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sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16733: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (23): Ainda a história rocambolesca do David Costa, meu camarada, que terá sido capturado pelo PAIGC em 17 ou 18 de maio de 1967, entre Mansoa e Braia, e que andou desaparecido 3 a 4 meses... (Jorge Lobo, ex-1º cabo at art, CART 1660, Mansoa, 1967/68)


Guiné > Mapa geral da província > Escala 1/500 mil (1961) > Posição relativa de Mansoa e Braia (NT) e Iracunda e Morés (PAIGC). O David Costa que saiu do quartel de Mansoa por volta das 15h do dia 17 de maio de 1967, terá seguido, sem rumo, na direção de Braia (onde havia um destacamento das NT) e sido intercetado nesta região, mais tarde,  por forças do PAIGC que o levaram até à base do Morés e depois para o Senegal, Ziguinchor, onde terá conhecido o médico, português, desertor, e militante do PAIGC, Mário Pádua.

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016)


1. Comentário do nosso camarada Jorge Lobo ao poste P16721 (*)

Relativamente ao comentário que a nossa Tabanca Grande fez ao poste do  Jorge Araújo, eu gostaria de acrescentar algo ao que eu próprio já tinha cá escrito sobre a deserção do David Costa.(**)

Ora bem, depois da cena da carta com a fotografia que alegadamente teria sido enviada pela namorada de um camarada do David, de nome, Chantre, 1º cabo enfermeiro da Cart 1660, o David acabrunhado com a situação decidiu sair do quartel de Mansoa vagueando pelos arredores
da vila até se perder no terreno.


1º cabo at art, Jorge Lobo, CART 1660 (Mansoa, 1967/68),
subunidade que esteve adida aos BCAÇ 1857 e BCAÇ 1912.
Tem um pequeno blogue, com 9 postes publciados
desde 2011, Guiné 1967/1968. Vive em Corroios,. Setúbal,

Eu estava na caserna no momento em que começou a sua odisseia, isto em 17/05/1967. A sua saída do quartel aconteceu por volta
das 15 horas,   logo após a distribuição do correio....

Entretanto, anoiteceu e deduzo que o David se tenha desorientado seguindo a estrada na direção de Braia [- Infandre-Bissorã].

Pelo que ele conta no seu livro, viu as luzes do quartel de Braia (?) ou então Cutia, mas decidiu não arriscar a entrar dentro do arame farpado.

Sou de opinião que o pessoal das tabancas na saída de Mansoa-Braia colaboraria com os guerrilheiros do PAIGC e,  ao ver aquele militar fardado, só e desarmado,  a sair da vila, provavelmente comunicou isso ao PAIGC. Tê-lo-iam seguido durante a noite, penso que o local da captura não seria muito longe do quartel, talvez entre Mansoa e Braia.

Os guerrilheiros do PAIGC teriam capturado o rapaz [, já no dia 18 de maio de 1967,]  tendo-o levado para a zona de Morés e arredores, nomeadamente para Iracunda,  perto da estrada que liga Bissorã a Mansabá. É uma região que conheço bem devido a várias emboscadas e ataques que lá fui fazer com a Cart 1660.

O rapaz, após a sua captura teria estado em alguns acampamentos do PAIGC incluindo na mata de Iracunda perto da estrada Bissorã-Mansabá e onde a minha companhia posteriormente fez um golpe de mão com vário material de guerra apreendido. Iracunda situava-se junto à tal picada, Bissorã-Mansabá, que na altura estava intransitável devido a imensas árvores que o PAIGC atravessou nessa via e que eu próprio constatei em várias operações  em Morés.

De Iracunda o David deve ter partido em direção ao Senegal (Zinguichor), levado pelo grupo do PAIGC, o mesmo grupo que o tinha antes capturado.
  Recordo que o David esteve desaparecido cerca de 3 a 4 meses, período este em que viveu a sua terrivel odisseia atravessando a Guiné entre Morés, Zinguichor, etc, odisseia que só ele saberá contar em pormenor.

Sei que depois do seu regresso a Mansoa, ele foi interrogado no quartel Foi até bastante mal tratatado chefe de operações do BCAÇ 1912 ao qual a Cart 1660 estava agregada, tendo inclusive saído com uma das companhias desse batalhão na tentativa de se conseguir que ele os levasse aos locais que antes ele tinha visitado, o que não foi conseguido porque o David compreensivelmente não conseguiu descobrir o seu anterior trajeto até à sua captura.

Segundo o rapaz contou na altura, o regresso dele foi feito através de Dacar, mas também já li por cá outras histórias diferentes em relação ao local onde a avioneta militar o foi buscar no Senegal.

Está correta a data da sua saída do quartel, 17/05/1967.
O caso da fuga do Daniel Alves deve ter acontecido já depois do julgamento do David, ao qual eu assisti, ao vivo.

O meu camarada foi condenado a 2 anos,  um mês e um dia de prisão nos primeiros dias de novembro de 1968, cerca de uma semana antes da CART 1660 ter regressado à metrópole. (***)

Jorge Lobo, 1º cabo Lobo, atirador da CART 1660 (Mansoa, 1967/68).
__________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 15 de novembro de 2016~>  Guiné 63/74 - P16721: Notas de leitura (892): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte XII: O caso do médico militar, especialista em cirurgia cardiovascular, Virgílio Camacho Duverger [III]: o encontro, em Boké,com o médico português Mário Pádua (Jorge Araújo)

(**) Último poste da série > 15 de novembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16722: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (22): Quem terá sido o Daniel Alves, "duplamente desertor" ? Primeiro, fugiu das nossas fileiras, possivelmente em 1967, e depois das fileiras do PAIGC... Amilcar Cabral, traído e preocupado, escreveu: "O Daniel Alves conseguiu enganar a malta (sic) e fugiu em Dacar. É um facto banal numa luta (deserção ou traição), mas pode complicar-nos muito a vida em relação aos amigos"....

(***) Sobre o caso do David Costa, vd. ainda os postes de;

5 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16686: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (18): Mais um caso "atípico", o de David [Ferreira de Jesus] Costa, ex-sold at art, CART 1660, Mansoa, 1967/68 (Virgínio Briote)

27 de novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7351: Controvérsias (112): David Costa, da CART 1660 (Mansoa, 1966/68): Déserteur malgré-lui ? / Desertor à força ? (Jorge Lobo, ex-1º Cabo, CART 1660)

23 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6776: Notas de leitura (133): Desertor ou Patriota, de David Costa (Mário Beja Santos)

sábado, 5 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16686: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (18): Mais um caso "atípico", o de David [Ferreira de Jesus] Costa, ex-sold at art, CART 1660, Mansoa, 1967/68 (Virgínio Briote)


Capa do livro Desertor ou patriota : a extraordinária aventura de um soldado raso / David Costa. - 1ª ed. - Vila Nova de Gaia : Ausência, 2004. - 157, [2] p. : il. ; 21 cm. - (Passado recente ; 3). - ISBN 989-553-078-1 [Preço, 12 €]


1. É uma história do "arco da velha", rocambolesca, trágico-cómica, absurda, kafkiana, impiedosa... de um homem, um camarada nosso, que bebeu o cálice da amargura, na sequência de uma leviandade que lhe custou a liberdade, a honra e anos de vida.... Que lhe poderia ter custado, inclusive, a vida!


