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domingo, 2 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23661: Companhias e outras subunidades sem representantes na Tabanca Grande (5): CCS / BCAÇ 697 (Fá Mandinga, 1964/66)


Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > Carta de Bambadinca (1955), escala 1/50 mil (1955) > Posição relativa de Fá Mandinga, a escassa meia dúzia de quilómetros de Bambadinca, na direção de Bafatá. Ficava ma margem esquerda do rio Geba Estreito. Durante anos foi sede batalhão. E, mais tarde, centro de instrução militar: no 1º semestre de 1970, foi lá que se formou a 1ª CCmds Africanos, comandada pelo cap graduado 'comando' João Bacar Jaló. Também foi sede do Pel Caç Nat 63, ao tempo do nosso "alfero Cabarl (19609/70), antes de ser transferiodo para Missirá.


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014).

1. Temos escassas referências (meia dúzia) a este batalhão, o BCAÇ 697, e nenhum representante na Tabanca Grande. Foi esta unidade que ocupou a península da Ponta do Inglês, em 19 de janeiro de 1965, instalando ali uma companhia e depois um pelotão (*).

Era composta apenas por comando e CCS, sem subunidades orgânicas operacionais. Algumas companhias que atuaram sob as suas ordens ou estiveram integradas no seu dispositivo e manobra: CCAÇ 508, CCAÇ 526, CCAÇ 556, CCAÇ 818, CCAV 678, CCAÇ 1417, CCAV 1482, CCAÇ 1439... Não temos imagens do brasão e guião.


Batalhão de Caçadores n.º 697

Identificação: BCaç 697

Unidade Mob: RI 15 - Tomar

Cmdt: TCor Inf Mário Serra Dias da Costa Campos

2.° Cmdt: Maj Inf Abeilard Borges Teixeira Martins | Maj Inf João António Monteiro de Oliveira Leite

OInfOp/Adj: Cap Inf Fernando Luís Guimarães da Costa

Cmdt CCS: Cap SGE Diamantino Alves Gomes | Cap SGE Bento Marreiros

Divisa: 

Partida: Embarque em 15Ju164; desembarque em 2lJu164 | Regresso: Embarque em 27 Abr66

Síntese da Actividade Operacional


Era apenas composto de Comando e CCS. Não dispunha de subunidades operacionais orgânicas. (*)

Após breve permanência em Bissau com vista ao estudo e preparação da sua zona de acção, assumiu em 24Ago64 a responsabilidade do Sector H, então criado na zona Leste e retirado à área do BCaç 506, que a partir de 11Jan65, passou a ser designado por Sector LI, com a sede em Fá Mandinga e abrangendo os subsectores de Bambadinca e Xitole. 

Em 29Ag064, a sua zona de acção foi alargada do subsector de Enxalé, retirado à área do BArt 645. 

Em 16Abr65, foi ainda criado o subsector de Xime, com consequente remodelação dos subsectores.

Em 19Jan65, na sequência da operação Farol, procedeu à ocupação da região de Ponta do Inglês, onde foi instalada uma companhia a qual foi reduzida depois a um destacamento de nível pelotão, a partir de 16Abr65.(**)

Com as subunidades do sector e outras que lhe foram atribuídas de reforço, desenvolveu intensa actividade operacional, planeando, comandando e controlando diversas acções de patrulhamento, de reconhecimento e de recuperação das populações, instalando diversos destacamentos com forças das subunidades e das milícias.

Dentre o material capturado mais significativo, salienta-se: 2 metralhadoras ligeiras, 13 pistolas-metralhadora e 28 espingardas e munições de armas ligeiras.

Em 26Abr66, foi rendido no sector pelo BCaç 1888, recolhendo seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa nº  69 - 2ª Div/4ª  Sec., do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp.  61/62.
____________

Notaa do editor:

(*) Último poste da série > 23 de setembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23641: Companhias e outras subunidades sem representantes na Tabanca Grande (4): CCAÇ 2637, mobilizada pelo BII 18, Ponta Delgada, Açores (Teixeira Pinto, 1969/71), e a que pertenceu o fur mil enf Fernando Almeida Serrano, natural de Penamacor e futuro novo membro da Tabanca Grande

domingo, 2 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22163: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte VII: Um mês em Bambadinca, de 7 de setembro a 9 de outubro de 1965


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bambadinca >CCAV 678 ( 1964/66) > Fevereiro de 1966 > Vista aérea de Bambadinca, tirada do lado do Rio Geba e da estrada Bafatá-Bambadinca, vendo-se em primeiro plano parte da tabanca, atravessada a meio pela estrada; e em segundo plano, a íngreme (e poeirenta, no tempo seco) rampa de acesso ao aquartelamento e aos edifícios administrativos da localidade já então existentes (posto administrativo, correios, escola, capela...)...

A engenharia militar fez obras em meados de 1968: o aquartelemento a partir daí já não tinha nada a ver com aquele que o João Crisóstomo conheceu em setembro de 1965...

