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quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21367: In Memoriam (371): Luís Rosa (1939-2020), ex-alf mil, CART 640 (Sangonhá, 1964/66), natural de Alcobaça... Passa a integrar a nossa Tabaca Grande, sob o n.º 718. Missa do 7.º dia, na Igreja de São de Deus, Pr. de Londres, Lisboa, amanhã, dia 18, às 19h00



Luís Rosa  (Alcobaça, 1939 - Lisboa, 2020): foi alf mil, CART 640 (Sangonhá, 1964/66)

1. Mensagem de Luis Rosa, dirgida aos editores do blogue:

Data - 16 set 2020, 08:39
Assunto - In Memoriam 




É com imenso pesar que comunicamos o falecimento de Luis Manuel da Silva Rosa, no passado dia 12 de Setembro, casado com Maria Celeste Nogueira dos Santos Silva Rosa, pai de Luis Rosa, Gonçalo Rosa e Gabriela Rosa.

As exéquias fúnebres realizaram-se dia 14 de Setembro, segunda feira, pelas 14:00 horas no cemitério de Aljubarrota (Alcobaça), de acordo com sua vontade.

Em nome de minha Mãe e meus irmãos, informo que a Missa de sétimo dia terá lugar em Lisboa, na igreja de São João de Deus, Praça de Londres, na próxima sexta-feira, dia 18 de Setembro.

Pelas limitações impostas pela pandemia actual, as cerimónias terão formato em conformidade.

Luís Rosa
 

2. In memoriam, Luís Rosa (1939-2020), escrito pelo filho, Luís Rosa:
 




Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > CCAÇ 1477 (1965/67) > O Dacosta (ou "Jacinto") junto ao monumento da CART 640 ["Quartel ocupado e construído pela CART 640, desde 21/5/1964. (CART 640 / RAP2... Há uma outra foto, no nosso blogue, com um monumento semelhante, mas de Cacoca, "quartel ocupado e construído desde 24/6/1964 pela CART 640"].



Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > CCAÇ 1477 (1965/67) > c. 1966 > "Benvindos a Sangonhá",,, Fotos do álnum do 1º cabo cripto, CCAÇ 1477 (Sangonha e Guileje, 1965/67)... (**) do José Parente Dacostam, ex-


Fotos (e legendas): © José Parente Dacosta (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


3. C
omentário do José Eduardo Oliveira (JERO); amigo, conterrâneo e contemporâneo (no CTIG) do Luís Rosa (***)

Duas notas:

Ao Beja Santos; Excelente recensão. Parabéns.

Ao Luís Rosa:  Que grande prazer encontrar o teu novo livro num blogue como o "nosso". Se bem te conheço, vais-te juntar brevemente à nossa Tabanca Grande. Recebi hoje o teu livro, que tiveste a gentileza de me enviar.Vou obviamente recordar os velhos de tempos da Guiné em que trocávamos aerogramas semana sim semana não para recordar Alcobaça e Aljubarrota.

Um grande abraço.
J. Eduardo Oliveira
CCaç 675 /Binta/ 1964-66.

PS - Já agora aproveito para recomendar aos "utentes" do nosso blogue os outros livros do Luís Rosa. Quem ler um dos seus livros ficará fascinado com a força da sua narração e com a informação fundamentada até ao pormenor. Depois me dirão.

19 de dezembro de 2009 às 19:03

4. Comentário do editor LG:

Mais uma terrível notícia, mais um camarada nosso que chegou ao fim da sua "picada da vida". Não nos conhecíamos pessoalmente, mas relembro aqui o comentário do JERO, já com mais de 10 anos, saudando o Luís Rosa, pelo seu livro "Memórias dos Dias sem Fim", e convidando-o a integrar a nossa Tabanca Grande. 

O Luís Rosa foi alferes miliciano da CART  640 (Sangonhá, 1964/66).  Certamente por razões da sua atarefada vida profissional e académica, o Luís Rosa não respondeu ao convite do JERO. E foi pena, porquanto não tínhamos na altura (nem até hoje) nenhum representante da CART  640. 

O Luís Rosa tinha já, no entanto, algumas referências no nosso blogue, na sequência das notas de leitura, subscritas pelo Beja Santos, relativamente ao seu livro de 2009, "Memórias dos Dias sem Fim", que fico agora com vontade de ler. Dele só conhecia um trabalho, mais académico, e mais antigo, "Sociologia de empresa : mudança e conflito"  (Lisboa : Presença, 1992, 242 pp.; coleção "Biblioteca de gestão moderna", 57).

Pelo seu currículo, vejo que tínhamos afnidades, interessando-nos por  áreas académcias como a gestão do comportamento organizacional, a sociologia do trabalho e das organizações, etc.

O Luís Rosa é um autor multifacetado, com obra que vai da ficção ao  romance histórico e do ensaio  à poesia.

Tenho hoje pena de não o ter conhecido pessoalmente. Sob minha proposta, homenageamos este nosso ilustre camarada, integrando-o, a título póstumo, na nossa Tabanca Grande, no lugar nº 818. Em meu nome, dos demais editores e colaboradores permanentes do blogue, apresento ao filho, Luís Rosa e demais família, amigos e camaradas da CART 640 os nossos sentimentos de solidariedade na dor pela sua perda. Mas a sua memória será aqui recordada por todos nós, antigos camaradas de armas.

PS - Peço ao filho, Luís Rosa, que aceite este pequeno gesto de homenagem da nossa parte e, se possível, partilhe connosco algumas fotos da álbum do pai, enquanto alferes miliciano da CART  640, que esteve em Sangonhá, região de Tombali, sul da Guiné, em 1964/66. (Sobre Sangonhá temos mais de 4 dezenas de referências no nosso blogue.) 

__________

(**) Vd. poste de 22 de dezembro de  2017 > Guiné 61/74 - P18125: Tabanca Grande (455): José Parente Dacosta, ou 'José Jacinto', ex-1º cabo cripto, CCAÇ 1477 (Sangonha e Guileje, 1965/67)... Natural da Covilhã, vive em Dijon, França... Passa a ser o nosso grã-tabanqueiro nº 764.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18125: Tabanca Grande (455): José Parente Dacosta, ou 'José Jacinto', ex-1º cabo cripto, CCAÇ 1477 (Sangonha e Guileje, 1965/67)... Natural da Covilhã, vive em Dijon, França... Passa a ser o nosso grã-tabanqueiro nº 764.


Foto nº 1 > O jovem militar José Parente Dacosta


Foto nº 2 >  Guiné > Região de Tombali > Sangonhá  > CCAÇ 1477 (1965/67) > O Dacosta (ou "Jacinto") junto ao monumento da CART 640 ("Quartel ocupado e construído pela CART 640, desde 21/5/1964. [CART] 640 / RAP2. [Há uma outra foto, no nosso blogue, com um monumento semelhante, mas de Cacoca, "quartel ocupado e construído desde 24/6/1964 pela CART 640").


