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segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23802: In Memoriam (461): Braima Baldé morreu, aos 78 anos, no passado dia 18, foi meu soldado em Cufar, na CCAÇ 1621 e um amigo para a vida(Hugo Moura Ferreira)

 

Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > O Braima Baldé (1944-2022) e o Hugo Moura Ferreira.


Foto (e legenda): © Manuel Resende (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Lisboa > Chelas > Restaurante "Pelicano Dourado" > 1 de dezembro de 2007 > Almoço-convívio  de antigos combatentes da Guiné (de um lado e do outro).   O restaurante "Pelicano Dourado" era então propriedade de Joaquim Djassi  (imfelizmente já falecido em 19/12/2010)  ficava na Zona J de Chelas, em Lisboa. A cozinheira era a esposa do Djassi, a dona Leontina Pontes, natural de Catió.

Da esquerda para a direita: A. Marques Lopes, o António Pimentel, o Xico Allen (falecido esre ano), o Braima Baldé, o Hugo Moura Ferreira. A foto deve ter sido tirada pelo Joaquim Djassi com a máquina do Hugo Moura Ferreira..



Lisboa > Chelas > Restaurante "Pelicano Dourado" > 1 de dezembro de 2007 > Almoço-convívio de antigos combatentes.

Na foto, da esquerda para a direita: António Pimentel, Marques Lopes, Braima Baldé (de pé) e Joaquim Djassi. A foto deve ter sido tirada pelo Xico Allen. Inimigos de ontem, amigos de hoje: o fula Braima Baldé foi ferido em combate em Buba, foi soldado na CCAÇ 763, entretanto substituída pela CCAÇ 1621 onde esteve o Hugo Moura Ferreira... Por sua vez, o biafada Joaquim Djassi foi um guerrilheiro do PAIGC

Foto (e legenda): © Hugo Moura Ferreira  (2007). Todos os direitos reservados.  



Cascais > Carcavelos > Junqueiro > Hotel Riviera > Magnífica Tabanca da Linha > 32º almoço-convívio > 20 de julho de 2017 > Em primeiro plano, o Braima Baldé, seguido do Hugo Moura Ferreira e o Marcelino da Mata (1940-2021)... O Zé Manel Diniz (1948-2021), de pé, em segundo plano. Náo sabemos de quem é a foto. E
m princípio, deve ser atribuída ao Hugo Moura Ferreira, ex-alf mil CCAÇ 1621, Cufar, CCAÇ 6, Bedanda, e 1º Rep/QG/CTIG, Bissau, 1966/68.


1. A triste notícia foi-nos dada pelo o nosso camarada Hugo Moura Ferreira, na sua página do Facebook,  em 18/112022, às 00:01:

Caros Amigos,

Estou triste! Faleceu hoje o meu Amigo, que também fazia parte deste "Magnífico Grupo de Pessoas". [Referência à Magnífica Tabanca da Linha]. O Baima Baldé, que faria 79 anos em Janeiro de 2023. Tenho conhecimento que faleceu em casa, sem sofrimento, na Paz de Deus.(*)

Foi meu soldado em 1966, em Cufar, na CCaç 1621 e mantivemos uma amizade profunda e longa que envolvia as respetivas Famílias.

Deixo-vos 3 fotos de confraternizações, acima reproduzidas

(i) Uma em Chelas, há uns anos, no restaurante "O Pelicano Dourado" (**), do Joaquim Djassi, que já partiu (***), onde alguns de nós fazíamos encontros, com receitas guineenses.

(ii) Outra de um dos nossos convívios em que ainda tínhamos entre nós o José Diniz e o Marcelino da Mata [Achamos que a foto é do 32º almoço-convívio da Tabanca da Linha, realizado em 20 de julho de 2017 no Hotel Riviera, Junqueiro, Carcavelos, Cascais.. O editor LG ];

(iii)  e mais uma do nosso 48º Convívio, no Restaurante Caravela d' Ouro, em Algés

Pode ser que se encontrem no Além e consigam fazer uns Convívios de vez em quando!

2. Comentário do editor LG:

Em nome de toda a Tabanca Grande, apresento os meus sentidos pêsames à família do Braima Baldé e aos seus camaradas e amigos mais íntimos, a começar pelo Hugo Moura Ferreira. 

Embora fosse membro da Tabanca da Linha, o Braima não pertencia formalmente à Tabanca Grande, como a generalidade dos nossos amigos e camaradas guineenses, que vivem na diáspora, e momeadamente em Portugal. 

Há barreiras a vencer, a começar pela tão falada "infoexclusão"...Há barreiras económicas, técnicas, sociais, culturais, linguísticas, que os impedem de participar das nossas iniciativas, dos convívios ao blogue... 

Sabem lidar com o telemóvel, mas têm mais dificuldade em chegar ao nosso blogue. Se calhar, devíamos fazer muito mais por eles...que nem sequer sabemos por onde andam, onde vivem, o que fazem, como vão sobrevivendo. 

Têm  que ser os seus amigos, e antigos camaradas dearmas, como o Hugo Moura Ferreira, a dar-nos notícias deles... Infeliuzmente, esta é muito triste. A da última despedida do Braima Baldé. Fica, em todo o caso, registada no blogue dos amigos e camaradas da Guiné.

Há 3 referências, no nosso blogue, a um outro Braima Baldé, que foi alf mil 'comando', na 1ª CCmds Africanos e depois na CCAÇ 21,  citado pelo Amadu Djaló (aqui n blogue, em depoimento recolhido pelo Virgínio Briote).

O Braima Baldé (1944-2022) será referenciado no nosso blogue como Braima Baldé (II) (descritor). Mas como não teve qualquer interaçao directa connosco,  não tomamos a liberdade de o integrar na Tabanca Grande, a título póstuo, como temos feito nalguns casos. A menos que o Hugo MouraFerreira tenha fotos e histórias do Braima como combatente,  que queira e possa partilhar connosco. De qualquer modo, o Braima não fica na vala comum do esquecimento. 

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domingo, 4 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23587: (Ex)citações (414): Um "presente envenenado": a minha transferência da CCAÇ 1621 para a CCAÇ 6, em 1/7/1967, em substituição do alferes miliciano acusado de roubar o arroz às "mulheres do mato" (Hugo Moura Ferreira)



Nota de 11 de julho de 1967, da 1ª Rep/QG/CTIG, com a ordem de transferência do alf mil Hugo Fernando Moura Ferreira, da CCAÇ 1621 para a CCAÇ 6.

Foto ( e legenda): © Hugo Moura Ferreira (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem, de hoje, às 9h36,  do nosso amigo e camarada, um histórico da Tabanca Grande (de que é membro desde 22/12/2005), Hugo Moura Ferreira, ex-alf mil CCAÇ 1621, Cufar, CCAÇ 6, Bedanda, e 1º Rep/QG/CTIG, Bissau, 1966/68:

Assunto  - "Panteras à Solta" e outras coisas

Olá, Luís Graça.

Desejo que as melhoras estejam a ser constantes e sentidas!

Já comecei a ler o livro "Panteras à Solta", de Manuel nrdezo, pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel TRindade, ed. autor, 201o, 399 pp.) que me está a entusiasmar. 

Há coisas que desconhecia e outras de que apenas ouvi falar nelas de forma superficial, mas algumas conheço-as bem. Nomeadamente aquela em que tu mencionas no P23565 (*):

"... quando um dos seus alferes milicianos, feito com um comerciante local, roubou arroz às mulheres do mato. Foi exemplarmente punido com 3 dias de prisão simples, expulso da companhia e transferido para Catió" (...).

Ora, eu acabei pro ser um interveniente directo, nessa hist´roia, como te comprovo com o documento anexo. O facto é que,  devido à ocorrência, fui eu que acabei por ser colocado na CCaç 6, quando a minha CCaç 1621 foi transferida de Cufar para o Cachil.

No fundo, analizando bem a situação, o prevaricador que era o Alf  Mil______________ [omite-se o nome, por razões óbvias, LG] acabou por sair beneficiado, pois deixou de integrar uma unidade altamente operacional, para integrar uma de quadrícula "vulgar de Lineu" que por essa razão viu a sua comissão reduzida em 4 meses. 