Foto (e legtenda): © Manuel Bastos Soares (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar. Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





1. Continuação da publicação da publicação das memórias do João Crisóstomo, ex-alf mil, CCAÇ 1439 (1965/67)


CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) : a “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque)


Parte VII - Um mês em Bambadina, 
de 7 de setembro a 9 de outubro de 1965


BAMBADINCA

(i) Dias 7, 8 e 9 de Setembro de 1965: transferência da CCac  1439 do Xime para Bambadinca.

A nossa permanência em Bambadinca foi apenas de um mês, razão porque não tenho muita memória dessa estadia. Lembro que as instalações eram muito melhores do que no Xime; A povoação era grande, tinha um posto de correio, havia alguns “sítios" onde se podia ir comer etc e estávamos relativamente perto de Bafatá, mas não me cheguei a aproveitar disso. Só iria conhecer Bafatá bastante mais tarde, quando estive destacado em Missirá.

Lembro bem a estrada que levava ao cais onde, salvo raras excepções em que havia melhores meios, apanhávamos uma jangada para atravessar o Rio Geba para a margem oposta onde ficava Finete e outros pontos como Missirá , Mato Cão, Enxalé e Porto Gole.

Este mês em Bambadinca foi um período sem grandes revezes, mas também sem sucessos dignos de destaque, como se pode confirmar pelo que segue:


(ii) Dia 10 de setembro: Saída para Missirá para executar as operações Brio e Garbo.

Chegados a Missirá foi-nos dito para descansarmos bem essa noite de 10 para 11, pois os próximos dias vamos precisar de estar em boas condições físicas para os próximos dias. Não sei como sucedeu, mas sei que para o capitão e para mim houve uma palhota onde havia uma cama grande de ferro à maneira europeia. Fiquei satisfeito e mais socegado; pelo menos não tinha de dormir no chão. E foi nessa cama, sem sequer tirar as botas,-- que era preciso estar pronto para tudo-- que me deitei , partilhando a larga cama com o capitão Pires. 

 Mas eu não conseguia dormir e o mesmo sucedia com o Capitão Pires. Começamos a falar nem sei de quê, mas lembro-me que me sentia deprimido; 11 de Setembro era um dia que eu nunca esquecia, dia de aniversario da minha irmã mais nova. E naquele dia não a podia ver nem sequer telefonar… Talvez para dar largas ao meu mau humor queixei-me do calor e das melgas…"isto é azar", disse eu, "imagine que hoje faz anos a minha irmã e eu nem um telefonema lhe posso faze"...

E aí o Capitão Pires que estava talvez bem mais chateado do que eu mandou-me calar: “Ora gaita, João, vê se dormes e cala-te ; eu também faço anos hoje e não me estou a queixar!"…

 Ainda hoje lembro sempre o meu capitão Pires no dia 11 de setembro…


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Carta de Bambadinca (1955) > Escala de 1/50 mil > Posição relativa de Bambadinca, Finete, Missirá e Mansoná, e os rios Queba Jilá e Passa, a noroeste.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)


(iii) Dia 11 de setembro de 1965: Op Brio

Umas horas depois, bem escuro ainda, já estávamos a caminho para a Operação Brio uma supostamente pequena operação de patrulha e reconhecimento a Norte de Missirá, Objectivo; Mansoná (Vd. infografia).

O planeado era ir e voltar no mesmo dia, que para o dia seguinte já havia outra operação planeada há muito tempo …. Ainda de noite, ao longo duma picada, de repente vi toda a gente a mexer-se e correr dum lado para outro despindo fardas , atirando armas e tudo ao chão : sem nos apercebermos disso estávamos passando em cima duma patrulha de formigas e foi o " ver se te avias”..

Embora não seja tão mau como um ataque de abelhas, não é coisa que se esqueça facilmente. Depois de muita confusão a decisão foi continuar, para logo a seguir termos de voltar : o volumoso caudal no rio Passa e a muita lama e água no leito do rio Queba Jilá tornaram impossível continuar .


(iv) Dia 12 de setembro de 1965: Op Garbo

Patrulha de reconhecimento e combate à região de Banir (a norte de Mansoná). Embora se tivesse exposto o problema da impossibilidade de cambar o rio Passa e o Rio Queba Jilá ao Exmo comandante do BCaç 697, foi ordenado que se fizesse uma batida a qual pela segunda vez se verificou a sua impossibilidade. 

As NT regressaram a Bambadinca no dia 13, absolutamente extenuadas e com as pernas em ferida devido a uma reacção alérgica que motivou a inoperacionalidade de cerca de 60% do pessoal da companhia.

Na verdade era impressionante o estado em que alguns apresentavam as pernas dos joelhos aos pés : era uma úlcera inteira; o facto de todos os afectados apresentarem o problema em grau bastante grave , enquanto outros, como foi o meu caso, não termos sofrido absolutamente nada, levou-me a pensar que essa alergia deve ter sido motivada pelo ataque de formigas no dia anterior. Nenhum dos que estavam sem essa alergia se lembrava de ter tido qualquer mordida das formigas.


(v) Dia 17 de Setembro de 1965: Op Triunfo


Um grupo de combate da CCaç 1439 participou na Operação Triunfo, indo reforçar as forças da CCav 678 ao Poindon no subsector do Xime. Esta operação encontra-se referida nos relatórios da referida Companhia.