Foto nº 3 > Guiné > Região de Tombali > Sangonhá  > CCAÇ 1477 (1965/67) > c. 1966 > "Benvindos a Sangonhá"


Foto nº 4 > Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > 9 de junho de 1966 > "A nossa equipa de transmissões a plantar hortaliça para fazermos sopa. A água da duche era recuperada para regar. O chuveiro é o barril que podemos ver na foto com uma lata cheia de furos pendurada no barril para fazer de chuveiro. Assim íamos passando esses longos dias naquele quartel no meio do mato. Os tempos da nossa mocidade perdida."


Foto nº 5 > Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > 24 de outubro de 1966 > Uma autometralhadora Daimler, ME-79-09.


Foto nº 6 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 1477 (1965/67) > 25 de janeiro de 1967 > Um grupo de militares, onde  está o nosso camarada José Pereira Dacosta, "Jacinto". A foto deve ser da autoria de outro camarada desta companhia, o Manuel de Sousa Correia Correia (,natural de Viana do Castelo, vive no Seixal).



Foto nº 7 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 1477 (1965/67) > O José Parente Dacosta com o Manuel de Sousa Correia [?]-


Foto nº 8 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 1477 (1965/67) > 5 de março de 1967


Foto nº 9 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 1477 (1965/67) > Quartel de Guileje > 15 de maio de 1967.


Foto nº 10 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 1477 (1965/67) >  15 de maio de 1967 > Tabanca de Guileje onde vivia a população. Há um militar, ao centro, que parece ser um graduado (furriel ou alferes)...


Foto nº 11 > VIII Almoço convívio da CCAÇ 1477 em Tomar, em  5 de Agosto 2017: "a comemorar com familiares e amigos 50 anos de regresso a Portugal,  vindos da nossa antiga Província da Guiné Portuguesa".

Fotos (e legendas): © José Parente Dacosta (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Em 18 do corrente, o José Parente Dacosta e Tabanca Grande celebraram 6 anos de amizade no Facebook!

Dois comentários a propósito do evento:

Tabanca Grande Luís Graça:

Um abraço festivo do editor, Luís Graça. Mas, camarada Dacosta, não vejo o teu nome na lista dos762 membros da Tabanca Grande, no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné... De qualquer modo, obrigado por seres amigo do Facebook da Tabanca Grande... Bom ano de 2018.

José Parente Dacosta:

Amigo,  jà faz 6 anos que faço parte do grupo (Tabanca Grande Luis Graça),  se o meu nome não figura na lista,  eu não tenho culpa...  Eu era 1° Cabo Operador Cripto da Companhia de Caçadores 1477, Guiné, Guileje, 1965/67... Guileje que  também tinha o nome  de "o corredor da morte"... Grande abraço e Feliz Natal.



A CCAÇ 1477 esteve seis meses e 20 dias em Guileje, de 3/12/1966 a 28/05/1967.

Infogravura: Carlos Guedes / Nuno Rubim / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)


2. Comentário do editor Luís Graça:

Caro Dacosta, ou melhor Zé Jacinto (como és conhecido entre os amigos e antigos camaradas):

Tens e não tens razão. Há o Facebook da Tabanca Grande Luís Graça (desde janeiro de 2011, se não erro) e o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (desde 23 de abril de 2004). A Tabanca Grande Luís Graça, página do Facebook, tem mais de 2600 amigos. O blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné tem 763 membros registados...

Tu és amigo do nosso Facebook, desde 18 de dezembro de 2011. Mas, por lapso teu e nosso, ainda não consta da lista alfabética, de A a Z, dos amigos e camaradas da Guiné que estão registados no Blogue... Vejo que és mais facebook...eiro do que blogueiro. Mas não faz mal. Vamos corrigir hoje o lapso e colocar-te sob o nosso poilão. no lugar nº 764. Passas a ser grã-tabanqueiro, de facto e de direito. E o teu nome passa a constar da lista alfabética da Tabanca Grande, na letra J, visível permanentemente na coluna do lado esquerdo. 

Os editores do blogue só precisam, entretanto, que nos arranges uma foto tua atual, tipo passe, e que lhes envies o teu endereço de email, para futuros contactos.

Sobre a Guiné, Sangonhá e Guileje, falam as tuas fotos e legendas, que eu fui recuperar da tua página do Facebook. Num próximo poste publico mais algumas. E tu próprio podes contactar-nos diretamente através dos seguintes emails:

Toda a correspondência para o nosso blogue (e Tabanca Grande) deve ser enviada para um ou mais dos seguintes endereços de e-mail dos nossos editores:

(i) Luís Graça:

luis.graca.prof@gmail.com ou luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com

(ii) Carlos Vinhal:

carlos.vinhal@gmail.com

(iii) Eduardo Magalhães Ribeiro:

magalhaesribeiro04@gmail.com

Para os camaradas que querem saber mais sobre ti, aqui vai:

(i) o José Parente Dacosta. também conhecido por José Jacinto, trabalhou na empresa Automobiles Peugeot de agosto de 1969 a setembro de 2000; 

(ii) vive em Dijon, França; 

(iii) é natural da Covilhã, onde nasceu em 11 de setembro de 1943;

(iv)  tem página no Facebook;

(vi) esteve na Guiné, em Sangonhá e em Guileje, de 1965 a 1967. Em Sanginhá, em 1965/66 e Guileje, em 1967 (e da qual " infelizmente não tenho boas recordações", diz ele).

Só um pequeno reparo: Zé Jacinto, o quartel de Guileje não foi destruído pelo inimigo, foi abandonado em 22/5/1973, pelas NT, ocupado por escassas horas em 25/5/1973, portanto, três dias depois,  por 'Nino' Vieira e os seus homens, e  mais tarde destruído pela nossa Força Aérea.

Sê bem vindo à Tabanca Grande, ou seja, à comunidade constituída pelos membros formalmente registados no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné [https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/].

Temos algumas regras de "conívio", uma das quais é o tratamento por tu, como camaradas de armas que fomos (e continuamos a ser). As 10 regras fundamentais podem ser lidas aqui.
____________

Nota do editor:

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15242: Inquérito "on line" (6): Spínola... e os outros Com-Chefes, antes e depois... (Comentários de Ferreira Neto, José Martins e Beja Santos)



Guiné > Brá, Outubro de 1965 > Governador-Geral e Com-Chefe, general Schultz, o Comandante Militar e o Capitão Nuno Rubim (atrás) recebendo honras militares dos comandos do CTIG em parada. Com o regresso a Portugal do Capitão Rubim, em Fevereiro 1966 ficou a comandar a Companhia de Comandos o Capitão de Artilharia José Eduardo Martinho Garcia Leandro, que até à data estava a comandar a Companhia 640, estacionada em Sangonhá.

