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sábado, 28 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16997: Pedaços de um tempo (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493) (13): O dia mais triste...

Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CART 2339 (1968/69) > 1969 > Mansambo

Foto: © Carlos Marques Santos (2006)


1. Mensagem do nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493/BART 3873, Mansambo, Fá Mandinga e Bissau, 1972/74) com data de 20 de Novembro de 2016:

Amigo Carlos
Antes de mais, faço votos para que te encontres de boa saúde assim com os que te são queridos.
Acabo de escrever e vou enviar-te um pequeno texto recordando aquele que foi o dia mais triste do meu tempo de Guiné.
Recebe um abraço


PEDAÇOS DE UM TEMPO

13 - O DIA MAIS TRISTE...
 
Quando “tropeçamos” no passado mesmo que tal tenha acontecido há já muito tempo, a mente leva-nos a viver situações que podem ser boas ou más, mas não há como fugir. Foi o que aconteceu comigo há dias ao ler um dos postes publicado sobre a construção das instalações de Mansambo.

Cheguei aquele local uns dias mais tarde que a minha companhia, e no dia que os “velhinhos” nos deixaram fiz o meu primeiro serviço, acompanhado pela G3 que era para mim quase desconhecida, fui um dos que foram fazer segurança ao pessoal que andava a transportar a água para as nossas instalações, chuveiros, cozinha e abrigos.

Éramos oito os homens da companhia incluindo o motorista do unimog e o ajudante, mais os picadores que eram três. A distância entre as nossas instalações e fonte era de poucas centenas de metros mas pela manhã o trajeto era sempre picado para que o unimog 411 e acompanhantes pudessem passar em segurança não fosse estar por lá alguma mina colocada durante a noite.

Quando lá chegámos fomo-nos distribuindo para junto de algumas das árvores que lá existiam, só regressámos às instalações próximo da hora de almoço. Foi à sombra de uma de maior porte que me “instalei”. Enquanto lá estivemos não me lembro de ter falado com algum dos camaradas ali em serviço mas sei que o cérebro não parou de pensar, em quase tudo, só que em nada de bom.
Ver os velhinhos partir com a alegria natural de quem conseguiu chegar ao fim da comissão e vai regressar a casa, e pensar no tempo que nos faltava para que também nós pudéssemos viver um dia assim… na altura, falava-se que seria vinte e dois meses depois foram quase vinte e sete.
Preparação para a guerra na Metrópole eu não tive, apenas tinha utilizado a arma duas vezes onde disparei cinco tiros de uma vez e vinte de outra.

A minha recruta e especialidade foram feitas em apenas três meses, no Trem Auto, dos quais três semanas foram passadas no hospital, HMDIC em Lisboa, depois oito meses no RAP3 Figueira da Foz com a especialidade de monitor auto. De guerra e armas nada conhecia, daí a minha falta de preparação, tive que me habituar à situação que todos vivemos, mas fui sempre um fraco guerreiro.

Era já perto de meio-dia quando regressámos da fonte, estava psicologicamente arrasado, foi então que antes do regresso me ocorreu uma frase que escrevi num papel que tinha comigo e que me acompanhou durante todo o tempo de comissão que simplesmente dizia: tem calma, ainda és jovem e o tempo há-de passar.

Foram várias as vezes que li essa frase assim como outras que entretanto fui escrevendo. Algumas vezes ajudou mesmo… Mas aquele dia foi de todos o mais triste… ainda hoje está presente na minha mente como se fosse ontem. Mais tarde em Cobumba passei por momentos bastante mais difíceis, mas aí, a tristeza não raramente passou a dar lugar à raiva…

António Eduardo Ferreira.



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Mansambo > 1996 > O Humberto Reis (ex-fur mil op esp, CCAÇ 12, Bambadinca, 1968/69), contemporâneo da CART 2339 (Mansambo, 1968/69). posando junto ao único memorial que ainda restava, de pé, o da CART 2714 (1970/72)... Dos fundadores, "Os Viriatos", a CART 2339, bem como do quartel que eles erigiram e inauguraram, restavam apenas alguns fragmentos e vestígios... Foto de Humberto Reis (2006)
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16773: Pedaços de um tempo (António Eduardo Ferreira) (12): Memórias que me acompanham

domingo, 27 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16767: Álbum fotográfico de Fernando Andrade Sousa (ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 12, 1969/71) - Parte V: Eu, em Mansambo, com o alf mil op esp Francisco Magalhães Moreira, cmdt do 1º Gr Comb



Guiné >Zona leste > Setor L1 > Mansambo >  c. 1970 > O Fernado Sousa, como o seu malão de primeiros socorros, à direita, com o alf mil op esp Francisco Magalhães Moreira, comandante do 1º Gr Comb,  ambos da CCAÇ 12 (1969/71). Hoje são vizinhos. "Tínhamos regressado de uma operação entre o Xime e Mansambo, Deve ser já para o fim da comissão".

O Francisco Moreira, que não integra a nossa Tabanca Grande (mas que teríamos todo o gosto em o acolher aqui!), vive em Santo Tirso. Já não nos vemos desde 1994. O Moreira era reconhecidamente o homem de confiança do comandante da companhia, o cap inf Carlos Alberto Machado Brito (, hoje cor inf ref). O Moreira passou por Lamego, pelo CIOE, tal como Humberto Reis, os dois "rangers" da CCAÇ 12.

Na altura em que eu, o Fernando Sousa, Francisco Moreira,  o Humberto Reis e outros estivemos na CCAÇ 12 (maio de 1969/março de 1971),  como unidade de intervenção no Sector L1,  conhecemos, como subnidades de quadrícula em Mansambo, as seguintes:

(i)  CART 2339 (1968/69), adida ao BCAÇ 2852 (1968/70):

(ii) CCAÇ 2404 (novembro de 1969/maio de 1970);

e (iii) a CART 2714, do BART 2917 (1970/72). (Esta companhia será rendida pela CART 3493, a que pertenceram o nosso grã-tabanqueiro António Duarte e  António Eduardo Ferreira; a CART 3493 vai em março de 1973 para Cobumba, na região de Tombali, sendo substituída pela CART 3494, do mesmo batalhão, o BART 3873, sedidado em Bambadinca, 1972/74).

A CCAÇ 12 ia frequentememte a Mansambo, em colunas logísticas ou em operações nos subsetores de Mansambo e Xitole.

