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terça-feira, 10 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24742: Ataques ou flagelações com foguetões 122 mm: testemunhos (1): Canjadude, região do Gabu, 27 de abril de 1973: 6 foguetes, mais ou menos certeiros, lançados a 12 km de distância, mas sem consequèncias de maior (João Carvalho, ex-fur mil enf, CCAÇ 5, "Gatos Pretos", 1973/74)

Guiné > Região de Gabu  > Canjadude > 1973 > CCAÇ 5 (Gato Preto) > Interior do Clube de Oficiais e Sargentos de Canjadude (o furriel miliciano João Carvalho é o 2º a contar da direita)... 

No mural, na pintura na parede, pode ler-se: [gato] preto agarra à mão grrr.... Percebe-se que estamos no Rio Corubal com o destacamento de Cheche do lado de cá (margem direita) e... a mítica Madina do Boé, do lado de lá (margem esquerda)... 
 
Depois da retirada de Madina do Boé, em 6 de fevereiro de 1969, de Cheche e de Béli, o aquartelamento de Canjadude, era a posição mais a sul, mantida pelas NT, na região de Gabu, setor de Nova Lamego, a par de Cabuca (mais a nordeste).


Guiné >Região de Gabu > Canjadude > 1973 > CCAÇ 5 (Gatos Pretos) > Vista geral do aquartelamento... Em abril de 1973, as NT são surpreendidas por um ataque certeiro de 6 foguetões 122 mm... Mais uma escalada na guerra... 

Fotos (e legendas): © João Carvalho (2005).Todos os direitos reservados. [Edição e kegendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] 



Carta geral da antiga Província da Guiné Portuguesa (1961) (Escala 1/500 mil) > Posições relativas de Nova Lamego, Cabuca, Canjadude, Béli, Ché-Ché (ou Cheche), e Madina do Boé (as duas últimas posições,  na margem esquerda do rio Corubal)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)

1. Excertos de um aerograma  enviado, a um irmão, pelo João Carvalho (ex-fur mil enf, CCAÇ 5, Canjadude, CCAÇ 5m 1973/74, e hoje farmacêutico; é um dos veteranos do nosso blogue, tendo ingressado na Tabanca Grande em  23/1/2006).

Iniciamos hoje uma série com testemunhos, inéditos ou não, sobre ataques ou flagelações, com foguetões 122 mm (que começaram a ser utilizados pelo PAIGC desde o últim0 trimestre de 1969), 


Canjadude, s/d (c. abril/maio de 1973)


(...) No dia 27 de abril de 1973 às 22h e 50m, estava eu no clube de oficiais e sargentos, a conversar com mais dois furriéis e com o soldado que trabalha lá, quando ouvimos... Bum-bum!!! (dois sons graves, logo seguidos). 

Um dos furriéis virou-se para o outro e disse:

− Não batas com os pés no balcão que é chato. (Quando se bate no balcão, parece uma saída de morteiro.)

Então o outro, com um ar muito espantado, diz:

−  Mas eu não toquei no balcão. 

Ficámos a olhar uns para os outros, assim meio desconfiados, até que chegámos à conclusão que devia ser um ataque pois, de imediato ouvimos um estrondo enorme e o clube abanou por todos os lados. Logo a seguir outro igual. 

Ficámos completamente despassarados e resolvemos sair a correr pela porta principal, porque,  se abrissemos a porta lateral, via-se luz cá de fora e podiam começar a atirar para nós.

Eu vinha em último lugar a correr (semiagachado) a contornar o clube para ir para a vala, quando bati com a cara numa coisa duríssima e caí para trás e em cima do outro furriel que estava ainda no chão e que lhe tinha sucedido o mesmo. 

Levantámo-nos e ele disse que era uma viatura que estava ali parada (nós não víamos o Unimog porque saímos dum sítio com luz e ainda por cima como não havia lua não havia claridade nenhuma e a viatura não costumava estar estacionada naquele lugar).

Contornámos a viatura e metemo-nos na vala, andando ao longo desta para sairmos debaixo dos mangueiros. Olhei para dentro do quartel e vi um clarão enorme acompanhado de um grande estrondo (parecia que estava numa sala com 10 amplificadores ligados ao mesmo tempo). 

Entretanto começaram a sair do quartel morteiradas para o mato e também rajadas de metralhadora, ou seja o fogo era já o nosso.

Um indivíduo que estava na metralhadora Breda, perto de nós, dava uma rajada, parava e depois berrava:

 Filhos disto e daquilo, não querem lá ver ?! Vêm gozar com a velhice ?! ... 

Depois, mais uma rajada e repetia a mesma coisa. Agora, quando me lembro, até dá vontade de rir! O fogo parou e eu e o outro furriel, fomos à enfermaria tratar da cara e dos outros feridos se os houvesse. Fiz um corte no nariz e debaixo de cada vista... o outro furriel tinha cortes um pouco menos profundos...

Um dos furriéis que também estava no clube contou que foi a correr pela parada do quartel e que se meteu dentro de um dos abrigos, tendo entrado pela janela um estilhaço que lhe passou por cima. 



Em conclusão, fomos atacados por 6 foguetões lançados mais ou menos a 12 km daqui. Um deles caiu a uns 300 m do arame farpado, outro mesmo no centro do quartel e os outros mais ou menos em cima do arame farpado. Não faço ideia como é que a 12 km conseguem enfiar com os 6 foguetões praticamente dentro do quartel.

Felizmente não houve nada de grave. Só 3 pessoas é que apanharam com estilhaços, mas já com tão pouca força,  que só tiveram umas feridas superficiais. Houve muitos joelhos esfolados nas valas mas... O foguetão que caiu no meio do quartel, deitou abaixo parte da cozinha, o que não faz mal pois aquilo já estava a cair! 

Este ataque pregou-nos um bom susto mas, com uma sorte incrível, não houve nada de especial. (...)


[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / negritos, para efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]


2. Comentário do editor LG:

Sobre o  foguetão (na realidade, um foguete autopropulsionado) de 122 mm, utilizado pelo PAIGC, deixamos mais algumas notas,  da autoria do nosso especialista em artilharia, o cor art ref Nuno Rubim:

(i)  o sistema era conhecido pelo PAIGC como Arma Especial - Grad: 

(ii) na gíria dos guerrilheiros, também era conhecido como "jacto do povo" e "mulher grande";

(iii) era uma arma de artilharia, de bater zona, e não de tiro de precisão;

(iv) o alcance máximo era de 11.700 m para 40º de elevação;

(v) segundo um relatório do PAIGC a distância maior a que se efectuou tiro, teria sido contra Bolama, em 4 de novembro de 1969, a 9.800 m;

(iv) conforme imagens â esquerda, o foguete dispunha de um perno (assinalado a vermelho ) que, percorrendo o entalhe em espiral existente no tubo, imprimia uma rotação de baixa velocidade afim de estabilizar a vôo; as alhetas só se abriam depois do foguete sair do tubo (cortesia de Nuno Rubim, 2007):

(v) historicamente, os quatros alvos das NT a ser atingidos teráo sidom emn 1969, Bedanda (a 24 de outubro), Bolama (a 3 de novembro), Cacine (a 4 de novembro) e Cufar (a 24 de novembro);

(vi) nº de foguetes previstos: 17 (média, 4,25; máximo, 6, em Bolama; mínimo, 3, em Cacine);

(vii) nº de foguetes utilizados: 15 (dois avariados);

(viii) nº  confirmado de foguetes que atingiram o objetivo: 10 (66,6% de eficácia);

(ix) distância de tiro: 9,8 km (Bolama), 3,4 km (Bedanda), 3,2 km (Cacine) e 2,0 km (Cacine).


O Luís Dias, outro nosso especialista em armamento, acrescentou:

(...) "A arma Katyusha era originalmente a denominação para os foguetões utilizados pelos multi-lançadores, que eram transportados em diversos tipos de camiões. Depois da guerra, os soviéticos aperfeiçoaram estes multi-lançadores, com o surgimento do míssil 122mm BM-21 GRAD, colocados em viaturas diversas e com diverso número de tubos. 

Aperfeiçoaram também um míssil portátil, na origem do anterior, mas ligeiramente mais curto, com o mesmo calibre, com a denominação 9P132/BM-21-P, que era lançado pelo unitubo 9M28/DKZ-B e era este o míssil mais utilizado nos ataques por foguetões na Guiné, pelo menos dentro do território, tendo sido, inclusive, capturadas diversas rampas de lançamento do tipo referido, conforme diversas fotos existentes (CCAÇ 4740, Cufar, 72/74) (...).

