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sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22454: Notas de leitura (1371): "Os Roncos de Farim", por Carlos Silva; editora 5 Livros, 2021, a ser apresentado amanhã na Tabanca dos Melros (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Agosto de 2021:

Queridos amigos,

Carlos Silva tinha guardado este acervo de apontamentos em que trabalhou durante anos até 2007. Dá-os agora à luz do dia com um conjunto apropriado de imagens, depoimentos e bibliografia junto até esse tempo. Continua a mexer nos papéis e promete para breve surpresas. 

O que ele aqui rolou tem a ver com o início e o desenvolvimento da história dos Roncos de Farim, falta esclarecer como é que este mítico grupo de combate arrumou as botas e quem o dirigiu depois do grave acidente de Cherno Sissé. 

Também não fica esclarecida a saída de Marcelino da Mata que mais tarde aparece como fundador de um grupo especial, Os Vingadores. Inquiriu os diferentes responsáveis pelo grupo de combate ao mesmo tempo que compendiava os sucessivos anos de atividade operacional desenvolvida. 

Temos aqui uma peça de extrema utilidade, se bem que focado numa região, Farim, onde a presença do PAIGC era constante, e presta-se a justa homenagem aos valorosos combatentes guineenses que sacrificaram a vida não só durante a guerra, como foram enxovalhados e executados no período da pós-independência.

Um abraço do
Mário



Aquele que foi o mais mítico grupo de combate português da guerra da Guiné

Mário Beja Santos

Começo por uma declaração de interesses: há anos que reúno uma estreita amizade e cooperação ao Carlos Silva. Vezes sem conta lhe bati à porta para lhe pedir livros emprestados (é possuidor de vastíssima biblioteca alusiva à nossa guerra), emprestou-me a história do BCAV 490, que eu não encontrava em parte nenhuma, ele atravessou o país para ir a um quartel e fotocopiá-la, foi obra indispensável para tudo o que escrevi no livro "Nunca Digas Adeus às Armas"; e o seu precioso dossiê sobre os "Roncos de Farim" já aqui foi alvo de recensão[*] e consta de um outro livro meu. 

Chamo a atenção do leitor que este livro, "Os Roncos de Farim", 5 Livros, 2021, reporta-se a um trabalho que estava concluído em 2007 e que hibernou até aos dias de hoje.

Surpreende-me a tenacidade deste nosso confrade que combateu em Farim, em 1969/1971, acompanhou o período terminal deste audacioso grupo de combate e conheceu os protagonistas, desde oficiais superiores, líderes do grupo de combate, com todos contatou para elaborar o documento, profusamente ilustrado, é uma verdadeira homenagem aos vivos e aos mortos que fizeram tremer os combatentes do PAIGC.

Carlos Silva começa por precisar a criação dos Roncos, falou com o alferes Filipe Ribeiro que postulou que foram constituídos na Operação Cigarra, que ocorreu em 10 de outubro de 1966, intervieram secções de milícias comandadas pelo 1.º Cabo Marcelino da Mata e por Cherno Sissé, Filipe Ribeiro contava com a sua colaboração e ficou satisfeito pelo valor militar demonstrado. 

O Tenente Coronel Agostinho Ferreira, comandante do BCAÇ 1887, concordou com a criação do grupo especial de tropa de choque. Filipe Ribeiro terá pensado nalguns nomes e considerou que os Roncos era a melhor designação que correspondia literalmente ao comportamento daqueles combatentes. 

Na ordem de serviço o grupo é criado formalmente em 15 de novembro de 1966, na dependência do BCAÇ 1887, sediado em Farim e com unidades militares disseminadas em Bigene, Guidaje e Binta, localizadas a Oeste, Jumbembem e Cuntima a Norte e Canjambari a Leste, bem como a zona de Bricama e Saliquinhedim-K3, a Sul, na outra margem do rio Cacheu. 

O comandante dos Roncos era o alferes Filipe Ribeiro coadjuvado por Marcelino da Mata e Cherno Sissé. Carlos Silva faz o historial de outras unidades a quem o grupo de combate esteve ligado, refere que participaram em mais de 30 operações desde a sua criação até ao final de 1967, com destaque à Operação Chibata, que decorreu em Cumbamori, já no Senegal. 

Ainda não está esclarecida a data de saída de Marcelino da Mata deste grupo de combate e o percurso percorrido por este, nos anos seguintes. O autor releva a atividade operacional no âmbito do BCAÇ 1887, há sempre louvores para o alferes, para Marcelino e Cherno, e descreve minuciosamente a Operação Chibata, de que, curiosamente, Luís Cabral, virá a ser primeiro dirigente da Guiné-Bissau depois da independência também relata no seu livro "Crónica da Libertação", pois nessa data ele e Chico Té estavam em Cumbamori. 

Os Roncos seguiam no primeiro dos três destacamentos da força operacional, entraram no acampamento de forma surpreendente, infligiram ao PAIGC um elevado número de mortos, capturaram armamento e documentos, mas na refrega perderam-se quatro vidas, Cherno Sissé foi ferido. Vale a pena destacar o que escreve Luís Cabral: 

“A surpresa tinha sido total. Depois de mais de quatro anos de luta armada, era a primeira vez que as forças colonialistas se aventuraram a entrar em território senegalês para, a partir daí, atacar uma base no interior deste país. Antes do romper da aurora, tinham-se aproximado cautelosamente do local onde estava instalada a nossa base. Até chegar à enfermaria, não tiveram nenhum contacto com a nossa gente. A barraca onde se encontravam os médicos e os técnicos cubanos foi a primeira a ser avisada. Um técnico cubano de artilharia deu o primeiro tiro que alertou toda a gente. Pela primeira vez eu estava presente num encontro entre as nossas Forças Armadas e o exército colonial”

Cherno Sissé contará mais tarde ao autor, chegou a haver luta corpo a corpo com recurso ao emprego da faca de mato.

Noutro capítulo, Carlos Silva destaca a atividade operacional no âmbito do BCAÇ 1932, estamos já em 1968, os atos valorosos sucedem-se e preparam as condecorações de Marcelino da Mata e de Cherno Sissé como Cavaleiros da Ordem Militar da Torre e Espada, para além das suas promoções. 