Foto (e legenda): © Fernando Andrade Sousa (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Continuação da publicação do álbum de Fernando Andrade Sousa que foi 1º cabo aux enf, CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, entre maio de 1969 e março de 1971), e mora na Trofa (*). 

É inacreditável como é que a CCAÇ 12 só tinha dois enfermeiros operacionais para alinhar no mato, aliás, dois 1ºs cabos aux enf, o Fernando Sousa e o Carlos Alberto Rentes dos Santos (e este por pouco tempo, já que foi trabalhar como carpinteiro no reordenamento de Nhabijões!... O 1º cabo aux enf  José Maria S. Faleiro  foi cedo evacuado para a metrópole. +pr doença infetoconbtagiosa,  e e só muito mais tarde foi substituído pelo  1º cabo aux enf Fernando B. Gonçalves.)

Os médicos e os furrieis enfermeiros (como era o caso do nosso João Carreiro Martins) não alinhavam no mato (!), sendo cada vez mais absorvidos pelas tarefas de prestação de cuidados de saúde às populações civis!... 

Spínola parecia confiar apenas no HM 241, nos helicópteros da FAP  e nas enfermeiras paraquedistas que vinham fazer as evacuações Ypsilon!... Quantos camaradas nossos não terão morrido por falta de primeiros socorros no mato!... A vida ali contava-se ao segundo... 

Nunca vi ninguém protestar por esta insólita situação. A política da "Guiné Melhor" levou Spínola a "canibalizar" o seu próprio exército: alguns dos nossos melhores operacionais eram afetados a missões civis, como os reordenamentos, os postes militares escolares e os serviços de saúde!

Mais: a CCAÇ 12 é obrigada a participar directamente no "projecto de recuperação psicológica e promoção social da população dos Nhabijões",  ao tempo do BCAÇ 2852 (e depois do BART 2917), fornecendo uma equipa de reordenamentos e autodefesa, constituída pelos operacionais  alf mil António Carlão (cmdt do 2º Gr Comb), o fur mil at inf Joaquim  M. A. Fernandes (cmdt da 1ª seção do 4º Gr Comb), o 1º cabo at inf Virgílio Encarnação (cmdt da 3ª seção do 4º Gr Comb) ,e o sold arv  at int Alfa Baldé,  que foram tirar o respectivo estágio a Bissau, de 6 a 12 de Outubro de 1969, e ainda 2 carpinteiros, um 1º cabo at inf (cujo nome preciso de confirmar) e próprio 1º cabo aux enf Carlso Albertos Rentes dos Santos).

A CCÇ 12 tinham 24 operacionais (graduados e 1ºs cabos atiradores), metropolitanos,  e uma centena de praças do recrutamento local, distribuídos por 4 grupos de combate, sem contar com os especialistas, metropolitanos (condutores auto, transmissões, enfermagem, etc., ao todo uns 35). Os 4 elementos operacionais brancos que são retirados à companhia, representava um 1/6 do total!

Na prática, e durante muitos meses, o pobre  do 1º cabo aux enf Fernando Andrade Sousa era o único a !alinhar no mato", dos 4 elementos iniciais da equipa de saúde!... (A CCAÇ 12 não tinha, de resto,  soldados maqueiros).  

E o Fernando também tinha, além disso, de integrar as equipas de  "ação psicossocioal" (!), por exemplo, as visitas às tabancas (*)...  E mais: ia todos os dias para o poste de saúde quando estava em Bambadinca!... E ainda foi destacado, dois ou três meses, no princípio de 1970,  para o Xime da CART 2520, que estava sem enfermeiro!...

Em conclusão foram homens como o Fernando Anadrade Sousa, "marca c...",, como se diz no Norte, que seguraram as pontas desta p... de guerra!... (Julgo que levou,  no fim, um louvor, averbado na caderneta militar, como seria, de resto,  da mais elementar justiça!).

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sábado, 26 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16762: Efemérides (240): a Op Abencerragem Candente, 6 mortos, 9 feridos graves... Faz hoje 46 anos... Msn do antigo cmdt da CART 2715, Vitor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014), em 2/3/2012, dois anos antes de morrer, dizendo: "Ando a viver o inferno do Xime"...


Guiné > Zona leste > Sector L1 > Xime > CART 2520 (1969/70) > 20º Pel Art / BAC 1 > O obus 10.5... Na imagem, o fur mil at inf Arlindo Roda, da CCAÇ 12.



 Guiné > Zona leste > Sector L1 > Xime > Madina Colhido > CART 2520 (1969/70) e CCAÇ 12 (1969/71) > Op Boga Destemida > 9 de fevereiro de 1970 >  A helievacuação de feridos em Madina Colhido, no regresso ao Xime ... 

É uma imagem que se repetia ao longo dos meses, sempre ou quase sempre que havia operações à península da Ponta do Inglês, nomeadamente na época seca.  Como acontecerá em 26/11/1970 (*), já no tempo da CART 2715 / BART 2917, a subunidade de quadrícula do Xime que foi render, em maio de 1970, a CART 2520. Era comandada pelo cap art QP Vitor Manuel Amaro dos Santos, então com 26 anos (acabados de fazer em 22 de novembro)... 

Na Op Abencerragem Candente, que envolveu 3 destacamentos (CART 2714, CART 2715 e CCÇ 12), num total de 8 grupos de combate (c. 250 homens), a CART 2715 e a CCAÇ 12 apanharam uma das mais sangrentas emboscadas na história do subsetor do Xime (e até do setor L1), com 6 mortos e 9 feridos graves. Os mortos foram penosamente transportados até ao Xime, em macas improvisadas, os feridos foram encaminhados para Madina Colhido e dali helievacuados para o HM 241, em Bissau... Não temos fotos desse dia de inferno (**)...

Fotos: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem  enviado por telemóvel ao editor do blogue pelo cor art ref Vitor Manuel Amaro dos Santos (Lousã, 22/11/1944- Coimbra, 28/2/2014), DFA, ex-cmdt da CART 2715 (Xime, 1970/72) (***)... 


É um documento humano extraordinária, escrito dois anos antes  da morte do nosso camarada, que ficou marcado para sempre por este trágico evento. Tive com ele algumas conversas, ao telefone, nem sempre agradáveis, nos primeiros meses de 2012... Ele acompanhava e adorava o nosso blogue mas, no início desse ano,   começou a reagir, negativamente,  a algumas referências à Op Abencerragem Candente e ao facto do seu nome estar associado a esta tragédia.