_______________

Nota do editor;

(*) Vd. poste de 5 de fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - P482: O ataque de foguetões 122 mm a Canjadude, em abril de 1973 (João Carvalho, ex.fur mil enf, CCAÇ 5, "Gatos Pretos", 1973/74)

quinta-feira, 14 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23429: Frase do Dia (3): Na verdade, nós saímos da Guiné, mas a Guiné não sai de nós (José Martins, ex-fur mil trms, CCAÇ 5, "Gatos Pretos", Canjadude, 1968/70)

 1. Comentário (*) de Martins (ex-Fur Mil Trms, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), e nosso colaborador permanente, autor, entre outras, da série "Consultório Militar"; m histórico da Tabanca Grande, onde está desde 2005; tem jácerca de 460 referências. 

Caro Ramiro Figueira

Foi bom ter voltado a Canjadude e Che-Che, apesar de 
ser em pensamento, sítios por onde andei e onde permaneci dois anos, já lá vão mais de cinquenta.

Na verdade, nós saímos da Guiné, mas a Guiné não sai de nós.

Abraço.

Zé Martins (**)

13 de julho de 2022 às 09:27 (*)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 13 de julho de 2022 > Guiné 61/74 - P23427: (Ex)citações (411): O calor e alguma ociosidade inerente levou-me a andar aqui pelo blogue a passear pela infinita quantidade de publicações que por cá há, com destaque para a região do Boé onde, em 1987, fui abrir uma missão com hospital de campanha, no âmbito dos Médicos Sem Fronteira (Ramiro Figueira, ex-Alf Mil Op Esp da 2.ª CART/BART 6520/72)

quinta-feira, 5 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23231: Álbum fotográfico de João Alves, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 5 (Canjadude, 1970/72) (Parte I)

Relembrando a mensagem de apresentação do nosso camarada de armas, João Alves, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 5 (Canjadude, 1970/72), com data de 24 de Abril de 2022:[1]

Caros camaradas
Antes de mais uma saudação especial para todos os que foram membros da mesma missão, seja em que local tivesse sido, um forte e fraterno abraço.
Anexo um pequeno texto com algumas fotos que achei interessantes.
Se entenderem podem anular as que acharem inconvenientes.
Quanto aos elementos que compõem as fotos, tenho a certeza que não se opõem ao facto.
Estou ao dispor do grupo para o que for necessário, pois infelizmente tenho bastante que contar, apenas necessito de tempo.

Sem mais de momento, forte e fraterno abraço para todos.
João Alves

Foto n.º 1 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > De Sargento de Dia
Foto n.º 2 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > O que sobrou de um Unimog depois de accionar uma mina anticarro em 3 de Agosto de 1972.
Foto n.º 3 > Guiné > Região de Gabu > De folga do serviço em Nova Lamego. Da esquerda para a direita: eu, o Alf Mil Martins e o Fur Mil Germano Penha.
Foto n.º 4 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > A chegada sempre agitada ao aquartelamento
Foto n.º 5 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > Junto ao meu abrigo
Foto n.º 6 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > Momento de lazer no Bar de Oficiais e Sargentos. Sentados: Fur Mil Germano Penha, Cap Arnaldo Costeira, um casal de sargentos que não me lembro o nome e o Fur Mil Moreira. De pé: Fur Mil Ramos (infelizmente já falecido) e eu.
Foto n.º 7 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > Eu e o Fur Mil de Transmissões num momento de diversão. Em primeiro plano o Fur Mil Ramos, já falecido. Agachados: Fur Mil Amanuense José Perestrelo, eu e Fur Mil Alberto Antunes.
Foto n.º 8 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > Mais um momento de repouso no bar: Alf Mil Manuel Neves, eu, Fur Mil Germano Penha e o Fur Mil Vaguemestre Vítor Caldeira.
Foto n.º 9 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > Reunião de convívio. De frente: o Perestrelo, eu, o Fur Mil Alberto Caetano, o Alf Mil Martins e o saudoso Fur Mil Ramos. O Cap Costeira parecia desconfiado. Também de costas, salvo erro, o Fur Mil Penha, o Fur Mil Mec Auto Eduardo Melgueira e outro camarada que não consigo identificar.
Foto n.º 10 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > Todos éramos amigos, civis e militares. Em baixo à direita o Alferes Miliciano Pedro Lamy.
Foto n.º 11 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude  > O Ramadão em Canjadude no ano 1972
____________

Nota do editor

[1] - Vd. poste de 26 DE ABRIL DE 2022 > Guiné 61/74 - P23202: Tabanca Grande (533): João da Silva Alves, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 5 (Canjadude, 1970/72). Senta-se à sombra do nosso poilão no lugar n.º 860

terça-feira, 26 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23202: Tabanca Grande (533): João da Silva Alves, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 5 (Canjadude, 1970/72). Senta-se à sombra do nosso poilão no lugar n.º 860

1. Mensagem do nosso camarada João Alves deixada no Formulário de Contacto do Blogger

Olá "Camaradas".
Estive em Canjadude, desde junho de 1970 até julho de 1972.
Durante esse tempo convivi com muitos dos referenciados nesta peça, era Furriel Miliciano.
Convivi com o Cap. Arnaldo Costeira e com o seu substituto que não me recordo agora o nome.
Posteriormente enviarei fotos.

Cumprimentos,
João Alves


********************

2. Mensagem enviada pelos editores ao João Alves:

Caro camarada de armas João Alves
Muito obrigado pelo teu contacto.
Julgo teres pertencido à CCAÇ 5, comandada no teu tempo pelo Cap Inf Arnaldo Carvalhais da Silveira Costeira que foi substituído pelo Cap Cav Fernando Gil Figueiredo de Barros.
Teremos muito gosto em receber-te na tertúlia. Para o efeito, manda-nos uma foto actual e outra do teu tempo de Guiné, fardado, formatos mais ou menos tipo passe.
Confirma se pertenceste à CCAÇ 5, diz-nos as datas de ida e regresso da Guiné, a tua especialidade e outros elementos que julgues úteis para te ficarmos a conhecer melhor.
Envia-nos um texto de apresentação, pode ser uma estória, e as fotos que entenderes, devidamente acompanhadas pelas respectivas legendas que devem indicar pelo menos o local e data. Se achares que os retratados não se importam, podes identificá-los.
Somos um Blogue de antigos combatentes que nos regulamos pelos critérios que podes ver aqui: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2011/07/guine-6374-p8588-excitacoes-143.html
Também temos a nossa política editorial que podes ver na aba esquerda da nossa página, que aqui transcrevo:
[...]
A tua correspondência deve ser enviada para luis.graca.prof@gmail.com, com conhecimento a carlos.vinhal@gmail.com, para teres a certeza de que as tuas mensagens são lidas.

Ficamos então na expectativa da tua resposta.
Deixo-te um fraterno abraço em nome dos editores e tertúlia deste Blogue.

Abraço
Carlos

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3. Mensagem do nosso novo amigo tertuliano e camarada de armas, João da Silva Alves, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 5 (Canjadude, 1970/72), com data de 24 de Abril de 2022:

Caros camaradas
Antes de mais uma saudação especial para todos os que foram membros da mesma missão, seja em que local tivesse sido, um forte e fraterno abraço.
Junto um pequeno texto com algumas fotos que achei interessantes.
Se entenderem podem anular as que acharem inconvenientes.
Quanto aos elementos que compõem as fotos, tenho a certeza que não se opõem ao facto.
Estou ao dispor do grupo, para o que for necessário, pois infelizmente tenho bastante que contar, apenas necessito de tempo.

Sem mais de momento, forte e fraterno abraço para todos.
João Alves

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Canjadude - De Sargento de Dia

Nome: João da Silva Alves
Embarquei com destino à Guiné-Bissau em 18 de julho de 1972, desembarcando a 24 de julho como Furriel Miliciano, onde fui colocado na CCAC 5, onde cheguei numa coluna no dia 2 de agosto, sob o comando do Capitão Cap. Inf. Arnaldo Carvalhais da Silveira Costeira, tendo servido no 1.º Pelotão sob o comando do Alferes Miliciano Alexandre Rodrigues Martins, com os camaradas Furriel Miliciano Germano Penha e Manuel Joaquim Inocentes e Sá.

