Mostrar mensagens com a etiqueta CCAÇ 2769. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta CCAÇ 2769. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16668: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (104): reencontro, através do blogue, ao fim de quase meio século, de 4 amigos bairradinos e antigos alunos do CNA - Colégio Nacional de Anadia, e que estiveram nos TO da Guiné (Vasco Pires, Paulo Santiago e Manuel Reis) e de Angola (Acácio Conde)... Um deles, Vasco Pires (1948-2016), acaba de nos deixar... Entrou para a nossa Tabanca Grande em 27/9/2012, vivia no Brasil desde 1972


Portugal > s/l > s/d >  O Vasco Pires (1948-2016), fardado, já possivelmente aspirante a oficial miliciano, talvez em 1970, ano em que foi mobilizado para o TO da Guiné, em rendição individual. O pai, a seu lado, era o professor José Martins Pires, licenciado pela Universidade de Coimbra,


Universidade de Coimbra >Faculdade de Letras > 19 de dezembro de 1930 > Cartão de estudante do futuro professor do ensino secundário José Martins Pires, e pai do Vasco Pires (1948-2016).



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 23º Pel Art (1970/72) > A partir da esquerda: fur mil art Oliveira, um graduado da Companhia de Comandos Africana (?), o alf mil art Vasco Pires, cmdt do 23º Pel Art, e o fur mil art Kruz, os seus "furriéis operacionais", que o Vasco estimava muito mas de quem infelizmente perdeu o rasto.

Fotos: © Vasco Pires (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Os primeiros contactos do Vasco Pires (1948-2016) com o nosso blogue datam de 5 e 7/2/2012 (*). A apresentação oficial à Tabanca Grande ocorreria mais tarde,  em 27/9/2012 (**). 

Natural da Anadia, aluno do CNA - Colégio Nacional da Anadia, filho do professor José Martins Pires, rapidamente reencontraria, através do blogue, ao fim de quase meio século,  três colegas do tempo do Colégio, que também passaram pelo ultramar, durante a guerra: o Paulo Santiago e o Manuel Reis (Guiné) e o Acácio Conde (Angola). Os dois primeiros são membros da nossa Tabanca Grande.

Eis aqui os seus comentários originais (2012), que voltamos a reproduzir neste poste de homenagem a um grande bairradino do Brasil e nosso camarada da Guiné, que acabamos de perder (****).

De qualquer modo, estes reencontros vieram comprovar a nossa velha máxima: o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (*****).


(i) Paulo Santiago [ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72]

Foi um "clic" ao ler Vasco Pires. Há muitos anos, alguém me disse que estavas no estrangeiro, e que estiveras na Guiné, não imaginava que tinha coincidido com a minha estadia.

Tu eras filho do professor Pires que era colega do meu pai, viemos de bicicleta desde Anadia a uma festa aqui em Aguada [, Águeda,] estás lembrado?

Este blogue, criado pelo Luís Graça é, na verdade, um grande ponto de encontro.

Não tenho ideia de te ter encontrado após a minha saída do Colégio e ida para a ERA [, Escola de Regentes Agrícolas,] de Coimbra, e, sendo assim, não trocávamos palavras há quase cinquenta (50)
anos... Impressionante!!!

Continuo a andar lá para os lados de Anadia... Estou velho (estamos) mas vou à Moita treinar rugby com os Veteranos do Moita-Rugby Clube da Bairrada... Há quem diga que tenho uma "pancada" mas vou-me sentindo bem.

Não imaginas o bem que foi ter-te encontrado aqui, neste blogue, ao fim de tantos anos... Gostei e fiquei sensibilizado pelo "encontro". Nesta fase da vida, as velhas recordações são um bálsamo.

Vasco, recebe um grande abraço,
Paulo Santiago


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CCAÇ 2769 (Gadamael e Quinhamel, de janeiro de 1971 a outubro de 1972) > Vista aérea de Gadamael Porto nos finais do ano de 1971. Foto do cor art ref António Carlos Morais da Silva, e por ele gentilmente cedida ao nosso camarada Manuel Vaz.

Foto: © Morais da Silva (2012) Todos os direitos reservados.[Edição: LG].


(ii) Manuel Reis [ex-Alf Mil da CCAV 8350, (Guileje, Gadamael, Cumeré, Quinhamel, Cumbijã e Colibuia, 1972/74]:

Amigo Vasco.