Nesta sequência, também o autor faz sobressair a atividade operacional dos Roncos com outra unidade militar, o BCAÇ 2879, estamos em 1969, ocorre um acontecimento histórico, numa localidade chamada Faquina foram apreendidas várias dezenas de toneladas de armamentos e munições. Os Roncos já são comandados pelo Furriel Cherno Sissé. 

A documentação oficial e as investigações apresentavam números díspares sobre a quantidade de armamento apreendido e foi neste contexto que Carlos Silva escreveu ao Major General Agostinho Ferreira para que este confirmasse o resultado da Operação Faquina, foram 24 toneladas. Mais tarde, os Roncos ficaram adstritos à Companhia de Caçadores 14, também sediada em Farim, o seu comandante, o então Capitão José Pais, irá contar no seu livro "Histórias de Guerra" o drama de Cherno que ficou, por razões de combate, sem uma perna e um olho e com um braço retorcido e mais curto, a viver em Lisboa em condições manifestamente degradantes. Foi assaltado em casa, reagiu disparando um tiro à queima-roupa, matou um dos gatunos. 

“A polícia desarmou-o e, enquanto saía à rua pedindo reforços e uma ambulância para o morto, a populaça atacou Cherno e com um varão de ferro vazou-lhe o único olho que lhe restava. Cherno Sissé ficou cego e foi preso. Lá fui à Boa-Hora e lá tentei explicar ao meritíssimo juiz o que é ter servido o Exército Português, o que é ter sido combatente operacional na Guiné durante nove anos seguidos, o que é ser ex-combatente desprezado e o que representa para um homem destes a perda da dignidade pessoal, face à vida. O meritíssimo parece ter entendido e aplicou-lhe três anos e meio”.

Carlos Silva junta anexos, referências, por exemplo, a Bodo Jau, um bravo do pelotão dos Roncos de Farim que posteriormente fez parte do grupo Os Vingadores, que foi fundado por Marcelino da Mata.

Uma obra de profundos afetos, insista-se. E dou comigo a pensar como a atividade operacional destes bravos veio de um passado que historicamente parece inexistente, lê-se a atividade operacional de 1966 a 1968, há todos estes atos de bravura que o autor aqui regista e em quase tudo quanto se tem publicado sobre a História da guerra da Guiné há um manto diáfano de silêncio sobre tudo o que foi combater com denodo e bravura até Spínola ter surgido e merecer em exclusivo as honras do heroísmo e da combatividade. Mistérios da historiografia.


Tenente Coronel Marcelino da Mata
Alferes Miliciano Filipe José Ribeiro e o 1.º Cabo Cherno Sissé (CCAÇ 1585)
________________

Notas do editor

- Este livro vai ter amanhã, dia 14 de Agosto de 2021, a sua primeira apresentação na Tabanca dos Melros, Fânzeres, Gondomar, durante o habitual convívo dos segundos sábados de cada mês.

[*] - Vd. poste de 25 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12199: Notas de leitura (528): "Os Roncos de Farim - 1966-1972", por Carlos Silva (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 10 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22445: Notas de leitura (1370): Prefácio de Ricardo Figueiredo ao livro "Um caminho a quatro passos", de António Carvalho

terça-feira, 14 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19786: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (20): só no dia 25, sábado, identificámos 10 (dez) encontros, em diferentes pontos do país, de pessoal que esteve no CTIG, e que concorrem, saudavelmente, com o nosso, em Monte Real... Eis algumas das unidades: BART 1913, CCAÇ 1792, BCAV 490, 1ª C/BCAÇ 4616/73, BCAÇ 2928. Pel Art 27, Pel Mort 2297, ERec 2641, CCS/BCAV 2922, 1ª C/BCAÇ 4610/72, CCAÇ 3547, CCAÇ 3548, CCAÇ 1585, e pessoal de Bambadinca, 1968/72: CCS/BCAÇ 2852, CCAÇ 12 ,CCS/BART 2917, Pel Caç Nat 52, Pel Caç Nat 53, Pel Caç Nat 63, etc.... Prazo de inscrições para Monte Real: até amanhã, 15, às 24h00.


A foto de família dos participante do X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Monte Real, 18 de abril de 2015. Este ano, em 25 de maio de 2019, há camaradas e amigos que vão estar no encontro das suas unidades ou subunidades, e que gostariam também de estar connosco em Monte Real. Mas ninguém tem o dom da ubiquidade. Foto de Miguel Pessoa (2015).



1. Eis a seguir uma lista com alguns dos encontros do pessoal do CTI Guiné que se vão realizar, sábado, 25 de Maio de 2019, pelo país fora, e de cuja notícia tivemos conhecimento... 

Decididamente,  não há calendário que chegue para todos nós (e os de Angola e Moçambique ainda são muitos mais, às dezenas): por exemplo, o nosso editor, Luís Graça, para estar em Monte Real nesse dia, vai falhar, com muita pena sua, o encontro, no Porto, do pessoal de Bambadinca, 1968/72: a sua companhia, a CCAÇ 2590 /CCAÇ 12  comemora os 50 anos, da partida para o TO  da Guiné, no "Niassa", em 24 de maio de 1969]

— Almoço comemorativo do 50º aniversário do regresso da Guiné dos Combatentes do BART 1913 (CCS, CART 1687, CART 1688 e CART 1689)>  



Quartel RAP2, rua Rodrigues de Freitas, Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia. Contacto: Avelino de Sousa, telem 914514489 
ou telef 229680720.

— Almoço-convívio comemorativo dos 50 anos do regresso dos combatentes  da CCAÇ 1792, Guiné 1967/1969 > 


Restaurante “Barriga Cheia”, em Barrô, Águeda. Contacto: ex-fur mil Pereira, 
telem 962313013.

— Almoço-convívio anual dos combatentes do BCAV 490, “Sempre em Frente”, Guiné 1963/1965 > 




Hotel Dona Inês, Rua Abel Dias Urbano, 12, Coimbra.

— Almoço-convívio dos Combatentes da 1ª Companhia, BCAÇ 4616/73, Guiné 1973/1974 >


  Antigo RI 16, em Évora. Programa: Às 10h30 descerramento de uma placa alusiva à companhia na porta de entrada 
do regimento, com cerimónia 
de homenagem aos mortos 
em combate. Contacto: 
Isabelinho,telem 917848483 
ou 919315617.