Como deves saber, as Companhias formadas na Metrópole tinham uma comissão de 18 a 20 meses e os militares das Companhias da Guarnição Territorial, que ali eram colocados em rendição individual, "abichavam" 24 meses.

Foi isso que me aconteceu a mim, que não tinha sido castigado e acabei por sê-lo. porque a minha CCaç 1621, regressou em Agosto/1968 e eu acabei por embarcar em Novembro.

E a recordação leva-me à altura em que recebi a carta que te envio em anexo. Toda a malta, me veio dar os parabéns, por ter sido escolhido entre tantos alferes pertencentes ao Batalhão de Catió, que eu, sabendo a fama operacional que a CCaç 6 tinha, sempre fui respondendo com um "Xiça".

E lá fui... E não me arrependo, pois fiquei "agarrado" àquela terra e àquela gente precisamente por esse facto. Tal nunca teria sucedido se eu me tivesse mantido na minha Companhia de origem.

Mas quando fui, tomei uma posição que me levou a apresentar-me ao Major Monteny, Chefe da Rep. do Pessoal, do QG, colocando-lhe a questão da injustiça da situação. Felizmente ele compreendeu e aceitou o meu pedido(!) de que, quando a CCaç 1621 fosse para Bissau a aguardar embarque, eu também seria transferido para a capital, deixando Bedanda.

Isso veio a verificar-se. Eles no QG cumpriram o prometido.

Mas (há sempre um mas!) quando me apresentei no Quartel General, foi em má altura. Como o AlferesTesoureiro, da Chefia da Contabilidade, tinha ficado "cacimbado" e evacuado para Lisboa, a vaga estava ali mesmo à minha espera. Agora, imagina um atirador, sem formação contabilística, económica ou financeira, a ocupar o lugar do Tesoureiro do QG, para toda a Guiné.

Aqui tenho que fazer justiça a dois camaradas que muito me apoiaram. Foram o Alf Verde e o Alf Oliveira (filho dos donos das máquinas de costura Oliva, de São João da Madeira). Ao ponto de passarem a última noite, antes do meu embarque, na pesquisa de um erro de contas de 20 centavos, para eu poder passar o serviço e as contas em condições e ser autorizado a regressar. Não os esquecerei!

Mas foram 4 meses interessantes. A minha Mulher, com quem tinha casado 2 meses antes de embarcar para a Guiné, depois de 8 anos de namoro, com quem não tinha podido gozar a Lua de Mel, dado que estava no IAO, quando formei companhia, em Abrantes, no RI2, acabou por ir viver comigo esses 4 meses. E acompanhou-a o meu filho mais velho, que nasceu precisamente em Julho/67, coincidindo com a minha mudança da CCaç 1621, para a CCaç 6. 


Guiné > Região de > Cufar > CCAÇ 1621 (1966/68) > s/d > Coluna de Sangonhá para Cacine> Foto disponibilizada por pessoal da CCAÇ 1621, por ocasião do  convívio de Junho de 2006).

Foto  (e legenda): © Hugo Moura Ferreira (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

(...) Tenho outras questões que aqui vou focar, embora de forma sucinta.

1ª - Curiosidade;

Quando os alunos da Academia Militar terminavam os cursos, vulgarmente eram destacados, por 1 ano, para as Companhias, a fim de fazerem o Tirocínio. Foi o que aconteceu ao Cap Gastão Silva, que criou o "Sete do Cantanhez". Esteve comigo, uns anos antes, como Alf do quadro, na Ccaç 6. Tal como ele passou um outro Alf que já está na reserva como Cor., era o Alf Paninho Souto.

2ª - Curiosidade;

No meu tempo, apenas um ou dois meses, após a saída do Cap Aurélio Trindade, que eu não conheci, já não havia destacamento na povoação comercial.

À entrada da povoação existia, sim,  uma casa junto à Ultramarina, do Saldanha, onde dormiam 2 ou 3 Alferes. Já não me lembro. Eu sei que dormia ali!

3ª - Curiosidade:

Quanto à questão das Panteras 'versus' Onças, não sei exatamente o que se passou e levou o Cap Renato Vieira de Sousa (que sucedeu ao Aurélio Manuel Trindade) a proceder a essa alteração, mas irei tentar saber junto dele e depois informarei.

Por hoje aqui me fico, enviando um Abraço amigo! (**)

Hugo Moura Ferreira.
______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 29 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23565: Notas de leitura (1481): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte III: O Tala Djaló, cmdt do Pel Mil 143 e depois fur grad 'comando' da 1ª CCmds Africana, que virá a ser fuziladdo em Conacri, na sequência da Op Mar Verde

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16164: Dossiê Guileje / Gadamael (27): Tenho cada vez mais a certeza de que andaram a gozar comigo - ou connosco - durante 13 anos (António J. Pereira da Costa, cor art ref (ex-alf art, CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-cap art e cmdt, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74)


Guiné > Região de Tombali > Sangonhá, a sul de Gadamael-Porto > c. 1967/68 > Vista aérea do destacamento, "uma espécie de fortim do faroeste", com um heliporto, uma pista de aviação, barracões e três poilões... Na altura  estava a chegar uma coluna militar [lado esquerdo]. Foto, provavelmente tirada de uma aeronave DO 27, de autor desconhecido. Proveniência: Álbum fotográfico Guiledje Virtual. Cortesia do nosso saudoso amigo Pepito (1949-2014), cofundador e líder da AD - Acção para o Desenvolvimento (Bissau) até à data da sua morte (, em Lisboa)

Foto: ©  / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados (Edição e legendagem: L.G.).




Guiné > Mapa da província > Escala 1/500 mil (1961) > Detalhe: Posição relativa de Sangonha e Cacoca, as nossas posições mais próximas da fronteira com a Guiné-Conacri, a sudeste. Estes dois destacamentos e tabancas foram abandonados pela CCAÇ 1621 em 29/7/1968, por ordem de Spínola.

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015)


1. Comentário de António José Pereira da Costa ao poste P16152 (*)

Cor art ref (ex-alf art , CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-cap art e cmdt, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74)

Olá,  Camaradas:

Considero que o abandono controlado de Sangonhá, Cacoca e, posteriormente, Ganturé, preparou o que viria a suceder em 1973. 

Sei, porque assisti à reunião, que o brigadeiro Spínola queria recuperar tropa da quadrícula para a intervenção e, por isso, contra a opinião do "meu capitão", determinou o abandono imediato de Sangonhá e Cacoca. Por fim, já em janeiro de 1969, Gandembel foi-o também e Mejo, onde chegou a haver uma companhia sediada, já o tinha sido. 

Podemos dizer que, em janeiro de 1969, a extremidade sul  da Guiné estava guarnecida por Cacine, Cameconde, Gadamael e Guileje o que é manifestamente pouco, até em termos de apoio mínimo. 

Tenho para mim que o controlo da estrada Cacine-Guileje era essencial para a manobra das NT, mas muito difícil de obter e manter. A superioridade do In em termos de apoio de fogo (artilharia) foi sendo cada vez maior (parece que com apoio topográfico e observação) e a possibilidade de cada uma das companhias actuar, com êxito, no seu sector, restringindo a passagem ao In era muito pequena. Além disso, o In não necessitava de residir na área, a não ser a sul de Cacine onde se estabelecera desde o início e ficou. 

A situação táctica tornou-se numa bomba-relógio que teria de explodir, mais tarde ou mais cedo.
Saliento que a capacidade de actuação do Comando do COP 5 era mínima, com três companhias dispersas, sem cavalaria (necessária para a movimentação das unidades) e sem qualquer unidade de intervenção que pudesse lançar no terreno numa acção mais elaborada. Podemos dizer que para além de boas(?) comunicações nada tinha que justificasse a sua existência. 

Já tenho pensado que alguém estava à espera de um "desenlace"...  Mas isto já é teoria da conspiração. 

Cacine era um bom local para desembarque de reabastecimento, especialmente material pesado, e juntamente com Gadamael concedia domínio sobre o rio e possibilidade de apoio de vária ordem.
Quanto à reunião de 15 de maio de 1973 só peca por tardia e eu não vejo como é que se poderia alterar de modo tão drástico e em tão curto espaço de tempo a FAP que operava na Guiné. A substituição das metralhadoras por canhões era elementar. Nunca supus que cada avião fosse tão mal armado, neste campo.