Lembro-me como se fosse ontem. Os camaradas fizeram uma festa aos três periquitos com uma gravação feita pelos camaradas Antunes das Transmissões e o Furriel Moreira que falava fluentemente o “Ciriolo”, com o propósito de fazer crer que o inimigo sabia perfeitamente da chegada a Canjadude dos recentes elementos.
Diga-se em abono da verde que a certo ponto nos convenceram, mais o Furriel Alberto Caetano.

No dia 3 formou-se uma coluna para levar os elementos que tinham acabado a sua missão para em Nova Lamego e serem conduzidos a Bissau. Foi o meu pelotão a formar a coluna, tendo o Alf. Martins me chamado para ir ao lado dele na 1.ª viatura, uma GMC.
Foi a minha sorte, pois eu estava na segunda viatura, um Unimog “salta pocinhas” que seria vítima de uma mina na picada, houve algumas vítimas mortais que iam na viatura e alguns feridos. Foi pedido à companhia ajuda para evacuação dos feridos e mortos, um dos feridos era o Furriel Miliciano João Purrinhas Martins que tinha chegado connosco, o 1º Cabo Enfermeiro Carlos Alberto Diniz e vários civis.

Fizemos uma visita cerrada nas imediações, pois não houve troca de tiros. Seguimos um caminho recentemente pisado que nos conduziu a uma tabanca civil, em Sitó, onde não encontramos nada de suspeito. Regressamos para junto do resto do pessoal que tinha ficado a fazer guarda na picada, e voltamos para Canjadude tendo os camaradas que foram rendidos seguido para Nova Lamego nas viaturas que vieram do Batalhão de Nova Lamego.

Foi assim o nosso batismo de fogo que na noite desse mesmo dia fomos atacados apenas com armas ligeiras, o que viemos a constatar que o acidente da manhã estava a ser montado para no dia seguinte sermos emboscados, pois foi a primeira vez que uma coluna de rendição era feita no dia imediato à coluna de chegada.

Foto 2: O que sobrou do Unimog

Dois dias depois foi organizada uma coluna de Guarda de Honra para acompanhar os corpos para Bissau, eu e mais cinco militares. Primeiro em viaturas para Bafatá, seguindo-se de lancha para Bissalanca.
Foi duro, pois foram cinco dias no total até regressar a Canjadude.

Praticamente durante um ano não fomos importunados pelo inimigo. Apenas ouvíamos os ataques que eram feitos aos aquartelamentos por ali perto. Cabuca, Gam Quiró, Pirada.
No meu último ano em Canjadude fomos atacados diversas vezes.

Acabei a minha comissão de serviço em 12 de junho de 1972.
Desembarque em Lisboa no Aeroporto Militar de Figo Maduro em 12 de julho de 1972 num avião militar.


********************

4. Comentário do editor CV:

Caro João Alves
Bem-vindo à tertúlia. És mais um Antigo Combatente da CCAÇ 5 e vens juntar-te ao nosso camarada e colaborador permanente na área de História Militar e Arquivos, José Martins, que foi Fur Mil de Transmissões em Canjadude nos anos de 1968/70.

Na tua apresentação trazes-nos uma estória traumatizante, principalmente para quem acaba de chegar ao Teatro de Operações e entra logo em contacto com a realidade pura e dura da guerra.

Se me permites, vou reservar as fotos que nos enviaste e agora não publicadas para um ábum fotográfico teu, que irei criar. Fica desde já o pedido para o envio de mais. E de outras memórias escritas também.

Vais ocupar a posição n.º 860 desta tertúlia de antigos militares e amigos da Guiné e da actual Guiné-Bissau, agora país soberano.

Termino com um abraço de boas-vindas em meu nome pessoal e nos dos editores e tertúlia.
CV
____________

Nota do editor

Último poste da série de 22 DE MARÇO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23099: Tabanca Grande (532): Padre José Torres Neves, missionário da Consolata, ex-alf mil capelão, BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71): senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 859

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22332: In Memoriam (397): Actor Carlos Miguel Bugalho Artur (1943-2021), ex-Fur Mil Amanuense do CMD AGR 1980 (Bafatá, 1967/68), falecido no dia 19 de Junho de 2021 (José Martins, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5)

IN MEMORIAM


Carlos Miguel Bugalho Artur
11 de Junho de 1943 - 19 de Junho de 2021

A notícia chegou, lacónica, ao meu conhecimento através das Redes Sociais:

"O ator Carlos Miguel, conhecido como o “Fininho”, morreu este sábado, em Santarém, aos 78 anos. Tinha participado no antigo concurso “1, 2, 3”."

Algumas notícias e publicações, nos media e nas redes sociais se referiram a este acontecimento, mas sempre em tom de quem regista um facto que não pode deixar de ser levado ao conhecimento do público. Nas revistas, que vivem das artes cénicas, nada vi referido.

Dá a sensação que, ao afastar-se do palco há 23 anos, devido à doença que viria a vitimá-lo, tinha sido remetido para o esquecimento.

Não. O Carlos Miguel não foi esquecido. Nem por quem o acompanhou nos palcos, nem por quem, com ele, cumpriu o serviço militar, não só na Metrópole, mas também em África, mais concretamente na antiga Guiné Portuguesa.

Como pouco se escreveu sobre o Carlos Miguel, não foi notado que existe uma “branca” entre o ano de 1966 e 1970, no que respeita ao contributo que deu ao teatro.

Conheci-o em 1968, quase no final do ano, em Nova Lamego (Gabu).

Recordo-me que, em determinada altura em que passeávamos, fomos abordados por um soldado que, desdobrando uma revista, lhe perguntou se, na fotografia, era ele. A revista em questão era de “fotonovelas”, ou seja, descrevia uma história semelhante a uma “banda desenhada”, com os “balões de falas” a indicar quem falava.

Desconhecia esse seu trabalho. Pediu ao soldado para não mostrar a outros camaradas esse seu trabalho. O Carlos Miguel mostrava, desta forma, ser muito discreto.

O Furriel Miliciano Amanuense Artur, integrou o quadro orgânico do CMD AGR 1980 (Bafatá, 1967/68), mobilizado no Regimento de Artilharia n.º 1 (Lisboa), que embarcou para o Comando Territorial Independente da Guiné em 1 de Fevereiro de 1967, chegando a Bissau no dia 6 seguinte.

O CMD AGR 1980 assumiu a responsabilidade da Zona Leste, com sede em Bafatá que compreendia os sectores de Bambadinca, Bafatá e Nova Lamego.

Na História da Unidade (cota 2/4/84/5), que consultei no Arquivo Histórico-Militar, regista que em 31 de Outubro de 1967 é evacuado para o Hospital Militar nº 241 (Bissau). Comentários nas redes sociais indicam que foi devido a uma fractura do braço. Nada mais consta do Carlos Miguel no documento consultado.

Nos elementos de que disponho no meu arquivo, sobre a Companhia de Caçadores nº 5 - Gatos Pretos - Canjadude, uma companhia formada por africanos e enquadrada por europeus, consta que foi colocado nesta companhia, onde eu prestava serviço desde Junho de 1968, em 22 de Setembro de 1968, não constando o motivo da transferência, assumindo as funções de Chefe da Secção de Matrícula. Não consta a data em que foi substituído nem o seu destino, mas o seu substituto foi aumentado ao efectivo da companhia em 8 de Setembro de 1968.

Provavelmente foi destinado a alguma Repartição do Quartel-General ou outro serviço em Bissau, até ao final da sua comissão de serviço.

Voltamos a encontrar-nos no bar da Liga dos Combatentes no Porto, por acaso, quando ali estávamos a almoçar. Ele estava no Porto em trabalho e eu residia na zona. Encontrámo-nos algumas vezes mais, especialmente quando fui trabalhar para o bairro de Campo de Ourique em Lisboa, onde ele residia.

Soube que foi residir para a freguesia de Granho, Salvaterra de Magos, quando o contactei para o informar de um encontro dos militares que pertenceram à Companhia, mas não sabia o motivo do seu afastamento de Lisboa.

Tudo voltou à memória, com este infausto acontecimento.

Aqui fica o nosso preito de homenagem a um Gato Preto, a um Camarada e, sobretudo a um AMIGO, onde quer que esteja …

José Martins
O ex-Fur Mil Carlos Miguel (Fininho), de pé, ao lado do 1.º Cabo Amaro Oliveira António - CMD AGR 1980 (Bafatá, 1967/68)...

