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terça-feira, 17 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24763: Ser solidário (262): Fundação João XXIII - Casa do Oeste, Ribamar, Lourinhã: parafraseando Friedrich Schiller, "não temos em nossas mãos a solução de todos os problemas da Guiné-Bissau, mas perante os seus problemas temos as nossas mãos" - Fotogaleria (2014) - II (e última) Parte: agricultura, saúde e educação, três áreas-chave











 

Facebook da Fundação João XXIII - Casa do Oeste > Fotogaleria > 2014 > II (e última) Parte > A pacata vida em Ondame (a sudoeste de Quinhamel, capital da região do Biombo),  onde se situa a Clínica Bom Samaritano - Centro materno-infantil de Ondame e  a Biblioteca de Ondame  (dois projetos apoiados pela Fundação),  contrasta com a vida mais agitada de Bissau (de que se publicam as três últimas fotos acima).





Très projetos emblemáticos em que a Fundação João XXIII está (ou esteva, em 2014, à data desta documentalái fotográfica) empenhada.

(Seleção e edição de fotos / legendagem,  para efeitos de publicação deste poste: LG) (Com a devida vénia...)



Guiné > Região de Biombo > Carta de Quinhamel (1952) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Quinhamel, Ondame e rio Mansoa

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)
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Caro leitor: Para apoiar os projectos com a Guiné-Bissau pode depositar  uma pequena oferta  na conta da Fundação João XXIII - Casa do Oeste.

NIB:0033.0000.45308228096.05

IBAN: PT50.0033.0000.45308228096.05 

SWIFT/BIC: BCOMPTPL


Nota: Os donativos terão recibo e serão considerados no IRS
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Nota do editor:

Último poste da série >  16 de outubro de 2023 >
Guiné 61/74 - P24760: Ser solidário (261): Fundação João XXIII - Casa do Oeste, Ribamar, Lourinhã: parafraseando Friedrich Schiller, "não temos em nossas mãos a solução de todos os problemas da Guiné-Bissau, mas perante os seus problemas temos as nossas mãos" - Fotogaleria (2014) - Parte I

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24760: Ser solidário (261): Fundação João XXIII - Casa do Oeste, Ribamar, Lourinhã: parafraseando Friedrich Schiller, "não temos em nossas mãos a solução de todos os problemas da Guiné-Bissau, mas perante os seus problemas temos as nossas mãos" - Fotogaleria (2014) - Parte I















Facebook da Fundação João XXIII - Casa do Oeste > Fotogaleria > 2014 > Algumas das ações solidárias: Clínica Bom Samaritano - Centro materno-infantil de Ondame (a sudoeste de Quinhamel, região de Biombo), Biblioteca de Ondame, Cooperativa Agrícola dos Jovens de Canchungo e Cooperativa Escolar de S. José de Mindará (com várias escolas), fundada em 1987 pelo prof Raul Daniel da Silva.






A frase é do pensador alemão Friedrich Schiller (1759-1805): "Não temos nas nossas mãos as soluções para todos os problemas do mundo, mas diante de todos os problemas do mundo temos as nossas mãos."..
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Friedrich Schiller é  mais conhecido por ser o autor do O Hino da Alegria (em alemão Ode an die Freude), poema escrito em 1785: é tocado no quarto movimento da 9.ª sinfonia de Ludwig van Beethoven (de quem era amigo). Tornou-se, em 1972, por decisão do Conselho da Europa  igualmente o hino europeu (tocado só  com a música do Beethoven).






Os voluntários da Fundação João XXIII - Casa do Oeste são gente de Mafra, Lourinhá, Óbidos, etc. (como 0 Abílio Salvador, que morreu em 2019 , e para quem a Guiné era a sua "segunda paixão": é o primeiro da esquerda na foto de grupo; e aqui está, ele, na foto de cima, de guarda, à noite, de caçadeira na mão, ao material que acabava de chegar no contentor;  era de Leiria, vivia em Óbidos; é possível que tenha sido um antigo combatente no TO da Guiné)...


Gente solidária que "djunta mon" (junta mãos) para dar uma ajuda aos guineenses, nomeadamente no chão manjaco (região de Biombo), a resolver alguns dos seus problemas básicos, como a educação, sa saúde, a alimentação.


