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domingo, 22 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24782: Facebook...ando (43): O levantamento de 18 minas antipessoais PMD-6 valeram 9 contos (equivalentes a mais de 2 dois mil euros, hoje) ao fur mil at inf MA Armando Faria, da açoriana CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74

 

Leões de Cufar, CCAÇ 4740 (Cufar, 1972/74), mobilizada pelo BI 17. Divisa: "Antes Morrer Que Em Paz Sujeitos" (Cortesia da página do Facebool do Armando Faria)


1. O nosso camarada Armando Faria (ex-fur mil at inf, MA, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74, natural de Vila Nova de Gaia, técnico de seguros reformado, membro da Tabanca Grande desdc 10/5/2010), postou o seguinte comentário, na página do Facebook da Tabanca Grande, a propósito da mina antipessoal PMD-6, usada correntemente pelo PAIGC (*):

Em Cufar, de julho de 72 a julho 74, foram vários os "campos de minas" que tivemos que desmantelar/ levantar. 

Por duas vezes fizeram estragos: em 29 de julho de 72, o alferes Portela Rosa, do Pel Nat Caç 51,  e em maio de 74 o furriel Rui, da Cart. 6251...

Das outras vezes foram detetadas e desativadas, algumas delas por mim como especialista de minas e armadilhas. (Junto um comprovativo de uma dessas vezes.)| Sábado, 21 de outubro de 2023, 12h20.



Transcrição:

Batalhão de Caçadores 4510 | Companhia de Caçadores 4740 | Declaração:

Eu, Armando da Silva Faria, furriel miliciano, desta Companhia, declaro que recebo a importância de Esc. 9.000$00 (nove mil escudos), referente a: Picagem de 3 (três) minas anti-pessoais PDM-6; levantamento de 15 (quinze) minas anti-pessoais PDM-6.

O Declarante, Armando da Silva Faria, Fur Mil.


2. Comentário do editor LG:

Tenho que "tirar o quico", num gesto de apreço e admiração, pelos nossos sapadores (em geral, furriéis ou alferes milicianos atitradores de infantaria, com o curso de minas e armadilhas, mas também 1ºs cabos) que tinham o grande sangue-frio, a presença de espírito, a coragem e a competéncia para levantar minas e armadilhas no TO da Guiné.

Graças a eles, e também aos nossos valentes picadores, foi possível detectar e neutralizar, ao longo dos anos de 1972, 1973 e 1974 (até 30 de abril), 1218 minas, armadilhas e outros engenhos explosivos num total de 1570, ou sejam, 77,6 %. Estamos a falar de praticamente quatro em cada cinco minas!...

O levantamento integral de uma mina antipessoal era gratificado com 500$00, na época.(**) Embora a declaração acima reproduzida não venha datada, presumimos que seja (ou possa ser) de 1973. Por 18 minas A/P, o Armando Faria recebeu nove contos, o que a preços atuais equivaleriam a 2076,00 euros. (Tratando-se de "pesos" da Guiné, temos que aplicar uma quebra cambial de 10% (1868,4 euros).(***)

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Notas do editor:

(*) Vd. pposte de 18 de outubro de 2023 > Guiné 61/74 - P24766: Armamento do PAIGC (6): A mina antipessoal PDM-6 (António Alves da Cruz, ex-fur mil, 1ª C/BCAÇ 4513/72, Buba, 1973/74)

(**) Vd. poste de 13 de fevereiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24063: Roncos que davam prémios (em dinheiro)... mas podiam custar a vida: a deteção e levantamento de minas...

(**) Último poste da série > 13 de outubro de 2023 > Guiné 61/74 - P24754: Facebook...ando (42): António Medina, um bravo nativo da ilha de Santo Antão, que foi fur mil na CART 527 (1963/65), trabalhou no BNU em Bissau (1967/74) e emigrou para os EUA, em 1980, fazendo hoje parte da grande diáspora lusófona - Parte V: Colunas e viaturas

quinta-feira, 12 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24749: Ataques ou flagelações com foguetões 122 mm: testemunhos (3): A guerra vista do CAOP1 (Canchungo/Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74) (António Graça de Abreu)


Lisboa > Museu Militar > O foguetão 122 mm ou a arma especial Grad (ou ainda "jacto do povo", na gíria do PAIGC). Capturada em Cufar, em 1/1/1973.

Era uma arma de artilharia, de bater zona e não de tiro de precisão, com alcance máximo de 11.700 metros para 40º de elevação. Segundo um relatório do PAIGC a distância maior a que se efectuou tiro, teria sido contra Bolama, em 4 de Novembro de 1969, a 9.800 metros. 

O foguete dispunha de um perno (assinalado a vermelho) que, percorrendo o entalhe em espiral existente no tubo, imprimia uma rotação de baixa velocidade a fim de estabilizar a vôo. As alhetas só se abriam depois do foguete sair do tubo.  

Fotos (e legenda): © Nuno Rubim (2007). 
Todos os direitos reservados. [Edição e kegendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Abreu, António Graça de - "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura". Lisboa: Guerra e Paz, Editores. 2007, pp. 104-105. (Capa do livro, reproduzida com a devida vénia).


BI militar, emitido em Teixeira Pinto, 
6 de agosto de 1972.



1. Do nosso camarada e amigo, António Graça de Abreu publica-se uma série de excertos do seu Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp), com o descritor "foguetões 122 mm" (*),

Selecionámos as passagens em que há referências a ataques ou flagelações a aquartelamentos e destacamentos com foguetões 122 mm, enquanto ele esteve no CAOP1 (Canchungo ou Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74).

Tudo somado, ao fim de quase dois anos de comissão foram muitas centenas de rebentamentos, vistos ou ouvidos,  com especial especial destaque para os que caíram no sul, na região de Tombali... 

O António  esteve em Cufar, no CAOP1, de junho de 1973 a abril de 1974.  Mais uma vez, com a devida vénia ao nosso camarada que nos autorizou a utilização do seu trabalho...

Tudo indica que junto à fronteira o PAIGC, no final da guerra (1973/74 (e contra aquartelamentos como Bedanda e Gadamael),  já utilizava viaturas com o sistema de  lançamento múltiplo (ou multitubo) de foguetes 122 mm: nas flagelações ou ataques, já não se limitavam a lançar dois ou três foguetes, mas dezenas, e durante uma ou duas horas. A CECA faz referência ao sistema de lançamento múltiplo de foguetes BX-10, mas não lhe chama Grad ou BM-21 Grad. (Há uma grande confusão com as várias versões deste sistema e as suas siglas...)
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Canchungo, 7 de Julho de 1972

(...) Recebi carta da minha mãe. Diz-me que foi ao Porto e que, por amor de mim, colocou um grande ramo de flores no altar de Santo Ildefonso, na igreja da praça da Batalha. Que o santo me proteja!

Mas não me parece viver em situação de grande perigo. Tenho muitos privilégios, não sou propriamente um operacional, não saio para o mato de G 3 em punho em busca do IN. Há apenas o problema dos bombardeamentos, flagelações ou de uma emboscada na estrada.