Foto (e legenda) : © Virgínio Briote (2005). Todos os direitos reservados

 
Recorte de jornal (talvez de O Século), enviado pelo nosso camarada Joaquim Lúcio Ferreira Neto. Arnaldo Schulz entre outros cargos foi Director do Centro de Instrução da Milícia da Mocidade Portuguesa; na imagem parece ser o primeiro, a contar da direita,  não sabemos em que qualidade é que estava aqui, mais provavelmente como diretor do centro da milícia da MP; os  subsecretários de estado do exército, da aeronáutica e do educação nacional estavam à civil... De 1950 a 1956, o subsecretário de estado do exército era o Horácio Sá Viana Rebelo (1910-1995...  

Três anos depois, em 27 de Novembro de 1958, com o posto de tenente-coronel, Arnaldo Schulz será nomeado ministro do interior, cargo que exerce até 1961. Como brigadeiro, já em 1963, tem uma curta passagem por Angola, antes de ser nomeado, em maio de 1964 governador da Guiné Portuguesa e comandante-chefe, em substituição do comandante Vasco Rodrigues e do brigadeiro Fernando Louro de Sousa. É o primeiro a acumular estes dois cargos.

De referir ainda que, como jovem tenente, com 28 anos, Schulz fez parte da Missão Militar Portuguesa de Observação à Guerra Civila Espanhola, de junho a novembro de 1938, conforme consta do seu processo individual no Arquivo Históprico-Militar. Tal como Spínola, que nasceu no mesmo ano do Schulz (1910), também estaria, três anos depois,  em 1941, na frente russa,  como observador das movimentações da Wehrmacht, no início do cerco a Leninegrado. Dizia-se que era germanófilo, como muitos oficiais do exército português da época. E foi daí que lhe terá vindo o gosto pelo monóculo... Na Guiné, sempre lhe chamei Herr Spínola... (LG)


1. Mais 3 comentários sobre os homens que, do lado português.  comandaram os destinos da Guiné, antes da independência (*):

Joaquim Lúcio Ferreira Neto [, ex-cap mil, CART 2340, Canjambari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69]

Embora tivesse como comandantes os Generais Arnaldo Schulz e António de Spínola, só tive oportunidade de falar com António de Spínola, por duas vezes.

Quanto a Arnaldo Schulz, conheci-o em 1955, nas circunstâncias que figuram na fotografia publicada nos jornais, das quais envio uma cópia [, quando ele, juntamente subsecretário de Estado do Exército, da Aeronáutrica e da Educação,  passou revista à formatura antes do juramento de bandeira dos cadetes do 2º curso de preparação militar no XII Acampamento Nacional da Milícia da Mocidade Portuguesa, na Carregfueira]. Eu fazia parte desse grupo.


José Martins [ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos,  Canjadude, 1968/70]

Vasco António Martínez Rodrigues, Governador sem responsabilidades militares, entre 1962 e 1964, apenas "apanhou" o inicio e dois anos de guerra.

Arnaldo Schulz, Governador e Comandante Chefe, foi transferido de um Comando de Agrupamento em Angola, onde era Coronel (tirocinado). Foi para a Guiné, em 1964,  numa altura em que o efectivo ainda não se aproximava do que veio a ser, poucos anos depois. Consta que se dava melhor com o "alcatrão" do que com a "mata".

António Sebastião Ribeiro de Spínola, Governador e Comandante Chefe (1968-1973)  chegou e "mexeu e remexeu o xadrez da Guiné". Foi o homem escolhido do Marcelo Caetano, pelo que "pode tirar partido" da situação. Aumentou o efectivo e a actividade operacional. Foi o que mais tempo esteve á frente dos destinos da província, e quando o número de militares por metro quadrado atingiu o máximo de sempre. Foi o que criou mais instabilidade ao IN.

José Manuel Bettencourt Conceição Rodrigues, Governador e Comandante Chefe (1973-1974)  sucede a um militar que já tinha firmado as suas credenciais, não só na Guiné mas também na metrópole, pelas "dores de cabeça" provocadas pelas suas viagens frequentes a Lisboa, para falar com Marcelo Caetano e pelos ultimatos que fazia, até que apresentou a demissão e foi necessário criar um "impedimento" para o manter no "arco do poder": a Vice Chefia do EMGFA, único a ocupar esse cargo. Caiu-lhe em cima a Declaração da Independência, assim como o 25 Abril e o Golpe dos MFA/Guiné.

Mais importante para os militares naturais da Guiné do que para os europeus, ainda houve dois Governadores e Comandantes Chefe:

Mateus da Silva e São Gouveia, militares portugueses que, após a prisão do governador Bettencourt Rodrigues, no Forte da Amura, em Bissau, entre o dia 27 de Abril e o dia 7 de Maio de 1974, estiveram na governação interina da Guiné, até á chegada de Carlos Alberto Idães Soares Fabião, Ultimo Governador.

Fui fazer o levantamento de efectivos operacionais "presentes" no TO da Guiné, e constantes dos "5,517 - Os últimos anos da Guerra na Guiné Portuguesa" (***). para tentar "explicar" as preferências indicadas pelos camarigos.

Vejamos oe efectivos:

Governo de Vasco António Martínez Rodrigues

8 de Agosto 1962 - 2.817
8 de Setembro de 1963 - 4.118
8 de Novembro de 1963 - 6.005

Governo de Arnaldo Schulz

23 de Dezembro de 1966 - 18.920

Governo de António de Spinola

4 de Setembro de 1968 - 20.580
4 de Dezembro de 1968 - 20.488
3 de Agosto de 1969 - 24.425
2 de Agosto de 1970 - 23.196

Governo de José Manuel Bettencourt Conceição Rodrigues

7 de Setembro de 1973 - 23.471


Mário Beja Santos [, ex-alf mil, Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70]

Meu caro Luís,

Gabo-te a oportunidade do desafio (*).

Quando estava a ultimar “História(s) da Guiné Portuguesa” de que em breve darei notícias, logo que saiba a data do lançamento, deparei-me com esta lacuna fundamental da guerra da Guiné: o período de 1968-1974 está fartamente documentado, creio que em nenhuma frente de guerra haverá tanta documentação como desse período, respeitante ao carismático Spínola que tudo fez para que a sua encenação política pudesse ser vista lá como cá; ora a governação Schulz, tanto quanto sei, não tem livros, teses de doutoramento ou documentos aparentados, fala-se por alto que Schulz investiu de 1964 até 1968 a fundo na quadrícula e no uso das operações com tropas especiais. O resto é neblina.