(Seleção / edição / legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)

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Nota do editor:

Último poste da série > 15 de outubro de 2023 > Guiné 61/74 - P24759: Ser solidário (260): Fundação João XXIII - Casa do Oeste (Ribamar, Lourinhã): mais de 30 anos de solidariedade com a Guiné-Bissau (Ofélia Batalha)

sábado, 20 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22732: (Ex)citações (396): A maldição da canoa papel está ainda na cabeça daqueles guineenses, etnocêntricos e xenófobos, que continuam a ter muita dificuldade em aceitar a unidade na diversidade (Cherno Baldé, Bissau)



Guiné > Bissau > s/d [. c 1960/70] > "Praça Honório Barreto e Hotel Portugal"... Bilhete postal, nº 130, Edição "Foto Serra" (Colecção "Guiné Portuguesa") (Detalhe).... Colecção: Agostinho Gaspar / Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).

A Praça, com o nome do "colonialista" e "esclavagista" Honório Barreto (1813-1859) (um guineense, de mãe guineense e pai cabo-verdiano, que foi governador do território, ou nelhor, capitão-mor do Cacheu, e também de Bissau,  por diversas vezes, e que como tal defendeu a integralidade da terra que é hoje a Guiné-Bissau, o que não impediu de, um século depois depois, ter sido diabolizado pelo PAIGC), seria rebatizada, em 1975, como Praça Che Guevara, um "internacionalista revolucionário", de origem argentina, e herói da revolução cubana,  que nunca pôs os pés na Guiné... 

E era aqui, neste sítio da  Bissauvelha,  onde, dizia a lenda, estaria enterrada a canoa papel...  Recorde-se a maldição lançada pelos balobeiros papéis: "Quando os estrangeiros se forem embora, esta canoa tem que ser desenterrada, e feita uma cerimónia para acabar com esta maldição, senão nunca mais haverá paz e felicidade na Guiné, por isso os pais têm que passar estas palavras para os seus filhos. Não se podem esquecer de fazer a cerimónia!" (*)
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Foto (e legenda): © Luís Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. A propósito de "a lenda da canoa papel", aqui (re)contada, no  Poste P22726 (*), comentou o Cherno Baldé:


 [ Cherno Baldé: nosso colaborador permanente, e nosso especialista em questões etno-linguísticas, nasceu no chão fula, e é muçulmano; tem formação universitária tirada na antiga União Soviética e em Portugal; é e um acérrimo crítico dos "demónios étnicos" que estão longe de ter sido esconjurados e expulsos do seu país;  além disso, é  membro da nossa Tabanca Grande desde 16/8/2009; com mais de 235  referências no nosso blogue, é autor da notável série "Memórias do Chico, menino e moço"]

Pudera que fosse só uma lenda como todas as lendas do mundo, mas na realidade trata-se de uma maldição com contornos reais na vida politica e social do nosso país e que impregnou fortemente o núcleo da ideologia e dos dirigentes do Paigc que dirigiram o país com mão de ferro. 

Inclusive a própria constituição está contaminada com os resquícios desta xenofobia anti-alienígena que pode constituir um forte obstáculo a construção dos fundamentos da unidade nacional. O ambiente politico e social na Guiné-Bissau ainda respira este sentimento que está associado as origens e a manutenção da lenda da canoa papel.

A lenda dá enfâse ao nome de N'tsinha Té, ou Intchinate,  que conseguiu vencer os rivais e ocupar o lugar do conhecido rei Papel, Bacampoló Có, quem, na realidade, teria concedido o terreno para instalação dos portugueses. Todavia o N'tsinha Té ter-se-ia notabilizado devido ao seu temperamento belicoso que criou sérios problemas na construção do forte, arrastando-se ao longo do tempo desde o séc. XVII.

Também é preciso dizer que, entre os "indígenas" da Guiné não existiam os conceitos de compra e venda quando se tratava da terra, pois que. não sendo seus reais detentores, de forma alguma podiam alienar um bem colectivo (comunitário) à guarda dos espíritos (Irãs). Esta incompreensão criou mal-entendidos e gerou muitos conflitos, mormente na Guiné, dita portuguesa.