Temos diversas referências a esta operação, a mais antiga das quais é a do poste P7, de 25 de abril de 2005 (****).

A situação ter-se-á agravado com a publicação, dois anos antes (!),  de um relatório do QG de avaliação do desempenho (segurança, limpeza, disciplina, comando, etc.) do BART 2917 e suas sbunidades de quadrícula e adidas, de que nos fora disponibilizada uma cópia, em suporte digital, pelo Benjamim Durães e pelo Jorge Cabral, se não erro. Como cmdt do Pel Caç Nat 63, o Jorge Cabral também era um dos visados pelos homens do Com-Chefe.

O Amaro dos Santos começou a dar  claros indícios de um patológico complexo de perseguição e vitimização. Acabámos por retirar esse documento, por entendermos que ele violava (ou podia violar) as nossas regras editoriais, ao pôr em causa o comportamento de camaradas nossos que tinham assumido funções de comandantes operacionais, como era o caso do jovem cap art Amaro dos Santos.

Quisemos, além disso, e sobretudo, poupá-lo a mais sofrimento e evitar uma escalada de acusações e até de ameaças, pela parte dele,  e que poderiam configura um caso de "cyberbullying", como diríamos hoje.

Guardei pelo menos 7 mensagens que ele me mandou, por telemóvel, entre 15/2/2012 e 13/6/2012. E entre elas uma, que me tocou muito, por que reveladora da sua sensilidade humama, por ocasião da morte do meu pai, Luís Henriques (1920-2012).

Nunca mais estive com ele depois dessa trágica manhã de 26/11/1970. Em 1/1/1971, ele  deixa o comando da CART 2715, por razões de saúde, sendo evacuado para  o HM 241, em Bissau, e depois para a metrópole. Infelizmente não temos nenhuma foto dele nem temos mais ninguém,  vivo, da sua antiga companhia,  na nossa Tabanca Grande. 

Reconstituimos, várias vezes, ao telefone, esta maldita operação, cuja memória trágica nos perseguia a ambos. Eu recordo hoje, mais uyma vez,  os bravos camaradas que tombaram na antiga picada do Xime-Ponta do Inglês, na manhã de 26/11/1970, o Cunha, o Ribeiro, o Soares, o Monteiro, o Oliveira e o Camará.

Recordo também aqueles que, como o Amaro dos Santos, viveram (ou têm vivido), toda a vida, "o inferno do Xime". (Há ainda mais dois camaradas da CART 2715 que morreram na zona da Ponta do Inglês em data posterior, .já em 1971, . incluindo um alferes)

Por minha decisão, e como homenagem a título póstumo, o Vitor Manuel Amaro dos Santos entrou,  em 28/2/2014,  para a nossa Tabanca Grande, passando a figurar na lista dos 50 camaradas e amigos da Guiné que. até à data,  "da lei da morte se foram libertando". (LG)



Ando a viver o inferno do Xime [em caixa alta]. 
Minuto a minuto. 
Ambos sofremos isso. 
[Você] sabe tudo [o] que fiz para evitar a tal op[eração]…
Sem a CCAÇ 12 talvez tivesse “acampado” [sic
em Gundague Beafada. 
Não existia estrada [Xime-Ponta do Inglês]…. 
Era tudo mata densa… 
Qual dispositivo [?!].
Aceito que o estado maior do CACO [sic
tenha feito relatório 
[, incriminando-me,
porque não denunciei [a] discussão c[om] Anjos [sic
[, 2º cmdt do BART 2917].

Aliás [a] História[da] Unidade diz 
embos[cada] [na] estrada.
[O] relatório [da] op[eração] 
[foi] feito [por] Anjos e cap[itão] Brito 
[, cmdt da CCAÇ 12]. 

Evacuado [, em 1 janeiro de 1971], fui bode expiatório.
Essa op[eração] alterou para sempre 
[o] meu (des)equilíbrio [sic] psico[lógico].  
Amo a paz e os meus rapazes… 
Choro os mortos. 
Os vivos dão-me amizade  q[ue] muito prezo. 
Também tenho filhos e netos… 
Têm orgulho de mim… 
Os seus de si…


Queria ser seu camarigo [sic]… 
mas de pleno direito! 
Se nada me move 
contra quem viveu comigo tal inferno [sic]… 
Se acha que tenho culpa, 
prossiga firme mas s[em] convicções. 

Até sempre camarigo. 
Um abraço sincero. 
Amaro dos Santos, 
2/3/2012, 
10h50

[Revisão / fixação de texto: LG]


Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Carta do Xime (1961) (1/50000) (pormenor) > As principiais referências toponómicas da subregião do Xime: um triângulo definido pela (i) margem esquerda do Rio Geba (a norte), (ii) a Foz do Rio Corubal (a oeste) e (iii)  a estrada Xime-Bambadinca (a leste): Xime, Ponta Varela, Poindom, Ponta Colhido, Gundagé Beafada, Baio, Buruntoni... e estrada (abandonada) Xime-Ponta do Inglês (destacamanento do Xime, retirado em finais de 1968)...

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2011)

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(****) Vd. poste de 25 de abril de 2005 >  Guiné 63/74 - P7: Memórias do inferno do Xime (Novembro de 1970)

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16040: Na festa dos 12 anos, "manga de tempo", do nosso blogue (7): A capela do Xime (set 1972) e o nicho de Mansambo (dez 1973)... A devoção mariana e a "canibalização" dos nichos... (Sousa de Castro, 1.º cabo radiotelegrafista, CART 3494 / BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74)



Fotio nº 1 A  > Mansambo > 19 de dezdembro de 1973 > O Sousa de Castro junto ao nicho, originalmente construído pela CCAÇ 2404 (novembro de 1969/maio de 1970), e que a CART 2714 (1970/72), que veio a seguir, "adaptou"..."Senhora, protege a CART 2714"




Fotoº 1  >  O Sousa de Castro, em Mansambo, em 19 de dezembro de 1973 (data que vem na legenda da foto). 