Esta situação é prejudicial ao entendimento dos factos sequenciais entre 1962 e 1974. Nomeia-se Schulz e aconteceu o quê? A dar credibilidade ao que escreveram homens como Carlos Fabião, Schulz é um homem cansado e doente, em Fevereiro de 1968. André Gomes e um pequeno grupo flagelaram Bissalanca, o que teve repercussões em toda a cidade e no moral das tropas ali acantonadas, e fora delas.

Ainda não sabemos se este homem foi um puro joguete da História, atirou-se à missão com os seus conhecimentos de Estado-Maior e terá feito aquilo que era possível fazer com os recursos, efetivos e armamentos que Lisboa lhe fornecia, ou se entrou numa rotina perigosa, isto enquanto o PAIGC acumulava meios, prestígio e posições?

Talvez a chave da questão esteja no Arquivo Histórico-Militar, mas era muitíssimo importante que quem sabe da poda, aqui no blogue, desse o litro, contasse a verdade, tal como a viveu ou experienciou.

Estarei atento, também eu preciso de juntar peças, as que temos não são satisfatórias. (**)
______________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 9 de outubro de 2015 >9 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15227: Inquérito "on line" (4): "Dos 3 últimos com-chefes do CTIG, aquele de que tenho melhor opinião é... Arnaldo Schulz (1964/68), António de Spínola (1968/73) ou Bettencourt Rodrigues (1973/74) ?... Resposta até 5ª feira, dia 15, às 15h30

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6380: Agenda Cultural (74): Luís Rosa, autor de Memórias dos Dias sem Fim, dia 14, 6ª feira, às 19h, na Biblioteca-Museu República e Resistência, Benfica, Lisboa



3º Ciclo de Conferências Memórias Literárias Guerra Colonial > Biblioteca-Museu República e Resistência / Grandella > Lisboa, Estrada de Benfica, 419 > 14 de Maio de 2010, às 19h > O Luís Rosa , natural de Alcobaça, tal como o nosso querido amigo Jero, vai falar do seu último livro, "Memórias dos Dias Sem Fim"

Sobre o livro e o autor, já aqui escreveu o nosso camarada Beja Santos (*):


(...) "MEMÓRIA DOS DIAS SEM FIM é o romance mais recente de Luís Rosa (autor de O Claustro do Silêncio, O Terramoto de Lisboa e a Invenção do Mundo, O Amor Infinito de Pedro e Inês, Bocage – A Vida Apaixonada de Um Genial Libertino e O Dia de Aljubarrota), são as suas recordações da Guiné, onde terá combatido entre 1964 e 1966. Terá combatido, na justa medida em que a estrutura da obra não leva o autor a apresentar-se autobiograficamente, há distâncias que são propositadamente confundidas entre o relator e o experimentador das memórias.

"É um livro com uma enorme carga poética e em que se procura responder ao acervo de inquietações de quem combateu e aprendeu a crescer, guardando saudades e regressa ao teatro dos acontecimentos sem rancores nem pedidos de explicação. São sucessivos episódios, balizados pela cronologia de quem parte para a sua viagem no cais do Pidjiquiti e regressa à Guiné reencontrando-se em Lisboa com um comandante de uma unidade de guerrilha do Sul da Guiné. É desse cais do Pidjiquiti que ele partirá para Sangonhá, o seu destino era a fronteira sul, além-Cacine, que ele assim define: 'Um corredor estreito de cerca de três quilómetros, esganado entre o rio Cacine e a linha imaginária da fronteira. Terra de imprevistos, onde a guerrilha se movia à vontade, e se construía uma linha de quartéis, tentando conter a infiltração'..

"Durante a viagem, dá-se uma versão da revolta que ocorreu em 3 de Agosto de 1959, o que historicamente está provado que não foi assim, já havia movimentos independentistas em gestação, o massacre de 3 de Agosto foi mais um detonador de consciências de que o fermento da luta armada. O narrador fascina-se com o relato do comandante Nalu sobre os acontecimentos do Pidjiquiti e rende-se às belezas das florestas, ao rendilhado das águas, ao imputo do tornado e, enfim, a sua embarcação chega a Cacine. Sabemos agora que o narrador é alferes, coube-lhe a missão de construir um quartel em Sangonhá, entre Gadamael e Cacine" (...)


Autor: Luis Rosa (, foto à esquerda)
Título: Memória dos Dias sem Fim: O amor, o sentir das gentes e a crueza da guerra colonial de África
Editora: Presença
Ano: 2009
Colecção: Grandes Narrativas
Nº na Colecção: 453
Nº pp: 268
Preço: c. 15€

Sinopse: 

Com a publicação de Memória dos Dias sem Fim [, clicar aqui para ler um excerto,] o novo livro de Luis Rosa, o romance histórico português rasga novos horizontes, simultaneamente mais vastos e profundos, reveladores da própria dimensão humana. É a realidade da guerra em toda a sua desconformidade e falta de sentido, capaz de denunciar as muitas faces ocultas do homem, desnudando-o e mostrando-o como realmente é - sofredor, idealista, solidário, cruel. 

Mas, patentes nestas páginas de grande intensidade psicológica e sociológica, estão também outras realidades - as culturas, comportamentos e mentalidades da sociedade guineense que permeiam o quotidiano da guerra, a solidariedade que a crueza das circunstâncias comuns faz surgir entre negros e brancos, ou ainda a amizade incondicional que nasce espontaneamente entre irmãos de armas. O sentimento intenso do absurdo da guerra narrado por quem o viveu na primeira pessoa, a manifestação de um homem oculto que se expressa na luta pela sobrevivência no horizonte intenso dos dias sem fim.
_________

Nota de L. G.:

(*) Vd. postes de:

19 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5503: Notas de leitura (44): Memória dos Dias Sem Fim, romance de Luís Rosa - I (Beja Santos)

9 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6137: Notas de leitura (91): Depois da guerra, as recordações da região de Cacine... e algo mais , de Luís Rosa - II (Beja Santos)

sábado, 19 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5503: Notas de leitura (44): Memória dos Dias Sem Fim, romance de Luís Rosa - I (Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Dezembro de 2009: 

 Malta, Temos finalmente escritores com obra firmada centrados na nossa guerra. Luís Rosa tem vastos créditos, acaba de prestar uma grande homenagem revisitando com boa prosa os tempos que todos nós ali vivemos. Envio o resto da recensão no princípio da semana. 