(vi) Dia 29 de Setembro de 1965: Op Sota


Saída de Bambadinca a fim de realizar a Operação Sota, patrulha de reconhecimento e combate na margem esquerda do Rio Burontoni. Foi imposto que esta operação se realizasse num itinerário diferente e desconhecido desta companhia, seguindo o itinerário da Bambadinca - Amedalai - Chacali - Chicamael (vd. carta do Xime).

Não se notava qualquer vestígios de picada pelo que o guia não conseguia encontrar o caminha exacto seguindo a corta mato. Depois de mais de 24 horas de contínua marcha sem que se tivesse encontrado vestígios de acampamentos IN em virtude de o guia se ter perdido de pista e porque todos o pessoal se encontrava num extremo grau de fatiga e consequentemente impossibilitado de reacções adequadas em presença do IN, foi solicitado ao PCV ordem para regressar ao Quartel..


(vi) Dia 9 de Outubro de 1965: partida para o Enxalé

A CCaç 1439 foi transferida para a zona de Enxalé, tendo ocupado os destacamentos de Porto Gole, Enxalé e Missirá.

(Continua)

sábado, 24 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22131: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte VI: O baptismo de fogo no Xime (17/8/1965, e a Op Avante, ao Buruntoni (em 29-30/8/1965) com os primeiros mortos



Guiné > Região de Bafatá > Sector de Bambadinca (L1) > Xime > Carta do Xime (1961) > Escala 1/ 50 mil > Posição relativa de Enxalé, Xime, Madina Colhido, Gundagué Beafada, Darsalame (Baio) e Buruntoni, a sula da antiga estrada Xime-Ponta do Inglês (na Foz do rio Corubal).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)




Guiné > Região de Bafatá > Xime > CCAÇ 1439 (1965/67) > 30 de agosto de 1965 > O Armando Assunção Coutinho ("Penalti"), soldado do BCAÇ 697, ferido no decurso da Op Avante. Foto: fonte desconhecida.


1. Continuação da publicação da série CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) : a “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) (*)



CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) : a “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque)



Parte VI - Actividade operacional 
 durante a estadia da CCaç 1439 no Xime, de 17 de agosto a 5 de setembro de 1965


(i) Baptismo de fogo: 17 de Agosto de 1965, ataque ao aquartelamento do Xime

Foi o nosso baptismo de fogo. Diziam que sempre que chegavam “periquitos",   estes se deviam preparar pois o IN vinha sempre “dar as boas vindas’ e testar.

Copio o que consta no "relatório oficial”:

"Dia 17 de Agosto de 1965, ataque IN ao aquartelamento do Xime.

O ataque desenrolou-se com bastante violência com várias granadas de morteiro 60, rajadas de PM. As NT reagiram com fogo violento, não tendo o IN causado qualquer abalo no animo das NT. A CC1439 teve o seu baptismo de fogo.

Resultados obtidos - Do rebentamento de uma granada de morteiro 60 IN, resultaram dois feridos sendo um deles de muita gravidade, posteriormente evacuado para o HMP.  Foram eles: Soldado nº 5266865, João Pestana Vieira,    e Soldado nº  7387965, João Virgílio Nunes.

Da reacção das NT desconhece-se se houve baixas nos elementos IN atacantes.

Diversos - Distinguiu-se pelo seu valor e coragem o Furriel Mil. Manuel Nunes Geraldes."



Permito-me juntar duas notas complementares a este relatório para melhor e mais completa informação:

O Furriel Mil mencionado era o enfermeiro da CCaç 1439. Não havia nenhum médico e, como se veio a confirmar várias vezes depois durante os dois anos que se seguiram, a par da sua coragem e dedicação sem limites, ele tinha uma preparação profissional extraordinária, bem mais além de simples enfermeiro. 

Nunca mais soube nada do soldado evacuado para Bissau. Mas lembro-me bem do ataque e do tiroteio cerrado, ( mesmo em comparação com muitos outros que vim a experimentar depois). Eu,   embora não sentisse medo em demasia, corria quase desvairado dum canto a outro do acampamento: era a primeira vez que "a coisa era mesmo a sério” e eu queria ter a certeza de que toda a gente estava cumprindo o que se esperava de cada um. 

Fui interpelado por alguém que me disse haver feridos; corri e, quando cheguei ao local, o nosso furriel enfermeiro Geraldes já lá estava prestando os seus serviços. Ao perguntar-lhe qual a gravidade,   respondeu-me que ia fazer o que podia, mas que era melhor chamar o helicóptero imediatamente. 

Eu pensei que o ferido talvez não aguentasse muito tempo; e lembrei-me do pedido da mãe dum soldado, não sei qual, que no Funchal no dia da partida me tinha dito: "Oh Senhor alferes, cuide do meu filho …. ele vai consigo, por amor de Deus traga-me o meu filho de volta!"…  

E ali estava eu, sem saber o que fazer, talvez este não voltasse mais. Em outras situações haveria um médico e talvez mesmo um padre para o encorajar com esperanças e apoio. E fui buscar uma imagem de Nossa Senhora de Fátima que a companhia tinha trazido: sem palavras, que nem sei se ele estava suficientemente consciente, segurei durante alguns minutos a imagem em frente dele… Queria que,  além do cuidado médico,  ele sentisse também algum apoio moral e essa foi a única maneira que eu lha podia dar.

