Mostrar mensagens com a etiqueta BCAV 2868. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta BCAV 2868. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20419: Efemérides (316): Foi há 50 anos que desembarquei em Bissau: fomos para a guerra, privilegiámos a paz! (António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639, Binar, Bula e Capunga, 1969/71)


Guiné > Bissau > c.1970/71 > Chaimites evoluindo no estuário Geba em Bissau. À esquerda, o edifício das Alfãndegas
. As primeiras Chaimites chegam a Bissau, as V-200, para teste, em finais de 1970,  e depois a partir de 1971 vão substitundo algumas das nossas obsoletas viaturas blindadas, mas revelam alguns problemas, a nível da blindagem e do armamento.



Guiné > Região do Cacheu > Bula > CCAV 2639 (1969/71)  > A AM [autometralhadora] Panhard, companheira insubstituível nas nossas colunas.

Fotos (e legendas): © António Ramalho (2018) . Todos os direitos reservados (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)





1. Mensagemn de António Ramalho, de 26 de novembro de 2019, 13h19

[ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71), natural da Vila de Fernando, Elvas,  a viver em Vila Franca de Xira, membro da Tabanca Grande, com o nº 757: tem cerca de duas dezenas de referências no nosso blogue;  A ccav 2639, mobilizada pelo RC 7, partiu para o TO da Guiné em 22/10/1969m e regressou a 25/9/1971; esteve em Binar, Pete e Bula; comandante: cap cav Alfredo Jorge Gonçalves Farinha Ferreira;era uma companhia independente, adida ao BCAV 2868; a companhia chegou a Bissau em 28/10/1969, o Ramalho só um depois depois; ficou 3 semanas por Bissau, e o mandarem para o mato em 20/12/1969]


Caro camarada Luís Graça, boa tarde.

Querendo comemorar os 50 anos da nossa chegada à Guiné, homenageando todos aqueles que já partiram, elaborei o texto que anexo para analisares e publicares no nosso Blogue, se assim o entenderes.

Gostaria de ver maior participação de elementos da minha Companhia, tenho feito algumas acções de informação, não vejo resultados, contudo não desistirei!

Quando nos encontraremos num almoço em Algés?
Um forte abraço para todos.

António Fernando Rouqueiro Ramalho (757)





2. Fomos para a guerra e privilegiámos a paz! 

por António Ramalho

Desembarcado em Bissau em Novembro de 1969, fui acompanhado por um T6 na subida do Rio Geba, um ruído ensurdecedor. Antes disso atravessei o Golfo da Guiné apinhado de barcos de pesca, uma imagem lindíssima, qual baía de Cascais, logo ali tive o primeiro sobressalto na manhã seguinte!Na noite anterior o Uíge ficou ancorado ao largo com a proa para Norte. Do meu camarote via a Bissau nocturna. Na manhã seguinte, quando acordei, vi floresta. Pensei que já nos tinham levado para outro local. Ignorância minha. Como os rios na Guiné sofrem de influência marítima, o navio tinha rodado, tudo bem! 





T/T Uíge > Lisboa-Bissau > Outubro de 1969 > "O primeiro (e único) cruzeiro da minha vida.



Guiné > Região Cacheu > Bula > Ponta Consolação > CCAV 2639 (1969/71) > Capunga > Reordenamento

Fotos (e legendas): © António Ramalho (2018) . Todos os direitos reservados (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)



Desembarcado sem arma mas com bagagem, tinha à minha espera o meu conterrâneo João Unas, distinto marinheiro. Percorri Bissau num autocarro das Viagens Costa a distribuir camaradas pelos diferentes quartéis até que me apresentei no QG (Biafra), tal era a desordem! Feito o chek in fui almoçar ao Pelicano! 

Instalado nos Adidos à espera de transporte, ia diariamente ao QG (Biafra) saber da minha sorte. Não havia vaga, graças a Deus. Assim conheci melhor Bissau que, comparada com os dias de hoje está irreconhecível, um desconsolo! 

Mais tarde, nas poucas vindas a Bissau, era hóspede do meu amigo José Germano,  no quartel de Engenharia [, BENG 447], sempre principescamente recebido. Também em Bissalanca [, BA 12] saboreava as excelentes refeições e usufruía do ar condicionado dos Paraquedistas onde o meu conterrâneo João Belchiorinho me recebia. Já cá não estão os dois entre nós! 

Aproveitei os meus tempos livres para conhecer a cidade, os seus bairros. Fui ao Pilão, como era óbvio, aos seus mercados, às suas escolas e liceu, passei bons momentos na 5ª Rep., na Solmar, também fui ao Chez Toi, Messe da FA e passei pelo HM [ 241} conhecer e saber do estado de saúde de alguns camaradas que tinham sofrido umas pequenas escoriações numa emboscada em Binare. 

Fiquei com uma imagem que guardarei para toda a vida: sentados nos lancis dos passeios dos bairros de Bissau,  estudavam crianças à luz dos candeeiros da iluminação pública, que vontade de aprender, que encanto me proporcionaram aqueles jovens! 

Noutra ida ao HM apercebi-me da chegada de helicópteros. A minha curiosidade levou-me até às urgências, estarão a imaginar o dantesco cenário que presenciei naquela tarde! Que grande estímulo para um periquito! Resisti às imagens e ao ambiente tentando confortar aqueles que me ouviam... Não conheci ninguém! Na minha permanência nos Adidos em Bissau fiz rondas desde as antenas da EN, ao Presídio Militar onde numa das idas levei um oficial despromovido por “incompatibilidade” com outro oficial superior que foi calorosamente recebido pelos presentes, antes de o entregar tomámos uma cerveja e dei-lhe um abraço! 

Esperei um mês pela coluna de reabastecimento e lá fui até Binar (Missão do Sono) de onde voltei no mesmo dia para Bula, ficando alojado num Celeiro fora do quartel. Fui na GMC da frente, carregada de sacos com batatas, para resistir melhor ao eventual rebentamento de alguma mina, fazendo companhia a um condutor nativo que fazia a sua estreia nestas andanças. Era ele e eu. Lá nos safámos! 

O BCAV 2868 estava aquartelado em Bula nuns pavilhões desactivados (isotérmicos com ventilação estática) da petrolífera ESSO com piscina (entulhada), que em tempos fez prospecção de petróleo na província! 

Lembro-me perfeitamente da minha Consoada de 1969 no mato: um pacote de bolachas da MM [, Manutenção Militar,] e um cantil com chá. Soube-me tão bem! 

De Bula partimos para Capunga, Pete e Ponta Consolação para fazer o reordenamento das Tabancas, localizado no triângulo Bula, Choquemone (Base do IN) e Binare, aquartelados em magníficas e apropriadas instalações (tendas de lona) até ao fim da comissão! 