— Convívio anual dos Combatentes do BCAÇ 2928 (CCS, CCAÇ 2789, CCAÇ 2790, CCAÇ 2791 e CCAÇ 3328), e PEl Art 26, Pel Mort 2297, ERec 2641, Guiné (sector de Bula) 1970/1972 >  



Quinta do Mateus (Rua da República nº 255),
em Cacia, Aveiro. Concentração 
às 10 horas. Contactos: 
Manuel  Vinagre, telem 966912714; 
Bento Mendes, telem 929143080.

— Almoço-convívio dos Combatentes da CCSBCAV 2922, “À Carga!”, Guiné Jul 1970/Jun 1972 > 



Concentração no Cristo Rei, em Almada. 
Almoço em Sesimbra.

— Almoço-convívio dos Combatentes da 1ª Companhia do BCAÇ  4610/72, “Ratos de Encheia”, Guiné 1972/1974 > 



Restaurante panorâmico “Lago Verde” (junto à barragem do Cabril), em Pedrógão Grande. Contactos: Fernando Lima, telem 918434389; 
Manuel António Lopes, telef 229014974 
ou telem 912884641; 
Manuel Fernandes Monteiro, 
telef 223792348 
ou telem 968125677.

— Encontro-convívio comemorativo do 45º aniversário do regresso do pessoal das CCAÇ 3547, “Os Répteis de Contuboel”, e  CCAÇ 3548, “Os Panteras do Geba”, do BCAÇ 3884, Guiné (Bafatá) 1972/1974 >  



Local: Chaves.

— Almoço-convívio dos Combatentes da CCAÇ 1585, Guiné (Farim, Quinhamel) 1966/1968 > 



Buarcos, Figueira da Foz 
Contacto: Carlos Soares, 
telem 918245449.

- Almoço convívio do pessoal de Bambadinca, 1968/72: CCS/BCAÇ 2852 (1968/70), CCAÇ 12 (1969/71), CCS/BART 2917 (1970/72), Pel Caç Nat 52, Pel Caç Nat 53, Pel Caç Nat 63, e outras subunidades adidas > 



Porto, Scala Palace, Praça Velasques, c/ missa na Igreja das Antas, 10h; e concentração na esplanada 
do café Velasques, 11 h. 
Contacto: Manuel Monteiro Valente,  
R Joaquim Lopes Pintor, nº 118, 1º Dto.,
 4405-868 Vila Nova de Gaia, 
telem 968849886.


2. Quanto ao nosso XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, dia 25 de maio, sábado, vamos continuar a receber inscrições até quarta-feira, dia 15, às 24h00... 


Recorde-se que a inscrição são 35 "aéreos", com direito a:

Entradas + Almoço + Lanche ajantarado : Para as criancinhas, até aos 12 anos, são só 18 "aéreos"...

Para quiser ficar alojado no Palace Hotel Monte Real (4 estrelas ) com pequeno-almoço incluído: Single: 50,00€ | Duplo: 60,00€

Inscrições a cargo de:

Carlos Vinhal (Leça da Palmeira / Matosinhos): email:carlos.vinhal@gmail.com | telemóvel: 916 032 220


____________

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19764: Tabanca Grande (477): Carlos Soares, ex-fur mil inf, CCAÇ 1585 (Farim e Quinhamel, 1966/68); mora nas Caldas da Rainha; e passa a sentar-se à sombra do poilão mais famoso da Net, sob o nº 788.



Foto nº 1


Foto nº 2 > Furriéis da CCAÇ 1585, a bordo do navio T/T


Foto nº 3 >  Pessoal da CCAÇ 1585, a caminho no rio Cacheum, a caminho de Farim, ou no regresso, para Quinhamel


Foto nº 4 > Postal de Natal, possivelmente de 1966


Foto nº 5 > O cap Cravidão, numa operação, é o primeiro da esquerda, em segundo plano


Foto nº 6 > Parada cap Cravidão, em Farim


Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 1585 (1966/68) > Fotos diversas do Carlos Soares, enviadas sem legenda... A Parada Cap Gravidão, morto em combate em 4/6/1967


Fotos (e legendas): © Carlos Soares (2019(. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Mensagem de 2 do corrente, do Carlos Soares, ex-fur mil at inf, CCAÇ 1585 (Farim e Quinhamel, 1966/68), e novo membro da Tabanca Grande, com o nº 788:

Amigo Luis Graça junto lhe envio algumas fotos para publicação no seu Blogue,

Quanto ao assunto acerca da Operação Cacau, a transcrição que consta do Blogue é exatamente igual, pois deve ter sido retirado do livro, que é a cópia fiel do livro oficial,enviado ao Ministério do Exército para arquivo.

Há algum tempo mandei fazer alguns exemplares para distribuir aos meus Camaradas , e foi concerteza, a partir dai ,alguém compilou os textos que para alguns teria interesse.

Se achar que tem interesse para o blogue, eu enviar-lhe-ei um a titulo de empréstimo, para poder compilar. Estou à disposição para nos encontrarmos em qualquer local, e conversarmos.

Aproveito para lhe enviar o folheto do nosso próximo convivio, o qual agradecia que o publicitasse no seu blogue. (*)

De momento sem outro assunto envio-lhe um enorme abraço.

Vou preparando novas fotos.

Agradeço que me inscreva e que a partir de agora passe a fazer parte da Tabanca Grande de Luis Graça. (**)

2. Comentário de LG:

Caro Carlos: já falámos ao telefone, e eu fiquei a perceber que és lisboeta, vives nas Caldas da Rainha há mais de 40 anos, e és um dos dinamizadores dos convívios anuais da vossa companhia, a CCAÇ 1585, cujo primeiro comandante foi o tenente e depois capitão de infantaria José Jerónimo da Silva Cravidão, morto em combate no dia em que fazia 25 anos e em que fora promovido a capitão (Op Cacau). Tu não participaste nessa operação, estavas em Bissau, mas mencionaste o nome do alf mil João Agostinho João, que mora hoje na Anadia, e que seria um dos alferes da confinaça do capitão.  Foi temporariamente o comandante da companhia, depois da morte do cap Cravidão. Outra testemunha da morte do cap inf Cravidão foi o vosso fur mil enf António Nicolau Pereira, que vive na Covilhão

Outro alferes que mencionaste, na conversa ao telefone, foi o Filipe José Ribeiro, saiu para ir comandar os "Roncos de Farim", com os 1ºs cabos  Marcelino da Mata e o Cherno Sissé como braços direitos, a comandar cada um a sua secção. Terá sido condecorado com uma cruz de guerra, voltando à CCAÇ 1585, no regresso à metrópole.