Já deixei o meu comentário no poste do Paulo Santiago, mais à frente. Fiquei surpreendido por te ver neste Blogue. Sabia, no entanto, que estavas no Brasil.

Não fazia a mínima ideia que tinhas passado pela Guiné e muito menos em Gadamael, julgava-te no Brasil no início da Guerra Colonial e os nossos amigos comuns como o Acácio [Conde], nunca a se referiram a tal, quando te recordávamos nos convívios dos antigos alunos do Colégio de Anadia.

Lembras-te do Coronel Beirão (hoje General), nosso Professor de Educação Física e irmão da Drª Maria de Lurdes, nossa digníssima professora de Matemática? Pois bem, encontrei-o lá na Guiné, procurou-me para sacar dados sobre Guileje. Tive de me furtar a almoçar com ele, não estava disposto a abrir-lhe o jogo, sabendo de antemão que pertencia no Serviço de Informações.


 (iii) Acácio Conde [, Aveiro]

Malhas que o acaso tece... Viajando pelas páginas da internete um pouco ao Deus dará, acabo de descobrir contactos de três amigos contemporâneos de juventude que a vida se encarregou de separar. 

A marca comum que nos juntou no Colégio Nacional em Anadia e vos juntou na guerra colonial da Guiné-Bissau sem saberem uns dos outros,  a mim mandou-me para Angola... Tenho-vos encontrado esporadicamente mas desconhecendo no concreto esse elo de ligação das vossas vidas. 

Afinal o mundo continua pequeno e redondo: o Vasco Pires, o Paulo Santiago e o Manuel Reis são os amigos a que me refiro e de quem guardo memórias de juventude. Este blogue que por vezes tenho visitado,  pela sua qualidade e capacidade de mobilização que consegue junto de muitos dos ex-militares que nas décadas de 60 e 70 estiveram em África e que continuam a partilhar entre si memórias e momentos de vida em comum...

A estes amigos em particular envio um forte abraço, com desejo de boa saúde, esperando que nos possamos juntar um dia aqui por Aveiro, onde vivo vai para 40 anos. Seria uma grande alegria que se concretizasse esse encontro. 

Cordialmente,
Acácio Conde
______________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:



(...) Comentários (posteriores) dos leitores a este poste:

(i) Vasco Pires (ex-comandante do 23º Pel Art, Gadamael, 1970/72, a quem saudamos e convidamos a integrar a nossa Tabanca Grande)

Prezados, com as devidas ressalvas de mais de quarenta anos de distância, não posso afirmar se essas fotos são de Gadamael Porto. O que posso afirmar, é que quando cheguei em Gadamael, penso que em finais de 1970, para assumir o comando do 23° Pelart, os espaldões já estavam prontos, bem como as casas do reordenamento (com teto de zinco), que foram ocupadas pelo pessoal da artilharia, inclusive a primeira casa, junto à cerca do quartel, foi ocupada por mim e pelos valorosos e esforçados Furriéis [Oliveira e Kruz]. Cordiais saudações.

Domingo, fevereiro 05, 2012 7:45:00 PM


(...) vascopires@yahoo.com disse...

Prezado Luis Graça, 

Fico muito grato pela cordial acolhida bem como pelo convite. Sou um desses milhões da multicentenária diáspora lusitana, que em 1972 saiu de Portugal, e por aí ando até esta data.  Há talvez um ano, tive o primeiro contacto com o blogue; quero te parabenizar como a toda a equipe pelo extraordinário trabalho, bem como pelo alto nível da edição do blogue, em assuntos tão polémicos e carregados de emoção, com décadas de distância. Cordiais saudações. (...)




quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7799: Os nossos médicos (22): Um pedido de desculpas por uma falsa informação a (e um firme repúdio pelas insinuações de) o ex-Cap Art Morais da Silva, comandante da CCAÇ 2769 (Amaral Bernardo)



Guiné > Região de Tombali >  Rio Cacine  a caminho de Gadamael; s/d> O Alf Mil Méd Amaral Bernardo, que pertencia à CCS/BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72), e passou mais de um ano (1971) em Bedanda (CCAÇ 6).




Guiné > Região de Tombali > Bedanda > 1971 > Vista aérea  


Fotos (e legendas) : © Amaral Bernardo (2011). Todos os direitos reservados.