Desertor, sim, técnica e juridicamente falando... Mais um desertor "atípico", usado e abusado pelo PAIGC [e aqui, o português e médico, Mário Pádua, também não fica bem, na fotografia... ou será que na guerra revolucionária vale tudo ?!... O PAIGC tem obviamente todo o interesse em instrumentalizar, politizar, aproveitar, para efeitos de propaganda, a "infeliz" deserção do David Gomes...

Em boa verdade,  o pobre do David Costa desertou e não desertou... Foi apanhado pelo PAIGC fora do seu aquartelamento, por estar desorientado, emcionalnamente perturbado, à beira do "burnout", da exaustão física e emocional...  Não se entregou ao PAIGC, fez o "número" que lhe convinha quando foi feito prisioneiro... E manteve esse "número" por uns tempos. Passou a ser considerado, lisongeado, ganhou inclusive a liberdade... E aqui brincou com o fogo, mais uma vez...

A "carta à mulher"  que é dura de roer... Será possível que um homem, com a craveira intelectual, humana e profissional, do dr. Mário Pádua, lhe tenha feito "essa maldade" ? Um guineense ou um caboverdiano do PAIGC podia fazê-lo... Mas um português sabia que o David tão cedo não poderia juntar-se livremente à mulher e aos filhos... O David, meu caro dr. Mário Pádua,  não era um intelectual, um antifascista, um homem politizado, informado, consciente!... Era, tão apenas, na época, um pobre diabo de um soldado raso... [, Enfim, não sei se esta história está mal contada,  ou mesmo se a  versão dos acontecimentos não pode estar  enviesada pela distância temporal: o livro é publiavdo em 2004, quase 40 anos depois dos factos ocorridos]...

É uma história ao mesmo tempo exemplar... que merece ser revista, revisitada, relida, meditada... O David Costa, David Ferreira de Jesus Costa, de seu nome completo, ex-sold at art, CART 1660 (Mansoa, 1967/68), redime-se, do seu passado de "déserteur malgré-lui" [, desertor, por mero acaso, ou à força],  escrevendo um livro de memórias, que já foi aqui objeto de recensão crítica, primeiro pelo  por Virgínio Briote (*) e, mais tarde,  por Mário Beja Santos (**).

Por ser a primeira,  e a mais antiga, vamos reproduzir aqui a "nota de leitura" que o o nosso querido editor, hoje jubilado , V. Briote, escreveu em 2008, acrescido de alguns comentários de um camarada do David Costa, o ex-1º cabo Jorge Lobo, feitos na altura ou em 2010, no poste do Beja Santos (**).



Desertor ou Patriota, de David Costa: da brincadeira ao pesadelo... 

por Virgínio  Briote



A extraordinária aventura de um soldado raso


David Costa nasceu na freguesia de Fânzeres, concelho de Gondomar, a 12 de dezembro de 1945. Incorporado em julho de 1966, casado à pressa para ver se se livrava da mobilização, nem com um filho recém-nascido e outro a caminho escapou. Como ele diz a certa altura, só os cegos e os paralíticos podiam ter alguma esperança.

Tudo começou em Fevereiro de 1967. No cais da Rocha Conde de Óbidos ouviu a prelecção habitual:
– Soldados de Portugal! É grande a vossa honra, pois a Pátria chama-vos a defender aquelas terras tão orgulhosamente portuguesas.

Embarcou no Uíge num daqueles dias frios para cinco dias depois respirar o ar quente de Bissau. Nem deu tempo para dar uma volta pela cidade. Encaixotados nas viaturas, lá rumaram, ele e os camaradas, a caminho de Mansoa.

Um tipo cheio de sorte. Ainda em Lisboa deram-lhe a notícia:
– O teu serviço vai ser trabalhar na secretaria, incorporado na CART 1660.

Em Mansoa encontrou-se com os velhinhos do BCAÇ 1912, que não deixaram passar a oportunidade de praxar a periquitada:
– A vossa chegada não tarda vai ser condignamente festejada...Não vai faltar molho! – E, de facto, assim aconteceu.

Numa daquelas noites, a gozar o cinema ao ar livre, aí vai aço, tugas de um raio! “Corríamos inseguros à procura de qualquer coisa que nos abrigasse”, remata o infeliz amanuense condutor que, afinal, estava a ver que também sobrava alguma coisa para ele.


Uma brincadeira de mau gosto, que lhe saiu cara


Mas nessa noite como em outras que se seguiram estava longe de adivinhar o que, dezenas de anos depois, chamou “a extraordinária aventura que eu vivi”. Foi no fatídico dia 17 de maio de 1967 que começou a odisseia do David. Brincalhão, cheio de arte e manha, era o encarregado do transporte do correio, o que o levava a Bissau sempre que havia avião.

“Tudo não passou de uma simples brincadeira com uma carta mal fechada, da qual caíra uma foto de uma linda rapariga. Com essa fotografia, destinada ao Floriano, resolvi fazer umas graças, exibindo-a como troféu de grande conquistador que eu era. Brincadeira de mau gosto, certamente, imperdoável também, com certeza, mas que me saiu tão cara!...”

Condenado pelos camaradas que lhe viraram as costas, resolveu ir dar uma volta pela povoação. Foi andando, diz ele, a matutar, acabrunhado, andando até dar por ela que era noite e já estava fora de Mansoa e sem sequer vislumbrar qualquer referência. Em pânico, desorientado, meteu-se pelo mato, andou para trás e para a frente e para os lados possivelmente, até que pela madrugada viu um holofote a girar. Era um destacamento das NT que ele não fazia ideia qual fosse.

Entra, não entra, arrisca a entrar por baixo do arame farpado, a desaparecer pelo chão, quando lhe vem à cabeça a ideia de poder ser visto à distância por alguma sentinela que, certamente, não o identificaria e, o mais certo, pensou para ele, "fura-me todo".

Escapa-se do aquartelamento (ao longo de toda a história vê-se que conjuga o verbo escapar de trás para a frente) e decidiu internar-se no mato ao encontro, não sabia ainda, de uma pequena coluna da guerrilha. Estava ele a dizer “Tem calma David!”, quando uns vultos estacam à frente dele. Curvados, observam-lhe a cara, murmuram entre eles, até que um se chega à frente de um David a tremer por todos os lados.
–  Que andas aqui a fazer fora do quartel?
– Fugi, ontem à noite –  saiu-lhe pela boca, sem pensar, diz ele.

Apanhado pelo PAIGC, levado para o Morés e, depois, para o Senegal. Começa assim a odisseia do soldado raso David Costa. Levado pelo comandante Alexandre Dias Correia e mais seis elementos bem armados e equipados com fato camuflado, dirige-se à mata de Morés. Sempre bem tratado pela guerrilha e pela população, conhece José Landim, que se apresenta como chefe militar da base de Morés.

Depois foi a viagem por trilhos, bolanhas e ribeiros, em direcção ao Senegal. No trajecto ainda conheceu em Iracunda, bem perto do Olossato, o Aristides Pereira, futuro Presidente da República de Cabo Verde que, contente pela deserção do soldado, o abraçou e tratou com muita simpatia. Foi aí que assistiu a uma sessão política, que o deixou boquiaberto. Acarinhado por todos, rumou novamente em direcção à linha de fronteira, conduzido pelo comandante Alexandre Correia e pelos seus homens. Dois ou três dias depois chegaram.