 Haveremos, por certo, de falar com mais tempo e vagar. Para já senta-te à sombra do poilão da Tabanca Grande, sob o nº 788. És o primeiro representante da tua companhia na Tabanca Grande. Também já convidei, em tempos, a viúva do cap Cravidão (1942-1967) para se juntar a nós.  Vou um dias destes falar-te ao telefone.

Segundo as nossas regras de convívio, tratamo-nos por tu, como camaradas de armas que fomos. E neste blogue partilhamos memórias (e afectos) à volta da Guiné, onde fizemos a nossa comissão de serviço militar, em tempo de guerra, no período de 1961 a 1974.  Podes consultar as nossas regras editorias  aqui. Falamos de tudo o que diz respeito à Guiné e ao nosso tempo de meninos e moços. Só não falamos de política, religião e futebol.

Aguardo mais memórias tuas. Tens o nosso endereço de email. Vai dando notícias, Ficas desde já apresentado aos camaradas e amigos da Guiné. Somos quase 800, dois batalhões. Sê vindo e fica por cá ainda muitos anos. Bom convíviio, no dia 18, em Buarcos (*). Dá um abraço nosso aos teus camaradas todos e fala-lhes do nosso blogue e do nosso XIV Encontro Nacional, em 25 de maio, em Monte Real, para o qual estão todos convidados.

PS - O teu nome, Carlos Soares, passa a figurar, a partir de agora, na lista alffabética dos membros da Tabanca Grande, constante da coluna (estática) do lado esquerdo.
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terça-feira, 7 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19754: Convívios (892): CCAÇ 1585 (Farim e Quinhamel, 1966/68): 19º Convívio, 51º aniversário do regresso à metrópole: Buarcos, Figueira da Foz, 25/5/2019 (Carlos Soares)


Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 1585 (1966/68) > Parada Cap Gravidão, morto em combate em 4/6/1967

Foto (e legenda): ©  Carlos Soares  (2019(. Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].






25 DE MAIO DE 2019  51º ANIVERSÁRIO DA CHEGADA Á METRÓPOLE > 19 º CONVÍVIO DA COMPANHIA DE CAÇADORES  1585

ALMOÇO DE CONFRATERNIZAÇÃO EM BUARCOS, FIGUEIRA DA FOZ


Local de Reunião

11 . 00 horas - IGREJA DE SÃO PEDRO - BUARCOS
11 . 30 horas - Missa em Memória dos Camaradas Falecidos
12 . 30 horas - Visita ao Museu do Mar
13 . 30 horas - Almoço nas instalações do GIS - Grupo de Instrução e Sport, em Buarcos


Carlos Soares
E M E N T A

Entradas : Petingas fritas – Tiras de Raia – Pataniscas Bacalhau
Sopa : Sopa de Peixe á GIS
Prato Principal : Bacalhau á Espiritual
Prato Alternativo : Bife á Pescador ou da carta
Sobremesa : Pastéis de Lavos – Arroz Doce – Fruta da Época
Vinhos : Branco e Tinto de Silgueiros ou Ermelinda
Digestivos e Café e Bolo da Companhia
Animação Musical (durante e após almoço )

Preço por pessoa ( adulto) 22.50 Euros (Tudo incluído )

Marcações : Chico Buarcos - 968 301 971 | Justino João - 919 231 842 | Carlos Soares - 918 245 449

[Pedido de publicação enviado pelo Carlos Soares, ex-fur mil da CCAÇ 1585 (Farim e Quinhamel, 1966/68),  que vive nas Caldas da Rainha, e é um dos habituais organizadores do convívio anual do pessoal da companhia. Aceitou o nosso convite para integrar a Tabanca Grande, em cujas "moranças" não havia ainda, até agora, nenhum representante da CCAÇ 1585. Faremos a sua apresentação dentro de dias.]
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Nota do editor:

Último poste da série >  6 de maio de  2019 > Guiné 61/74 - P19751: Convívios (891): CCAÇ 3398, Buba, 1971/73 - XXIV Convívio, Pedrógão Grande, 27/4/2019

terça-feira, 30 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19731: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004 (4): "Os Roncos de Farim: 1966-1972", uma nota de leitura da brochura compilada pelo Carlos Silva




Notas de leitura > História do Pelotão “Os Roncos de Farim, 1966/1972",  compilação de Carlos Silva 

por Beja Santos
 (*)


Foi graças à Teresa Almeida, da Biblioteca da Liga dos Combatentes [, foto a seguir, à direita], que tive acesso a este documento surpreendente, uma obra desvelada do nosso confrade Carlos Silva. 

Desconhecia inteiramente a existência de “Os Roncos” e os experientes e valorosos militares que estiveram na sua constituição.
Teresa Almeida

 Formalmente, este grupo foi-se constituindo adstrito à CCAÇ 1585, e desde a primeira hora nele participaram ativamente o 1º cabo Marcelino da Mata, a comandar uma secção de milícias, e o 1º cabo Cherno Sissé, a comandar uma outra secção.

Tal foi o seu desempenho, e havendo a proposta apresentada pelo 1º cabo Marcelino da Mata para comandar um grupo especial, acertou-se na constituição de um pelotão ficando como seu primeiro comandante o alferes miliciano Filipe José Ribeiro. 

O grupo entrou em funções em Dezembro de 1966 [, ainda em vida do capitão inf José Jerónimo da Silva Cravidão, que iria morrer em combate em seis meses depois] (**), após ter participado numa operação com dois grupos de combate da CCAÇ 1585. No decurso de um assalto a uma casa de mato, Ribeiro, Marcelino e Cherno, e mais quatro valorosos elementos entraram determinados no objetivo, com sangue frio impressionante. 

Marcelino da Mata
Marcelino da Mata [, foto à esquerda, Tabanca da Linha, 2015] terá dito mais tarde ao comandante do BCAÇ 1887:

 “Encontrei o alferes para comandar o grupo, é maluco, até apanha os turras à mão…”. 

Assim se constituía um pelotão lendário. Juntaram-se as secções de Marcelino da Mata e de Cherno Sissé e foram selecionados outros soldados milícias. “Os Roncos” surgem como um grupo especial de tropa de choque que abriria o caminho às restantes. 