Foto nº 2 > O Sousa de Castro na capela do Xime, em 17 de setembro de 1972... Pareceque a capela era já pouco usada pela rapaziada da CART 3494 que em março de 1973 foi substituída pela CCAÇ 12, cujos militares, quase todos do recrutamento local, eram fulas e muçulmanos... Havia tamb+em uma pequena mesquita no Xime. A capela cristã, no final, também servia de depósito de caixões com restos mortais de militares portugueses que aguardavam, o transporte fluvial para Bissau.


Fotos: © Sousa de Castro (2016). Todos os direitos reservados




Foto nº 3 >  Nicho construído em Mansambo pela CCAÇ 2404 (Binar e Mansambo, 1968/70). A CCAÇ 2404/BCAÇ 2852 substituiu a CART 2339, "Os Viriatos" (Mansambo) entre novembro de 1969 e maio de 1970... Foi, por sua vez, rendida pela CART 2714 ("Bravos e Leais"), pertencente ao BART 2917 (1970/1972).   A CART 2714 foi rendida pela CART 3493 (que em março de 1963 foi para Cobumba, na região de Tombali), sendo substituída pela  CART 3494, do mesmo batalhão (BART trocou o Xime por Mansambo... O nicho mariano diz: "Senhora protege a CCAÇ 2404"...

Foto: © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados



Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Mansambo > 1996 > Monumento erigido pela CART 2714  ("Bravos e Leais"), pertencente ao BART 2917 (1970/1972). Era o único que restava de pé quando o Humberto Reis (ex-fur mil op esp, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71) voltou à Guiné, quinze anos depois.

Foto: © Humberto Reis (2005). Todos os direitos reservados


1. Mensagem, com data de 30 de zbril, que nos envou o Sousa de Castro [ex-1º cabo radiotelegrafista, CART 3494, Xime e Mansmabo, 1971/74; vive em Viana do Castelo; é o nosso grã-tabanqueiro nº 2]

Duas fotos para completar post em apreço (*)

Ter em conta a legenda do nicho em Mansambo [, comparando com a foto nº 3: a CART 2714 / BART 2917, Mansambo,. 1970/72, "canibalizou" o nicho original que era da CAÇ 2404, BCAÇ 2852, 1968/70]

Cumprimentos,

SdC

2. Comentário do editor:

Obrigado, António, pelo teu "olho clínico". Nunca tinha dado conta deste fenómeno a que se pode chamar, sem ofensa, e com toda a propriedade,  "canibalização": canibalizar, segundo o dicionário, também significa "reaproveitar peças de aparelhos, viaturas, armas, etc., em outros mecanismos semelhantes".

O "desenrascanço" do português, na tropa e na guerra, levava-nos muitos vezes a isso, nomeadamente no caso da manutenção e reparação das viaturas... Mas com monumentos e nichos religiosos ainda não me tinha dado conta... Minto: há pelo menos um caso, aqui já relatado, de aproveitamento de um memorial nosso por parte dos "camaradas do PAIGC" (**)... E putro, muito mais espantoso, de "canibalização" praticada pela naturação: neste caso, trata-se de uma "reapropriação: na natureza nada se perde tudo de transforma, até a carcassa de uma antiga vitura militar das NT, em Guileje (***).

A malta da CART 2714  quando foi para Mansambo aproveitou o nicho constrruído pelos rapazes da CCAÇ 2404 (que lá estiverm uns meses, até acabar a comissão)... E fizeram bem, em procurar a proteção da "santa das santas" Afinal, para a CCAÇ 2404 a guerra já tinha acabado.

De resto, a canibalização é uma prática corrente entre os "povos", a nossa civilização (, as nossas cidades; Lisboa, por exemplo)  é composta de "sucessivas camadas" dos povos conquistados e conquistadores: os lusitanos foram romanizados, cristianizados, islamizados, recristianizados... Das antas fizemos capelas como a Anta de Pavia, hoje monumento nacional!... Das mesquitas (como a de Mértola) fizemos igrejas... E há-se ser assim pelos séculos pelos séculos ("secula seculorum")... LG



Guiné- Bissau > Região de Bafatá > Gabu (antiga Nova Lamega) > Fevereiro de 2005 > O José Couto entre dois militares das Forças Armadas, no centro da parada do antigo quartel das NT, junto ao monumento de homenagem a Amílcar Cabral (que, por sua vez, é uma canibalização do memorial aos mortos do BCAÇ 2893, que esteve ali sediado entre 1969/71).

Foto: © José Couto / Tino Neves (2006). Foto gentilmente cedida por José Couto (ex-furriel miliciano de transmissões, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71), camarada do nosso grã-tabanqueiro Constantino Neves.



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 2005 >  Foto  de uma carcaça de um viatura militar das NT que a natureza "canibalizou" (***)... Foto enviada, como prenda do Nata de 2005 pelo nosso saudoso amigo Pepito (1949-2014).

Foto: © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2005). Todos os direitos reservados

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30 de abril de 2016 > Guiné 63/74 - P16034: Na festa dos 12 anos, "manga de tempo", do nosso blogue (5): Capelas, igrejas e nichos religiosos no mato: fotos de António Santos, Arlindo Roda, Benjamim Durães, Carlos Silva, Jorge Pinto, Mota Tavares, Zé Neto (1929-2007)

(**) Vd. lposte de 7 de dezembro de 2006 >  Guiné 63/74 - P1349: Quartel Novo de Nova Lamego: paredes finas e chapa de zinco (Tino Neves)

(***) Vd. poste de 14 de dezembro de  2005 > Guiné 63/74 - P348: A Nossa Foto de Natal 2005

(...) "Olá, Luís: Há dias falava-te de apropriação da língua portuguesa (...). Depois de vir ontem de Guiledje, onde tirei esta fotografia, posso-te falar de apropriação pela natureza: uma carcaça de camião com mais de 30 anos, envolvida por uma árvore que entretanto por lá nasceu. Nem que se queira, não se pode tirar o esqueleto de lá.... Abraços, Pepito" (...)