Quase há um ano que Canchungo não é atacada pelo PAIGC. A última vez, a 3 de Agosto de 1971, foi com foguetões 122 disparados a onze quilómetros de distância. 

Durante quatro minutos sobrevoaram o quartel, sibilando no ar e foram rebentar lá longe, na bolanha, nos arrozais a sul. Foi só susto, não houve mortos nem feridos, apenas um capitão, ao fugir, caiu numa vala e partiu uma perna.
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(...) Canchungo, 22 de Agosto de 1972

Existe um CAOP 2. Fica em Nova Lamego, terra dos homens de etnia fula, lá no leste, não muito longe da fronteira. É uma zona menos pacífica do que a nossa. Foram agora flagelados com foguetões 122

Não sei ainda o que são, nem o estrago que provocam. A semana passada, nos arredores de Nova Lamego, uma mina anti-carro fez ir pelos ares um camião Berliet, tendo provocado 19 feridos, alguns graves. Nova Lamego nem é do pior. 

Aqui a nordeste, o aquartelamento de Olossato foi bombardeado a semana passada durante hora e meia. Nós, em Canchungo, fomos atacados (?) durante um minuto. O ataque em Olossato veio de todas as direcções com um potencial de fogo de arrepiar. No entanto, não se deve abrir muito a boca nesta guerra, as nossas tropas só tiveram um ferido grave e três feridos ligeiros. Os abrigos e as valas para alguma coisa servem.
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(...) Canchungo, 27 de Janeiro de 1973

Mansoa é o nosso destino. Entre as três possibilidades, Bula, Bissorã e Mansoa, não sei qual é a melhor, é dos tais casos em que “venha o diabo e escolha.”

Pouco sei sobre Mansoa, o meu baluarte nos próximos catorze meses. Mas é a maior das três que nomeei atrás e tem uma vantagem, a sua proximidade de Bissau - uns 60 quilómetros, -   e o facto de existir uma estrada asfaltada onde se circula normalmente sem escolta. Para oeste, entre Mansoa e Bissau, o IN não actua. No entanto, a vila é menos pacífica do que Teixeira Pinto. Para norte, leste e sul já os guerrilheiros se movimentam entre a malha dos aquartelamentos portugueses e encontram-se bases IN não muito distantes. Não vou falar mais da sagrada e intocável Caboiana, agora vai ser o Morés, o Queré, o Choquemone, o Oio.

Mansoa tem a grande desvantagem de “embrulhar” em média uma vez por mês. Tanto quanto sei, fazem pontaria para o quartel e disparam os foguetões 122, os canhões sem recuo, a uma distância que varia entre os quatro e os dez quilómetros. 

Eles são maus artilheiros, não costumam acertar na tropa e pelo que tenho lido nos relatórios diários que historiam esta guerra, quem normalmente paga as favas nas flagelações a Mansoa é a população negra das tabancas. A tropa tem abrigos, os disparos IN acertam com mais facilidade nas casas da vila do que no quartel.
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(...) Mansoa, 12 de Março de 1973

Bissá, um pequeno aquartelamento doze quilómetros a sul de Mansoa, foi atacado sábado passado às nove e meia da noite, estava eu a beber um café na esplanada do Simões, o restaurante. Foi um ataque a sério que se prolongou por quarenta e cinco minutos, apesar da distância ouviam-se os disparos e rebentamentos com muita nitidez. Os dois obuses de Mansoa ajudaram ao barulho e dispararam cinquenta e sete granadas de canhão sobre as zonas prováveis de retirada do IN. Só hoje soube os números.

Resultado, o IN destruiu e queimou oitenta e sete tabancas, houve três mortos entre a população, muitos feridos e gente intoxicada. As NT de Bissá não sofreram nada, além do desgaste psicológico que uma flagelação tão dura como esta costuma provocar.

Mantive-me tranquilo, mas se em vez de Bissá a ser atacada tivesse sido Mansoa diria, por certo, adeus à pacatez e à calma. Estar dentro de um quartel cercado de arame farpado e experimentar as sensações fortes de ouvir os foguetões, as granadas de morteiro e canhão sem recuo a vir em nossa direcção ou a cair não muito longe de nós, faz com que os rebentamentos comecem a ficar cá dentro. 

Agora entendo melhor porque é que, depois do regresso a Portugal, um ex-combatente ouve um foguete rebentar na romaria da aldeia e corre, tremebundo, a esconder-se no primeiro buraco que lhe aparece.
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(...)  Mansoa, 19 de Março de 1973

Foi a vez de Infandre “embrulhar”, um aquartelamento com quarenta militares e cerca de mil habitantes, dez quilómetros a norte daqui. Levaram com foguetões, canhão sem recuo, RPG, morteiros, armas automáticas, foram atacados com um enorme potencial de fogo. No destacamento, não houve feridos, apenas os usuais estragos materiais. A pobre da população é que pagou as favas.

Em Infandre, como em muitos outros lugares da Guiné, os negros tanto fazem o nosso jogo como apoiam o PAIGC. Mas a população é sempre infeliz. Nas flagelações à distância, os guerrilheiros não acertam na tropa portuguesa e acabam por provocar mortos e feridos nos habitantes negros que tantas vezes até não lhes são adversos. É a guerra impiedosa, cruel.
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(...) Mansoa, 6 de Maio de 1973

Os militares do quartel de Bula, ainda na zona se acção do CAOP 1, estão a passar por dificuldades. A vila fica mais perto de Bissau do que de Mansoa, a norte, e é um lugar estrategicamente importante. Um grupo grande de guerrilheiros anda por lá a fazer estragos. Numa emboscada próxima da povoação, as NT tiveram sete mortos, quatro soldados brancos e três negros e bem podem agradecer a Deus. Eram só trinta e cinco soldados portugueses contra duzentos guerrilheiros, não foram todos dizimados por acaso.

Em seguida, Bula foi atacada com foguetões, sem consequências. O batalhão da terra é constituído por “periquitos” acabados de chegar de Portugal, inexperientes e medrosos. Os guerrilheiros sabem que eles são novos na Guiné e vá de atacar, atacar, atacar.

O meu coronel [paraquedista, Rafael Durão, comandante do CAOP1] foi hoje de urgência para Bula, às cinco da manhã, orientar as operações de contra-guerrilha, dar força aos militares de lá. Seguiu sozinho de jipe, por companhia apenas a sua espingarda Kalashnikov, em sessenta quilómetros de estrada. 

Se o itinerário não é muito perigoso porque atravessa zonas controladas pelas NT, não posso deixar de reconhecer a coragem deste homem, já com mais de dois anos de comissão na Guiné. Tenho tido os meus problemas com ele, sobretudo devido à minha incompetência como pequeno oficial do exército, mas reconheço-lhe uma enorme valentia e excepcionais qualidades de comando.

