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terça-feira, 8 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20217: Jorge Araújo: ensaio sobre as mortes de militares do Exército no CTIG (1963/74), Condutores Auto-Rodas, devidas a combate, acidente ou doença - Parte III




Foto 1 – Uma das duas GMC's da CCAÇ 423 (São João e Tite: de 22Abr1963 a 29Abr1965) danificadas por efeito do rebentamento de mina anticarro/fornilho colocada na estrada Nova Sintra – Fulacunda. A primeira, em 03 de Julho de 1963 (4.ª feira), no sítio de Bianga. A segunda, em 18 de Julho de 1963 (5.ª feira), no mesmo itinerário. Na sequência destas ocorrências, registaram-se, no total, oito baixas [Vd. quadro acima]




 O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, 
CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, 
indigitado régulo da Tabanca de Almada; 
tem mais de 225 registos no nosso blogue.


ENSAIO SOBRE AS MORTES DE MILITARES DO EXÉRCITO, NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE DE "CONDUTOR AUTO RODAS": COMBATE, ACIDENTE, DOENÇA (PARTE III)





1. – INTRODUÇÃO


Continuamos a divulgar e a analisar os resultados apurados nesta investigação, tendo por objecto de estudo o universo das "baixas em campanha" de militares do Exército, e como amostra específica os casos de mortes de "condutores auto rodas", ocorridas durante a guerra no CTIG (1963-1974), identificados na literatura "Oficial" publicada pelo Estado-Maior do Exército, conforme demos conta no P20126, o primeiro desta séria.

No segundo – P20179 (*), para além da apresentação de mais quadros e gráficos estatísticos, incluímos os primeiros cinco "casos", escolhidos de forma aleatória, onde foram descritos os contextos e alguns dos factos que podem servir de explicação para cada um dos episódios. Como já referimos anteriormente, esta opção aleatória teve por critério de escolha: datas diferentes, bem como locais, épocas e missões, de modo a fazer-se, se possível, uma análise comparativa entre os acontecimentos.
Porque não o fizemos no fragmento anterior por razões de gestão do espaço, o que irá acontecer agora, retornamos às duas ocorrências (fotos 1) que ficaram na historiografia da guerra como tendo sido as primeiras, por efeito de rebentamento de minas/fornilhos, as quais originaram as oito mortes do quadro acima.

Para esse efeito, socorremo-nos das memórias do camarada Gabriel Moura, do Pel Mort 19, escritas no livro de 2002 - «Tite: 1961/1962/1963, Paz e Guerra» - de que é autor.

Na obra citada, é referido que o Comando em Tite, na sequência do pedido urgente de socorro que lhe foi enviado por uma coluna militar que vinha de S. João, para patrulhar a zona de Buba e Fulacunda, faz sair um pelotão em seu auxílio.

O pedido de ajuda estava relacionado com a missão atribuída à força em trânsito [CCAÇ 423] onde "uma viatura com cerca de 20 militares foi apanhada por uma carga de explosivos [TNT] colocados no chão, projectando a viatura [GMC] a cerca de 30 metros, ficando curvada pela potência dos explosivos que detonou [Deve ser a de 18Jul63]. (…)

"A distância a que se encontravam do nosso aquartelamento [Tite] ainda era de umas dezenas de quilómetros e as restantes viaturas, que não foram apanhadas pela explosão da mina anticarro, não tinham condições de continuar uma vez que não sabiam se havia mais minas colocadas. A nossa missão era bater todo o caminho até lá, fazendo uma inspecção do chão e das margens no sentido de evitar qualquer ataque ou emboscada preparada. O barulho da detonação, apesar da hora a que se deu, era já noite, talvez cerca de 23 horas, foi ouvido em Tite como se de uma coisa próxima se tratasse, quando de facto era a uma distância considerável, tal era a potência do engenho." (pp 91-92).


2. – ANÁLISE DEMOGRÁFICA DAS MORTES DE MILITARES DO EXÉRCITO, NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE DE "CONDUTOR AUTO RODAS": COMBATE-ACIDENTE-DOENÇA (n=191)


Recordamos que a análise demográfica incluída nesta investigação, e as variáveis com ela relacionada, foi feita a partir dos casos de mortes de militares do Exército durante a guerra no CTIG (1963-1974), da especialidade de "condutor auto rodas", identificados nos "Dados Oficiais", elaborados pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974), 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II, Guiné; Livros 1 e 2; 1.ª Edição, Lisboa (2001).




Para contextualizar a análise estatística desta narrativa, lembramos que no estudo foram apurados cento e noventa e um casos de mortes de "condutores auto rodas", do Exército, durante a guerra no CTIG (1963-1974).

Deste universo, as causas de morte foram estratificadas em três variáveis categóricas: combate - acidente - doença, em que na variável "combate" foram registados 112 (58.6%) casos; seguida pela variável "acidente", com 57 (29.9%) casos e, finalmente, a variável "doença", com 22 (11.5%) casos, conforme se indica no gráfico acima.

 



Quanto à variável categórica "combate", o estudo mostra que existem três causas principais (factores) para as mortes:  (i) "em combate" (operações/emboscadas); (ii)  "por minas" (explosivos); e  (iii) "por ataque ao quartel" (aquartelamentos/destacamentos/instalações militares).

Das 112 causas de morte "em combate" (58.6%), n=69 (61.6%) foram "por "contacto" com o IN; n=31 (27.7%) por engenho explosivo e n=12 (10.7%) por consequência de "ataque" IN ao quartel, conforme representação gráfica acima.


3. – MAIS ALGUNS EPISÓDIOS E CONTEXTOS ONDE OCORRERA

MORTES DE CONDUTORES AUTO RODAS ["CAR"] POR EFEITO
DE REBENTAMENTO DE "MINAS"



Neste ponto, continuamos a observar um dos principais objectivos deste trabalho, onde, para além dos números, se recuperam algumas memórias, sempre trágicas, quando estamos em presença de perdas humanas. Assim, e em homenagem a todos os camaradas que tombaram em campanha, apresentaremos, de seguida, mais quatro "casos" (do total de trinta e três), enquadrados pelos contextos conhecidos.

Como principal fonte de consulta, foi utilizado o espólio do blogue, ao qual adicionámos, ainda, outras informações obtidas em informantes considerados privilegiados.


3.6 - 03 DE JUNHO DE 1965: A SEGUNDA BAIXA DE UM "CAR" POR MINA - O CASO DO SOLDADO DOMINGOS JOÃO DE OLIVEIRA CARDOSO, DA CCAÇ 508, ENTRE PONTA VARELA E O XIME



A segunda morte em "combate" de um condutor auto rodas do Exército, por efeito do rebentamento de uma mina ("bailarina") [categoria de "minas"], foi a do soldado Domingos João de Oliveira Cardoso, natural de São Cosme, Gondomar, ocorrida em 03 de Junho de 1965, 3.ª feira, no itinerário entre a Ponta Varela e o Xime. O soldado 'Car' Domingos Cardoso pertencia à CCAÇ 508, uma Unidade mobilizada pelo RI7, de Leiria, chegada a Bissau a 20Jul1963, sob o comando, interino, do Alferes Augusto Cardoso.

Durante a sua comissão de dois anos (20Jul63 a 07Ago65), o contingente da CCAÇ 508 cumpriu importantes missões em dez locais diferentes, como sejam: Bissorã (Ago63-Mai64 - treze meses - sendo substituída pela CART 643); Barro e Bigene (Ago63-Dez63), Olossato (Dez63-Mai64), Bissau e Quinhamel (Set64-Mar65), Bambadinca (Mar65-Abr65, sendo substituída pela CCAV 678) e Galomaro, Xime e Ponta do Inglês (Abr65-Ago65).

Porém, a sua última missão em zona operacional iniciou-se em Março de 1965, com dezoito meses de comissão, ao ser transferida para Bambadinca, onde ficou instalado o Comando, sob a liderança, desde Jul64, do Cap Francisco Xavier Pinheiro Torres Meirelles, assumindo este a responsabilidade do respectivo subsector, com Gr Comb destacados em Xime e Galomaro e ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 697, designado a partir 11Jan65 por Sector L1, sediado, à época, em Fá Mandinga, sob o comando do Tenente-Coronel Mário Serra Dias da Costa Campos.

Em 16Abr65, a CCAÇ 508, ao ser substituída pela CCAV 678, foi deslocada para o Xime, tendo assumido a responsabilidade do respectivo subsector, criado nessa data, com grupos de combate destacados em Ponta do Inglês e Galomaro.



Recordo que o tema relacionado com os factos ocorridos em 03 de Junho de 1965, perto da Tabanca de Ponta Varela, na estrada Xime-Ponta do Inglês (infogravura acima), local onde se verificaram quatro baixas no contingente da CCAÇ 508, como consequência de ter sido accionado um engenho explosivo, já foi devidamente abordado em narrativas anteriores, estas associadas com a morte do Cap Francisco Meirelles (1938-1965), tendo como principal fonte de consulta e análise, o livro publicado em sua memória pela sua família (pp 8-11). [vidé P19597; P19613; P19640; P19656 e P19687].



Foto 2 – Ponta Varela (Xime), 03JUN1965. Momento antes da explosão que originou quatro mortes nos efectivos da CCAÇ 508. O Cap Francisco Meirelles (à esquerda) junto do Domingos Cardoso que, segundo julgo saber, era o seu condutor. [P19640]


Entretanto, neste contexto, é oportuno recuperar alguns factos que estiveram ligados às suas mortes, enquadrando-os na situação particular do camarada Domingos Cardoso.