Guiné > Guiné > Região do Cacheu > Carta de Bula (1953) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Ponta Consolação, ma margem esquerda do rio de Caleco ou de Bula, afluente do rio Mansoa. À direita da foz, ficava João Landim... Choquemone era uma das matas onde o PAIGC sempre teve as suas "barracas" (ou bases...).


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)


Aqui reordenámos as Tabancas, construíram-se escolas com mão-de-obra nativa mas supervisionada por nós. No princípio sentiu-se alguma relutância das populações já que a nossa presença prejudicava o reabastecimento do IN, uma vez que era ali o seu celeiro. 

No campo da educação foram submetidos a exame e aprovados 18 candidatos, tiraram a carta de condução 41 elementos. Construíram-se 538 moradias, fabricaram-se 582.799 Adobos, construíram-se 3 Escolas: população reordenada 2.509 pessoas. 

Dado estar a pouca distância do Choquemone (Base IN) éramos apoiados pela rectaguarda por enormes peças de artilharia de grande alcance (Obuses) instaladas em Bula. Os dados de tiro para o aparelho de pontaria eram fornecidos por nós tendo como base a inscrição no topo dos bidões das sentinelas! 

Apesar desta missão, eramos escalados para integrar operações. Naquelas em que fiz parte,  o IN não quis contactos comigo, nunca trocámos tiros, nunca nos flagelámos. Já no acampamento fomos contemplados com algumas flagelações à distância. 

Na terça-feira de Carnaval de 1970 uma bala perfurou-nos um pipo de vinho, uma pena! Efectuámos 148 Operações, muitos patrulhamentos e escoltas, picámos quilómetros de picadas! Uma noite fomos sobrevoados no acampamento a baixa altitude por um avião, o Pictures Enterprise, ficando sem saber o que andaria a fazer por ali àquela hora da noite! 

Logo no princípio da nossa comissão, foi efectuada noutra zona da província [, no corredor de Guileje, no sul, na região de Tombali], uma operação para capturar 'Nino' Vieira. Não o conseguiram, tendo contudo capturado o Capitão Peralta, um cubano integrado nas fileiras do PAIGC, ficando gravemente ferido num braço. Assistimos à construção e asfaltamento da estrada de São Vicente que ligava BULA à margem direita do Rio Cacheu que mais tarde faria parte do nosso roteiro para Bissum. 

Apesar do permanente patrulhamento naquela estrada, era o cilindro que com a sua carga máxima abria a picagem da estrada diariamente. É nesta altura que se despenha um helicóptero, devido ao mau tempo, com deputados, sendo um deles meu conterrâneo, José Vicente Abreu, e Pinto Bull, natural da Guiné, avô da actriz Patrícia Bull. 

Fomos visitados em Capunga por Juan Carlos de Bourbon, mais tarde Rei de Espanha, acompanhado pelo Major Marcelino. Apareceram-nos de jipe, nunca soubemos qual a razão da visita. 

De repente somos confrontados com a “Paz Podre”. Não podíamos usar armas, é verdade. Íamos nas colunas com as mãos nos bolsos até que se dá a cilada aos nossos ilustres Majores na zona de Teixeira Pinto, sendo que estava preparada para o General Spínola, como disseram os SI [, Serviços de Informação]. Neste período ofereceram-se enormes quantidades de tabaco e vinho do Porto ao IN. 

Em Novembro de 1970, o Comandante Alpoim Galvão vai a Conacri tentar libertar elementos das NT e capturar elementos do PAIGC. Julgo ter tido mais êxito na libertação dos elementos das NT! 

Lema da CCAV 2639 (1969/71): "Pro bono pacis"
 (, para o bem da paz)
O Major Casquilho [, Luís Maria Coelho Casquilho,] caiu ao Rio Mansoa [, em 29/10/1070,] levando consigo o jipe e a máquina de projecção de filmes que, solícito, queria fazer chegar a horas a Bissau. Ultrapassou as Panhards que o iriam escoltar... e foi em frente, uma tragédia! 

Também capturámos uma Kalachnikov ao IN enquanto namorava na Tabanca. Não era bem a nossa missão, já que íamos era comprar galinhas! 

Celebrou-se o Dia da Cavalaria com pompa e circunstância em teatro de guerra! Construíram-se dois heliportos, um em Pete e outro em Ponta Consolação.

É substituído em Bula o BCAV 2868 pelo BCAÇ 2928 de onde sairia a seu tempo a CCAÇ 2789 que iria substituir-nos no reordenamento das Tabancas de Capunga, Pete e Ponta Consolação. Entretanto fiz parte de um Gr Comb composto por elementos de todos os Pelotões (presumo os mais bem comportados) com destino a Bissum/Bissorã onde fomos ajudar uma Companhia Açoriana a adaptar-se ao cenário de guerra, efectuando algumas rondas e patrulhamentos. Nunca participámos em qualquer outro tipo de operação! 

Éramos reabastecidos de víveres uma vez por mês por via fluvial. Para receber o correio fretávamos uma avioneta à Marinha. Dali ouviu-se o ataque a Bissau com mísseis às 22:00 horas de um qualquer dia de 1971, previamente conhecido e divulgado. Não foi surpresa para ninguém! Como forma de proteger a população da capital, faziam-se exercícios nocturnos de ofuscação de luzes. Mesmo assim estiveram muito perto de acertar nos alvos. Éramos sobrevoados por B26 da NATO a bastante altitude que mais tarde ouviríamos as suas barulhentas descargas “ecológicas”! 

No regresso de Bissum/Bissorã deslocaram-me para Ponta Consolação onde tive o privilégio de poder acompanhar o cabo enfermeiro Afonso Henrique da Silva Lucas ao nascimento de uma menina que baptizámos com Helga dos Reis já que nasceu ao meio dia do dia 6 de Janeiro de 1971. Também aqui fomos flagelados numa noite, felizmente sem consequências graves. Já em Pete, o ataque foi mais feroz, tendo o IN utilizado misseis que destruíram grande parte do aquartelamento, havendo alguns feridos, merecendo a visita das autoridades militares do CTIG. 

Entretanto, chega a CCAV 3420 comandada pelo então Capitão Salgueiro Maia, meu instrutor em Santarém. Aquartelou-se em Bula, para se adaptar ao terreno, mais tarde foi destacada para outros pontos da Guiné mais complicados. Não tiveram vida fácil! Mais uma vez para o mato para a sua adaptação a eventuais cenários reais com que se poderiam deparar. Uma manhã, ao romper do dia ouço um grande alvoroço nas hostes, os periquitos estavam irrequietos e assustados: nada mais, nada menos pelo barulho provocado pelos macacos a acordarem esfregando os olhos e que saltavam duns ramos para os outros cumprimentando-se em voz alta, de forma semelhante ao acordar humano. Passado o susto, lá se acalmaram! 