Antes de embarcar numa camioneta que o aguardava, chorou abraçado ao comandante, que à despedida lhe disse:
– Vai em paz e que Deus te acompanhe. Obrigado por seres dos nossos…

Em Ziguinchor teve honras de ser recebido por Luís Cabral e pelo Mário Pádua, um médico português que desertara do Exército Português em Angola e tratava agora dos feridos e doentes do PAIGC. Levaram-no a um alfaiate, tirou medidas para um fato, comprou camisas e sapatos, fumou Craven-A e Rothelmans, parecia-lhe tudo surreal, diz ele.

Numa noite, após jantar com Luís Cabral, duas senhoras e o Mário Pádua, este entrou-lhe no quarto e perguntou-lhe a quem queria dar notícias. Que pergunta! O David não parava de pensar na sua jovem mulher. Então, o Pádua passou-lhe para as mãos uma carta escrita e uma folha de papel de avião em branco com o respectivo envelope.

“Quando me deixou só, comecei a ler aquela folha e fiquei muito desanimado. À medida que a ia lendo, ia perdendo a vontade de continuar. Não entendia nada de política, mas qualquer um perceberia que aquela carta era uma condenação. Eu ia dizer à minha mulher para não se preocupar comigo. Que estava muitíssimo bem e não me faltava nada. Que tivesse confiança, pois mais tarde ou mais cedo iria ter comigo, onde quer que eu estivesse. E pelo meio destas mensagens cheias de esperança dizia-se que quem tinha a culpa de tudo era Salazar…Que Salazar e Tomás eram doidos e o Cardeal Cerejeira também. Mesmo ignorante, logo percebi que jamais voltaria a Portugal sem problemas gravíssimos…”, escreve o David no seu livro.

Fez o que lhe sugeriram, copiou com a sua letra a folha que o Pádua lhe entregara. Depois o David continua a contar as atribulações que diz ter passado. Deram-lhe uma espécie de dinheiro de bolso e deixavam-no passear sozinho. Dias depois, diz ter escrito uma carta para a mulher,  contando a sua própria versão e pedindo que fizesse a entrega da carta no QG, no Porto.

A aventura no Senegal continua em Dakar para onde foi levado e conhece na sede do PAIGC um tal José Augusto, natural de Braga, ex-apontador de morteiro de uma unidade militar portuguesa, que desertara em tempos e que vivia no Senegal com a mulher e a avó.


Da Gâmbia até Bissau: o início de outro pesadelo, 
incluo a célebre chapada de Spínola


A odisseia do David no Senegal acaba num convento em Dakar, levado por um padre que o encontrara desanimado numa igreja. Não falta nesta história uma freira, jovem e bonita… Foi, aliás, através das freiras que obteve um passaporte e foi levado para Bathurst, Gâmbia, de onde depois de ter enviado um telegrama ao Comando Chefe das FA em Bissau, regressou numa avioneta civil à Guiné.

Bom, depois começou outra história. Prisão, interrogatórios, julgamento, condenação por deserção, chapada de Spínola... 

Ironia ou não, o David regressou em 20 de junho de 1971 no mesmo navio que, em fevereiro de 1967, o transportara para a Guiné...Passou à disponibilidade em 29 de agosto de 1971.



2. Seleção de comentários


Jorge Lobo  [ex-1º cabo at art, CART 1660 (Mansoa, 1967/68), nosso grã-tabanqueiro desde  10/1/2011]

[24 de novembro de 2010 às 14:56 
Jorge Lobo


Fui colega do David Costa,   na CART 1660,  em Mansoa,  e assisti ao vivo e a cores ao incidente que levou o rapaz a desertar do quartel e bem assim, acompanhei o caso até ao meu embarque para a metrópole, tendo mesmo o escoltado e assistido ao vivo ao seu julgamento no tribunal militar de Bissau.

Tudo se começou na caserna. O 1º cabo enfermeiro Chantre vinha-se queixando não ter recebido duas cartas de datas diferentes ambas com foto da namorada. Quem por norma trazia o correio era o David Costa mas, naquele dia  (trágico para o David) não tinha sido ele a ir a Bissau trazer o correio onde mais uma vez, a namorada enviava ao Chantre uma 3ª foto sua dentro da carta.

Desta vez então, o Chantre recebeu a carta e feliz com a foto,  mostrava-a aos colegas de caserna.
Porém, uns dias antes, o David...tinha mostrado a um dos colegas uma foto igualzinha à que o Chantre acabava de receber e mostrava a esse mesmo colega que já tinha visto a outra foto nas mãos do David.

Daí até se descobrir que tinha sido o David quem violou as cartas com as fotos anteriores, foi um pequeno passo. Ao ver-se descoberto, o David desapareceu do quartel e,  a partir daí, só ele mesmo sabe o que se passou.

Depois dele ter regressado, três meses depois do início da sua odisseia, contou-nos lá em Mansoa a versão da sua aventura de forma diferente a uns e a outros dos colegas.(Isto já em prisão, claro.)

Sinceramente,  eu passei a desacreditá-lo e mais desacredito hoje em dia, depois de ler em diversos blogs da internet, versões diferentes, segundo parece deixadas por si ou com o seu conhecimento.

Há coisas que não coincidem. Nuns lados ele diz que passou por uns locais e noutros porém fala em outros bem diferentes... Num lado diz que dormitava quando foi capturado pelo IN, e noutras ele diz ter-se esbarrado de frente com os guerrilheiros do PAIGC.

Tambem me parece estranho como é que ele foi parar a Morés, quando ele tinha dito que,  ao sair de Mansoa.  tinha entrado na estrada de Bissorã,  a qual o levaria a um destino bem diferente de Morés.
Estas e outras contradições tornaram o seu livro pouco credível.


Jorge  Lobo [.23 de novembro de 2010 às 21:36 ]

Caro David Costa, sou o 1º cabo  Lobo,  da CArt 1660,  e presenciei toda a cena da carta com a fotografia da namorada do Chantre, isto na caserna da CArt 1660,  em Mansoa.

Sabia vagamente o que te aconteceu mas não com todos esses pormenores. Em Bissau quando de cabo de dia antes da partida para a Metrópole, cheguei a levar-te as refeições ao presidio.

Desejo do coração que tenhas já esquecido a pior parte dessa tua odisseia e que sejas muito feliz na companhia dos teus.

David Costa [6 de dezembro de 2014 às 14:21]

Sou o David Costa e lembro-me perfeitamente de ti,  cabo Lobo, recebi com agrado tuas palavras e envio te um grande abraco com muitas saudades e o desejo de um dia te encontrar. Abraço David

Jorge  Lobo [ 30 de setembro de 2016 às 15:10 ]

Só hoje li a tua mensagem,  amigo David! Também espero um dia destes encontrarmo-nos algures para bater um papo e matar saudades daqueles tempos longínquos da guerra na Guiné. 

Admiro o teu sacrifício ao teres passado mais do dobro do tempo que o pessoal da CArt 1660 passou na Guiné. Ainda hoje recordo com mágoa as palavras daquele coronel,  juiz do tribunal militar, quando ele dizia que foste condenado a 2 anos, um mês e ...um dia de prisão. quando uma semana depois a nossa companhia regressava à metrópole. 

Muita coisa aconteceu na minha e na tua vida nesse entretanto,  entre 11 de novembro de 1968 até à altura em que tu regressaste depois dessa tua odisseia digna de um qualquer Alexandre o Grande....