Ao meio-dia e meia hora, estava de regresso a Mansoa, de novo sozinho no jipe, depois das reuniões com os oficiais de Bula. Voltou célere porque para hoje estava marcado um almoço de despedida em sua honra, oferecido pelos oficiais e sargentos do CAOP1. Não me admira que amanhã parta outra vez para Bula, ou para qualquer outro lugar da Guiné onde se justifique a sua presença, o seu comando de operações. (...)
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Sistema ou rampa de lançamento monotubo de foguetões 122 mm. Arma, de origem soviética, capturada  em 1 de janeiro de 1973 em operação a partir de Cufar.  Tinha sido usada no ataque a Cufar a 23 dezembro de 1972, atingiu a pista de aviação, sem consequèncias de maior. Cortesia da página da CCAÇ 4740  (Cufar, 1972/74 > Fotografias de sempre. 


(...) Cufar, 25 de Junho de 1973

Não estou encantado com o lugar que vim encontrar, mas Cufar é melhor do que eu imaginava. Em termos de guerra, segurança pessoal, companheiros de armas e instalações.

Ponto Um: Estou no sul da Guiné, rios, canais, bolanhas, florestas. Até Dezembro de 1972, isto era quase tudo território do PAIGC. Havia os aquartelamentos de Catió, Cufar e Bedanda bem defendidos onde a tropa portuguesa não punha muito o nariz de fora. 

Em Abril de 1972 estiveram por aqui observadores do Comité de Descolonização da ONU para conhecer as realidades das zonas libertadas pelos guerrilheiros. Vieram de Conacry, entraram pela zona de Guileje, chegaram até perto de Cufar, sempre a pé, abrigados pelas florestas. (...)

Há três meses, em Março [de 1973], Cufar foi atacada com uma dezena de foguetões 122. Só um caiu dentro do nosso arame farpado e, por incrível que pareça, bateu numa árvore, tombou para uma vala onde estavam quatro soldados e não rebentou. Só vendo se acredita, e eu vi. Os soldados penduraram na árvore o resto da fuselagem do foguetão, como um autêntico troféu de guerra. O local fica a trezentos metros da minha secretaria e esta tarde voltei lá para confirmar o que os meus olhos tinham visto, claramente visto. (...) 
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Cufar, 2 de Julho de 1973

Catió “embrulhou” ontem às seis e meia da tarde. Seis foguetões, como de costume caíram fora do quartel. Em Cufar, ouvem-se sempre os rebentamentos mas a maioria do pessoal está tão habituado que já nem estranha. Hoje, às seis da manhã, acordei com mais pum, catrapum, pum, pum, tão diluídos na distância que voltei a adormecer. Era Gadamael.

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(...) Cufar, 20 de Julho de 1973

 A guerra acalmou, sossegou na nossa zona. Anda tudo admirado, mas isto tem uma explicação, é por causa da época das chuvas que conhece agora o seu auge. Chove todos os dias, as bolanhas, o mato enchem-se de água, é difícil caminhar quilómetros e quilómetros por trilhos na floresta, carregando às costas foguetões, morteiros, granadas, etc., para flagelar um aquartelamento. Num ataque em forma, o terreno precisa de estar firme para um bom apoio e eficiência das armas mais pesadas. No período das chuvas, a terra está mole, húmida, empapada em água. As saídas das granadas de morteiro, por exemplo, fazem com que o tubo de morteiro recue e se enterre no solo. Com as chuvas, os guerrilheiros aproveitam a menor actividade das NT para se reabastecerem, construir tabancas, trabalhar nos arrozais.

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(...) Cufar, 26 de Setembro de 1973


 O PAIGC declarou ontem  a independência. Por aqui nada mudou a não ser que agora, oficialmente, somos nós portugueses quem está a ocupar a pátria deles.

Temos um novo tenente-coronel no CAOP 1, com apenas cinco dias de Guiné. Andou pelo Estado-Maior e fez comissões em Angola e Moçambique, sempre nas delícias do ar condicionado. Está a estranhar as realidades deste abençoado lugar. Ontem até chamou Cafur a Cufar! 

No dia em que chegou, Bedanda esteve aí a “embrulhar” durante uma hora, com foguetões 122, mais de trinta, sem consequências. Meio assustado, o tenente-coronel perguntou-me: “Isto é sempre assim?” Eu respondi-lhe: “Não, meu tenente-coronel, isto costuma ser muito pior!”
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(...) Cufar, 8 de Novembro de 1973

 Os dias fabulosos, as histórias que não conto, os whiskies que bebemos, às vezes a morte, espantalho de sangue agitado ao vento diante da menina dos olhos.

De madrugada, Gadamael, chão com cadáveres, juncado de medos. Quarenta e seis foguetões 122 disparados pelos guerrilheiros do PAIGC sobre o aquartelamento, aqui a sul, na fronteira. Apenas me apercebi de rebentamentos distantes, no sono do resto da noite. É normal, já nem estranho. Mas na mente de cada um de nós, a preocupação cresce. Quarenta e seis foguetões sobre Cufar, como seria?

As bebedeiras, cerveja, vinho, whisky, o álcool a circular no sangue temeroso. Os homens tontos de mágoa, solidão e medo.

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(...) Cufar, 11 de Novembro de 1973

 Outro dia duríssimo para Gadamael. Às seis da manhã, eu dormia mas acordei sonolento com os muitos rebentamentos distantes. Foram duas horas de flagelação com quarenta e dois foguetões 122. Tiveram dois mortos e muitos feridos.

Quando chegou a Cufar, o meu tenente-coronel “periquito” vinha cheio de ideias para pôr num brinquinho o que resta do CAOP 1. Começa a baixar a cabeça, a entrar na realidade. Ficou alterado com os ataques a Gadamael, hoje à noite apanhou uma bebedeira monumental. As pessoas, quer as do pequeno, quer as do grande mando, quando têm vinho dentro ficam claras como água.

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Guiné >Região de Tombali > Cufar> CAOP 1 > O António Graça de Abreu, de camuflado, à esquerda, no aeródromo de Cufar, com o alf mil Miguel Champalimaud.
 
Foto (e legenda): © António Graça de Abreu (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem comp'lementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


(...) Cufar, 14 de Novembro de 1973

Vieram os “jactos do povo”, como os guerrilheiros lhes chamam. Gostei, desta vez não apontaram aos vizinhos do lado, era connosco e, como costuma acontecer, tivemos sorte. Foram disparados oito foguetões 122 e só rebentaram três, a mais de quinhentos metros de Cufar.

Eram oito da noite, eu estava no gabinete do capitão a jogar xadrez com o Eiriz, o alferes das transmissões, quando ouvimos o silvo de um foguetão e um primeiro rebentamento. Saltámos rapidamente para a vala situada ao lado do edifício onde já havia gente abrigada, caímos uns por cima dos outros e ficámos quietinhos, à espera. Uns dez minutos depois, porque não havia mais foguetões, saímos da vala, não muito assustados. Foi um ataque pequeno, daqueles que só servem para criar insegurança e medo.

