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segunda-feira, 13 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4178: As grandes Operações da CART 2339 (Carlos Marques Santos) (3): Operação "Gavião"

1. Mensagem do nosso camarada Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil da CART 2339, Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69, com data de 11 de Abril de 2009:

Um abraço, amigo:
Carlos Vinhal:

Envio em anexo mais texto (III) sobre a série que iniciei sobre as GRANDES OPERAÇÔES da CART 2339 / Mansambo.

Estes textos, que enviarei todos os meses, publicarás se entenderes.
BOA PÁSCOA.
Carlos e Teresa


OPERAÇÃO GAVIÃO
04/18.00h/Abril 1968


Com a duração de 3 dias e com a finalidade de executar uma acção ofensiva na mata de BELEL, iniciada com um Golpe de Mão ao acampamento de ENXALÉ.

Tomaram parte na OP:

Cmdt - 2.º Cmdt do BART 1904
Dest A – Cart 2338 a 4 GComb
Pel Caç Nat 52
Dest B – Cart 2339 a 4 GComb
Pel Caç Nat 53

Desenrolar da acção:

A Cart 2339 iniciou o seu movimento em meios auto, em 05.1500h de FÁ para o XIME, onde agregou o Pel Caç Nat 53. Iniciou logo de seguida a cambança do Geba, pelas 1800h, recebeu no ENXALÉ 2 guias e iniciou a marcha pelo itinerário estabelecido.

Atingiu o local previsto a Norte de MADINA onde se devia instalar em 06.0700h, após algumas hesitações dos Guias (era quase sempre assim…).
Cerca das 0900h o PCV informou que o Dest A tinha já destruído a Tabanca de BELEL e ordenou que se iniciasse a batida à zona Sul do trilho Madina-Belel.

Durante o deslocamento foi detectado o acampamento do ENXALÉ, que foi atacado e destruído, verificando-se que tinha sido abandonado pouco antes.

O objectivo tinha 8 palhotas e capturámos 1 Mauser, 2 marmitas, 1 granada de LRocket e documentos.

Entretanto os elementos do Dest instalados enquanto se procedia ao assalto, foram atacados fortemente, por abelhas. EU QUE O DIGA. DESESPERO ABSOLUTO.
Este ataque, não previsto, desorganizou a nossa acção e pôs 2 nossos homens em estado grave.

Depois de uma certa demora, reiniciou-se o regresso, tendo as NT sofrido, ainda, mais 3 flagelações, sem consequências para nós, tendo o IN sofrido 5 mortos confirmados.

Já na picada FINETE – ENXALÉ as NT sofreram mais 2 ataques de abelhas, provocando o desmaio de alguns elementos, que tiveram de ser transportados às costas.

Continuando a progressão atingiu-se S. BELCHIOR, onde fomos recolhidos em viaturas, chegando ao ENXALÉ às 18.00h.

De imediato iniciámos a travessia do rio e chegámos a FÁ às 03.00h do dia 07/04/68.
Conferido o material, à chegada, faltavam 2 G3, alguns cantis e bornais.
Comunicadas as faltas, voltámos no dia seguinte, à zona do último ataque de abelhas (foram 3 e… quem não se lembra destes ataques ?).

Recuperámos parte do material.
Regressámos a FÁ às 20.00h de 08/04/68

Note-se que logo a seguir a 10/04 montámos emboscadas e vigilância no MATO de CÃO e em 21 iniciámos a ocupação e construção de MANSAMBO (casernas-abrigo de um novo aquartelamento).

A 22 o meu GComb foi destacado para o GEBA em reforço.

Um abraço,

Notas pessoais:
Um elemento do Pel Caç Nat 53 é abatido numa das 5 emboscadas sofridas e ainda por cima com abelhas. Um homem da 2338 desapareceu no mato, mas felizmente apareceu, mais tarde, no Enxalé.

CMSantos
Mansambo 1968/69
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 23 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3927: As Grandes Operações da CART 2339 (Carlos Marques Santos) (2): Op: "Grão Mongol", "Firmes e Singulares" e "Sempre Firmes"

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2841: Estórias cabralianas (35): A bajuda de Belel, os Soncó e o amigo dos turras (Jorge Cabral)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > BART 2917 (197o/72) > Um despojo de guerra, uma fotografia de uma bajuda, certamente de etnia mandinga, oferecida a um tal Soncó, tendo no verso a data de 2 de Fevereiro de 1971. Foi apanhada, a foto, pelo Jorge Cabral no acampamento temporário de Belel, a norte do Enxalé, a sul do Oio, no limite do Cuor, e do Sector L1 (1).