Foto Luís Graça e Camaradas da Guiné
CCAÇ 5, em Canjadude > A partir da esquerda, sentados: Borges, Carlos Miguel e Cabrita. De pé: Gil.
Foto José Corceiro
Sargentos e Furrieis da CCaç 5, em Nova Lamego, da esquerda para a direita: Carlos Miguel, Magalhães, Carvalho, Azevedo e Cascalheira.

domingo, 9 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22185: Memórias cruzadas da região do Boé: subsídios para a história da CCAÇ 1586: as principais ocorrências em 24 de janeiro de 1968 entre Canjadude e Cheche (Jorge Araújo)


Foto 1 - (1968) > Viatura carbonizada nos itinerários da região do Boé (Canjadude, Ché-Che, Madina do Boé e Béli). Foto do álbum de Abel Santos, da CART 1742 – P10248, com a devida vénia.



O nosso coeditor Jorge [Alves] Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494
(Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, ainda no ativo. Tem  290 referências no nosso blogue.



MEMÓRIAS CRUZADAS DA REGIÃO DO BOÉ

SUBSÍDIO HISTÓRICO DA CCAÇ 1586:

AS PRINCIPAIS OCORRÊNCIAS EM 24 DE JANEIRO DE 1968

ENTRE CANJADUDE E CHÉ-CHE

 


Mapa da Região do Boé (Sector Leste/Sudeste), assinalando-se, no itinerário entre Canjadude e Ché-Che (21 kms), o local de Fariná, território de muitas tormentas por efeito da existência de minas a/c e emboscadas, em particular durante a realização de colunas de reabastecimento.



1. - INTRODUÇÃO

A presente narrativa segue o horizonte temporal e historiográfico dos últimos três postes publicados durante a primeira quinzena de Abril (P22059 - P22081 - P22088), tendo por contexto geográfico a região do Boé, onde foram analisados factos e consequências da actividade operacional das unidades militares aí instaladas, todos eles reportados a Janeiro de 1968, mês em que o conflito armado completava, então, cinco anos.

Entretanto, recordamos que para a elaboração dos fragmentos acima identificados contámos com a informação recolhida nas fontes de consulta habituais – a Oficial e a das Unidades citadas, o que não foi possível repetir no caso em apreço, devido ao facto da CCAÇ 1586, que está no centro da pesquisa deste trabalho, não possuir História dactilografada e a Oficial (CECA) não fazer qualquer referência aos episódios em análise. Por esse facto, entendemos que a informação reproduzida no ponto dois poderá ser considerada como um «subsídio histórico» da CCAÇ 1586.


2. - O "DIÁRIO" DE MÁRIO DOS ANJOS TEIXEIRA ALVES, 1.º CABO CORNETEIRO DA CART 1742, COMO FONTE DE INFORMAÇÃO


O «Diário da CART 1742», caderno de memórias da autoria de Mário dos Anjos Teixeira Alves, ex-1.º Cabo Corneteiro, ao qual já recorremos por diversas vezes, por nele constarem registos relevantes da actividade operacional na Região do Boé, não só da sua Unidade como de outras, no período de 1967/1969, onde se inclui o caso do colectivo da CCAÇ 1586, "Os Jacarés" (Guiné: 1966/1968).

Com efeito, e porque não foi possível concretizar as expectativas de partida, pelas razões evocadas na introdução, o "Diário do Mário Alves" deu-nos uma grande ajuda no enquadramento inicial da presente investigação, pelo que lhe estamos muito gratos.

Assim sendo, e no que concerne às principais ocorrências em título, o camarada Mário Alves escreveu: (…)

► Dia 26.Jan.68 (6.ª feira) – às 16h00

● Chegou a companhia [CCAÇ 1742] que afinal foi ao Ché-Che buscar as viaturas e os mortos de uma companhia [CCAÇ 1586] que, na passada quarta-feira [24Jan68], ia para lá, e foi atacada pelo IN. Tiveram seis mortos e muitos feridos [só foi possível identificar cinco elementos], dos quais alguns foram ontem para Bissau. Os mortos vieram hoje com a minha companhia e estiveram aqui na capela para serem colocados nas urnas. Eram quatro africanos [só foi possível identificar três elementos] e dois brancos. Era uma calamidade vê-los, por estarem queimados pelas viaturas que arderam, foi difícil distinguir os brancos dos negros. (…).

■ Por outro lado, e como complemento do acima citado, o camarada Abel Santos também ele da CART 1742, em texto relativo à "emboscada a caminho do Ché-Che" sofrida pela CCAÇ 1586, publicado no P22081 (08Abr21), acrescenta:

"A 24 de Janeiro de 1968 (4.ª feira) uma coluna que se dirigia ao Ché-Che com abastecimento para a malta lá instalada, um dos produtos transportados eram bidões de combustível, foi emboscada a meio caminho entre esta localidade e Canjadude, foi o que causou muitos feridos e a morte a seis militares, dois continentais e quatro africanos, que morreram carbonizados junto das viaturas em chamas, quando rebentaram os bidões durante a flagelação do IN.

A CART 1742, às 4:30 horas do dia 25Jan (5.ª feira), com dois pelotões, foi em socorro dos camaradas, onde foram encontrar um cenário dantesco, pessoal gritando, outros gemendo, viaturas queimadas. O nosso pessoal necessitou de colocar lenços no rosto devido ao cheiro a carne queimada, mas apesar de tudo o que vimos, e como soldados que somos, reagimos começando a organizar a retirada do local para sairmos daquele inferno, rumando a Nova Lamego, onde chegámos dia 26Jan (6.ª feira), pelas 16:00 horas com um espólio macabro."



2.1 – AS CINCO BAIXAS IDENTIFICADAS NO LIVRO DA «CECA»


No 8.º Volume, "Mortos em Campanha", nas pp 328/329, constam o nome de (apenas) cinco elementos, a saber:

▬ Continentais:


● Mário Augusto da Silva, da CCAÇ 1586 > Soldado Atirador; natural de Vilarinho, Parada do Pinhão / Sabrosa.

● Jaime Vinhais Teixeira, da CCAÇ 5 > 1.º Cabo Atirador; natural de São Julião / Chaves.

▬ De Recrutamento Local:

● Intumbo Quasse, da CCAÇ 1586 > Soldado Atirador; natural de Santa Ana / Mansoa.

● Chimatam Baldé, da CCAÇ 5 > Soldado Atirador; natural de Sonaco / Gabú.

● Mussa Baldé, da CCAÇ 5 > Soldado Atirador; natural de Cossé / Bafatá.


Vd. foto nº 1, acima reproduzida


2.2 - SUBSÍDIO PARA A HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAÇADORES 1586

= PICHE - PONTE CAIUM - NOVA LAMEGO - BÉLI - MADINA DO BOÉ - BAJOCUNDA - COPÁ E CANJADUDE (1966-1968)



Mobilizada pelo Regimento de Infantaria 2 [RI2], de Abrantes, para cumprir a sua missão ultramarina no CTIG, a Companhia de Caçadores 1586 [CCAÇ 1586], embarcou em Lisboa, em 30 de Julho de 1966, quinta-feira, a bordo do N/M «UÍGE», sob o comando do Capitão de Infantaria António Marouva Cera, tendo desembarcado em Bissau em 04 de Agosto.




Foto 2 - Ché-Che, 1967 > Atravessando o rio na jangada. Foto do álbum de Aurélio Dinis, ex-furriel da CCAÇ 1586 (1966-1968), com a devida vénia. 

 

2.3 - SÍNTESE DA ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CCAÇ 1586


Quatro dias após a sua chegada a Bissau a Companhia de Caçadores 1586 [CCAÇ 1586], enquanto unidade independente, é destacada para a região Leste do território, assumindo em 08Ago66 a responsabilidade do respectivo subsector de Piche, substituindo dois Gr Comb da CCAÇ 1567 [13Mai66-17Jan68, do Cap Mil Inf João Renato de Moura Colmonero], ali transitoriamente colocados, e guarnecendo até 21Set66 [mês e meio], com um Gr Comb, o destacamento na Ponte do Rio Caium, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1856 [06Ago65-13Abr67, do TCor Inf António da Anunciação Marques Lopes].

