma manada de vacas. Passados dias, conjuntamente com a CCAÇ 414, vão ao Chunguizinho, houve refrega, volta-se a este objetivo, a reação da guerrilha é forte. A 16 de novembro, assinada por Mafalé Namabá, chega uma missiva em que o PAIGC pede à tropa portuguesa para não pegar nas armas e não lutar contra os irmãos africanos. 

“Se vocês não querem lutar contra nós, quando chegarem ao campo de batalha levantem mãos ao ar. Nós vamos prender-vos e transportar-vos para qualquer país que queiram. Mas se quiserem lutar contra nós, vocês vão morrer todos sem verem a vossa família”

E propõe-se um encontro, aguarda-se resposta. Saem de Ganjola a 11 de dezembro para Gadamael, à saída há tiroteio, tinham-se passado três meses, viagem cheia de incomodidades. Começam as patrulhas de reconhecimento, que se vão alargando à distância. A 27 de janeiro, numa emboscada, morre o Alferes Costa, e em fevereiro iniciam-se as flagelações a Gadamael. É o período em que se vai desencravar território, desimpedir o caminho de Aldeia Formosa até Cacine, as operações de Aldeia Formosa a Guileje, onde se instala a tropa, operações de Guileje a Ganturé, onde fica um pelotão FOX instalado. Feito o aquartelamento de Ganturé patrulham-se as estradas de Gadamael, Bricama, Ganturé, até Guilege, patrulha-se a fronteira, não se dá pela presença do PAIGC.

Estamos já em maio de 1964, as memórias de Augusto Silva falam das colunas de reabastecimento a Guileje. As coisas também não correm bem em Sangonhá, ali põe-se minas anticarro na estrada, o que dificulta as colunas de reabastecimento que vão até Guileje e Sangonhá. As memórias deste primeiro carro registam uma série de emboscadas e ataques a quarteis das proximidades, fala nas provações da comida, gente que se afoga, jogos de futebol entre as equipas de Gadamael e de Cacine, em novembro faz-se uma coluna até Gandembel, vai-se com imenso cuidado, há sempre imensas minas anticarro e antipessoal, vem também tropa de Aldeia Formosa. Rebenta uma mina debaixo de uma viatura blindada, não houve sequer um ferido. Alarga-se o campo de ação desta CART 494, já não basta as idas a Guileje, as colunas também se dirigem a Cacoca, a Cameconde. Em 26 de dezembro de 1964, assinada pelos responsáveis militares do sul do país chega nova carta dirigida aos oficiais, sargentos e praças:

“Após a vossa chegada, matastes, massacrastes e incendiastes à vossa vontade. Cometestes contra as nossas populações indefesas os maiores crimes, as maiores vilanias, julgando serdes impunes. Entre vós havia e continua a haver gente que, embora sabendo da justiça da causa por que lutamos, vos ajudaram a escorraçar e a chacinar os melhores filhos do nosso povo. Tentámos contactar convosco no sentido de entabular ligações num espírito construtivo, mas debalde (…) Não há nenhuma força do mundo, por mais poderosa que seja, capaz de desmoralizar o nosso povo e tirá-lo do caminho da luta e do progresso”

E dava-se o nome de três desertores, dizendo que tinham sido encaminhados para Dacar e Argel. Estamos já em janeiro de 1965, a atividade do PAIGC manifesta-se, logo no dia 1 foi destruído o pontão de Bricama, no itinerário Ganturé – Sangonhá; Ganturé é flagelada, sem consequências. A companhia suspira por ser transferida, não tem havido parança nos patrulhamentos e reabastecimentos. Em 25 de abril é inaugurada a Capela de S. João em Gadamael. O PAIGC, nesta fase, não dá sinal de vida. E a 28 de maio chegou a Gadamael a CCAÇ 798 que rendeu a CART 494.

Escrito a várias mãos fala-se igualmente do régulo Abibo, o régulo de Gadamael, com quem a tropa tem um excelente relacionamento, Abibo Inchassó era respeitado desde o Forreá até Cacine, foi aliciado pelo PAIGC, viu a sua vida a perigar, foi para Bedanda, muitos dos seus familiares partiram para a República da Guiné. Quando viu a recuperação de Ganturé, voltou, ficou na defesa do aquartelamento uma milícia Fula. Juntam-se outros apontamentos sobre a vida desportiva, o médico da companhia, Aníbal Justiniano, faz um relatório no final de dezembro de 1964 sobre o estado sanitário, que é integralmente reproduzido no livro. Este médico será condecorado com a medalha de mérito militar da 3.ª classe. A CART 494 estava adstrita ao BCAÇ 513, de que aqui já se procedeu à devida recensão.

