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quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21535: (Ex)citações (378): Talvez por causa de Madina do Boé... (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR, CCS / BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74)


1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da  autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem", com data de 9 de Novembro de 2020:


TALVEZ POR CAUSA DE MADINA DO BOÉ

Talvez como consequência do abandono de Madina do Boé e o grande espaço de progressão que ficou livre até à zona de Galomaro, resultou em 5 mortos no local e mais 3 em consequência dos ferimentos, em emboscada feita à CCS/BCAÇ 2912 nas Duas Fontes em Outubro de 1971.

A CCAÇ 3491 - Dulombi - Fevereiro de 1972

Logo no período de transição teve um encontro de frente durante uma patrulha com IN, do qual só por milagre não resultaram baixas, mas cantis e casacos furados por balas, foram vários tal a violência de parte a parte.

CCAÇ 3489 - Cancolim - 1972/73

Depois seguiu-se Cancolim. Já depois de duas flagelações, a 2 de Março de 1972, Cancolim foi fortemente atacada com morteiros 82 mm tendo daí resultado a morte dos seguinte camaradas:

José António Paulo - 1.º Cabo Atirador - natural de Mirandela.
João Amado - Soldado Aux. Cozinheiro - natural de Carvide - Leiria.
Domingos do Espírito Santo Moreno - Soldado Atirador - natural de Macedo de Cavaleiros.

No final de 1972 a CCAÇ 3489 tinha 60 operacionais.

Não ficou por aí e, assim, morreram ainda em combate, alguns já em 1973:

António Martinho Vaz - Soldado Atirador - natural de Grijó da Parada - Bragança
Álvaro Geraldes Delgado Ferrão - Soldado Ap Morteiro -natural de Silvares - Fundão
Domingos Moreira da Rocha Peixoto - Soldado Atirador - natural de Alto da Vila - Duas Igrejas - Paredes
Califo Baldé - Soldado Milícia - natural de Anambé - Cabomba - Bafatá
Samba Seide - Soldado Milícia - natural de Anambé - Cabomba - Bafatá

Juntamos a este numero duas deserções (um capitão e um alferes) e a captura do Soldado António Manuel Rodrigues, que veio a fugir do cativeiro para o Saltinho já nós estávamos para embarcar para a Metrópole.

CCAÇ 3490 - Saltinho - 1972

Armandino da Silva Ribeiro - Alf Mil Inf - natural de Magueija - Lamego
Francisco de Oliveira dos Santos - Fur Mil Inf - natural de Ovar
Sérgio da Costa Pinto Rebelo - 1.º Cabo Ap Metralhadora - Vila Chã de São Roque - Oliveira de Azeméis
António Ferreira [da Cunha] - 1.º Cabo Radiotelegrafista - Cedofeita - Porto
Bernardino Ramos de Oliveira - Soldado Atirador - Pedroso - V. N. de Gaia
António Marques Pereira - Soldado Atirador - Fátima - V. N. de Ourém
António de Moura Moreira - Soldado Atirador - S. Cosme - Gondomar
Zózimo de Azevedo - Soldado Atirador - Alpendurada - Marco de Canaveses
António Oliveira Azevedo - Soldado - Moreira - Maia (**)
Demba Jau - Soldado Milícia - Cossé - Bafatá
Adulai Bari - Soldado Milícia - Pate Gibel - Galomaro - Bafatá
Serifo Baldé - Assalariado - Saltinho - Bafatá

Juntar o soldado António Baptista feito prisioneiro, bem como os diversos feridos com mais ou menor gravidade.

CCS/BCAÇ 3872 - 1972/73

Manuel Ribeiro Teixeira - 1.º Cabo Rec e Inf - natural Cimo da Vila - Varziela - Felgueiras - Vítima de mina antipessoal na estrada do Saltinho.
Mamassaliu Baldé - Soldado Milícia - natural de Cossé - Bafatá
Mama Samba Embaló - natural de Cossé
Ila Bari - Soldado Milícia - natural de Campata - Nossa Senhora da Graça - Bafatá
Alberto Araújo da Mota - Alf Mil TRMS - natural de Curral - Pico de Regalados - Vila Verde - Evacuado com hepatite, morre 2 dias depois em Bissau. 

Antes tinha sido evacuado o Soldado Radiomontador Carlos Filipe e aos 20 meses de comissão é igualmente evacuado com a mesma maleita o Alferes da ferrugem Amadeu.

Para fechar o ano de 1972 foi a CCS/BCAÇ 3872 violentamente atacada ao arame no dia 1 de Dezembro.

Em 1973 uma mina na estrada do Dulombi destrói Unimog e fere gravemente o meu camarada Falé que é evacuado e já não volta.

De referir o aparecimento de minas na estrada do Dulombi e ataques em Bangacia, Campata e Cansamba, tudo na região das Duas Fontes (entre 6 e 9 km de Galomaro).

Posteriormente a CCS bem como Cancolim foram reforçados com pelotões de Dulombi em retracção, que também reforçam operacionalmente Nova Lamego. Fomos também ajudados com grupos de intervenção independentes bem como com Paraquedistas.

Tendo o meu batalhão chegado à Guiné na véspera de Natal de 1971, a sua partida só se viria a efectivar em 28 de Março de 1974. Escrevo isto para situar o período das minhas narrativas e assim dar a perspectiva da alteração e da intensidade da guerra a que estivemos sujeitos. A violência, bem como o equipamento utilizado contra nós, foram assim sendo alterados de região para região.

Enquanto o alcance da nossa artilharia era ultrapassada largamente pelo o alcance da artilharia do PAIGC, também nos vimos privados da normal utilização de meios aéreos, pese a grande coragem com que os pilotos se forçaram a voar após serem confrontados com uma arma da qual ignoravam tudo, ou quase tudo.

E passo citar o TenGeneral António Martins de Matos no seu livro Voando Sobre Um Ninho De “Strelas”:

A guerra estava a entrar numa nova fase, nada de emboscadas e confrontos directos mas sim, de duelos de artilharia e seria de esperar o aparecimento de uma aviação rebelde/mercenária.

Duelos de artilharia? Interroga-se o autor. A grande maioria desses obuses  estavam no Sul, autênticos monos da II Guerra com alcance não superior a 14.000 metros. Na maioria dos quartéis da Guiné só tinham direito a morteiros 81 mm (4000 metros) e ainda 11 morteiros 105 mm espalhados por diversos sítios de alcance igual.

O PAIGC usava o 120 (5700 metros) depois haviam os foguetes 122 mm (20.000 metros) e a breve trecho emprestados por Sekou Touré, peças de 130 mm (27.000 metros) e enquanto a artilhara utilizada pela guerrilha só podia ser posta em causa pelo aparecimento da nossa força aérea. Estas últimas peças fariam fogo directamente do Senegal e da Guiné Conácri e sete dos nossos aquartelamentos ficariam assim debaixo de fogo.

Tudo isto para relembrar que aquela guerra era intensificada consoante interesse do PAIGC, uma fez que lhe chegavam abastecimentos cada vez de maior qualidade e quantidade, enquanto a nós há muito enfermávamos de uma penúria franciscana.

PS: Publico os nomes dos nossos mortos porque lembrá-los é honrá-los e é uma obrigação registar os nomes de quem na flor da idade nos deixou.

*******************

O António Tavares que pertenceu à CCS do BCAÇ 2912, que nós fomos render, sobre a emboscada das Duas Fontes fez-me chegar a correcção sobre o numero de mortos e assim: 

Na emboscada morreram 5 militares e posteriormente três dos feridos que foram evacuados vieram a falecer em resultado dos ferimentos.

Os mortos foram oito e não seis como eu tinha inicialmente escrito.

Da parte do ex-Alf Mil Luís Dias, que chegou a comandar a companhia do Dulombi, chegaram-me estas informações mais precisas sobre a actividade operacional do Batalhão 3872.

CURIOSIDADES OU NOTAS SOBRE A NOSSA ZONA

Podemos verificar que os 4 quartéis do Batalhão sofreram 22 ataques/flagelações (CCS-1; CCAÇ 3489 - 12; CCAÇ 3490 - 0 e CCAÇ3491 - 9) e que as Tabancas das nossas populações em redor dos nossos aquartelamentos sofreram 23 ataques/flagelações, sendo que 9 deles foram contra populações indefesas e num acto de salteadores de estrada, o IN roubou dinheiro e bens a 16 elementos da população que transitavam na picada Saltinho-Galomaro.