Outra coisa que merece ser mencionada e não vem neste relatório: neste “baptismo de fogo”, vim a confirmar o que já suspeitava: o nosso capitão não era para brincadeiras; na manhã seguinte , depois de termos feito buscas e vasculhado as vizinhanças sem qualquer resultado, ele disse-nos que tinhamos de "responder imediatamente e ir à procura deles” para mostrar àqueles c...  que não nos tinham metido medo e contassem connosco… E logo mandou chamar o Adão, um caçador nativo, que, diziam, conhecia bem toda a região para saber do que se poderia fazer …


(ii) Operação Bravura: de 19 a 24 de Agosto, na zona do Xitole


Dois dias depois estávamos envolvidos na Operação Bravura , junto com outra companhia (, a quem pertencia não me lembro,   e que o relatório também não identifica, mas que depreendo, pelo que se segue,  que fazia parte do BCaç 697)-

Tratava-se de uma "operação de reconhecimento e combate” na Zona de Xitole (de 19 a 24 de Agosto).

Resumindo o que vem no relatório:

"Chegados a Corubal,  foram detectados vestígios de presença IN tendo sido enviadas pequenas colunas de reconhecimento , foram assinaladas duas sentinelas, tendo sido eliminada uma. A outra detectou as NT e deu o alarme", Depois de várias manobras,  continua o relatório, "foi feita uma batida a toda a zona; foi destruída uma tabanca com os seus haveres, bem como um extenso campo de milho. Durante a retirada as NT foram emboscadas por duas vezes"...

Resultados obtidos : "foram causados dois mortos e três feridos confirmados ao IN" e  "capturados uma metralhadora ligeira, três Mauser", bem como diversas granadas ofensivas e defensivas e outras munições . "Não houve baixas das NT".

Diversos: foi salientada a audácia e sangue frio do soldado desempanador 3225/63, Armando Assunção Coutinho, da CCS do BCaç 697, voluntário para esta operação. 

Este soldado foi louvado pelo Exmo Comdt Chefe. Bem como o caçador nativo do Xime, Adão Camala, pelo seu valor mais uma vez demostrado nas operações em frente ao IN. "Todo o pessoal constituinte da Operação revelou qualidades militares de disciplina e com vontade de vencer".

(iii) Operação Avante: 29-30 de agosto de 1965, na zona do Buruntoni


Dia 29 e 30 de Agosto de 1965, realizou-se a Operação Avante.

Esta foi, na minha memória, uma das mais “difíceis”,  talvez a mais perigosa operação em que a CCaç 1439 esteve envolvida, opinião esta que é partilhada / confirmada por outros elementos desta Companhia que nesta e outras operações estiveram envolvidos. 

O próprio relatório da CECA,Volume 7, Tomo II, Guiné (página 349),  ao falar das actividades da CCaç 1439, menciona estas duas operações, Avante e Bravura,  como as dignas de maior destaque.

Vou copiar entre  algumas partes do "relatório oficial” mas porque fiz parte "não insignificante" desta operação que me ficou bem na memória, pelo mesmo relato de outros com quem tive recentemente ocasião de reviver estes momentos, reservo-me o direito de expôr a minha/nossa memória e versão, cujos detalhes não são exactamente a versão contada /escrita neste relatório.

(...) "Em 29 saiu do Xime a CCaç 1439 a fim de realizar a operação Avante que consistia numa patrulha de reconhecimento e combate à região, margem esquerda do Rio Burontoni junto da nascente."

E a descrição que se segue no relatório parece por vezes mesmo até contraditória nos seus detalhes. Pelo que vou descrever o que eu e outros , como por exemplo o furriel Lopes , lembramos com muita nitidez e precisão:

Saimos do Xime tendo o Capitão Pires que comandava a operação decidido que fosse o meu pelotão ( o 2º pelotão) a seguir na frente da coluna . "As forças da CCaç 1439 foram reforçadas com um Grupo de Combate da CCav 676, seis caçadores nativos e um voluntário da CCS, soldado 3325/63, Armando da Anunciação Coutinho."

(...) "A força partiu do Quartel do Xime a pé, e depois de articulada (com a outra CC de reforço) progrediu ao longo do Rio Gundagué, contornou Gundagué Beafada, passou ao largo do Darsalame (Baio)  e, antes de alcançar a povoação de Burontoni, (...) atingiu umas casas de mato, situadas na margem direita do Rio Burontoni, acerca de 200 metros deste".

O relato que se segue, sem dúvida bem intencionado, é um pouco confuso. E por isso permito-me descrever por minhas palavras o que vi e vivi, sem intuitos de aumentar ou diminuir:

O IN parece ter sido avisado com antecedência e estava definitivamente à nossa espera, tendo preparado uma bem pensada emboscada: antes, mas já perto do objectivo, talvez com o intuito de nos despistarem,   simulando desconhecimento da nossa aproximação, ouvimos conversas aparentemente despreocupadas, mas de lugar bem fora das nossas vistas. 