Este livro de memórias é profusamente ilustrado, os autores são Augusto Silva, Adelino Domingues e Aníbal Justiniano, edição de autor, Amares, julho de 2012.

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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE OUTUBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23708: Notas de leitura (1505): Uma escultura de renome mundial, a Nalu (Mário Beja Santos)

domingo, 7 de março de 2021

Guiné 61/74 - P21980: Memórias cruzadas: relembrando os 24 enfermeiros do exército condecorados com Cruz de Guerra no CTIG (Jorge Araújo) - Parte V

Foto nº 1 > Guiné > Região de Gabu > Boé >  Assistência a feridos na sequência da deflagração de uma mina A/C, durante a «Operação Mabecos Bravios», realizada em 6 de Fevereiro de 1969, a propósito da retirada de Madina do Boé. Foto do álbum do Cor Inf Hélio Esteves Felgas (1920-2008), Cmdt da Operação – P15719 e In: Camões - Revista de Letras e Culturas Lusófonas, n.º 5, abril-junho 1969, p 12, com a devida vénia.


Foto nº 2 > Guiné >  Região de Cacheu > Ingoré > CCAÇ 2381 (1968/70) > Antotinha > Recordando os tempos de enfermagem na tabanca em construção de Antotinha. Foto do álbum de José Teixeira – P11881, com a devida vénia.



Foto nº 3 > Guiné >  Região de Gabu > Boé > 12 de Setembro de 1969 > Evacuação de feridos provocados pelo rebentamento de uma mina anticarro ocorrida entre Canjadude e Nova Lamego. Foto do álbum de José Corceiro, 1.º Cabo Trms, CCAÇ 5, Canjadude (1969/71) – P6117, com a devida vénia.





O nosso coeditor Jorge [Alves] Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494
(Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, ainda no ativo. 



MEMÓRIAS CRUZADAS

NAS "MATAS" DA GUINÉ (1963-1974):

RELEMBRANDO OS QUE, POR MISSÃO, TINHAM DE CUIDAR DAS FERIDAS CORPOREAS PROVOCADAS PELA METRALHA DA GUERRA COLONIAL: «OS ENFERMEIROS» 

OS CONTEXTOS DOS "FACTOS E FEITOS" EM CAMPANHA DOS VINTE E QUATRO CONDECORADOS DO EXÉRCITO COM "CRUZ DE GUERRA", DA ESPECIALIDADE "ENFERMAGEM"

PARTE V

 

► Continuação do P21616 (IV) (06.12.20) (*)


1.   - INTRODUÇÃO


Visando contribuir para a reconstrução do puzzle da memória colectiva da «Guerra Colonial» ou «Guerra do Ultramar», em particular a do TO da Guiné, continuamos a partilhar no Fórum os resultados obtidos na investigação acima titulada. Procura-se valorizar, também, através deste estudo, o importante papel desempenhado pelos nossos camaradas da "saúde militar" (e igualmente no apoio a civis e população local) – médicos e enfermeiros/as – na nobre missão de socorrer todos os que deles necessitassem, quer em situação de combate, quer noutras ocasiões de menor risco de vida, mas sempre a merecerem atenção e cuidados especiais.


Considerando a dimensão global da presente investigação, esta teve de ser dividida em fragmentos, onde procuramos descrever cada um dos contextos da "missão", analisando "factos e feitos" (os encontrados na literatura) dos seus actores directos "especialistas de enfermagem", que viram ser-lhes atribuída uma condecoração com «Cruz de Guerra», maioritariamente de 3.ª e 4.ª Classe. Para esse efeito, a principal fonte de informação/ consulta utilizada foi a documentação oficial do Estado-Maior do Exército, elaborada pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974).