Se há uma característa que particulariza os povos do litoral (ditos animistas) em relação  aos do interior (muçulmanos) é o forte espírito de ligação ao seu Chão (o solo) e o sentido patrimonialista que os leva, não raras vezes, a ostracizar os seus próprios compatriotas oriundos de outros Chãos do mesmo país. E isto reflecte-se imenso nas disputas políticas, eleitorais o que, muitas vezes, empresta o modo étnico-tribal como as diferentes comunidades e grupos sociais se posicionam no terreno político-partidário. 

O Paigc, designadamente, apesar do discurso aparentemente apaziguador e unitário nunca foi seguido de uma prática de justiça e de governação unificadoras, dai o desnorte e cacofonias actuais.

No âmbito da politica de reconstrução pós-independência empreendida pelo partido único, fui professor voluntário, na regiāo de Biombo, de 1981/85, e só muito tardiamente constatei que era visto e tratado como um estrangeiro e, sempre que prestava um serviço ou fazia um favor a alguém, no fundo, era percebido como uma obrigação, o pagamento do direito que me concediam pelo direito de viver no seu Chão, igual ao 'Dacha" que exigiam aos portugueses que viviam nas suas terras. 

Esse é o espírito patrimonialista típico do guineense e que, porventura, pode ser muito mais acentuado nos grupos do litoral, designadamente entre os Papéis de Bissau, e quiçá da região de Biombo.

Para terminar, quero confirmar que, efectivamente foram feitas escavações na rotunda Che-Guevara (antiga praça Honório Barreto),  após o golpe de 14 de Novembro de 1980 e foi um desperdício de tempo e dinheiro. A canoa que buscavam no interior da terra, na realidade, estava na cabeça das pessoas que têm dificuldades enormes em aceitar a unidade na diversidade que é a maior riqueza da Guiné-Bissau e a única via para a construção de uma nação forte e unida.(**)

Com um abraço amigo, Cherno Baldé (***)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste da série > 18 de novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22726: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte VIII: A lenda da canoa papel (...ou a maldição da pátria de Cabral)

(**) Vd. também postes de :


terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21841: Memória dos lugares (417): Ilha do Sal, Bissau, Prábis, Ponta do Inglês... Fotos do ex-fur mil Jorge Ferreira, CCAV 678 (Bissau, Fá Mandinga, Ponta do Inglês, Bambadinca, Xime,1964/66) (Rui Ferreira)



Foto nº 1 > Cabo Verde > Ilha do Sal >  Pessoal da CCAV 678 junto ao memoriAL DA à CCE 302. Divisa, "O suor poupa sangue".  Esta Companhia de Caçadores Especiais esteve aqui entre 25/4/1962 e 18/5/1964, altuira em que foi substituida pela CCAV 678. A foto,do álbum do Jorge Ferreira, a única referência é "Alferes Branco" (possivelmente o oficial de dia que está de pé ao centro).

A CCAV 678 desembarcou do T/T do Uíge, na Ilha do Sal, em 20/5/1964. E partiu para o CTIG,  três meses depois, no Contratorpedeiro Lima, em 17/7/1964.



Foto nº 2 > s/l > 16/5/1964 > "Lancha dos fuzileiros navais"... LDM (Lancha de Desembarque Média) 203... Nesta data só pode ter sido tirada na Ilha do Sal...A data deve estar errada: será setembro de 1964, e a LDM devia fazer serviço entre Bissau e Catió, abastecemdo as NT no sul.


Foto nº 3 > Bissau > Rio Geba > Setembro 1964 > "Tirada no barco, prestes a chegar a Bissau e depois de 11 dias de sofrimento e martírio na escolta ao barco de mantimentos [, a Catió]"


Foto nº 4 > Bissau > CCAV 678 > 21 de setembro de 1964 > "No quartel de Bissau, numa bicicleta que a minha secção apanhou aos terroristas"



 Foto nº 5 > Guiné >Bissau > CCAV 678 >  Prábis, na região de Biombo >  21/9/64 > "Na psico-social em Prábis"... O  meu pai é o segundo da fila de cima, da esquerda para a direita... 