1. Resposta de Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Med, CCS / BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72),  ao ex-Cap Art, António Carlos  Morais da Silva comandante da CCAÇ 2769 (Gadamael e Quinhamel, de Janeiro de 1971 a Outubro de 1972) (*)

Ex.mº.Senhor
Coronel Morais da Silva

Após a leitura do seu desmentido ao P7756 da minha autoria, a primeira reacção foi de estupefacção e angústia…e, a seguir ,de constrangimento, em que ainda me encontro. Tinha vivido todo este tempo convicto que a CCaç 2796 tinha sido deslocada de Gadamael meses depois da morte do capitão Assunção Silva e que para essa decisão eu teria contribuído de algum modo, na minha qualidade da médico da CCaç e conhecedor da realidade de Gadamael e da pressão constante que exercia sobre o pessoal aí colocado. 



Mas os factos são factos, e a realidade é que a Companhia só saiu a 12 de Fevereiro de 72, sendo óbvio que a informação é FALSA e IMPERDOÁVEL, como diz! 


Do erro me penitencio e, com humildade e sinceridade, peço desculpa a todos os elementos da CCaç 2796, a toda a TABANCA GRANDE e ao seu Editor Luís Graça, de quem aceito desde já todas as consequências que achar adequadas (incluindo a minha expulsão do Blog, retirada do post, sua correcção…, enfim, o que for por bem  entendido).

O que alegar em minha defesa?... Por mais que procure, só a “convicção” que eu tinha até agora e a espontaneidade e emoção com que escrevi. E quando há Emoção… a Razão deixa praticamente de existir e a Emoção, sempre que pode, trai-nos.



Não houve qualquer intencionalidade (seria absurdo, no tempo da Net, com este blogue e com os intervenientes praticamente todos vivos, com datas e locais…),foi um acto falhado que assumo e com que terei que viver. Mais uma vez peço que aceitem as minhas desculpas, todos.


É obvio que neste ponto, a sua indignação é natural e eu aceito-a , senhor Coronel,  e, se assim o entender e não me tomar por persona non grata, estou disponível para, pessoalmente, num encontro-convívio da Companhia, me retratar. À sua consideração.

Antes de prosseguir, e se me permite, gostava de deixar algumas considerações gerais que, penso, na minha maneira de ver e de estar, ajudarão a melhor entender e a ajuizar a essência do que está em causa quando , na sequência do facto acima referenciado, o senhor Coronel se permite, ainda que de forma aparentemente cuidada, lançar urbi et orbi e através deste meio (de veteranos de guerra na Guiné)  dúvidas sobre a minha conduta médica no terreno, pondo em causa a minha dignidade e obrigações profissionais, assim como a minha atitude enquanto pessoa em relação aos que necessitassem da minha ajuda.

Uma delas diz respeito a um aspecto que é importante trazer para aqui e que merece meditação serena e isenta — a da prática médica na guerra, em situações como as de Gadamael ou outras semelhantes , em que o risco de vida é igual para todos, e só há um médico.



Não vou desenvolver este tema agora, mas gostaria de o poder discutir a frio e estarei sempre disponível para o fazer logo que achado pertinente. Em qualquer fórum.


Deixe-me, contudo, perguntar-lhe: acha que o médico, o único existente neste cenário, não deve pensar na sua segurança, não terá que avaliar o risco, se há condições para poder ser médico, vivo e não morto ou ferido, incapacitado? E se ele for ferido? Quem o trata? E se morrer… será útil a alguém, onde ele era preciso?


Imagine um cenário como o que descrevo (não, não sou eu): médico, miopia incapacitante sem óculos (cerca de seis dioptrias em cada olho), em pânico com os rebentamentos a correr para uma vala ou pseudo-abrigo, de noite, com medo de cair, ficar sem óculos e sem autonomia, que ferido só contará com os cuidados dos enfermeiros, sem possibilidade de evacuação nocturna (salvo em raríssimos casos)… Não, senhor Coronel, sabe bem que este cenário não é filme!

Acha que os médicos, nestas circunstâncias ou idênticas, tiveram a segurança e as condições mínimas para actuar? 



Se calhar esta análise deve ser tomada na devida conta antes de qualquer juízo de valor, digo eu!

Eu estive em algumas situações destas e, não sei bem como (talvez a ainda resistência dos esfincteres), consegui resolvê-las.

Com medo, MUITO MEDO e ANGÚSTIA… Herói? Não, em absoluto. Desejei até, muitas vezes, ser ferido para poder ser evacuado.(Síndrome muito comum em todas as guerras, como sabe).