O meu pelotão, com a secção do furriel Lopes à frente em ponta, ia na frente; e connosco nesta secção iam dois guias nativos, um deles o Adão, em cuja experiência contávamos e em quem tinhamos toda a confiança; seguiam-se os outros dois pelotões da CCaç 1439 e o grupo de reforço em último lugar. O Capitão Pires vinha um pouco mais atrás do meu pelotão, talvez porque isso lhe daria mais facilidade de controle e comando.

Caminhávamos muito lentamente e de repente rebentou um ataque infernal, sobretudo de metralhadoras e pistolas metralhadoras à nossa frente. A emboscada estava preparada para à base de fogo de metralhadora a curta distância,  nos aniquilarem antes que tivéssemos possibilidades de nos defendermos. 

 No momento em que nos atirávamos ao chão,   ainda vi o corpo cair,  já descontrolado, do guia nativo Adão e de outros dois cujos ferimentos exigiram rápida evacuação de helicóptero para Bissau. 

Felizmente que as granadas de morteiro do IN foram cair mais longe de nós. Tivesse o IN juntado granadas de mão ( como está erroneamente escrito no relatório) ao fogo de metralhadoras no ataque ao meu pelotão que ia na frente,   e teríamos tido muitas mais baixas. 

Felizmente para as forças do meu pelotão havia um pequeno desnível no terreno que nos dava alguma proteção. Mas o fogo era muito cerrado e infernal. O Capitão Pires confessou-me mais tarde,  quando chegámos ao quartel,   que naquele momento pensou que toda a 1ª secção ( na qual eu estava, junto com o furriel Lopes) e talvez a maior parte do meu pelotão, estavam perdidos e ele nada podia fazer para nos salvar. 

Um dos soldados nativos, o guarda costas do furriel Lopes, Mamadu Jaló , ao ver o fogo cerrado de que estávamos a ser alvos, atirou-se para cima dele para o proteger, pondo-se ele em risco maior de ser atingido. Mas o furriel Lopes saiu imediatamente debaixo dele para poder usar a sua arma. 

Eu vi que estávamos perdidos se continuássemos naquela posição, pois quase não podíamos usar as nossas armas; mas tínhamos de fazer algo para inutilizar aquelas metralhadoras à nossa frente. No meio daquele inferno tive uma ideia e berrei tão alto quanto pude a todos, especialmente ao furriel Lopes e ao meu guarda-costas Baptista e aos outros que estavam perto de mim: "Granadas de mão e saltar"!...E  foi a nossa salvação. 

Lançamos as nossas granadas e, ao rebentar das nossas granadas, nós saltámos. O IN esperava tudo menos ver saltar de repente uma dúzia de homens/demónios à frente deles,  vomitando fogo para cima deles; espantados, nada mais fizeram que levantar e fugir loucamente à nossa frente para o interior da mata, sem sequer levarem as armas, enquanto nós corríamos como loucos atrás deles… 

Entretanto, os outros pelotões que estavam um pouco mais atrás, fizeram o mesmo levantando-se imediatamente com o Capitão Pires à frente,  a perseguiram o IN em frente e lateralmente, numa corrida /perseguição louca. 

Ouviram-se depois muitos tiros e rebentamento de granadas ao longe que não sabemos a que atribuir, uma vez que não tivemos conhecimento de qualquer outra operação nas redondezas naquele dia.

Não encontramos IN mortos, mas enquanto esperávamos os helicópteros, tivemos tempo de ver vários rastros de sangue, do que depreendo terem sido várias as baixas no IN .

As NT sofreram três mortos: Adão Camada, caçador/guia do Xime ; soldado 1880865, José Manuel Mendonça; soldado 833 3265 Tolentino de Gouveia;  e dois feridos graves: soldado 32265/63 Armando Assunção Coutinho ("Penalti"); e caçador nativo Braima Indjai; e vários outros feridos e acidentados de menor gravidade.

O “Penalti” não era madeirense, mas estava adido à nossa companhia. Mesmo seriamente ferido no braço,  não parou de fazer fogo louco. Não me recordo disso, mas outros que estavam comigo contaram-me. (não sei quem é o autor da foto que acima se publcia, que com a devida vénia copio, pois em boa hora apareceu no nosso blogue.)

O "Penalti" era “pau para toda a obra" ou "pano para toda a manga” e onde houvesse alguma chance de haver barulho ele era voluntário. No quartel andava sempre com um macaquito às costa (o “Benfica”) de que só se desligava quando saía para o mato, deixando-o acorrentado no quartel até que ele voltasse.

Consta (não posso afirmar a veracidade do que segue; assim me contaram, e conhecendo a fonte acredito que tenha sido verdade e portanto aqui o deixo, para que não passe ao esquecimento) que, não sei como (pois o 1º  ataque a Porto Gole foi em Marco de 1966) ele estava em Portugal quando o corpo do alferes Maldonado, vítima desse ataque, foi a enterrar em Coimbra. 