A partir de Set66, passou a ter, cumulativamente, a função de subunidade de intervenção do
sector, tendo os seus Gr Comb actuado em diversas operações realizadas e sido destacados temporariamente para várias localidades da sua zona de acção, nomeadamente Nova Lamego, de 10Out66 a princípios de Dez66; Madina do Boé, de 10Fev67 a 01Mai67 e Béli, de 25Jan67 a 15Abr67. Em 06Abr67, foi substituída no subsector de Piche pela CCAV 1662 [06Fev67-19Nov68, do Cap Mil Art António de Sousa Pereira], tendo assumido, em 07Abr67, a responsabilidade do subsector de Bajocunda, com um Gr Comb destacado em Copá, onde rendeu a CCAÇ 1417 [06Ago65-13Abr67, do Cap Inf José Casimiro Gomes Gonçalves Aranha] continuando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1856 e sucessivamente do BCAV 1915 [14Abr67-03Mar69; do TCor Cav Luís Clemente Pereira Pimenta de Castro], do BCAÇ 1933 [03Out67-20Ago69; do TCor Inf Armando Vasco Campos] e ainda do BCAÇ 2835 [24Jan68-04Dez69; do TCor Inf Joaquim Esteves Correia].


Em 28Out67, um Gr Comb seu integrou as forças do subsector temporário de Canjadude, então criado, e onde se manteve até 04Dez67. Em 27Abr68, foi rendida no subsector de Bajocunda pela CCAÇ 1683 [02Mai67-16Mai69; do Cap Mil Cav José Manuel Pontífice Maricoto Monteiro] e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso, que ocorreu em 09 de Maio de 1968, a bordo do N/M «NIASSA». Observações: Não tem história da Unidade. (CECA; 7.º Vol.; p 357).



Foto 3 – (Maio de 1968; a bordo do N/M «NIASSA», algures no Atlântico). Regresso do contingente da CCAÇ 1586 à Metrópole após concluída a sua missão no CTIG. Da Esqª/Dtª os furriéis: Santos, Ilídio, Aurélio Dinis, N/N, Teixeira, Rocha, N/N e Laranjo. Foto do álbum de Aurélio Dinis, com a devida vénia.


3. - O QUE ESCREVEU AMÍLCAR CABRAL (1924-1973) A PROPÓSITO DA MESMA OCORRÊNCIA

O episódio (emboscada) ocorrido em 24 de Janeiro de 1968, entre Canjadude e Ché-Che, levado a cabo por elementos do PAIGC em nomadização na Região do Boé, faz parte, entre outras notícias, dum comunicado dactilografado, escrito na língua francesa, datado de 06Fev68, e assinado por Amílcar Cabral (1924-1973), o qual se reproduz abaixo [só o que é relevante para o texto], com tradução da nossa responsabilidade.

◙ COMUNICADO DO PAIGC

● "Complementando as informações veiculadas nos nossos últimos comunicados, reportamos a seguir algumas notícias sobre outras acções realizadas pelas nossas forças armadas no mês de Janeiro [1968]."


(…)

● "24 De Janeiro [1968; 4.ª feira] – Durante uma emboscada na estrada Ché-Che / Canjadude (região do Gabú / Boé), uma unidade do nosso exército regular destruiu 5 camiões de uma coluna inimiga e colocou 22 soldados colonialistas fora de acção. Em fuga, o inimigo deixou no terreno uma quantidade de equipamentos, incluindo catorze G3s e dois rádios em bom estado de funcionamento. Os nossos combatentes também apreenderam um saco contendo correspondência e vários documentos militares."

Feito, em 06 de Fevereiro de 1968.

Amílcar Cabral,

Secretário-Geral



Fonte: Citação: (1968), "PAIGC - Communiqué", Fundação Mário Soares / Arquivo Mário Pinto de Andrade, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_84044, com a devida vénia.

◙ IMAGENS RELACIONADAS COM O COMUNICADO



Foto 4 - Fonte: Citação: (1968-1973), "Armamento capturado pelo PAIGC ao exército colonial português", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43861, com a devida vénia.



Foto 5 - Fonte: Citação: (1968-1973), "Capacete e saco dos CTT capturados pelo PAIGC ao exército colonial português.", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43796, com a devida vénia.




Foto 6 – Fonte: Citação: (1968-1973), "Viatura do exército colonial português destruída", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43858, com a devida vénia.


► Fontes consultadas:

Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª edição, Lisboa (2002).

Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001).

Ø (1) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 04325.001.004. Título: PAIGC - Communiqué. Assunto: Amílcar Cabral, Secretário-Geral do PAIGC, faz o balanço das acções da luta armada durante o mês de JAN.1968. Data: Terça, 6 de Fevereiro de 1968. Fundo: Arquivo Mário Pinto de Andrade. Tipo Documental: Documentos.

Ø (2) Instituição: Fundação Mário Soares. Pasta 05222.000.424. Título: Armamento capturado pelo PAIGC ao exército colonial português. Assunto: Armamento capturado pelo PAIGC ao exército colonial português. Data: 1968-1973. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Documentos.

Ø (3) Instituição: Fundação Mário Soares. Pasta: 05222.000.420. Título: Capacete e saco dos CTT capturados pelo PAIGC ao exército colonial português. Assunto: Capacete e saco dos CTT capturados pelo PAIGC ao exército colonial português. Data: 1968-1973. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Documentos.

Ø (4) Instituição: Fundação Mário Soares. Pasta: 05222.000.421. Título: Viatura do exército colonial português destruída. Assunto: Viatura do exército colonial português, com a matrícula MG-61-01, já desmantelada. Data: 1968-1973. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Documentos.


Ø Outras: as referidas em cada caso.

Termino agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.
12ABR2021

____________

Nota do editor:

(*) Vd. postes de:


2 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22059: (In)citações (183): A propósito da(s) jangada(s) do Cheche... e lembrando aqui mais mártires do Boé: o major Pedras, da Chefia do Serviço de Material, QG/CTIG, e o fur mil Jorge, do BENG 447 (Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM; CCS / BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20522: O nosso livro de visitas (204): António Borges, cor inf ref, ex-cap inf, cmdt da CCAÇ 5, "Gatos Pretos", Canjadude, 1970, ao tempo do José Corceiro e do José Martins



Guiné > Região de Gabu > Canjude > CCAÇ 5, "Gatos Pretos > 1970

(...) O capitão Borges com a esposa numa coluna para Nova Lamego. Sentados atrás vão os guarda-costas (elementos dos Comandos, Dragões). Houve autorização superior para o jipe poder integrar a coluna.

É uma atitude arrojada que revela coragem, determinação e cumplicidade no casal, dando provas de coesão, sem se pouparem a sacrifício para consolidar a união dos cônjuges. É evidente que o amor é mais importante que a morte... mas o capitão Borges, com esta sua ousadia, deu provas de combate, segurança e confiança, no porvir.

A senhora do capitão Borges tem que ser uma mulher de alma magnânima e imperturbável, para se arriscar a viver nestas condições, a milhas da civilização e neste isolamento, não deve ser fácil, mas é revelador de acto de afoiteza e amor para com o marido, ao querer trilhar alguns dos perigos e dificuldades inerentes ao teatro de guerra que todos aqui vivemos, só que nós militares, por imposição e obrigação, enquanto a senhora do capitão é de livre vontade, abnegando a possibilidade de bem-estar, provavelmente podendo viver na Metrópole. (...) (*)

[Foto à direita]

Guiné > Região de Gabu > Canjude > CCAÇ 5, "Gatos Pretos > 1970 > Entre o Cheche e o Bormuleo, na margem direita do Rio Corubal, a posar para a foto o capitão Borges, o capitão Costeira e o ahferes Varela (hoje advogado em Almada). É visível a margem oposta do rio Corubal.

[Foto à esquerda]

Guiné > Região de Gabu > Canjude > CCAÇ 5, "Gatos Pretos > 1970 >  Instalados junto àmargem do rio Corubal, ao fim do dia, a comer a ração de combate. 

Na foto, o capitão Borges e mais pessoal da operação; o Silva de Transmissões está de pé; alguns carregadores civis são visíveis assim como os garrafões que transportavam com água. Passámos aqui a noite, onde as formigas nos atacaram.



Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  14 de março de 1970 >  Recepção do povo de Nova Lamego ao Ministro do Ultramar, Silva Cunha.