Às vezes interrogo-me se estas perguntas terão razão de ser, sentido, para um militar de carreira que foi estruturado para situações que, para nós, comuns mortais, era suposto nunca vivermos. Só na ficção. Não sei, sinceramente. (Não entenda que estou a desculpar ou ilibar seja quem for. Estou só a contextualizar.)

Perguntará: Porque não fugiram à mobilização como outros? Porque foram? 



É uma pergunta para a qual ainda não tenho resposta. Mas penso que andará à volta desta:  por ignorância da monstruosidade e aberração que ia vivenciar e, como disse um colega, PARA VIVER EM LIBERDADE NA MINHA TERRA.

Feitas as considerações que me propus e que, penso, importantes no contexto, vou responder às suas insinuações.

Pondo de lado “Este médico deve ter andado distraído durante 11 meses…” ( o senhor Coronel sabe que a guerra na Guiné foi uma distração permanente para os milicianos ,incluindo os médicos!), a sua indignação não pode legitimar, de modo nenhum, que tente pôr em causa, mesmo que insinuando só, a minha conduta como médico, no teatro operacional. Um parênteses só para esclarecer: eu nunca estive em Bissau com médico (a não ser agora,  a fazer formação posgraduada a médicos do Hospital Simão Mendes, antigo hospital civil). Estive sempre colocado em aquartelamentos do sul e só no último mês de comissão em Bolama.



A minha conduta como médico pode ser testemunhada pela hierarquia militar de quem dependia e, que eu saiba, está toda viva, felizmente:

(i) Em Cacine era comandante o cap Magalhães (não sei que posto terá agora), em Bedanda o cap Ayala Botto (depois ajudante do Gen Spínola);



(ii) a CCS de Catió, minha Companhia,  era comandada pelo major Vieira Correia (com quem ainda me encontro quase anualmente na reunião convívio ), em Tite o major Valente, o major Castanheira 2ºcmdt;


(iii) Como disse,  passei o último mês em Bolama, mas não me lembro do nome do comandante; mas estive lá algum tempo com o agora Gen Carlos Azeredo com quem também ocasionalmente me encontro ainda.

Como complemento, (passe a imodéstia,)  acrescento que me foi atribuído um louvor pelo cap Ayala Botto, a nível de Companhia, e outro pelo Com-Chefe (não sei se é assim que se diz), este por proposta do Cmdt de Tite, major Valente, ambos a dar testemunho da minha estrura pessoal e do meu desempenho, quer a nível militar, quer em relação à população civil.(Infelizmente não posso apresentar esses documentos agora porque mudei de casa e o arquivo morto está ainda encaixotado e na aldeia; logo que estejam à mão, penso que no Verão, terei muito gosto em lhe enviar uma cópia, para que conste).



Se outra prova não houvesse, penso que o anteriormente dito me ilibaria das suas insinuações sobre a minha conduta como médico( eu poderia andar distraído, mas as personalidades que acabo de referenciar … todas, e os louvores que recebi por quase 20 meses de mato, por certo não).


Mas, para que fique claro, na data em questão [, 8 de Maio de 1971,] eu já estava colocado em Bedanda  já há meses.

Portanto, o senhor Coronel, por um erro involuntário que cometi (que, repito, me constrange e pelo qual me penitencio) , e sem que as situações em causa possam ter qualquer relação 
 de um lado um erro involuntário de data e a convicção que as minhas recomendações teriam servido para alguma coisa, do outro uma situação dramática, com mortos e feridos e o suposto não cumprimento por parte de um médico dos seus deveres profissionais, independentemente de todos os condicionalismos do momento  põe em causa o meu sentido de dever para com o meu semelhante e a minha dignidade profissional 

“….queira Deus que o autor da falsidade não seja o médico que ocasionalmente em Cacine, se recusou…”. Porquê eu?  pergunto-lhe.  No Batalhão havia mais médicos e, “ocasionalmente em Cacine “  passavam outros médicos.

O que o fez, embora interrogando-se, ao lançar para a praça pública o meu nome profissional 
 AMARAL BERNARDO  colado a uma situação completamente fora do contexto, é incompreensível (para não adjectivar mais) e altamente estigmatizante para mim.


Mesmo com a dúvida, o senhor Coronel teria que tentar certificar-se, com recato e discrição, da veracidade ou não dessas suas INTERROGADAS DÚVIDAS.