Os seus feitos, até à sua extinção (os seus elementos irão ser integrados mais tarde em companhias africanas e companhias de Comandos Africanos) foram extraordinários, em qualquer operação sabia-se de antemão que se podia contar com um naipe excecional de gente valorosa. 

Escrito à mão, no exemplar que consultei, aparece anotado pelo então alferes Filipe Ribeiro: 

“O grupo era constituído por 24 elementos, assim distribuídos: secção de Marcelino com 11 elementos, secção de Cherno Sissé com 11 elementos, o meu guarda-costas e eu, no total éramos 24. Acontece que em muitas operações o grupo não tinha mais que 15 ou 16 elementos. Éramos poucos mas eficazes”. 

É impressionante ver-se o nome destes homens e ler-se depois nas observações o rol de feridos e mortos.


A CCAÇ 1585 tinha a responsabilidade do subsector de Farim, fazia operações em locais como Sambuiá, Bricama, Biribão, Sano e Sulucó, entre outras. A partir de Dezembro de 1966, “Os Roncos” vão a todas, capturam armamento, entram em casas de mato, criam a lenda. Por exemplo, em Janeiro de 1967, na operação Cajado,  Ribeiro e a secção do Cherno confrontam-se com um grupo inimigo
cinco a seis vezes superior. E Carlos Silva [, foto a seguir, à direita,] retira a seguinte nota: 

Carlos Silva
“6 granadas de morteiro que não chegaram a explodir ficaram espetadas no lodo da bolanha, em volta do alferes Ribeiro, porque, entretanto, teve de sair do abrigo junto a uma árvore e deslocar-se para as proximidades da bolanha. Tudo isto devido a ter de pedir via rádio à companhia de Cuntima uma maca para evacuar o ferido e munições. Pois ficaram lá quase duas horas debaixo de fogo intenso, sob um autêntico inferno. Não podiam retirar do local na medida em que aguardavam pelo regresso da secção do Marcelino, que entretanto já vinha no gosse-gosse para também dar apoio. Quando os reforços de Cuntima chegaram ao local de combate, disseram-lhe para se levantar com cuidado, agarrando-lhe pelos braços, pois tinha à sua volta seis granadas de morteiro 82…”.

Carlos Silva colige o historial mês a mês, sucesso a sucesso, vão-se averbando os louvores, de oficial a soldados, Ribeiro e os seus homens aparecem associados a outras forças. Em Outubro de 1967, depois da operação Caju, em que participaram “Os Roncos”, escreveu-se: 

“Foram três dias e três noites consecutivas em que as tropas estiveram constantemente em ação, batendo uma extensa zona, com a chuva a cair ininterruptamente, cumpriu-se a missão, apesar do sacrifício ter sido enorme”. 

Cherno Sissé e Malã Indjai foram agraciados com a Cruz de Guerra de 4ª Classe. Os louvores não param. Em Outubro desse ano,  a CCAÇ 1585 foi transferida para Quinhamel, o alferes Ribeiro deixou “Os Roncos”, foi rendido pelo alferes Morais Sarmento,  da CART 1691, que passou a comandar o pelotão. 

Em Dezembro, irá ter lugar a batalha de Cumbamori, tratou-se da operação Chibata, havia notícias da presença de Luís Cabral nesta localidade e base inimiga. Deslocaram-se três destacamentos. Assaltou-se Cumbamori, Luís Cabral teve tempo de fugir, infligiram-se muitas baixas, fizeram-se 5 prisioneiros e capturou-se material, caíram no dever 4 soldados dos “Roncos” e houve 17 feridos. 

Sobre esses acontecimentos Luís Cabral irá escrever o que viveu em “Crónica da Libertação”, págs. 315 a 330, fora a primeira vez em que ele estava presente num encontro entre as forças do PAIGC e as tropas portuguesas.

Em Junho de 1969, a Marcelino da Mata era-lhe conferido o grau de Cavaleiro da Ordem Militar da Torre Espada, tinha sido já agraciado com duas cruzes de guerra, foi promovido por distinção a 1º sargento e graduado em alferes. Em Junho de 1970, igual honraria será conferida a Cherno Sissé.

Em Agosto de 1969, “Os Roncos” participaram numa operação em Faquina, onde será capturada uma elevada tonelagem de material. Cherno Sissé aguentou a pé-firme uma tempestade de fogo. José Pais, em “Histórias de Guerra – Índia, Angola e Guiné, Anos 1960”, editora Prefácio, 2002, refere-se ao malogrado Cherno Sissé, residente num bairro da lata da Cruz Vermelha, depois de ter sido espancado e de lhe terem vazado o único olho que lhe restava: 

Capa da brochura


“Lá fui à Boa-Hora e lá tentei explicar ao meritíssimo juiz o que é ter servido o Exército português 27 anos, o que é ter sido combatente operacional na Guiné durante 9 anos seguidos, o que é ser ex-combatente desprezado e o que representa para um homem destes a perda da dignidade pessoal face à vida. O meritíssimo aplicou-lhe três anos e meio. Visitei-o com o filho no hospital prisão de Caxias. Cherno Sissé, 1º sargento do Exército de Portugal na reforma, duas Cruzes de Guerra, duas vezes promovido por distinção, Cavaleiro da Torre Espada, passados dois anos de cadeia, saiu em liberdade condicional. Voltou para casa, de onde agora quase nunca sai. A casa de Cherno Sissé continua a ser porto de abrigo dos fugidos da Guiné e dos que têm fome. Lá vão pedir conselho ao Homem Grande da Catorze de Farim que a Pátria portuguesa usou e deitou fora”.

A história de “Os Roncos” deve a Carlos Silva ter sido passada a escrito. Em meu entender, entidades como a Liga dos Combatentes deviam propiciar um estudo aprofundado sobre estes vultos grandiosos que correm o risco de desaparecer e dar-se forma a este grupo excecional que praticamente caiu no esquecimento. Os valorosos soldados guineenses mereciam ver esmaltada a sua história coroada de valor, dedicação e lealdade. Para os portugueses lhes reconhecerem o mérito prodigioso e a dívida impagável.(**)


Mário Beja Santos

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quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16534: Memórias da CCAÇ 1546 (Domingos Gonçalves) (15): 1 de Abril de 1967, o dia em que se verificou a morte, em combate, do Alferes Linhares de Almeida

1. Mensagem do nosso camarada Domingos Gonçalves, (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1546 / BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68) com data de hoje, 28 de Setembro de 2016:

Prezado Luís Graça:

Antes de mais, votos de boa saúde.