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13037: Convívios (586): VIII Encontro/Convívio do pessoal da CCS do BART 2917, dia 24 de Maio de 2014 em Torreira (Benjamim Durães)


1. O nosso Camarada Benjamim Durães, que foi Fur Mil Op Esp/RANGER do Pel Rec Inf, CCS/BART 2917 – Bambadinca -, 1970/72, solicitou-nos a publicação do seguinte convite para a festa do convívio anual do BART 2917 e unidades adstritas:

8º ENCONTRO-CONVÍVIO DA CCS / BART 2917
DIA 24 DE MAIO DE 2014
JARDINS DA RIA
QUINTA DO COCHEL – MURANZEL – TORREIRA  


O 8º Encontro-convívio da CCS do BART 2917 é extensivo a todas as unidades que operaram sob o comando do BART [Cart 2714, 2715 e 2716, CCaç 12; Pel Caç Nat 52, 53 e 63, Pel Rec Daimler 2206 e 3085, Pel Mort 2106 e 2268, Pel Intend A/D 2189 e 3050, 20º Pel Art/GAC 7 e Pel Eng do BENG 447 de Bambadinca], seus familiares e amigos, e será no dia 24 de Maio de 2014, no EMPREENDIMENTO JARDINS DA RIA – QUINTA DO COCHEL, MURANZEL, TORREIRA, situado na estrada nº 327, a cerca de 7,5 kms da Praia e cidade turistica da Torreira, na direcção Torreira/S. Jacinto (coordenadas GPS - N 40.7180671º -  W 8.7077497º), com a concentração a partir das 09h00. 

EMENTA
BUFFET DE ENTRADAS
Rissóis de Camarão, pataniscas, pastéis de bacalhau, Lulinhas estufadas, peixinhos fritos com molho criativo, bola de carne, azeitonas temperadas, orelheira de coentrada, pezinhos de porco, croquetes, carapauzinho frito, pão d'alho, pizza.
BUFFET DE SALADAS E FRIOS
Camarão ao natural, paté de sapateira, sapateira, alface, primavera, tomate.
BUFFET DE QUENTES
Sopa, camarão à africana, massada de marisco, amêijoa à Bolhão Pato, amêijoa à espanhola).
BUFFET DE PRINCIPAIS
Arroz de marisco, feijoada de marisco, grelhada de peixes variados, misto de carnes na brasa.
BUFFET DE SOBREMESAS
Fruta laminada, doces de colher, bolos diversos.
LANCHE
Idêntico às entradas, caldo verde, bifanas.
Bolo comemorativo e espumante.
BEBIDAS
Águas, refrigerantes, vinhos da casa, cerveja e café. 

RESPOSTA, O MAIS TARDAR, ATÉ DIA 10 DE MAIO

Nota:
Saindo nas Portagens em Estarreja, segue em direcção à Murtosa e depois em direcção à Torreira e em última instância segue em direcção a S. Jacinto sempre pela N327 junto à Ria. Passa a Torreira em direcção a S. Jacinto e vai encontrar mais ou menos 4 kilometros depois a Pousada da Ria do seu lado esquerdo. Mais ou menos 200 metros à frente encontra uma Rua à direita e vira segue em frente e está no complexo Jardins da Ria que se situa na Rua B, Quinta do Cochel 3870-301 Murtosa. Vindo da A29, sai em Ovar Norte e segue em direcção à Torreira/ S. Jacinto e o processo repete-se. 

Os aperitivos terão início às 10h45, com o almoço às 13.00 horas, conforme ementa. O lanche-ajantarado terá início pelas 17h30. O custo do Encontro-Convívio é de 30,00 Euros para adultos e 15,00 euros para crianças dos 04 aos 09 anos. 

Gratuito até aos 3 anos. Para quem quiser pernoitar neste Hotel, o custo é de 55 euros por quarto de casal (preço especial). 

A reserva terá de ser efectuada directamente pelos interessados para aquela unidade, o mais cedo possível.  

Se necessário, contactar com os organizadores. 

Solicita-se a confirmação das presenças no convívio, o mais tardar, até dia 10 de maio:
JOSÉ A. ALMEIDA – Telemóvel 969 872 211 ou email: jotarmando@gmail.com
PAIS DA SILVA – Telemóvel 968 635 665 ou email: antoniodamas1948@gmail.com BENJAMIM DURÃES – Telemóveis 939 393 315 e 93 93 93 939 ou email: duraes.setubal@hotmail.com

A Organização agradece desde já a todos os camaradas a melhor colaboração no cumprimento dos prazos.
Um abraço,
___________
Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em:

24 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P13033: Convívios (585): XXXI Almoço do pessoal da CCCAÇ 2317 / BCAÇ 2835, dia 7 de Junho de 2014 em Penafiel (Joaquim Gomes Soares)

quarta-feira, 27 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11323: Convívios (507): 7º Encontro-Convívio do pessoal das unidades adstritas ao BART 2917, Viseu, 4 de Maio de 2013 (Benjamim Durães)


1. O nosso Camarada Benjamim Durães, que foi Fur Mil Op Esp/RANGER do Pel Rec Inf, CCS/BART 2917 – Bambadinca -, 1970/72, solicitou-nos a publicação do seguinte convite para a festa do convívio anual do BART 2917 e unidades adstritas:



7º ENCONTRO-CONVIVIO DA CCS / BART 2917


DIA 04 DE MAIO DE 2013 EM VISEU-2


O 7º Encontro-convívio da CCS do BART 2917 é extensivo a todas as unidades que operaram sob o comando do BART [Cart 2714, 2715 e 2716, CCaç 12; Pel Caç Nat 52, 53 e 63, Pel Rec Daimler 2206 e 3085, Pel Mort 2106 e 2268, Pel Intend A/D 2189 e 3050, 20º Pel Art/GAC 7 e Pel Eng do BENG 447 de Bambadinca], seus familiares e amigos e será no dia 04 de Maio de 2013 em Viseu, no Hotel Onix situado a 3 Km do Centro de Viseu, na Via Caçador 16 (coordenadas GPS - N 40º 38' 36,9'' W 7º 51' 52,48''), com a concentração a partir das 08h30.

Os aperitivos terão início às 10h45 horas com o almoço às 13 horas com um prato de peixe e outro de carne.

O lanche-ajantarado terá início pelas 16h30 horas e que consiste de um porco no espeto acompanhado de arroz de feijão e caldo verde.

O custo do Encontro-Convívio é de 35,00 Euros para adultos e 20,00 Euros para crianças dos 07 aos 11 anos.

Quem quiser pernoitar no Hotel Onix, o custo é de 40,00 euros por quarto de casal e a marcação terá de ser efectuada até ao dia 15 de Abril para o organizador ÁLVARO GOMES SANTOS – ex-1º Cabo caixeiro – telemóvel 96 693 08 88 / telefone 232 641 470

A organização do evento está a cargo de BENJAMIM DURÃES - ex-Fur. Milº e ÁVARO GOMES SANTOS – ex-1º Cabo caixeiro, ambos da CCS/BART 2917.