Sabemos que desde o começo se queria "embaratecer a guerra". Assim chegou-se, de facto a um pacto de silêncio em que a alta hierarquia das FA e "os políticos". Creio que aqueles não queriam levantar ondas junto daquelas. Já me referi ao facto de a nossa artilharia ser ceguinha e surda, respondendo a olhómetro às iniciativas do In. Já nesse tempo existiam radares contra-morteiro e referenciação pelo som e luz, só que...

E outro exemplo é o radar ANTPS-1D da BA 12, que repousava tranquilamente a 12 metros de altura. Já se perfilava então a possibilidade de sermos atacados com os tais MIG e nas condições que o António resume. Para lhes fazer frente nada melhor que três unidades AA da II GM. Pode não ser eficaz, mas é histórico.

Isto se não acontecer um ataque aéreo com qualquer teco-teco ou com um Antonov a largar bombas à mão, pela porta do fundo, sobre um pequeno quartel da periferia. Não se riam porque isto foi feito na Guiné... pelas NT. Nunca entendi aquela da contracção do dispositivo nem vejo quais as vantagens. Será que se esperava que se pudesse vir a expandi-lo? Boa táctica esta do encolher para, mais tarde, esticar...

Kandianfara era já nossa conhecida, em 1968, assim como o Porto de Camassó (no Quitafine), mas não era atacável por estar fora do TN [, território nacional]! Outra coisa que não entendo, mas aceito.

Já noutro lugar escrevi que não houve guerra e que Portugal nunca declarou guerra a nenhuma potência estrangeira e, por isso,  o Senegal e a República Guiné eram países contra os quais só "para gastos de casa" havia acusações. 

O emprego de tropa especial [, BCP 12,] naquele sector, "só depois da casa roubada", causa-me apreensão. Será que o comando empenhou todas as suas reservas e não tinha nenhuma para acorrer a uma nova situação? Ou estabeleceu prioridades e só actuou no Sul de pois de ter resolvido (?) o problema do Norte.

De qualquer modo parece que ficou provado que uma boa antecipação ou, no mínimo, uma resposta pronta, poderia ter resolvido os problemas no Sul, no Norte e no Leste. Assim, foi sempre que atamancada uma solução, com as consequências que se conhecem. 

Tenho cada vez mais a certeza de que andaram a gozar comigo - ou connosco - durante 13 anos (11, no caso da Guiné).  Mas felizmente houve o 25 de Abril, senão teríamos outra Índia. Pior e não é difícil ver porquê. Na Índia éramos prisioneiros de um exército regular de matriz britânica. Na Guiné éramos os colonialistas, salazaristas, imperialistas e lacaios de qualquer coisa que não me ocorre, o que era um problema, já que o nosso governo era relapso a aceitar os seus falhanços e adorava heróis mortos.

Um Ab e desculpem qualquer coisinha. (**)
António J. P. Costa
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sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15226: (Ex)citações (296): O abandono de Sangonhá e Cacoca, pela CCAÇ 1621, foi a 29 de julho de 1968 (Mário Gaspar, ex-fur mil art MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)


Guiné > Regão de Tombali > c. agosto de 1968 > Sangonhá destruída. Aqui está a prova do que restou de Sangonhá. Esta foto tem Direitos de Autor. Foi tirada com uma CANON

Foto (e legenda): © Mário Gspar (2015). Todos os direitos reservados (Edição:: L.G.).



Guiné > Região de Tombali > Sangonhá, a sul de Gadamael-Porto > c. 1967/68 >  Vista aérea do destacamento e da sua pista de aviação, na altura em que estava a chegar uma coluna militar [lado esquerdo]. Foto provavelmente tirada de uma aeronave DO 27. (*)

Foto: Autor desconhecido. Álbum fotográfico Guiledje Virtual.  Cortesia de: © Pepito/ AD - Acção para o Desenvolvimento (Bissau) (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados (Edição e legendagem: L.G.).




1. Mensagem, com data de 6 do corrente, do Mário Gaspar [ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68]

Assunto - Abandono de Sangonhá e Cacoca

Camarada Carlos

Penso ser preferível indicares a data de 29JUL68, visto ser a data oficial da CCAÇ 1621.

Na História da CART 1659 pode-se ler somente:

“300 Indivíduos vindos de Sangonhá e Cacoca para Gadamael durante o mês de JUL68 onde construíram 44 moranças”. Não refere a data.

Não fica mal acrescentares as Histórias das Companhias 1620 e 1621 – paguei as cópias no AHM.


Julgo não ficar mal publicar-se este último texto e com a minha dúvida.

Tenho a certeza que no dia que abandonei a segurança foi o abandono de Sangonhá, Cacoca e a CART 1659 foi atacada.

Um abraço, Mário Vitorino Gaspar




Guiné > Mapa da província >  Escala 1/500 mil (1961) > Detalhe: Posição relativa de Sangonha e Cacoca, junto à fronteira com a Guiné-Conacri, a sudeste. Estes dois destacamentos e tabancas foram abandonados pela CCAÇ 1621 em 29/7/1968

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015)


2. O abandono de Sangonhá e Cacoca, pela CCAÇ 1621, foi em 29 de julho de 1968:

Caros camaradas

Para que o assunto fique esclarecido, em relação à extinção de Sangonhá e Cacoca, dou o meu parecer. A vista de avião da Região de Tombali - Sangonhá, deve ser de 1967/68. 

A CCAÇ 1620,  comandada pelo cap mil inf  Fernando António de Magalhães Oliveira foi rendida pela CCAÇ 1621, comandada por cap mil inf  Eduardo de Oliveira e Silva e cap graduado  art Artur Olímpio Sá Nunes, e foi esta Companhia, a CCAÇ 1621, a abandonar estes aquartelamentos, portanto em 29JUL1968, foi a retirada das forças estacionadas em Sangonhá e Cacoca e consequente extinção daquele Subsector.

Em 26JUL68 numa coluna de reabastecimentos, efectuada por elementos da CART 1659 a Guileje, rebentou uma mina A/C e tivemos um ferido grave e 7 feridos ligeiros e perdemos uma GMC. Não estive na mesma,  como é de calcular, montava a tal segurança.

Sucede que na História da Unidade da CCAÇ 1621 consta o abandono a 29JUL78 – é erro de certeza – e será 29JUL68.

Tenho dúvidas, julgo ter sido em 28JUL68, mas é para esquecer. Carlos,  podes não publicar esta parte.

Estive a comandar segurança – não sei bem quantos dias – enquanto 300 civis vindos de Sangonhá e Cacoca transferiram os seus haveres para Gadamael Porto, onde construíram 44 moranças. Os restantes civis foram para Cacine e não sei se seguiram alguns para Cameconde.

Na tal data, a data de 29JUL68, quando passava por mim a última viatura de Sangonhá, perguntei ao condutor se era mesmo a última, e era. Esperei por ordens de Gadamael para abandonar a segurança. O Radiotelegrafista estava junto e aguardava por ordens. Como não as recebesse,  chamei os amigos e camaradas Furriéis Milicianos e resolvemos – já que era eu que comandava o dispositivo de segurança – que regressássemos. Assim foi, mas desconfiado, resolvi dizer ao pessoal que ao chegarmos a Gadamael, e por brincadeira:
– Fazem um batimento com o pé esquerdo e corram!

Assim sucedeu, dei mais uns passos e o Radiotelegrafista acompanhou-me, tendo o Capitão, que não devia estar a ver bem me dissesse:
– Quem lhe deu ordens para abandonar a segurança? – Respondi:
– Fui eu, se era quem comandava!
– Vai chamar os homens e regressa à segurança!

Respondi que não o faria, tinha palavra e mandara os homens embora e para o banho e jantar. Então respondeu um Capitão que não era a mesma pessoa que conhecera, eu fui decerto o primeiro elemento da CART 1659 que ele, meu amigo, conheceu:
– Então vá sozinho!