Guiné > Região de Gabu > Canjude > CCAÇ 5, "Gatos Pretos > 1970 > O Ramos a cortar o cabelo ao Corceiro em Canjadude. Era normal entre as 10 e as 15h00, intervalo de descanso, andarmos assim vestidos, quando não era pior.

Fotos (e legendas): © José Corceiro  (2010) . Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Troca de mensagens entre o cor inf ref António José G. G. Borges, ex-cap, cmdt da CCAÇ 5, Canjadude, 1970, hoje cor inf ref (**):

(i) António Borges, quarta, 18/12/2019, 12h45

Com os meus afectuosos cumprimentos muito gostaria que me fosse indicado o endereço actual do vosso "tertuliano" José Corceiro que foi Cabo radiotelegrafista da CCaç 5,  de Canjadude (Guiné), Companhia que comandei em 1970.

Antecipadamente agradecido desejo a todos Festas Felizes.
Cor António José G. G. Borges,
ex Capitão Borges / CÇaç 5


(ii) Luís Graça, 18/12(2019, 13h15

Zé Corceiro: Já há tempos que não contactamos... Tens aqui um pedido do ex-cmdt da CCAÇ 5, em 1970, hoje cor ref António Borges. Responde-lhe, com conhecimento a mim, se não te importares... Aproveitas para fazer a "prova de vida"...

Um abraço natalício. Luís Graça


(iii) José Martins, 18/12/2019.18h45:

Boa noite, meu Comandante e Amigo António Borgs:

Espero que se encontre bem, assim como toda a família. Pediram-me para responder a este mail, o que faço com muito gosto.

Já não tenho contacto com o Corceiro há algum tempo mas, os contactos de que disponho são:
e-mail (...)

telemóvel (...)

Telefone fixo (...) 

Aproveito para enviar votos de Boas Festas e um óptimo 2020.

José Martins

 (iv)  António Borges, 2/1/2020 11h15: 

Caros amigos:

A resposta ao meu pedido sagrou-se 100% exitosa tendo "capturado" o Corceiro que era o objectivo principal da operação, mas também o Martins, e estabelecido contacto com o Luís Graça a quem felicito pelo excelente trabalho do "blogue" que vem patrocinando, executando um trabalho que seria legítimo exigir fosse feito pelas instâncias oficiais próprias.

A todos os meus votos de um 2020 pleno de êxitos pessoais.

Um forte abraço do "capitão",

Borges

2. Comentário do editor Luís Graça:

Meu caro coronel António Borges: fico honrado com as suas palavras acerca do nosso blogue, e grato pelos seus votos de bom ano de 2020, que retribuo,. Ao mesmo tempo, fico feliz por termos conseguido "levar a carta a Garcia"... Mas precisamos da presença de mais um "Gato Preto" na nossa Tabanca Grande. Depois desta agradável visita, o seu lugar é aqui ao pé de nós. E começa bem o ano de 2020 se aceitar o nosso convite, sentando-se à sombra do nosso mágico, protetor e fraterno poilão, no lugar nº 802.

 Mande-nos uma pequena nota curricular e as duas fotos da praxe: uma mais recente e outra mais antiga, do tempo do CTIG. Com certeza que terá memórias que possa e queira partilhar connosco. Será muito bem vindo.

PS - Além do José Martins e do José Corceiro, temos ainda o João Carvalho (, "um dos últimos soldados do império"), como dignos representantes da CCAÇ 5. Espero que não me tenha escapado mais nenhum nome. Cito de cor.
______________


(...) Durante a minha permanência na Guiné, de entre os quatro Comandantes de Companhia da CCAÇ 5, que eu conheci em Canjadude, por razões de estilos diversos, cada Comandante deixou cinzelado, na minha memória, recordações e sentimentos distintos uns dos outros. (...)

(...) Estamos integrados numa companhia independente de africanos, cujo quartel tem abrigos enterrados no chão, onde dormimos, os que conseguem, em condições desumanas. O acampamento confina com uma tbanca, onde coexistem civis e militares nativos com as suas famílias, habitando em “morançinhas” familiares tradicionais, cobertas de capim (colmo). (...)


(...) Dia 20 de março, 1970o comandante da CCAÇ 5 é o capitão Manuel de Oliveira (falecido em 31/03/2007,  com a patente de coronel tirocinado na reserva) e é voz corrente que nos vai deixar por ter sido promovido a major e foi destacado para Bissau, para exercer funções relacionadas com actividades no Ministério da Educação. A família do capitão vive em Bissau, cujo agregado familiar é composto por duas filhas e a esposa (Bióloga), que lecciona Ciências no Liceu Honório Barreto. (...)

(...) Dia 21 de março, logo cedo, antes das h00, saiu uma coluna de reabastecimento para Nova Lamego. Eu estou de serviço no posto de rádio, das 4h00 às 8h00 e das 12h00 às 16h00. O José Carlos Freitas saiu hoje na coluna e vai para a Metrópole em gozo de férias.

A coluna regressou cedo do Gabu, por volta do meio-dia. Recebi muita correspondência. Veio para substituir o capitão Oliveira o capitão Borges (hoje coronel na reserva) que era o comandante da CCS do Batalhão de Nova Lamego. (...)

(...) Dia 26, não sei se terá algum fundamento ou se será boato de caserna, mas comenta-se a notícia com honras de veracidade. Fala-se à boca cheia que o capitão Borges vai trazer a esposa, que vive em Nova Lamego, aqui para o destacamento de Canjadude.

Dia 28, houve coluna a Nova Lamego e o capitão Oliveira deixou hoje a CCAÇ 5, foi para Bissau. (...)

(..:) Desde que o Ministro do Ultramar esteve em Nova Lamego, o dia 14 deste mês [de março de 1970], todos os dias têm havido saídas de pelotões para o mato e, tem sido uma constante o movimento de envio e recepção de mensagens, no posto de rádio.

Dia 31, o capitão Borges mandou reunir os militares da Formação e esteve a definir algumas normas de conduta, que quer que sejam cumpridas por todos, principalmente na apresentação do vestuário e comportamentos. (...)

(...) Dia 7 de abril, logo manhãzinha, ao romper da aurora, saiu uma coluna para Nova Lamego. A coluna regressou a Canjadude bem cedinho, tendo recolhido no trajecto o pelotão que estava emboscado.

Ao chegar a coluna ao aquartelamento, ficou tudo surpreendido e de boca aberta… ah! ah!, embora não fosse surpresa para ninguém, pois já todos sabiam, o capitão Borges veio acompanhado da sua esposa que, segundo consta,  vai ficar a viver em Canjadude. (...) [Vd. foto acima, com a respetiva legenda] (...)


(...) Não nos podemos esquecer que estamos no mato e, a partir de agora, da parte de nós, militares, impõe-se nova conduta, mais moderação no verbalismo utilizado na oralidade, mais decoro na postura de apresentação, mormente no vestuário usado, pois tem que haver pundonor e uma determinada probidade no porte, não nos podendo dar à veleidade do desalinho que é ir dos abrigos para os balneários, só de toalha às costas (às vezes suportada por cabide fantasiado) e sabonete na mão. É toda uma atitude comportamental na disciplina, a que temos que nos ajustar. (...)

(...) A esposa do capitão Borges, com todo o respeito, é uma senhora muito simpática e bem-disposta, tem uma auréola de energia positiva. Sempre que passa por algum de nós, indiscriminadamente, não faz distinção, tem a amabilidade de nos dirigir um cumprimento de saudação, sempre com ar de pessoa feliz e sorridente. Só uma senhora que aparenta esta tranquilidade interior e serena generosidade, se sujeitaria a viver neste meio tão hostil e carenciado, onde abundam todo o tipo de privações. (...)

(...) Dia 29 [de março de 1970], por sugestão da esposa do capitão Borges, ao serão reunimo-nos todos os militares no refeitório das praças, para confraternizarmos um pouco e jogar ao loto, presidido pelo comandante da Companhia (desde que eu estou em Canjadude nunca houve uma união e envolvimento de aproximação semelhante a este acto, as águas têm sido muito separadas). Eu logo na primeira jogada fiz Bingo, ganhei 154 pesos, voltei a fazer Bingo na terceira jogada, ganhando 86 pesos, pelo que levou alguém a gracejar que eu já tinha ganho dinheiro, suficiente, para pagar uma rodada de cervejas para todos. (...)