Solicita-se que confirmem até dia 20 de Abril as presenças para:

- BENJAMIM DURÃES – telemóvel 93 93 93 315 ou através de correio electrónico duraes.setubal@hotmail.com ou

- ÁLVARO GOMES SANTOS – telemóvel 96 693 08 88 – telefone 232 641 470

A Organização agradece desde já a todos os camaradas de armas pela atenção dispensada com um até JÁ.

Um abraço,
Benjamim Durães
Fur Mil Op Esp/RANGER do Pel Rec Inf, CCS/BART 2917
___________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

25 de Março de 2013 > Guiné 63/74 - P11311: Convívios (506): III Almoço mensal da Tabanca Ajuda Amiga, dia 28 de Março próximo na Cantina da Associação de Comandos, em Oeiras (Carlos Fortunato)

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10726: A minha CCAÇ 12 (27): Novembro de 1970: a 22, a Op Mar Verde (Conacri), a 26, a Op Abencerragem Cadente (Xime)...(Luís Graça)









Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Subsetor do Xime > 1970 > CCAÇ 12 > A sequência dramática de uma helievacuação, no decurso da Op Boga Destemida (8 de fevereiro de 1970). Pelos vestígios de queimadas, nota-se que estávamos na época seca, logo a foto será dos primeiros meses de 1970... O riquíssimo Álbum Fotográfico do meu querido amigo e camarada Arlindo Teixeira Roda (natural de Pousos, Leiria, a viver em Setúbal há décadas) não tem  legendas... Da trágica Op Abencerragem Candente (25-26 de novembro de 1970, já no final da época das chuvas), não tenho infelizmente qualquer imagem.

Fotos: © Arlindo Teixeira (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

A. Continuação da séria A Minha CCAÇ 12, por Luís Graça (*)... Estávamos com 18 meses de Guiné, e de intensa atividade operacional, desde que na segunda metade do mês de julho de 1969 fomos colocados em Bambadinca, como subunidade de intervenção ao serviço do comando do BCAÇ 2852 (até maio de 1970) e depois do BART 2917 (a partir de junho de 1970)...

Sobre a Op Abencerragem Candente já se escreveu muito e ainda não se contou aqui toda a verdade (nem se contará tão cedo...) . Traz-nos, a todos aqueles que participaram nesta tragédia, terríveis recordações... Há gente viva, que ainda sofre sempre que se fala aqui da Op Abencerragem Candente...

Hoje optarei pelo laconismo. Limito-me a reproduzir a o que vem escrito na história da CCAÇ 12. Um dia, não sei quando, hei-de escrever um poema em memória de todos aqueles que morreram no dia 26 de novembro de 1970, na antiga estrada do Xime-Ponta do Inglês, um dos sítios mais sangrentos da guerra no TO da Guiné... Paz às suas almas. Evoquei-os, discretamente, em poste recente, num texto poético sobre a antiga estrada Xime-Ponta do Inglês, de má memória.  Fiz questão que este poste saísse hoje, 42 anos depois da Op Abencerragem Candente.










Excertos de: História da CCAÇ 12: Guiné 69/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores nº 12. 1969/71.
Cap. II. pp-41-43.





Guiné > Mapa geral da província (1961) > Escala 1 /500 mil > Pormenor de parte do Setor L1 (Bambadinca), compreendido grosso modo pelo triângulo Bambadinca- margem direita do Rio Corubal - Xitole. com a posição relativa da sede de batalhão, Bambadinca (BART 2917, 1970/72) e das respetivas subunidades de quadrícula, localizadas em Xime (CART 2715), Mansambo (CART 2714) e Xitole (CART 2716).

 A vermelho as duas estradas que existiam em 1961: Bambadinca-Xime-Ponta do Inglês (interdita desde finais de 1968); e Bambadinca-Mansambo (aquartelameento construído de raíz em 1968, pela CART 2339)-Xitole (, estrada que seguia  depois para o Saltinho, e a partir aí estava interdita). 

Para se ter uma noção da distância, os obuses 10.5 do Xime não conseguiam bater a zona da Ponta do Inglês/Foz do Corubal [mapa de Fulacunda), que tinha a norte a rica bolanha do Poindom e um núcleo populacional (balanta e beafada) controlado pelo PAIGC,desde a destruição, pelas NT, de Samba Silate e de Poindom, em 1963. A guerrilha mostrava-se sempre muito aguerrida na defesa da sua população, face a ações de contrapenetração das NT (com exceção da grande Op Lança Afiada, 8-19 de março de 1969, que mobilizou cerca de 1300 efetivos, entre militares e carregadores civis).______________

Nota do editor:

sábado, 24 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10720: Blogpoesia (307): Não, não havia nada na antiga estrada do Xime-Ponta do Inglês (Luís Graça)

1. Segunda feira, 26 de novembro de 2012, passam  42 anos (!) sobre a Op Abencerragem Candente. 

Por poucos ou muitos anos que eu ainda viva, nunca conseguirei esquecer esse dia. 

A 22, estava a decorrer a Op Mar Verde, envolvendo - entre outros - os nossos camaradas da Companhia de Comandos Africanos, nossos vizinhos de Fá Mandinga; a 24, o Tony Levezinho fazia 23 anos, e celebrámos a efeméride como mandava o RDM de Bambadinca; a 25 mandaram-nos curtir a bebedeira para o Xime, para uma operação a nível de batalhão; a 26, íamos conhecer o inferno...

Dedico este texto poético a todos os meus camaradas da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71), da CART 2715 (Xime, 1970/72) e CART 2714 (Mansambo, 1970/72), num total de 8 Gr Comb, que participaram na Op Abencerragem Candente, seis dos quais não regressaram vivos (o Seco Camará, o Rufino Correia de Oliveira, o P. Almeida, o Manuel da Silva Monteiro, o Joaquim de Araújo Cunha e o Fernando Soares) e nove dos quais foram gravemente feridos.

Não, não havia nada na antiga picada do Xime-Ponta do Inglês
por Luís Graça

Não, não havia nada
Na antiga estrada
Do Xime-Ponta do Inglês,
Ligando o Geba ao Corubal.