Avancei e o Radiotelegrafista acompanhou-me,  pedindo que regressasse, eu sempre em frente e o meu camarada não me deixou, perguntando o que faríamos se surgisse o PAIGC. Sem querer tinha ao meu lado um elemento de ligação com Gadamael. Aproximou-se uma viatura com uns homens comandados por um camarada e amigo Furriel Miliciano que transmitiu ter o Capitão dito para eu regressar a Gadamael. Recusei dizendo que só recebia ordens pelo rádio. No cruzamento com o destacamento de Ganturé, o Alferes Miliciano que comandava o Grupo de Combate do nosso destacamento em Ganturé, diz-me para regressar. Continuei a andar, acompanhado pelo Radiotelegrafista, mais os homens de Gadamael e Ganturé.

Então recebo ordens para ir para as origens e assim fiz. Ao chegar a Gadamael, estava o Capitão que nada disse. Fui beber as minhas sete cervejas de seis decilitros fresquinhas, tomei banho e sentei-me para jantar.

Somos atacados com fúria e desandaram. Será que não passámos por eles? Acredito que sim.

Estávamos quase no final da comissão. O amigo Capitão devia estar noutra.

Mário Vitorino Gaspar

Furriel Miliciano, Atirador e Artilharia e MA
Gadamael Porto
CART 1659 – JAN67 a OUT68

PS - Voltei a comandar militares da CART 1659, pouco tempo depois da retirada, após escutarmos em Gadamael Porto, fortes e prolongados rebentamentos em Sangonhá: ainda hoje os tenho na memória, fomos a Sangonhá. O que vimos: restavam restos de paredes, um cão e também um gato. O cão por lá ficou, o gato depois de beber leite condensado com água, morreu em Gadamael. Aqui está a prova do que restou de Sangonhá. [Vd. foto acima].




Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > CCAÇ 1621 (1966/68) > 1968 > Picada de Sangonhá para Cacine.

A CCAÇ 1621, que esteve antes em Cufar e Cachil, terminou a sua comissão em Sangonhá[, em 29 de julho de 1968, data do abandono  do aquartelamento e tabanca. Seis meses depois, os guerrilheiros do PAIGC foram, massacrados pela FAP,  em 6 de janeiro de 1969, quando atacavam Ganturé,  apartir da antiga pista de Sangonhá. Terá havido 36 mortos, e muitos feridos.


Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > 1968 > Mulheres de Sangonhá, ao tempo da CCAÇ 1621.



Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > CCAÇ 1621 (1966/68) > Coluna de Sangonhá para Cacine (1) . 


Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > CCAÇ 1621 (1966/68) > Coluna de Sangonhá para Cacine (2).





Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > CCAÇ 1621 (1966/68) > Coluna de Sangonhá para Cacine (3): ao centro, o ex-fur mil Correia Pinto.

Depois de estar em Cufar e Cachil, a CCAÇ 1621 foi terminar a comissão em Sangonhá, que ficava a sul de Gadamael-Porto. O aquartelamento (e a tabanca) foram abandonados pelas NT em emados de 1968.

Estas fotos foram cedidas por antigos camaradas de armas ao Hugo Moura Ferreira, entre eles o ex-Fur Mil Correia Pinto. Foram-nos enviadas em julho de 2006, na sequência do convívio anual do pessoal da CCAÇ 1621, em 2 de julho de 2006.

O Hugo Moura Ferreira esteve na Guiné de novembro de 1966 a novembro de 1968, como alf mil inf, primeiro na CCAÇ 1621, em Cufar e Cachil (de novembro de 1966 a junho de 1967), e depois na CCAÇ 6, em Bedanda (de julho de 1967 a julho de 1968). O Hugo já não acompanhou a companhia, com destino a Sangonhá, por ter sido transferido para Bedanda (CCAÇ 6 - antiga 4ª Companhia de Caçadores) . A grande maioria do pessoal desta unidade era do Minho e Trás-os-Montes. O Hugo esteve pela primeira vez com eles, no convívio de 2 de julho de 2006  (***)..

Fotos (e legendas): © Hugo Moura Ferreira (2006). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]

3. Fichas de unidade: As páginas 360 e 361 da Resenha Histórico Militar da Guiné das Companhias:

Companhia de Caçadores N.º 1620

Identificação CCAÇ 1620

Unidade Mobilizadora: RI 1 – Amadora

Comandante: Capitão Miliciano de Infantaria Fernando António de Magalhães Oliveira Divisa: -

Partida: Embarque em l2NOV66; desembarque em 18NOV66

Regresso: Embarque em 16AGO68

Síntese da Actividade Operacional

Em 18NOV66, substituiu a CCAÇ 762 nas suas funções de segurança e protecção das instalações e das populações da área de Bissau, na dependência do BCAÇ 1876, efectuando, simultaneamente, uma instrução de adaptação operacional na região de Nhacra, de 25NOV66 a Dez66.

Em 05JAN67, rendendo, por troca, a CCAÇ 799, assumiu a responsabilidade do subsector de Cameconde, com um pelotão destacado em Cacine, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1861 e depois do BART 1896.

Em 01AGO67, por rotação com a CART 1692, assumiu a responsabilidade do subsector de Sangonhá, com um pelotão destacado em Cacoca, mantendo-se no mesmo sector do BART 1896.

Em 20MAR68, por troca com a CCAÇ 1621, assumiu a responsabilidade do subsector de Cachil, ficando então integrada no dispositivo e manobra do BART 1913, tendo entretanto, cedido um Grupo de Combate para reforço de forças daquele batalhão em operações, de 22MAR68 a 27ABR68.

Em 1JUL68, por retirada das forças aquarteladas em Cachil e consequente extinção do subsector, recolheu a Bolama, onde permaneceu até ao embarque de regresso.

Observações: Tem História da Unidade (Caixa n.º70 2.ª Div./4.ª Sec. Do AHM)

Companhia de Caçadores N.º 1621

Identificação: CCAÇ 1621

Unidade Mobilizadora: RI 2 – Abrantes

Comandante: Capitão Miliciano de Infantaria Eduardo de Oliveira e Silva e Capitão Graduado Artur Olímpio de Sá Nunes

Divisa:

Partida: Embarque em 12NOV66; Desembarque em 17NOV66

Regresso: Embarque em 18AGO68.

Síntese da Actividade Operacional

Em 19NOV66, foi colocada em Cufar, a fim de efectuar a instrução de adaptação operacional com a CCAV 1484. Seguidamente assumiu, em 27NOV66, a responsabilidade do referido subsector de Cufar, em substituição daquela subunidade, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1858 e depois do BART 1913.

Em 09JUL67, por rotação com a CART 1687, assumiu a responsabilidade do subsector de Cachil, no mesmo sector.

Em 20MAR68, por rotação com a CCAÇ 1620, assumiu a responsabilidade do subsector de Sangonhá, com um Pelotão destacado em Cacoca, passando a integrar o dispositivo e manobra do BART 1896 e depois do BCAÇ 2834.

Em 29JUL68 (a) por retirada das forças estacionadas em Sangonhá e Cacoca e consequente extinção daquele subsector recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso

Observações: Tem História da Unidade (caixa n.º 74 – 2,ª Div/4.ª Sec do AHM)

(a) – Consta, por lapso,  "1978",  na História da Unidade.


_________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 29 de setembro de 2015> Guiné 63/74 - P15176: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (14): Uma "visita de solidariedade" à Escola Piloto do PAIGC, em Conacri, dos "amigos suecos" Göran Palm e Beril Malmström, em novembro de 1969... Aparentemente não há qualquer relação com o episódio de Sangonhá, em 6/1/1969

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14479: (Ex)citações (271): Também estive na Op Bola de Fogo, de 8 a 14 de abril de 1968, no apoio à construção do aquartelamento de (e depois nos reabastecimentos a) Gandembel (Mário Gaspar, ex-fur mil MA, CART 1659, Gadamael, jan 67 / out 68)

1. Comentário de Mário Gaspar ao poste P14478 (*):

Camaradas e Amigos

Estive lá, nessa Operação…Esqueceram-se da CART 1659 ? (*)

Em determinadas circunstâncias fico bastante magoado, escrevi um livro, “O Corredor da Morte”, sem a intenção de ser Prémio Nobel, mas para falar sobre aquilo que me atormentava e atormenta que é o escândalo da História da Guerra Colonial não ser contada e ficar escondida e perdida. 