(...) Dia 6, de maio, chegou a Canjadude o capitão Arnaldo Costeira (creio que na época era o capitão com menos idade do QP, se a memória não me falha, ouvi-lhe dizer que comandou, interinamente, uma companhia em Angola tinha ele 20 anos de idade, na altura como alferes e que tinha sido há quatro anos atrás; hoje é coronel na reserva), para substituir o Capitão Borges. (...)

(...) Dia 13, em Canjadude, foi accionado o alarme de perigo, dirigiu-se apressadamente todo o pessoal para os seus postos de defesa, mas afinal era tão só uma demonstração, para testar a eficácia da actuação do pessoal e, para o capitão Borges dar umas explicações da orgânica dos procedimentos a cumprir, em caso de ataque IN, ao capitão Costeira. (...)

(...) Dia 23, realizou-se uma operação, para os lados do Cheche, Corubal, Bormuleo, a nível de Companhia, foram o capitão Borges e o capitão Costeira nesta operação. As viaturas foram-nos levar na direcção do Cheche e apeamos muito próximo das viaturas que estavam abandonadas na picada, por terem sido acidentadas com minas. Após termos desmontado das viaturas, caminhamos bastante tempo, até nos instalarmos para comer a ração de combate. Na parte da tarde começamos a caminhar rumo ao Corubal e no percurso encontrámos um destacamento IN, já abandonado, restando vestígios da actividade humana. Destruímo-lo todo, após o que continuámos a progredir até à margem do Corubal, onde passámos a noite. Instalámo-nos junto de rochas, num lugar paradisíaco, mas para esquecer, pois durante a noite, quase todos nós fomos hostilizados por formigas, que nos queriam papar, as quais tiveram o condão de nos agitar e perturbar a nossa tranquilidade, quando precisávamos de descansar. (...)
(...) Dia 24 de maio  de 1970, veio o furriel de transmissões, Alberto José dos Santos Antunes, substituir o furriel de transmissões, José Martins.

Dia 26 de Maio, de 1970, houve coluna a Nova Lamego. O furriel José da Silva Marcelino Martins (José Martins nosso tertuliano) despediu-se de Canjadude, e da CCAÇ. 5, rumou destino à Metrópole, por ter terminado a sua comissão de serviço na Guerra do Ultramar. Desejo-lhe boa viagem, muita saúde e êxito no percurso que vai iniciar. Que a vida lhe sorria e boa sorte. (...)


(**) Último poste da série >  19 de setembro de 2019 >  Guiné 61/74 - P20156: O nosso livro de visitas (203): O jovem guineense Erickson Té agradece o trabalho que o nosso blogue tem feito pela sua terra e pede autorização para usar algumas das nossas histórias bonitas em página do Instagram

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19448: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXI: As colunas para o sudoeste do setor: Bafatá, Fá Mandinga e Bambadinca, eram mais de 200 km, ida e volta


Foto nº 6A  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > c. set/out 1967 > Tabuleta com as indicações das distâncias, para Sul, Norte e Leste, localizada numa das saídas-entradas de Nova Lamego. Bafatá para sudoeste  a mais longa, com 53 kms, e temos de juntar mais cerca de 60 dali até ao porto fluvial e depósito da Intendência em Bambadinca [vd. mapa, em baixo].


Foto nº 1 >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) >  Coluna  e de Nova Lamego e Bafatá, "no dia 29 de Janeiro de 1968, o meu aniversário de 25 anos".



Foto nº 9  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > Novembro de 1967 >  Na estrada entre Gabu e Bafatá, protegendo-me do pó levantado pelos camiões da coluna da frente, com um lenço, tipo cowboy do Faroeste. 


Foto nº  12  > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69)  > Janeiro de 1968 > Eu, no jipe  com o condutor Pita, impedido do Major Henriques, Oficial de operações, no regresso da viagem a Bafatá e a caminho de Nova Lamego.  


Foto nº 2 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > Dezembro de 1967 >  Couna de Nova Lamego a Bambadinca >  Junto a um memorial, pela cruz, pode ser um local em que estivesse enterrado algum militar; foi uma paragem ocasional, ou para a fotografia, em que estou eu e os restantes são todos soldados condutores. 


Foto nº 3 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > Novembro de 1967 > Na ponte de madeira que liga Bafatá a Fá Mandinga. 


Foto nº 4 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > Outubro de 1967 >  Eu com um grupo de soldados CCAÇ 5, "Os Gatos Pretos", em Nova Lamego.


Foto nº 5 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > Dezembro de 1967 >Coluna deNova Lamego a Bambadinca > Paragem na estrada de Gabu para Bambadinca, numa coluna de reabastecimentos. Reconheço os nomes, em pé à esquerda o sempre presente e grande amigo, o soldado condutor o ‘Ermesinde’, Arlindo de seu nome. Do lado oposto, o Furriel Paiva Matos, o nosso vagomestre da CCS do Batalhão. Todos os restantes são reconhecidos, são condutores, quer da CCS do Batalhão ou da Companhia de Intervenção, CART 1742. 


Foto nº 6  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > c. set/out 1967 > Tabuleta com a indicação das distâncias entre Nova Lamego e outras povoações da região leste.


Foto nº 7  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) >  Janeiro de 1968  >  Foto icónica, perto de Nova Lamego, à saída para Bafatá, junto a um Padrão dos Descobrimentos, do qual não anotei o seu nome ou significado. Uma saída a algum lado, em  Unimog Unimog.


 Foto nº 8  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) >  Novembro de 1967  > O meu grupo no meio da ponte para Fá Mandinga. São todos soldados condutores, posso identificar os nomes de dois: o da ponta direita, o Bourbon, impedido do Major Américo Correia, e o Pita, impedido de Major Graciano Henriques. 



 Foto nº 10  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) >  Outubro de 1967  > 'Simulação’ de uma emboscada, na estrada entre Gabu a caminho de Bambadinca, antes de chegar a Bafatá, no meio da mata. Os meus companheiros são todos ‘operacionais’ do volante. 



 Foto nº 11  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) >  Dezembro de 1967  > Coluna a Bambadinca. Vista geral da estrada no troço entre Gabu e Bafatá, tirada a partir da primeira viatura da coluna. 



 Foto nº 13  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) >  Dezembro de 1967  > Uma ‘brincadeira’ de guerra entre índios de arco e flecha. São os soldados condutores do meu Batalhão. Foto captada na estrada entre Gabu e Bafatá.


 Foto nº 14  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) >  Dezembro de 1967  > Preparação de uma  coluna para Bafatá-Bambadinca, dentro do aquartelamento do Batalhão em Nova Lamego. Pode ver-se o Furriel Rocha,  o 'Algarvio’ e outros furriéis e milícias. 

 Foto nº 15  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) >   31 de Janeiro de 1968  > Vista aérea do aquartelamento de Nova Lamego, e a sua pista à distância. Foto aérea captada de um avião Dakota, pronto a aterrar na pista de Nova Lamego.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Nova Lamego.

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] 



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) (*)

 :
T061 – AS COLUNAS DE NOVA LAMEGO PARA SUDOESTE  DO SECTOR: BAFATÁ, FÀ MANDINGA; BAMBADINCA  



Tentei passar todas estas fotos para um ou dois Postes, mas eram tantas as fotos, que nunca foi editado, e ainda bem que não. Assim, reorganizei esta fase da minha estadia, isto é, as mais de 200 fotos, em vários Temas mais pequenos, que estão a ser numerados e legendados a partir do T060.

Este tema pretende mostrar alguma da minha actividade, extra minhas funções, que nunca me furtei de participar, quem em deslocações a vários aquartelamentos do sector, bem como às várias colunas que se faziam regularmente a Bambadinca, de reabastecimentos, que chegavam àquele porto fluvial, vindos pelo Rio Geba acima desde Bissau

O percurso era aproximadamente de 100 quilómetros, para baixo e outros tantos para cima, em estradas de terra batida e outras de alcatrão mal tratado. Tinha como ponto da passagem obrigatório a cidade de Bafatá, onde se concentrava o ‘Comando do Agrupamento’, e sendo assim era bem protegida, os perigos não eram previsíveis.

Por isso fui ‘nomeado’ várias vezes para ‘comandar’ estas colunas, com vários camiões e um Jeep, onde me deslocava. A maioria do pessoal que compunha estas colunas eram os condutores dos próprios camiões e Jeep, e alguns poucos militares ditos operacionais. A segurança seria uma dúvida, vendo agora à distância, mas naquela altura, na idade de vintes, não se pensava nisso, eu pelo menos não pensava, só queria era sair do mesmo sítio, que me sufocava, ver outras terras nem que fossem sempre as mesmas, mas mudar os horizontes.