Só nos podemos orgulhar e sentir felizes: a Companhia regressou em 1971 com os mesmos homens com que chegou à Guiné em 1969, graças a Deus. Ainda que uns mais apanhados que outros! Hoje, que já muitos nos deixaram, é em sua memória que resumo a nossa permanência por aquelas terras há 50 anos! Que repousem em Paz!

____________

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18342: Vídeos de guerra (15): "Guerre en Guinée" (ORTF, 1969, 13' 50'): o governo português suportou o custo das viagens e estadia de todos os elementos da equipa do programa "Point Contrepoint", da televisão pública francesa, durante cerca de um mês... Eu assisti à montagem do filme e trouxe, de Paris, cópia para o Marcelo Caetano... Quando viu a cena da emboscada, disse-me: "Temos que acabar com esta guerra" (Manuel Domingues)


Guiné > Região do Cacheu > Bula > Pecuré > Op Ostra Amarga > 18 de outubro de 1969 > Geneviève Chauvel, então uma jovem jornalista da Agência Gamma, depois da emboscada que vitimou 3 militares portugueses (2 mortos e 1 ferido)... No "Paris-Match" haveria de escrever um artigo de 2 páginas, com fotos suas, sobre "Guinée: l' étrange guerre des Portugais" (pp. 30-31).

Na foto, em grande plano, a Geneviève Chauvel, e a seu lado, o capitão Sentieiro (de que só se vê parte do corpo) momentos após a emboscada. Foto cedida, em 2007, ao Virgínio Briote pelo cor cav ref José Maria Sentieiro, que vive em Torres Novas, e tem a Cruz de Guerra de 1.ª Classe.


Capa da revista "Paris-Match",  nº 1071, de 15 de vovembro de 1969. Segundo o nosso camarada e colaborador permanente Torcato Mendonça, a revista, de venda livre em Bissau, terá sido apreendida nessa semana...


No sumário do referido número do Paris-Match, entre os artigos da seção "Estrangeiro", há um sobre Nixon e a sua maioria silenciosa, e outro sobre a odisseia da Apolo XII (que se preparava para a 2.ª alunissagem, a 19 de Novembro). A revista inseria ainda um pequeno texto da autoria de Geneviève Chauvel, então uma jovem jornalista da Agência Gamma, sobre "Guinée: l' étrange guerre des Portugais" (pp. 30--31) ["Guiné: a estranha guerra dos portugueses"].


Guiné > Região do Cacheu > Bula > Pecuré > Op Ostra Amarga > 18 de outubro de 1969 > O General Spínola, à esquerda, ladeado pelo major João Marcelino (2.º Comandante do BCAV 2868, então em Bissau e que apanhou boleia no heli) e o ten cor Alves Morgado, Comandante do BCAV 2868 que acompanhou o desenrolar da acção. Foto tirada momentos após a emboscada. Imagem extraída do Paris-Match (,edição de 11 de novembro de 1969).


Guiné > Região do Cacheu > Bula > Pecuré > Op Ostra Amarga > 18 de outubro de 1969> De costas, o capitão de cavalaria José Maria Sentieiro, comandante da CCAV 2485 que, por impedimento do comandante da CCAV 2487, foi encarregado de dirigir a Op Ostra Amarga. Imagem obtida momentos após a emboscada que custou dois mortos à CCAV 2487.  Imagem extraída do Paris-Match (,edição de 11 de novembro de 1969) e editada pelo blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné  [ Com a devida vénia...]


Excerto do artigo da Geneviève Chauvel, p. 30

Sobre o gen Spínola, escreveu Geneviève Chauvel:

(...) "Monóculo no olho, apoiando-se no seu pingalim, este oficial parece surgir de um filme dos anos 30. Não é o Pierre Renoir de 'La Bandera', nem o Von Stroheim de 'La Grande Illusion'. O general português Spínola faz verdadeiramente a guerra. Na Guiné. Imagem soberba e irrisória: um pequeno país que possuía, há quatrocentos anos, um império imenso, sobre o qual o sol nunca se escondia, esgota-se hoje no último combate colonial do século.

Entre a Gâmbia e a Guiné de Sékou Touré, a Guiné Portuguesa conta com um punhado de colonos, face a meio milhão de autóctones, num território do tamanho de um departamento francês. De há oito anos a esta parte está transformado num campo de batalha. A guerrilha dos rebeldes, armados pela China e muito organizados – revistas, instrução política, jornais de propaganda – absorve cada vez mais as tropas portuguesas.

Lançados num país muito quente, com uma vegetação muito densa, vigiados pelo inferno das emboscadas, os camponeses de Beja, os pescadores da Nazaré ou os estudantes de Coimbra cuidam da sua elegância, a exemplo do seu comandante-em-chefe: “Mais vale ir para o céu com um uniforme como deve ser”. (...)

Paris-Match, nº 1071, L’étranger, pp. 30 e 31, texto de Geneviève Chauvel-Gamma. Tradução livre de V. Briote. (Com a devida vénia...).


1. Mensagem do nosso camarada e grã-tabanqueiro Manuel Domingues, ex-alf mil op esp, comandante do Pel Rec Info, CCS/BCAÇ 1856 (Nova Lamego, 1965/67) (*)

[Manuel Domingues, foto à esquerda; frequentou o Curso de Rangers e fez parte da CCS/BCAÇ 1856 (Nova Lamego, 1965/67); como alf mil foi comandante do Pelotão de Reconhecimento e Informação, tendo desempenhado as funções de oficial de informações e, durante alguns meses, a de oficial de operações do BCAÇ 1856, esteve no Leste, Sector L3, com o Comando e CCS sediados em Nova Lamego [Gabu]; e as companhias operacionais em Madina do Boé (CCAÇ 1416, com um destacamento em Béli); em Bajocunda (CCAÇ 1417, com um destacamento em Copá); e em Buruntuma (CCAÇ 1418, com um destacamento em Ponte Caiúm); nasceu em 1941, em Castro Laboreiro; é utor do livro Uma Campanha na Guiné (com estórias e testemunhos de vários camaradas do batalhão) bem como de O Pegureiro e o Lobo – Estórias de Castro Laboreiro (2005); está reformado, depois de uma multifacetada carreira profissional, em Portugal e no estrangeiro, em organismos públicos e em empresas].

Caros tertulianos:

Relativamente ao filme da ORTF e à reportagem do Paris Match (**), posso adiantar o seguinte: Participei em setembro e outubro de 1969 no apoio à equipa da ORTF  [, a televisão pública francesa] que realizou o filme e que incluiu Portugal e o Ultramar, com deslocações do Minho a Timor, captando imagens em todas as possessões ultramarinas. 