BCAÇ 3872

FLAGELAÇÕES E ATAQUES AOS NOSSOS QUARTÉIS

CCAÇ 3489 - CANCOLIM

8 Flagelações em 1972 (1 delas c/ 3 mortos, 5 feridos graves e 5 feridos ligeiros)
2 Flagelações em 1973
2 Flagelações em 1974

CCAÇ 3490 – SALTINHO

Não sofreram quaisquer ataques ou flagelações durante a comissão

CACAÇ 3491 – DULOMBI

3 Flagelações em 1972
4 Flagelações em 1973
2 Flagelações em 1974

CCS - GALOMARO

1 Ataque/flagelação em 1972 c/1 IN morto confirmado e prováveis feridos IN

MINAS ACTIVADAS E DETECTADAS

Cancolim: Mina A/P reforçada accionada c/1 morto e 1 ferido+mina A/C accionada c/12 feridos graves, 1 ferido ligeiro e 2 feridos pop.+2 minas A/P levantadas
Saltinho: 3 minas A/C levantadas e 1 A/P levantada
Dulombi: 2 minas A/C levantadas e 2 minas A/P levantadas
Galomaro: 1 mina A/P reforçada accionada c/1 morto+1 mina A/C reforçada accionada c/1 ferido grave

EMBOSCADAS/CONTACTOS/FLAGELAÇÕES AUTO

CCAÇ 3489 - 1 contacto com o IN, após flagelação ao quartel, em 1972+1 emboscada aos milícias em Anambé, em 1973 c/2 mortos e 1 ferido
CCAÇ 3490 - 1 emboscada no Quirafo c/ 9 mortos+1 milícia e 2 civis+1 militar capturado. 1 emboscada c/feridos e mortos do IN+1 contacto do IN c/milícias de Cansamange
CCAÇ 3491 - Flagelação numa operação no Fiofioli+1 emboscada/contacto com 4 feridos ligeiros nossos e mortos do IN (s/confirmação de quantos, mas a rádio do PAIGC referiu que tínhamos tido 8 mortos e eles também tinha tido mortos+1 emboscada/flagelação junto à recolha de águas no Dulombi+2 flagelações a coluna de escolta e protecção na estrada Piche-Buruntuma.
CCS - Contacto entre forças milícias e o IN, após ataque a Campata c/elemento IN capturado.

ATAQUES A TABANCAS EM AUTO-DEFESA E TABANCAS INDEFESAS

- Tabanca indefesa de Bambadinca/Cancolim, em 25/1/72;
- Tabanca indefesa de Mali Bula/Galomaro, em 1/2/72;
- Tabanca de Umaro Cossé/Galomaro, c/2 feridos civis, em 7/12/72;
- Tabanca de Campata/Galomaro, em 20/6/72;
- Tabanca indefesa de Sinchã Mamadu/Saltinho, na mesma data de 20/6/72;
- Tabancas indefesas de Sana Jau e Bonere/Saltinho, em 30/6/72;
- Tabanca de Cassamange/Saltinho, em 15/7/72;
- Tabanca indefesa de Guerleer/Galomaro, c/ morte de 3 prisioneiros civis e 1 ferido grave, em 27/7/72;
- Tabanca de Patê Gibele/Galomaro c/ 1 sarg. milícia morto+1 ferido grave e 2 feridos ligeiros da pop., em 11/8/72;
- Tabanca de Anambé/Cancolim c/1 morto (CCAÇ 3489)+3 feridos também da mesma CCAÇ, que ali estava de reforço, em 5/9/72;
- Tabanca de Sinchã Maunde Bucô/Saltinho, c/3 feridos IN confirmados, em 20/9/72;
- Tabanca de indefesa de Bujo Fulpe/Galomaro, em 26/9/72;
- Tabanca ainda indefesa de Bangacia/Galomaro, com 1 milícia e 2 civis mortos, no mesmo dia (26/9/72);
- Tabanca de Dulô Gengele/Galomaro, com 3 mortos IN confirmados e 3 mortos civis (que tinham sido feitos prisioneiros antes do ataque e que foram abatidos+1 ferido grave e 1 ferido ligeiro dos milícias e 4 feridos graves da pop e 5 feridos ligeiros da pop., em 17/10/72;
- Tabanca indefesa de Sarancho/Galomaro, com 2 mortos civis e 2 feridos civis;
- Tabanca indefesa de Samba Cumbera/Galomaro, c/1 ferido grave da pop., em 13/11/72;
- Tabanca de Cansamange/Saltinho, 17/12/72;
- Picada Saltinho-Galomaro c/16 elementos da pop. capturados e roubados dos seus haveres (dinheiro), em 18/1/73;
- Tabanca de Bangacia/Galomaro, c/2 mortos civis+2 feridos civis+2 feridos milícias, em 1/2/73;
- Tabanca de Campata/Galomaro, c/5 mortos do IN e 1 capturado+3 mortos milícias e 3 mortos civis, em 16/3/73;
- Tabanca de Sinchã Maunde Bucô/Saltinho, em 14/5/73;
- Tabanca de Bangacia/Galomaro, em 18/9/73;
- Tabanca de Madina Bucô, em 20/1/74.

09 de Novembro de 2020 às 21:26
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Nota do editor

Último poste da série de17 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21457: (Ex)citações (377): As visitas da D. Cecília Supico Pinto ao leste da Guiné (Abel Santos, ex-Soldado At Art da CART 1742)

domingo, 30 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17296: (In)citações (107): XXII convívio do BCAC 3872 (Galomaro, 1972/74)... Fátima, 29/4/2017... Quem não esteve, teve pena... mas para o ano há mais! (Juvenal Amado)


Fátima > 29 de abril de 2017 > XXII Convívio di BCAÇ 3872 (Galomaro, 1972/74) > Foto  de grupo: cerca de meia centena de ex-combatentes.



Fátima > 29 de abril de 2017 > XXII Convívio di BCAÇ 3872 (Galomaro, 1972/74) > Foto  do bolo de aniversário > Juntou-se malta sobretudo da CCS e  mas também das compamnhias operacionais, CCAÇ 3489 (Cancolim), 3490 (Saltinho) e 3491.(Dulombi e Galomaro).


Fotos: © Juvenal Amado (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça &  Camaradas da Guiné]

1. Mensagem do Juvenal Amado, com data de hoje, às 16h11


Mais uma vez se juntou a malta do BCAÇ 3872. Estavam lá do Saltinho, de Cancolim, Dulombi e a maioria da CCS.

Quem esteve ficou feliz, quem não pode esta presente,  julgo que teve pena, mas para o ano há mais, ali para os lados de Abrantes.

Um abraço

2. Crónica de 29 de Abril 2017

por Juvenal Amado



Sede bem-vindos com apetite,

Heróicos e destemidos,

Viestes de todos os lados,

Não temestes atalhos e caminhos.

De Norte vieram muitos,

Do Centro aos magotes,   

De mui outros locais compareceram.

Trouxestes mulheres e prole, 

Que viestes todos com vontade,

Não vos fizestes rogados, 

E agora que chegastes,

Avisados que estáveis,

À sombra do João Paulo II esperais,

A Palavra na Santíssima Trindade ouvistes

Mas logo que forças recuperais,

Avançais para o D. Nuno sem vacilar

Está lá o mapa para que no caminho não vos enganeis, 

P'ra de entrada degustar pasteis, croquetes e iguarias tais

Que empurrais com vinhos brancos e tintos,

E não tenhais piedade

E porque dos fracos não reza a história,

De dietas não faleis

Ao trinchar esse naco,

Estripai e cortai a direito ou enviesado.

Regai pois esse labor e bebei

Que nos dentes não tenhais dores

E que nunca fiqueis engasgados,

Até porque para o ano há mais.



quinta-feira, 2 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17099: Efemérides (247): Poema de Maria Amado dedicado a seu pai João Amado, Soldado Auxiliar de Cozinheiro da CCAÇ 3489/BCAÇ 3872), morto em combate faz hoje 45 anos (Maria Amado / Juvenal Amado)

 
 João Amado
Soldado Auxiliar de Cozinheiro, CCAÇ 3489/BCAÇ 3872
Morto em combate em 02 de Março de 1972 (*)


De Maria Amado
Para seu pai João Amado

Tenho tanta coisa para te dizer, 
tenho todas as coisas para te dizer. 
Tenho tanta coisa para te perguntar, 
tenho todas as coisas para te perguntar 

Sabes, sem ti, custa tanto, 
tudo custa mais sem ti. 

Custa acordar de manhã com a dor do vazio, 
custa olhar para a mesa sem pão, 
custa vestir a mesma roupa fria e rota, 
custa carregar o saco da escola,
fazer o caminho sozinha, entre os sorrisos dos outros 
que abafavam a minha tristeza, 
custa olhar para o recreio e vaguear a mente 
mil perguntas que me deixam invisível sem ti. 

Todos os dias da minha vida foram uma luta, 
cresci sem o teu sorriso e o teu carinho, 
esses não eram os únicos ausentes, 
nem carinhos, nem estrutura, nem referências, 
só houve dor e desconforto. 

Não houve sorrisos, 

O tempo passa e não passa nem atenua a tua ausência, 
a ausência de tudo em ti. 
Nunca houve um dia sem luta nem luto. 
Hoje fazes-me tanta falta. 
Hoje, ontem e amanhã, vão ser sempre dias e noites sem ti. 

Neste mundo sem cor, só tu me poderias dar paz. 
Tenho tanta coisa para te dizer, 
que as palavras não cabem nos sentimentos... 

Tenho tanta coisa para te perguntar.... 


Nota do editor:

Trabalho enviado pelo nosso camarada Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto da CCS/BCAÇ 3872 (**)
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Notas do editor

(*) Vd. poste de  27 de julho de 2010 > Guiné 63/74 – P6798: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande (24): Fátima Amado, filha do nosso camarada João Amado, encontra no nosso Blogue notícias sobre a morte de seu pai (Juvenal Amado / Carlos Vinhal)

(...) Caro Senhor,
As minhas mãos tremem à medida que avanço na leitura do seu relato, procuro há décadas alguém que me conte uma história de embalar, digo de embalar porque o meu coração não sossega.

O meu nome é Fátima Amado, filha de João Amado, o soldado que morreu...

Tenho por fim um relato desse dia malfadado que me roubou o meu querido pai, esse menino soldado... e embora não seja esta uma estória de embalar, 38 anos depois responde a algumas perguntas... morreu rápido, tão rápido como viveu, e eu hei-de honrá-lo e amá-lo para além do infinito.