Sabe-se hoje, pela literatura consultada, que a visita de uma equipa de reportagem da Radiotelevisão Portuguesa {RTP] ao Xime, constituída pelos técnicos Afonso Silva (operador) e Luís Miranda (realizador) tinha por objectivo principal recolher imagens e depoimentos sobre a detecção de minas. Tal interesse nascera do facto de naquela zona – Xime-Ponta Varela-Ponta do Inglês – ser muito frequente a colocação de engenhos explosivos por parte dos guerrilheiros do PAIGC, comprovado pelas cerca de quatro dezenas de minas detectadas e levantadas pelas NT, entre Março e Maio de 1965.

Coube essa particular missão ao capitão Francisco Meirelles, na qualidade de Cmdt da CCAÇ 508, ficando decidido que a mesma teria lugar no dia 03 de Junho de 1965, 3.ª feira. Como combinado, as forças destacadas para a missão, os repórteres da RTP e alguns oficiais superiores responsáveis pelo Sector L1 deram início ao compromisso assumido superiormente.

Logo ao 2.º km do Xime, o primeiro percalço: foi detectada uma mina anticarro  [mina A/C]  [foto 3, ao lado]. Como os trabalhos de levantamento da mina demorassem, o capitão Francisco Meirelles propôs ao major Abeilard Martins, 2.º Comandante do Batalhão 697 [BCAÇ 697], irem a pé até à tabanca de Ponta Varela, pois queria mostrar a conveniência da sua reocupação pelos nativos, em regime de auto-defesa, reocupando-se dessa forma uma região muito fértil. Ficariam assim os Comandos a dispor de mais um ponto de observação e de vigilância, e também dificultada a colocação de minas naquela zona.

A sugestão foi aceite. Partiram, então, aqueles oficiais, juntamente com o major Afonso, do Estado Maior do Comando Chefe, que acompanhava os operadores da TV, com o régulo da tabanca de Ponta Varela, com alguns pisteiros indígenas e com duas ou três secções que seguiam nos flancos. Percorridos os 4 ou 5 kms que distam de Ponta Varela, foi esta povoação observada minuciosamente bem como os pontos de defesa e apreciado o panorama do Canal do Geba e dos planos que o ladeiam.

Como fosse perto do meio-dia foi iniciado o caminho do regresso ao Xime. A umas centenas de metros da tabanca de Ponta Varela rebentou repentinamente uma mina antipessoal [, mina A/P], vulgo "bailarina". A mina ao rebentar ocasionou a morte instantânea do soldado condutor auto rodas Domingos João de Oliveira Cardoso, do 1.º cabo José Maria dos Santos Corbacho, natural de São Pedro e Santiago, Torres Vedras e o soldado indígena Braima Turé, natural do Xime. O capitão Francisco Meirelles ficou gravemente ferido na garganta e no tórax, vindo a falecer vinte minutos após a explosão.

Em função da violência da detonação, os corpos dos dois primeiros militares foram sepultados no Cemitério de Bafatá.


3.7 - O CASO DO SOLDADO 'CAR' ALBERTO TEIXEIRA SANTOS, DO PEL REC DAIMLER  1077, EM 28.OUT.1966, ENTRE CAMECONDE E CACINE


A morte em "combate" do soldado condutor auto rodas Alberto Teixeira dos Santos, natural de Vidago, Chaves, ocorreu no dia 28 de Outubro de 1966, 6.ª feira, durante a «Operação Renascença», por efeito do rebentamento de uma mina, no itinerário Cameconde-Cacine, quando as forças no terreno procediam ao socorro de alguns feridos provocados por outros engenhos explosivos, nomeadamente minas A/P, e depois de ter sido detectada e levantada na mesma zona uma mina A/C.

O soldado "CAR" Alberto Teixeira dos Santos pertencia ao Pelotão de Reconhecimento Daimler 1077 (Fev66 a Nov67), Unidade sem qualquer referência no blogue.

Daí que, para a elaboração deste fragmento foi utilizada, como principal fonte de consulta, a literatura Oficial publicada pelo Estado-Maior do Exército, elaborada pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974), 6.º Volume, Aspectos da Actividade Operacional, Tomo I, Guiné, Livro 1, 1.ª Edição, Lisboa (2014), p417, à qual adicionámos outras informações pontuais para alargar o âmbito temático.



 «OPERAÇÃO RENASCENÇA» - 28 DE OUTUBRO DE 1966


A operação em título foi programada pelo Batalhão de Caçadores 1861 (BCAÇ 1861) [18Ago65-17Abr67], sob a liderança do TCor Inf Alfredo Henriques Baeta, Unidade que sucedera ao BCAÇ 600, em 25Ago65, assumindo a partir desta data a responsabilidade do Sector Sul 2 [S2], com sede em Buba e abrangendo os subsectores de Aldeia Formosa, Guileje, Gadamael, Sangonhá, Cacine, (cuja sede passou para Cameconde no início de Dez66) e Buba. A partir de 23Out66, foi reforçado com uma companhia [CCAÇ 1477], que se instalou em Mejo.

A realização desta operação no dia 28Out66, no território de Quitafine, previa, sobretudo, acções ofensivas nas regiões de 'Cambeque' - 'Cassaprica' - 'Cabaz Balanta' - 'Cabaz Sosso' e 'Caboma', e outra acção secundária na direcção de 'Cabonepo', localidades indicadas na infografia abaixo.

Para cumprir esses objectivos, foram mobilizadas as seguintes forças:


► CCAÇ 779 (28Abr65-20Jan67) do Cap Inf José Manuel da Silva Viegas. Assumiu a responsabilidade do subsector de Cacine desde 10Jun65, por troca com a CART 496, com um destacamento em Cameconde, para onde já deslocara um Gr Comb em 08Jun65, e que seguidamente foi reforçado com um segundo Gr Comb. Ficou integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 600 e depois do BCAÇ 1861.

► CCAÇ 1477 (26Out65-27Jul67) do Cap Inf Waldemar Sesinando Monteiro Batista (1.º) e Cap Inf José Alberto Cardeira Rino (2.º). Assumiu a responsabilidade do subsector de Sangonhá desde 14Jan66, após a sobreposição com a CART 640, com dois Grs Comb em Sangonhá e Cacoca, respectivamente. Ficou integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1861 e depois do BART 1896.

► CCAÇ 1488 (26Out65-01Ago67) do Cap Inf António Manuel Rodrigues Cardoso. Em 12Out66, por rotação com a CCAÇ 1438, terminou o deslocamento para Colibuia, iniciado em 29Set66, com um Gr Comb destacado em Nhala, a fim de reforçar o BCAÇ 1861 na missão de execução de um plano de emboscadas continuadas no corredor de Guileje, em coordenação com outras subunidades.

► CCAÇ 1567 (13Mai66-17Jan68) do Cap Mil Inf João Renato de Moura Colmonero. Unidade de reforço na manobra do BCAÇ 1861.

► Para além das Unidades acima, participaram, ainda, o PSap do BCAÇ 1861 e o Pel Rec Daimler 1077, bem como os apoios de Artilharia, Aéreo e Naval.




Mapa da região de Quitafine, onde decorreu a «Operação Renascença»



Desenrolar das acções (síntese):


Em 28 de Outubro de 1966, 6.ª feira, deu-se início à «Operação Renascença». À saída de Tanene, o IN emboscou as NT, tendo retirado perante a reacção destas. Próximo de Cameconde, foi detectada uma mina A/P  de salto e fragmentação, que foi rebentada no local. A cerca de 1 km de Cabaz Balanta explodiram várias minas A/P que causaram às NT seis feridos.

Na progressão para Caboma, na sequência do contacto com o IN, foi-lhe capturada uma espingarda e material diverso, do qual resultou 1 morto e outras baixas prováveis. Na orla da bolanha de Caboma foram destruídas oito casas de mato. Quando seguiam para Cabaz Sosso, as NT foram emboscadas, sofrendo um morto (guia nativo) e cinco feridos. Na reacção, o IN sofreu um morto e a captura de duas granadas de mão.

A cerca de cinquenta metros para além de Caboxanquezinho foi detectada e levantada uma mina . Alguns metros depois as NT accionaram duas minas A/P  implantadas no meio da picada e simultaneamente, já no interior da mata, dois fornilhos causaram às NT quatro mortos e dez feridos. Os cinco mortos eram elementos da CCAÇ 799, de recrutamento local, a saber: Amadú Baldé e Sacamissa Quetá, de Fulacunda; Alfa Djaló, da Ilha Formosa; Gale Jaló, de Bafatá e Opa Colubali, de Catió.

Quando se socorriam os feridos foi accionada nova mina A/P , a poucos metros da mina mina A/C anteriormente levantada, sofrendo as NT mais um morto – o soldado condutor auto rodas Alberto Teixeira dos Santos, do Pel Rec Daimler 1077 – e mais dois feridos.

Depois desta narrativa, sempre muito difícil de descrever e mais ainda de comentar, importa agora dar conta de uma outra, esta bem mais interessante e relevante no contexto da guerra.

Embora não seja caso único, em função de experiência feita, o desenrolar da «Operação Renascença» permitiu sinalizar os valores da solidariedade, da camaradagem e do companheirismo, entre outros, em defesa da vida, que era uma das duas faces da mesma moeda naquele contexto.

A história é a do soldado condutor auto rodas José dos Santos Pedrosa, da CCAÇ 1567. Este, ao aperceber-se de que a sua Unidade tinha apenas um 1.º cabo "maqueiro", logo se ofereceu como voluntário para ajudar o seu camarada sempre que fosse preciso. Ao ter conhecimento da sua disponibilidade, o seu Cmdt - Capitão João Colmonero - concordou com a troca, deixando este de actuar como condutor.