Esta equipa englobava cerca de uma dúzia de pessoas, entre as quais uma jornalista do Paris Match [, Geneviève Chauvel, ao serviço da agência Gamma] e um do Figaro [Jean-François Chauvel, que era simultaneamente o produtor do programa televisivo "Point-Contrepoint"].

O objectivo inicial era recolher material para incluir no programa "Point-Contrepoint" (tipo Prós e Contras) em que de um lado se afirmava que Portugal era uma potência colonialista, que explorava os povos coloniais que lutavam pela sua libertação. Esta ideia era suportada em reportagens e depoimentos fornecidos pelos movimentos de libertação a que se juntavam alguns opositores do regime, no exílio, entre os quais Manuel Alegre. Do outro lado, pretendia-se refutar esta ideia, afirmando a ideia de que o Ultramar fazia parte integrante de Portugal e mostrando o grau e ritmo de desenvolvimento que se estava a processar, sobretudo em Angola e Moçambique.

A equipa responsável pelo programa, durante as negociações, pôs como condição poder verificar com total liberdade a realidade em todos os territórios, sobretudo na Guiné, Angola e Moçambique, onde se desenvolviam as lutas de libertação.

O Governo Português aceitou, apenas impondo como condição que o elemento que tinha apoiado a equipa nas suas deslocações em Portugal e no Ultramar,  estivesse presente nos estúdios da ORTF para assistir à montagem do filme, evitando surpresas que já tinham acontecido em programas idênticos nos Estados Unidos onde a ideia de confronto acabou por ser subvertida e resultou num manifesto antiportuguês. Portanto, e em resumo, tive a oportunidade de acompanhar todo o processo.

Capa do livro "Uma campanha na Guiné
Assim, no dia da assinatura do Armistício, 11 de Novembro de 1969 [, feriado nacional em França, comemorativo do fim da I Grande Guerra Mundial, 1914-1918], o programa foi para o ar. O grau de imparcialidade, relativo, conferiu-lhe um sucesso na crítica francesa da especialidade e alguma satisfação ao Governo Português de então que pela primeira vez não deu por mal empregue o montante gasto no apoio ao programa, suportando o custo das viagens e estadia de todos os elementos, durante cerca de um mês. (***)

O próprio Marcello Caetano quis ver a cópia que eu tinha trazido [de Paris] e foi durante a sessão, quando viu a cena da emboscada na Guiné que pulverizou dois dos elementos das NT, pronunciou para mim a esperançosa frase:
- Temos que acabar com esta guerra (****).

O impacto na opinião francesa e o elevado volume de material recolhido nos próprios locais levou os produtores da ORTF a fazerem vários documentários.

Já não disponho do exemplar do Paris Match nem da cópia do filme, mas ainda disponho da reportagem do Figaro da mesma altura, onde o autor define Spínola como um misto de Goering e de Marquês de Cuevas, reportagem essa que vou tentar digitalizar e que enviarei depois para os nossos tertulianos.

Um abraço cordial do
Manuel Domingues (*****)


Guiné Região de Cacheu > Bula > Carta (1953) > Escala 1/50 mil  > Sítios por onde se desenrolou a Op Ostra Amarga, de 12 a 18 de outubro de 1969: ponta Matara (vd. carta de Pelundo), ponta Ponaté, ponta Portuga, ponta Penhasse, Bissauzinho, Bofe...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camarads da Guiné (2018)




Guiné > Região do Cacheu > Bula > BCAV 2868 (1969/70) > Op Ostra Amarga >18 de outubro de 1969 > Excerto de Sintrep (?) > No último dia, 18, as NT  acionaram uma mina A/P na região de Badapal, sofrendo dois feridos; na região de Pecuré, um grupo IN não estimado emboscou as NT, acabando por retirar com 4 mortos e 2 sofridos, e sofrendo as NT 2 mortos e um ferido...Já na região de Biura, um grupo IN, também não estimado, voltou a emboscou as NT, sem consequências, e acabando por retirar face à reação, pelo fogo e manobra,das NT.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camarads da Guiné (2018)
______________

Notas do editor:


(**) Vd. postes de:




(***) De acordo com a ficha técnica do vídeo, disponível do portal do INA - Institut National de l'Audiovisuel, a equipa da televisão pública francesa que se integrou na Op Ostra Amarga, devia ser constituída por, pelo menos, os seguintes elementos; Jean Baronnet, realizador; Jean François Chauvel, jornalista / repórter:  Roger Mathurin, operador de som; e Jean Louis Normand, operador de imagem... Haveria ainda a Geneviève Chauvel, que representava a agência Gamma e a revista Paris-Match...

O responsável pelo programa "Point Contrepoint", da ORTF, em 1969, era o jornalista Jean- François Chauvel (1927-1986), que também trabalhava para o Figaro, como grande reporter... Encontrei na Wipipedia, em francês, uma pequena nota biográfica, pela qual fiquei a saber que ele era casado, desde 1961, com a Geneviève, em terceiras núpcias... Foi além disso, membro da resistância francesa, tendo sido ferido em combate em 1944, com apenas 17 anos, tendo condecorado quer pela França pela América, por feitos em combate.

(...) Fils de l'ambassadeur de France Jean Chauvel, il est né à Pékin le 30 mars 1927 et mort à Paris le 10 février 1986.

Après des études scolaires difficiles, il s'est engagé dans la Résistance à l'âge de 15 ans. Après la Libération de Paris, il a rejoint la 2ème division blindée et a été grièvement blessé près de Baccarat à l'automne 1944, ce qui lui a valu la croix de guerre 1939-45 avec palme et le purple heart américain. Après la Libération, il a découvert le métier de journaliste dans des publications modestes parisiennes, puis a sérieusement appris le métier pendant plusieurs années à l'AFP.

Dans les années 1960, il a été intégré à la rédaction du Figaro comme grand-reporter et a été l'un des tout premiers à alerter l'opinion publique nationale et internationale sur le drame du Biafra.

En 1968, il est l'un des membres fondateurs du syndicat étudiant l'UNI.

Il est producteur de l'émission de l'ORTF Point - Contrepoint en 1969.

Au début des années 1970, il a créé et animé deux émissions de reportages pour l'ORTF : 52 (janvier 1973-août 1974) et Satellite, consultables dans les archives de l'INA. À la même époque, il a publié ses mémoires sous le titre À rebrousse-poil, un succès d'édition.