Depois, na sequência do texto enviado pelo Dr. Adão Cruz, tomo a liberdade de remeter mais um apontamento, que poderá ser publicado, sobre os acontecimentos ocorridos no dia 01/04/1967, dia em que se verificou a morte em combate, do Alferes Linhares da Almeida[1].

Um abraço para todos os camaradas.
Domingos Gonçalves

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Às cinco horas da manhã saiu de Guidage uma coluna de quatro viaturas, transportando dois grupos de combate. Cerca de 200 metros antes da antiga tabanca de Ujeque os dois grupos desceram das viaturas e seguiram a pé, ao longo de uma picada que segue para Uália.

Cerca de 1000 metros antes de se atingir esse local montou-se, em sítio previamente escolhido, uma emboscada. A nossa força permaneceu emboscada até às nove horas.


Posição relativa de Ujeque, Samoje/Talicó/Sambuiá, Binta e Bigene
Infogravura: © Luís Graça & Camaradas da Guiné

Durante o período em que permanecemos emboscados não passou ninguém pela picada. Todavia, pelo carreiro adiante, existem muitos vestígios da passagem dos gajos.

Pouco antes das oito horas, não muito longe de nós, desencadeou-se um tiroteio bastante intenso. O detonar das granadas, e as rajadas das armas ligeiras, diziam que tudo se estava a passar relativamente perto. Contudo, não sabíamos se o fogo era com a Companhia 1547, de Bigene, ou se era com a 1585, e com os “Roncos” de Farim.

Durante cerca de quinze minutos o fogo deixou de se ouvir, para voltar, de novo, a iniciar-se, com a mesma intensidade.

Pelas nove horas levantou-se a emboscada, armadilhou-se a picada, e iniciou-se o regresso a Ujeque e, de seguida, a Binta.

De tarde chegou-nos a notícia: Os tiros que tínhamos escutado tinham sido travados com a Companhia de Bigene, que sofreu dois mortos, um dos quais o Alferes Almeida, a quem chamávamos o Bijagó, por ser natural aqui da Guiné.

No espaço de quinze dias já morreram na península de Sambuiá cinco dos nossos homens, sendo três negros e dois brancos. Os feridos, alguns com muita gravidade, também já são bastantes. Apesar de todo este sacrifício, em homens e material, o mito de Samboiá ainda continua vivo. Não é com este tipo de forças, que temos aqui, que se destruirá aquela base inimiga. Até hoje não foi possível chegar ao coração da base dos gajos. Todo o nosso trabalho, e todas as nossas canseiras, têm sido inúteis.

Para além disso, os estúpidos dos comandantes mandam fazer operações naquela área algumas vezes sem qualquer apoio aéreo. Tudo isto não passa de uma autêntica loucura. Infelizes, os vivos! Para os mortos, apenas poderá haver lágrimas, e saudade.

O Vidal Cambayo, empregado da Casa Ultramarina, foi preso pela PIDE, de Farim. Desde há bastante tempo que havia suspeitas sobre a filiação dele no PAIGC.

Era uma pessoa que não nos inspirava confiança, e que vivia paredes meias com a tropa, em condições de recolher todo o tipo de informações sobre os nossos movimentos.


Texto, retirado do relatório de actividades do batalhão. 1887

"A morte do alferes Linhares de Almeida foi extraordinariamente sentida na sua companhia, por ser o seu elemento mais destacado na actividade operacional em que revelou inexcedível coragem e valentia, que arrastavam e entusiasmavam pelo exemplo os restantes elementos. A estas qualidades notáveis aliava qualidades pessoais também notáveis, que lhe granjearam além do respeito, grande amizade e simpatia de todo o pessoal. Nesta operação, como de costume, o alferes Linhares de Almeida distinguiu-se pela forma como, após os primeiros tiros, marchou à frente de seus homens numa zona manifestamente perigosa, e como após os primeiros tiros ainda tentou reagir, até ser mortalmente atingido."
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Nota do editor

[1] - Vd. poste de 27 de Setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16528: Memórias de um médico em campanha (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547) (8): O Tanque

Último poste da série de 7 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16366: Memórias da CCAÇ 1546 (Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil): O padre de Guidaje (imã)

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11689: Op Cacau, em 4/6/1967, em que morreu o cap inf José Jerónimo da Silva Cravidão, cmdt da CCAÇ 1585, na região de Bricama (Farim), no dia em que fazia 25 anos


Guiné > região do Oio > Carta de Farim (1954) > Escala 1/50 mil > Detalhes: Região de Bricama, onde o cap inf J.J. Silva Cravidão encontrou a morte, em combate, em 4/6/1967.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

1.  Reproduzido, com a devida vénia, do sítio do Carlos Silva, nosso querido amigo e camarada [, Guerra na Guiné 63/74]


Operação Cacau, 4/6/1967
por Carlos Silva

Tinha por finalidade actuar de forma profunda e em acções simultâneas na região de Bricama, Ponta Sinói e Maninhã. [Toda esta zona fica a Sul de Farim, na margem esquerda do Rio e encostada ao rio Canjambari].

As forças constituíram-se da seguinte forma:

Destacamento A – 2 Gr Comb da CCaç 1585, reforçada com o 1 secção Comp  Mil 5
Destacamento B – 1 Gr Comb CCaç.1585 reforçada com o Gr Comds Os Roncos. [O grupo foi comandado pelo Alf Falcão, em virtude do Alf Ribeiro se encontrar de férias na Metrópole ]
Destacamento C – CCaç 1565 (-)

O Dest A e o Dest B, embarcaram neste dia pelas 0 horas em Lanchas de Desembarque Médio (LDM) no cais de Farim, sendo colocados no ponto, Farim 3 B7 72, primeiro o Dest B que se internara na mata montando a segurança ao desembarque do resto das forças.

Feito o desembarque, a força iniciou a progressão em direcção à antiga tabanca da Bricama, sendo desde logo detectados trilhos utilizados pelo IN. Atingida a Bricama, as forças continuaram a progressão para Sul atingindo o objectivo sem ser detectadas, tendo o Dest A lançado o assalto, provocando ao IN 3 mortos confirmados e outros prováveis.