Ora, em função do seu desempenho na «Operação Renascença», foi-lhe atribuída uma condecoração – a medalha de Mérito Militar, bem como concedido um louvor, cujo teor se transcreve:


"Louvado [José dos Santos Pedrosa] porque não sendo um elemento da especialidade de  enfermagem, mas possuindo alguns conhecimentos do mesmo ramo, graças à sua vontade e intuição para tal, foi no decurso da OPERAÇÃO RENASCENÇA um óptimo auxiliar do pessoal enfermeiro, acorrendo a todos os lugares onde era preciso, indiferente ao perigo que a sua constante movimentação o expunha; foi ainda já na viagem de regresso das NT, após a operação, o mesmo elemento incansável, indo buscar, no fundo do seu Ser energias quase impossíveis de admitir, para com a sua acção proceder à recuperação física dos elementos mais necessitados: demonstrou com este sublime exemplo a sua solidariedade para com os camaradas, sendo o soldado Pedrosa, já antecedentemente apontado como militar cumpridor e correcto, merecendo a estima de camaradas e superiores". - Ordem de Serviço 261 de 22/11/1966 do BCaç 1876/CCaç 1567 [cuja divisa era: "No exemplo estará nossa glória".]

Fonte: combatentesdeavintes.blogspot.com/2011/03/jose-dos-santos-pedrosa-guine.html


3.8 - O CASO DO SOLDADO 'CAR' MANUEL PINTO DE CASTRO, DA CART 1661, EM 16.SET.1967, ENTRE PORTO GOLE E MAMBONCÓ


A morte em "combate" do soldado condutor auto rodas Manuel Pinto de Castro, natural de Lobão, Vila da Feira, a nona na "categoria de minas", verificou-se no dia 16 de Setembro de 1967, sábado, no cruzamento de Mansoa, na Estrada de Mamboncó-Porto Gole, por efeito do rebentamento de uma mina A/C, ocorrida no regresso de uma coluna realizada a Porto Gole visando, por um lado, deixar um graduado que estava em trânsito para cumprir o seu período de férias na metrópole, e, por outro, aproveitar essa oportunidade para transportar alguns géneros alimentícios e medicamentos para o destacamento de Bissá.

O soldado "CAR" Manuel Castro pertencia à CART 1661 (06Fev67 a 19Nov68) comandada pelo Cap Mil Luís Vassalo Namorado Rosa (1.º); Alf Mil Art Fernando António de Sá (2.º) e Cap Art Manuel Jorge Dias de Sousa Figueiredo (3.º).

Do ponto de vista da missão, esta Unidade deslocou-se para Fá Mandinga em 06Fev67, para substituir a CCAÇ 818 e realizar um curto período de adaptação operacional, sob a orientação do BCAÇ 1888, a ter lugar nas regiões do Xime, Enxalé e Xitole até 08Mar67.

Após rotação, por fracções, com a CCAÇ 1439, a CART 1661 assumiu em 03Abr67 a responsabilidade do subsector de Enxalé, com Gr Comb destacados em Missirá, Porto Gole e Bissá, mantendo-se integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1888 e a partir de 01Jul67 do BCAÇ 1912, por alteração dos limites dos sectores daqueles Batalhões.


Para historiar esta ocorrência foram importantes as consultas ao livro (Diário do autor) do camarada Abel de Jesus Carreira Rei «Entre o Paraíso e o Inferno: De Fá a Bissá: Memórias da Guiné, 1967/1968», edição de autor. Lousa. 2002, conforme capa ao lado.

Analisados os apontamentos explícitos no diário (livro) do Abel Rei, redigidos no dia 16 de Setembro de 1967, sábado, em Bissá, retivemos alguns detalhes:

"Às nove e tal da manhã dava-se o primeiro grande "acidente" da companhia [CCaç 1661]. Balanço quatro mortos, sendo dois brancos e dois pretos, e mais treze feridos graves; uma viatura em pedaços; e diversos materiais estragados!"

Os mortos foram: soldado 'Car' Manuel Freitas de Castro, da CART 1661, natural de Lobão, Vila da Feira, e o furriel Álvaro Maria Valentim Antunes, do Pel Caç Nat 54, natural de São Lourenço, Portalegre, ambos continentais, e do recrutamento local, Mamadu Jamanca e Adulai Sissé, do Pel Caç Nat 54, ambos naturais de Bissorã.

Continua: "Uma viatura "pisava" a primeira mina. E íamos fazer oito meses, que nós andávamos a pisar estradas da Guiné! A coluna [foi] feita para levar o furriel "meu vizinho" à Metrópole, em férias – ou melhor, até Porto Gole, para daí seguir para Bissau – trazia-mos géneros e medicamentos, indo tudo pelos ares.

"Morreu o condutor de nome [Manuel Pinto de] Castro, bastante meu amigo e o comandante da coluna, e meu amigo também, furriel [Álvaro Maria Valentim] Antunes, que conhecia a Marinha Grande, tendo já lá trabalhado, pelo que me contou um dia. (…)

"De salientar o espírito de sacrifício com que andaram os sete quilómetros que faltavam até cá [Bissá], mesmo debaixo de fogo, trazendo a notícia de tão grave acontecimento, vindo um deles, o cabo nativo Ananias, com uma perna aberta e os ossos à mostra e um pulso partido, além de outros também bastante amassados, pois andaram pelos ares, e caíram de qualquer maneira, ficando ainda alguns debaixo da viatura que se virou ao contrário, ao lado do buraco, com mais de três metros de diâmetro, originado pela explosão da mina."

Sobre a possibilidade e interesse em publicar uma foto desta ocorrência, dos contactos realizados concluímos que dela não existem registos, o que se lamenta.

Sobre este acontecimento ver, também, o P4858.

 

3.9 - O CASO DO SOLDADO 'CAR' MANUEL DOS SANTOS CRAVO, DA CART 2340, EM 26.MAR.68, ENTRE JUMBEMBEM E CUNTIMA

 

A morte em "combate" do soldado condutor auto rodas Manuel dos Santos Cravo, natural de Febres, Cantanhede, ocorreu às 22h20 do dia 26 de Março de 1968, 3.ª feira, por efeito do rebentamento de uma mina A/C, no itinerário Jumbembem e Cuntima, durante o deslocamento da força militar que ia participar na «Operação Onça Parda - 26 e 27 de Março'68». Para além desta baixa, verificada na última viatura da coluna, ficaram feridos mais doze elementos dessa força, dos quais três considerados graves.

O Manuel Cravo pertencia à CART 2340, do Cap Mil Art Joaquim Lúcio Ferreira Neto, cuja comissão decorreu entre 15Jan68, chegada a Bissau, e 03Nov69, embarque para a Metrópole (Lisboa). Esta Unidade deu início à sua actividade operacional em 23Jan68, assumindo a responsabilidade do subsector de Canjambari, com dois Grs Comb no destacamento de Jumbembem, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1932 e depois do COP 3.

Para a elaboração deste ponto foram fundamentais os relatos publicados no P2075 «História da CART 2340» pelo seu Cmdt, ex-Cap Mil Joaquim Ferreira Neto, do qual retiramos a imagem abaixo.

 


Foto 4 - O Unimog da CART 2340 destruído por mina A/C, do P2705, 
com a devida vénia.

(Continua)


Fontes Consultadas:

 Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp 23-569.

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 2; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp 23-304.

Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.
Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

28Set2019
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Nota do editor:

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16076: Convívios (744): Encontro do pessoal da CART 2340 (Canjambari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69), dia 12 de Junho de 2016, Covão do Lobo, Vagos



EM BUSCA DE CAMARADAS PARA O ALMOÇO/CONVÍVIO DA CART 2340

DIA 12 DE JUNHO DE 2016

COVÃO DO LOBO - VAGOS

Boa noite. 
Sou filha de um ex-combatente da CART 2340 (Canjambari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69), Rogério Barreira que pertencia às Transmissões.
O meu pai é de Coimbra e é conhecido pelo Relojoeiro.
Procurei na internete informações e deparei-me com o vosso blogue. Será que pode ajudar-nos a juntar os camaradas e a divulgar o convívio?

Os contactos que ele tem estão desactualizados pelo que procuro os seus camaradas com vista ao Almoço/Convívio deste ano que terá lugar no dia 12 de Junho de 2016, com concentração pelas 12 horas no Restaurante "O Parque", sito na Rua Principal (EN 334), Covão do Lobo, Vagos.

Seria muito interessante que as pessoas partilhassem fotos e histórias sobre aquela passagem. Não é época feliz para muitos, mas é a realidade. Por muito que se partilhe histórias, nunca se esgotam as fontes. 

O contacto do meu pai é: 966 162 108

Atenciosamente
Maria Cristiana Barreira
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de maio de 2016 Guiné 63/74 - P16071: Convívios (743): XXXVII Encontro do pessoal da CCAV 2639, dia 18 de Junho de 2016 em Fernão Ferro (Mário Lourenço)

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12465: O que é que a malta lia, nas horas vagas (19): Tínhamos uma biblioteca de 80/100 livros, herança da CART 2340 (Luís Nascimento, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71)


Guiné > Região do Oio > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) > "O Luís Nascimento, municiador e apontador do morteiro 81, a meias com o Borges,  cantineiro, prontos para o combate que acabava na cantina com umas bazucadas"...




Guiné > Região do Oio > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) > "O cripto treinando vólei com uma equipa da companhia do Carlos Silva, de Jumbembem".


Fotos (e legendas) : © Luís Nascimento (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. Questões postas pelo nosso editor Luís Graça ao Luís Nascimento [ex-1º cabo cripto, CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71], em comentário ao poste P12385 (*):


Já agora vou pôr ao camarada Luís Nascimento, na sua qualidade de "bibliotecário" de Canjambari, algumas questões:

(i) quantos livros tinha a biblioteca ?