Foto : © Jorge Cabral (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do Jorge Cabral, ex-Alferes Miliciano de Artilharia, comandante do Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, Sector L1 - Bambadinca, Zona Leste, 1969/71, hoje jurista e professor do ensino superior universitário.

Estórias cabralianas > A bajuda de Belel... e o amigos dos turras (2)
por Jorge Cabral


Também eu entrei em Belel (1) em Junho de 1971. De Missirá até lá e de lá ao Enxalé, percorri o trajecto na companhia dos Páras e do Comandante do Pelotão de Milícias de Finete (3).

Saímos ao fim da tarde de Missirá, e pela manhã deu-se o assalto à Base. A resistência não foi muito forte, pois muitos fugiram. Ainda assim, alguns ficaram prisioneiros. Recordo um que ostentava umas divisas vermelhas de Cabo. Não se destruíram as instalações, armadilharam-se, designadamente, um depósito de arroz.

Lembro-me do Soncó ter quase causado uma catástrofe, quando a certa altura, me apontou ao longe tropa africana, dizendo-me que eram turras. Tratava-se da CCAÇ 12, que tomou parte na operação, saindo do Enxalé, e que logo depois embrulhou forte e feio, ao atravessar uma extensa bolanha.

Recordo o pesado bombardeamento da Força Aérea e a eficaz intervenção do Helicanhão.

Tive pois oportunidade de, sem ser convidado, visitar com o vagar possível a casa dos meus vizinhos.

Como recordação apenas guardei a fotografia de uma bela bajuda, certamente perdida na confusão da fuga. Tem a data de 2 de Fevereiro de 1971 e fora oferecida a alguém de apelido Soncó.

O especialista em Soncós, Beja Santos, que explique… Terei ido com um Soncó ao encontro de outro Soncó?

Ainda hoje, não entendo porque me mandaram sem o meu Pelotão. De quem foi a ideia? Do Polidoro? Ou de mais alto?

Como tive mais uma vez ocasião de confirmar no almoço da CCS / BART 2917, os boatos sobre a minha pretensa amizade com os guerrilheiros corriam... Contou-me o motorista Rogério, adido em Missirá, que uma vez o fui acordar às três da manhã, para me levar a Bambadinca, pois esquecera o meu pingalim. E que ele foi, sem medo nenhum, pois "toda a gente sabia que os turras gostavam do Alferes Cabral" (sic)...

Terá sido obra dos boatos, feitos mito. Mistério que um dia gostaria de desvendar…

A fotografia é esta que junto. Mas será legítimo e ético publicá-la? A decisão é vossa!

Jorge Cabral


2. Comentário de L.G.:


É uma despojo de guerra, meu caro. É cruel, mas é assim. Antes uma foto do que uma orelha. Ou uma orelha com brincos. Ou uma perna. Ou uma cabeça. Percebo o teu pudor, que não era certamente o do teu amigo Polidoro, já falecido, tenente-coronel, spinolista, último comandante do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) na altura em que nós, os quadros metropolitanos da CCAÇ 12, fomos rendidos individualmente (Fevereiro/Março de 1971). Não sei por que caíste no goto do homem com quem andei no mato, uma vez, mas com quem não privei, como tu. Era um durão, ele, e certamente que adorava o teu gosto pelo teatro do absurdo. Em Belel, quis-te pôr à prova. Ou lixar-te. A tua fama vinha de longe e ele, por certo, sabia que Cabral só havia um..., o de Missirá e mais nenhum! ... Tal como Tigre de Missirá só houvera um, o nosso Beja Santos, ao tempo do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)...

Escrúpulos já não tenho eu, ao transformar esta tua história em estória... cabraliana.Tu também nunca fizeste questão de separar a ficção e a realidade, o humor e o depoimento, a estória e a história. Ou melhor, contigo, connosco, lá no cú do mundo, nunca se sabia onde acabava uma e começava outra... Espero que não me leves a mal, mas os teus fãs (onde eu me incluo) têm feito insistentes pedidos para publicar mais uma estória cabraliana... Ando a ver se isto esticadinho, chega a livro. Esta é a estória cabraliana nº 35. Ainda falta 15 para a meia centena. Em boa verdade, andas pouco produtivo ou então muito ocupado com a tua criminologia e o teu instituto e o teu ganha-pão de advogado. A última estória aqui publicada data de 10 de Março (2)... Desculpa o castigo, mas foi por uma boa causa.