O IN reagiu com PMet,  LGFog e Mort 60. Foram destruídos meios de vida e capturados documentos e material diverso.

De seguida foi lançado o assalto ao segundo objectivo situado em Farim 6 B5 62, [ Ponta Sinói ],  tendo também aqui o IN reagido com PMet,  LGFog. e Mort 60, causando a morte do Cap Cravidão [, foto à esquerda,], Comandante da CCaç 1585 e dois feridos ligeiros.

Pedida a evacuação ao PCV, o Dest A, regressou ao ponto de embarque. O Dest B continuou a sua progressão em direcção Tencó. Contudo foi atingida a antiga tabanca de Farandito, situada mais a Sul, em virtude do guia confundir Tencó com Talicó, atitude que se tornou suspeita, o que levou à orientação pela bússola por parte do Comandnate do Dest B.

Em Farandito foram notados bastantes indícios de vida, mas não foram vistas moranças. Foi avistado 1 elemento IN que foi feito prisioneiro.

As NT continuaram a progressão em direcção a Talicó sem encontrar moranças, avistando numerosos rebanhos de ovelhas e manadas de vacas.

Daqui regressaram não seguiram para o outro objectivo em Maninhã, tabanca situada mais a Norte [“chão” dos meus amigos mandingas Dabó Dafé e Alaco “ Rosalina”],  ao longo do rio Canjambari para o ponto de embarque e antes de atingir Tencó, foram avistados 4 elementos IN que tentaram cambar o rio, sendo abatidos.

Em Tencó foi detectado um acampamento com cerca de 10 moranças, sendo destruído e capturado documentos de interesse.

Continuando a progressão em direcção à Ponta Sinói foram avistados 2 elementos IN que foram abatidos. Na bolanha de Ponta Sinói as NT sofreram uma emboscada, sem consequências, por um Gr. IN de cerca de 6 a 8 elementos armados com PMet.

Até à Ponta Furtado as NT sofreram mais duas emboscadas, sem consequências, tendo sido causado ao IN feridos prováveis. As NT atingiram o ponto de embarque onde foram recolhidas no mesmo dia 4 às 13 horas.

Nesta operação, foram provocadas as seguintes baixas ao IN:

9 mortos
1 prisioneiro
Vários feridos confirmados

Foi capturado ainda o seguinte material:

5 longas
10 cartuchos 7,9
Medicamentos
Documentos Material diverso

Foi morto em combate o Cap Inf  José Jerónimo da Silva Cravidão. A sua morte teve reflexos desfavoráveis na moral de todo o pessoal da sua companhia, pelo qual era muito estimado e respeitado. As cerimónias fúnebres,  realizadas no dia 5-06-1967,  em Farim,  constituíram sentida manifestação de pesar. O Cap Cravidão era natural de Arraiolos e ficou sepultado no cemitério de Elvas. (*)

Ficaram feridos:

1º cabo 76962/66 Manuel da Silva Santos
Sold nº 21952/66 António Monteiro Boavista

Distinguiu-se nesta acção o 1º cabo 90273/66 Manuel Genrinho dos Santos,  da CCaç 1585, pelo desembaraço revelado.

Fonte: História da CCaç 1585, pp. 64-65.



Cemitério de Elvas: Lápide funerária de José Jerónim da Silva Cravidão  (4-6-1942 / 4-6-1967). Cortesia do portal  Linhas de Elvas
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 10 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11688: In Memoriam (152): Cap inf José Jerónimo Manuel Cravidão, cmdt da CCAÇ 1585 (Nema e Farim, 1966/68), morto em combate há 46 anos, em 4 de junho de 1967; natural de Arraiolos, os seus restos mortais repousam em Elvas; nunca foi condecorado (Claudina Cravidão / Jaime B. Marques da Silva)

Guiné 63/74 - P11688: In Memoriam (152): Cap inf José Jerónimo Manuel Cravidão, cmdt da CCAÇ 1585 (Nema e Farim, 1966/68), morto em combate há 46 anos, em 4 de junho de 1967; natural de Arraiolos, os seus restos mortais repousam em Elvas; nunca foi condecorado (Claudina Cravidão / Jaime B. Marques da Silva)




Guiné > Região do  Oio > CCAÇ 1585 (Nema e Farim, 1966/68) > Fotos do cap inf Cravidão e do seu pessoal [A CCAÇ 1585 foi mobilizada pelo RI 2, Abrantes; partiu para o TO da Guiné em julho de 1966 e regressou em maio de 1968].

Fotos: © Claudina Cravidão  (2013). Todos os direitos reservados

1. Duas mensagens enviadas pelo meu amigo, meu conterrâneo e antigo combatente (alf mil mil paraquedista, Angola, 1970/72),. Jaime Bonifácio Marques da Silva [, professor de educação física, hoje reformado, vive em Fafe, onde foi vereador da cultura]:

(i) 16 de maio de 2013: 

Caro Luís: Conheces o percurso militar do Cap José Jerónimo  da Silva Cravidão? Morreu na Guiné e era da CCAÇ 1585.

A viúva, dr.ª Claudina Cravidão que é minha colega de curso e amiga,  falou-me da homenagem que os camaradas lhe prestaram em Elvas.  Ele deixou duas filhas.

Falei-lhe do vosso Blogye e, parece-me, que ela já o encontrou. Vê se consegues conhecer as circunstâncias da sua morte em combate. (...)

(ii) 30 de maio de 2013:

Caro Luís: Reenvio o email da Claudina Cravidão. Penso que ela vai contactar-te. Se pensarem prestar alguma homenagem ao Cap Cravidão, diz-me. Gostaria de participar pela amizade que tenho à Claudina.

No próximo domingo já irei para o Seixal, [Lourinhã]. Será mais fácil, depois, falarmos sobre este assunto. Abraço amizade para ti e a Alice cá do pessoal do Norte. Jaime

2. Mensagem, de 28 de maio passado,  de Claudina Cravidão, viúva do cap inf José Jerónimo da Silva Cravidão, cap inf, cmdt CCaç 1585, morto em combate em 4 de Junho de 1967 [, era natural de Arroiolos, e é um dos muitos camaradas nossos injustamente esquecidos nos Dez de Junho  destes anos todos; fazemos questão de o lembrar, hoje,  dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que se comemora justamente em Elvas, a terra que acolheu os seus restos mortais] (*)


Jaime,  muito obrigada, pela tua intervenção neste assunto. Andei um bocado em baixo, porque já sabes que estas coisas doem e,  quando mexemos nelas, doem ainda mais, porque se tornam mais presentes.