(ii) onde é que estava instalada ?

(iii) quem fornecia os livros ? Movimento Nacional Feminino ?

(iv) que tipo de livros ? ficção, história, poesia, viagens, policial, divulgação científica, filosofia, religião, etc. ?

(iv) era muito procurada ? por quem ?

(v) havia "empréstimo domiciliário" ? a malta podia levar para a caserna, o abrigo, o destacamento, o mato ?

... Abraço grande. Beijinho para a tua neta. LG

2. Resposta do nosso camaradada, através da sua neta, Jéssica Nascimento, em  5/12/2013:



Boa noite,  caro amigo Luis Graça,

Quanto à resposta,  a biblioteca já existia em Canjambari, foi herança da companhia de artilharia, a CART  2340, que fomos render.

Tinha cerca de 80 a 100 livros e revistas e estava instalada na cantina que servia de messe de oficiais e sargentos nas horas das refeições. Era mais praças que procuravam, tanto para o abrigo como para o mato.

O Sr. Capitão Sidónio deu logo que fazer aos sornas,  ou seja aos dois criptos: ao João Ferreira Duarte incumbiu-o de dar aulas aos miúdos para isso mandou-o para Bissau reciclar-se durante um mês;  ao boémio [, Luís Nascimento,]  deu-lhe a responsabilidade da biblioteca, municiador do morteiro 81 (a meias com o Borges cantineiro), desmanchar as vacas que tinham mais osso do que carne, que se iam buscar ali para os lados de Cuntima e, vejam lá, treinador da equipa de vólei da 33, por ter sido jogador da modalidade na Escola Técnica Nuno Gonçalves, na Alves Roçadas e na Escola Industrial Marquês de Pombal, em Belém, antigo campo das Saléssias (Belenenses) .

Abraço Camarada,

Sir Assassan

___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12385: O que é que a malta lia, nas horas vagas (4): a revista "Flama", o jornal "A Bola"... e o livro de contos e narrativas do Armor Pires Mota, "Guiné, Sol e Sangue" (Braga, Pax ed., 1968) que havia na biblioteca... (Luís Nascimento, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5884: O Nosso Livro de Visitas (83A): José Henriques, ex-Fur Mil da CART 2340

José Henriques (ex-Fur Mil da CART 2340) deixou, no dia 22 de Fevereiro de 2010, este comentário no poste 5819*:

Caro Camarada Luis.
Fiz parte da CART 2340 que esteve na Guiné de 1968769 e de que era Comandante o Camarada Joaquim Lúcio Ferreira Neto**.

Sempre que os meus afazeres o permitem, venho ao v/blog ler ( e relembrar)os tempos passados na Guiné como combatente. Foram bons? alguns... Foram maus? Já passaram...

Mas o que me traz aqui agora é o seguinte: indica-me por favor como devo proceder para poder a ter a honra de passar a ser membro da vossa tertúlia.

Um forte abraço para todos os "tertulianos" do ex-Fur Mil
José Henriques


Comentário de CV

Caro José Henriques, foi pena não teres deixado o teu endereço para te podermos contactar.

Assim, se leres este poste ficarás a saber como aderires à nossa Tabanca Grande para poderes contar as tuas histórias enquanto combatente na Guiné.

Referes o teu Comandante, ex-Cap Mil Ferreira Neto, que eu conheço do meu tempo de aluno da Escola Secundária e ele professor.

O professor Neto, como faço questão de o tratar, tem alguns postes e fotografias da vossa CART publicados no Blogue que poderás facilmente encontrar através do marcador "CART 2340".

Voltando a ti, claro que estamos desde já à tua espera. Manda-nos uma foto antiga e outra actual (tipo passe em formato JPEG) uma pequena (ou grande) história relacionada contigo ou com a CART 2340, e a acompanhar fotografias (com legendas) para a ilustrar.

No lado esquerdo da nossa página encontarás os nossos 10+10 mandamentos, bastante fáceis de cumprir. Se os leres ficarás a saber como nos conduzimos e os nossos objectivos enquanto tertulianos.

Deverás enviar os teus trabalhos para o endereço oficial do Blogue luis.graca.prof@gmail.com.

Entretanto, recebe um abraço da tertúlia.
Carlos Vinhal
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 15 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5819: O 6º aniversário do nosso Blogue (3): No início de Maio de 2006, tínhamos 100 tertulianos, 735 postes publicados e 3 mil páginas visitadas por mês (Luís Graça)

(**) Vd. poste de 14 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2046: Tabanca Grande (31): Apresenta-se Joaquim Lúcio Ferreira Neto, ex-Cap Mil (CART 2340, Canjambari, Jumbembem, Nhacra, 1968/69)

Vd. último poste da série de 3 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5757: O Nosso Livro de Visitas (82): "Projecto de Documentário sobre Bafatá" (Silas Tiny)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3594: Fotos actuais da Guiné-Bissau (José da Rocha Sousa/Ferreira Neto)

1. Fotos tiradas por José da Rocha Sousa, ex-Soldado da CART 2340, aquando da visita à Guiné-Bissau em Novembro de 2004.

Estas fotos foram enviadas pelo camarada Sousa ao nosso tertuliano Ferreira Neto, ex-Cap Mil da CART 2340, que por sua vez as enviou ao Blogue.

O nosso obrigado a ambos.


Jumbembem > Abrigo

Canjambari > Casa Comando

Jumbembem > Casa Comando

Jumbembem > Actual Escola

O meu faxina

Jumbembem > Padaria

Jumbembem > Poço da água

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3484: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (6): Relatório de treino operacional

1. Mensagem do nosso camarada Ferreira Neto, ex-Cap Mil da CART 2340, (Canjambari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69), com data de 15 de Novembro de 2008:

Caro Vinhal:
Continuando a rebuscar as minhas coisas, eis que topo o meu relatório de 17 de Dezembro de 1967, referente ao treino operacional antes da partida para a Guiné.
Cumprimentos generalizados
F. Neto


RELATÓRIO

1. Especialidade da Escola de Recrutas

1 - Deficiências notadas

1.1 - Má preparação dos recrutas apresentados para frequentar a parte da especialidade. Esta má preparação da parte geral notou-se até na simples marcha e ordem unida, factores estes que indicam a falta de disciplina.

1.2 - A instrução da especialidade não pode ser dada em boas condições, pelo facto de não haver instalações adequadas no quartel, mormente nas primeiras semanas em que houve sobreposição com o batalhão da escola anterior. Por este motivo o pessoal só pode dispor de armamento e das instalações, depois da partida do pessoal do batalhão.

1.3 - Houve prejuízo na instrução motivada pela festa de despedida do pessoal do batalhão.

1.4 - A falta de locais apropriados para a instrução, principalmente no que se refere a parte da táctica, foi compensada embora tardiamente nas duas últimas semanas, pelo facto de passar a ser ministrada no campo, fora do quartel.

1.5 - A falta do armamento (metralhadoras, lança-granadas, morteiros), motivou perturbações na instrução, que se resolveu, alterando os horários de instrução das companhias, de forma a todas se poderem servir do armamento disponível.

2 - Instrução de aperfeiçoamento operacional – IAO

Após a semana de preparação com vista à deslocação para o campo onde se fariam os exercícios, e em que se fez o tiro na pista de combate, deslocou-se a companhia para a zona de estacionamento a cerca de 10km do quartel. Foram postos à disposição da companhia os seguintes materiais: Material de acampamento que foi suficiente, cozinha rodada, rádios, munições, viaturas e explosivos. As deficiências foram notórias, mormente no que respeita:

2.1 - Viaturas
3 GMC sem cobertura, uma das quais funcionando em más condições. A viatura para reconhecimento não esteve totalmente à disposição da companhia o que motivou que não se pudessem fazer a maior parte dos reconhecimentos para os exercícios. Não foi fornecido um autotanque para a companhia, sendo o abastecimento de água durante a maior parte do tempo feito por uma só viatura para as três companhias. No entanto o abastecimento foi bem planeado ao ponto de não se fazer sentir a falta de água.

2.2 – Armamento
A parte de armamento pesado (lança granadas, morteiros, metralhadoras, etc.) não foi fornecida, sendo as razões alegadas a sua possível deterioração durante os exercícios. Todos os soldados foram armados de espingarda Mauser, tendo os graduados espingarda automática G3.

2.3 – Munições
Foram recebidas instruções para evitar ao máximo o seu consumo.

2.2 – Explosivos
Foram fornecidos em quantidade razoável.

2.3 – Rádios
Foram fornecidos três rádios, um THC, um NA/PRC e um outro de tipo desconhecido para os operadores.
É certo que todos eles podiam fazer a ligação entre si, mas até uma distância não superior a 2km.
Por este motivo não foi possível tirar rendimento dos exercícios mormente na parte de ligação, como também não foi possível manter o aquartelamento (PC) informado acerca das operações efectuadas pelos pelotões empenhados nos exercícios.
Todos os exercícios foram planeados de véspera, bem como criticados após a sua execução.

No dia 27, fez-se o deslocamento para a zona de estacionamento n.º 1, a 10km do quartel, fez-se a instalação e montagem do dispositivo de segurança. Durante a instalação houve flagelação ao acampamento, tendo o pessoal actuado em conformidade. Durante a refeição houve novos ataques.

Dia 28, deslocamento de dois pelotões para o contacto com o inimigo e o consequente ataque.

Dia 29, montou-se uma série de emboscadas, tendo duas delas funcionado, a 1.ª com êxito, uma segunda foi um fracasso devido à má posição das forças empenhadas. Neste mesmo dia, dois pelotões fizeram o patrulhamento de itinerários, dentro da zona de acção da companhia.