Il a ensuite quitté et le Figaro et la télévision pour produire ses propres reportages, dont Des hommes sans nom sur la Légion étrangère en 1980." (,,,)

Vd. também 15 de dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2351: Vídeos da Guerra (6): Uma Huître Amère para a jornalista francesa Geneviève Chauvel (Virgínio Briote / Luís Graça)

(****) Vd. (*) Vd: Novo Contacto com a Guiné: a esperança marcelista. In: Domingues, Manuel -  Uma Campanha na Guiné, do Autor.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17901: (De)Caras (97): o comandante do BCAV 2868 (Bula, 1969/70), o ten cor cav Carlos José Machado Alves Morgado, mais o com-chefe António Spínola, em Pete, em 9/11/1970 (Victor Garcia, ex-1º cabo at cav, CCAV 2639, Binar, Bula e Capunga, 1969/71)



Guiné > Região do Cacheu > CCAC 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71) > Destacamento de Pete > 9/11/1970 > Visita do General Spinola no dia seguinte ao ataque ao destacamento. À sua direita, o comandante do BCAV 2862 (Bula, 1969/70), ten cor Carlos José Machado Alves Morgado,  o ten cor cav Morgado,  nosso conhecido da Op Ostra Amarga: aparece no fim do filme da ORTF com Spínola e Almeida Bruno. (Será cmdt da Academia Militar, em 1980/81; é general na reforma).

Foto (e legenda): © Victor Garcia (2009) . Todos os direitos reservados (Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné)



1. Mensagem , com data de ontem, do nosso camarada Victor Garcia [ ex-1º cabo at cav, CCAV 2639, Binar, Bula e Capunga, 1969/71]


Eu,  como autor da fotografia,  confirmo que sim. (*)

Na verdade,  é o Tenente Coronel Alves Morgado, Comandante do Batalhão de Cavalaria 2868 (também, conhecida por  "O Chicote").

A Companhia de que fiz parte, a CCav 2639,  era uma companhia independente mas ficámos como subunidade desse mesmo BCAV  2868, onde,  se bem me lembro,  participámos em algumas operações conjuntas onde destaco a Op Pequeno Baio.

Por norma eu era costume anotar nas costas das fotografias as datas, locais e personagens nas fotos. Foi á foto original que consta do meu album em papel, e  fui confirmar estes elementos.

Saudações amigas, Victor Garcia




Guiné > Região de Cacheu > Bula > BCAV 2868 (1969/70) > Em 25/12/1969, o Victor Garcia
com um amigo, da CCS/BCAV 2868

Foto (e legenda): © Victor Garcia (2009) . Todos os direitos reservados (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)






Guiné > Região do Cacheu >  Carta de Bula (1953) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Bula, Capunga, Pete e Binar.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)


2. Sobre este Batalhão, BCAV 2868 (Bula, 1969/70) (, de que temos poucas referências no nosso blogue), podemos acrescentar mais o seguionte:

(i) mobilizado pelo RC 7, partiu para a Guiné em 23/2/1969 e regressou a 30/12/1970;

(ii) esteve em Bissau e Bula:

(iii) era comandado pelo ten cor cav Carlos José Machado Alves Morgado [. hoje general na reforma , foi cmdt da Academia Militar entre 1980/81] (**)

(iv) Unidades de quadrícula: CCAV 2485, 2486 e 2487.

(v) a CCAV 2485 esteve em Cacheu, Bula, Ponta Augusto de Barros, Bula, Pete e Bula; era comandado pelo cap cav José Maria de Campos Mendes Sentieiro;

(vi) a CCAV 2486 passou por Teixeira Pinto, Bula, Pete e Bula; foi comandada pelo cap cav João Soares de Sá e Almeida e pelo alf mIl Iinf JoséManuel Duarte Fernandes;

(viii) por fim, a CCAV 2487 esteve em Cacheu, Bula, Ponta Augusto de Barros, Bula, Ponta Augusto de Barros e Bula; comandantes: cap mil cav João Caetano de Almeida de Lima Quintela;  e cap QEO José António Caiomoto Duarte.

________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17888: Tabanca Grande (450): António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71), natural da Vila de Fernando, Elvas, e novo membro da Tabanca Grande, com o nº 757... Faz parte da Associação de Alunos da Universidade Sénior de Vila Franca de Xira.

(**) Último poste da série >  12 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17856: (De) Caras (98): os três antigos bravos comandantes de pelotão da Companhia de Milícias nº 17, de apelido Camará, o Quebá, o Sitafá e o Bacai, recordados no memorial aos mortos da CART 1525, Bissorã, 1966/67 (Rogério Freire / Adrião Mateus)

domingo, 15 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17864: O nosso livro de visitas (194): António Fernando Rouqueiro Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71)....Será possível saber do paradeiro da menina Helga dos Reis que eu e o cabo enfermeiro do meu pelotão ajudámos a vir ao mundo, em 6 de janeiro de 1971, na tabanca de Ponta Consolação (Nhinte) ? A estar viva, terá hoje 46 anos

1. Mensagem do nosso leitor e camarada António Ramalho:

Data: 15 de outubro de 2017 às 11:00

Assunto: Guiné 1969/1971

Caro camarada Luís Graça.

Na apresentação do livro  "As Mulheres e a Guerra Colonial", de Sofia Branco,  foi-me sugerido a consulta do seu blogue que apreciei, e onde está o seu endereço,  além de outros contactos.

Por sugestão da autora e sobre um tema que lhe apresentei, sugeriu-me que o contactasse.

Fiz parte da CCAV 2639 (independente de qualquer Batalhão, sob o comando do Com-Chefe) desde outubro de 1969 até setembro de 1971, na zona de Bula, Binar, Bissorã (Bissum), substituída pela 2748 (?),  comandada por Salgueiro Maia.  [O cap cav Salgueiro Maia foi comandante da CCAV 3420, Bula, 1971/73 (LG)]

Já fui convidado para lá voltar, o que recusei pois não quero presenciar a destruição de tudo aquilo que fizemos em prol das populações, nossos compatriotas na altura.

Além da parte operacional, fizemos o reordenamento das tabancas de Capunga, Pete e Ponta Consolação (Nhinte).

Nesta última assisti ao parto,  acompanhado pelo cabo enfermeiro do meu Pelotão.  no dia 6 de
janeiro de 1971, de uma menina que logo a baptizamos como Helga dos Reis.

A tabanca era chefiada por um cidadão chamado Eusébio. Esta menina terá hoje 46 anos, será possível saber do seu paradeiro, estará em Portugal?

Apresento-lhe os meus mais respeitosos cumprimentos.

António Fernando Rouqueiro Ramalho

2. Mensagem posterior do António Ramalho:

Nasci a 3 de Janeiro de 1948, em Vila Fernando, Elvas, mas não sou médico, se tem havido tempo teria sido agrónomo ou veterinário!  ( "O Mirante", semanário regional de Santarém, há anos que mantém esta "gralha" por inúmeras vezes tentei corrigi-la mas pelos vistos ainda se mantéa: não confundir a minha pessoa com um tal António Fernando Rouqueiro Ramalho, de 69 anos, também feitos em 3 de janeiro de 2017, médico, ex-diretor do Centro de Saúde de Azambuja).