Fica por responder a tua pergunta sobre legitimidade e ética. Estou a ver que vou ter que arranjar um comité de deontogia e ética (bloguísticas) para apoiar os nossos editores. Além de um conselho editorial... Pensa nisso, já que és jurista. Vemo-nos em Monte Real. Faz boa viagem. E, por favor, não alimentes mais boatos... sob pena de, in extremis, ainda ires parar a tribunal militar, acusado do crime (que nunca prescreve) de traição à Pátria que te pariu. Humor, puro humor negro, com a cumplicidade do editor... L.G.
___________

Notas de L.G.:

(1) Vd. postes de:

11 de Maio de 2008 > Guiné 63/74: P2833: Op Gavião (Belel, 4-6 de Abril de 1968) (Armando Fernandes, Pel Rec CCS / BART 1904, Bissau e Bambadinca, 1966/68)

7 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2817: Blogoterapia (51): O Alentejo do Casadinho e do Cascalheira, o Tura Baldé, a Op Gavião... (Torcato Mendonça / Beja Santos)

10 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2831: Operação Macaréu à Vista - II Parte (Beja Santos) (31): Tigre Vadio: Um banho de sangue no corredor do Oio


(2) Vd. último poste desta série > 10 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2623: Estórias cabralianas (34): O Alferes, o piano e a Professora (Jorge Cabral)

(3) Vd. poste de 19 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2778: Álbum das Glórias (45): Bacari Soncó, ex-comandante do Pel Mil Finete e actual régulo do Cuor, Janeiro de 2008 (Beja Santos)


Guiné-Bissau > Janeiro de 2008 > Fotografia de estúdio de Bacari Soncó, antigo comandante de milícias de Finete, na altura em que o Beja Santos era o comandante do Pel Caç Nat 52, e estava em Missirá (Agosto de 1968/Outubro de 1969), e actual régulo do Cuor.


Foto: © Beja Santos (2008). Direitos reservados.

Originalmente, em finais de 1968, o Pelotão de Milícias de Finete era o nº 102, e pertencia à Companhia de Milícias nº 1 . Em Missirá estava o Pel Mil 101, o Pel Mil 103 em Moricanhe, o Pel Mil 104 em Taibatá e Amedalai, e o Pel Mil 105 em Demba Taco. No final da comissão do BCAÇ 2852, em Maio de 1970, o Pel 201, o Pel 202 e o Pel 203, da Comp Mil nº 1 estão em Missirá, Finete e Madina Bonco/Bissaque, respectivamente. Por sua vez, Amedalai (Pel Mil 241), Taibatá (Pel Mil 242) e Demba Taco (Pel Mil 243) pertenciam então à Comp Mil nº 14. Moricanhe tinha sido abandonada em Junho de 1969. O respectivo Pel Mil (o 145) foi para Amedalai. Teria havido, portanto, uma reorganização das milícas do sector L1, da Zona Leste. Tudo isto girava (ou parecia girar) sob a batuta do poderoso régulo de Badora, fiel aliados dos tugas, e de quem se dizia que tinha 50 mulheres, uma cada tabanca do seu chão... e vários filhos na CCAÇ 12. Terá sido executado, publicamente, em Bambadinca depois da Independência. Curiosamente, temos falado muito pouco deste cabo de guerra e chefe tribal, precioso aliado das NT e da administração portuguesa. Na história do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), faz-se-lhe justiça, ao escrever-se a seu respeito o seguinte:

"(...) "A população Fula de um modo geral é-nos favorável, sendo de destacar o regulado de Badora que tem como chefe/régulo um homem de valor e considerado pela população como um Deus. Esse homem é o Tenente Mamadu, já conhecido no meio militar pelos seus feitos valorosos e dignos de exemplo. Da outra população fortes dúvidas se tem, especialmente Nhabijões, Xime e Mero" (...).

Ainda de acordo com a mesma fonte, em 2 de Junho de 1969, "três grupos não estimados flageram durante a noite, simultaneamente, os Destacamementos de Amdedalai, Demba Taco e Moricanhe, utilizando 7 canhões s/r, 8 Mort 82, 13 LGFog, MP 12,7, várias ML e armas automáticas, causando 1 morto e 3 feridos, milícias, 1 morto e 4 feridos, civis, e danos materiais nas tabancas"...

Uns dias antes, a 28 de Maio de 1968, "um Gr IN de mais de 100 elementos flagelou com 3 canhões s/r, Mort 82, LGFog, ML, MP e PM, durante 40 minutos, o aquartelamento de Bambadinca, causando 2 feridos ligeiros"...