Quando não era nomeado, eu próprio, podendo, metia-me no meio e lá ia sem ninguém saber, visto que tinha grande margem de manobra para gerir a minha função.

Conheci muitas aldeias e as cidades de Bafatá e Bambadinca, bem como Fa Mandinga. Nunca tivemos nenhum problema com a guerrilha, só com os macacos e outros animais que se atravessavam na estrada, e com os inúmeros montes da formiga ‘baga baga’ que eram verdadeiras fortificações e abrigos contra bombardeamentos.

Fazíamos a viagem, como se diz agora na gíria, sempre a abrir, os condutores eram doidos, davam o máximo nos camiões, felizmente nunca houve despistes, a sorte esteve sempre comigo e com os outros.

As paragens eram frequentes em qualquer lugar, o mato existia de um lado e de outro da estrada, mas era preciso fazer estas pausas para as necessidades de cada um, pois estas operações levavam um dia inteiro. Comia-se a ração de combate para todos

Acho que passei uma boa estadia, eu gostava daquilo que fazia, não ia contrariado em nada, fazia tudo por gosto, por aventura, pura adrenalina dos anos vintes. Por isso ainda aqui estou para poder recordar, mostrar e contar a minha história.

Não é para me enaltecer, mas a maioria dos oficiais milicianos do meu batalhão, não faziam estes serviços, nunca soube porquê, nem hoje me interessa, correu tudo bem, estou vivo.

As fotos foram selecionadas, muitas são de cenas ridículas, como ‘simular’ uma emboscada, e palhaçadas do género, fruto da idade, que apesar de tudo era maior do que todos os restantes.

Espero que sejam apreciadas pelos leitores, e que lembrem a alguns as suas memórias de 50 anos atrás.




Guiné > Mapa Geral da Província > 1961 > Escala 1/500 mil > Posição relativa de Bambadinca , Bafatá e Nova Lamego... A distância por estrada era de cerca de 110 km. Só o troço de Bambadinca-Bafatá é que era alcatroado no final de 1967. Na época o porto fluvial era muito movimentado, quer por embarcações civis quer da mrinha de guerra (, incluindo as LDG - Lanchas de Desembarque Grande)... Em 1969, as LDG já só ficavam no porto fluvial do Xime. A partir de 1972, há um nova estrada, alcatroada, que vai ser a espinha dorl da a região leste, do Xime até Piche e depois atá Buruntuma.

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)


II – Legendagem das fotos:

F01 – Estrada entre Nova Lamego – Gabu – e Bafatá, a cerca de 60 quilómetros, a bordo do Jeep, com protecção contra o vento e poeiras. Foto captada na estrada entre Nova Lamego e Bafatá, no dia 29 de Janeiro de 1968, o meu aniversário de 25 anos.

F02 – Junto a um monumento, ou pela cruz, pode ser um local em que estivesse enterrado algum militar, falhou-me aqui tirar os apontamentos, mas não pode ser outra coisa senão um local de memorial. Foi uma paragem ocasional ou para a fotografia, em que estou eu e os restantes são todos soldados condutores. Foto captada na estrada entre Nova Lamego e Bambadinca, num dia de Dezembro de 1967.

F03 – Na ponte de madeira que liga Bafatá a Fá Mandinga. Foto captada na ponte para Fá Mandinga, num dia de Novembro de 1967.

F05 – Paragem na estrada de Gabu para Bambadinca, numa coluna de reabastecimentos. Reconheço os nomes, em pé à esquerda o sempre presente e grande amigo, o soldado condutor o ‘Ermesinde’, Arlindo de seu nome. Do lado oposto, o Furriel Paiva Matos, o nosso Vagomestre da CCS do Batalhão. Todos os restantes são reconhecidos, são condutores, quer da CCS do Batalhão ou da Companhia de Intervenção, CART1742. Foto captada na estrada entre Nova Lamego e Bambadinca, num dia de Dezembro de 1967.

F06 – Placard-Tabuletas com as indicações das distâncias, para Sul, Norte e Leste, localizada numa das saídas-entradas de Nova Lamego-Gabu. Bafatá para Sul é a mais longa, com 53 kms, e temos de juntar mais cerca de 60 dali até ao Porto e Depósito da Intendência em Bambadinca. Foto captada na saída de Gabu para Bafatá, em finais de Setembro de 1967. Provavelmente uma das primeiras fotos captadas em Nova Lamego, e por isso na Guiné, a quando da minha chegada solitária àquela terra.

F07 – Foto icónica, perto de Nova Lamego, à saída para Bafatá, junto a um Padrão dos Descobrimentos, do qual não anotei o seu nome ou significado. Uma saída a algures, num camião Unimog, e uma paragem para a fotografia. Foto captada na estrada entre Nova Lamego e Bafatá, num dia de Janeiro de 1968.

F08 – O meu grupo no meio da ponte para Fá Mandinga. São todos soldados condutores, posso identificar os nomes de dois: O da ponta direita, o Bourbon, impedido do Major Américo Correia, e o Pita, impedido de Major Graciano Henriques. Foto captada na ponte para Fá Mandinga, num dia de Novembro de 1967.

F09 – Na estrada entre Gabu e Bafatá, protegendo-me do pó levantado pelos camiões da coluna da frente, com um lenço, tipo cowboy do Faroeste. Foto captada na estrada entre Gabu e Bafatá, num dia de Novembro de 1967.

F10 – ‘Simulação’ de uma emboscada, na estrada entre Gabu a caminho de Bambadinca, antes de chegar a Bafatá, no meio da mata. Os meus companheiros são todos ‘operacionais’ do volante. Foto captada na estrada entre Gabu e Bafatá, num dia de Outubro de 1967. F11 – Vista geral da estrada entre Gabu – Bafatá- Bambadinca, tirada a partir da primeira viatura da coluna. Foto captada na estrada entre Gabu e Bafatá, num dia de Dezembro de 1967.

F12 – No Jeep com o condutor Pita, impedido do Major Henriques, Oficial de operações, no regresso da viagem a Bafatá e a caminho de Nova Lamego. Foto captada na estrada entre Bafatá e Gabu, num dia de Janeiro de 1968.

F13 – Uma ‘brincadeira’ de guerra entre Índios de arco e flecha. São os soldados condutores do meu Batalhão. Foto captada na estrada entre Gabu e Bafatá, num dia de Dezembro de 1967.

F14 – Preparação de uma ‘Coluna’ para Bafatá-Bambadinca, dentro do aquartelamento do Batalhão em Nova Lamego. Pode ver-se o Furriel Rocha ‘O Algarvio’ e outros furriéis e milícias. Foto captada na estrada entre Gabu e Bafatá, num dia de Dezembro de 1967. 


F15 – Vista aérea do aquartelamento de Nova Lamego, e a sua pista à distância. Foto aérea captada de um avião Dakota, pronto a aterrar na pista de Nova Lamego, em 31 Janeiro de 68.

«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BCAÇ 1933/RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21Set67 a 04Ago69».

# As legendas das fotos em cada um dos Temas dos meus álbuns, não são factos cientificamente históricos, por isso podem conter inexactidões, omissões e erros, até grosseiros. Podem ocorrer datas não coincidentes com cada foto, motivos descritos não exactos, locais indicados diferentes do real, acontecimentos e factos não totalmente certos, e outros lapsos não premeditados. Os relatos estão a ser feitos, 50 anos depois dos acontecimentos, com material esquecido no baú das memórias passadas, e o autor baseia-se essencialmente na sua ainda razoável capacidade de memória, em especial a memória visual, mas também com recurso a outras ajudas como a História da Unidade do seu Batalhão, e demais documentos escritos em seu poder. Estas fotos são legendadas de acordo com aquilo que sei, ou julgo que sei, daquilo que presenciei com os meus olhos, e as minhas opiniões, longe de serem ‘Juízos de Valor’ são o meu olhar sobre os acontecimentos, e a forma peculiar de me exprimir. Nada mais. #

Fotos legendadas em 2018-11-22. Texto acabado de ser alterado, novamente, hoje,

Em, 2019-01-06

Virgílio Teixeira

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Nota so edior:

Último poste da série > 16 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19407: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LX: A Casa Caeiro e os comerciantes libaneses de Nova Lamego