No entanto aconteceu e o inevitável não tem solução. Já reuni outras homenagens, como o terem dado o nome dele [, Cravidão.] a um largo, ao fundo da rua onde ele morava, em Arraiolos, assim como uma lápide, bastante grande, na parada do quartel, em Farim [, Guiné], também com o seu nome.

Está tudo digitalizado, aliás mandei digitalizar numa casa de artigos fotográficos, mas as letras são muito pequenas, não sei se estarão bem legíveis. Penso que não pode ser de outra forma. Nestas coisas da Net, não sou nenhuma expert e,  o que  sei, são os netos que me ensinam.

Pensei 2 vezes, em ir com isto para a frente. O meu marido era um homem que  não ligava nada a homenagens e a outras coisas do bem parecer... Ligava,  sim, à verdadeira essência das coisas, por isso discordava muitas vezes da opinião dos chefes, que passavam o tempo nos gabinetes e nem sequer conheciam os locais por onde eles andavam.  Sei que  os homens o admiravam e gostavam muito dele, porque ele os tratava como homens, e não carne para canhão.

Mas,  depois de muito pensar, achei q não seria mal nenhum publicitar as homenagens que lhe fizeram. Como eu própria as publiquei no semanário Linhas de Elvas, penso que as datas devem lá estar. A última a que a Sara (filha mais nova) te mandou e a mais completa, saiu no semanário Linhas de Elvas a 31 de dezembro de 2012. A do soldado de Pinhel foi publicada no boletim paroquial O Falcão, em outubro de 1967. A foto da lápide deve ter sido enviada ainda em junho de 1967. A carta do furriel Joaquim Pedrosa, em 6 de junho de 1967, assim como muitas mais, mas são muito extensas, por isso só referi algumas frases mais marcantes.

Afinal estou com a foto da lápide, de 20 de agosto de 1967. Também há outros depoimentos, como o do capitão miliciano que o foi substituir, assim como um alferes com quem ele se dava bem e o tentou convencer a não ir a essa operação (, visto fazer 25 anos nesse dia), mas ele teimou e disse que iria com eles e foi.

A operação chamava-se Cacau, deslocaram-se de lancha toda a noite, até atingirem o objectivo: Bricama (base pesada de turras). Estes, emboscados na outra parte da bolanha, deixaram que destruíssem as moranças e as queimassem e,  já na retirada, quando se iam deslocar, para outro local, rebentou um violento tiroteio e foi quando ele foi atingido.

Segundo o alferes, quando se propagou a notícia, entraram em loucura e, se ele não tivesse segurado os homens, seria uma carnificina, muitos mais teriam morrido. Foi uma única bala, entrou na parte da frente, atravessou o fígado, causando hemorragia interna e saiu nas costas. Era a hora dele. Conforme ele dizia, estava escrito.

Para não te incomodar com todas estas coisas e, visto vires para baixo no fim do mês, estava a pensar enviar directamente as coisas para o teu amigo, pois tenho o mail dele.Diz-me o que queres que eu faça. O livro do teu amigo deve chegar amanhã, pelo correio, à cobrança. Quando fico mais em baixo,  digo para mim mesma «não penses nisso, pensa nos momentos bons que viveram» e tu faz  o mesmo, umas vezes resulta, outras não, mas cada um carrega a cruz à sua maneira. Não é uma questão de catolicismo,mas acredito mesmo que nada acaba aqui. Só a carne morre, o espírito vive em, se algum dia pudermos falar, verás que é assim.

Vou escrever ao Luís Graça, só para lhe agradecer a disponibilidade e a gentileza que tem mostrado. Fotos, vão muito poucas,porque  as muitas outras que  possuo, são pessoais e essas não se publicam. Podes reencaminhar o mail, para o teu amigo, para não escreveres tanta coisa, ou então sintetiza,mas eu queria saber se mando o que está digitalizado, para ele ou para ti. Um abraço grande para ti e para a Dina (minha homónima,pois também há muita gente que me chama Dina -é a terminação dos nossos nomes.). Beijinhos.









Linhas de Elvas, 31 de dezembro de 2012

O Falcão, outubro de 1967. 

[Recortes de imprensa: Cortesia da dra, Claudina Cravidão]


3. Comentário de L.G. [, mail enviado em 1 de junho ao Jaime, com conhecimento à Claudina Cravidão]:

Jaime:

Obrigado, por tudo o que tens feito pelos nossos camaradas da Guiné, pelo Cravidão e pela Claudina, enfim, pelo nosso "dever de memória e de gratidão"... Eu estava justamente a pensar como deveria responder-lhe, à Claudina, com a delicadeza que o assunto merece, quando abri a caixa de correio hoje de manhã [, 1 de junho]...

Queria também convidá-la a integrar o nosso blogue para, através dela e da nossa Tabanca Grande (9 anos de vida, 11500 postes, 620 membros registados, c. 5 milhões de visitas, atualmente - e nos últimos a nos - com 3 mil visitas em média por dia), manter viva a memória do nosso camarada Cravidão e dos demais camaradas que lutaram (e cerca de  3 mil morreram) na Guiné (1961/74). Vou fazer isso mais logo, ao fim do dia. E falar-lhe um pouco mais sobre a "missão" e a "natureza" do nosso blogue...

Hoje não vou à Lourinhã. De qualquer modo, é só para te dizer que recebi as 3 fotos que a Claudina mandou. Chegaram bem, e têm legendas. Não sei se ela mandou texto em anexo...Se sim, não chegou, só a mensagem.

Vamos pensar em fazer um ou mais postes de homenagem ao cap Cravidão, se ela concordar (penso que seja essa a sua vontade).  Fiquei muito sensibilizado com as palavras dela, que li na sua última mensagem. Gostava de as poder publicar, se ela me autorizar [, depreendo que sim, das tuas palavras e e das palavras dela]. Naturalmente que quero também associar o teu nome, meu irmão, amigo e camarada Jaime, a esta singela homenagem.

Quanto ao endereço (correto) do nosso mail é:

luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com (sem cedilha no graca nem acento na guiné...)

Um xicoração, um Alfa Bravo (ABraço). Luís (**)

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