 Um abraço, Mário 


  Em Sangonhá, entre Gadamael e Cacine 

por  Beja Santos


  "MEMÓRIA DOS DIAS SEM FIM" é o romance mais recente de Luís Rosa (autor de "O Claustro do Silêncio", "O Terramoto de Lisboa e a Invenção do Mundo", "O Amor Infinito de Pedro e Inês", "Bocage – A Vida Apaixonada de Um Genial Libertino" e "O Dia de Aljubarrota"), são as suas recordações da Guiné, onde terá combatido entre 1964 e 1966. 

Terá combatido, na justa medida em que a estrutura da obra não leva o autor a apresentar-se autobiograficamente, há distâncias que são propositadamente confundidas entre o relator e o experimentador das memórias. É um livro com uma enorme carga poética e em que se procura responder ao acervo de inquietações de quem combateu e aprendeu a crescer, guardando saudades e regressa ao teatro dos acontecimentos sem rancores nem pedidos de explicação. 

São sucessivos episódios, balizados pela cronologia de quem parte para a sua viagem no cais do Pidjiquiti e regressa à Guiné reencontrando-se em Lisboa com um comandante de uma unidade de guerrilha do Sul da Guiné. É desse cais do Pidjiquiti que ele partirá para Sangonhá, o seu destino era a fronteira sul, além-Cacine, que ele assim define: “Um corredor estreito de cerca de três quilómetros, esganado entre o rio Cacine e a linha imaginária da fronteira. Terra de imprevistos, onde a guerrilha se movia à vontade, e se construía uma linha de quartéis, tentando conter a infiltração”. 

Durante a viagem, dá-se uma versão da revolta que ocorreu em 3 de Agosto de 1959, o que historicamente está provado que não foi assim, já havia movimentos independentistas em gestação, o massacre de 3 de Agosto foi mais um detonador de consciências de que o fermento da luta armada. 

O narrador fascina-se com o relato do comandante Nalu sobre os acontecimentos do Pidjiquiti e rende-se às belezas das florestas, ao rendilhado das águas, ao imputo do tornado e, enfim, a sua embarcação chega a Cacine. 

Sabemos agora que o narrador é alferes, coube-lhe a missão de construir um quartel em Sangonhá, entre Gadamael e Cacine. A partir de agora, os acontecimentos precipitam-se. Entra em cena o Costa, o mais importante comerciante de Cacine, dono do “Paraíso”, o bordel local. 

Mais tarde, por detrás das defesas sólidas do quartel de Sangonhá, onde se misturavam “soldados, população, galinhas, cabras, crianças correndo inconscientes, armas montadas, camiões e tudo mais da ordenada desordem da guerra”, o alferes vai ver um clarão enorme sobre a floresta para os lados de Cacine, ficará a saber que o “Paraíso” estava a arder, bidões de petróleo e aguarrás, panos e óleos ajudaram ao extermínio rápido. 

Luís Rosa vai desfiando tudo aquilo que nós vivemos: os casamentos entre nativos, a exploração colonial; o corpo jazente de um guerrilheiro com a massa encefálica ao lado; as populações obrigadas ao jogo duplo; as morteiradas vindas da República da Guiné; os abastecimentos e a coexistência entre os barcos de guerra e as embarcações de pesca. Mas também a chegada de grandes contingentes, a apresentação dos outros participantes daquele mesmo palco, os de Ganturé, Buba, os fulas de Gabu, veteranos de cavalaria de Aldeia Formosa, uma vasta força que se movia para criar uma linha de quartéis até Cacine. 

O nosso alferes fica em Sangonhá onde, num frenesim se construíram as defesas, espessas paredes de chapas abertas de bidão, profundas fossas circulares, abrigos. São dias e noites em que os blindados Fox andarão de um lado para o outro, seguir-se-ão flagelações, emboscadas, haverá mortos. Um ferido agonizante será despachado com um tiro de misericórdia. 

O alferes de Sangonhá vai ganhando familiaridade com a morte. Ele vai descobrindo que a guerra é loucura, que entre esta e a normalidade há uma fronteira imprecisa, que há prisioneiros indomáveis e outros resignados, há gente que parte para o mato com a resolução de enveredar pela guerrilha, há gente que regressa e tem que jogar o jogo do bom. O alferes assiste aos impulsos sexuais de quem o cerca, descobre que a intolerância não resolve nada, vê Muçulmanos a beber álcool às escondidas, aprende os temores do Irã, força todo-poderosa venerada pelos animistas. 

O alferes assiste ou tem notícia da brutalidade que vai escorrendo por aqueles que descobrem que são carrascos, verdugos a quem nunca se pedirá contas, como o caso daquele alferes que vai punir um denunciante que levou informações para a guerrilha e que depois confessou tudo: o homem depois vai cavando a pequena vala que haverá depois de ser a sua sepultura, o carrasco manda deitar o condenado na cova, soa depois um tiro, o carrasco corta uma orelha à vítima. 

Por vezes, o alferes sai de Sangonhá, descreve as belezas envolventes, mas também as vicissitudes e os trabalhos quotidianos: 

Gadamael servia de ancoradouro e descarga das lanchas de desembarque e batelões vindos de Bissau com o abastecimento. Uma vez por mês surgiam no horizonte do rio. Os homens das lanchas tinham pavor do mato e ficavam sempre temerosos de que uma emboscada surgisse no imprevisto da floresta... Para além do som arrastado do rádio, apenas o avião de ligação, à quarta-feira, sobrevoava o quartel. Olhávamo-lo como ave que vinha da terra de gente onde não havia tiros. Desenhava um círculo e atirava o saco de correio cheio de aerogramas. Depois fazia um abanar de asas e afastava-se, como ave-do-paraíso regressando ao seu mundo sonhado”. 

 No isolamento, contam-se os dias, rasga-se uma pista de aviação a pensar em melhorar o abastecimento e para evacuar os feridos. O alferes interroga-se sobre a ideia de Deus, sobre a presença do padre, o papel das crenças e as manifestações da religiosidade. Por vezes, o alferes é açoitado pelo destino e marcado pelas perdas irreversíveis. É o caso da morte do Braga, homem de sete ofícios. O Braga fez ao alferes uma bela cadeira em pau-rosa, modelo único: 

Sem um prego ou parafuso, apenas o conjunto suportado por espigas, harmoniosamente concebidas, num equilíbrio e estabilidade perfeitos, desencaixando-se num ápice e ficando reduzida a um molho de pequenas travessas, enroladas num pano, que um alfaiate nativo tinha feito, para servir de assento e embrulho”. 

Depois o Braga parte para uma retaliação com uma força comandada pelo capitão Garcia Leandro. 