Para minha informação — porque não foram apurados os factos no momento em que aconteceram? por certo fez esses diligencias? Porque nunca se soube o nome do médico? O senhor afirma que o "proibiu” (mas não foi em abstracto, teve que ser um médico em concreto) de voltar a Gadamael ? De 8 de Maio  de 1971 a Fevereiro de 1972, não foi mais nenhum médico a Gadamael ? E,  se foi outro, nunca conversaram sobre o assunto?

Para além de ter família e amigos, como toda a gente, sou formador de médicos (de alunos e na posgraduação, incluindo médicos em Bissau, como já referi).Que lhes responderei quando me questionarem por constar que foi lançada a suspeita, num blog de veteranos de guerra, de me ter recusado a prestar assistência a feridos graves? E a todos aqueles que estiveram comigo na guerra, que me deram a sua amizade e solidariedade e em mim confiaram ?



Lamento e respeito o sofrimento que esta situação lhe causou e expressa de forma pungente forma no in+icio do parágrafo: “É com muita dor que, após 41 anos, sou obrigado a recordar e trazer à tona do meu íntimo uma das piores noites que tive em combate….” 

Saberá , contudo, que os flash back (passe o anglicismo) são parte integrante de quem passou por traumas violentos e que estamos (eu estou) sujeitos a tê-los quando existem condições desencadeantes. 



Sem querer comparar o que não é comparável, também vivo, neste momento, duas das mais marcantes vivências da guerra, da minha guerra (todos nós temos a nossa guerra, mesmo quando no mesmo território, e no mesmo espaço temporal):

(i) A minha primeira ida a Gadamael. De forma resumida e poupando detalhes 
— recém- chegado a Cacine , para iniciar a comissão, no do dia seguinte à tarde tive que ir para Gadamael. A informação que me foi dada, é que tinha havido na véspera um violentíssimo ataque, com ida ao “arame” dos guerrilheiros e que havia baixas. Periquito, sem penugem ainda sequer, fui e, ao chegar, dei conta que tinha entrado na guerra: chão e algumas paredes das instalações do aquartelamento com os sinais elucidativos da violência da noite anterior, três militares mortos ( executados a tiro por um guerrilheiro pela abertura superior de uma Daimler imobilizada junto ao arame por fogo IN ; um outro militar não foi morto por ter ficado debaixo dos companheiros ; sem ferimentos físicos , foi evacuado em estado de choque e de profunda alienação mental);  pessoas esgotadas, transtornadas…. Surrealismo puro para quem ainda estava em estado de graça.

Fui ajudado a começar a estar naquele mundo ajudado pelo acolhimento que o cap Assunção Silva e seu pessoal me dispensaram, apesar das circunstâncias! E lá fiquei nessa noite.

(ii) Em Cacine esperávamos nesse domingo a chegada do cap Assunção Silva. Vinha almoçar connosco a convite do cap Magalhães .As horas passaram, chegou a hora combinada para almoçar… mas não veio! Veio a notícia brutal da sua morte em combate,  fora do aquartelamento, no princípio da manhã. Não havia feridos graves.

Ao fim da tarde cheguei a Gadamael( só com o condutor do sintex, como era hábito).O que senti, sinto…deixe que fique na minha intimidade.


Passei lá a noite com os demais da Companhia  e nessa noite, não pertencendo à companhia, oficial, só estava eu, o médico. O capelão, Mário de Oliveira, sediado em Catió, só teve voo de manhã.

Durante todo o dia e a noite, aquela gente, naquelas circunstâncias, esteve entregue e a si mesma e ao seu desespero. Comandava, no momento, com a serenidade, segurança e determinação possíveis, o Alf Mil Fontes que é e está no Porto.

“Pior do que dizerem mal de mim, é não falarem de mim.” Só não lhe agradeço o seu contributo para que eu não caia no esquecimento porque esta insinuação é 'FALSA e IMPERDOÁVEL'

“Nós só valemos o que os outros queiram que nós valhamos.” Mas não pode ser usada uma suspeição que é 'FALSA e IMPERDOÁVEL'.

Ao seu dispor, senhor Coronel.

Cumprimenta
Amaral Bernardo

P.S.-O Mário de Oliveira citado não é o da Lixa.

amaralbern@gmail.com
915676614 / 967070758 / 917745306(93)



____________


Nota de L.G.:

(*) 16 de Fevereiro de 2011 Guiné 63/74 - P7796: Os nossos médicos (21): É falso que a CCAÇ 2796 tenha sido evacuada de Gadamael para Bissau, por recomendação médica (Morais da Silva, ex-Cap Art)