Estive nas Contribuições e Impostos de passagem, era muito trabalho para pouco salário! Toda a minha vida estive ligado à indústria agro-alimentar, já na Guiné comíamos frangos com a "minha patente"!... Era a empresa guineense A.M. Correia de Paiva que os importava, lembram-se?

Estive na Guiné como Furriel Miliciano, distinto atirador de Cavalaria,com fraca pontaria!
Obrigado por me ter corrigido o nº da CCAV. do Salgueiro Maio, que foi meu instrutor em Santarém e quis o destino que nos fosse substituir à Guiné.

Envio então a foto que corresponde ao meu nome, muito mais bonita que a anterior!...
Um forte abraço para todos os que consultam o Blogue.

Se o tempo o permitir conto estar na Casa do Alentejo no próximo dia 21/10 [, na apresentação do livro do José Saúde].

3. Nota do editor:

Caro António Ramalho, vejo que és da terra do Mário Fitas. um dos membros séniores ds Tabanca Grande,

Por outro lado, constato que fomos contemporâneos na Guiné, com uma diferença de cinco meses... Eu cheguei à Guiné em finais de maio de 1969, integradao na CCAÇ 2590, futura CCAÇ 12. E regressei a casa em março de 1971.

A Sofia Branco é nossa amiga, e contou com o apoio do nosso blogue  na elaboração do seu livro "As mulheres e a guerra colonial" (Lisboa, A Esfera do Livro, 2015).

Sobre a CCAV 2639 tínhamos até agora 13 referências e dois representantes na nossa Tabanca Grande, o Victor Garcia, ex-1º Cabo Atirador, e o Mário [Jorge Figueiredo] Lourenço, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista. [Esta companhia esteve adida ao BCAV 2868, Bula, 1969/70].

Seria interessante tu,  António Ramalho, pudesses (e quisesses) juntar-se a nós: somos, desde 2004,  uma Tabanca Grande, já com 755 amigos e camaradas da Guiné... A nossa única missão é partilhar memórias (e afetos) daquele tempo em que lá estivemos fazendo a guerra e... a paz.

Espero poder conhecer-te ao vivo, no próximo sábado, na Casa do Alentejo

______________

Nota do editor:

Último poste da série >  1 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17717: O nosso livro de visitas (193): Daniel dos Santos, nascido na Praia, Cabo Verde, autor de "Amílcar Cabral: um outro olhar" (Lisboa, Chiado Editora, 2014, 604 pp.)

sábado, 9 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14591: Convívios (678): Encontro do pessoal da CCS/BCAV 2868, dia 27 de Junho de 2015 em Aveiras de Cima (José Carmino Azevedo)

O nosso camarada José Carmino Azevedo (ex-Soldado Condutor Auto Rodas da CCAV 2487/BCAV 2868, Bula, 1969/71), solicita o anúncio de mais um Encontro do pessoal da CCS do seu Batalhão.


ENCONTRO DO PESSOAL DA CCS/BCAV 2868 
(Guiné, 1969/70)

DIA 27 DE JUNHO DE 2015

AVEIRAS DE CIMA


EMENTA:
Lombo assado
e
Bacalhau com natas

PREÇO: 18,00 Euros

RESTAURANTE: Pôr do Sol 2
Estrada Nacional, 366
Aveiras de Cima

Contacto para inscrições: 919 143 520
____________

Nota do editor

Último poste da série de 8 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14588: Convívios (677): Mais um Encontro do pessoal da Magnífica Tabanca da Linha, desta feita no próximo dia 21 de Maio, em Arneiro, S. Domingos de Rana (José Manuel Matos Dinis)

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7415: (Ex)citações (118): A propósito do vídeo da ORTF sobre a Op Ostra Amarga: "As imagens que vi, foram uma espécie de murro no estômago e cimentaram a admiração que nutro por todos aqueles que sentiram o silêncio bem no meio do capim" (Miguel Sentieiro)

1. Miguel Sentieiro, professor de educação física, em Torres Novas, filho de um camarada nosso (o ex-Cap Cav, hoje coronel reformado, comandante da CCAV 2485, José Sentieiro) enviou-nos, em tempos (9 de Fevereiro de 2007),  o seguinte comentário, inserido no poste P2249 (*), e que achámos oportuno agora divulgar...  Aliás, é estranhamente o único comentário que lá consta, ao fim destes 3 (três) anos...
__________________________________________



Guiné > Região do Cacheu > Bula > BCAV 2862 (1969/70) > 18 de Outubro de 1969 > Imagem da reportagem Guerre en Guinée, que passou na televisão francesa, a ORTF,  em 11 de Novembro de 1969, no programa Point Contrepoint [, Ponto Contraponto].

Foto: INA - Institut National de l' Audiovisuel (2006) /  Cópia pessoal de Virgínio Briote 
_________________________________________________________________________________


Na altura,  o detalhadíssimo relato do making of deste vídeo, da ORTF, sobre a Op Ostra Amarga (um poste meu e do Virgínio Briote, que custou muitas horas de trabalho, de pesquisa, de contactos com alguns dos protagonistas,  e de edição), passou completamente despercebido por parte (ou pelo menos não mereceu a devida atenção) dos nossos camarigos e demais membros da nossa Tabanca Grande (*)... 

Estranhamente, têm-nos chegado à nossa caixa de correio, se não todos os dias, pelo menos com alguma regularidade, nestes últimos meses, mails de tipo Spam com avisos do tipo "Vídeo nunca visto sobre a guerra colonial na Guiné, feita por uma equipa da televisão francesa" ou "Guiné - Guerra colonial - Vídeo nunca antes divulgado"... 

E depois acrescenta-se mais detalhes, incompletos, imprecisos ou até errados: "Cenas arrepiantes... É o único filme feito na Guiné que apanhou uma sequência real de guerra. Os jornalistas franceses que seguiam nesta patrulha, mandada executar para que eles tomassem conhecimento com o dia a dia das NT estacionadas em Bula [, CCAV 2487, pertencente ao BCAV 2862, Bula, 1969/70], um pouco a N do Rio Mansoa, apanharam um 'cagaço', mas registaram algo que mais nenhum registou. Se não estou errado, ia também uma jornalista" [,Geneviève Chauvel,]  (...). 

E acrescenta o autor do último mail que recebi: (...) "A emboscada que as NT sofreram, não estava 'no programa', mas isto era o que podia acontecer sempre que se saía para o mato (...). O Spínola, com a seu ajudante de campo (era ainda o Almeida Bruno) e o Cmdt do Batalhão de Bula [, ten cor Morgado,] foram lá, mal tiveram conhecimento do que tinha acontecido" (...).