O médico, o Bastos, ficou por baixo de uma molhada de alferes e saiu da vala zangadíssimo, agastado com o Miguel Champalimaud (sobrinho do António Champalimaud, o “tio Patinhas” português). O rapaz caíra-lhe em cima e, com os foguetões a rebentar, o Miguel peidara-se, cagara-se como um rei por cima da cabeça do Bastos. Uma cena de antologia digna do Chaplin, do “Charlot nas Trincheiras da Guiné”. (...)

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(...) Cufar, 21 de Novembro de 1973

Guerra todos os dias. Ontem às seis de tarde, hoje às seis da tarde. Ontem foi Cobumba, estávamos a começar a jantar e pum, catrapum, pum, pum. Alguns de nós saltaram das mesas e começaram a correr para as valas. Cobumba fica aqui mesmo ao lado e como têm lá uma nova companhia de “periquitos”, os guerrilheiros trataram de lhes fazer condigna recepção, com foguetões, morteiros, canhão sem recuo, tudo a disparar numa cadência de fogo impressionante. O pessoal de Cobumba teve sorte, estão lá estacionados quatrocentos homens – a companhia velha e os “periquitos” que os vêm substituir – e não sofreram uma beliscadura.

Hoje foi a vez de Gadamael, já não era atacada há dois dias e meio! Embora muito mais distante do que Cobumba, ouviam-se os rebentamentos com extrema nitidez. Foram só vinte minutos de fogo, também a um ritmo capaz de assustar o mais valente, as granadas rebentavam de dez em dez segundos. Não sei se houve consequências para as NT em Gadamael, mas a flagelação foi tremendamente feia. O ataque a Cufar dia 13 passado, comparado com estes dois que ouvi ontem foi uma brincadeira.


Em resumo, a nossa tropa anda acagaçada. O PAIGC movimenta-se, põe, dispõe e manda lembranças. Começamos a ver a guerra com os olhos cada vez mais tortos. A aviação actua, os Fiats fartam-se de bombardear aqui em redor, numa cintura aí de quarenta quilómetros. Volta e meia ouvimos o zumbido dos aviões a jacto e os rebentamentos secos das bombas a cair. (...)
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(...) Cufar, 4 de Dezembro de 1973


Mais foguetões 122 e de novo para Cufar, direccionados para o interior do nosso aquartelamento. O Chugué, há dois dias levou com vinte e cinco foguetões, sem consequências, Gadamael tem sido tão flagelada, com consequências, que já perdemos a conta ao número dos foguetões. Nós, mais humildes, fomos brindados com dez projécteis explosivos disparados durante quinze minutos.

Eram nove e um quarto da noite, eu estava na varanda do meu quarto a ouvir a BBC e senti o silvo, os rebentamentos próximos. Logo de seguida soaram as rajadas das nossas metralhadoras. Os foguetões IN caíram todos fora do perímetro de Cufar, felizmente. É o costume, são disparados de muito longe, a onze quilómetros de distância, os guerrilheiros têm má pontaria, os foguetões são difíceis de orientar, ou desorientam-se no ar, e por isso não costumam acertar. Mas assustam, assustam sempre.

Vim ter com os meus soldados. Havia uma certa excitação, ainda para cúmulo choveu esta tarde. As valas estavam cheias de água e lama, e uma vez mais havia soldados que saíam das valas cobertos de lama, borrados de medo.

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(...) Cufar, 9 de Dezembro de 1973

 Esta noite fui obrigado a ir dormir a cama alheia. Ao chegar ao quarto, deparei com uma majestosa invasão de formigas gigantes baga-baga, aquelas que ostentam umas tenazes afiadas e mordem como santolas. Haviam entrado por duas frinchas na parede grossa e começavam a fabricar o seu formigueiro exactamente sob o vão do colchão da minha cama. Não as contei, mas seriam cinco a dez mil formigas laboriosas e trabalhadoras que tinham tido o bom gosto de habitar o espaço onde durmo. Era tarde, quase meia-noite, estivera a jogar xadrez, limpei cinco alferes, começo a jogar bem. Depois, não havia insecticida à mão e, à paulada, não era fácil correr com aqueles milhares de monstros pequeninos. Por isso, peguei nos meus lençóis, na almofada e resolvi ir pedir asilo ao meu amigo alferes Neto, da 4740, que habita um quarto grande, com duas camas.

Às cinco menos dez da manhã, fomos acordados pelos pum, catrapum, pum, pum. Era Cobumba, os nossos vizinhos mais próximos. Mais um ataque filho da puta! Estava tudo a dormir e durante meia hora a cadência de fogo era impressionante. Se fosse connosco, lá teria eu de fugir em cuecas para a vala. Cobumba levou o tratamento do costume, foguetões, canhão sem recuo, RPG e morteiros. Também como é habitual, nem uma beliscadura nos duzentos homens que por lá padecem.

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Guiné >Região de Tombali > Cufar> CAOP 1 > O António Graça de Abreu, no aeródromo  de Cufar, em dezembro de 1973, posando junto a um heli, Alouette III. No mês anterior, o aquartelamento de Cufar tinha sofrido uma flagelação com foguetões 122, e um ataque com RPG [lança-granadas foguete] e armas automáticas, nas proximidades dos arame farpado... Dezete meses depois do início da comissão, o António recebia finalmente o tão desejado quanto temido baptismo de fogo. Recorde-se que o António Graça de Abreu foi alf mil, CAOP 1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar (1972/74), e trabalhou diretamente com o cor prqt Rafael Durão, seu comandante (e em relação ao qual não esconde a sua admiração pelas suas qualidades como militar).

Foto (e legenda): © António Graça de Abreu (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem comp'lementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


(...) Cufar, 21 de Janeiro de 1974 

Cumpriu-se um ano sobre o assassinato do Amílcar Cabral e o PAIGC comemorou a data. Aqui na zona atacaram os aquartelamentos de Gadamael, Cafal, Cafine, Cadique, Cobumba, Bedanda, Chugué, Catió e… Cufar. 

Eram dez da noite, sozinho no quarto, lia umas “Vidas Mundiais” antigas e ouvia uma cassete com o Concerto de Aranjuez, de Joaquin Rodrigo. Por cima da guitarra e dos violinos espanhóis gravei outra música, outro concerto, uma parte do ataque, rebentamentos, tiros, rajadas, mais rebentamentos, meti na fita a minha reacção onde se nota algum nervosismo e se ouvem demasiados palavrões. Assim:
(…)

Boum, boum, pum, catrapum, pum.
-Aí está, um ataque!... Caralho! Um ataque, foda-se!

Tá, tá, tá, tá, tá.
- Um ataque, caralho! Venham mais. Aí vêm elas!...

Boum, boum…
- Tumba, um foguetão, caralho!...

Boum, boum, tá, tá, tá, tá, tá, tá, tá, pum.

- Dá mais Manel! Estamos a levar no coco, estamos a “embrulhar”, caralho!

Pum, catrapum, tá, tá, tá, tá, tá, tá…
- Espera aí um bocadinho!