Dia 30, foram efectuados dois golpes de mão distintos, o pessoal empenhado nas acções foram dois pelotões, tendo duas secções de um terceiro pelotão simbolizado o inimigo.
Neste mesmo dia iniciou-se a nomadização à base de dois pelotões, esta nomadização prolongou-se até ao dia seguinte. Este exercício não teve um carácter real, uma vez que devido a dificuldades logísticas não foi possível deslocar a cozinha rodada a fim de alimentar o pessoal empenhado na acção. Desta forma o pessoal às horas da refeição regressava ao acampamento, sendo o exercício neutralizado durante este período. Se houvesse rações de combate distribuídas, seria possível tirar maior rendimento do exercício.

Dia 2 de Dezembro, organizou-se a protecção de pontos sensíveis, sendo o ponto escolhido a fábrica de pimentão, próxima da estação de Torres Novas. Foi talvez o exercício melhor executado no aspecto técnico. Duas secções simbolizando o inimigo não conseguiram danificar o objectivo. As forças empenhadas na defesa foram dois pelotões.

Dia 3, foi destinado a limpeza do material e descanso do pessoal. Aproveitou-se para fazer crítica construtiva acerca dos exercícios efectuados durante a semana.

Dia 4, a companhia deslocou-se para o local de estacionamento n.º 2, a 20km do quartel. Fez a sua instalação e montou o seu dispositivo de segurança.

Dia 5, iniciou-se a nomadização da companhia que foi guiada pelo Cmdt respectivo. Este exercício foi de bastante utilidade. Devido às mesmas dificuldades logísticas, este exercício foi interrompido a fim do pessoal se alimentar.
Devido à alteração do horário, os exercícios de limpeza de uma zona e limpeza de uma povoação não se efectuaram. O pessoal continuou a sua nomadização durante toda a noite de dia 5 para o dia 6, regressando cerca das 8H00 ao acampamento.
Cerca das 16H00, houve uma demonstração sobre a forma de o pessoal se aproximar a um helicóptero.
Seguindo-se pelas 18H30, o deslocamento da companhia para o GACA 2.

Dia 7, durante a manhã, na serra do Aire, o pessoal do pelotão de acompanhamento, fez fogo real com morteiro e lança granadas foguete.
Durante a tarde estava previsto o lançamento de granadas, ofensivas e defensivas, devido ao adiantado da hora não se pode realizar.
Todos os exercícios no campo foram completados com acções do inimigo.

Quartel em Torres Novas, 17 de Dezembro de 1967

O Cmd da Cia. 2340
Joaquim Lúcio Ferreira Neto
Cap mil Art.
_______________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P2101: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (5): Punições e Louvores

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2210: Estórias avulsas (1): Soldado Clarim Serraninho (Ferreira Neto)

Ferreira Neto, ex-Cap Mil, CART 2340 (Canjabari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69).

Estórias avulsas (8) > Soldado Clarim Serraninho
por Ferreira Neto (1)

Esta aconteceu em Novembro de 1967, antes da nossa partida para a Guiné.

Em pleno treino operacional, algures nas imediações de Torres Novas, tínhamos o nosso acampamento montado com os toques de clarim, para marcar as diversas fases do decorrer do dia.

Tínhamos um Cabo Clarim e dois Soldados especialistas do mesmo instrumento. Só que o clarim Serraninho, de seu nome, era uma verdadeira nódoa no seu mister.

Era, no entanto, bem recebido o seu toque de alvorada, já que o dito soldado consumia-se para produzir o som conveniente e suficientemente afinado, para o identificar com o evento.

Era um gargarejar de sons, intercalados por pausas, soluços e provavelmente suspiros. Era um desunhanço tal que lhe permitia ser ouvido por todos nós que, muito bem dispostos, acordávamos.

Mas, não há bela sem senão, uma manhã o toque de alvorada não se fez ouvir, nem bem, nem mal.

Após a expectativa normal pela falta do nosso divertimento matinal, ouvimos gritos cuja intensidade aumentava e por fim tornaram-se perceptíveis. Eis o que ouvimos:
- Acordem, acordem todos, que já tocou a alvorada!

Fácil de entender, o Serraninho naquela manhã não tinha sequer conseguido arrancar um gemido ao seu clarim. Então, num momento de desespero por não conseguir cumprir a sua missão, lançou-se a correr, acampamento fora, nos termos atrás relatados.

Ferreira Neto
ex-Cap Mil
CART 2340
_______________

Nota do co-editor CV:

(1) Vd. Posts anteriores desta série:

9 de Outubro de 2007> Guiné 63/74 - P2168: Estórias avulsas (7): Cabra Maria (Ferreira Neto)

26 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2134: Estórias de vida (6): A minha convocação para o Curso de Capitães Milicianos (Ferreira Neto)

25 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1875: Estórias avulsas (6): Há coisas na guerra que só se podem fazer com 'boa educação' (Joaquim Mexia Alves)

31 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1231: Estórias avulsas (5): Rio Cacheu: uma mina aquática muito especial (Pedro Lauret)

20 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1193: Estórias avulsas (4): O fantasma-cagão da 3ª Companhia do COM, EPI, Mafra, 1966 (A. Marques Lopes)

1 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1136: Estórias avulsas (3): G3 ensarilhadas com Kalashnikov, no pós-25 de Abril (Pedro Lauret)

16 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1078: Estórias avulsas (2): Uma boleia 'by air' até Nova Lamego para uma noite de fados (Joaquim Mexia Alves)

7 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1056: Estórias avulsas (1): Mato Cão: um cozinheiro 'apanhado' (Joaquim Mexia Alves)

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2168: Estórias avulsas (7): Cabra Maria (Ferreira Neto)



Ferreira Neto, ex-Cap Mil, CART 2340 (Canjambari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69).








Guiné > Região do Óio > Vista aérea de Canjambari> Sede da CART 2340
Foto: © Ferreira Neto (2007). Direitos reservados.
Cabra Maria

O meu Vagomestre de seu nome Ferreira, decidiu comprar ao pessoal da tabanca uma cabra ao qual pôs o nome de Maria.

Pois a cabra deu à luz dois cabritos que se puseram muito bonitos com o andar do tempo.

Sentinelas atentas

Após o nosso banho fresco, ao fim da tarde de determinado dia, andava eu com o Alferes Silva passeando ao longo da pista, que se situava num dos lados do aquartelamento.

A nossa amena cavaqueira foi de súbito interrompida pelo estampido de uma arma, cujo projéctil passou por cima das nossas cabeças a uma boa altura.

Dirigimo-nos apressadamente para a entrada do aquartelamento, onde deparamos com a sentinela de olhos arregalados, que interpelada por mim disse que tinha disparado por ver turras, no fim da pista.

Deu-me vontade de lhe dar dois estalos e perguntei-lhe se eu e o alferes tínhamos tal aspecto e se o fôssemos, andávamos a passear em pleno dia pela pista.

Susto para ambas as partes…

Na noite seguinte outro estampido. Tratei de indagar o que se passava. Foi-me dito que tinha sido mais uma vez uma sentinela (não a mesma, felizmente), que tinha pressentido um movimento no capim e tinha disparado pelo sim pelo não. Muito bem.

E agora voltamos à Maria e aos seus filhotes, que aparentemente não tinham a ver nada com a história.

O nosso Vagomestre queixou-se dizendo que um dos cabritinhos tinha desaparecido.
Após busca encetada por ele, foi encontrado no meio do capim, morto com uma bala de G3. Tivemos rancho melhorado.

O meu comentário para o Alferes Silva foi o seguinte:
-Ainda bem que esta sentinela não esteve de serviço ontem.

Ferreira Neto
ex-Cap Mil
CART 2340
________________
Nota de CV:

(1) Vd. Post de 26 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2134: Estórias de vida (6): A minha convocação para o Curso de Capitães Milicianos (Ferreira Neto)

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2101: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (5): Punições e Louvores

Texto de Ferreira Neto, ex-Cap Mil, CART 2340 (Canjambari, Jumbembem e Nhacra,1968/69) (1)

(i) Punições

Dia 18 de Novembro de 1968 - Punido pelo Excelentíssimo Comandante do BCAÇ 1932 o Soldado n.º 00347967, J. M.B. L., com 10 dias de prisão disciplinar.

Dia 21 de Fevereiro de 1969 - Punido por Sua Excelência o Comandante Militar o Furriel Miliciano n.º 01329267, P. J.V., com 5 dias de prisão disciplinar.

Dia 29 de Fevereiro de 1969 - Punido por Sua Excelência o Comandante Militar o 1.° Cabo n.º 03156167, F.L., com 10 dias de prisão disciplinar.

Dia 31 de Março de 1969 - Punido pelo Excelentíssimo Comandante do D.A. o 1.º Cabo n.º 02715767, A. F.M., com 10 dias de prisão disciplinar.

Dia 7 de Junho de 1969 - Punido pelo Excelentíssimo Comandante do D.A. o Soldado n.º 13504968, J.E. S. F., com 5 dias de prisão disciplinar.

Dia 4 de Setembro de 1969 - Punido pelo Excelentíssimo Comandante da CART o Soldado n.º 10412567, E. B. C., com 8 dias de prisão disciplinar.

Dia 23 de Setembro de 1969 - Punido pelo Excelentíssimo Comandante da CART o Soldado n.º 10412567, E. B. C., com 10 dias de prisão disciplinar.

Dia 29 de Setembro de 1969 - Punido por Sua Excelência o Comandante Militar o 1.º Cabo n.º 03844267, J. C. O., com 10 dias de detenção.

Dia 29 de Setembro de 1969 - Punido por Sua Excelência o Comandante Militar o Soldado Condutor n.º 00696967, B. R. S., com 10 dias de detenção.