 Um grande abraço e,  se me quiseres contatar,  podes faze-lo através do meu facebook  Jorge Pereira,  https://www.facebook.com/jorge.lobo.77715 

E depois combinaremos algo. Até breve, amigo. Jorge Lobo, 1º cabo, 1º pelotão da CART  1660. (****)

_________________

Notas do editor:

(*) Vd, poste de 28 de outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3371: Bibliografia de uma guerra (35): Desertor ou Patriota, de David Costa: da brincadeira ao pesadelo... (V. Briote)


sábado, 9 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8534: Estórias avulsas (54): Patrulhamento e captura de um elemento do PAIGC no OIO (Jorge Lobo)




1. O nosso Camarada Jorge Lobo, que foi 1º Cabo Atirador de Artilharia da CART 1660 e também esteve adido nos BCAÇ 1857 e BCAÇ 1912, Mansoa, 1967/1968, enviou-nos a seguinte mensagem.

Patrulhamento e captura de um elemento do PAIGC no OIO


Depois da CART 1660 ter permanecido em Mansoa, desde a data da sua chegada à Guiné em inícios de Fevereiro de 1967, foi, mais tarde, destacada para o Olossato a fim de fazer alguns patrulhamentos na mata de Morés, durante um mês.



Certa madrugada, por volta das 04H00, deixamos o aquartelamento, atravessamos a pista de aviação do Olossato e embrenhamo-nos na mata a caminho das proximidades da temível e densa mata de Morés, zona fértil a nível de guerrilheiros IN e perigosamente rodeada de bolanhas. Caminhamos vários quilómetros em patrulhamento, acabando por ficar emboscados (em meia lua) numa mata perto de uma zona descampada, do tipo bolanha na altura seca, e a uns escassos metros do trilho usado pelos guerrilheiros do PAIGC.


Surgiu então uma avioneta por cima de nós indicando-nos que avançássemos um pouco mais em frente. Esta ordem foi recebida com rebeldia e um coro de pragas de protesto. É óbvio que o coronel que nos sobrevoava, se acaso estivesse connosco cá em baixo, não iria com certeza cometer o suicídio de, apenas com uma companhia, entrar naquela zona sagrada para o IN. Além do mais, irritante e contra todas as regras, a avioneta estava a denunciar a nossa presença.


O calor era abrasador e volta e meia tínhamos de nos deslocar, em pequenos grupos, a uma zona próxima onde existia água de péssima qualidade e que tinha de ser desinfectada com os habituais comprimidos. Mas como a sede era muita, praticamente nem dávamos tempo para esperar que os comprimidos fizessem o efeito a que eram destinados na água.


Logo após a avioneta se ter afastado do local e quando nos preparávamos para avançar um pouco mais (cerca das 11H00), surgiram dois guerrilheiros armados de espingarda Kalasnikov com a alça em tiracolo, vindos de dentro da mata, caminhando no trilho da bolanha, entrando na tal zona descampada (zona de morte).


O meu pelotão abriu fogo de rajada sobre eles e um deles caiu logo fulminado pelas balas largando a arma, enquanto o seu companheiro tentou fugir agarrado a uma perna, coxeando, tendo sido de imediato abordado no sentido de o avisar para se afastar da sua arma e para levantar as mão no ar...


Foi de imediato capturado e levado em maca para os arredores, vindo a ser evacuado posteriormente de helicóptero. Durante o tempo de espera pelo heli, elementos nativos da nossa milícia insistiram para que o homem não fosse evacuado, pois eles próprios se encarregariam de o fuzilar ali mesmo...


Eu não concordei com as suas intenções e dei disso conhecimento ao nosso CMDT de companhia, ali presente, o qual deu de imediato ordem para que o guerrilheiro fosse retirado para Bissau, mandando chamar um helicóptero.


A seguir aproximei-me da maca onde se encontrava o ferido, perguntando-lhe em bom português o que fazia ele e o seu companheiro por ali...


Respondeu-me em creoulo, mas entendi bem a resposta quando repetia insistentemente: Filho da p... do Amílcar Cabral… filho da p... do Amílcar Cabral!


Naturalmente que a sua intenção, ao dizer aquilo, seria a de tentar escapar com vida daquela situação e… bem o conseguiu!


Entretanto chegou o heli e lá foi ele na direcção do hospital de Bissau.


Posteriormente foi muito útil às companhias de Comandos e Paraquedistas que se serviram dele como guia nas suas diversas OP na mata de Morés.


Nesta acção foram apreendidas armas Kalasnikov.


O curioso no meio disto tudo, é que passado cerca de um ano, quando o meu pelotão se deslocou de Mansoa à piscina de Nhacra, para tomar uma banhoca e beber daquela água a que já não estávamos habituados... pois não precisava de ser filtrada, acabamos por encontrar lá o nosso ex-guerrilheiro preso em Morés.
Era um rapaz feliz dando enormes mergulhos do trampolim mais alto da piscina.


Recordo que tentei imitá-lo mas acabei por provocar uma pequena lesão na cabeça, quando bati com ela no fundo da piscina… felizmente nada de grave!
Fiquei, mesmo assim, imensamente feliz por ver aquele rapaz alegre ao lado dos nossos companheiros, nesta altura também companheiros dele, e que era uma das companhias de Comandos de Bissau.


Jorge Lobo
1º Cabo Atirador de Artilharia da CART 1660, BCAÇ 1857 e BCAÇ 1912


Fotos: © Jorge Lobo (2010). Direitos reservados.

Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2010). Direitos reservados._________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

23 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8464: Estórias avulsas (112): Encontro de Camaradas (Mário Fitas)

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7581: Tabanca Grande (259): Jorge Lobo, ex-1.º Cabo At Art da CART 1660 (Mansoa, 1967/68)


1. Hoje apresenta-se nesta nossa Tabanca Grande mais um Camarada – o Jorge Lobo -, que foi 1º Cabo Atirador de Artilharia da CART 1660 e também esteve adido nos BCAÇ 1857, e BCAÇ 1912, Mansoa, 1967/1968.
Guiné, o ex-Vietname africano
(Companhia de Artilharia 1660)


Depois de fazer a recruta em Vila real, a especialidade de artilharia em Penafiel e o IAO no Guincho (Cascais), embarcamos a 7 de Fevereiro de 1967 para a Guiné onde a minha CART 1660 desembarcou a 11 desse mesmo mês.

Ao chegarmos a Bissau o pessoal da minha companhia sentiu pela 1ª vez o cheiro típico a terra queimada, aquela terra vermelha típica de terras Africanas.

Logo após o desembarque recebemos a notícia de que íamos ficar destacados em Mansoa e de seguida alguém nos confidenciou de que ali era, nem mais nem menos, que um local de extremo movimento bélico...

Subimos para as viaturas e logo à chegada a essa vila de Mansoa, sentimo-nos tristes e desmoralizados ao ver a alegria do pessoal a quem íamos render, que era da CCAÇ 816 (Lobos do OIO). Os seus elementos encontravam -se sorridentes e aos pulos em cima das suas viaturas, tirando as fotos de despedida. Momentos depois, seguirem para Bissau a fim de embarcarem para a metrópole no navio de que nós tínhamos desembarcado pouco tempo antes.

Ficamos adidos ao BCAÇ 1857 que actuava nas temíveis zonas de Sarauol, Locher, Changalana, Cobonje e por vezes também no Morés.