Foto nº 6 > Xime > Ponta do Inglês > S/data  [1965] > Pôr do sol... "Ponta do Inglês. Foz do rio Corubal, com a mata à esquerda, onde era costume sermos atacados"


Fotos (e legendas): © Rui Ferreira (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Recorde-se que a CCAV 678 (*):

(i) em 25Set64 é colocada em Fá Mandinga, como subunidade de intervenção e reserva do BCaç 697 e destacando pelotões para Enxalé e Xitole, este de 25Set64 a 11Nov64, em reforço das guarnições locais;


(ii)  em 19Jan65, com a realização da operação Farol, ocupa a povoação de Ponta do Inglês, mantendo no entanto, um pelotão destacado em Enxalé;

(iii) em 16Abr65, é substituída em Ponta do Inglês por um pelotão da CCaç 508, e assume a responsabilidade do subsector de Bambadinca, onde vai rende a CCaç 508, mantendo-se na zona de acção do BCaç 697, em acumulação com a função de intervenção e reserva do sector e mantendo ainda o pelotão destacado em Enxalé;

(iv) em 2Ago65, desloca forças para Xime e Ponta do Inglês, a fim de substituir a CCaç 508 e ministra  treino operacional à CCaç 1439 naquela zona de acção;

(v) em 10Set65, por troca com a CCaç 1439, assume a responsabilidade do subsector de Xime, com pelotões destacados em Ponta do Inglês e Enxalé, este deslocado em 28Jan66 para Quirafo;

(vi) em 14Abr66, por troca com a CCav 1482, volta a assumir, temporariamente, a função de intervenção e reserva do sector, sendo substituída, em 26Abr66, pela CCaç 1551 e recolhendo a Bissau para o embarque de regresso.

 
2. Mensagem de Rui Ferreira, jornalista desportivo ("O Jogo"), portuense, filho do nosso camarada, já falecido, Jorge Nicociano Ferreira, que foi furriel milicviano na CCAV 678 (Bissau, Fá Mandinga, Ponta do Inglês, Bambadinca, Xime, 1964/ 66) (*)

Data - 1 de fevereiro de 2021, segunda, 1/02, 23:50
Assunto . Mais fotos da CCav 678

Caro Luís Graça, tal como prometido envio-lhe mais algumas fotos da CCav 678, da qual o meu pai, furriel Jorge Ferreira, fez parte. 

O furriel Eduardo  [Ablú] (**) poderá ajudar na identificação de camaradas e locais, já que algumas fotos não têm data, local ou descrição.

Espero que tudo esteja bem consigo e com a família nestes tempos difíceis. Um grande abraço.

PS - Foto nº 5  > 21/9/64 (O meu pai é o segundo da fila de cima, da esquerda para a direita)...Legenda: "Na psico social em Prabis". (***)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 2 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21726: Facebook...ando (58): Fotos do meu pai, já falecido, Jorge Nicociano Ferreira, ex-fur mil at cav, CCAV 678 (Bissau, Fá Mandinga, Ponta do Inglês, Bambadinca, Xime, 1964/ 66) (Rui Ferreira)

(...) Caro Luís Graça, sou filho de um ex-combatente na Guiné e já acompanho o vosso blog há uns anos. O meu pai, Jorge Nicociano Ferreira, foi furriel na CCav 678 e. nomes como Xime, Xitole, Ponta do Inglês, Bambadinca, Bafatá, entre outros, estiveram sempre presentes na minha infância.

Recentemente encontrei fotos do meu pai e camaradas na Guiné, de uma paisagem na Ponta do Inglês, de uma avioneta que poderia ser a do intrépido Honório... Quase todas têm uma legenda e gostaria de as partilhar convosco. (...)


Vd. também poste de 5 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21736: Facebook...ando (59): Sobre a CCAV 678 a que pertenceu o fur mil Jorge Nicociano Ferreira, já falecido: (i) esteve menos de 3 meses na ilha do Sal, Cabo Verde; (ii) foi render a CCE 342 (?); (iii) em Bissau, e antes de partirem para a Zona Leste (Bambadinca), fizeram escoltas a barcos de reabastecimento às NT em Catió (Rui Ferreira / Eduardo dos Santos Roque Ablú)

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21174: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento, ex-Fur Mil Art) (19): Uma desditosa criança do Biombo

Biombo >  Destacamentio de Ondame > Aula de condução
© José Nascimento


1. Mensagem do nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art, CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) com data de 14 de Julho de 2020:


UMA DESDITOSA CRIANÇA DO BIOMBO

A tranquilidade daquela manhã no nosso pequeno destacamento do Biombo foi interrompida por um africano, que com grande ansiedade nos pedia ajuda, "menino muito doente" exclamou.