2.   - OS "CASOS" DO ESTUDO


De acordo com a coleta de dados da pesquisa, os "casos do estudo" totalizaram vinte e quatro militares condecorados, no CTIG (1963/1974), com a «Cruz de Guerra» pertencentes aos «Serviços de Saúde Militar», três dos quais a «Título Póstumo», distinção justificada por "actos em combate", conforme consta no quadro nominal elaborado por ordem cronológica e divulgado no primeiro fragmento – P21404.


No gráfico abaixo, já publicado anteriormente, está representada a população do estudo agrupada pela variável "posto" (n-24).

 




Gráfico 1 – Representação gráfica da população do estudo agrupada na variável "posto".


Neste quinto fragmento analisaremos mais dois "casos", o segundo e terceiro de 1966, onde se recuperam mais algumas memórias, sempre dramáticas quando estamos perante situações irreversíveis, como é a da morte.


3.   - OS CONTEXTOS DOS "FEITOS" EM CAMPANHA DOS MILITARES DO EXÉRCITO CONDECORADOS COM "CRUZ DE GUERRA", NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE DE "ENFERMAGEM" - (n=24)

 

3.9     - AMADEU IVO DA SILVA CORREIA, 1.º CABO AUXILIAR DE ENFERMEIRO, DA CCAÇ 798, CONDECORADO COM A CRUZ DE GUERRA DE 4.ª CLASSE 


A nona ocorrência a merecer a atribuição de uma condecoração a um elemento dos «Serviços de Saúde» do Exército, esta com medalha de «Cruz de Guerra» de 4.ª Classe - a segunda das distinções contabilizadas durante o ano de 1966 - teve origem no desempenho tido pelo militar em título, durante a «Operação Rebenta», realizada em 12 de Maio de 1966, 5.ª feira, ao socorrer, debaixo de fogo IN, vários feridos de outras unidades que haviam participado no ataque à base de Cambeque/Cabonepo, situada na região de Quitafine (infografia abaixo).


► Histórico

 


◙ Fundamentos relevantes para a atribuição da Condecoração


▬ O.S. n.º 02, de 12 Janeiro de 1967, do QG/CTIG:


"Agraciado com a Cruz de Guerra de 4.ª Classe, nos termos do artigo 12.º do Regulamento da Medalha Militar, promulgado pelo Decreto n.º 35667, de 28 de Maio de 1946, por despacho do Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, de 28 de Março de 1967: O 1.º Cabo auxiliar de enfermeiro, n.º 4139364, Amadeu Ivo da Silva Correia, da Companhia de Caçadores 798 [CCAÇ 798] – Batalhão de Caçadores 1861, Regimento de Infantaria 1."


● Transcrição do louvor que originou a condecoração:


"Por seu despacho de 09Jan67, considerou como sendo dado por si, o louvor constante do n.º 2 da alínea B) do artigo 2.º da OS n.º 300, de 26Dez66, do BCAÇ 1861, conferido ao 1.º Cabo auxiliar de enfermeiro, n.º 4139364, Amadeu Ivo da Silva Correia, da CCAÇ 798, porque fazendo parte dum grupo de combate em operações, ter sempre demonstrado ser cumpridor e muito esforçado no desempenho das suas funções, em especial na «Operação Rebenta», onde revelou sangue-frio e arrojo, ao ter ido buscar debaixo de fogo IN, vários feridos, dando um belo exemplo de dedicação e coragem, o que muito me apraz distinguir, como exemplo a seguir." (CECA; 5.º Vol.; p. 270).

 

CONTEXTUALIZAÇÃO DA OCORRÊNCIA


Para contextualização da ocorrência que esteve na base da condecoração do 1.º Cabo enfermeiro, Amadeu Ivo da Silva Correia, socorremo-nos das informações publicadas no P9047 – "Memórias da CCAÇ 798: uma perspectiva a partir de Gadamael Porto; Parte II; Actividade militar" – da autoria de Manuel Vaz (ex-Alf Mil da mesma unidade, Gadamael Porto, 1965/67), referindo que «Operação Rebenta» a concretizar na região de Quitafine, teve lugar em 12 de Maio de 1966, 5.ª feira. Para além da CCAÇ 798, mobilizou outras forças, cuja missão visava o ataque às povoações de Cambeque e Cabonepo. O objectivo particular da CCAÇ 798 era proteger a rectaguarda das restantes forças em acção. 