Boum…
- Espera aí que me eu vou-me já vestir, espera aí um bocadinho!
- Tumba, aí vem outra… Toma lá mais!... Espera aí um bocadinho, João…

Boum, boum…
- Estou-me a vestir, é preciso é calma!

Boum, pum, pum…

- Espera aí um bocadinho, estou-me a vestir, é preciso é calma.

Boum, boum…
- Estamos a “embrulhar”, caralho! É preciso ter calma. Estou no meu quarto. Hoje é o dia…

Boum, boum…
- Tumba, tumba, tumba!...

Boum, boum, tá, tá, tá, tá, tá, tá, tá, tá, tá, tá tá, tá, tá, tá, tá, pum, catrapum, pum...

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(...) Cufar, 22 de Fevereiro de 1974

Regressei [de Bissau,] no Nordatlas, na viagem certinha até cá abaixo. Tudo calmo em Cufar. No nordeste da Guiné, em Copá junto à fronteira, é que tudo vai mal. Mal para as NT, bem para o IN. Ouvi falar num ataque com cem foguetões, valha-lhes Deus! Começa a ser insustentável aguentar Copá.

Em Portugal as coisas também aquecem, com manifestações contra a carestia de vida organizadas pelos maoístas do MRPP. Houve pancadaria da grossa, três polícias feridos, um deles levou uma pedrada na cabeça. O povo não anda bom.

Em Bissau rebentou uma bomba no quartel-general. E que dizer do novo livro de António de Spínola “Portugal e o Futuro”? O antigo Caco Baldé, meu ex-comandante-em-chefe, propõe soluções federalistas para a resolução dos conflitos do Ultramar. O livro vai ter sucesso entre os liberais, o grupo do Balsemão e do “Expresso, e também entre alguma da Oposição. Abençoadamente, agitará os espíritos de muitos portugueses.

O Marcello Caetano começa a ficar exasperado. No essencial, o mestre de Direito limitou-se a dar continuidade à política de Salazar e não sabe, ou esqueceu-se, como diz o Bob Dylan que “the times, they are a’changin”. O general Spínola aponta caminhos enviesados, é verdade, mas indica possíveis saídas para o pântano fétido em que vivemos.

Que futuro para Portugal?
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(...) Cufar, 28 de Fevereiro de 1974

O nosso 1.º sargento Afonso informa-me que o tal alferes Saldanha nomeado para me render, já está em Bissau mas não virá para Cufar, foi colocado na secretaria do Batalhão de Comandos, no Cumeré, logo ali às portas da capital. Quer isto dizer que já estou substituído na província, o que vai acelerar a minha rendição definitiva. A partir de Bissau, o 1.º Afonso é impecável, interessa-se pela nossa vida, conhece todas as capelinhas de Bissau, trata dos nossos assuntos com extremo cuidado e rigor. É um diamante no CAOP1.

Mais uma história de guerra. D. Cecília Supico Pinto, a “generala Cilinha” do Movimento Nacional Feminino anda de visita à Guiné, a dar coragem e conforto moral aos briosos militares que defendem a integridade do império. 

No seu peregrinar por este sagrado solo pátrio desembarcou segunda-feira passada em Cacine, de helicóptero, às nove da manhã. Às onze o aquartelamento foi atacado com trinta e seis foguetões, uma flagelação que se prolongou por hora e meia. Só se registaram alguns estragos em tabancas, mas dizem-me que a Cilinha mostrou alguma coragem, aguentou-se muito bem, aninhada como toda a gente no fundo de uma vala.
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(...) Cufar, 12 de Março de 1974

Os guerrilheiros continuam a marcar pontos. Caboxanque tem sido massacrada. Ontem, flagelação às quatro e vinte da madrugada. Acordei sobressaltado. Caboxanque fica mesmo aqui em frente, a oito quilómetros em linha recta e, ao ouvirem-se os primeiros rebentamentos, não sabemos se é com os outros ou connosco. Estes nossos vizinhos estão a ser atacados todos os dias.

Bedanda, ontem, também esteve sob o fogo dos foguetões durante duas horas. Tiveram dois feridos, um deles gravíssimo, com um estilhaço na cabeça. Noite, escura desceram o rio até Cufar, depois, a cena habitual, iluminar a pista, esperar pelo Nordatlas, evacuar o rapaz para Bissau.

Não estamos livres, um destes dias de sermos também atacados. Todos pensamos nisso, todos pensamos que da próxima vez pode ser qualquer um de nós a levar com um estilhaço, a ser desfeito por um projéctil qualquer.

Ontem também tivemos um problema grave mas de outra natureza, um enorme incêndio. Se soprasse mais vento ardiam as tabancas todas dos negros. As casas são construídas com estacas e adobe, têm telhados de colmo, não chove desde Dezembro, está tudo ressequido e em três tempos o fogo avançou de tabanca em tabanca. Arderam seis.

Parece que o incêndio começou com o rebentamento de um fogareiro a petróleo. Teria sido fácil controlá-lo se não se tivesse pegado à tabanca do lado onde o pessoal das Fox, as viaturas blindadas, guarda o seu material e tem uma espécie de paiol. Ora com as tabancas a arder e com muitas granadas dentro de uma delas, foi um festival de rebentamentos e estilhaços projectados pelo ar. A maioria da população negra fugiu para longe, mesmo assim houve imensa sorte porque ninguém foi atingido. Mais desgraças para os pobres negros que ficaram sem casa.

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(...) Cufar, 3 de Abril de 1974 

A guerra está feia. Bedanda embrulhou durante todo o dia, um ataque tremendo, doze horas consecutivas de fogo. A festa só acabou à noite com uma espécie de cerco à povoação levado a cabo pelos homens do PAIGC.

Em Cufar, tão próximo, além de distinguirmos nitidamente as rajadas de metralhadora de mistura com os rebentamentos dos RPG, foguetões e canhão, à noite viam-se as balas tracejantes e as explosões no ar. 

Uma novidade, os guerrilheiros utilizaram viaturas blindadas na flagelação a Bedanda. Existe uma estrada que vem da Guiné-Conacry, passa junto a Guileje – abandonada pela tropa portuguesa, – entra pela região do Cantanhez e termina em Bedanda. O IN está a utilizar esse percurso para deslocar camiões carregados com todo o tipo de armamento, em seguida é só despejar sobre os aquartelamentos portugueses mais expostos e fáceis de alcançar, como Chugué, Caboxanque, Cobumba, Bedanda, Cadique e Jemberém.

Bedanda é uma povoação grande, a maior do sul da Guiné depois de Catió. Terá uns cinco mil habitantes e ontem já se falava em abandonar o aquartelamento. A população africana saiu da vila, ficando por próximo.

Bedanda levou com mais de sessenta foguetões e centenas e centenas de granadas de RPG, morteiro e canhão sem recuo. Foi medonho, há muita coisa destruída, mas tiveram sorte, contam-se apenas dois feridos, um furriel e um negro que levou um tiro nas costas. A tropa passou mais de doze horas metida nas valas.