Se alguém conheçeu o meu pai e por delicadeza queira partilhar comigo algum relato, deixo aqui o meu contacto de e-mail, mailro:fatima-amado@hotmail.com, fico-vos eternamente grata.

Fátima Amado (...)

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16631: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (14): A maldição de Cancolim e a CCAÇ 3489 que teve dois casos (o capitão e um alferes) de "abandono" (no período de férias) e um de "deserção" para as fileiras do IN, o sold at inf José António Almeida Rodrigues (1950-2016)


Guiné > Bissau > Cumeré > 1/1/1972 > Passagem de ano > "À frente o alferes que nos abandonou e,  primeiro da última fila [, do lado esquerdo, de pé],  o capitão que também se foi" (sic)...

Legenda complementar [RB]: Em primeiro plano temos o Ferreira, e de baixo para cima da esquerda para a direita, estão o Gaspar, Baptista, Correia, Grosso, Jacinto, Oliveira, Piedade e o Sá;  mais acima estão o Rodrigo Oliveira e o Silva, por cima estão o Guarda, ao lado com a garrafa e o outro a seguir me recordo dos nomes, Conde, Romana, depois temos o Figueiredo, Andrade, o outro Silva e o Bidarra.

Foto (e legenda): © Rui Baptista (2009) Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].




1. Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (14): A maldição de Cancolim e a CCAÇ 3489 que teve dois casos (o capitão e um alferes) de "abandono" das nossas fileiras (no período de férias) e um de "deserção" para as fileiras do IN. 

Há uma maldição de Cancolim ? Há uma maldição do Saltinho / Quirafo ? Há uma maldição do Xime / Ponta do Inglês ? Há uma maldição de Bajocunda / Copá ? .... De Canquefilá ?  De Buruntuma ? De Cheche / Madina do Boé ?...

Há uma maldição do Leste, com a escalada da guerra no chão fula (atuais regiões de Bafatá e de Gabu), que se acentua a partir de 1969, e de que muitos de nós fomos observadores, testemunhas, atores, vítimas…

Por exemplo, João Amado, natural de Carvide, concelho de Leiria, sold aux cozinheiro, nº 03858869, CCAÇ 3489 / BCAÇ 3872, morto em 2/3/1972, no ataque a Cancolim. (Está sepultado em Vieira de Leiria, concelho de Marinha Grande.). Ou Rui Baptista, ex-fur mil da mesma subnidade, felizmente vivo, residente em Póvoa de Santo Adrião, nosso grã-tabanqueiro (desde 9/12/2009) , que pertencia ao 2º pelotão,  "Os Vingadores (e que ficou sem comandante, o alf mil  Rosa Santos, transferido "para as tropas africanas"). Ou o Zé António Rodrigues, recentemente falecido, que foi "prisioneiro de guerra", mas antes foi acusado de "deserção"...

Mp nosso blogue, temos cerca de três dezenas e meia de referências a Cancolim e menos de metade à  CCAÇ 3489 (Cancolim, 1971/74).

Mobilizada pelo RI 2, a CCAÇ 3489 partiu para a Guiné em 18/12/1971 no T/T Angra de Heroísmo e regressou em 28/3/1974 no T/T Niassa, tendo chegado a Lisboa em 4 de abril desse ano, a escassas 3 semanas do 25 de abril de 1974.

A CCAÇ 3489 esteve em Cancolim. Comandantes: cap mil Manuel António da Silva Guarda; e cap mil inf José Francisco Rosa. Pertencia ao BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74), comandado pelo ten cor inf José de Castro e Lemos. Faziam ainda parte deste batalhão, a CCAÇ 3490 (Saltinho; comandante: cap mil inf Dário Manuel de Jesus Lourenço) e CCAÇ 3491 (Dulombi, Galomaro, cap mil art Fernando de Jesus Pires).

O Rui Baptista é membro da nossa Tabanca Grande , desde 3/12/2009. Recorde-se como ele se nos apresentou:

(…) “Nesse espaço de tempo que permaneci na Guiné (27 meses e alguns dias), sempre em Cancolim (há que retirar o tempo do IAO no Cumeré, duas viagens de férias a Lisboa e dois internamentos no Hospital Militar em Bissau), aconteceram coisas que jamais poderei esquecer” (…)

A "maldição de Cancolim" (o termo é nosso) percebe-se agora melhor, quando o Rui diz:

“A CCaç 3489 não teve muita sorte durante a comissão, principalmente nos primeiros meses. Logo no início em Cancolim em três quintas-feiras seguidas tivemos 4 mortos e 21 feridos”:

(i) Um morto e um ferido numa mina na picada entre Cancolim e o destacamento de Sangue Cabomba; 

(ii) 16 feridos ligeiros num despiste de uma viatura a caminho de Bafatá;

(iiii) e mais 3 mortos e 4 feridos na primeira flagelação do IN ao aquartelamento , em 2/3/1972.

E conta um detalhe biográfico do seu verdadeiro baptismo de fogo:

“Neste primeiro ataque tive a sorte de um ex-furriel dos velhinhos me ter empurrado para dentro da porta da secretaria;  ele, com esse gesto, acabou por ser ferido numa vista por um estilhaço de uma granada de morteiro 82 e eu escapei ileso”…

Não menos grave, ou talvez ainda muito pior para o moral da tropa, foi o que se seguiu:

(...) "Tivemos o abandono do capitão  e de um alferes, e a partida forçada para as tropas africanas do alferes Rosa Santos do meu pelotão”...

Repare-se que o Rui nunca fala em “deserção” (por pudor, por tabu, por respeito, por desconforto ?…) mas em “abandono” (sic)… Presume-se que os dois oficiais, milicianos, tenham "desertado" (é o termo técnica e juridicamente apropriado) durante as férias na metrópole, com menos de meio ano de comissão, portanto no verão de 1972…

A maldição continuou:

“Como o IN não nos dava tréguas, e com o pouco material de guerra que tínhamos para nos defender (na altura apenas um morteiro 81), com o assalto pelo IN ao nosso destacamento e a captura de 2 homens nossos, a fuga de um soldado para o IN, juntamente com as notícias de mortos no Saltinho [em Quirafo, em 14 de Abril de 1972,] e emboscadas no Dulombi, o desânimo instalou-se nas nossas tropas”.

"A fuga de um soldado para o IN" ?  A confirmar-se seria uma terceira "deserção", o que é muito para uma companhia só, depois de um capitão e de um alferes...

E prossegue o nosso camarada Rui:

“Com a substituição do capitão e dos alferes, acabamos por não ter um comando à altura de nos elevar o moral, passámos por um período do quase salve-se quem puder. Valeu-nos o reforço de um pelotão do Dulombi e a visita de alguns Páras [, do BCP 12,] para as coisas acalmarem em Cancolim”.

Mas a maldição não acaba aqui…

“O resto da comissão, principalmente os últimos 7 ou 8 meses de 1973, foi bem mais calmo. O último ataque a Cancolim foi em 20 de janeiro de 1974, nesse dia o IN veio de manhã quase junto ao arame, apesar de muitos de nós andarem a jogar futebol, conseguimos fazer com que batessem em retirada deixando um morto no terreno.

Antes disso, ainda houve duas visitas (forçadas) do Rui ao HM 241, em Bissau, a última das quais por ferimentos graves na sequência de rebentamento de mina A/C que tinha, ao que parece,  "código postal errado" (*)

No meio de tanta desgraça, desânimo e desnorte, ainda rapaziada de Cancolim conseguiu dar provas  de resiliência ao stresse físico e psicológico (exemplificada em brincadeiras, jogos,  atividades lúdicas, etc.),  capacidade essa  que todos nós,  combatentes no TO da Guiné, tivémos que saber desenvolver para sobreviver...

2. Quanto ao "abandono" ou "deserção" das fileiras, por parte de 3 militares da companhia...


A deserção, tal como o suicídio, pode ser contagiante, sobretudo quando o nosso chefe ou líder dá o exemplo... Há famílias "suicidárias", como pode haver unidades militares com tendências para a deserção, em todas as épocas, em todos os exércitos...

Isso aconteceu, infelizmente, em alguns casos (seguramente raros) no TO da Guiné, durante a "nossa guerra" (1961/74). Um deles pode ter sido o da CCAÇ 3489...

O pobre José António Almeida Rodrigues (1950-2016), ex-sold inf,  foi para a cova, ainda recentemente,  e a terra foi-lhe, certamente, mais pesada do que a outros camaradas , pela terrível "suspeição de deserção" que carregou toda a vida...

Dos outros dois antigos militares não falamos, presumindo nós que estão vivos  e que têm direito à reserva de intimidade (o ex-capitão sabemos que sim, que está vivo): só eles sabem por que razão "abandonaram" os seus homens, no verão de 1972... e só eles podem, em consciência, dar ainda, em público, mesmo que tardiamente, uma justificação para uma decisão que não terá sido tomada de ânimo leve. (Julgamos que, no final das férias de 1972, e a partir do momento em que ficaram sob a alçada da justiça militar, pelo "crime de deserção", terão saído do país, não sabemos se de maneira concertada, ou cada um por seu lado, e por sua conta e risco, nem para onde, nem como...).

Até há pouco, quando o caso do Zé António Rodrigues veio à baila no nosso blogue, justamente por ocasião da sua morte, estava ainda muito arreigada na memória do pessoal da CCAÇ 3489 a imagem (estereotipada e injusta) do Rodrigues como "desertor" e, pior ainda, "traidor".