Na altura, em Fevereiro de 2007, eu e o Virgínio Briote fizemos a tradução da sinopse do filme (que é falado em em francês), de cerca de 14 minutos (mais exactamente 13' 58''), e incluímos um link para o sítio onde está alojado, o INA: Guerre en Guinée  [ Guerra na Guiné]: Carregar aqui para ver o filme; estamos autorizados pelo INA  a inserir um link do filme mas não a disponibilizá-lo directamente no blogue; o Virgínio pagou, do seu bolso, o direito a télecharger o filme, para uso pessoal...). Já revi este notável documento várias vezes e sempre com a mesma emoção... No sítio do INA, este vídeo tem mais de 37 mil visualizações...





____________________________________________________


Foto à direita: De costas, o Capitão de Cavalaria José Maria Sentieiro, comandante da CCAV 2485, que por impedimento do comandante da CCAV 2487, foi encarregue de dirigir a Op Ostra Amarga. Imagem obtida momentos após a emboscada que custou dois mortos à CCAV 2487. Cópia da imagem do Paris-Match, nº 1071, de 15 de Novembro de 1969 .
____________________________________________________


2. Comentário do Miguel Sentieiro (*)
Caro Luis Graça:
Não sou um camarada da Guiné, mas graças a si consegui decifrar melhor o video que o meu pai (José Sentieiro) me facultou há pouco tempo. Tenho 39 anos e não tinha nem tenho a perfeita noção do que todos vocês passaram na guerra colonial. 
O DVD que vi, facultou-me provavelmente a imagem mais esclarecedora que algum dia vi da guerra. Os grandes planos das caras dos homens após a emboscada e o silêncio entrecortado por gritos de dor, não surgem nas grandes produções americanas sobre a guerra do Vietname que todos estamos habituados a ver. 
As imagens que vi, foram uma espécie de murro no estômago e cimentaram a admiração que nutro por todos aqueles que sentiram o silêncio bem no meio do capim. 





Um abraço, Miguel Sentieiro






Os 2 Gr Comb da CCAV 2487, comandados pelo Cap Cav José Sentieiro sofrean uma emboscada do IN na região de Pecuré, a noroeste de Bula,sofrendo 2 mortos e 1 ferido. (**)


[ Revisão / fixação de texto / bold a cor / título: L.G.]
____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de  8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2249: Vídeos da guerra (2): Uma das raras cenas de combate, filmadas ao vivo (ORTF, 1969, c. 14 m) (Luís Graça / Virgínio Briote)

Vd. também os postes relacionados:

 8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2250: Vídeos da guerra (3): Bastidores da Op Ostra Amarga ou Op Paris Match (Bula, 18Out1969) (Virgínio Briote / Luís 

Graça)

15 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2351: Vídeos da Guerra (6): Uma Huître Amèrepara a jornalista francesa Geneviève Chauvel (Virgínio Briote / Luís Graça)

(**) Sobre este Batalhão, BCAV 2868:

Mobilizado pelo RC 7, partiu para a Guiné em 23/2/1969 e regressou a 30/12/1970. Esteve em Bissau e Bula. Era comandado pelo Ten Cor Cav José Machado Alves Morgado. Unidades de quadrícula:  CCAV 2485, 2486 e 2487.

A CCAV 2485 esteve em Cacheu, Bula, Ponta Augusto  de Barros, Bula, Pete e Bula. Era comandado pelo Cap Cav  José Maria de Campos Mendes Sentieiro.

A CCAV 2486 passou por Teixeira Pinto, Bula, Pete e Bula.  Foi comandada pelo Cap Cav João Soares de Sá e Almeida e pelo Alf MIl Inf  JoséManuel Duarte Fernandes.

Por fim, a CCAV 2487  esteve em Cacheu, Bula, Ponta Augusto  de Barros, Bula, Ponta Augusto  de Barros e Bula. Comandantes: Cap Mil Cav  João Caetano de Almeida de Lima Quintela e Cap QEO José António Caiomoto Duarte

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3849: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (8): Bula, vésperas do Natal de 1970

1. Mensagem de Luís Faria, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 3 de Fevereiro de 2009:

Olá, Carlos Vinhal

Sem lapso desta vez, segue outra passagem de "Viagem à volta das minhas memórias".

É bem verdade que com o passar da idade, a nossa memória remota se vai aprimorando (com algumas ajudas) e a próxima, ao invés vai-se esbatendo, criando-nos até por vezes problemas.

Tem sido curioso constatar que, ao ler determinadas passagens/comentários no vosso/nosso blogue, ao ver fotos ou na consulta de alguns apontamentos, disparam-se flashes de pormenores, momentos ou situações que talvez me tenham marcado pela positiva ou negativa (??) Por outro lado há lapsos de tempo, sitios, situações que sei que vivi, mas estão envoltas até ver, numa escuridão desesperante! Por vezes bem puxo pela cabeça... mas ela não sai! !!

Tudo de bom
Luis Faria


Bula - Vésperas de Natal 1970

A 1 de Dezembro de 1970, os Velhinhos do BCav 2868 passam a responsabilidade da zona para o BCaç 2928 e a minha rotina continua até ao dia 19, data em que a Operação Ronco Desejado (???!!!) de novo vai levar a Força às matas de Dungor, península a Norte do Choquemone, mas agora com responsabilidade própria e sob o comando do Cap Mil Mamede de Sousa que, saindo pela primeira vez, se fez acompanhar pelo Fur Enf Urbano e o nosso guia balanta Inchalà Guancane que já tinha acompanhado mais do que uma vez o meu Grupo em acções, sem consequências, nos arrabaldes das zonas de Ponta Matar, menos problemáticas e daí já o conhecer como guia. Desta Operação mantenho algumas lembranças bem vivas, que hoje transcrevo.

A bicha de pirilau pôs-se em marcha como de costume pelas 1/2 horas da manhã, em silêncio absoluto, tentando não alertar a população para a nossa saída. Como sempre em Capunga(?), tabanca à saída da povoação, lá estavam mirones à porta de moranças e não seria por insónia, julgo! Continuamos pela picada de Binar e infletimos para leste em direcção ao objectivo. Ultapassámos a zona desmatada e o capinzal, e entramos na mata verdejante e húmida.

Não sei por que razão, o Cap Mamede e o Urbano iam integrados no meu grupo, que julgo seguia em segundo lugar. A noite luarenta deu lugar à manhã, andava-se cautelosamente com o minimo de ruído, aos esses evitando os trilhos e de quando em vez agachávamo-nos para ligeiro descanso.