Antes, recorda o alferes, houvera um pungente episódio de um morticínio de um bando de macacos-cães, atingido em cheio por uma granada de morteiro:

 “Os corpos aos bocados, às dezenas, espalharam-se em volta. Os outros, os que escaparam e os semivivos, lançavam gritos lancinantes, enchendo o espaço, ecoando na floresta, como se fossem gente”. 

Pois bem, os homens de Sangonhá vão até Marela, um santuário do PAIGC, em manobra punitiva. Os guerrilheiros são apanhados de surpresa, Marela torna-se, na confusão e protecção de um dia que amanhece, um campo juncado de cadáveres. A força comandada por Garcia Leandro retira com o Braga, morto em dia aziago. Ao alferes fica a cadeira do Braga: “A obra está sempre completa no ponto em que a deixamos”. 

 Há ainda muito mais coisas a dizer do alferes e o livro é merecedor da nossa atenção (“Memória dos dias sem fim”, por Luís Rosa, Editorial Presença, 2009). É pena os excessos de quem apresenta o livro dizendo que “Rasga novos horizontes, simultaneamente mais vastos e profundos, reveladores da própria dimensão humana. É a realidade da guerra em toda a sua desconformidade e falta de sentido, capaz de denunciar as muitas faces ocultas do homem, desnudando-o e mostrando-o como realmente é – sofredor, idealista, solidário, cruel”. 

Quem isto escreve nunca deve ter folheado o que já se escreveu sobre a guerra colonial, lança-se impunemente num dislate quem nem serve para vender mais livros. Seja como for, Luís Rosa é um muito digno camarada da Guiné, mesmo que, por hipótese, esteja a escrever pelo seu punho o relato de outro.

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 Nota de CV: 

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3903: A Compª de Cmds do CTIG, 1965/66. Artigo do General Garcia Leandro na Revista Mama Sume. V. Briote



Cópia da capa da Revista Mama Sume, Revista da Associação de Comandos. Revista nº 69, 2ª Série, Janeiro a Junho de 2008. Preço €5.


Sumário da Revista Mama Sume.


Com os nossos agradecimentos e a vénia devida ao General (R) Garcia Leandro, autor do artigo que transcrevemos a seguir e ao Dr. Lobo do Amaral, Presidente da Associação de Comandos.



A Companhia de Comandos do CTIG e o seu final


A minha passagem pela Companhia de Comandos do Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG) deu-se entre 20 de Fevereiro e 30 de Junho de 1966, sendo o seu Comandante quando se procedeu ao seu encerramento.
Todo este processo de uma enorme responsabilidade para um Capitão com 25 anos foi depois absorvido por uma vida muito activa e diversificada pelo que raramente falo dele.

Só agora, General reformado e com 68 anos, venho fazê-lo por grande insistência do Lobo do Amaral, para que escreva para a excelente Revista “MAMA SUME”, e pelo apoio, grande amizade, memória e documentação do Virgínio Briote, na altura Alferes Miliciano, Comandante do Grupo de Comandos “Diabólicos”.


A necessidade de fazer a reconstituição histórica


Devo responder a este desafio que é também uma obrigação face à necessidade de ajudar à reconstituição histórica dessa época e dessas Forças Especiais. Acresce que se estes testemunhos vividos não forem dados, ninguém saberá o que passou, até porque esta Companhia foi criada por decisão do CTIG, embora com conhecimento do EME.

Será preciso fazer o enquadramento histórico e explicar a sua sequência pessoal e na Guiné. Tendo eu de trabalhar com a Companhia e na sua recuperação estrutural e operacional em situações de grande risco, tinha também de o fazer com o QG do CTIG, com o qual me relacionava directamente.

Os meus problemas residiram essencialmente aqui. Eram tempos muito difíceis para todos. Com muito entusiasmo conseguiram-se resolver muitos problemas, outros foram esquecidos, mas a história toda só a conheci muito tarde. Depois desta introdução é preciso contar os factos, que aparecem completamente claros no meu Relatório de Posse de Comando e no Relatório Final que o Briote guardou e que serviram de apoio para este texto.


Como surgiram os GrsCmds na Guiné

Os Comandos na Guiné nasceram em 1964 com o Major Correia Diniz e com o Centro de Instrução que arrancou em 23 de Julho, dentro de Brá, então com um grande Campo Militar. O processo era copiado do de Angola, que em 1963 tinha o Centro de Instrução de Comandos na Quibala do Norte.

Em finais deste ano, um grupo de Oficiais e Sargentos do CTIG esteve em Angola para conhecer como se deveria montar toda esta máquina de instrução e operacional. Em princípios de 1964 já os primeiros Comandos da Guiné tomaram parte na Operação Tridente na Ilha do Como.



Na Quibala do Norte, Angola.

Em Angola, em 1963, os Batalhões enviavam para aquele Centro de Instrução efectivos de praças superiores ao de Pelotão que depois do período de instrução e selecção regressavam ao seu Batalhão como Grupo de Comandos de cinco equipas com cinco elementos cada, comandadas por um subalterno e quatro sargentos, para aí serem empregues em operações de maior dificuldade.
Nessa época, na minha primeira Comissão, ainda Oficial Subalterno, no decorrer de uma operação estive cerca de 15 dias na Quibala do Norte, tendo acompanhado essa construção progressiva de que eram responsáveis o Major Santos e Castro e o Capitão Ribeiro de Oliveira. Tal conhecimento e vivência ficaram sempre como minha referência.

Na Guiné tentou-se fazer o mesmo, só que a diferença de efectivos e do Teatro de Operações não permitia o regresso do pessoal à sua unidade de origem.
Assim, após o período de instrução no terceiro trimestre de 1964 com o apoio de pessoal vindo de Angola (o Grupo de Comandos “Os Gatos” do BART 400, comandados pelo Alferes Valente), criaram-se três Grupos de Comandos (Camaleões, Fantasmas e Panteras), no Centro de Instrução de Comandos (CIC), comandado pelo Major Diniz, e que eram empregues à ordem do Quartel-General.


Um processo com enorme fragilidade

Este processo tinha, entre outras, uma enorme fragilidade, pois sendo o pessoal que integrava cada Grupo de Comandos de diferentes Batalhões e Companhias, acontecia que em todos os navios de rendição de tropas havia pessoal que regressava a Lisboa.

Como consequência, os Grupos nunca mantinham grande estabilidade, havendo também a necessidade de realizar mais Cursos para que os efectivos se pudessem manter. Os que davam maior permanência eram os militares oriundos de própria Guiné.

É de lembrar que, tanto em Angola, como na Guiné e depois em Moçambique, antes do levantamento das Companhias de Comandos a partir de 1966 em Lamego, estas Forças eram apenas da responsabilidade dos Comandos Militares locais.