Ao editar o livro, já o poderia ter feito em 1996, e tinha editora, pretendi narrar, principalmente as situações em que participei, nunca como observador. O livro surge por solicitação, e nunca me preocupei com o português usado, mas com o que sentia e sinto. Cometi erros e assumo. Se existir uma outra edição, possivelmente vai existir, porque fiquei engasgado, atravessado na garganta, [farei as necessárias correções].

Vamos acreditar nas historietas que nos narram, ou seremos nós que devemos fazer a História ? Se não tivermos capacidade para o fazer,  vamos pedir ajuda a um amigo. Editei o livro para que surjam outros rostos para escreverem sobre as experiências do “G” de Guerra e “G” de Gadamael Porto, Guidage,  Ganturé, Guileje,  Gandembel e outos “G”. Ser chamariz.


Sobre a “Operação Bola de Fogo”, falo resumidamente
no meu Livro “O Corredor da Morte”,  nas páginas 172 e 173. Pois estive na “Operação Bola de Fogo”, de 8 a 14 de Abril de 1968, a Implantação de um aquartelamento no “corredor de Guileje” ou “corredor da morte”, Gandembel. 

Almocei, jantei e bebi cervejas, com o Furriéis Milicianos que iam abastecer-se a Gadamael Porto. Estivemos (eu também) nas descargas de todos os reabastecimentos e material destinados às forças empenhadas na operação e à montagem do novo aquartelamento, e apoiámos ao transporte dos mesmos até Guileje, com viaturas e respectivos condutores, em todas as colunas que, de Guileje, se efectuaram para Gandembel. Depois seguiu-se a Operação “Boa Farpa” a 5 e 6 Junho  (Reajustamento do dispositivo e escolta à coluna de reabastecimento no itinerário Guileje-Gandembel e inverso). Tivemos um condutor ferido e evacuado. 

A CART 1659 fez com a CCAÇ 1621, 12 colunas de reabastecimento de Abril a Julho de 1968 a Guileje. Na 11.ª coluna, efectuada em 28 de Junho, fomos vítimas de uma emboscada na via Ganturé-Guileje,  tendo o PAIGC sofrido 8 mortos confirmados e feridos. 

Na 12.ª coluna, efectuada em 26 de Julho de 1968, a CART 1659 foi vítima no rebentamento de uma mina A/C e accionada uma outra de que resultou e destruição de 1 viatura GMC e 1 ferido grave e 7 ligeiros, para as NT. Tenho fotos dele e do Cruzamento, num dia que apoiámos Guileje após um ataque do PAIGC. 

Sobre a construção da padaria em Gandembel foi o Soldado n.º 00747866, António Manuel Magalhães Mendes Cerejo, que era da minha Secção,  que colaborou no mesmo. Um bom soldado reguila, atrevido, mas um grande soldado. Conheci-o bem, ajudei um pouco para que melhorasse. Sei que foi um bom elemento que debaixo de fogo ajudou a construir o forno. 

Terminámos a Comissão em Outubro.
Tenho muito que contar, mas só pretendo dizer que sinto-me honrado por ter conhecido alguns desses homens, o sofrimento. Contarem os segundos de não escutar um simples tiro. Estive tempos infinitos no Cruzamento de Guileje para Gandembel. 

Escrevam, cada um de vós tem um pouco de história. (**)

Mário Vitorino Gaspar, 
Furriel Miliciano da CART 1659,
Gadamael Porto, de JAN67 a OUT68

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Notas do editor:


sábado, 24 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13189: Memória dos lugares (267): Cachil, na ilha de Caiar, a sudoeste de Catió, na margem esquerda do Rio Cobade



Guiné > Mapa da província > 1961 > Escala 1/500 mil > Pormenor > Posição de Cachil, na ilha de Caiar, a sudoeste de Catió... As ilhas de Caiar, Como e Catunco, estavam separadas do continente, a norte pelo Rio Cobade, a oeste pelo Rio Tombali, a leste pelo Rio Cumbijã, e a sul pelo oceano Atlântico... A ligação de Cachil (na margem esquerda do Rio Cobade)  a Catió fazia-se de barco, pelo Rio Cobade e depois pelo seu afluente, o Rio Cagopère (em cuja margem direita se  situava o porto exterior de Catió).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)



Guiné > Ilha do Como > 1964 > Op Tridente (de 14 de Janeiro a 24 de Março de 1964)

Infografia: © Mário Dias (2005). Todos os direitos reservados


"A designada Ilha do Como é, na realidade, constituída por 3 ilhas: Caiar, Como e Catunco mas que formam na prática um todo, já que a separação entre elas é feita por canais relativamente estreitos e apenas na maré-cheia essa separação é notória.

"Na ilha não existia qualquer autoridade administrativa nem força militar pelo que o PAIGC a ocupou (não conquistou) sem qualquer dificuldade em 1963. As tabancas existentes são relativamente pequenas e muito dispersas. Possui numerosos arrozais, o que convinha aos guerrilheiros pois aí tinham uma bela fonte de abastecimento, acrescido do factor estratégico da proximidade com a fronteira marítima Sul e o estabelecimento de uma base num local que facilitava a penetração na península de Tombali e daí poderia ir progredindo para Norte.

"Não tinha estradas. Apenas existia uma picada que ligava as instalações do comerciante de arroz, Manuel Pinho Brandão (na prática, o dono da ilha) a Cachil. A partir desta localidade o acesso ao continente (Catió) era feito de canoa ou por outra qualquer embarcação. A casa deste comerciante era, se não estou em erro, a única construída de cimento e coberta a telha.

"Portugal não exercia, de facto, qualquer espécie de soberania sobre a ilha. Tornava-se imperioso a recuperação do Como. Foi então planeada pelo Com-Chefe a Operação Tridente na qual foram envolvidos numerosos efectivos, divididos em 4 Agrupamentos (...), num total de cerca de 1200/1300 homens"


Fonte: Mário Dias > Guiné 63/74 - CCCLXXII: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): Parte I (Mário Dias) (15 de Dezembro de 2005)


Guiné > Região de Tombali > Carta de Catió > 1956 > Escala 1/50 mil >  Posição relativa da Catió, com os seus portos, interior (no Rio Cadime, afluente do Rio Capère) e exterior (no Rio Cagopère, afluente do Rio Cobade, que por sua vez liga(va) o Rio Tombali ao Rio Cumbijã).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014).





Guiné > Região de Tombali > Ilha de Caiar > Cachil > CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil (1964/66) > Desembarque no Cachil,  a norte da iha de Caiar,  princípio de Dezembro de 1965


Guiné > Região de Tombali > Ilha de Caiar > Cachil > CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil (1964/66) >  O cais de abicagem, feito de troncos de palmeira... Na foto,  a mascote da companhia, o Toby, de raça boxer, ferido em combate. .  Fotos do álbum do ex-alf mil João Sacôto).

Foto: © João Sacôto (2011). Todos os direitos reservados



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Porto interior (no Rio Cadime, afluente do Rio Cagopère) > Álbum fotográfico do nosso saudoso camarada Victor Condeço (1943-2010) > Foto 1 > " Aproximação ao porto interior de Catió no rio Cadime da lancha de transporte LP2, que fazia o reabastecimento diário do pão e da água ao Cachil na Ilha do Como [1967/1968]. ".



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Porto interior (no Rio Cadime, e não Cadima, afluente do Rio Cagopère) > Álbum fotográfico do Victor Condeço> Foto 2 > "- Lancha do Cachil LP2, em manobra de atracação ao cais do porto interior de Catió no rio Cadime. Neste dia [11 de Julho de 1967] os passageiros eram um pelotão da CArt 1687 em trânsito do Cachil para Cufar, onde renderia por troca outro pelotão da CCaç 1621, concluindo-se assim a troca das companhias".

Fotos (e legendas): © Victor Condeço (2010). Todos os direitos reservados.
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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13188: Memória dos lugares (266): Cachil, o meu suplício de Sísifo durante 30 dias (Benito Neves, ex-fur mil, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67)

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11139: Memória dos lugares (217): Cameconde, Cacoca, Sangonhá e Ganturé, em 1968, ao tempo da CART 1692 (António J. Pereira da Costa)

Foto nº 1 - Guiné-Bissau > Região de Tombali > Setor de Cacine >  Cacoca > CART 1692 (1968/69) > " Um do nossos condutores, o  António Andrade Júnior,  que, por opção, 'viviam'  em Cameconde. O outro era o Alcides Pereira de Lima (Unimog 404), de quem não sabemos nada".(*) 

A CART 640, a que se refere o monumento, foi mobilizada pelo RAP 2, partiu para o TO da Guiné em 25/2/1964 e regressou em 27/1/66. Passou por Bissau, Farim, Sangonha, Cacoca e Bissau. Comandante(s): Cap art Carlos Alberto Matos Gueifão; e cap art José Eduardo Martinho  Garcia Leandro.