Não havia nada naquele lugar
Que era de tormento,
Àquela hora mortal
Da madrugada.
Nada, onde um homem
Pudesse afogar a sua fome,
Matar a sua sede,
Aliviar o seu sofrimento.

Nem sequer um banco de pedra
Como aquele em que agora me sento,
Frente ao Tejo,
Fresco, límpido, matinal,
E onde alguém escreveu,
Em letra garrafal:
Amo-te, Marta,
És a razão do meu viver.


Hoje estou à beira Tejo
E não vou a caminho da Foz do Corubal.
O Tejo corre para o Atlântico,
E o Corubal para o Geba.
Em Lisboa tenho o azul do céu,
Que, dizem, é o azul mais puro do mundo.
No Geba, tenho uma G3,
Tarrafo, lodo, merda,
Dois cantis vazios,
Um céu de bronze,
E mil e uma razões para (sobre)viver.

Nem poderia haver
Nenhum banco de pedra,
Nem nenhum jardim,
Nem nenhuma Marta
À minha espera.
Nem muito menos nenhuma Marta
Que fosse a minha razão de viver.

Quando muito, um fantasma,
Surgido do cacimbo matinal,
Por detrás do baga-baga,
Armado de Kalash!

Não tinha, de resto, razão de viver,
Raison d’ètre, diria a minha copine,
Se eu fosse faltoso, refractário ou desertor
E tivesse dado o salto para França.

Não tinha nenhuma razão de viver,
Nem de morrer,
Nem de matar,
Não tinha sequer nenhuma razão
Para estar ali, àquela hora.

Não havia nada
Na antiga picada abandonada
Do Xime-Ponta do Inglês.
Nem um pub  irlandês
Com a ruiva Guiness
A piscar-te olho,
A ti, herói português,
Com um improvável genoma celta.
Nem uma tasca afadistada
Da tua saudosa Lisboa,
Com a perna da morena,
Esbelta,
Lânguida,
A faca na liga,
Deixando antever
Os doces mistérios da sua floresta-galeria.

Não, não havia nada,
Nem uma decrépita gasolineira
Dos filmes do Faraoeste da tua infância,
Onde abastecer a tua Daimler,
Salta pocinhas, minas e armadilhas,
Em que ias de Bambadinca ao Xime
Simplesmente para beber uma cerveja,
Sem escolta nem picagem,
Num jogo de roleta russa.

Nem muito menos a Marta-Mátria,
Republicana e laica,
Verde e rubra,
De busto farto,
De peito feito às balas,
Dando a volta à cabeça dos rapazes,
Dando-lhes tusa,
Na Feira Grande de Setembro:
- Vai mais um tirinho, ó freguês!

Não, não havia nada,
Nem sequer uma simples mulher,
Uma fêmea de bunda larga,
Ou até uma simples mulher polícia sinaleira,
Cata-ventos,
Bailarina,
Redondinha,
Assexuada,
De pelo na venta
E apito na boca,
No cruzamento dos quatro caminhos.

Não, já não vou de G3 em punho,
Em defesa da honra das donzelas
Da minha Pátria.
Chamem-se elas Marta ou Mátria.
Não, já não vou, cego, surdo e mudo,
A correr,
Disposto a morrer,
Com ganas de gritar Pátria ou Morte!,
Na velha picada, abandonada,
Do Xime-Ponta do Inglês
Onde não havia nada.
Nem ao menos um tosco espanta-pardais,
Especado no meio do capim,
Em vez do campo de mancarra do fula,
Ou do teu jardim,
Do Éden,
Ou até uma simples seta,
De pau tosco,
A apontar-te a direcção do inferno,
A maldição bíblica do pecado,
Omnipresente,
Obsessivamente eterno.

Havia apenas,
No fim da picada, o inferno.
À tua espera,
À espera dos teus camaradas.
Às 8h45 da manhã
Do dia 26 de Novembro
De mil novecentos e setenta.
Da era de Cristo.
E Conacri ali tão perto!

O caminho mais curto para o inferno ?
Não o vês ?
A picada, abandonada, do Xime-Ponta do Inglês,
Onde Cristo seguramente nunca parou
Nem amou,
Nem penou,
Nem sofreu,
Nem pecou,
Nem rezou.

O teu Cristo etnocêntrico,
Judeu,
Semita,
Que nem sequer era caucasiano,
E nem muito menos sonhava onde era a Senegâmbia
Nem o Império do Mal(i).

Pensar global,
Sonhar alto,
Agir local,
Meu sacana
Ou melhor ainda:
Não pensar,
Muito menos sonhar,
Tiro instintivo, a varrer o capim.

Eis a ordem do capitão
Que tem acima o major,
Na sua avioneta,
No seu PCV,
E no topo o general,
O Com-Chefe,
O Caco Baldé,
O Homem Grande de Bissau,
Herr Spínola.

E à frente de todos,
Com o seu inseparável cachimbo,
O Seco Camará,
Seco de carnes,
Velho e valoroso guia das NT,
Pau para toda a obra,
Cão de fila,
Mandinga do Xime,
Herói da tua galeria de heróis,
Verdadeiro líder, etimologicamente falando,
Aquele que vai à frente mostrando o caminho.

Nesta guerra de baixa intensidade,
Não dês vazão ao Tratado das Paixões da Alma.
E por favor, camaradas, poupem as munições.
Da NATO.
Dizem que a glória te espera,
Escreveu um serial killer,
Roqueteiro,
Com fama de fazer saltar cabeças a 50 metros,
Ao longo da alameda dos bissilões.
Vai para casa, tuga,
Que a tua namorada põe-te os cornos!


Não, não havia nada
Naquela picada, abandonada,
Do Xime-Ponta do Inglês.

Lourinhã, 19 de agosto de 2010 / Alfragide, 24 de novembro de 2012

_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 24 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10719: Blogpoesia (306): O povo a que pertenço (Juvenal Amado)

sábado, 30 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10094: A minha CCAÇ 12 (25): Setembro de 1970: Levando 50 toneladas de arroz às populações da área do Xitole/Saltinho, e aguardando o macaréu no Rio Xaianga (Luís Graça)



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > O Fur Mil Op Esp, do Pel Rec Inf, CCS/BART 2917, no espaldão do Mort 81... Nessa época, Bambadinca não tinha artilharia (só no Xime).








Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > Pessoal do Pel Rec Inf (?), CCS/BART 2917, algures a atravessar uma bolanha (ou uma lala).





Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > O Fur Mil Op Esp, do Pel Rec Inf, CCS/BART 2917, de costas, algures, numa coluna logística (?).





Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > Uma tabanca fula, algures no setor, não identificada, mas presumivelmente do regulado de Badora.




Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > Estrada Bambadinca -Mansambo - Xitole - Saltinho (?)




Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > Máquinas da TECNIL na abertura da estrada Bambadinca- Xime.






Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > Máquina da TECNIL abrindo clareiras na mata...





Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > Abertura da estrada Bambadinca- Xime, nas imediações de Bambadinca (ou, melhor, do reordenamento de Bambadincazinha)




Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > O Rio Geba ou Xaianga...




Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > Uma das raras fotos do fenómeno do macaréu, no delta do Rio Geba...





Imagens de diapositivos digitalizados. Álbum do Benjamim Durães, ex-fur mil op es, Pel Rec Info, CCS / BART 2917 (1970/72). Edição e legendagem: L.G.


Fotos: © Benjamim Durães (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.






A. Continuação da série A Minha CCAÇ 12 (*), por Luís Graça [, foto acima, Bambadinca, 1970] 



...








Fonte: Excertos de CCAÇ 12: história da unidade. Bambadinca, 1971, 
mimeog., pp. 39-40



Sobre este mês (em que a CCAÇ 2590/CCAÇ 12 perfazia 16 meses de comissão), pode ainda ler-se o seguinte na história do BART 2917 (p. 62, do ficheiro da autoria do Benjamim Durães, num total de 182 pp., em formato  pdf):



03.SETEMBRO.70:


Um grupo IN estimado em cerca de 50 elementos abriu fogo; pelas 08H15, de Mort 82, LGFog e armas automáticas, contra o aquartelamento do Xime durante cerca de 15 minutos.


As NT sofreram um ferido muito ligeiro. Houve um outro ferido ligeiro na população.


09.SETEMBRO.70:


Um Grupo de Combate da CART 2716 [, Xitole], que fazia a segurança a uma coluna de reabastecimento vinda de Bambadinca, detectou e levantou uma mina anti-pessoal reforçada com 7 kg de trotil, entre a Ponte do Rio Jagarajá e a Ponte do Rio Pulon em [XIME 7B1-63].


14.SETEMBRO.70:


Efetuou-se o 2º reabastecimento de arroz para as populações da área do Xitole – Saltinho, sem qualquer incidente.


15.SETEMBRO.70:


Um Grupo de Combate da CART 2714 [, Mansambo], quando se deslocava afim de fazer a segurança a uma coluna vinda de Bambadinca (3º reabastecimento de arroz num total de 50 toneladas), seria emboscado por um grupo IN, simultaneamente ao acionamento de uma mina A/P reforçada na Estrada entre Mansambo e Ponte do Rio Timinco em [XIME 8B2-74], escassos minutos antes da coluna Bambadinca – Xitole passar. O accionamento da mina causou a morte a um picador (Mussa Baldé) e feriu gravemente outro.
___________
Mortos do Ultramara > TO da Guiné > 15 de setembro de 1970


Apelido Nome Posto Ramo Teatro de operações Data Motivo
BALDÉ MUSSÁ BALDÉ Sold Exército Guiné 15/09/1970 Combate
Apelido Nome Posto Ramo Teatro de operações Data Motivo



Fonte: Liga dos Combatentes > Mortos no Ultramar
___________


Um Gr Comb da CCAÇ 12 que seguia na testa da coluna procedeu depois ao reconhecimento da área, tendo detectado 30 abrigos individuais e a posição dum Mort 82, a 1 Km de estrada.


18.SETEMBRO.70:


Grupo IN de efectivo não estimado abriu fogo, pelas 16H30, de Mort 82, LGFog e armas automáticas sobre o aquartelamento do Xime sem consequência para as NT e população.


Um grupo IN estimado em cerca de 10 elementos abriu fogo da PONTA VARELA, de PM, LROCK e MORT 82 sobre os barcos Badora e Manuel Barbosa, de [XIME 3D4-52], tendo causado um morto (mulher) e 2 feridos muito ligeiros, todos da população.


21.SETEMBRO.70:


Quando uma Secção do Grupo de Combate destacado no Enxalé [, CART 2715,] se dirigia de Porto Velho para o aquartelamento, pelas 19H00, e a cerca de 50 metros deste, a viatura avariou-se tendo então o pessoal que nela seguia começado a empurrá-la nos poucos metros que faltavam, acionando então uma mina conjugada com uma emboscada da qual as NT tiveram 3 feridos graves e a perda de diverso material.


Simultaneamente um outro grupo IN com 200 homens vindos da base de Madina, começou a flagelar o aquartelamento com Mort 82, LGFog e armas automáticas sem consequências para as NT, que reagindo com Mort 81 e artilharia do Xime [, CART 2715 + 20º PEL ART / GAC 7, 10,5 cm, ] puseram o IN em fuga com vários mortos e feridos confirmados pelos numerosos rastos de sangue, ligaduras, algodão e frascos de soro vazios abandonados.


Notícias posteriores de diversas origens admitiam ter morrido nessa acção o Comissário Político António do grupo de André e pertencente ao acampamento Ide Sará.


24.SETEMBRO.70


Grupo IN de efetivo não estimado abriu fogo de Can s/r, Mort 82, LGF e armas automáticas sobre o aquartelamento do Xime. A flagelação inimiga não causou quaisquer espécies de danos, nem materiais pessoais.


29.SETEMBRO.70


Inicia-se a Acção Gruta com 2 Grupos de Combate da CCAÇ 12 que consiste de uma patrulha de reconhecimento entre Finete e São Belchior. Foram reconhecidos entre Saliquinhé e São Belchior vestígios deixados pelo IN após a última ação contra as NT aquarteladas em Enxalé.




Guiné > Zona Leste > Croquis do Sector L1 (Bambadinca) > 1969/71 (vd.
Sinais e legendas).
___________

Nota do editor:


Último poste da série > 21 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9930: A minha CCAÇ 12 (24): Agosto de 1970: em socorro da tabanca em autodefesa de Amedalai, terra do nosso hoje grã-tabanqueiro J. C. Suleimane Baldé (Luís Graça)