Espera-se novo ataque a Bedanda. As NT já foram remuniciadas e há promessa de se enviarem mais militares para defender a terra. Os guerrilheiros também devem ter ido descansar e reabastecer-se.

Todas estas flagelações, apesar de serem destinadas aos vizinhos do lado, deixam marcas em todos nós. São horas, dias, meses a ouvir continuamente o atroar dos canhões da guerra. Eu ando um bocado desconexo, excitado, “apanhado”. Quase não tenho dormido, são as sensações finais, o cansaço, o desamor à mistura com o alvoroço do regresso a casa. (...)

(Seleção / revisão e fixação de texto / Negrios e realces a amarelo: LG)
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Nota do editor:

sexta-feira, 21 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24238: Facebook...ando (25): Os dois irmãos gémeos Medeiros, da CCAÇ 4740 (Cufar, 1972/74), naturais da Ribeira Grande, a viverem hoje no Canadá (o Adriano) e nos EUA (o David)


Guiné  > Região de Tombali > Cufar > CAÇ 4740 (1972/74), Leões de Cufar" >  Foto de grupo com os manos gémeos Medeiros, Adriano e David, que estão por identificar. Mas, pela pesquisa que fizemos nas suas páginas do Facebook, seriam o primeiro e o terceiro, na fila que está de pé, a contar da esquerda para a  direita.  O Armando Faria está em primeiro plano, agachado, de bigode, no lado esquerdo.

Foto (e legenda): © Armando Faria (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guião dos "Leões de Cufar", CCAÇ 4740 (1972/74), mobilizada pelo BII 17


1. Recentemente, e com referência ao poste P24229 (*), o nosso camarada Armando Faria (ex-fur mil inf MA, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74, natural de Vila Nova de Gaia), postou o seguinte comentário, na página do Facebook da Tabanca Grande:

(...) A CCaç 4740 teve dois gémeos em Cufar, Guiné, junho de 72 Agosto 74, o Adriano Medeiros e o David Medeiros, pertenceram ao 4.º grupo de combate". (...) 

O comentário vinha acompanhado de uma foto de grupo, com pessoal da CCAÇ 4740, onde presumivelmente estão os dois manos, o Adriano e o David. Mas não estão identificados.

Mandei ao Armando um mail, ontem, dia 20, com o seguinte teor:

"Armando: como vai isso ? A saúde e o resto ? Não tens dado notícias, embora participes na nossa página do Facebook... Há dias encontrei esta tua foto (...)

Acho que era invuilgar haver dois gémeos na mesma unidade ou subunidade... Gostava que os identificasses na foto... Já fui à página deles no Facebook.... E gostava que, estando um na América e outro no Canadá, como muitos outros camaradas açorianos, aceitassem o meu convite para integrar a nossa Tabanca Grande... Será que têm mais fotos desse tempo ?

Os irmã
os Magro foram seis, os que estiveram nos nossos TO em África, mas nenhum era gémeo, três estiveram ao mesmo tempo na Guiné em dada altura...

Vês se dás uma ajuda. O meu pesar pela morte do teu cunhado, Manuel Matias. Também perdi a minha cunhada, muito querida, há dias. Estive um mês na Madalena, V.N. Gaia, tua terra, a dar apoio à família... Abraço grande, Luís".

Enquanto se aguarda a resposta do Armando Faria (que tem 25 referências no nosso blogue), fazemos este poste, na série Facebook...ando. (**)

Os manos Medeiros são naturais da Ribeira Grande, Açores, nascidos a 29 de novembro de 1951, vivem no Canadá, em Winnipeg, o Adriano (tem página no Facebookl, aqui) e, nos EUA, Seekonk , Massachusetts. o David (tem página aqui).

O Armando Faria é autor da História da CCAÇ 4740 (vd. imagem da capa à direita).

Pode ser que outros camaradas como o Luís Mourato Oliveira (que pertenceu a esta companhia, em rendição individual), ou o António Graça de Abreu, do CAOP 1  (que esteve com eles em Cufar), nos possam também dar uma ajuda nesta identificação. Mas o Armando Faria é o camarada mais indicado para o fazer, está em contacto com eles, e tem organizado alguns dos encontr0s dos "Leões de Cufar" (**)

2. Em resposta ao nosso pedido, o Armando Faria legendou, no nosso Facebook,  a foto acima, do seguinte modo:

"Tabanca Grande Luís Graça Então vamos lá dizer algo deste pequeno grupo que pertencia ao 4.º grupo da CCaç 4740, formada em Angra do Heroísmo no BII 17 e onde se encontram; da esquerda para a direita de pé, 1.º cabo Adriano Medeiros, Canadá, Fur Mil Santos, Continente, sold David Medeiros, EUA, 1.º cabo Dâmaso, S. Miguel, 1.º cabo Joao Soares, EUA, sold Simas, Pico,  faleceu em 25/08/2015; 1.º cabo Ernesto, Canadá;  em baixo, Alf Silva e Fur Armando Faria, no Continente."

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23692: Convívios (943): Rescaldo do Almoço / Convívio dos antigos Militares da CCAÇ 2797; Pel Canh S/R 2199; Pel Caç Nat 51 e Pel Caç Nat 67, levado a efeito no passado dia 8 de Outubro em Leça da Palmeira (José Alberto Mota, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 2797)

Foto de família dos Antigos Combatentes da CCAÇ 2797, CCAÇ 4740, Pel Canh SR 2199 e 3079 e Pel Caç Nat 51 e 67, presentes no Convívio


1. Mensagem do nosso camarada José Alberto Mota, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 2797 (Cufar, 1970/72), com data de 9 de Outubro de 2022:

Amigo e camarada Carlos Vinhal

O encontro de almoço da CCAÇ 2797, que comemorou os 50 anos de regresso a Portugal, foi realizado no dia 8 em Leça da Palmeira e juntou 91 militares e suas famílias.

Esteve representada a CCAÇ 4740, os Pelotões de Canhões 2199 e 3079 e ainda alguns camaradas dos Pelotões de Nativos 51 e 67.

Num ambiente de muita amizade conviveu-se e recordou-se os tempos vividos em Cufar-Guiné.