Dou pressa ao cabo enfermeiro (O Pastilhas) e com a brevidade possível dirigimo-nos para a tabanca de Ondame no "burrinho de mato" que eu próprio conduzo.
Chegados ao local deparámos com uma criança prostrada sobre uma enxerga, assim que o nosso enfermeiro se debruçou sobre o rapazinho verificou que as hipóteses de o salvar eram muito poucas ou nulas, respirava com grande dificuldade. O cabo enfermeiro ainda tentou encontrar-lhe uma veia para lhe dar soro, fez o melhor que sabia e o que estava ao seu alcance, mas os seus esforços foram em vão, a criança sucumbiria de seguida.

- Meu furriel está morto - sussurrou o enfermeiro, mais nada havia a fazer.

Estivemos mais alguns minutos no local, até que dissemos às pessoas que nos rodeavam, que o menino tinha falecido. Imediatamente as mulheres que estavam em nosso redor desataram a carpir, como é tradicional na cultura guineense e nós afastámo-nos do local com uma enorme frustração, por ter sido em vão o nosso esforço para não deixar morrer a infeliz criança.

O tempo passa, meio século já lá vai, mas ainda guardo com alguma mágoa no meu baú de memórias a imagem do desditoso rapazinho africano.

Um abraço para todos os camaradas da Tabanca Grande
José Nascimento
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21070: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento, ex-Fur Mil Art) (18): Um pequeno desentendimento

terça-feira, 30 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P20020: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (14): "O Reguila"

1. Em mensagem do dia 24 de Julho de 2019, o nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art, CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) fala-nos do "Reguila", o 1.º Cabo Cordeiro do 3. Pelotão da 2520.


"O Reguila"

Esta é uma pequena história dedicada a um dos elementos do 3.º Pelotão da CART 2520 que me acompanharam nos quartéis e destacamentos por onde eu andei na Guiné, de seu nome completo:
- José Manuel Vitória Cordeiro
-  Posto: 1.º Cabo
- Especialidade: Apontador de morteiro
- "O Reguila" - alcunha adquirida durante a instrução de combate em Torres Novas.

"O Reguila" também viria a ser o seu nome de guerra durante a sua comissão na Guiné. De estatura mediana, mais rijo do que o próprio aço do morteiro 60, que manejava com destreza, colocava uma granada com precisão em qualquer alvo que estivesse à vista.
Não sabia o que era o medo, não voltava a cara à luta e dizia-se preparado para combater em qualquer lugar da Guiné.

Desde sempre integrado no 3.º Grupo de Combate da CART 2520, esteve no Xime e Mansambo durante o treino operacional, Enxalé, João Landim e Biombo.

Para o futebol também tinha alguma habilidade e no Biombo entrava nas peladinhas que habitualmente se disputavam no "relvado" existente mesmo ali em frente do destacamento.
Numa certa tarde a partida de futebol foi disputada com uma equipa do 2.º Pelotão que havia sido convidada para um jogo amigável, a contar para o campeonato do nada. Integrado na equipa visitante vinha o "Boxeur", nome de guerra de um dos elementos do 2.º Pelotão, mas que de pugilista pouco tinha a não ser o seu ar de rufia.

A assistência muito reduzida era composta por vários militares e por alguns nativos que passavam e atiravam um olhar para o "relvado". Por motivos de força maior o encontro não foi transmitido pela televisão, nem sequer teve direito a ser difundido pela rádio.

Como perder era proibido, o encontro foi disputado com garra, o que originou a que a luta pela posse de bola entre o "Reguila" e o "Boxeur" descambasse para alguma violência, até que se envolveram fisicamente. Do jogo de futebol, num ápice passou-se para outra modalidade, a de pugilismo, apesar de não haver ringue de boxe. No frente a frente o "Reguila" puxa a culatra atrás, melhor dizendo, o seu punho esquerdo cerrado e lá vai disto, acertando em cheio no queixo do adversário que com a força do murro, mais forte que coice de cavalo selvagem, foi projectado ao chão. Reagindo, o "Boxeur" agarra as pernas do "Reguila" atirando-o ao solo. Com os dois deitados no relvado, ou melhor no pelado, o "Boxeur" atirou um ou dois murros ao "Reguila", mas sem lhe causar qualquer efeito. Foi nesse momento que o Furriel Nascimento que também gostava de dar uns pontapés no esférico e fazia parte da equipa da casa, mas devido às circunstâncias do momento, feito árbitro, interrompeu a cena de pugilato e também a jogatana de futebol.