O Rodrigues tinha um "comportamento antisssocial", era agressivo, imprevisível, indisciplinado, "bicho do mato", dizia-se... Ninguém tinha mão nele... A verdade é que o pelotão dele ficou sem alferes, logo cedo, quando este "não regressou de férias", na metrópole, tal como o capitão!...

O Rodrigues dava-se ao luxo de sair a seu bel prazer, para ir caçar, sozinho, ou com os caçadores da tabanca...

Enfim, Cancolim parecia andar sem rei nem roque...

O camarada Rui Silva, ex-furriel e nosso grã-tabanqueiro, disse-nos, ao telefone, que a maior parte da malta estava convencida que ele, Rodrigues,  se tinha "passado para o inimigo". Durante as 24 horas do seu desaparecimento, andaram atrás do seu rasto até ao rio Corubal. Encontraram munições (de G3), abandonadas, e que seriam presumivelmente dele... Logo a seguir o destacamento de Sangue Cabomba foi atacado (tal como Cancolim)...

Há quem "visse" o Rodrigues no meio dos "turras", a orientar o ataque a Sangue Cabomba!!!...

Crucificaram o Zé Rodrigues em vida!... A malta nunca lhe perdoaria  a alegada "traição"!... E nunca fizeram questão de o procurar nem ele procurou os seus antigos camaradas, na metrópole!... Em Bissau, quando esteve preso por "suspeita de deserção" (sic), o 2º comandante do batalhão terá falado com ele...Ele sempre se terá defendido dizendo que tinha sido feito prisioneiro pelo PAIGC (e tratado como tal)...

O António Batista, grã-tabanqueiro, da CCAÇ 3490, que infelizmente já também não está aqui entre nós, tendo morrido no mesmo dia do Zé António (!), deixou-os um testemunho em vídeo, e disse-nos, por mais de uma vez, que o Rodrigues levava porrada dos carcereiros...

Nunca teve nenhum "tratamento VIP" como desertor... E aliciou o Batista para fugir com ele, em março de 1974...

Recorde-se que ambos foram companheiros de infortúnio, no cativeiro, em Conacri e no Boé (entre 1972 e 1974) ... O António  da Silva Batista esteve preso desde abril de 1972 até ao fim da guerra.  O Zé Rodrigues, aprisionado em julho de 1972,  acabou por fugir dos seus captores, em março de 1974, e ensaiar uma heróica fuga, andando  9 dias ao longo das margens do Rio Corubal até chegar ao Saltinho... 

Fizemos questão de reparar esta injustiça,  no nosso blogue, embora tardiamente... O Zé António nunca teve oportunidade de se defender em vida!... E só conheceu a miséria, a infelicidade, a doença e a solidão. Está morto e enterrado!... Mas, apesar dessa vida de  miséria,  ele também conheceu em fim de vida a compaixão humana, a solidariedade e a camaradagem...  Entrou para a nossa Tabanca Grande, a título póstumo, por proposta do Zé Manuel Lopes, seu vizinho da Régua. (**)

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Notas do editor:

(**) Último poste da série > 17 de março de 2007 > Guiné 63/74 - P1606: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (13): Jorge Cabral

(...) Há quarenta anos nós,  jovens,  optámos. Informados ou desinformados,  fomos e lá estivemos. Partilhámos medos, sofrimentos, tristezas, alegrias.

Hoje resta-nos a memória desses tempos. E é essa memória corporizada na Tertúlia, que nos une.

A Tertúlia é, e deve continuar a ser, um Fórum de Camaradas, que em pé de igualdade, informam, relatam e recordam.

Quantos desertaram na Guiné? Porquê? Que fizeram depois? Deram informações?
Colaboraram com o Inimigo? Desconheço, mas não lhes atiro pedras. Não me peçam, porém, para os enaltecer, glorificar ou incensar. (...)

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15970: Memória dos lugares (338): Cancolim, subsetor de Galomaro (Rui Baptista, ex-fur mil, CCAÇ 3489 / BCAÇ 3872, 1972/74) - Parte III: adeus, Guiné!


Foto 19 > O último dia em Bissau antes do regresso à Metrópole... A avenida da República que ia dar à praça do Império e ao palácio do governador (ao fundo)...


Foto 18 > Eu,  junto ao rio Geba, no Xime,  à espera da LDG para Bissau


Foto 17 > O último dia em Cancolim... Na parte de cima da foto, no tecto, pode ver-se alguns restos  (empenas ?) dos RPG que caíram na parada de Cancolim durante a flagelação ao aquartelamento em 20 de janeiro de 1974 (a única vez que fomos atacados logo de manhã).


Foto 16 > Abrigo da população na orla da mata para espantar os macacos,  por altura da colheita da mancarra


Foto 20 > O fur mil Gaspar, o alf mil Andrade e eu na escala que o Niassa fez no Funchal no regresso a Lisboa


Foto nº 22 > Análises que fiz antes de regressar à metrópole... Regressei a Portugal no navio Niassa que partiu de Bissau em 28 de Março e chegou a Lisboa a 4 de abril de 1974. Já não me recordo do que era o EDDT...


Foto 23 > A primeira vez que fui parar ao Hospital Militar de Bissau foi devido a uma febre que ninguém conseguiu identificar... Cheguei lá a 6 de Junho de 1972 e saí quase um mês e meio depois. A segunda vez foi mais grave: foi gravemente ferido na sequência de mina A/C na coluna  no dia 14 de Agosto de 1972...

Foto acima: a "pirimetamina" era um medicamento que tomávamos , 1 comprimido aos domingos durante oitro semans.. Fazia parte da profilaxia (prevenção) da malária ou paludismo... O "mintezol" acha que era um fungicida...


Fotos (e legendas): © Rui Baptista (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Terceira (e última) parte do álbum fotográfico do Rui Batista (ex-fur mil, CCAÇ 3489 / BCAÇ 3872, Cancolim, 1972/74) qu emora em Póvoa de Santo Adrião, Loures. Com 65 anos de idade, está reformado, é lisboeta, sendo os pais oriundos de Arganil. e é nosso grã-tabanqueiro desde 9/12/2009.
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Nota do editor

Último poste da série > 1 de abril de  2016 > Guiné 63/74 - P15925: Memória dos lugares (337): Cancolim, subsetor de Galomaro (Rui Baptista, ex-fur mil, CCAÇ 3489 / BCAÇ 3872, 1972/74) - Parte II: "Passei lá alguns maus bocados, com duas idas ao hospital, mas também lá tive alguns bons bocadinhos"...

terça-feira, 12 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15969: (Ex)citações (308): No poste de apresentação do Rui Batista era dito que o alferes Rosa Santos “fora subtraído” à CAÇ 3489, coisa que sempre desconheci (Mário Migueis)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Migueis da Silva (ex-Fur Mil Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72), com data de 28 de Março de 2016:

Caro amigo:
Ainda no dia do teu aniversário, renovo os meus votos de muita saúde e felicidade, quanta queiras.

Como já tive oportunidade de transmitir-te tempos atrás, um problema, não especialmente grave, mas muito aborrecido, relacionado com a vista, tem-me mantido à distância, que é como quem diz tem-me vindo a remeter para um plano demasiado passivo para o meu gosto, no que ao blogue se refere. Com efeito, aconselha quem sabe que, até ver, deva reduzir a um uso tão limitado quanto possível coisas interessantes como computadores, livros, televisões, enfim, coisas de somenos – por isso é que, quando tomei conhecimento da morte do nosso amigo Batista, já este estava enterrado.

Mas, a propósito da “segunda” morte do nosso querido “morto-vivo”, que continuo a recordar com carinho e um sorriso brincalhão nos lábios, por me lembrar das palhaçadas com que o provoquei no “Milho-Rei”, pus-me a ler o poste P15907 (Rui Batista), e fui surpreendido pela fotografia do BCAÇ 3872, em Bissau, com o alferes Rosa Santos em primeiro plano. E isto porque, durante alguns meses, pude privar com este no Saltinho, onde comandou o Pelotão de Nativos 53, tendo recebido o respectivo testemunho das mãos do alferes Paulo Santiago. Como nos comentários ao poste de apresentação do Rui Batista em 2009 (a que, então, não tive acesso), era dito que o alferes em presença “fora subtraído” à CAÇ 3489 / Cancolim, coisa que sempre desconheci, fiquei até na dúvida sobre se o Rosa Santos da foto era o mesmo que eu viria a conhecer no Saltinho. Por isso, hoje mesmo, dirigi um e-mail ao Paulo Santiago, a pedir confirmação (ainda não tenho resposta) e, posteriormente, contactei telefonicamente o Carlos Raimundo, da 3490/Saltinho, que logo confirmou que, sim senhor, o alferes Rosa Santos, que substituíra o Paulo Santiago, passara pela CCAÇ 3489/Cancolim.

Porque tive um excelente relacionamento com ele – era uma pessoa de educação esmerada e muito jovial, sempre com um sorriso de boa disposição (é vê-lo, numa das fotos, a ensaiar um passo de dança, ao som de um disco dos anos 60), sempre pronto para uma brincadeira, para uma conversa bem humorada –, ocorreu-me, há minutos, procurar naquela velha mala de que te falei – lembras-te? – alguma fotografia em que ele estivesse presente. Encontrei duas – vá lá! –, tiradas aquando de uma deslocação da tropa do Saltinho ao Xitole, para uma operação de elevado melindre: recolha do correio da malta, proveniente, via aérea, de Bissau. Mas, com alguma perplexidade, constato que o Rosa Santos está com farda n.º 2, sendo de admitir que, em trânsito para Bissau ou outro lado qualquer, tivesse aproveitado a nossa boleia.