Foto (e legenda): © António J. Pereira da Costa (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


 1. O nosso camarada António José Pereira da Costa (Cor art ref, ex-alferes de art na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; e ex-cap e cmdt das CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74). descreveu assim estes três sítios, com o rigor do geógrafo e o sentimento do etnógrafo:

(i) Só tenho fotos de Cacine e de Cameconde (*). A Ganturé nunca fui. A Sangonhá umas três ou quatro vezes e duas a Gadamael.

Tenho fotos de uma coluna ao limite do sector na estrada Cameconde-Sangonhá, quando fomos levantar três abatizes que o IN ali colocou. Em 26 de outubro de 1968 realizámos uma coluna pela estrada Cameconde - Ganturé para retirar três abatizes que o IN tinha colocado (um mangueiro e dois bisslões) e oito minas PMD - 6. Uma rebentou na roda traseira de um Unimog 404,  a penúltima viatura da coluna.

Foto nº 2

Numa das fotos [, nº 2,]   estou eu junto à traseira do Unimog no momento em que mudava o pneu.

Foto nº 3

Noutra foto [, nº 3]: eu, o João Almeida, encostados à Daimler do Pel Rec, e à direita da foto, o soldado Lameira que já nos deixou. Dos outros não me recordo do nome.


Foto nº 4

O João Almeida (o "Alce") levanta uma mina PMD-6 que estava logo ali. [, Foto nº 4].


Fotos do álbum do António J. Pereira da Costa, que era na CCaltura alferes QP da CART 1692/BART 1914 (Cacine, Cameconde, Sangonhá e Cacoca, 1967/69).

Fotos (e legendas): © António J. Pereira da Costa (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


(ii) Afinal tenho esta foto de um elemento da CArt 1692 em Cacoca [ Foto nº 1].  É o António Andrade Júnior, um dos condutores que, por opção, "viviam" em Cameconde. O outro era o Alcides Pereira de Lima (Unimog 404), de quem não sabemos nada.

Este também tinha a seu cargo a manutenção do motor da luz em Cameconde. Tinha por alcunha "O Cauteleiro", tal como seu pai a tivera. Os filhos dele já foram a um encontro da CArt para conhecerem os camaradas do pai que faleceu cedo.

[Informação fornecida por email em 21/2/2013]

(iii) Memória de Cacoca (**)

(...) Em 1968, Cacoca era um daqueles lugares onde parecia não haver guerra. Dependente da Companhia sediada em Sangonhá, era um destacamento de nível Gr Comb, resumindo-se a uma pequena tabanca com pouco mais de duzentos habitantes.

O quartel era um pequeno recinto, quase um quintal, com uma vivenda de alvenaria, tipo colonial, ao centro. Nessa vivenda tinha funcionado uma daquelas lojas que só existiam ou ainda existem em África. Um daqueles estabelecimentos onde era possível comprar livros do Erskine Caldwel ou pregos de meia-galeota; garrafas de vinho verde ou pilhas para lanterna; panos com que as mulheres se cobriam ou tabaco americano que não se encontrava em Lisboa, enfim tudo ou quase tudo...

A loja ou “cantina” pertencera a um comerciante europeu a quem chamavam o Toneca e que, naquela altura, já só tinha estabelecimento em Cacine, onde vivia sem família, encarnando a figura do “lançado” no sertão. Tinha tido mais uma loja em Sangonhá, da qual se desfizera, e outra em Campeane que fora saqueada, logo no início da guerra. 

O Toneca era um homem só, longe dos seus que, ao que parece, andavam ali por Leiria. Aviava-nos com uma lenta eficácia, desencantando o que lhe pedíamos nas prateleiras junto ao tecto, ou no mais recôndito da arrecadação. Raramente falhava. À noite, a loja era um misto de tasca e café, onde se podia “meter uns copos”, ao balcão, ou tomar ar, em duas ou três mesas colocadas no alpendre. Um daqueles alpendres elevados e altos, tão frequentes, circundando as casas de um só piso. Assim teria sido também a loja de Cacoca que agora era uma instalação multiusos, misto de alojamento para pessoal, posto de socorros, posto de rádio, talvez depósito de géneros... etc., etc... e etc...

Não tenho memória de que tenha sido atacada com armas pesadas ou “ao arame”, com armas ligeiras, embora se situasse a cerca de 2 km da fronteira. Nunca mais esquecerei o meu primeiro contacto com essa casa onde, quando entrei para falar com o alferes que comandava o destacamento, se ouvia, num gira-discos a pilhas, o Gianny Morandi a cantar (bem alto) o “Non son degno di te”. 

A “máquina de fazer barulho” pertencia ao cabo maqueiro que, momentos depois discorria, em voz bastante alta, sobre os "Operacionais”, como ele, versus os “CêCê-Ésses”, que eram os outros. Via-se claramente que era um operacional pelo modo expedito como remendara um rasgão enorme nos fundilhos das calças do camuflado, recorrendo a um emplastro de adesivo daqueles com orifícios circulares, para a pele respirar... Expedientes de campanha ou o velho “desenrascanço dos portugueses”,  sempre presente aqui, ali ou em qualquer outro lado.

Quem viesse de Cacine, ao chegar ao “Cruzamento”, virava à direita e seguia paralelamente a uma pista de aterragem de terra batida (pouco operativa, na altura). O terreno era aberto e deixava ver, ao longe, a vivenda, emergindo da tabanca, cujos telhados de capim e cibe formavam uma espécie de arranjo floral de plantas secas à volta de uma flor ainda com viço. À direita e à esquerda a vegetação era densa, com todos os tons do espectro do verde, mas onde surgiam outros tons: de cinzento, de castanho e – para quem olhasse com vagar e detalhe – em salpicos mal semeados, de vermelho e amarelo.

A CArt 1692, à qual eu agora pertencia, guarnecia Cacine, mas antes tinha andado pelo sector de Sangonhá e Cacoca, e o Duarte – alferes da minha companhia, ex-seminarista como outros houve – assegurava que por ali era possível caçar pombos verdes e outras bichezas comestíveis que se manifestavam com certa abundância.

A população de Cacoca dava-se bem com os soldados e parecia haver uma certa amizade entre os jovens militares e os habitantes, independentemente das suas idades. Fiquei com a ideia de que a população colaborava na vivência da tropa de modo espontâneo e franco. A actividade operacional resumia-se a garantir a possibilidade de comunicar com a sede da Companhia. (...)


Segundo o nosso camarada Nuno Rubim, parece que também houve uma guarnição militar, nossa, em Gadamael Fronteira. E sobre Ganturé (não confundir com Ganturé, no Rio Cacheu), ele diz-nos que esteve lá iinstalado um Pel Rec ou um Gr Comb desde fev/Mmar 1964 até jul 69, pelo menos. Sangonhá terá sido abandonado, por decisão do Com-Chefe, em meados ou em finais de 1968, tal como Cacoca, segundo informação do António J. Pereira da Costa.




Guiné > Região de Tombali > Sangonhá, a sul de Gadamael -Porto > s/d > Vista aérea do destacamento e da sua pista de aviação. Este destacamento deverá ter sido abandonado pelas NT em finais de 1968 (O destacamento de Mejo foi evacuado em 28 de Janeiro de 1969, na mesma data de Gandembel e de Balana.  Em 6 de Janeiro de 1969, o PAIGC lançou um poderoso ataque contra Ganturé, a partir de Sangonhá. A FAP ripostou, provocando 36 mortos e muitos mortos. Foto de autor desconhecido. Álbum fotográfico Guiledje Virtual, do nossos parceiro guineense, a ONG AD - Acção para o Desenvolvimento.

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento  (2007). [Editada por L.G.].