Dia 15 de Outubro de 1969 - Punido pelo Excelentíssimo Comandante da CART o 1.º Cabo n.º 03485567, M. J. P. G., com 15 dias de detenção. (2)


Guiné > Região do Oio > Canjambari > Vista aérea de Canjambari> Sede da CART 2340


(ii) Louvores e Condecorações

Louvados em 31 de Julho de 1969, por Sua Excelência o Comandante Militar:

Louvo individualmente os seguintes militares:

Alferes Miliciano de Artilharia n.º 05857165, José Perfeito Lopes

1.º Cabo n.º 03485567, Manuel José Pereira Guimarães

Soldado n.º 00633457, Armando Lucena Pinheiro


Porque no dia 2 de Abril de 1969, se ofereceram voluntariamente para ajudar a retirar as viaturas, um morteiro e respectivas munições da proximidade de uma caserna da CART. 2340, em chamas, cujo paiol estava a arder; provocando, de quando em quando, explosões que podiam ser mortais.
A atitude assumida com magnífico desprezo pelo perigo e pelo desembaraço demonstrada constituem exemplo brilhante de coragem e abnegação digno de ser apontado como exemplo.

Louvados em 27 de Outubro de 1969, pelo Excelentíssimo Comandante de Companhia de Artilharia 2340

Louvo o Alferes Miliciano de Artilharia n.º 05857165, José Perfeito Lopes porque durante a sua permanência como comandante do destacamento do Dugal, demonstrou elevado espírito de iniciativa e entusiasmo pelo trabalho, contagiando do seus subordinados, levando-os a melhorar as condições do aquartelamento. O seu trabalho é tanto mais digno de ser apreciado, atendendo à intensa actividade operacional solicitada ao destacamento.

Louvo o 2.° Sargento de Artilharia n.º 51667511, José Virgílio da Rocha Borges, porque durante a sua comissão, desempenhou todas as funções que lhe foram atribuídas, com extraordinária dedicação e entusiasmo, e sentindo do dever, merecendo ser apontado como exemplo, sendo digno das provas de estima de que foi alvo, tanto da parte dos seus superiores como dos seus subordinados.

Louvo o Furriel Miliciano de Artilharia n.º 09539365, Luís Manuel Pessoa Begonha, porque durante a sua comissão, desempenhou com brio honestidade e voluntarioso entusiasmo, todas as funções a que foi solicitado além da sua de comandante de secção. De realçar a extraordinária versatilidade do seu espírito, que lhe permitiu moldar-se ás mais diversas situações, que o tornaram digno da maior estima dos seus superiores e admiração dos seus subordinados.

Louvo o 1.º Cabo Auxiliar de Enfermeiro, n.º 00019167, Manuel Correia de Oliveira, porque durante a sua comissão, demonstrou grande grau de conhecimentos, e elevado espírito de abnegação, demonstrada várias vezes nas acções em que tomou parte, desprezando o seu estado físico e acorrendo aos camaradas que dele necessitavam, tratando-os e encorajando-os com uma palavra amiga ou um dito espirituoso.

Louvo o 1.º Cabo n.º 02643867, Horácio Correia da Silva, porque durante a comissão, demonstrou em todas as acções, que tomou parte, grande sangue frio, valentia e abnegação. A par destas qualidades era ainda possuído de grande amor ao trabalho, sensatez e correcção que o tornaram digno de ser apontado como exemplo a seguir.

Louvo o 1.º Cabo n.º 00462467, Manuel Gonçalves, porque durante a sua comissão, demonstrou extraordinária iniciativa, decisão e valência, nunca descurando o mais pequeno pormenor de segurança, contribuindo assim com a sua sensatez para que os seus camaradas o admirassem e o tomassem como exemplo, conquistando também a simpatia e consideração dos seus superiores. De salientar a sua acção na tabanca de Jumbembem, na qual voluntariamente instruiu um grupo de caçadores nativos.

Louvo o 1.º Cabo Escriturário, n.º 04610267, José Manuel Ribeiro de Barros, porque durante a sua comissão desempenhou as suas funções com extraordinária competência e dedicação, desconhecendo o descanso quando o seu trabalho o exigia. De salientar também, o facto de durante as inúmeras flagelações IN, ao aquartelamento de Canjambari, ser o primeiro a chegar ao morteiro 81 revelando se um precioso e corajoso auxiliar do apontador e substituindo este quando se tornava necessário.

Louvo o 1.º Cabo Operador Cripto, n.º 02220367, José Maria Ribeiro Gaspar porque durante a sua comissão, desempenhou com elevado grau de competência e disciplina o seu cargo. De salientar ter sempre desconhecido horários, para o desempenho das suas funções atendendo a que qualquer mensagem desde a rotina à relâmpago, o encontrava sempre pronto a decifrá-la. Corajoso e digno representante da sua especialidade, a sua conduta é digna de ser apontada como exemplo.

Louvo 1.º Cabo Mecânico Auto, n.º 03276167, Luís Manuel Gomes da Silva, porque durante a comissão se revelou sempre cumpridor e competente, não regateando esforços para o bom andamento do serviço. Bom camarada, conquistou a estima e administração dos seus superiores e camaradas.

Louvo o Soldado Mecânico Auto n.º 02444467, José da Rocha Sousa, porque durante o seu tempo de comissão, revelou alto grau de conhecimento no desempenho das suas funções. De realçar a sua propensão para a resolução de problemas de mecânica o que permitiu o bom êxito de muitas colunas auto.

Louvo o Soldado n.º 10412567, Ezequiel Bento Caixinha, porque no dia 16 de Agosto de 1969, com risco da própria vida, tentou salvar da morte por afogamento do seu camarada africano, Soldado Milícia Mudo Sira, e só o não conseguiu, porque apesar de ter segurado uma corda entre os dentes e nadado para o local onde o milícia se debatia, a corrente forte da maré vazante o não permitiu, tendo-o afastado do soldado que acabou por submergir: Apesar disso, ainda mergulhou várias vezes nas imediações do local, onde ele desaparecera na tentativa de o encontrar.

Louvo o Soldado n.º 00347967, José Maria Barros Lopes, porque durante a sua comissão, se ter comportado como digno, valente e verdadeiro soldado. Voluntário para todas as acções cumpriu-as com elevado espírito de sacrifício. Perguntado acerca das razões do seu voluntariado permanente respondia com ar simples, que tinha vindo para a Guiné, para a conhecer: De salientar a sua acção, quando numa emboscada a NT, nitidamente inferiorizadas fisicamente, e debaixo do fogo IN e dos gritos "agarra à mão ", e apesar de um estilhaço ter perfurado o carregador de sua G3, com imperturbável serenidade o substituiu e ripostou ao fogo IN, contribuindo assim para a sua debandada.

O Comandante da CART 2340
Joaquim Lúcio Ferreira Neto
Cap Mil Art
_____________________________

Notas do co-editor CV:

(1) Vd. posts anteriores:

30 de Agosto de 2007> Guiné 63/74 - P2072: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (1): Mobilização, Deslocamento para o CTIG e Alteração ao Dispositivo

1 de Setembro de 2007> Guiné 63/74 - P2075: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (2): Actividade inimiga

3 de Setembro de 2007> Guiné 63/74 - P2079: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (3): Actividade das NT

5 de Setembro de 2007> Guiné 63/74 - P2082: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (4): Baixas sofridas

(2) De acordo com os nossos princípios editoriais, optámos por não publicitar o nome dos nossos camaradas da CART 2340 que sofreram punições, embora essa informação possa constar em documentos públicos ou em arquivos públicos. Eles têm direito ao bom nome, pelo que são apenas identificados pelo posto, nº mecanográfico e iniciais do nome. Esta informação sobre louvores e punições tem interesse meramente factual, documental. Faz parte da petite histoire da guerra colonial, das misérias e grandezas das NT e dos seus comandantes... Não nos questionamos sobre a sua justiça ou injustiça, nem temos elementos para o fazer... Em todas as unidades, houve punições e louvores. E, em geral, mais louvores do que punições. (CV/LG).

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2082: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (4): Baixas sofridas

Ferreira Neto, ex-Cap Mil, CART 2340 (Canjambari, Jumbembem e Nhacra,
1968/69) (1)


Baixas Sofridas:

(1) Mortos em Combate:



Em 15 de Fevereiro de 1968

Soldado Radiotelegrafista 05407067 João Lourenço Nunes
Soldado Nativo 82039064 André Pinto CCAÇ 3
Soldado Nativo 82053763 Coli Candé CCAÇ 3

Em 26 de Março de 1968

Soldado Cond Auto 00271767 Manuel dos Santos Cravo

(2) Mortos por Desastre:

Em 15 de Agosto de 1969

Soldado Milícia 24767 Mudo Silá 108 CMIL

Mortos por Doença:

Em 3 de Agosto de 1968

Fur Mil 03703065 Aurélio Raul da Silva Brochado

(3) Feridos em Combate evacuados para o HMP:

Em 26 de Março de 1968

1.º Cabo Aux Enf 02049967 Carlos Alberto Costa Leitão da Graça
1.º Cabo Atirador 01253867 Humberto Alfredo Gonçalves Vicente

Em 15 de Janeiro de 1969

Soldado Atirador 00256767 Joaquim Domingues

Em 26 de Março de 1969

1.° Cabo Atirador 02643867 Horácio Correia da Silva
1.° Cabo Atirador 03375067 José Alcides Fernandes
1.° Cabo Atirador 01148567 José Gonçalves da Cunha

Em 29 de Maio de 1969

1.° Cabo Cozinheiro 11096667 António Frederico Alho

(4) Feridos em Desastre evacuados para o HMP:

Em 25 de Abril de 1968

Soldado Nativo 82046962 Agostinho Mendes CCAÇ 3

Em 22 de Maio de 1968

1.º Cabo Atirador 00679767 Manuel Luís da Silva Pereira

(5) Doentes evacuados para o HMP:

Em 3 de Agsto de 1968

1.º Cabo Atirador 00234067 José Fernando Madeira Valentim
Soldado Básico 09731166 Joaquim Morais

Em 12 de Dezembro de 1968

Soldado Atirador 00069365 João da Silva Almeida

Em 19 de Dezembro de 1968

1.º Cabo Atirador 01280867 José Alves de Sousa

Em 22 de Dezembro de 1968

Soldado Cond Auto 02921367 Domingos Afonso Leite

Em 28 de Fevereiro de 1969

Soldado Atirador 00007866 José da Silva Rodrigues

Em 21 de Março de 1969

Soldado Atirador 00200267 Artur Gomes Alves
Soldado Atirador 00269266 Manuel Macedo Fernandes
Soldado Atirador 02444467 José da Rocha Sousa

Em 29 de Março de 1969

Soldado Atirador 02457567 Manuel Barbosa de Castro

Em 11 de Abril de 1969

Soldado Atirador 01878667 José Alberto Gregório

Em 18 de Abril de 1969
Soldado Atirador 03772467 Joaquim Carlos Martins Osório

Em 8 de Maio de 1969

1.º Cabo Atirador 00874367 António Paz de Caldas
Soldado Tica 04147767 Joaquim António Fonseca Barbosa

Em 9 de Junho de 1969

Soldado Cozinheiro 07151567 António Jorge Paradela
Soldado Atirador 09413767 Nuno Figueiredo Ferreira
Soldado Atirador 09642367 Manuel das Neves Quintino

Em 16 de Junho de 1969

1.º Cabo Atirador 01990267 António Manuel Soares Marques

Em 31 de Julho de 1969

Soldado Atirador 02001167 Manuel da Silva Ribeiro

Ferreira Neto
ex-Cap Mil
CART 2340 (1968/69)
___________________

Nota do co-editor CV:

(1) Vd. posts anteriores:

30 de Agosto de 2007> Guiné 63/74 - P2072: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (1): Mobilização, Deslocamento para o CTIG e Alteração ao Dispositivo

1 de Setembro de 2007> Guiné 63/74 - P2075: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (2): Actividade inimiga

3 de Setembro de 2007> Guiné 63/74 - P2079: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (3): Actividade das NT

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2079: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (3): Actividade das NT




Ferreira Neto, ex-Cap Mil, CART 2340 (Canjambari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69)






História da CART 2340

Actividade das NT

Fevereiro – 1968
Operações:

Amigo Bom

Dia 13 - 2 Grupos de Combate (um Grupo da CART e um Grupo da CCAÇ 3 ), que constituíam o agrupamento III, da referida Operação, deslocaram-se para Jumbembem, onde pernoitaram.

Dia 14 - O agrupamento III, deslocou-se para a antiga povoação de Sare Samba Seidi, situada na margem Leste da Bolanha de Sinchã Mansaroto, onde pernoitaram.

Dia 15 - Às 08h00, por ordem transmitida pelo PCV, o agrupamento III assaltou o acampamento IN de Sinchã Mansaroto.
As NT por falta de experiência iniciaram logo a destruição do acampamento.
O IN emboscado nos arredores do mesmo, contra atacou as NT que destruíam o acampamento, constituído por cerca de 80 casas em 500 metros de extensão.
Só um grupo de combate conseguiu manter ligação com o PCV que pediu o apoio aéreo.
Uma parelha de T-6 veio apoiar o agrupamento que já se encontrava disperso.
Do combate resultou: 10 mortos IN confirmados e outros mortos e feridos prováveis. As NT sofreram 1 morto e 4 feridos africanos (dois soldados e dois carregadores).
O Agrupamento não conseguiu ligação entre os seus grupos dispersos, que retiraram em direcção a Jumbembem. Um dos Grupos permaneceu na zona de acção durante algumas horas, só retirando mais tarde.
Durante a acção um dos comandantes do pelotão e uma praça tentaram arrastar um morto e um dos feridos, no entanto, cansados e perante a ameaça de caírem em poder do IN e por não terem munições foram obrigados a abandoná-los.
As forças constituintes do agrupamento III regressaram no dia seguinte a Canjambari.

Da nossa acção resultou o seguinte:

80 Casas de mato destruídas
5 Cunhetes de munições destruído
3 Metralhadoras pesadas destruídas




Foto 1> Guiné> Canjambari 1968> Ex-Cap Mil Ferreira Neto

Comentário:
Foi a nossa primeira operação. Dias antes fui convocado para Farim, a fim de tomar conhecimento dos planos. O Comandante do Batalhão 1932, ao qual a minha Companhia independente estava agregada, disse-me que a minha Unidade iria tomar parte da operação conjunta com a CART 1691, pelo que eu disponibilizaria dois Grupos de Combate e que iria ser comandada por um dos alferes. Não sei se o Comandante do Batalhão ou outro dos oficiais superiores sugeriu que era melhor ser eu a comandar para ver como era e que além disso o meu pessoal como inexperiente só daria apoio à companhia actuante.

Foi o que aconteceu. Só que quando seguíamos em direcção ao objectivo recebo ordens para atacar umas casas de mato que se encontravam à nossa esquerda. Assim fomos, atacámos, incendiámos. Estando abrigados atrás de montes de baga-baga, eu dizia aos meus homens: - Calma, o pior já passou.
Mas não, o IN como era normal, quando se sentia atacado, abandonava o seu poiso e guarnecia os seus morteiros previamente instalados fora do acampamento e com o tiro regulado para o mesmo. As NT, foram literalmente, dispersas em vários grupos. O meu composto apenas por mim, dois soldados nativos, o soldado clarim, o rádio telefonista e dois carregadores. Para orientação dispus de uma bússola, oferecida pelo meu compadre, que me permitiu atingir Jumbembem.

A realçar, quando atravessávamos uma bolanha, ouvimos via rádio ordem do Major de Operações instalado no avião, que iam bombardear a bolanha, disse ao rádio telefonista: - Avisa que estamos no meio da bolanha.
Resultado só havia comunicação num sentido. Estávamos a pôr pé em terreno seco, quando ouvimos as granadas rebentarem atrás de nós.

O relatório que fiz sobre a Operação não agradou ao Major que me convocou para Farim e disse, que o relatório não justificava a minha acção. Respondi-lhe que relatava a verdade. Depois de troca de impressões pouco amistosas, ofereceu-se para redigir o relatório. Sem comentários.

As nossas relações a partir daí não foram das melhores. Em futuro próximo tentou sem êxito culpar-me de certos fracassos da sua responsabilidade.

Meses mais tarde, soube através do Capitão Miliciano adstrito à Acção Psicológica, de alguns factos que originaram a situação relatada.

Dentro da Acção Psicológica dia 13 ou 14 de Fevereiro, foi detectado o acampamento, que eu ataquei. Foram lançados panfletos convidando o IN a entregar-se pois que a tropa era boa etc. etc.

Resultado o IN, destacou um Bigrupo do Senegal, que fixou por flagelação o pessoal de Jumbembem, passando nas calmas a reforçar o acampamento objecto do meu ataque.

Março – 1969

Dias 25/26 - Na execução da Ordem de Operações n° 6, do COP 3, 2 Grupos de Combate emboscaram o Corredor de Sitató, em Dando Mandinga.

Dia 26 - 09h00, houve contacto com grupo IN, constituído por cerca de 10 elementos. As NT, causaram ao IN um morto confirmado e a apreensão de armamento e documentos.

Factos Importantes:
Dia 24 - Comandante Militar, Chefe dos Serviços de Saúde, uma equipa médica e o Comandante da CART, chegaram Canjambari com o fim de inspeccionarem o pessoal. O resultado da inspecção deu como operacionais 3 oficiais, 4 sargentos e 38 praças.

Comentário:
Antes de ir de licença tive informação de que alguns dos meus soldados urinavam ou evacuavam sangue. Suspeitei do pior, de haver mais atacados pelo mal, mas que por pudor não confessavam. Por isso, formei a Companhia e disse: - Sei que alguns de vós tem estes sintomas e que por vergonha não dizem. Quero também informar-vos que se trata de uma doença que tem cura desde que seja tratada a tempo, portanto quem tem estes sintomas dê um passo em frente.
Logo cerca de meia dúzia o fizeram.
Dei ordem para o furriel de transmissões, enviar para Farim uma mensagem relatando o facto.

Quando regressei de licença, em Bissau tomei conhecimento que uma equipa médica e comando militar se iam deslocar a Canjambari, pelo que integrei essa equipa.

Na reunião havida na Sede da Companhia, foi parecer da equipa médica que os soldados contagiados e provavelmente a maioria da Companhia estariam contaminados pelas águas. (Tinha sido uma época anormalmente seca. O poço que dispunha no aquartelamento tinha secado e a nossa fonte de água era proveniente um poço de grande diâmetro situado fora do perímetro do aquartelamento cheio de animais rastejantes mortos).

Uma das altas patentes militares teve então a ideia de que a água devia ser fervida, respondendo então um dos médicos que tal não poderia ser feito para a água do banho.

Resultado, a Companhia tinha que ser evacuada na quase totalidade para Bissau.

Abril – 1969

Dia 12 - 2 Grupos de Combate emboscaram o Corredor de Sitató em Dando Mandinga com contacto. O IN pôs-se em fuga tendo sido abatido 1 elemento ao qual foram capturados documentos.

Outras acções:
Dia 3 – 1 Grupo de Combate fez e recolha em Canjanbari-Praça duma Companhia de Pára-quedistas que actuou na zona de Canjambari IN.