Bissau > 26/12/1971 > Apresentação do Batalhão BCAÇ 3872 ao Com-Chefe, Gen Spínola. Em primeiro plano o Alf Mil Rosa Santos, já falecido há uns anos.

Foto (e legenda): © Rui Baptista (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

Obviamente, fiquei triste ao tomar conhecimento de que também ele já faleceu, anos atrás. Era, se bem me recordo, mais velho que eu dois ou três anos, devendo-se isso ao facto de só ter sido chamado a cumprir o serviço militar após a conclusão do curso de Física e Química. Após o meu regresso da Guiné, não voltei a vê-lo, e do pouco que me recordo, para além das nossas conversas animadas, é que era natural da Figueira da Foz, e pertencia a uma família de empresários de transportes (Marianos?!) muito conhecida. Era uma excelente pessoa – razão tinha o Rui Batista para lamentar a sua partida precoce do pelotão “Os Vingadores”.

E, por falar em excelentes pessoas, e se me permites, meu caro amigo Carlos Vinhal, que tanto considero, aproveito para referir que o camarada que, numa das fotos, canta ao desafio comigo – está de costas, com lenço claro e cartucheiras à cintura – é o Henrique Custódio (furriel enfermeiro da CCAÇ 3490/Saltinho), de quem era muitíssimo amigo. Homem de raro talento, em especial no campo literário, proporcionou-me momentos inesquecíveis de franca camaradagem, na alegria, como na dor. Após uma despedida, em que a poesia, que muito nos dizia, falou mais alto, nunca mais nos encontrámos. Mas sei que continua a escrever as “Décadas de Abril” e a ser um dos redactores do “Avante”, órgão central do PCP.

Xitole / 1972 – À esquerda, em farda n.º 2, e de mãozinha direita na barriga, o alferes Rosa Santos; ao centro, o barbudo da “kalash” é o Migueis, tendo à sua esquerda o Custódio Henrique (furriel enfermeiro da CCAÇ 3490-Saltinho); à porta da messe, visivelmente à vontade e bem disposto, um alferes da Companhia do Xitole.

Xitole / 1972. À esquerda, em farda n.º 2, atento ao despique, o alferes Rosa Santos; ao centro, de costas, lencinho de seda e cartucheiras, o Henrique Custódio, cantando à desgarrada com o barbudo, que é o seu amigo Migueis.

Fotos (e legendas): © Mário Migueis / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

E, quanto à kalashnikov, é verdade que costumava andar com uma, mas era só para ”fazer ronco”, pois claro.

Um grande abraço para todos,
Mário Migueis
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de abril de 2016 Guiné 63/74 - P15935: (Ex)citações (307): A descolonização da Guiné-Bissau tinha tudo para correr mal (Jorge Sales Golias)

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15925: Memória dos lugares (337): Cancolim, subsetor de Galomaro (Rui Baptista, ex-fur mil, CCAÇ 3489 / BCAÇ 3872, 1972/74) - Parte II: "Passei lá alguns maus bocados, com duas idas ao hospital, mas também lá tive alguns bons bocadinhos"...



Foto nº 10 A > "Os Vingadores", o meu pelotão  (2.º Pelotão da CCaç 3489),  prontos para uma patrulha. Ficámos com este nome porque quase sempre nos tocava ir em busca do IN após os ataques ao aquartelamento


Foto nº 10 B > "Os Vingadores", o meu pelotão  (2.º Pelotão da CCaç 3489)...


Foto nº 8 > Um posto de sentinela em Cancolim


Foto nº 11 > Mais uma partida para o mato de "Os Vingadores" em 15 de  abril de 1972, após uma flagelação a Cancolim à hora do almoço... Não gostávamos que o Juvenal Amado lá levasse o capelão... Não sei porquê, o homem dava-nos azar... Sempre que lá ia, Cancolim embrulhava"...


Foto nº 13 > Segurança à picada entre Cancolim e Sangue Cabomba


Foto 14 > Preparação para uma coluna a Bafatá (parte do 2.º Pelotão)


Foto nº  15 > O estado em que ficou a viatura (Unimog 404) que caiu numa mina em 14 de agosto de 1972 na picada,  no regresso de Bafatá a Cancolim (deixou-me 40 dias, todo partidinho, no HM 241 de Bissau – além de mim tivemos mais 16 feridos,  entre eles dois camaradas que tiveram de ser evacuados para o HMP de Lisboa)


Foto nº 3 A > Vista aérea de Cancolim: ao fundo do lado esquerdo, o heliporto... Além das instalações, veem-se alguns troços do perímetro de valas, abrigos e espaldões... Não havia artilharia, só morteiro 81...


Foto nº 3 B > Outra vista aérea de Cancolim: em segundo plano, a tabanca, anexa ao quartel...

Fotos (e legendas): © Rui Baptista (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. O Rui Batista (ex-fur mil, CCAÇ 3489 / BCAÇ 3872, Cancolim, 1972/74)  mora em Póvoa de Santo Adrião, Loures, com 65 anos de idade, está reformado, é lisboeta, sendo os pais oriundos de Arganil. e é nosso grã-tabanqueiro desde 9/12/2009.
 

Já aqui nos contou parte das andança e desandanças pelo TO da Guiné (*)... A primeira parte da comissão são mais intranquila.  Cancolim era um buraco lá no sector de Galomaro...
 

"O resto da comissão, principalmente os últimos 7 ou 8 meses de 1973, foi bem mais calmo. O último ataque a Cancolim foi em 20 de Janeiro de 1974. Nesse dia o IN veio de manhã, quase junto ao arame, mas apesar de muitos de nós andarem a jogar futebol, conseguimos fazer com que batessem em retirada deixando um morto no terreno".

Foi parar ao hospital duas vezes:

"A primeira vez que fui parar ao Hospital Militar de Bissau foi devido a uma febre que ninguém conseguiu identificar. Cheguei lá a 6 de Junho de 1972 e saí quase um mês e meio depois". (...)

"A segunda vez foi pouco tempo depois da primeira, foi logo na coluna seguinte a me irem buscar a Bafatá, dia 14 de Agosto de 1972. Não era a vez do meu Pelotão fazer a coluna. Quem estava na escala era o 1.º Pelotão,  comandado pelo Capitão;  este alegando que não se sentia bem e como eu tinha estado fora da Companhia algum tempo, conseguiu convencer-me a substituí-lo dessa vez".

O Rui confessa que não gostou  muito da ideia mas lá foi, contrariado... E tinha razões para temer que aquele fosse um dia aziago...

"Após a saída de Bafatá,  comecei a sentir que algo não ia correr bem. Ao chegarmos a Sangue Cabomba fui colocar o saco do correio (a mais sagrada das coisas para nós) na última viatura, e dei algumas indicações aos condutores de como iríamos proceder à passagem das zonas mais perigosas do resto do percurso até Cancolim.

"Foi exactamente no último bocadinho do troço onde nos podiam emboscar que deflagrou a mina colocada na picada. A partir desse momento não me lembro de muita coisa, sei que ainda dei instruções ao homem do rádio para pedir o batimento da zona e também de pedir uma arma e água a um elemento da população e deste me dizer que a mina não era para mim ("Furriel desculpa a mina não era para ti" – foi o que me ficou gravado na mente)."...

A seguir o Rui foi evacuado de heli para Bafatá...

"Recordo ainda de desmaiar sempre que me agarravam no ombro partido e de me terem posto numa maca dentro de numa DO. Acordei em Bissau quando me estavam a cortar o camuflado e voltar a desmaiar quando me agarraram no ombro para radiografar, acordei ao fim de três dias todo ligado e entubado na sala de observações. Estive hospitalizado 40 dias"...
Balanço da explosão da maldita mina: 17 feridos, dois deles evacuados para Lisboa.

"Até aqui só escrevi sobre coisas menos boas, mas também existiram algumas bem divertidas como, por exemplo,  aquela de eu ter pedido uma ZUP em vez de 7UP na primeira vez em que entrei na messe de sargentos no Cumeré, foi um "salta, pira!", geral.

Outras de que se lembra:
(i) "as corridas de arcos com gancheta que fazíamos na parada de Cancolim";

(ii) "um ou dois festivais da canção de Cancolim: uma das canções vencedoras,  "Rio Chancra" era cantada pelo Rodinhas (Furriel Mecânico Correia)";

(iii) "as caçadas às galinhas e cabras da população, e a fisgadas as pombos do nosso pombal para os petiscos";

(iv) "os campeonatos das mais variadas jogatinas de cartas";

(v) "as missivas que escrevíamos aos ratos para não nos roerem as roupas dentro dos armários – quando vim de férias da primeira vez, dei com o meu saco de viagem todo desfeito e no meio dos farrapos uma ninhada de 7 ratinhos"...

"E mais, muito mais", diz ele, "que eu não sei contar aqui"!... A gente acha que ele sabe e tem jeito para contar histórias... Esperamos que nos visite muito proximamente, agora que lhe fomos reeditar (e para melhor!) algumas fotos do seu álbum...
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Nota dos editores:

(*) Último poste da série > 27 de março de  2016 > Guiné 63/74 - P15907: Memória dos lugares (336): Cancolim, subsetor de Galomaro (Rui Baptista, ex-fur mil, CCAÇ 3489 / BCAÇ 3872, 1972/74) - Parte I

domingo, 27 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15907: Memória dos lugares (336): Cancolim, subsetor de Galomaro (Rui Baptista, ex-fur mil, CCAÇ 3489 / BCAÇ 3872, 1972/74) - Parte I


Foto 3 > Parada de Cancolim > Um quartel igual a tantos outros no TO da Guiné, feito pela engenharia militar.