Entretanto, por engano, a FAP fez quatro mortos e uma dezena de feridos das NT. A CCAÇ 798 teve de socorrer e evacuar os feridos para uma zona de segurança, tendo-se distinguido o 1.º Cabo Amadeu Ivo da Silva Correia e o Soldado Agonia [Carlos Gomes Caieiro, CECA, 5.º Vol; Tomo IV; p 272], que foram agraciados com a Cruz de Guerra.


3.9.1    - SUBSÍDIO HISTÓRICO DA COMPANHIA DE CAÇADORES 798

= GANTURÉ - GADAMAEL - MEJO


Mobilizada pelo Regimento de Infantaria 1 [RI 1], da Amadora, para cumprir a sua missão ultramarina no CTIG, a Companhia de Caçadores 798 [CCAÇ 798], embarcou em Lisboa em 23 de Abril de 1965, 6.ª feira, a bordo do N/M «UÍGE», sob o comando do Capitão de Infantaria Rui Artur Vieira dos Santos, tendo desembarcado em Bissau em 28 do mesmo mês.


3.9.2    - SÍNTESE DA ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CCAÇ 798


Após a sua chegada, a CCAÇ 798 ficou colocada em Bissau na dependência do BCAÇ 600 [18Out63-20Ago65; do TCor Inf Manuel Maria Castel Branco Vieira], rendendo a CCAÇ 526 [08Mai63-29Abr65; do Cap Inf Hélder José François Sarmento], onde efectuou uma instrução de adaptação operacional e colaborou na realização de patrulhamentos e na segurança das instalações e das populações até 25Mai65.


Após um Gr Comb ter seguido em 08Mai65 para o destacamento de Ganturé, assumiu em 28Mai65, por troca com a CART 494 [22Jul63-24Ago65; do Cap Art Alexandre da Costa Coutinho e Lima], a responsabilidade do subsector de Gadamael, mantendo um Gr Comb destacado desde 11Mai65 e integrando-se no dispositivo e manobra do BCAÇ 600 e depois do BCAÇ 1861 [23Ago65-17Abr67; do TCor Alfredo Henriques Baeta (1917-2011)].


Destacou ainda um Gr Comb para Mejo, de 03Ago66 a 24Out66 em reforço da guarnição local, tendo tomado parte em operações realizadas na região de Salancaur, onde obteve excelentes resultados. Em 19Jan67, foi rendida no subsector de Gadamael pela CART 1659 [17Jan67-30Out68; do Cap Mil Art Manuel Francisco Fernandes de Mansilha], recolhendo a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso à metrópole, o qual ocorreu em 08 de Fevereiro de 1967, a bordo do N/M «VERA CRUZ». (CECA; 7.º Vol.; p. 340).

 

3.10    - ALBERTO DO ROSÁRIO PEREIRA, FURRIEL MILICIANO DO SERVIÇO DE SAÚDE, DA CCAÇ 1487, CONDECORADO COM A CRUZ DE GUERRA DE 4.ª CLASSE 


A décima ocorrência a merecer a atribuição de uma condecoração a um elemento dos «Serviços de Saúde» do Exército, esta com medalha de «Cruz de Guerra» de 4.ª Classe - a terceira das distinções contabilizadas durante o ano de 1966 - teve origem no desempenho tido pelo militar em título ao longo da sua comissão, com particular relevância para a «Operação Naja», em 18 de Junho de 1966 (sábado) e «Operação Nortada I», em 06 de Dezembro de 1966, 3.ª feira, ambas na zona de Jufá, situada na região de Quinara (infografia abaixo).


► Histórico

 


◙ Fundamentos relevantes para a atribuição da Condecoração

▬ O.S. n.º 15, de 30 de Maio de 1967, do QG/CTIG:


"Agraciado com a Cruz de Guerra de 4.ª Classe, nos termos do artigo 12.º do Regulamento da Medalha Militar, promulgado pelo Decreto n.º 35667, de 28 de Maio de 1946, por despacho do Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, de 07 de Julho de 1967: O Furriel Miliciano, Alberto do Rosário Pereira, da Companhia de Caçadores 1487 [CCAÇ 1487] – Batalhão de Artilharia 1904, Regimento de Infantaria 15."