Não foi preciso muito tempo para que o meu pelotão tivesse o seu baptismo de fogo.
Uma semana após, quando fomos em viaturas buscar uma companhia que vinha da mata do Locher, fomos emboscados a cerca de 6 km do Jugudul na estrada que liga às localidades de Mansoa e Portogol.

Aqui, tivemos a oportunidade de conhecer finalmente o amargo sabor da guerra, ao ver um ferido pertencente á CCAÇ 1420 ou 1421 (salvo erro) que tínhamos ido escoltar.

Ao ouvir os primeiros tiros, pensamos que ainda estávamos nos treinos do IAO no Guincho, só passados momentos verificamos que ali, as balas não eram de madeira mas sim de chumbo envolvido em latão...

Um mês passado, nova emboscada na zona do Alto Namedão, onde um elemento da nossa milícia que ia à frente da coluna, foi atingido por uma roquetada que lhe arrancou o cinto e cartucheiras indo rebentar atrás de si sem lhe causar qualquer ferimento.

Numa coluna, 3 semanas depois, rebentou uma mina na segunda viatura, quando íamos a caminho de Portogol, de que resultou vários feridos e um furriel miliciano morto, que ia ao lado do nosso motorista.

Um mês depois estávamos no quartel, quando ouvimos um grande estrondo na estrada Mansoa-Portugol. Arrancamos de imediato para ver o que se passava e deparamos com um Unimog destruído, à sua volta viam-se vários mortos e feridos e diversos pedaços de pernas humanas espalhadas pelo terreno, num raio de 100 metros, um dos quais ainda com a bota calçada. O efeito devia-se a mais uma mina anti-carro que tinha rebentado sob a viatura que era da companhia do batalhão onde estávamos agregados.

Uma semana depois, num patrulhamento ao Sarauol, pelo lado oposto da bolanha, entre Cutiá e Sarauol, o soldado Aradas reparou num fio de aço esticado ao lado da picada, fio este que estava ligado a uma granada defensiva (armadilhada), que foi desmontada pelo nosso Fur Mil Farromba.

Recordo que, para essa operação, tinha sido chamado à última hora um soldado, de nome João, que não estava previsto sair nesse dia. Curiosamente, esse mesmo soldado, que tanto se lamentou por ter sido nomeado para essa operação e que, a caminho do objectivo ia a rezar com um terço na mão, para que nada de mau lhe acontecesse... foi o único morto em combate quando a companhia, que se encontrava estacionada em círculo dentro da mata do Sarauol, foi atacada. O infeliz João estava a meu lado deitado no chão, atrás do tronco da árvore, e a sua morte foi provocada por um estilhaço de morteiro 82 mm, que passou por baixo do tronco atingindo-o na cabeça.

Passados mais 15 dias, fomos até perto da temível mata do Locher numa coluna motorizada, a fim de proteger e trazer uma companhia que vinha de uma operação no local. No momento em que chegávamos ao local onde nos devíamos encontrar com a CCAÇ 1420, estava ainda essa companhia a fazer fogo sobre o acampamento IN.

Minutos depois, pouco antes da 1420 se encontrar com a nossa companhia, sofreu uma nova emboscada já muito perto do local onde nos iria encontrar.

Casualmente e sem se aperceber disso, o inimigo montou a emboscada à 1420 numa zona em que a minha companhia (1660) estava precisamente emboscada à espera da CCAÇ 1420.

Assim, o IN ao fazer fogo para a 1420, que vinha da sua casa de mato, acabou por ser fustigado pela retaguarda e pela frente através da resposta imediata da companhia 1420 e da minha CART 1660, tendo-me permitido alvejar com sucesso um guerrilheiro do PAIGC que se encontrava a disparar, empoleirado no cimo de uma árvore com uma PPSH (costureirinha), contra a companhia que vinha do objectivo.

Fica para a história esta cena em que disparei mortalmente sobre o IN, pois a G3 com que o matei não era a minha arma, que de tanto fazer fogo tinha o cano em brasa e quase a não conseguir disparar, além de que eu também já tinha poucas munições.

A mortífera G3 era de um cabo do meu pelotão, que viu a sua arma encravar-se e ficou em pânico tendo sido eu a desencravar-lha com a minha faca de mato.

Mal acabei de a desencravar vi o tal elemento IN e disparei instintivamente, matando-o.

Não chegamos a capturar a PPSH dele porque entretanto a companhia 1686 já se nos tinha juntado.

No regresso a Mansoa, fizemos uma paragem no caminho para descansar e eis que o Aradas (qual Rambo à portuguesa), olhou em frente e viu na picada um grupo IN a cerca de 200 metros saindo da estrada e infiltrando-se na mata.

Levantamos todos simulando que continuávamos a marcha na direcção de Mansoa.
O Aradas ia sozinho à frente da coluna e, a cerca de uns 100 metros atrás, seguia-o o segundo militar da coluna. Ao aproximar-se do local onde os guerrilheiros se tinham emboscado, ao lado da estrada, começou a disparar sobre o IN provocando de imediato um arraial de fogo dos dois lados.

Conseguiu assim o destemido Aradas minimizar os danos que podíamos ter sofrido, já que, desta forma, não fomos apanhados de surpresa pelo inimigo, mas, mesmo assim, tivemos um morto pertencente a uma companhia do BCAÇ 1912.

Completados uns seis meses de comissão, calhou ao meu pelotão ir para o destacamento do Jugudul, o qual não possuía abrigos porque se supunha que o inimigo nunca o atacaria por ser uma ex-escola.

Mais tarde depois da nossa substituição no Jugudul, o destacamento que ali se encontrava haveria de ser atacado sofrendo vários feridos e provocando um morto do lado do PAIGC, do qual falarei mais adiante.

Do Jugudul fomos destacados para a ponte de Braia, por um período de 2 meses, e daí voltamos para Mansoa para continuar a parte operacional.

Estávamos praticamente a meio da comissão.

De novo em Mansoa, numa certa madrugada o Jugudul voltou a ser atacado. Na manhã seguinte o meu pelotão foi lá fazer o reconhecimento e encontramos o municiador de uma metralhadora IN morto, caído no chão, de costas, atrás de um monte de baga-baga e enrolado num pente de balas de alto calibre.

Pouco tempo depois, a CCAÇ 1686 (pertencente ao BCAÇ 1912), que entretanto tinha substituído o BCAÇ 1657, fez um golpe de mão na mata de Tenha-Locher e no regresso sofreu uma forte emboscada, em plena bolanha junto do acampamento, de que resultaram vários mortos e feridos, tendo lá ficado abandonado um soldado milícia morto que era o melhor guerreiro que tinha esse batalhão.

Mais uma semana se passou e fomos acordados por volta da meia-noite, tendo o nosso capitão dito na formatura que se seguiu, que teríamos de ir destruir por completo um acampamento turra onde uns dias antes tinham acontecido todos aqueles mortos e feridos, no Locher.

Foi um problema para a nossa saída do quartel. Competia ao meu pelotão ir à frente da coluna que partiria para o objectivo, mas o nosso alferes (comandante de pelotão) e mais um cabo da minha secção entraram em pânico, o que originou que o CMDT de companhia pedisse voluntários entre os restantes homens, para tomarem o lugar deles sempre que houvesse operações de assalto a casas de mato. Acabei por me incluir nesse voluntariado.