Foto 4 > O pombal na parada de Cancolim (alguns pombos serviram de petisco; e a columbofilia também distraía)


Foto 9 > O fur Mil Jacinto e eu,  junto do famoso pombal de Cancolim


Foto 5 > Bissau > 26/12/1971 > Apresentação do Batalhão (o BCAÇ 3872) ao Com-Chefe, Gen Spínola) > Em primeiro plano o alf Mil Rosa Santos, já falecido há uns anos.


Foto 6 > Cumeré > 1/1/1972 > Passagem de ano >  À frente o alferes que nos abandonou e primeiro da última fila o capitão que também se foi.


Foto 7 > Cancolim > 23 de setembro de 1973 >  Trajando à civil, para esquecer a guerra: oficiais e sargentos: sentado: fur mil Oliveira; 1.ª fila,  da esquerda para direita: 1.º sarg Romana, fur mil Correia (Rodinhas), fur mil Silva (Russo), eu, capelão da CCS/BCAÇ 3872 (Galomaro), fur mil Silva, fur mil Peixoto, alf mil Andrade; em cima também da esquerda para a direita: fur mil Santos, alf mil Videira, alf mil Oliveira, fur mil Conde, fur mil Gaspar, fur mil Ferreira e fur mil Jacinto.

Fotos (e legendas): © Rui Baptista (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. O Rui Batista, que mora em Póvoa de Santo Adrião, Loures, com 65 anos de idade, reformado, entrou para  a nossa Tabanca Grande em 9/12/2009. É lisboeta, sendo os pais oriundos de Arganil.

Segundo a sua apresentação, embarcou para a Guiné no NT Angra do Heroísmo em 18 de dezembro de 1971 e desembarcou em Bissau, na véspera de Natal em 24 do mesmo mês. Passou o ano novo no Cumeré.

Regressou a Portugal no T/T Niassa que partiu de Bissau em 28 de março e chegou a Lisboa a 4 de abril de 1974.

Permaneceu, portanto, na Guiné 27 meses e alguns dias, sempre em Cancolim, "lá no fim do mundo"...  Há que retirar, diz ele, "o tempo do IAO no Cumeré, duas viagens de férias a Lisboa e dois internamentos no Hospital Militar em Bissau".

Nesse espaço de tempo, aconteceram "coisas que jamais poderei esquecer". Estas fotos (das muitas centenas que tinha e que lhe roubaram, uns tempos da sua chegada, do carro, no Portinho da Arrrábida...) falam um bocadinho dessa história:

Segundo ele, "a CCAÇ 3489 não teve muita sorte durante a comissão, principalmente nos primeiros meses. Logo no início em Cancolim, em três quintas-feiras seguidas tivemos 4 mortos e 21 feridos: um morto e um ferido numa mina na picada entre Cancolim e o destacamento de Sangue Cabomba; 16 feridos ligeiros num despiste de uma viatura a caminho de Bafatá; e mais 3 mortos e 4 feridos na primeira flagelação do IN ao nosso aquartelamento".

Nesse primeiro ataque, ele  teve "a sorte de um ex-furriel dos velhinhos me ter empurrado para dentro da porta da secretaria, ele, com esse gesto, acabou por ser ferido numa vista por um estilhaço de uma granada de morteiro 82 e eu escapei ileso".

Outro dos desaires que teve a companhia, foi "o abandono do capitão e de um alferes, e a partida forçada para as tropas africanas do alferes Rosa Santos, do meu pelotão" (que era o segundo, os "Vingadores").

O IN "não nos dava tréguas", e era "pouco o material de guerra que tínhamos para nos defender (na altura apenas um morteiro 81)"... O assalto pelo IN ao destacamento e a captura de 2 homens nossos, o desaparecimento de um dos nossos soldados [, apanhado pelo IN, o José António de Almeida Rodrigues, que "para alguns de nós teria desertado"], juntamente com "as notícias de mortos no Saltinho e emboscadas no Dulombi", tudo isso contribui para que o desânimo se instalasse nas nossas tropas".

(...) "Com a substituição do Capitão e dos alferes, acabamos por não ter um comando à altura de nos elevar o moral, passámos por um período do quase 'salve-se quem puder'. Valeu-nos o reforço de um pelotão do Dulombi e a visita de alguns páras [do BCP 12,] para as coisas acalmarem em Cancolim."

 O resto é para relembrar num outro próximo poste. (**)
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Notas do editor;

(*) Vd, poste 3 de dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5400: Tabanca Grande (192): Rui Baptista, ex-Fur Mil da CCAÇ 3489/BCAÇ 3872, Cancolim, 1971/74

(**) Último posto da série > 23 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15786: Memória dos lugares (335): As "viagens" a Madina do Boé e a Béli (Abel Santos, ex-Soldado da CART 1742)

sábado, 26 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15903: (De)caras (40): Nove noites e nove dias em fuga, do Boé ao Saltinho, a "odisseia" do José António Almeida Rodrigues, sold at inf, CCAÇ 3489 / BCAÇ 3872, Cancolim, 1972/74 (Depoimentos de José Manuel Lopes e Luís Dias)


Guiné > Zona leste > Setor L5  (Galomaro) > Cancolim > CCAÇ 3498 / BCAÇ 3872 (1972/74) 
> Foto 12 > Saída para o mato dos Vingadores para mais uma patrulha (2.º Pelotão, o meu grupo de combate, sempre pronto para uma patrulha; ficámos com este nome porque quase sempre nos tocava ir em busca do IN após os ataques ao aquartelamento).

Foto do álbum do Rui Batista, ex-fur mil, CCAÇ 3498 (Cancolim, 1972/74).(*)


1. Mails enviados ontem, com mais esclarecimentos e informações sobre o cativeiro e a fuga do José António Almeida Rodrigues (1950-2016), ex-sold at inf, CCAÇ 3498 / BCAÇ 3872 (Cancolim, 1972/74) (**)



(i) José Manuel de Melo Alves Lopes [, ex-fur mil, CART 6250/72, "Os Unidos de Mampatá, Mampatá, 1972/74, natural da Régua, conterrâneo, contemporâneo e confidente do fugitivo]:


A fuga do cativeiro [, em 7 de março de 1974,] foi por ele planeada com algum pormenor. Pediu para ir fazer as suas necessidades fisiológicas. E, segundo me parece, o local de cativeiro era perto do rio [Corubal] onde também se lavavam.

Com o tempo a atenção dos vigilantes foi abrandando e os oito prisioneiros (incluindo ele e o António Batista) eram deixados mais à vontade, o que ele aproveitou.

Uma canoa que se encontrava junto à margem foi o seu meio de transporte e a noite, que se aproximava, foi sua aliada, pois retardou a perseguição e lhe deu algum tempo decisivo para se afastar do local de presídio.

Não levava nada com ele, nem armas nem alimentos. Antes de amanhecer, escondia a canoa entre a vegetação e se refugiava numa árvore que lhe oferecesse as melhores condições de camuflagem e abrigo. Por duas vezes viu e sentiu passar por baixo dele os homens [do PAIGC] que o procuravam.

A sua alimentação foi a fruta que encontrou e algo a que ele chamava camarão que apanhava nas lamas [ou tarrafo] das margens do rio. [, Recorde-se que ele era caçador, tanto na Régua como em Cancolim].

Ao nono dia, encontrou dois nativos que trabalhavam numa bolanha e, quando sentiu confiança, contactou-os e eles o levaram [, de motorizada,]  até ao Saltinho que era já muito próximo do local onde os encontrou. 


Guiné > Zona leste > Setor L5  (Galomaro) > Cancolim > CCAÇ 3498 / BCAÇ 3872 (1972/74) > 

Foto 1 > Aquartelamento de Cancolim [vd. mapa de Cansissé], a nordeste de Galomaro

Foto do álbum do Rui Batista, ex-fur mil, CCAÇ 3498 (Cancolim, 1972/74).

Fotos (e legendas): © Rui Baptista (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


(ii) Luís Dias, ex-alf mil da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872 (Dulombi e Galomaro, 1971/74) [, foto à esquerda, empunhando uma pistola-metralhadora, a PPSH, a famosa "costureirinha"]

Sei muito pouco sobre esse camarada, dado que o mesmo pertenceu a outra companhia do meu batalhão - a CCAÇ 3489, instalada em Cancolim. (***)

O que sei foi de ouvir contar, ou seja, que o camarada não teria um comportamento normal, que teria um pouco de louco. Sabe-se que, em determinada altura, aquando de uma patrulha levada a cabo pelo seu pelotão, terá recusado sair com eles mas, mais tarde, com o seu grupo já no exterior, resolveu pegar no seu equipamento/armamento e sair do quartel, presumidamente, para uns, ir ter com o seu grupo, para outros, para ir em direcção a zonas do PAIGC. Ao certo não se sabe. 

Quando já estávamos em Bissau, para embarcar para Lisboa, soube-se que o mesmo se evadira/fugira e se apresentara no nosso aquartelamento do Saltinho. 