● Transcrição do louvor que originou a condecoração:


"Louvo o Furriel Miliciano enfermeiro, Alberto do Rosário Pereira, da CCAÇ 1487, pela maneira abnegada, eficiente e profundamente dedicada como sempre tem desempenhado as suas funções, não só no que respeita a tratamento de pessoal militar, como também no que se refere à população civil.

Muito correcto, sempre pronto a atender quem dele necessita, revelou perfeita compreensão dos seus deveres, quaisquer que fossem as circunstâncias em que os seus serviços se tornassem necessários, designadamente debaixo de fogo em que por diversas vezes se expôs, completamente indiferente ao risco que corria, para prestar socorros a feridos em combate.

Ferido ele próprio, gravemente, em 18Jun66, durante a «Operação Naja», na região de Jufá, dirigiu o tratamento de outros feridos enquanto não foi evacuado e, em 06Dez66, durante a «Operação Nortada I», no decorrer de um violento contacto com o IN na mesma região e muito próximo do local onde havia sido ferido anteriormente, não hesitou em se dirigir para junto de pessoal atingido e, debaixo de fogo, lhe prestar a assistência necessária.

Em todas as situações, demonstrou o Furriel enfermeiro Rosário Pereira, abnegação, eficiência, dedicação, coragem, sangue-frio e total desprezo pelo perigo, quando se tornou necessário enfrentá-lo para cumprimento da sua missão." (CECA, 5.º Vol.; p. 387).


CONTEXTUALIZAÇÃO DA PRIMEIRA OCORRÊNCIA – «OPERAÇÃO NAJA»


Referente à contextualização da primeira ocorrência, que suporta a fundamentação da condecoração do Furriel enfermeiro Alberto do Rosário Pereira, da CCAÇ 1487, socorremo-nos das fontes oficiais indicadas no ponto 1, citando: 


"Em 18Jun66 – «Operação Naja» – Consistiu numa batida na península de Jabadá, com acções sobre os acampamentos de Jufá, S. José, Bissilão, Flaque Cibe e Gã Pedro. Foi executada por forças da CCAÇ 1487, CCAÇ 1549, CCAÇ 1566, PMort 1039, GCmds "Os Vampiros" e 1 GC do Destacamento de Jabadá. Destruídos os acampamentos de Jufá e S. José, causados ao lN 10 mortos, todos fardados, e capturado material diverso, munições, 4 espingardas e 1 pistola. Posteriormente, na reacção das NT a uma emboscada lN, causaram-lhe 2 mortos e outras baixas prováveis e obrigaram-no a debandar. Capturaram, além de material diverso, 1 pistola-metralhadora e destruíram um acampamento em Bissilão e outro em Flaque Cibe. As NT montaram uma emboscada, onde foi morto 1 elemento lN portador de 1 lança-granadas foguete, que foi capturado. Foi ainda destruído um acampamento em Gã Pedro." (CECA; 6.º Vol.; pp 402/403).

 

3.10.1 - SUBSÍDIO HISTÓRICO DA COMPANHIA DE CAÇADORES 1487

          = BISSAU - FULACUNDA - NHACRA - SAFIM - PONTE DE ENSALMÁ - JOÃO LANDIM E DUGAL


Mobilizada pelo Regimento de Infantaria 15 [RI 15], de Tomar, para cumprir a sua missão ultramarina no CTIG, a Companhia de Caçadores 1487 [CCAÇ 1487], embarcou em Lisboa em 20 de Outubro de 1965, 4.ª feira, a bordo do N/M «NIASSA», sob o comando do Capitão de Infantaria Alberto Fernão de Magalhães Osório, tendo desembarcado em Bissau em 26 do mesmo mês.

 

3.10.2 - SÍNTESE DA ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CCAÇ 1487


Inicialmente, a CCAÇ 1487 ficou instalada em Bissau, na dependência do BCAÇ 1857 [06Ago55-03Mai67; do TCor Inf José Manuel Ferreira de Lemos], tendo substituído a CCAÇ 557 [03Dez63-29Out65; do Cap Inf João Luís da Costa Martins Ares] no dispositivo de segurança e protecção das instalações e das populações da área. De 10 a 18Nov65, efectuou instrução de adaptação operacional na região de Mansoa, sob orientação do BART 645 [10Mar64-09Fev66; do TCor Art António Braamcamp Sobral], tendo tomado parte numa operação realizada na zona de Sabá.