Chegamos ao Locher, entramos na mata por volta das 04h30 da madrugada e seguimos por fora da picada, cortando ramos de árvore, para passarmos de forma a evitar a sentinela IN. Finalmente entramos no acampamento e verificamos que estava abandonado, de forma que apenas nos restou destruir (queimar) as casas de mato ali existentes, após o que regressamos ao quartel sem qualquer contacto com o IN.

Uma semana depois, mais um patrulhamento na zona de Ga Fará, já perto de Morés, na operação “Estrela do Norte”. Eu ia em 2º lugar à frente da coluna juntamente com a milícia. Encontramos uma casa de mato e deparamo-nos com vários guerrilheiros a fugir, disparei de imediato atingindo um deles e tendo-lhe capturado a sua arma (Kalasnikov).

Recordo a sorte que tivemos a caminho de Ga Fará, pois encontramos uma armadilha no caminho que obviamente não seria detectada se acaso a minha companhia tivesse saído de noite (como estava previsto). Tal não veio a acontecer porque o pessoal se atrasou, o que deu direito a um raspanete do nosso capitão, mas que nos permitiu ter chegado já de dia ao local onde se encontrava a armadilha, que, assim, acabou por ser detectada e desmontada.

Pouco tempo depois fomos passar cerca de um mês ao Olossato, nos arredores de Morés. Aí num dos patrulhamentos sofremos uma emboscada, onde conseguimos ferir num joelho um elemento IN e capturar-lhe a arma. Esse elemento foi transferido para Bissau, onde foi tratado e ficou por lá como guia das nossas companhias de comandos.

Regressados do Olossato a Mansoa, fizemos um golpe de mão perto de Uaque (local onde se acoitava um grupo IN), que na altura montava minas anti-carro na estrada Mansoa-Bissau.

O acampamento estava desabitado, pois antes de lá chegarmos o IN já tinha fugido, excepto o seu enfermeiro que não tinha tido tempo de fugir com os seus companheiros e se encontrava a dormir, tendo-lhe eu e um soldado milícia capturado a arma e a bolsa de enfermagem.

Ainda fizemos mais uma saída à zona do Sará para montar uma emboscada e tentar apanhar na fuga o inimigo, que tinha sido surpreendido num golpe de mão por parte da do Batalhão estacionado em Mansabá.

Finalmente o meu pelotão foi destacado para Cutiá.

Numa ida, em viaturas, a Mansoa, fomos emboscados em Sansanto, tendo o Aradas e eu feito o reconhecimento à mata após a emboscada. Aí estivemos perto de capturar um elemento IN ferido, que acabou por escapar por minha culpa, ao pedir ajuda ao Aradas, para me ajudar a localizá-lo. Eu tinha ouvido perfeitamente os seus gemidos ali por perto. Pela vida fora, arrependi-me de ter chamado o Aradas pois penso que sozinho teria capturado não só o ferido como também a sua arma.

Este, acabou por deixar de gemer e não o conseguimos encontrar no capim porque tínhamos pressa de continuar a viagem nas viaturas, para seguir para Mansoa.

Na semana seguinte tudo nos correu pior, pois quando íamos de novo a Mansoa, abastecer (seguíamos em 2 viaturas uma delas rebocando a outra por avaria), mais ou menos a 20 km/h e éramos alvos fáceis, no preciso local onde uma semana antes fôramos emboscados, voltamos a sê-lo de novo, e na viatura onde eu seguia houveram vários feridos e um morto (pertencente ao pelotão de morteiros que como nós se encontrava estacionado em Cutiá).

Por fim, fomos passar os últimos 3 meses a Bissau de onde embarcamos finalmente para Portugal, ao fim de 22 meses de Guerra acesa e encarniçada em terras da Guiné.

Numa opinião final, o que mais me custou por lá, não foi propriamente a guerra em si mas sim a sede que lá passei (água de péssima qualidade que tinha de ser desinfectada e filtrada) e um pré (ordenado) pequeno - quando comparado com o que ganhavam na altura em Angola ou Moçambique. Só mais tarde o Gen. Spínola conseguiria que os militares da Guiné ganhassem o equivalente aos companheiros de Angola e Moçambique. Nessa altura já tínhamos regressado.

As condições de ontem (há 40 anos...) não têm nada a ver com as de hoje (em que os nossos militares no estrangeiro, no nâmbito de missões NATO ou da ONU, têm a possibilidade, por exemplo, de falarem gratuitamente com os seus familiares por telefone, internet e vídeo) (...). É bom que eles também saibam que seu progenitores, a geração dos seus pais, passaram na guerra do Ultramar, onde a guerra foi longa e dura, a morte espreitava a cada momento, em cada esquina, atrás de qualquer árvore, arbusto ou monte de baga-baga, naquelas temíveis e assustadoras matas tropicais.

Um abraço a todos os camaradas de Guerra.
Jorge Lobo,
1º Cabo At Art da CART 1660
2. Amigo e Camarada Jorge Lobo, cumprindo a praxe, em nome do Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote e demais tertulianos deste blogue, é sempre com alegria que recebemos notícias de mais um Camarada-de-armas, especialmente, se o mesmo andou fardado por terras da Guiné, entre 1962 e 1974, tenha ele estado no malfadado “ar condicionado” de Bissau, ou no mais recôndito e “confortável” bura… ko de uma bolanha.
Fotos: © Jorge Lobo (2010). Direitos reservados.
Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2010).
Direitos reservados.

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Tal como o Luís Graça já referiu inúmeras vezes, em anteriores textos colocados ao longo de perto de sete mil postes no blogue, que todos aqueles que constituíram a geração dos “Últimos Guerreiros do Império”, têm alguma coisa a contar da sua passagem da Guerra do Ultramar, que permaneça para memória futura e colectiva, deste violento e sangrento período da História de Portugal, de que nós fomos protagonistas no terreno, em alguns casos só Deus sabe em que condições o fomos. Foram 12 anos de manutenção de um legado histórico que muitos ignoram e, ou, ostracizam por motivos diversos (cerca de 500 anos de permanência), à custa de muito sacrifício, privação de toda a ordem, dor, sangue, sofrimento, morte… que envolveu a movimentação de mais de meio milhão de portugueses em armas.
Como se não tivesse bastado, muitos de nós continuam a sofrer, física e psicologicamente, nos últimos 36 anos, com o modo ostracista e laxista como os políticos portugueses nos têm tratado.
Nós que, nos nossos 21/22/23 anos, demos o nosso melhor, como podíamos e sabíamos, muitas vezes mal treinados e armados, sabe Deus como alimentados e, por vezes, enfiados em autênticos buracos, construídos no lodo, embebidos em pó, lama, suor, mosquitos, etc., completamente hostis e perigosíssimos, sob vários aspectos, onde, além dos combates com o IN, enfrentávamos as traiçoeiras minas e armadilhas, as doenças a apoquentar-nos (paludismos, disenterias, micoses, etc.) e as nossas naturais angústias e temores, próprios das nossas tenras idades.
Nós até nem temos pedido muito, além de respeito e dignidade, que todos nós merecemos pelo que demos a esta Pátria, queríamos, e continuamos a querer, no mínimo, que os nossos doentes, física e psicologicamente, sejam tratados condigna e adequadamente, e o tratamento e acompanhamento dos mais carenciados e abandonados pela desgraçada “sorte” da vida.
Oferecendo-te então aqui as nossas melhores boas-vindas e ficamos a aguardar que nos contes episódios da tua estadia na Guiné, que ainda recordes (dos locais, das pessoas, seus hábitos e costumes, dos combates, dos convívios, etc.) e, se tiveres mais fotografias daquele tempo, que nos as envies, para as publicarmos.
Recebe pois, para já, o nosso virtual abraço colectivo de boas vindas.