Oficiais do Batalhão (ao que julgo, o 2.º Comandante, o então Major Moreira Campos) foram falar com ele, no local onde estava preso, pois teria sido dado como desertor. Alguém contou que ele disse que se encontrava preso pelo PAIGC, juntamente com o Batista, da CCAÇ 3490 (, vítima da emboscada do Quirafo - foi assim que se soube que ele, afinal, estava vivo) e que, a determinada altura, alguém do  pessoal do PAIGC lhe disse que o seu batalhão já estava em Bissau e iria embarcar para a Metrópole por ter terminado a comissão. 

Foi então que decidiu "evadir-se", pois também achava que tinha terminado a sua comissão. Terá passado alguns dias no mato e descido o rio Corubal numa piroga, vindo mais tarde a alcançar o Saltinho. 

Havia quem acreditasse que o militar, em virtude de problemas psíquicos, teria mesmo desertado para o PAIGC, havendo mesmo alguns convencidos de que ele prestara informações sobre uma tabanca, onde pernoitava um pelotão da sua companhia e, quando ali estava o seu próprio grupo, o local foi atacado, conseguindo o IN penetrar na mesma e matar 2 elementos do grupo.

A verdade do sucedido será difícil de encontrar. Se, no próximo almoço de nossa companhia, estivesse presente o então 2.º Comandante, eu procuraria falar com ele sobre este assunto, mas como o convívio vai ser na zona centro é possível que ele não esteja presente (esteve no ano passado porque foi em Braga e ele vive na Maia).

Era importante conseguir chegar à fala com alguém da própria companhia e, se possível,  que pertencesse ao seu pelotão. Há um ex-furriel da CCAÇ 3489, que julgo fazer parte da Tabanca Grande, Rui Baptista [, foto à direita], que também acompanha o Facebook,  pertencendo ao Grupo Fechado de Galomaro, destino e passagem, que talvez possa dar melhores detalhes sobre esse camarada.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 14 de dezembro de  2009 > Guiné 63/74 - P5466: Álbum fotográfico de Rui Baptista, ex-Fur Mil da CCAÇ 3489/BCAÇ 3872

(***) Vd.poste de 19 de outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8926: (Ex)citações (151): O Sold Rodrigues, prisioneiro do PAIGG (de Junho de 1971 a Março de 1974), pertencia à CCAÇ 3489/BCAÇ 3872, que esteve em Cancolim (1971/74) (Luís Dias)

sexta-feira, 25 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15901: (De)caras (38): Homenagem ao José António Almeida Rodrigues (1950-2016), ex-sold at inf, CCAÇ 3489 / BCAÇ 3872 (Cancolim, 1972/74)... Nove noites e nove dias, em fuga, escondendo-se de dia no mato, por vezes vendo e sentindo as tropas IN que o procuravam e, de noite, descendo o rio Corubal até encontrar o nosso quartel do Saltinho... Desertor ? Louco ? Herói ? Proponho a sua integração, a título póstumo, na nossa Tabanca Grande (José Manuel Lopes, Régua)

1. Duas mensagens, com data de ontem, do José Manuel de Melo Alves Lopes, o Zé Manel da Régua, o nosso poeta Josema, vitivinicultor, duriense [, ex-fur mil, CART 6250/72, "Os Unidos de Mampatá, Mampatá, 1972/74, foto à esquerda]

Régua, 24 de Março de 2016

(i) O José António [Almeida Rodrigues, 1950-2016] era, para a maioria, mais um louco que veio da Guiné. Um apanhado pelo clima, um problemático que se devia evitar.

Para mim e muitos dos nossos camaradas, que conheceram de perto as situações que viveu, nos tempos de guerra, e que mais tarde soubemos do seu sofrimento nas prisões de Conacri e do Boé, da épica fuga deste último local, numa canoa, rio Corubal abaixo!... 

Nove noites e nove dias, escondendo-se de dia no mato, por vezes vendo e sentindo as tropas IN que o procuravam e, de noite, descendo o rio até encontrar dois nativos que cultivavam numa bolanha perto do Saltinho e o levaram até ao quartel.

Sim, para nós, ex-combatentes, o Zé António também foi um herói, não reconhecido como tantos outros.
Quero nesta pequena homenagem que lhe fazemos, salientar o apoio da Tabanca de Matosinhos, o carinho e amizade que lhe dedicaram nos poucos convívios das Quartas-Feiras,  em Matosinhos, em que esteve presente.

Também um muito obrigado à Dona Jovelinda, da casa de acolhimento que o acolheu nestes últimos 8 anos, pela forma como o tratou e cuidou.

José António, descrever os momentos difíceis que viveste, as aventuras e agruras da tua vida não é fácil nem de contar nem de entender. Resta-nos procurar lembrar ao mundo as tuas memórias e honrá-las.

Sabes, José António? Ontem de madrugada, tal como tu, morreu também o António Batista, teu companheiro de prisão em Conacri e no Boé.

Até um dia,
José António


José António Almeida Rodrigues
 (1950-2016) 
(ii) Conheço a sua versão dos acontecimentos, pois quando da recolha de dados para procedermos a um pedido de um subsídio de prisioneiro de guerra, o mesmo foi recusado pois ele foi considerado desertor.

Estranhei o facto, pois ele foi tratado pelo PAIGC da mesma maneira que os outros prisioneiros, enquanto que, no caso dos desertores, o tratamento era diferente, eles conseguiam ser colocados em países que os escolhessem e que lhes davam asilo político.

Falei com ele e a sua versão foi de que, sendo ele um apaixonado pela caça (e já o era cá no Douro), saía com frequência para fora do aldeamento [, e aquartelamento de Cancolim,] para ir à caça. Da ultima vez que o fez, o seu grupo de combate tinha saído para uma missão. Quando regressou a Cancolim, foi duramente repreendido pelo capitão. Em resposta disse que, se eles tinham saído, ele também era homem para os encontrar!... E foi ao encontro do grupo, mas deparou primeiro com um bigrupo do PAIGC... Pensavam  ser os seus camaradas, só dando pela realidade quando estava no meio deles.

Perante tal situação, a justificação para um acto tão irreflectido era a versão da deserção. Tentei confirmar a esta sua versão com um elemento da sua companhia [, a CCAÇ 3489,] que me disse apenas muito vagamente que ele era um tanto louco, mas também que não podia afirmar que ele tinha desertado.

Por tudo aquilo que ele passou, pelas conversas e recordações que partilhamos, gostaria de propor que ele fizesse parte da lista  mortos da nossa Tabanca Grande.

José Manuel Lopes
  

2. Comentário do editor:

Há aqui uma proposta do Zé Manel Lopes, da Régua, o nosso poeta de Mampatá, que ajudou também o Zé António a sair da miséria em que se encontrava... A proposta é simples: admitir o Zé António como grã-tabanqueiro n.º 713, indo diretamente para o "talhão" onde estão os nossos mortos, na grande maioria combatentes, alguns dos quais entraram diretamente por este processo, ou seja, "post mortem", como se diz, ou seja, a título póstumo.

O Zé António partilhou, em vida,  a sua história connosco através do Zé Manel... Parece que os burocratas do exército o consideravam (ou chegaram a considerar) como "desertor", e não como "prisioneiro de guerra". Enfim, não temos acesso ao seu processo individual, e admitimos que a questão seja técnica e juridicamente complexa... De resto, quem é que se interessa hoje pela "honra e glória" de um pobre Zé Soldado que fez uma guerra já esquecida ?!...

A pergunta é: foi um desertor, foi um louco, foi um herói, ou foi um simples combatente como todos nós? Merece ser nosso grã-tabanqueiro? A sua odisseia, a sua história, a alguns de nós,  tocam-nos. O que é que os nossos amigos, colaboradores permanentes do blogue, "guardiões do templo", pensam sobre este caso? E os demais camaradas e amigos da Guiné? Todos têm uma palavra a dizer...

Aguardamos as vossas respostas.
Boa Páscoa, melhores amêndoas (doces).
Os editores.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 24 de março de 2016 > Guiné 63/74 - P15896: In Memoriam (248): Morreu também, ontem, o José António Almeida Rodrigues (1950-2016), natural da Régua... Era sold at inf, CCAÇ 3489 / BCAÇ 3872 (Cancolim, 192/74)... Foi companheiro de infortúnio, no cativeiro, em Conacri e no Boé, do nosso António da Silva Batista (1950-2016)... Fugiu dos seus captores, em março de 1974, andou 9 dias ao longo das margens do Rio Corubal até chegar ao Saltinho... Teve uma vida de miséria, mas também conheceu a compaixão humana, a solidariedade e a camaradagem... É aqui evocado pelo José Manuel Lopes.

(**) Último poste da série > 21 de março de 2016 > Guiné 63/74 - P15880: (De)caras (36): Os bravos da Magnífica Tabanca da Linha: relatório de mais uma operação, a 24.ª (Texto de José Manuel Matos Dinis / fotos de Miguel Pessoa)

quinta-feira, 24 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15896: In Memoriam (248): Morreu também, ontem, o José António Almeida Rodrigues (1950-2016), natural da Régua... Era sold at inf, CCAÇ 3489 / BCAÇ 3872 (Cancolim, 192/74)... Foi companheiro de infortúnio, no cativeiro, em Conacri e no Boé, do nosso António da Silva Batista (1950-2016)... Fugiu dos seus captores, em março de 1974, andou 9 dias ao longo das margens do Rio Corubal até chegar ao Saltinho... Teve uma vida de miséria, mas também conheceu a compaixão humana, a solidariedade e a camaradagem... É aqui evocado pelo José Manuel Lopes.