Em 08Jan66, rendendo a CCAÇ 1420 [06Ago65-03Mai67; do Cap Inf Manuel dos Santos Caria], assumiu a responsabilidade do subsector de Fulacunda, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1860 [23Ago65-15Abr67; TCor Inf Francisco Manuel da Costa Almeida] e efectuando várias operações nas regiões de Naja (Braia), Jufá e Gã Formoso, entre outras, de que se destaca, pelos resultados obtidos, a «Operação Negaça», em 18Mai66.


Em 15Jan67, foi substituída pela CCAÇ 1624 [18Nov66-18Ago68; do Cap Mil Art Fernando Augusto dos Santos Pereira] e foi colocada no subsector de Nhacra, com destacamentos em Safim, Ponte de Ensalmá, João Landim e Dugal, a fim de render a CCAÇ 797 [28Abr65-19Jan67; Cap Inf Carlos Alberto Idães Soares Fabião (1930-2006)], ficando integrada no dispositivo e manobra do BART 1904 [18Jan67-31Out68; do TCor Art Fernando da Silva Branco], com vista à segurança e protecção das instalações e das populações. 

Em 31Jul67, foi rendida no subsector de Nhacra pela CART 1646 [18Jan67-31Out68; do Cap Mil Art Manuel José Meirinhos], a fim de efectuar o embarque de regresso, o qual ocorreu em 01 de Agosto de 1967. (CECA; 7.º Vol,; p. 351).

Continua…

► Fontes consultadas:

Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 5.º Volume; Condecorações Militares Atribuídas; Tomo II; Cruz de Guerra, 1962-1965; Lisboa (1991).

Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro I; 1.ª Edição; Lisboa (2014)

Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª edição; Lisboa (2002).

Ø Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

25FEV2021

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Nota do editor:


(*) Último poste da série > 6 DE DEZEMBRO D2020

Guiné 61/74 - P21616: Memórias cruzadas: relembrando os 24 enfermeiros do exército condecorados com Cruz de Guerra no CTIG (Jorge Araújo) - Parte IV


Postes anteriores:


1 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21504: Memórias cruzadas: relembrando os 24 enfermeiros do exército condecorados com Cruz de Guerra no CTIG (Jorge Araújo) - Parte III

6 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21421: Memórias cruzadas: relembrando os 24 enfermeiros do exército condecorados com Cruz de Guerra no CTIG (Jorge Araújo) - Parte II

30 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21404: Memórias cruzadas: relembrando os 24 enfermeiros do exército condecorados com Cruz de Guerra no CTIG (Jorge Araújo) - Parte I

quinta-feira, 7 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19559: Pelotões Independentes em Gadamael: A Memória (Manuel Vaz, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798) (7): 4 - Os Pelotões de Canhão S/Recúo que estiveram em Gadamael




1. Conclusão da publicação do trabalho sobre os Pelotões Independentes que estacionaram em Gadamael, da autoria do nosso camarada Manuel Vaz (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67).










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Nota do editor

Vd. postes da série de:

6 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19261: Pelotões Independentes em Gadamael: A Memória (Manuel Vaz, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798) (1): 1 - O contexto operacional e 2 - Os Pelotões de Reconhecimento que estiveram em Gadamael

20 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19309: Pelotões Independentes em Gadamael: A Memória (Manuel Vaz, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798) (2): 2 - Os Pelotões de Reconhecimento que estiveram em Gadamael (continuação)

10 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19388: Pelotões Independentes em Gadamael: A Memória (Manuel Vaz, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798) (3): 3 - Os Pelotões de Artilharia que estiveram em Gadamael

24 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19432: Pelotões Independentes em Gadamael: A Memória (Manuel Vaz, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798) (4): 3 - Os Pelotões de Artilharia que estiveram em Gadamael (Continuação)

7 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19477: Pelotões Independentes em Gadamael: A Memória (Manuel Vaz, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798) (5): 3 - Os Pelotões de Artilharia que estiveram em Gadamael (Continuação)
e
21 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19515: Pelotões Independentes em Gadamael: A Memória (Manuel Vaz, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798) (6): 3 - Os Pelotões de Artilharia que estiveram em Gadamael (Continuação)