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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

sábado, 27 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7351: Controvérsias (112): David Costa, da CART 1660 (Mansoa, 1966/68): Déserteur malgré-lui ? / Desertor à força ? (Jorge Lobo, ex-1º Cabo, CART 1660)

1. Comentário, de 24 do corrente, de um leitor, nosso camarada, que se assina por Jorge (simplesmente) ao poste P3371 (*):


Fui colega do David Costa na CART 1660,  em Mansoa,  e assisti ao vivo e a cores ao incidente que levou o rapaz a desertar do quartel e, bem assim, acompanhei o caso até ao meu embarque para a metrópole, tendo mesmo escoltado [ o David Costa] e assistido ao vivo ao seu julgamento no Tribunal Militar de Bissau.



Tudo começou na caserna. O cabo enfermeiro Chantre vinha-se queixando não ter recebido duas cartas de datas diferentes, ambas com foto da namorada.


Quem por norma trazia o correio era o David Costa, mas, naquele dia (trágico para o David), não tinha sido ele a ir a Bissau trazer o correio onde, mais uma vez, a namorada enviava ao Chantre uma 3ª foto sua dentro da carta.


Desta vez, então, o Chantre recebeu a carta e feliz com a foto, mostrava-a aos colegas de caserna.


Porém, uns dias antes, o David... tinha mostrado a um dos colegas uma foto igualzinha à que o Chantre acabava de receber e mostrava a esse mesmo colega que já tinha visto a outra foto nas mãos do David.


Daí até se descobrir que tinha sido o David quem violou as cartas com as fotos anteriores, foi um pequeno passo. Ao ver-se descoberto, o David desapareceu do quartel e, a partir daí, só ele mesmo sabe o que se passou.


Depois dele ter regressado, três meses depois do início da sua odisseia, contou-nos lá em Mansoa a versão da sua aventura de forma diferente, a uns e a outros dos colegas. (Isto já em prisão, claro).


Sinceramente,  eu passei a desacreditá-lo e mais descrédito [me inspira] hoje em dia, depois de ler em diversos blogues da Internet versões diferentes, segundo parece deixadas por si ou com o seu conhecimento.


Há coisas que não coincidem. Nuns lados ele diz que passou por uns locais e noutros porém fala em outros bem diferentes... Num lado diz que dormitava quando foi capturado pelo IN, e noutras ele diz ter-se esbarrado de frente com os guerrilheiros do PAIGC.


Também me parece estranho como é que ele foi parar a Morés, quando ele tinha dito que, ao sair de Mansoa, tinha entrado na estrada de Bissorã a qual o levaria a um destino bem diferente de Morés.


Estas e outras contradições tornaram o seu livro pouco credível. [Vila Nova de Gaia, Editora Ausência, 2004].(*) (**)

2. Julgo que é o mesmo Jorge, Jorge Lobo, ex-1º Cabo da CART 1660, que tinha dirigido, um dia antes,  a seguinte mensagem ao David Costa [, David Ferreira de Jesus Costa, natural de Fânzeres, Gondomar: incorporado em Julho de 1966, regressaria a casa só em finais de Agosto de 1971]
 (**):

Caro David Costa, sou o 1º Cabo Lobo, da Cart 1660, e presenciei toda a cena da carta com a fotografia da namorada do Chantre, isto na caserna da Cart 1660 em Mansoa. Sabia vagamente o que te aconteceu mas não com todos esses pormenores. Em Bissau quando de cabo de dia antes da partida para a Metropole, cheguei a levar-te as refeições ao presidio.

Desejo do coração que tenhas já esquecido a pior parte dessa tua odisseia e que sejas muito feliz na companhia dos teus. (***)

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Notas de L.G.:

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3371: Bibliografia de uma guerra (35): Desertor ou Patriota, de David Costa: da brincadeira ao pesadelo... (V. Briote)



Título > Desertor ou Patriota
Autor > David Costa
Editora >
Ausência
Local > Vila Nova de Gaia
Ano> 2004
Nº pp > 160
Preço > 12 €


A extraordinária aventura de um soldado raso


David Costa nasceu na freguesia de Fânzeres, concelho de Gondomar, a 12 de Dezembro de 1945. Incorporado em Julho de 1966, casado à pressa para ver se se livrava da mobilização, nem com um filho recém-nascido e outro a caminho escapou. Como ele diz a certa altura, só os cegos e os paralíticos podiam ter alguma esperança.

Tudo começou em Fevereiro de 1967. No cais da Rocha Conde de Óbidos ouviu a prelecção habitual:
- Soldados de Portugal! É grande a vossa honra, pois a Pátria chama-vos a defender aquelas terras tão orgulhosamente portuguesas.

Embarcou no Uíge num daqueles dias frios para cinco dias depois respirar o ar quente de Bissau. Nem deu tempo para dar uma volta pela cidade. Encaixotados nas viaturas, lá rumaram, ele e os camaradas, a caminho de Mansoa.

Um tipo cheio de sorte. Ainda em Lisboa deram-lhe a notícia:
- O teu serviço vai ser trabalhar na secretaria, incorporado na CART 1660.

Em Mansoa encontrou-se com os velhinhos do BCAÇ 1912, que não deixaram passar a oportunidade de praxar a periquitada:
- A vossa chegada não tarda vai ser condignamente festejada...Não vai faltar molho! - E, de facto, assim aconteceu.

Numa daquelas noites, a gozar o cinema ao ar livre, aí vai aço, tugas de um raio! “Corríamos inseguros à procura de qualquer coisa que nos abrigasse”, remata o infeliz amanuense condutor que, afinal, estava a ver que também sobrava alguma coisa para ele.

Uma brincadeira de mau gosto, que lhe saiu cara

Mas nessa noite como em outras que se seguiram estava longe de adivinhar o que, dezenas de anos depois, chamou “a extraordinária aventura que eu vivi”.

Foi no fatídico dia 17 de Maio de 1967 que começou a odisseia do David. Brincalhão, cheio de arte e manha, era o encarregado do transporte do correio, o que o levava a Bissau sempre que havia avião.

“Tudo não passou de uma simples brincadeira com uma carta mal fechada, da qual caíra uma foto de uma linda rapariga. Com essa fotografia, destinada ao Floriano, resolvi fazer umas graças, exibindo-a como troféu de grande conquistador que eu era. Brincadeira de mau gosto, certamente, imperdoável também, com certeza, mas que me saiu tão cara!...”

Condenado pelos camaradas que lhe viraram as costas, resolveu ir dar uma volta pela povoação.

Foi andando, diz ele, a matutar, acabrunhado, andando até dar por ela que era noite e já estava fora de Mansoa e sem sequer vislumbrar qualquer referência. Em pânico, desorientado, meteu-se pelo mato, andou para trás e para a frente e para os lados possivelmente, até que pela madrugada viu um holofote a girar. Era um destacamento das NT que ele não fazia ideia qual fosse.

Entra, não entra, arrisca a entrar por baixo do arame farpado, a desaparecer pelo chão, quando lhe vem à cabeça a ideia de poder ser visto à distância por alguma sentinela que, certamente, não o identificaria e, o mais certo, pensou para ele, fura-me todo.