Mesmo depois do início da actividade do CIOE, os Centros de Instrução de Comandos do Ultramar não vieram a encerrar. O CIOE formou Comandos para o CTIG e RMM, enquanto que o CIC/RMA veio a instruí-los para Angola e Moçambique.


A extinção do CIC e o nascimento da CCmds do CTIG

Em meados de 1965 o Major Correia Diniz terminou a sua comissão tendo sido substituído pelo seu Adjunto, Capitão Varela Rubim. Nesta altura o QG decidiu extinguir o Centro de Instrução de Comandos e criar a Companhia de Comandos do CTIG com data de 1 de Julho.

Isto teve uma grande consequência de fundo, correspondendo a uma alteração estrutural e de emprego. Dentro desta lógica era comandada por um Capitão com um Alferes Adjunto mas sem apoio de “staff”. Ele era tudo, num comando com responsabilidades muito acima de uma Companhia normal. Difícil de compreender, mas verdade.

Com o Capitão Varela Rubim foi criado o segundo conjunto de Grupos de Comandos (Apaches, Centuriões, Diabólicos e Vampiros), cuja instrução decorreu de Julho a Setembro de 1965, tendo ficado operacionais a partir do princípio deste mês.

As suas primeiras operações não correram bem, a falta de um apoio administrativo e de planeamento operacional de qualidade agravaram a situação tendo levado a uma rotura entre aquele e o QG.

O Capitão Rubim pediu para sair e ser colocado em qualquer outra Companhia tendo sido destacado para Guileje, uma das mais difíceis zonas operacionais de então.
Entretanto, comandava eu a Companhia de Artilharia 640, localizada no sudeste da Guiné e ocupando dois aquartelamentos, Sangonhá e Cacoca.

A CArt 640 tinha chegado em Março de 1964, tendo tido uma vida operacional inicial muito exigente e difícil. Só a qualidade do nosso pessoal, dos seus Oficiais e Sargentos, explica como pôde aguentar.

Eu apresentei-me em Março de 1965, para substituir o Comandante inicial que havia sido evacuado, já com a situação mais estabilizada, tendo a Companhia apresentado bons resultados operacionais.

Pessoalmente, vivendo no mato, estava muito longe de saber o que se passava em Bissau, cidade que conhecia mal, e muito menos com a Companhia de Comandos. A CART 640 regressou a Portugal em Fevereiro de 1966, tendo eu cerca de um ano de comissão de serviço à minha frente.

Em Janeiro fui chamado ao QG tendo falado com o Comandante Militar, Brigadeiro Guerra Correia, e com o 2º Comandante, Brigadeiro Reymão Nogueira, tendo sido convidado para assumir o comando da Companhia de Comandos, com todo aquele tipo de argumentos que se usam nesta alturas a que, com os meus 25 anos, fui sensível. Era então Governador e Comandante em Chefe o General Arnaldo Shultz.

Desconhecendo a situação existente, tendo como referência o processo de Angola, falei com o Capitão Rubim e apresentei algumas condições que foram aceites pelo Comando e QG do CTIG.

Em resumo, as minhas propostas eram as seguintes:

- Não tendo eu o Curso de Comandos, teria de o ir frequentar a Angola;

- Que o pessoal da Companhia de Comandos, não poderia continuar em Brá misturado com o pessoal de outras unidades e vivendo desarranchado; que deveria ter um Aquartelamento próprio perto de Bissau, ou, no mínimo ser criado um aquartelamento próprio dentro de Brá, com possibilidades de confeccionar alimentação para todo o pessoal;

- Que os quatros Grupos existentes deveriam ser recompletados, pois estavam desfalcados, o que obrigava à realização de mais Cursos de Comandos, e outras questões importantes ligadas com instalações, material e equipamento individual e colectivo;

- Que teria de se feito um grande esforço de moralização do pessoal, que com os antecedentes não se encontrava bem;

- Que precisaria de ter, no mínimo, um Adjunto, na altura inexistente, já que os Alferes que eram de qualidade, só se deveriam preocupar com o seu Grupo de Comandos; já não pensando na parte operacional, existia toda a parte administrativa que teria de ser correctamente tratada. A propósito, é de lembrar que tive de mandar confeccionar em Lisboa o Guião da Companhia que não existia.

Quando se olha para esta lista, que apenas contem o essencial, e se faz a sua interpretação, facilmente se percebe que quem a apresentou estava a pensar no médio prazo e de um modo estrutural que permitisse uma consolidação séria.

Depois da minha nomeação, o processo não decorreu exactamente como havia sido combinado. Fiz, quase em simultâneo, a Comissão Liquidatária da CArt 640 e a entrada na Companhia de Comandos, o que não foi simples.
Obviamente que não fui a Angola, tendo as outras questões, com alguma lentidão e dificuldades burocráticas, sido progressivamente resolvidas.

Recebi um excelente apoio do Batalhão de Engenharia 447, que na altura era comandado interinamente pelo Major Gomes Marques.
Fez-se um 3º Curso de Comandos (em Março e Abril) que permitiu algum recompletamento nos efectivos dos Grupos (2 sargentos e 18 Praças) e a actividade operacional foi grande e com resultados progressivamente melhores.

Comandavam então os Grupos de Comandos os Alferes Briote (Diabólicos), Rainha (Centuriões), Caldeira (Vampiros) e Neves da Silva (Apaches), que se encontrava, à minha chegada, em tratamento médico.
Durante este período, realizaram-se 21 operações com um ou mais Grupos, a maior parte com contacto, isoladamente ou em apoio dos Batalhões por toda a Guiné, fizeram-se as primeiras operações helitransportadas, tendo-se conseguido alguns bons resultados operacionais, nomeadamente nas armas que foram capturadas, e com baixas reduzidas da nossa parte.

Entretanto, e com as rendições de pessoal, havia naturalmente a necessidade de realizar novo Curso de Comandos. Quando fiz a proposta, o curso foi-me recusado. Inicialmente pensei que teria sido um lapso, até ao momento que tomei conhecimento que já estavam em preparação em Lamego as novas Companhias de Comandos Reduzidas com destino aos três Teatros de Operações do então Ultramar, sendo duas atribuídas à Guiné.

Em consequência, na perspectiva local, a Companhia de Comandos do CTIG, criada localmente, iria desaparecer natural e progressivamente, à medida que o seu pessoal terminasse as suas comissões e não fossem realizados novos cursos.

Tudo bem, sendo aparentemente a melhor solução e correspondendo ao reconhecimento que os Comandos, nascidos por iniciativa dos responsáveis militares de cada Teatro de Operações, tinham grande qualidade, eram indispensáveis naquele tipo de guerra e deveriam ser sujeitos a uma preparação à escala nacional, com uma adaptação específica ao Teatro de Operações de emprego.