O embate entre pelotões terminou empatado com um nulo, mas o mini combate de boxe terminou com "um justo vencedor aos pontos" que neste caso foi ... "O REGUILA".

Para todos os amigos tabanqueiros um grande abraço.
José Nascimento

 O "Reguila" em Santa Margarida. É o primeiro à esquerda.

O "Reguila" no Biombo. É primeiro da direita, de pé.
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19847: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (13): ingenuidade ou inexperiência do cap mil Maltez

sábado, 1 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19249: Fauna & flora (16): as aves e as superstições dos guineenses: ainda é frequente o fenómeno de ataques e de mortes por feitiçaria nas comunidades étnicas das zonas rurais (, aconteceu em Biombo no mês passado) (Cherno Baldé, Bissau)

1. Comentário de Cherno Baldé, nosso colaborador permanente, que vive em Bissau, ao poste P19242 (*):


Caro amigo Mario Beja Santos,

Este trabalho de Antonio de Almeida, publicado na década de 40 do século passado e que foi baseado numa pesquisa feita junto da população indígena da Guiné,  conseguiu, de facto, captar a parte narrativa e comportamental da cultura indígena dos povos da Guiné (dita Portuguesa), da sua relação com o meio envolvente e das crenças e superstições que resultavam dessa interação e, no caso, relativamente as aves no imaginário colectivo, estando bem ancoradas nas suas diversas tradições e culturas que ainda, em grande medida, subsistem. 

Essas manifestações sócio-culturais fazem do homem africano em geral e guineense em particular, na sua essência e sobretudo um homem supersticioso. A superstição engendra o medo do desconhecido e tudo que seja esquisito aos seus olhos o que, finalmente, leva o africano tradicional a ter um respeito profundo e quase sagrado do meio natural onde ele convive com a parte do mundo invisível e que alimenta e povoa o seu espírito ainda “primitivo”.

Todavia, não me parece que tenham conseguido tocar o fundo da questão que seria de procurar as respostas sobre os porquês.

A titulo de exemplo:

(i) porque é que, nas sociedades islâmicas e não só, à mulher não é permitida proceder ao sacrifício dos animais ou matar e repartir uma galinha ?

(ii) porque é que o indigena que vai para uma viagem não deve cruzar-se, no seu caminho, com uma cegonha gigante das savanas de cor preta ? 

(iii) porque é que determinadas linhagens das famílias tradicionais têm como parente totémico a galinha de (mato) angola ou a perdiz ? 

(iv) qual a origem da superstição sobre a feitiçaria que empresta aos homens e mulheres (sobretudo os velhos /as da aldeia, eternos culpados) a extraordinária capacidade de metamorfosear-se em aves nocturnas (moços e corujas) a fim de se apoderar das almas e corpos das vitimas ? Porquê ... ?

Mas, a dinámica social,  não sendo estanque, certamente, mesmo se o fundo desses fenómenos sociais ainda se mantêm quase intacto nas comunidades tradicionais do meio rural, as suas formas sofreram evoluções ou deixaram de ser sentidas e manifestadas da mesma forma que antigamente em função das mudanças sociais e culturais que, entretanto, vão aparecendo com o fenómeno da urbanização e a vida nas cidades, cosmopolitas e multiculturais, assim como a democratização do ensino oficial e a contribuição das influências externas derivadas da mundialização e da penetração/expansão das diferentes religiões dentro das comunidades «gentílicas ». 

Na Guiné-Bissau, ainda é frequente o fenómeno de ataques e de mortes por feitiçaria nas comunidades étnicas das zonas rurais (aconteceu em Biombo no mês passado) e, não raras vezes, ouvem-se tiros, durante a noite, para expulsar uma coruja mais atrevida que ousase importunar, com os seus agourentos gritos, nos Bairros de Bissau. 

Enfim, ainda tudo se mantem quase intacto, mas nada é como no antigamente.
Com um abraço amigo,
Cherno Baldé
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