Ele soube e foi ter com a família a quem disse que estava em Porto Gole neste dia fatídico; que ao ver o Alferes Maldonado ferido pegou nele para o ajudar e que ele lhe faleceu nos seus braços.  Evidentemente que a mãe do Maldonado ficou emocionada e que depois tratava o ‘Penalti” como a um filho. Que permaneceu em Coimbra uns dias e que foi visto a andar de cavalo na quinta da família do falecido Maldonado. (**)

Consta ainda (mais uma vez não sei se é verdade ou não…) que voltou para o hospital onde estava em tratamento, mas, achando-se já suficientemente curado, como não lhe “davam alta”,  ele fugiu do hospital; e não sei como, conseguiu passagem para a Guiné num navio e apresentou-se em Enxalé para continuar o seu tempo de serviço na Guiné. 

Verdade ou não, mas que ele era homem para tudo isto… isso era sem dúvida nenhuma!


(iv) O dramático regresso da Operação Avante



O regresso foi exaustante, carregando às costas os nossos falecidos. O terreno e as circunstâncias eram as piores que se podem imaginar e a cada instante esperávamos sermos emboscados. Pelo que o Cmdt Capitão Pires pediu o apoio da Força Aérea. 

Ainda hoje lembro o respirar fundo e a sensação de alívio que senti quando dois aviões bombardeiros apareceram; o trajecto de regresso foi longo e creio que os dois aviões tiveram de ser revezados por outros, mas não nos deixaram mais durante todo o trajecto até chegarmos já bem perto do Xime.

Lembro que no dia seguinte, na formatura da manhã, o nosso Capitão Pires,  falando à Companhia inteira,  enalteceu o valor e coragem que todos tinham dado provas no dia anterior. Mas que queria de um modo especial mencionar o João Crisóstomo, o furriel Lopes e todo o 2º pelotão, que num momento, que parecia ser um momento trágico para a Companhia, tinham transformado essa situação de desespero numa acção heróica pela qual toda a Companhia lhes estava agradecida.

Foram vários os condecorados em resultado desta operação : Adão Camala, João Crisóstomo, António Lopes, Nauser Sana, Brama Lai; e outros foram “louvados". 

Ainda hoje é minha opinião que bastantes outros , nomeadamente todos os membros da secção do furriel Lopes e os que nesta operação perderam a vida mereciam o mesmo reconhecimento.

(v) Dia 5 de Setembro de 1965: Operação Corça, na zona do Enxalé

Um grupo de combate da CCaç 1439 deslocou-se do Xime para o Enxalé para participar na Operação Corça, reforçando a CCaç 1556. Esta operação é mencionada no resumo da CCaç  1556.

(Continua)
 
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 12 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22098: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte V: Destino: Xime.... E um levantamento de rancho que acabou à bofetada...

(*ª)  Sobre o malogrado alferes mil at inf, António Aníbal Maia de Carvalho Maldonado, 1ª CCAÇ / BCAÇ 697 (Fá Mandinga, 1964/66), morto em combate, em Porto Gole, em 3 de março de 1966, ver aqui:

22 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19517: In Memoriam (340): Até sempre, 'comandante' Jorge Rosales (1939-2019)

Guiné > Bissau > Praça do Império > Novembro de 1965 > O Jorge Rosales mais o Maldonado, junto ao monumento "Ao Esforço da Raça" ... "O alf mil Maldonado, meu camarada desde Mafra e meu substitulo em Porto Gole, (...) faleceu em março de 1966, em consequência do rebentamento de uma morteirada IN que o atingiu em cheio, no aquartelamento de Porto Gole". De seu nome completo, António Aníbal Maia de Carvalho Maldonado, morreu no dia 4/3/1966. Natural da Sé Nova, Coimbra, foi inumado no cemitério da Conchada.

Foto (e legenda): © Jorge Rosales (2010).. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]  


(,,.) No seu tempo (Março de 1966), morreu em Porto Gole o alf mil António Maldonado, que o veio substituir. O Maldonado, de Coimbra, estava em Bolama. Era alf mil da 1ª CCAÇ / BCAÇ 697. Eram amigos, tinham estado em Mafra. Tinham combinado revezar-se ao fim de um ano. O Maldonado vinha para Porto Gole e o Jorge ia para Bolama… No meio disto, há um coronel que vem dificultar o acordo de cavalheiros. Enfim, uma história que é preciso contar com tempo e vagar.

O Maldonado é morto num ataque violentíssimo a Porto Gole, depois de as NT terem feito um ronco nas áreas controladas pelo PAIGC… Ferido, aguardou em vão o heli que só podia vir de manhã. A mãe do Jorge [Rosales]  foi ao enterro, em Coimbra. O cadáver foi rapidamente trasladado, contrariamente ao que acontecia na época. Esta morte de um camarada e amigo abalou-o. (...) 

segunda-feira, 18 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19597: (De)Caras (123): Capitão de Infantaria Francisco Meireles, cmdt da CCAÇ 508, morto em Ponta Varela, Xime, em 3/6/1965 - Parte I (Jorge Araújo)



Foto 1 - Xime (1965) – O Capitão Francisco Meirelles rodeado de “Homens Grandes” da região. O 3.º da esquerda era, em 1972, o Chefe de Tabanca do Xime, cujo nome já não me recordo. (Foto retirada, com a devida vénia, do livro "Capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres Meirelles"  (Braga: Editora Pax, s/d, p30),

Alguém de ‘boa vontade’ que saiba o  nome do Chefe da Tabanca do Xime… faça o favor de informar. Obrigado!