Escapa-se do aquartelamento (ao longo de toda a história vê-se que conjuga o verbo escapar de trás para a frente) e decidiu internar-se no mato ao encontro, não sabia ainda, de uma pequena coluna da guerrilha.

Estava ele a dizer “Tem calma David!”, quando uns vultos estacam à frente dele. Curvados, observam-lhe a cara, murmuram entre eles, até que um se chega à frente de um David a tremer por todos os lados.
- Que andas aqui a fazer fora do quartel?
- Fugi, ontem à noite - saiu-lhe pela boca, sem pensar, diz ele.

Apanhado pelo PAIGC, levado para o Morés e, depois, para o Senegal

Começa assim a odisseia do soldado raso David Costa. Levado pelo Comandante Alexandre Dias Correia e mais seis elementos bem armados e equipados com fato camuflado, dirige-se à mata de Morés. Sempre bem tratado pela guerrilha e pela população, conhece José Landim, que se apresenta como chefe militar da base de Morés.

Depois foi a viagem por trilhos, bolanhas e ribeiros, em direcção ao Senegal. No trajecto ainda conheceu em Iracunda, bem perto do Olossato, o Aristides Pereira, futuro Presidente da República de Cabo Verde que, contente pela deserção do soldado, o abraçou e tratou com muita simpatia. Foi aí que assistiu a uma sessão política, que o deixou boquiaberto. Acarinhado por todos, rumou novamente em direcção à linha de fronteira, conduzido pelo Comandante Alexandre Correia e pelos seus homens. Dois ou três dias depois chegaram.

Antes de embarcar numa camioneta que o aguardava, chorou abraçado ao Comandante, que à despedida lhe disse:
-Vai em paz e que Deus te acompanhe. Obrigado por seres dos nossos…

Em Ziguinchor teve honras de ser recebido por Luís Cabral e pelo Mário Pádua, um médico português que desertara do Exército Português em Angola e tratava agora dos feridos e doentes do PAIGC.

Levaram-no a um alfaiate, tirou medidas para um fato, comprou camisas e sapatos, fumou Craven-A e Rothelmans, parecia-lhe tudo surreal, diz ele.

Numa noite, após jantar com Luís Cabral, duas senhoras e o Mário Pádua, este entrou-lhe no quarto e perguntou-lhe a quem queria dar notícias.

Que pergunta! O David não parava de pensar na sua jovem mulher. Então, o Pádua passou-lhe para as mãos uma carta escrita e uma folha de papel de avião em branco com o respectivo envelope.

“Quando me deixou só, comecei a ler aquela folha e fiquei muito desanimado. À medida que a ia lendo, ia perdendo a vontade de continuar. Não entendia nada de política, mas qualquer um perceberia que aquela carta era uma condenação. Eu ia dizer à minha mulher para não se preocupar comigo. Que estava muitíssimo bem e não me faltava nada. Que tivesse confiança, pois mais tarde ou mais cedo iria ter comigo, onde quer que eu estivesse. E pelo meio destas mensagens cheias de esperança dizia-se que quem tinha a culpa de tudo era Salazar…Que Salazar e Tomás eram doidos e o Cardeal Cerejeira também. Mesmo ignorante, logo percebi que jamais voltaria a Portugal sem problemas gravíssimos…”, escreve o David no seu livro.

Fez o que lhe sugeriram, copiou com a sua letra a folha que o Pádua lhe entregara.

Depois o David continua a contar as atribulações que diz ter passado. Deram-lhe uma espécie de dinheiro de bolso e deixavam-no passear sozinho. Dias depois, diz ter escrito uma carta para a mulher contando a sua própria versão e pedindo que fizesse a entrega da carta no QG, no Porto.

A aventura no Senegal continua em Dakar para onde foi levado e conhece na sede do PAIGC um tal José Augusto, natural de Braga, ex-apontador de morteiro de uma unidade militar portuguesa, que desertara em tempos e que vivia no Senegal com a mulher e a avó.

Da Gâmbia até Bissau: o início de outro pesadelo, incluo a célebre chapada de Spínola

A odisseia do David no Senegal acaba num Convento em Dakar, levado por um padre que o encontrara desanimado numa igreja. Não falta nesta história uma freira, jovem e bonita… Foi, aliás, através das freiras que obteve um passaporte e foi levado para Bathurst, Gâmbia, de onde depois de ter enviado um telegrama ao Comando Chefe das FA em Bissau, regressou numa avioneta civil à Guiné.

Bom, depois começou outra história. Prisão, interrogatórios, julgamento, condenação por deserção, chapada de Spínola...

Ironia ou não, o David regressou em 20 de Junho de 1971 no mesmo navio que, em Fevereiro de 1967, o transportara para a Guiné...Passou à disponibilidade em 29 de Agosto de 1971.
__________

Nota de vb:

(*) Sobre Dr. Mário Pádua, vd. o filme-documentário As Duas Faces da Guerra, de Diana Andringa e Flora Gomes:


AS DUAS FACES DA GUERRA

DIANA ANDRINGA E FLORA GOMES

DOCLISBOA 2007 - INVESTIGAÇÕES

Luta de libertação para uns, guerra de África para outros: o conflito que, entre 1963 e 1974, opôs o PAIGC às tropas portuguesas é visto, desde logo, de perspectivas diferentes por guineenses e portugueses. Mas não são essas as únicas “duas faces” desta guerra: mais curioso é que, para lá do conflito, houve sempre cumplicidade: “Não fazemos a guerra contra o povo português, mas contra o colonialismo”, disse Amílcar Cabral, e a verdade é que muitos portugueses estavam do lado do PAIGC. Não por acaso, foi na Guiné que cresceu o Movimento dos Capitães que levaria ao 25 de Abril. De novo duas faces: a guerra termina com uma dupla vitória, a independência da Guiné, a democracia para Portugal. É esta “aventura a dois” que é contada pelas vozes dos que a viveram.

EXTRAS

Capítulos
Diana Andringa, Flora Gomes Filmografias
Legendas: Inglês

Chico Bá Paulo de Jesus Filinto de Barros Agnelo Lourenço Fernandes Sulei Balde Carlos Sambú Amílcar Domingues António Iria Revez Teresa Barbosa António Lobato Manecas Santos Osvaldo Lopes da Silva João Marques Dinis Vasco Lourenço Pedro Pires Ansumane Sambú António Marques Lopes Lassana Njai Alfredo Santi Mário Pádua Manuel Boal Maria da Luz (Lilica) Boal Fernando Baginha Amélia Araújo Leonel Martins Pedro Gomes José Mendes Sentieiro Mbana Cabra Manuel Monge Agnelo Dantas Dalme Embunde Féfé Gomes Cofre Assana Silá Alexandre Coutinho e Lima Mamadi Danso e Assana Silá Dauda Cassamá Aladje Salifo Camará Isabel Coutinho e Lima Manuel Batoréo

Argumento e Realização: Diana Andringa e Flora Gomes; Imagem: João Ribeiro; Som: Armanda Carvalh; Montagem: Bruno Cabral; Produtor: Luís Correia; Produção: Lx Filmes.

Portugal, 2007, 105’, P/B e Cor, Betacam Digital, som 2.0, formato 4:3, Português e Crioulo

© Lx Filmes 2007
(P) Midas Filmes 2007