(iv) O abandono de Cacoca e Sangonhá (**)

(...) A chegada do General Spínola à Guiné alterou profundamente a condução da guerra e as visitas que realizou a todos os aquartelamentos, por diminutos que fossem, ouvindo os “residentes”, como nunca tinham sido ouvidos, causaram boa impressão, embora constituíssem, para quem expunha os problemas, como que uma espécie de exame prático das soluções adoptadas.

Havia chegado há pouco tempo quando foi a Cacine e eu assisti a uma conversa com o capitão Veiga da Fonseca em que pretendeu saber, naquele sector, quais as posições que deveriam ser abandonadas, se pretendesse recuperar tropa “de quadrícula” para dispor de mais unidades “de intervenção”. 

O nosso Batalhão – o BArt 1896 – tinha, então, seis Companhias no terreno – Cacine e Cameconde, Sangonhá e Cacoca, Gadamael e Ganturé, Guileje, Mejo e Gadembel e Ponte do Balana (acabados de construir) – e, obviamente, a CCS sediada em Buba. O capitão respondeu-lhe que, para não perder o controlo da estrada para Guileje e depois Mejo, não deveria abandonar nenhuma posição, mas se a ideia era aquela, então que abandonasse Cacoca e Sangonhá. 

A decisão veio alguns dias depois e passámos a “fazer sector” com a unidade de Gadamael. Os quartéis de Cacoca e Sangonhá foram simplesmente abandonados e a população aceitou bem a decisão (pareceu-me, pelo menos,) e repartiu-se, segundo as suas afinidades e desejos, entre Gadamael e Cacine, o que levou à realização de mais de 30 colunas em 20 dias, com as viaturas ajoujadas de carga e passageiros. Transportámos tudo o que se podia mover. Com os homens, mulheres e crianças, seguiram as mobílias, as roupas e os alimentos, os animais domésticos e até os telhados das casas (capim e as rachas de cibe). Uma autêntica migração realizada prioritariamente para Cacine, onde havia mais recursos, espaço e melhor protecção contra as actividades dos guerrilheiros. 

(...) Por volta de Março ou Abril de 1968, começámos a abrir à esquerda da estrada, como quem vai para Cameconde, uma área desmatada, com cerca de 50 metros de largura destinada a evitar que o inimigo conseguisse instalar-se a curta distância da estrada. Já tinha havido e voltou a haver, depois da nossa saída, emboscadas às colunas que iam de Cacine a Cameconde.

Aqueles 8 quilómetros de estrada eram diariamente percorridos: todas as manhãs e nos dois sentidos, por um pelotão de milícia, e pela coluna auto que saía e retornava a Cacine, sem horários marcados. A população colaborava diariamente, com mais ou menos vontade, nos trabalhos de desmatação com o objectivo de criar uma área de terreno cultivável e sob a vigilância de um grupo de combate, lá ia, formada em linha, cortando e abatendo tudo o que fosse vegetação. (..:) 

O mais insólito sucedeu no dia em que fomos atacados da ponta Cabascane. Devido às suas luzes, Cacine referenciava-se bem de longe e os serventes do PAIGC estavam inspirados, naquele fim de tarde. Por isso, algumas morteiradas caíram dentro do quartel. A flagelação teve lugar imediatamente antes do jantar, na altura em que, na varanda da vivenda que servia de messe, estávamos a apanhar fresco e beber um aperitivo. Cada um fugiu para o seu sítio e o gravador Akai do capitão continuou a tocar indiferente à flagelação. Era um gravador de fitas, com duas colunas grandes que davam um som óptimo (para o tempo). A mesa onde comíamos estava colocada a um canto da casa (um sítio bastante seguro) e o PIDE, sem lugar definido em caso de ataque, acabou por entrar em casa e esconder-se debaixo da mesa. Dali gritava para que alguém lhe “apagasse a música”. Porém, ninguém voltou atrás para essa tarefa. Depois do ataque, ao jantar, explicava que “não se deve brincar com a providência” e que aquela música, no meio das explosões, o enervara sobremaneira. Daí a sua respiração ainda resfolegante...

(...) As casas para a população de Cacoca e Sangonhá foram construídas, na área da antiga “Missão do Sono”, então desactivada pela erradicação da doença. O auxílio muito empenhado do pessoal da companhia foi essencial e foi a primeira vez que vi casas cuja construção começou pelo telhado. Tudo começava com a construção de uma estrutura que suportava o telhado. Depois, este ia sendo construído e coberto de capim. Por fim, eram as paredes que resultavam de um espécie de rede de paus mais curtos e espetados no solo que faziam ângulos de rectos com outros mais compridos dispostos na horizontal. No recticulado que assim se formava iam sendo colocadas, pela face interior, “chapadas” de lama que, secando, iam constituindo as paredes das habitações. (...)

O quartel de Cacoca ficou incluído no nosso sector e, de vez em quando íamos para aqueles lados. Até para que o IN não o tomasse como seu. Como era um ponto bem marcado no terreno e observável desde “o cruzamento” utilizámo-lo uma vez numa regulação de precisão de fogos de artilharia, com observação terrestre. (...)


Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > CCAÇ 1621 (1966/68) > 1968 > Picada de Sangonhá para Cacine. A CCAÇ 1621, que esteve antes em Cufar e Cachil, terminou a sua comissão em Sangonhá, em 1968. O aquartelamento de Sangonhá deve ter sido abandonado pelas NT em meados ou em finais de 1968. Os guerrilheiros do PAIGC fora, massacrados pela FAP,  em 6 de Janeiro de 1969, quando atacavam Ganturé, a partir da antiga pista de Sangonhá. Terão tido 36 mortos, e muitos feridos.(***).

Foto (e legendas): ©  Hugo Moura Ferreira  (2006). Todos os direitos reservados [Edição: LG]
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 22 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11133: Memória dos lugares (215): Cameconde (António J. Pereira da Costa, CART 1962, 1968/69) / Manuel Ribeiro , CART 6552/72, 1973/74, a companhia do célebre Lemos, do FC Porto que marcou 4 golos ao Benfica, em 31/1/1971)

(**) Reprodução parcial do poste de 18 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6614: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (3): Gente de Cacoca e outros

(***) Vd. postes de:

 25 de fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2579: Álbum Fotográfico do Hugo Moura Ferreira (3): Em Sangonhá, a sul de Gadamael, com a CCAÇ 1621 (1968)

(...) Depois de estar em Cufar e Cachil, a CCAÇ1621 foi terminar a comissão em Sangonhá, que ficava a sul de Gadamael-Porto. O aquartelamento (e a tabanca) terá sido abandonado pelas NT em finais de 1968.

Fotos que foram cedidas por antigos camaradas de armas ao Hugo Moura Ferreira , entre eles o ex-Fur Mil Correia Pinto, e que nos foram enviadas em Julho de 2006, na sequência do Convívio anual do pessoal da CCAÇ 1621, em 2 de Julho de 2006.

O Hugo esteve na Guiné de Novembro de 1966 a Novembro de 1968, como Alf Mil Inf, primeiro na CCAÇ 1621, em Cufar e Cachil (de Novembro de 1966 a Junho de 1967), e depois na CCAÇ 6, em Bedanda (de Julho de 1967 a Julho de 1968). O Hugo já não acompanhoua a companhia, com destino a Sangonhá, por ter sido transferido para Bedanda (CCAÇ 6 - antiga 4ª Companhia de Caçadores) . A grande maioria do pessoal desta unidade era do Minho e Trás-os-Montes. O Hugo esteve pela primeira vez com eles, no convívio de 2 de Julho de 2006 . (,,,)

23 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2574: Estórias de Guileje (9): O massacre de Sangonhá, pela Força Aérea, em 6 de Janeiro de 1969 (José Rocha)

(,,,) No dia 6 de Janeiro de 1969, cerca das 8 horas da manhã as forças do PAIGC, estacionadas na antiga pista do quartel abandonado de Sangonhá, iniciaram um ataque bastante cerrado com armas pesadas ao Destacamento de Ganturé, tendo caído algumas granadas no interior do mesmo.