Anexo algumas fotografias que agradeço se puder fazer o favor de publicar no blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné"

Com um abraço de amizade e agradecimento
José Alberto Mota
ex-Furriel de Transmissões

Dois aspectos da sala do Tryp Porto Expo Hotel de Leça da Palmeira, onde decorreu o Convívo
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Notas do editor

Vd. poste de9 DE SETEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23604: Convívios (939): XIX Encontro do pessoal do HM 241 de Bissau, dia 8 de Outubro de 2022, em Espinho. Almoço/Convívio dos antigos Militares da CCAÇ 2797; Pel Canh S/R 2199; Pel Caç Nat 51 e Pel Caç Nat 67, dia 8 de Outubro em Leça da Palmeira

Último poste da série de 26 DE SETEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23646: Convívios (942): Ontem, dia 24 de Setembro de 2022, realizou-se no Grande Hotel do Porto o almoço de confraternização da CART 1745 (Bigene, 1967/69) (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico)

sábado, 7 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22439: Contactem-nos, há sempre alguém que pode ajudar ou simplesmente saber acolher (1): Mensagens recebidas entre 12 de julho e 6 de agosto de 2021


Lourinhã > Porto das Barcas > Tabanca do Atira-te ao Mar > 1 de agosto de 2021 > Contactem-nos, que há sempre alguém, na Tabanca Grande, mãe de todas as tabancas, que pode ajudar...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Regiões da Guiné-Bissau.
Fonte: Wikipedia
1. Emails enviado através da gadget Formulário de Contactos em

Esperemos que alguém possa ajudar, dentro ou fora da Tabanca Grande... Há sempre uma primeira resposta ou comentário dos nossos editores. 
Evitamos publicar o endereço 
de email de cada um, a não ser 
em casos em que há 
um pedido expresso 
aos nossos leitores 



(i) Marcelino Issa da Cunha, 12/7/2021

Boa noite, gostaria de saber como posso cnseguir este livro "Grandeza Africana, Lendas da Guiné Portuguesa", por Manuel Belchior  (Mário Beja Santos)

Sou estudante de letras cursando mestrado em literaturas africanas na Unilab no Brasil, sou Guineense, de Empada, Região de Quinará

Cumprimentos,
Marcelino Issa da Cunha | issacunha@aluno.unilab.edu.br
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Resposta do editor LG: Livro raro. Procurar em alfarrabistas ou bibliotecas públicas.


(ii) Henriques Hilário Ferreira, 22/7/2021


Cripto CCAÇ 3565/BCAÇ 3883, CAOP2,   Guiné 72/74

Cumprimentos,
Henriques Hilario Ferreira | ct1dms@sapo.pt
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Resposta do editor LG: Obrigado, camarada. Não temos, infelizmente, nenhum representante do teu batalhão nem da tua companhia.


(iii) Alfecene Indjai, 24/7/2021

Antes de mais saudações a todos valentes combatentes que sacrificaram as suas juventudes em prol de uma vida melhor.

Sou filho de um vós, o meu pai serviu a Armada Portuguesa e deu tudo de si para este causa. Hoje infelizmente ele não está entre nós e como filho queria saber podemos de alguma forma fazer parte deste grupo e partilhar algumas recordações dele.

Sem mais nada aceitem as minhas saudações.
 
Cumprimentos,
Alfecene Indjai | alfudo.friday@gmail.com
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Resposta do editor LG: Indjai, como era o nome do teu pai ? Manda-nos mais alguma informação concreta e, se possível, alguma foto.


(iv) José Perdigão, 27/7/2021


Olá, Armando. Encontrei o seu blogue.

O meu pai esteve em Cufar, Furriel Enfermeiro Fernando Joaquim Rita Manuel.

A minha mãe deu-me recentemente uma insígnia do meu pai e decidi investigar o tempo em que ele estive na Guiné.

Cumprimentos,
João Perdigão | joao.p.manuel@gmail.com
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Resposta do editor LG: João, julgo que te estejas a referir ao Armando Faria (ex-Fur Mil Inf Minas e Armadilhas da CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74)


(v) João Artur Mamede, 28/7/2021

Procuro contactar António Augusto Miranda Guedes das Neves, que morava na Av Elias Garcia, 17. As buscas trouxeram-me até aqui! Poderão ajudar-me? Seria óptimo.
Agradeço.

Cumprimentos,
João Artur Mamede | joaoarturmamede@gmail.com
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Resposta do editor LG: João, estamos a falar de quem ? Um antigo combatente da Guiné ?


(vi) Álvaro Vasconcelos, 29/7/2021

Cordiais saudações a todos os Camarigos, em particular aos que estão mais carenciados de saúde e/ou bem estar.

Um abraço do tamanho do mundo.
Alvaro Vasconcelos, Minhães, Grilo / Baião
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Reposta do editor LG:

Obrigado, Álvaro, pela parte que me toca!


(vii) José Manuel Pavão, 30/7/2021

Boa tarde. Precisava contactar Luís Graça da Tabanca Grande
Consulado Guiné-Bissau, Porto
Tjm. 9******16
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Resposta do editor LG: Voltaremos a falar, senhor cônsul!


(viii) Alberto Vasconcelos, 1/8/2021

Joaquim Duarte Pinto Pereira,  furriel, esteve ou não na CCAÇ  13 em 73/ 74 na Guiné?

Cumprimentos,
Alberto Vasconcelos | albertovasconcelos5@gmail.com
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Resposta do editor LG: Vamos ver se alguém da CCAÇ 13 pode dar uma pista...


(ix) Sandra Coelho, 2/8/2021

Boa tarde
A minha mãe procura um primo que esteve no ultramar, em Moçambique, entre 1972 e 1974. Ela gostava muito de o voltar a ver, já tem uma idade e tem essa tristeza de ter perdido o contacto. Tenho umas fotos e postais que ele lhe enviou de Moçambique. Tenho fotos dele. 

Cumprimentos,
Sandra Coelho | cacaosandra@gmail.com
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Resposta do editor LG: Somos um blogue de antigos combatentes da Guiné... e não de Angola e muito menos Moçambique... Mas, para podermos ajudar, é preciso daber o nome do primo...


(x) Leonel Olhero, 6/8/2021

O furriel Melo fez em Bula - Esquadrão meia comissão de serviço comigo. O Esquadrão já fez trinta e tal encontros e o Melo nunca apareceu.

Desconhecia-se o seu contacto e paradeiro. Fui, quase sempre, o organizador daqueles encontros. Preciso do contacto do Melo e conto com o contributo da Tabanca Grande. Abraço

Cumprimentos,
Leonel Olhero | leonelolhero@gmail.com
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Resposta do editor LG: Leonel, muito gosto em saber de ti... Mas vamos ver se o Melo nos lê...

terça-feira, 29 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18691: Convívios (859): XII Encontro do pessoal da CCAÇ 4740 e Cufarianos, a levar a efeito no próximo dia 16 de Junho de 2018, em Fátima (Armando Faria, ex-Fur Mil Inf MA)

1. Mensagem do nosso camarada Armando Faria (ex-Fur Mil Inf Minas e Armadilhas da CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74) com data de 28 de Maio de 2018:

Boa tarde camaradas COMBATENTES
Estamos próximos de mais um dia que ficará na história de cada um de nós.
Convido-vos a estarem presentes para rever AMIGOS que connosco partilharam outros DIAS.
Fica aqui o desafio, cabe a cada um avaliar da sua possibilidade de se fazer presente.
Aguardo as vossa noticias.