Mal e doloroso, o eu ter sido convidado para aquelas funções quando os responsáveis locais já tinham conhecimento do que parecia ser a solução definitiva que estava em andamento na Metrópole desde finais de 1965, o que me fora omitido.

Teria sido preferível para todos que me tivessem contado logo a história completa, evitando a omissão de dados importantes para quem tinha aceitado assumir aquela responsabilidade. A realidade futura não permitiu que os CIC do CTIG, da RMA e da RMM tivessem deixado de funcionar.

Assim, a Companhia de Comandos do CTIG foi-se reduzindo para dois e um Grupo, até à chegada da 3ª Companhia de Comandos e mais tarde da 5ª, dos grandes combatentes e excelentes Comandantes, Capitães Alves Cardoso e Albuquerque Gonçalves.

O remanescente daqueles quatro Grupos de Comandos foi integrado nos “Diabólicos”, colocado até finais de Setembro em apoio do Batalhão de Mansoa.

Confronto no QG

Lá tive de fazer mais um Comissão Liquidatária, tendo tido um muito violento confronto com os responsáveis do QG devido à omissão que me havia sido feita, que só não acabou mal para mim devido a toda a razão que me assistia.

Recusei qualquer função no QG e terminei esta Comissão como Oficial de Informações do Comando do Sector Sul, com sede em Bolama.
Nunca mais falei no assunto.

Anos mais tarde, já depois de ter sido Governador de Macau, entreguei o Guião daquela Companhia, com destino ao Museu, quando era Comandante do Regimento de Comandos na Amadora o Coronel Júlio Ribeiro de Oliveira, a quem estava ligado por grande amizade pessoal e respeito profissional.

Ao Militar Português


Uma palavra deve ficar registada ao militar português que naquela altura combateu de um modo único e àqueles que me acompanharam na Companhia de Comandos do CTIG, com dificuldades de toda a ordem, acreditando na missão que nos tinha sido dada, que foi vivida com grande entusiasmo e sentido de responsabilidade.

Um agradecimento especial e amigo deve ficar registado para o Virgínio Briote, sem cuja ajuda documental e apoio adicional este texto nunca teria sido feito, e para o General Ribeiro de Oliveira, que com a revisão feita me permitiu apresentar mais rigor histórico na cronologia e eventos da história geral dos Comandos.

Espero que este despretensioso trabalho seja mais uma peça útil para o levantamento da história das Tropas de Comandos que tão bons serviços sempre prestaram a Portugal.

Lisboa, 13 de Setembro de 2008

José Eduardo Garcia Leandro

Tenente-General (R)

__________


Notas de vb: Os sublinhados, bem como o breve cv do General são da responsabilidade do editor

O Tenente-General José Eduardo Garcia Leandro, nascido em 1940, em Luanda, Angola, cumpriu cinco comissões de serviço no ex-Ultramar, sendo duas em Angola, uma na Guiné, uma em Timor como Chefe de Gabinete do Governador de Timor e foi Governador de Macau entre 1974 e 1979.

No âmbito do ensino foi Professor do IAEM e Professor convidado do ISCSP entre 1999 e 2005, para o Mestrado de Estratégia, sendo actualmente Professor da U.C.P., da U.N.L. e da U.A.L., para Mestrados relacionados com a Segurança, Defesa, Paz e Guerra.
Entre as funções que desempenhou salientam-se as de Conselheiro Militar da Delegação de Portugal junto da OTAN (PODELNATO) Bruxelas, Comandante Operacional das Forças Terrestres, Comandante da Componente Militar da Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sahara Ocidental (MINURSO), Director do IAEM, Vice-CEME, Director do I.D.N. e Presidente do Conselho Coordenador do Ensino Superior Militar.
Representou Portugal em múltiplas reuniões internacionais e tem publicado vários trabalhos e artigos e apresentado diversas conferências em Portugal e no Estrangeiro no âmbito da Estratégia, das Relações Internacionais, da Gestão de Crises, dos Sistemas Colectivos de Segurança e das Missões de Apoio à Paz.
É actualmente Presidente do OSCOT (Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo), Membro do “Academic Council on the United Nations System”, Académico Correspondente da Academia Internacional da Cultura Portuguesa e Membro da Assembleia Estatutária da Universidade Aberta.

domingo, 26 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3360: Em busca de... (47): Referências a meu pai, António Andrade Júnior, Cameconde, 1967/69 (Gonçalo Andrade)







Guiné > Região de Tombali > Cameconde, 1967/69 > O nosso já falecido camarada António Andrade Jr, posando para a fotografia junto a um monumento erigido, possivelmente em Cacoca, junto à fronteira sul, pela CART 640: "Quartel de Cacoca, ocupado e construído pela CART 640, desde 24-6-64"... Não sabemos se o António estava na altura em Cacoca, ou apenas de passagem.


Fotos: © Gonçalo Anadtrade (2008). Direitos reservados



1. Mensagem de hoje, do nosso amigo Gonçalo Andrade, filho do nosso camarada António Andrade Júnior, em busca de companheiros de seu pai.


Amigo Luis Graça,

O meu pai foi combatente na Guiné (Cameconde), aproximadamente entre 03/1967 e 03/1969.

Infelizmente, o mesmo faleceu, vítima de acidente de viação em 1979 (tinha eu 8 anos) e a minha mãe também faleceu em 1983 (eu com 12 anos) igualmente de acidente automóvel. Desta forma, não tenho quem me dê informações ou referências e ando em busca das origens.

Pelo referido, excepto as datas e algumas fotografias, nada mais sei, nem nome/número da Companhia, nem ramo das forças armadas a que pertenceu.

Gostava de obter informações a seu respeito, fotografias e filmes onde aparecesse e de saber se a sua Companhia se organiza em confraternizações.

O seu nome era António Andrade Júnior e era natural de Estremoz, nascido em 1945.

Em busca que fiz na Net dei com o seu blogue. Assim pergunto se me pode auxiliar com informações ou indicando a quem me possa dirigir (particular ou entidade oficial).

Anexo 9 fotos do meu pai e camaradas, no sentido de auxiliar a identificar.

Um abraço
gonçalo andrade
goncalo.andrade@netcabo.pt

2. Comentário de CV:



Aqui ficam algumas fotos que o Gonçalo nos enviou na esperança de que alguém reconheça o seu pai, se reconheça a si próprio ou reconheça algum amigo e assim criar uma corrente que leve ao passado do nosso malogrado camarada. Contamos com a colaboração dos nossos leitores. As duas ou três últimas fotos parece terem sido tiradas na Metrópole, na altura da instrução militar.






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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 26 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3359: Em busca de ... (46): Inácio Semedo, agricultor de Bambadinca, um histórico do nacionalismo guineense (Pepito)