- Oh Inchalá, ainda estamos longe…?

- É já li Furié - e andávamos mais uma imensidão de tempo sempre às voltas e contra-voltas, rarissimamente em trilhos, conforme instruções dadas. Sabia que aquela zona não era para brincar. Como da primeira vez, comecei a ouvir umas rajadas curtas intervaladas. Engodo, já sabem que cá estamos e não sabem onde - penso. Redobro a cautela e continuo a andar. A mata é mais densa agora.
Sem aviso rebenta um fogachal tremendo da minha direita. O pessoal agacha ou deita-se, proteje-se, pois o tiroteio é muito intenso, mas parece-me alto. A zona de morte é extensa, dando-me a entender que é um grupo IN numeroso e dividido. As malditas das RPG estoiram por tudo o que é lado, distingo bem o matraquear das armas turras e as balas são profusas. Parecia o inferno!!

A meu lado está o Cap Mamede, que num dos pequeníssimos abrandamentos do tiroteio dirigido à nossa zona, se levanta talvez com intuito de ver alguem ou por julgar que tinha acabado, não sei. Digo-lhe para se deitar e protejer, o que fez sem denotar qualquer receio ou medo. O Urbano, também à minha beira, ajuda à missa! Com a sua sacola de primeiros socorros e a sua G3 parece-me talhado para aquelas andanças!

O tiroteio continua a prolongar-se, com alguns abrandamentos e não parecendo viável e seguro tentar qualquer manobra de envolvimento, já que para além das carateristicas da mata, a zona de emboscada era extensa, há que protejer e aguentar. Da frente do meu 2.º Grupo pedem enfermeiro e lá vai o Urbano prestar apoio. É o Castanhas (HK 21) que tem estilhaços das malditas RPG no corpo. Continua a refrega. Protejo-me atrás de uma árvore tipo cajueiro, folhagem cai, ouço xicotadas, sinto impactos no tronco da árvore e fico à rasca. Estou sob mira! Vejo um vulto encoberto por um arbusto… atiro e deixo de o ver. A meu lado está agora o Augusto(inho) com os seus dilagramas. Lança um, recarrega e diz-me:

- Furriel, acabaram... só balas! Péssimo! Naquela situação o dilagrama podia fazer a diferença.

A refrega continua, já lá irão uns bons 15 minutos até que por fim tudo acaba. Para além do Cabo Castanhas fica ferido o Seno (morteiro) também com estilhaços, julgo. Pelos vestígios encontrados, o adversário teve bastantes feridos e talvez até mortos. No sítio onde vi o vulto e atirei, nada só a cama na folhagem.

As evacuaçoes são feitas pelo heli em clareira próxima com segurança e a 2791 rearranca em pirilau de novo aos esses e a corta mato. O moral do pessoal era bom e continua-se atento. Estou tenso mas calmo. O Inchalá está sereno e diz-me mais ou menos isto que me ficou gravado:

- Furié manga de tura… nos saída mais e sorriu-se!

Fiquei preocupado. A palavra foi passada e uma meia-hora depois, se tanto, aí estão eles de novo, desta vez com menor intensidade. Riposta-se, pede-se apoio aéreo. O recontro continua e passado algum tempo aparecem dois T6 que julgo andassem na zona, fazem a vertical, circundam, picam, largam duas bombas nos locais indicados como prováveis de retirada do IN, ganham altitude circundam a zona e vão embora. Ainda não tinha visto a actuação de aviões em combate e só meses mais tarde voltei a ter essa oportunidade, mas dessa vez foram os Fiat. Foi para mim realmente um espectáculo inesquecível que ainda hoje me parece estar a ver.

Com o aproximar e chegada dos aviões, o tiroteio esmorece e acaba sem que tivessemos baixas. Há informação de que muito pessoal esgotara as munições. São pedidas e chegam-nos de helicóptero (canhão?). É feita a segurança numa pequena clareira e o Fur Castro corre agachado a buscar os cunhetes por duas ou tres vezes.

Remuniciados, há que avançar de novo. O pessoal continuava cauteloso, mas estoirado. Como não há duas sem três, pouca distância percorrida e tivemos novo contacto, creio que com um pequeno grupo que estaria em retirada e também sem cosequências. Já era demais e como tínhamos que passar lá a noite, ia ser o bom e o bonito, pensei.

A tarde caminha para o anoitecer e, para meu contentamento o Cap Mamede deu ordem de regresso à estrada de Binar, saindo da zona. Passada a estrada, emboscamos em linha com os topos reforçados, preparando-nos para passar a noite. No dia seguinte pela manhã, vejo uma mulherzinha chorosa que mando parar e pergunto-lhe o que faz ali? Marido curta perna, respondeu receosa (?!). Deixei-a seguir para a tabanca que era próxima, sem querer aprofundar a questão.

De regresso ao quartel, quando passava pela rua principal de Bula, recordo que habitantes nos olhavam de maneira não habitual e cheguei a ouvir manga de ronco. Chegados, fomos recebidos na parada pelas chefias, coisa não usual, com dezenas de camaradas a obsevar. Após o destroçar, o bar foi o meu objectivo imediato.

Posteriormente soube o porquê daquela recepção: o pessoal julgou que, dada a intensidade dos rebentamentos que ouviram e os pedidos que fizemos, estávamos a ser dizimados. Dizia-se até que o Amilcar Cabral por azar estava ou ia passar na zona onde andámos e por isso nos deparamos com segurança reforçada. É possível, nunca cheguei a saber. Aquele era um corredor de passagem entre o Norte e o Sul. Só sei é que embrulhámos forte e feio, que infelizmente houve dois feridos, mas que recuperaram, que podia ter havido muitos mais, que a rapaziada se portou à maneira e que no espaço de um mês era a segunda vez que embrulhava duro e na mesma zona. Só cerca de um ano mais tarde voltei a pôr as botas no Choquemone, aquando da visita do Ministro para a inauguração(?) da estrada Bula/Binar.

O Natal era daí a quatro dias e tudo estaria bem se no dia seguinte ao final da Operação, 21 de Dezembro de 1970, não tivesse havido o primeiro morto da Companhia, num acidente de viação na estrada Bula/João Landim. O Sold At Celestino do 4.º GComb, que de véspera no Choquemone se tinha safado incólome, morreu estúpidamente ao fazer a escolta a João Landim, integrado no Grupo, quando o perigoso Unimog (burrinho) em que seguia, entrou num buraco da estrada cuspindo todo o pessoal da viatura e provocando mais 6 feridos. Creio que só o Fur Fontinha que seguia no lugar do morto, saiu incólume. Nessa data o Celestino ficou em Paz.

Um abraço a todos
Luis Faria



__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3832: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (7): Bula - Dias de calmaria