Um abraço fraterno e solidário.
Armando Faria


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Nota do editor

Último poste da série de 22 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18665: Convívios (858): XXIII Encontro do pessoal do BCAÇ 2885, realizado no passado dia 19 de Maio de 2018, em Arganil (Jorge Picado, ex-Cap Mil, CMDT da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885)

domingo, 14 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18213: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (24): ronco balanta em Cufar, a festa de circuncisão ('fanado') dos rapazes ('blufos')



Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3 


Foto nº 4


Foto nº 6


Foto nº 7


Foto nº 9



Foto nº 8


Foto nº 10


Foto nº 5

Foto nº 12


Guiné > Região de Tombali >  Cufar > CCAÇ 4740 (1972/74) >  1973 > Ronco balanta, a festa da circuncisão ('fanado') dos rapazes ('blufos')



Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Mais fotos do álbum do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro, que foi alf mil inf, de rendição individual, na açoriana CCAÇ 4740 (Cufar, 1.º semestre 1973) e, no resto da comissão, comandante do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74). (*)

Afinal, o Oliveira ainda esteve umas largas semanas em Cufar com o António Graça de Abreu, do CAOP1 (,  pelo menos desde junho até agosto de 1973), antes de ir, no 2º semestre, para o setor L1 (Bambadinca), comandar o Pel Caç Nat 52 e fechar a guerra...

Durante a sua comissão foi sempre uma apaixonado pela fotografia. A sequência que hoje publicamos, a preto e branco, é notável, retratando um acontecimento que poucos de nós puderam apanhar... Ele chamou-lhe simplesmente "ronco"... Mas trata-se (, e eu confirmei isso com ele ao telefone) da festa da circuncisão ('fanado') dos rapazes ('blufos'), que se passava em três ou quatro momentos e espaços: tabanca (preparativos, anúncio, batuque), bolanha, tabanca,  floresta (cerimónia da circuncisão p.d. e transmissão de saberes) e, mais tarde, o regresso de novo à  tabanca (**)... É pena não podermos legendar com detalhe cada uma das fotos... Este 'fanado' (masculino) era (e continua a ser) um aspeto central da cultura balanta. O médico que estava então em Cufar, um alferes miliciano (Faria, se não erro) tentou que a pequena ciriurgia (ablação dp prepúcio) se realizasse em condições de higiene, segurança e assepsia. Em vão...

2. Veja-se o que diz o dicionário sobre o vocábulo "blufo":

blufo | s. m.
blu·fo
(balanta blufo)
substantivo masculino

1. [Guiné-Bissau] Rapaz não circuncidado.

2. [Guiné-Bissau] Jovem inexperiente.

3. [Guiné-Bissau] Indivíduo considerado estúpido.

4. [Guiné-Bissau] Dança executada na cerimónia de circuncisão.

"blufo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/blufo [consultado em 14-01-2018].
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Notas do editor:


(...) Em 1951, James Pinto Bull, nascido em 1913 em Bolama, funcionário colonial, ao tempo administrador de circunscrição, e com carreira de deputado pela frente, três vezes eleito pelo círculo da Guiné para a Assembleia Nacional, escreve no Boletim Cultural da Guiné um artigo intitulado “Subsídios para o estudo da circuncisão entre os Balantas”.

É uma escrita direta, de pendor marcadamente divulgativo, chama à atenção para o “fanado” e para o modo como os Balantas encaram esta cerimónia religiosa, começando logo por referir que os “grandes” das tabancas apresentam-se com o tradicional “lopé” e trazendo enrolado pelo corpo pedaços de corda, vão à autoridade local pedir autorização para “deitar o fanado”.

Segue-se uma descrição vivacíssima:

“Dada a autorização, rompe imediatamente o tamborilar de um pequeno tambor para levar a nova aos indígenas reunidos nas moranças e com danças alusivas à cerimónia que se vai iniciar, os velhos regressam à tabanca. Toda a noite se ouve o barulho do “ẽbõbor” (tambor grande, anunciando às tabancas distantes a realização do fanado, convidando os jovens a virem alegrar com a sua presença a grande festa. 

"Rompe a aurora e principia a concentração da turba nas proximidades da tabanca onde se realiza o fanado. A falange engrossa rapidamente e os assistentes vão-se aquecendo, não só pela ação do calor que sufoca, mas também pela do álcool. O mestre-cerimónia dá o sinal para se fazer a concentração geral. Começa a marcha e centenas de indígenas lançam-se em correria desenfreada, parecendo à primeira vista que se trata de um ataque guerreiro, pois quase todos os do sexo masculino ostentam espadas e cacetes. 

"O grupo dos futuros circuncisos esforça-se por abrir caminho a fim de se dirigir para o porto ou bolanha mais próximos, onde besuntam o corpo com lama. Em correria louca e entoando cânticos variados, os blufos regressam à tabanca, formando grupos separados, para que cada um possa mostrar o seu valor. Continua nos arredores da tabanca o barulho ensurdecedor dos tambores, misturado com milhares de vozes e com a gritaria infernal dos mais alcoolizados. 

"O sol vai declinando e, enquanto os futuros circuncisos se reúnem na tabanca para tomarem a última refeição ainda como blufos e receberem as mezinhas para os proteger contra os feiticeiros durante a permanência na barraca, a multidão alegra-se cada vez mais, chegando a tomar o aspeto de verdadeira orgia. Todos estão em maior ou menor grau sobre a ação etilisante do álcool”.

(...) “As mulheres e as bajudas estão completamente excitadas sobre a dupla ação do álcool e algumas delas não resistem à tentação de se deixar agarrar pelo blufos que sabem tirar partido destas oportunidades. É que nesse dia tudo é permitido, desde o adultério, que para certos maridos até constitui honra, por verem que as suas mulheres foram muito apreciadas, até a própria violação das bajudas, facto que alguns pais perdoam, não exigindo a costumada reparação material”.

É então que o mestre-cerimónia, velhos e rapazes já circuncidados seguem para a bolanha para que se cumpra a operação. A festa acabou. Os futuros circuncisos já chegaram à bolanha e estão atolados pelo menos até aos joelhos. Vamos regressar ao relato:

“Começa então a operação feita pelo parente mais próximo, a qual consiste no corte do prepúcio, por um ou mais golpes ao contrário do que se sucede nas outras tribos em que o corte tem que ser rápido e com um único golpe. Acaba a operação, os pacientes recolhem-se a um local antecipadamente escolhido, em princípio numa mata próxima da tabanca, e onde é feita previamente uma clareira protegida por uma paliçada. 

"A permanência varia de um a três meses, e enquanto os circuncidados ali permanecerem, as famílias são obrigadas a preparar-lhes as melhores comidas e a confecionar os tradicionais e caprichosos panos de fanado. 

"Terminado o tempo julgado necessário, os circuncisos descem às povoações, formando um único grupo, envolto nos panos do fanado. Cumpridas estas regras, o irresponsável blufo que até vivia em comum com os seus camaradas, adquire todos os direitos e deveres de homem, podendo construir a sua palhota e arranjar mulher para constituir família”.

(...) Uma última nota, James Pinto Bull irá falecer num acidente de helicóptero, em Julho de 1970, faleceram entre outros, José Pedro Pinto Leite, considerado como uma das grandes promessas da Ala Liberal. (...)