Foto 2 - Xime (1972) – Ao meu lado, o Chefe de Tabanca do Xime, sete anos depois da imagem anterior.

Foto (e legenda): © Jorge Araújo  (2019) . Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné).



Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue desde março de 2018



A COMPANHIA DE CAÇADORES 508 (1963-1965) E A MORTE DO SEU CMDT CAP INF FRANCISCO MEIRELLES EM 3JUN1965 NA PONTA VARELA

- A ÚNICA BAIXA EM COMBATE DE UM CAPITÃO NO XIME - PARTE I



1. INTRODUÇÃO

A presente narrativa tem na sua génese a recuperação de algumas memórias da história colectiva da Companhia de Caçadores 508 [CCAÇ 508] durante a sua presença no CTIG, entre 20Jul1963, chegada a Bissau, e 07Ago1965, data do embarque de regresso à metrópole.

 Nela relataremos, também, o contexto que originou a morte do seu Cmdt - o capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres Meirelles (1938-1965), imagem ao lado - ocorrida na Ponta Varela (Xime), no dia 3 de Junho de 1965, 5.ª feira, narrado no livro elaborado em sua memória pela sua família, e por mim adquirido a um alfarrabista de São João da Madeira, cruzando-o com a versão oficial publicada pela CECA [Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974)].

Acrescento, a propósito, que este texto já estava alinhavado e alinhado desde Dezembro último, data em que foi postado o trabalho relacionado com a elaboração da lista, corrigida e aumentada, dos camaradas «Capitães» que tombaram durante a guerra na Guiné – P19315 (22.12.18) – cujas causas de morte foram agrupadas em acidente, combate e doença.

A fonte a que recorremos, para o efeito supra, foi a base de dados da «Academia Militar», sítio: https://academiamilitar.pt/filhos-da-escola-do-exercito-e-da-academia-militar.html, de onde retirámos os elementos necessários para a organização daquele trabalho.

Dessa lista de doze nomes (mortes em combate) foi sinalizado, desde logo, o do Capitão Francisco Meirelles, uma vez que a sua morte aconteceu num local mítico e muito familiar para o contingente da minha CART 3494, no qual me incluo, naturalmente, ainda que entre cada caso, ou período nele vivido, exista uma diferença temporal de sete anos (1965/1972), conforme fotos nº 1 e nº 2 (acima).

Por razão relacionada com o início da publicação, no blogue da «Tabanca Grande», do trabalho de pesquisa elaborado pelo camarada cor art ref António Carlos Morais da Silva (o nosso primeiro gã-tabanqueiro do ano em curso; que saúdo), na série: «In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-1975) – P19378 (07.01.19) – fiquei a aguardar pela postagem dos dados do malogrado Capitão Francisco Meirelles que agora aconteceu – P19579.

2. SUBSÍDIOS HISTÓRICOS DA COMPANHIA DE CAÇADORES 508  (BISSORÃ,  BARRO - BIGENE, OLOSSATO, BISSAU, QUINHAMEL - PONTA DO INGLÊS, GALOMARO E XIME, 1963-1965)


2.1. A MOBILIZAÇÃO PARA O CTIG

Mobilizada pelo Regimento de Infantaria 7 [RI 7], de Leiria, a Companhia de Caçadores 508 (CCAÇ 508) embarcou em Lisboa, no Cais da Rocha, em 14 de Julho de 1963, domingo, sob o comando, interino, do Alferes Cardoso, seguindo viagem a bordo do N/M Índia,  rumo à Guiné (Bissau), onde chegou a 20 do mesmo mês, sábado.

2.2. SÍNTESE OPERACIONAL

Dez dias após a sua chegada a Bissau, ou seja, em 01 de Agosto de 1963, a CCAÇ 508 assumiu a responsabilidade do subsector de Bissorã, então criado, com grupos de combate (pelotões) destacados em Barro, até 23 de Dezembro de 1963, e Bigene, até 26 de Dezembro de 1963, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 507 e, após remodelação daqueles sectores, no BCAÇ 512. Em 26 de Dezembro de 1963, passou a ter um grupo de combate destacado em Olossato.

Dez dias após ter iniciado a sua actividade operacional, ou seja, em 11 de Agosto de 1963, a CCAÇ 508 tem a sua primeira baixa, com a morte, por acidente com arma de fogo, do camarada:

● António Rodrigues Teixeira de Jesus; 1.º Cabo; natural de Avões, Lamego; solteiro.

Em Fevereiro de 1964, com seis meses de comissão, a CCAÇ 508 regista mais duas baixas, estas em combate, em Maqué (Região do Óio), na sequência da sua intensa actividade operacional.



Foto 3 - Olossato (1964) – Unimog destruído por mina anti-carro. Esta viatura foi conduzida pelo condutor da CCAÇ 508, Cândido Paredes, natural de Favaios, Vila Real. (Foto do próprio publicada em http://lugardoreal.com/imaxe/unimog-destruido, com a devida vénia).