Factos Importantes:
Dia 2 - Cerca das 19h30, devido a um curto-circuito, manifestou-se um incêndio numa caserna-abrigo que se propagou a um paiol existente no mesmo abrigo, tendo-a destruído completamente.

Comentário:
Tínhamos recebido há poucas horas o municionamento proveniente de Farim.
Foi uma noite autenticamente de S. João. Granadas de bazuca, de morteiro, cartuchos de G3, etc. tudo a ir pelo ar. Ninguém foi ferido. No entanto as viaturas estiveram em perigo, valendo a acção de dois elementos da Companhia para evitar o pior.

Anos mais tarde soube numas das reuniões anuais, que o tal curto-circuito, foi devido a uma churrascada de chouriço, que provocou o incêndio.

No dia seguinte, como atrás descrito, recolhemos os pára-quedistas. Durante a refeição da noite foi-me dito confidencialmente pelo Tenente-Coronel dessa Unidade, que era ideia do Comando Territorial, que eu permaneceria em Canjambari apesar da minha Companhia estar na sua quase totalidade em Nhacra. Ainda mais, os Pára-quedistas seriam os indigitados ou uma Companhia de Comandos, mas que eles se tinham manifestado contra e parece que Spínola aceitou, o que me custa a crer.

Dias depois recebo a visita do General Spínola, que me disse ir mandar abrir um furo artesiano e até construir uma piscina. Perguntei-lhe quando estava previsto reunir-me com os elementos sobreviventes à doença, ao grosso do pessoal que estava em Nhacra.

A resposta foi aquela, que eu já sabia: - Você fica aqui até ao fim da sua missão.
Eu muito inocentemente disse: - Sr. Governador, parece -me lógico reunir-me à Companhia que trouxe da Metrópole.
Ao que ele retorquiu: - Já disse fica aqui nomeado por escolha.
Se eu fosse oficial do Quadro não havia dúvida que ficaria todo babado. Era um Miliciano…

E assim foi. Fui mesmo o último a deixar Canjambari em fins de Junho.

Junho - 1969

Factos Importantes:
A CCAÇ 2533 que veio substituir a CART 2340, em Canjambari, chegou a esta localidade no dia 3 de Junho de 1969, recebendo o Treino Operacional que durou até ao dia 17 de Junho de 1969.

Entretanto o pessoal recuperado recolhia a Nhacra, onde a pouco e pouco se ia integrando na actividade operacional.

A partir do dia 12 de Junho o pessoal da CART, passou a executar a actividade operacional em virtude da companhia que ocupava Nhacra, ter ido ocupar outro sector.

A actividade no sector de Nhacra, foi de moldes diferentes daqueles do sector de Canjambari. Assim todas as operações realizadas foram de carácter rotineiro, sendo de realçar a quantidade de acções realizadas

As patrulhas eram essencialmente de contacto com as populações, visando uma acção psicológica, e a recolha de notícias, pelo que, normalmente um enfermeiro as acompanhava.

As emboscadas tendiam a evitar que pessoal fizesse cambanças ilegais nos rios Geba e Mansoa, e nos caminhos de prováveis infiltrações IN.

NOTAS SOLTAS:
A tabanca de Canjambari era constituída por 6 casas e 80 nativos. A de Jumbembem, maior número de casas e cerca de 400 nativos.

Tive o gosto, numa das primeiras acções de conquistar a população de instalar luz eléctrica nas casas dos homens grandes.


Foto 2> Guiné> Canjambari> Capitão Ferreira Neto parte mantanha com Homem Grande



Foto 3> Guiné> Canjambari> Ferreira Neto com crianças nativas



Foto 4> Guiné> Canjambari> Distribuição de mangos pela população



Foto 5> Guiné Canjambari> Inauguração de furo artesiano. Primeiros clientes


Fotos: © Ferreira Neto (2007). Direitos reservados.

Como Capitão sempre fui criticado pelos meus alferes, porque só os avisava no dia de acção.

Quando recebia de Farim, o envelope com o carimbo Secreto, já sabia que ia haver bernarda.

Lia a ordem de operações e era um só preocupado com o que iria acontecer.

E eram os constantes adiamentos das Operações que me mantinham numa expectativa constante e desgastante.

Disse simplesmente aos alferes: - Se eu vos informar, vocês dizem aos furriéis, estes aos soldados, estes ao pessoal da tabanca e estes… Já basta um preocupado.

E a propósito de Operações Militares.
Recebi como de costume o envelope secreto. A Operação Heróis Ilustres marcada, creio, que para Agosto de 1968, resumidamente era qualquer coisa como isto:
Dez grupos de combate, que montariam emboscadas em pontos diferentes e a determinadas horas diferentes. Cada grupo actuaria na sua vez após o bombardeamento (APAR) do objectivo, tomaria de assalto o mesmo e iria emboscar noutro ponto a uma determinada hora.
Isto para os dez grupos com objectivos diferentes movendo-se com capim com dois metros de altura.
Não queria acreditar no que lia, mas que poderia fazer? Como de costume não transmiti aos alferes.
Adiamento sucessivos e entretanto chega a minha vez de entrar de licença. Chamei o alferes Mota, o mais antigo, e mostrei-lhe a ordem de operação.

Exclamação dele: - Meu capitão, isto é de doidos!

Desejei-lhe felicidades e parti.

Não há dúvidas que essa minha licença foi vivida com o que poderia ter acontecido.

Quando regressei estava tudo muito calmo e a minha primeira pergunta foi como tinha corrido a Operação. Então o alferes com a alegria estampada no rosto disse-me que não se tinha realizado.

A causa disse-me, foi o General Spínola ter ido ao comando do Batalhão, e ao ver o plano das operações, o ter rasgado na cara do comandante, dizendo: - Mais uma Operação condenada ao fracasso.

O Alferes Pereira, Comandante do Pelotão Nativo da CCAÇ 3, era um excelente alferes, beirão, pequenino, era adorado pelo seu pessoal. Era ele que guardava o dinheiro e controlava os gastos dos soldados. Isto devia-se sobretudo, aos consumos de cerveja. Tudo corria bem e quando necessário havia os correctivos por parte do alferes que tinha de saltar para chegar à cara do prevaricador que sempre aceitava o correctivo por estar de acordo com o seu sentido de justiça.

O Pereira termina a sua comissão e é substituído por outro alferes ao qual recomendei que procedesse da mesma forma. Tal não aconteceu, e comecei a ter problemas devido às bebedeiras frequentes que o pessoal nativo tomava. Decidi que o cabo cantineiro tomasse nota das garrafas consumidas (67 cl). Para meu espanto verifiquei que o consumo médio era de nove garrafas por soldado. Quer dizer que havia alguns que superavam aquele número.

Quero referir-me também ao nativo da tabanca de nome Sori.

Este fula-forro, tinha um carácter muito inventivo, de tal forma que tomou a iniciativa de fazer na sua casa um dispositivo anti-morteiro, o seu telhado era constituído por uma caixa cheia de areia. Era o único da sua etnia e muito invejado pelo restante pessoal da tabanca.

Outro lado, era a nobreza do seu carácter. Certo dia, apareceu-me fazendo queixa de um soldado-auto, que lhe tinha morto uma galinha com a viatura. Disse-lhe: - Não te importes Sori, que o soldado paga-te a galinha. Ao que ele respondeu: - Capitão, não é pela galinha, mas sim pela forma que o soldado me tratou.
Chamei o soldado obrigando-o a pedir desculpas e pagar a galinha.

Em 10 de Setembro de 1968 a 15.ª Companhia de Comandos reforçou Jumbembem, no mês seguinte a 7 de Outubro, foi considerada inoperacional.

Em 2 de Novembro a 16.ª Companhia de Comandos reforçou Jumbembem. Cerca de um mês depois queriam também considerar-se inoperacionais. Só que desta vez o Comandante do Batalhão se impôs, dizendo que tinha uma companhia com 13 meses, outra com 11 meses e outra com 7 meses e nunca foram consideradas inoperacionais com a mesma actividade operacional dos Comandos. De relevar que as referidas Companhias de Comandos tinham alimentos frescos quando necessitavam e fornecidos via aérea e nós as outras uma vez por mês, via terrestre.

Era norma antes do embarque fazer as análises. Devido às demoras que normalmente se verificavam entre estas e o embarque era como certo muitos voltarem a serem infestados por parasitas.

Tal facto levou as chefias a procederem às referidas análises após o embarque. No Uige tínhamos um Capitão Médico que chefiava a correspondente equipa. Estas análises eram as rotineiras e tal como se faziam em terra.

Contactei o médico citado e relatei-lhe o que sucedera à minha Companhia. Em boa hora o fiz, porquanto o médico me disse que tais análises não estavam previstas.

Aconselhou-me a fazer pular o meu pessoal, antes da recolha da urina, pois que, se tornava necessário fazer soltar os vermes que se alojavam na parede interna da bexiga.

Assim procedi, e coloquei o pessoal aos pulos na coberta do navio, tal como uma dança guerreira índia. Eu próprio, no meu camarote, fiz uma sessão de pulos.

Resultado. Detectados cinco casos de contaminação.

Haveria mais histórias para contar, pequenas histórias, no entanto relevantes para o enriquecimento do carácter de quem as viveu.

Ferreira Neto
ex-Cap Mil
CART 2340
___________________

Notas do co-editor CV:

Vd. Post de 30 de Agosto de 2007> Guiné 63/74 - P2072: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (1): Mobilização, Deslocamento para o CTIG e Alteração ao Dispositivo

Vd. Post de 1 de Setembro de 2007> Guiné 63/74 - P2075: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (2): Actividade inimiga