José António Almeida Rodrigues (1950-2016): aqui, no almoço semanal da Tabanca de Matosinhos, em 12/10/2011, cortesia do blogue Coisas da Guiné, do A. Marques Lopes. Era natural do Peso da Régua, e teve no Zé Manuel Lopes, entre outros, um ombro amigo e uma mão solidária.  Companheiro de cativeiro do António da Silva Batista (1950-2016), morreu no mesmo dia, em Vila Real.


1. Mais um triste  (e estranha!) notícia: soubemos pelo Zé Teixeira e pelo Zé Manel Lopes (Josema), que morreu também, ontem, de manhã (?), o José António Almeida Rodrigues, natural da Régua... (Vd. também notícia  na página do Facebook do Zé Manel Lopes)

Estava há 3 meses hospitalizado, em Vila Real. De vez em quando o Zé Manel ia lá visitá-lo. Viveu uma vida de miséria, até que, ultimamente, conseguiu ter uma família de acolhimento. Foi igualmente acarinhado pela Tabanca de Matosinhos, que o chegou a ajudar materialmente. A única foto que temos dele foi tirada pelo A. Marques Lopes, numa das vezes que ele foi almoçar à Tabanca de Matosinhos, levado pelo Zé Manel.

Estranha coincidência: foi companheiro de infortúnio do Batista. E morrem os dois no mesmo dia, ou com horas de diferença. Quando estavam os dois, na região do Boé, decidiu fugir. O Batista não o quis acompanhar. Meteu-se numa piroga, andou vários dias à deriva no Rio Corubal... Acabou por conseguir chegar ao Saltinho (Vd. depoimento do Batista no vídeo abaixo)... 

Sobre ele diz o Juvenal Amado:

"Pertenceu também ao meu batalhão, à CCAÇ 3489, Cancolim, 1972/74, tal como o António da Silva Batista (, este da CCAÇ 3490, com sede no Saltinho). Fugiu da prisão, indo ter ao Saltinho, já o BCAÇ 3872 se preparava para regressar a casa. A vida dele foi dura que esteja em paz finalmente".


2. O Zé Manel Lopes, seu conterrâneo, já nos contou aqui a sua triste história de infortúnio mas ao mesmo tempo de coragem, através de um poste e de troca de mensagens de correio (*):

O José António Almeida Rodrigues nasceu em 1950, na Régua.

Em Junho de 1971 assentou praça no RI 13, Vila Real, sendo três meses depois colocado em Abrantes para formar batalhão. Integrado [, não na 2.ª Companhia do BCAÇ 4518, mas] na CCAÇ 3489 / BCAÇ 3872, partiu para a Guiné na véspera de Natal desse ano.

"A sua Companhia foi destacada para Cancolim, dela faziam parte um alferes, natural de Lamego, que me disseram ser actualmente professor, e que não consegui ainda contactar, o alferes João Pacheco Miranda, atualmente correspondente da RTP no Brasil" - acrescenta o Zé Manuel Lopes.

Seis meses depois de chegar ao TO da Guiné, o José António é feito prisioneiro pelo PAIGC. O contexto em que foi apanhado ainda estava por esclarecer, segundo mail de 4 de março de 2011, do Zé Manel Lopes. "Tive conhecimento de várias versões e era importante saber a verdade dos factos para reabrir o processo dele".

É levado para Conacri. Em 1973, após o assassinato de Amílcar Cabral [, que foi em 20 de janeiro desse ano,] é enviado para a região do Boé, no nordeste da província portuguesa da Guiné. Com ele estavam mais 7 camaradas.

"Durante quase um ano a sua casa foi em Madina do Boé", diz o Zé Manel (Para sermos mais rigorosos, provavelmente, na região ou imediações, perto do Rio Corubal, já que o PAIGC nunca ocupava efetivamente os quartéis abandonados pelas NT, alvos fáceis da aviação).

Em 7 de Março de 1974, "aproveitando um momento em que a vigilância abrandou", o José António tomou a direcção do rio para tentar a fuga.

E se o intentou, bem o conseguiu. "Andou 9 dias ao longo do Corubal, até encontrar dois nativos que andavam numa plantação junto ao rio. Um deles, de motorizada, levou o José António até ao Saltinho. Depois foi transportado para Aldeia Formosa, para ser levado para Bissau. Como naquele tempos difíceis a via aérea já não reunia muitas condições de segurança, devido aos Strela, foi transportado em coluna até Buba e daí, de LDG, para Bissau".

No mail de 4/3/2011, o Zé Manel Lopes confirma: "Após 9 dias de fuga pelo mato ao longo do Rio Corubal, é encontrado por dois nativos que o levam até ao Saltinho"...  (Portanto, a fuga terá sido a pé, e não de piroga, o que seria mais arriscado...).

Confessa o Zé Manel Lopes, seu contemporâneo na Guiné [, foto  à esquerda,  ex-fur mil, CART 6250, Mampatá, 1972/74, ] que, "apesar de ser meu conterrâneo, na altura não o reconheci, quando tal me foi comunicado pelo cabo do SPM de Aldeia Formosa, Camilo, também natural da Régua".

E acrescenta: "Após o regresso em agosto de 1974, procurei saber da sua situação. Levava uma vida muito complicada, pois se tornou pouco sociável (como muitos de nós). Não teve uma retaguarda, ou seja, um suporte familiar que o protegesse. Os conflitos eram frequentes. Internado várias vezes, de onde fugia sempre que podia (tornou-se um hábito)"... Seria mais tarde colocado numa casa de acolhimento onde viveu os últimos anos da sua vida e onde era bem tratado...

Este antigo prisioneiro de guerra (, situação que o exército nunca lhe terá reconhecido,)  sobrevivia com uma pensão de incapacidade de apenas 246 €, o que de facto era insuficiente para o seu sustento, concluía o Zé Manel que aproveitava, na ocasião, para "agradecer publicamente à família que o recolheu, especialmente à D. Juvelinda, que com tanto carinho o tratava".

A revolta do nosso amigo e camarada Zé Manel vai mais longe: por incrível que pareça, até do miserável suplemento especial de pensão que anualmente era atribuído a antigos combatentes (150 € / ano), o José António apenas recebia 75 €, pois, como fora capturado com apenas 7 meses de Guiné, o tempo que passou, quase 3 anos, como prisioneiro, não lhe foi considerado!!!

Quem eram os seus companheiros de cativeiro ? Aqui vai a lista, segundo o Zé Manel:

(i) o nosso morto-vivo António da Silva Batista, da Maia;

(ii) Manuel Vidal, de Castelo de Neiva;

(iii) Duarte Dias Fortunato, de Pombal;

(iv) António Teixeira, da Lixa;

(v) Manuel Fernando Magalhães Vieira Coelho, do Porto;

(vi) Virgílio Silva Vilar, da Vila da Feira;

e (vii) Jacinto Gomes, de Viseu.

 Acrescentava o Zé Manel Lopes no seu mail de 4/3/2011:

(...) Viveu até há muito pouco tempo em condições absolutamente miseráveis e numa situação psicológica deplorável. Contudo graças aos esforços do Magalhães,  um ex furriel que também esteve na Guiné e vivia perto da local onde ele habitava e que conseguiu sensibilizar a drª. Maria José Lacerda, vereadora da Câmara Municipal da Régua", através dos Serviços de Assistência Social conseguiu-se um lar de acolhimento para o José António.

(...) "Atualmente a qualidade de vida de José António é muitíssimo melhor. Já fui visitá-lo e de uma das vezes foi comigo o seu companheiro de prisão, o Batista, o nosso 'morto-vivo' da Tabanca de Matosinhos. Como foi bonito!"...

(...) "Contudo é preciso saber se é possível melhorar a reforma de José António, ou se tem direito a algo mais como ex-prisioneiro de guerra, pois com apenas 243,32 € por mês, só por muito boa vontade e graças ao elevado espírito de humanismo e solidário da senhora que tem o lar de acolhimento,  ele lá pode continuar. E quero aqui agradecer publicamente a essa senhora que tão bem tem tratado o nosso camarada e tanto tem contribuído para a sua recuperação. E, acreditem, pela primeira vez o vi feliz, bem tratado, a conversar, a sorrir e com sentido de humor, o que me deixou feliz também a mim.

(...) Também gostaria de organizar um encontro na Régua com os oito camaradas que foram prisioneiros na região do Boé. Deixo os meus contactos" (...)


3. Comentário do editor:

Como diriam os romanos, RIP - Requiescat in Pace, Zé António!... Que a terra da tua pátria te seja leve, pobre camarada, valente soldado!... (**)



III Encontro Nacional da Tabanca Grande > Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > Depoimento do António da Silva Batista (1950-2016) sobre o tempo de cativeiro, em Conacri e depois na região do Boé (1972/74). Aqui se relata também a fuga do  José António, em março de 1974.

Vídeo (5' 43''): Alojado no You Tube > Luís Graça (2008)
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Notas do editor:

(*) Vd poste de 18 de outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8920: Banco do Afecto contra a Solidão (15): O caso do José António Almeida Rodrigues, ex-prisioneiro de guerra (entre Junho de de 1971 e Março de 1974): uma história de coragem e de abandono (José Manuel Lopes)

(**) Último poste da série > 23 de março de 2016 > Guiné 63/74 - P15894: In Memoriam (247): António da Silva Batista (1950-2016)... A segunda morte (esta definitiva!) de um camarada a quem carinhosamente chamávamos o "morto-vivo do Quirafo". O funeral é amanhã, às 15h45, na igreja de Santa Cruz do Bispo, Matosinhos