O pessoal do destacamento [de Ganturé] respondeu com morteiro 81 e 60, mas o ataque continuava. Então pediram apoio a Gadamael, que reagiu com mesmo tipo de armamento e, se a memória não me falha, também com o obus 8,8 [, ou peça de artilharia 11,4 ?].
Mesmo assim a festa não parava e então pediu-se o apoio aéreo, que surgiu, composto por dois Fiat. Pediram-nos a localização provável de onde estávamos a ser atacados, e que sinalizámos com granadas de fumo, disparadas pelo morteiro 81. Dirigiram-se para essa zona e de imediato começámos a ouvir rajadas - eram de anti-aérea - e nós perguntámos aos pilotos se eram eles que estavam a fazer fogo, tendo-nos respondido que não! Então numa conversa entre ambos os pilotos, ouvimos um deles dizer ao outro "senti qualquer coisa no meu aparelho"! E comunicaram-nos que iam regressar a Bissau.

Passado algum tempo regressaram 4 Fiat e mais tarde 2 T-6 e uma DO [- Dornier 27]. Entraram pelo lado de Cacine e de imediato iniciaram o lançamento de bombas, cuja explosão era perfeitamente audível e sentida através de fortes tremores do solo. (Estávamos a uma distância de cerca de 6/8 Kms em linha recta).

A operação terminou cerca das 13 horas. Na tentativa de sabermos exctamente o que tinha acontecido, eu e o Rodrigues (ex-Alferes Miliciano) reunimos um grupo razoável de voluntários, e pedimos ao Capitão para nos deslocarmos ao local, mas a nossa pretensão não teve acolhimento. Apanhámos um grande balde de água fria!

Somente no dia 9 [de Janeiro de 1969, três dias depois], com apoio aéreo, é que fomos ao local. No percurso encontrámos carretéis de fio telefónico com uma extensão de cerca de 4/5 kms, abrigos individuais ao lado da estrada, e, na antiga pista [ de Sangonhá], armas destruídas e pedaços de corpos de negros e brancos e 13 sepulturas. Uns dias depois tivemos a informação de 36 mortos confirmados e muitos feridos.

O aspecto do local era medonho! A terra, cuja cor natural é avermelhada, tinha a cor cinza! O intenso cheiro a putrefacção! Os abutres (jagudis) às dezenas! As árvores queimadas! Enfim. (...).

sexta-feira, 12 de março de 2010

Guiné 63/74 - P5977: Tabanca Grande (207): Jorge Simão, de S. João da Madeira, ex-1º Cabo Escriturário, CART 2477, Cufar, 1969/71



Guiné > Região de Tombali > Cufar > CART 2477 (1969/71) > Vista aérea de Cufar...

Guiné > Região de Tombali > Cufar > CART 2477 (1969/71) > O 1º Cabo Escriturário Jorge Simão


Guiné > Região de Tombali > Cufar > CART 2477 (1969/71) >  O Jorge Simão junto ao edifício da secretaria (?)... Várias companhias por aqui passaram, além da CART 2477:  CCAÇ 763, CCAÇ 1621, CART 1687... Temos alguns camaradas pertencentes a duas destas unidades de quadrícula: Hugo Ferreira Moura (CCAÇ 1621) e  Mário Fitas (CCAÇ 763)...

Fotos: ©  Jorge Simão (2010). Direitos reservados



1. Mensagem do novo membro da nossa Tabanca Grande (*), Jorge Simão, residente em São João da Madeira, ex-1º Cabo Escriturário, CART 2477, Cufar, 1969/71:

 Assunto: pela primeira vez o meu contacto

S.João da Madeira, 5 de Março de 2010

Amigos e companheiros de Guerra, depois de algum tempo que ando aqui a "espreitar" o vosso blogue, sempre resolvi escrever para vocês, mas antes de mais vou-me apresentar:

Sou Jorge Augusto Simão, da Rua dos Viajantes, 214,  1º-Esq., 3700 - 303 S. João da Madeira, fiz parte da CART 2477 do BART 2865 e foi colocado em Cufar e o Batalhão em Catió (foi para a Guiné em Fev / 69 até Dez /70, mas eu ainda aguentei em Bissau até Fev 71, era 1º Cabo Escriturário).

Vou enviar umas fotos em Cufar, mas como é a primeira vez que escrevo, fico-me por aqui, espero umas dicas do Luis Graça, porque espero que este contacto seja o mais correcto. Numa próxima vez escreverei mais em pormenor alguns acontecimentos passados na Guerra.

Um abraço grande deste camarada e combatente da guerra da guiné.

Jorge Simão

2. Comentário de L.G.:

Meu caro Jorge:  Em primeiro lugar, põe-te à vontade. Uma vez que já nos "espreitas" há uns tempos, sabes bem que aqui, na nossa Tabanca Grande, ninguém bate a pala a ninguém, respeitamo-nos uns aos outros, é certo, mas tratamo-nos por tu como camaradas que fomos e continuamos a ser...

Não tenho nenhumas dicas especiais para te dar, as nossas regras de convívio são públicas (e respeitadas...), e o que me resta para te dizer é apenas isto: Sê bem vindo, Jorge. Abanca aí, debaixo do nosso poilão, respira fundo, gere as tuas emoções, conta-nos as tuas histórias de Cufar, manda-nos as fotos que achares terem algum valor documental...

Obrigado por teres "ousado" contactar-nos. És, slavo erro, o primeiro camarada da tua companhia a ingressar na nossa Tabanca Grande, o que muito nos honra e te honra a ti, também... O próximo qu entrar já é periquito à tua beira...

Espero poder vir a conhecer-te pessoalmente em breve (por que não, no dia 19 ou 26 de Junho próximo, em Monte Real, no nosso V Encontro Nacional ?). Até lá, vai escrevendo.

Um Alfa Bravo. Luís Graça

PS - Sobre Cufar tens cerca de 110 referências no nosso blogue (II Série)... Clica aqui.

___________

Nota de L.G.:

(*) Último poste da série > 27 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5898: Tabanca Grande (206): Agostinho Gaspar, de Alqueidão, Boavista, Leiria, ex-1-º Cabo Mec Auto, 3ª C/BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74)

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2822: Dando a mão à palmatória (10): Não foi salvaguardada a propriedade intelectual e a privacidade do Hugo Moura Ferreira

1. Mensagem do Hugo Moura Ferreira, ex-Alf Mil, CCAÇ 1621 (Cufar) e CCAÇ 6 (Bedanda) (1966/68), residente em Lisboa e membro da nossa tertúlia, desde 22 de Dezembro de 2005:

Caros amigos.

Achei interessante o Post Guiné 63/74 - P2820 (1). Só tenho um reparo a fazer que peço resolvam com rapidez, embora saiba que isso já é um pouco extemporâneo, mas que refere a informação do foro pessoal que foi inserida no referido post.

Não concordo que na reprodução do oficio que me foi remetido pelo AGE, e reproduzido integralmente, não tenha sido apagada a minha morada.

Já repararam que tudo o que é necessário saber sobre mim ali está expresso? Assim agradeço que reparem, urgentemente, esta anomalia que não esperava pudesse acontecer, sem a minha autorização expressa, que obviamente não daria, no Blogue que é visitado por tanta gente a nível mundial. Afinal existem editores que têm que verificar o material que recebem e que se propõem inserir.

Os direitos de autor e de confidencialidade têm que ser salvaguardados em tempo, por quem publica.

Desculpem a forma mais ou menos agastada como me exprimi, mas como falo e procedo com o coração...

Obrigado, cumprimentos e abraços.

Hugo Moura Ferreira

2. Comentário do editor:

Hugo: Tens toda a razão. Não devia ter acontecido. O mal está feito. O lapso, no entanto, já foi corrigido, de imediato (1). A atribuição da propriedade do documento era conjunta. Sabemos que o documento original era teu, já que a resposta te era dirigida, enquanto autor do requerimento. O Benito Neves falcultou-nos uma cópia, com a melhor das intenções. E nós reproduzimo-la com a melhor das intenções. No entanto, houve uma falha no controlo de qualidade. Errar é humano. Aprendemos com os erros. Fizeste bem em indignar-te. Bom fim de semana. Luís Graça.

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Nota de L. G.:

(1) Vd. poste de 9 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2820: Aqueles que nem no caixão regressaram (2): O caso do José Henriques Mateus, da CCAV 1484, natural da Lourinhã (Benito Neves)