Destaca-se, neste contexto, as seguintes:

(i) em 03Fev64, 1 Gr Comb, pernoitando em Missirá, reagiu a um ataque IN, pondo em fuga;

(ii) vinco dias depois (08Fev64) rebentou uma mina [anti-carro] na estrada Mansabá-Farim, provocando quatro feridos em 2 Gr Comb, que reagiram, provocando baixas ao IN;

(iii) Em 12Fev64, 4.ª feira, 1 Gr Comb levantou 42 abatises, em Maqué, sofrendo uma emboscada de que resultaram dois mortos e quatro feridos nas forças da CCAÇ 508, sendo os mortos os seguintes camaradas:

● António Fernando Teixeira Vilela; soldado; natural de Rio Tinto, Gondomar; solteiro. Foi sepultado no Cemitério de Bissau (Campa 692).

● José Paulo Fonseca; soldado; natural de Aljubarrota, Alcobaça, solteiro. Foi sepultado no Cemitério de Bissau (Campa 692).

Entretanto, decorrido um ano de comissão do contingente da CCAÇ 508, chega a esta Unidade Independente o Capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres de Meirelles [1938-02-21/1965-06-03] para a comandar. A sua viagem iniciou-se em Lisboa a 17 de Julho de 1964, a bordo do barco de carga «António Carlos», rumando a Bissorã, região do Oio, onde o seu contingente se encontrava instalado.

Em 04Set64, 6.ª feira, já então na dependência do BART 645, e depois da chegada da CART 566, a CCAÇ 508 foi substituída no subsector de Bissorã pela CART 643, do antecedente ali colocada em reforço, tendo seguido para o sector de Bissau, a fim de se integrar no dispositivo de segurança e protecção das instalações e das populações da área, com um grupo de combate destacado em Quinhamel, ficando na dependência do BCAÇ 600.

Em 15Nov64, domingo, a CCAÇ 508 regista a quarta baixa, com a morte, por afogamento no Rio Geba, em Bafatá, do camarada:

● António Coutinho Nobre; Soldado; natural das Caldas da Rainha; solteiro.

Em 08Fev65, 2.ª feira, um ano após terem accionado uma mina na estrada Mansabá-Farim [imagem acima] a CCAÇ 508, contabiliza mais uma baixa, a quinta, desta vez provocada pelo levantamento de uma mina em Jabadá, verificando-se a morte do camarada:

● João Francisco Serrão; Soldado; natural de Coruche; solteiro.

É de referir que a transferência para Bissau ficou a dever-se ao facto da Companhia estar muito debilitada pela longa permanência no mato e por ter sofrido algumas baixas.

Porém, em princípio de Março de 1965, a CCAÇ 508 foi novamente mandada para uma zona operacional. Em 7 e 23 de Março de 1965, por troca com a CCAÇ 526, a CCAÇ 508 deslocou-se, por fracções para Bambadinca, assumindo a responsabilidade do respectivo subsector, com grupos de combate [pelotões] destacados em Xime e Galomaro e ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 697, sob o comando do Tenente-Coronel Mário Serra Dias da Costa Campos, sediado em Bambadinca.

Em 16Abril65, 6.ª feira, a CCAÇ 508 foi substituída pela CCAV 678, sendo deslocada para o Xime, onde  assumiu a responsabilidade do respectivo subsector, então criado, com grupos de combate destacados em Ponta do Inglês e Galomaro.

Em 27Mai65, 5.ª feira, a CCAÇ 508 regista mais uma baixa no seu efectivo, a sexta, com a morte em combate, no Xime, do camarada:

● José Ferreira Clemente; Soldado Auto Rodas; natural de Milagres, Leiria; solteiro. Foi sepultado no Cemitério de Bissau (Campa 1812).

Em 03Jun65, 5.ª feira, a CCAÇ 508 perde mais quatro unidades em combate, na Ponta Varela (Xime), sendo um o seu comandante, o Capitão Francisco Meirelles, em consequência do rebentamento de uma mina. Eis os seus nomes:

● Francisco Xavier Pinheiro Torres de Meirelles; Capitão de Infantaria QP; natural de Castelões de Cepeda, Paredes; casado.

● José Maria dos Santos Corbacho; 1.º Cabo; natural de São Sebastião da Pedreira, Lisboa, solteiro.

● Domingos João de Oliveira Cardoso; Soldado Auto Rodas; natural de São Cosme, Gondomar; solteiro.

● Braima Turé; Caçador Nativo (guia), natural do Xime, Bambadinca.

[Nota: Nas diferentes fontes consultadas, não existe concordância quanto aos locais onde foram sepultados os últimos três corpos referidos acima. Na Parte II, daremos conta do que consta em cada uma delas (fontes)].

Entretanto, em 06 de Agosto de 1965, após a chegada da CCAÇ 1439 para treino operacional, a CCAÇ 508 foi rendida no subsector do Xime por forças da CCAV 678, recolhendo imediatamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso ao Continente, após dois anos de comissão. A viagem de regresso iniciou-se a 07 de Agosto de 1965, sábado, a bordo do vapor «Alfredo da Silva» com a chegada ao cais de Alcântara, Lisboa, a ter lugar no dia 14 do mesmo mês, sábado.



3. A MORTE DO CAPITÃO FRANCISCO MEIRELLES EM 03JUN1965 – DESCRIÇÃO





Tendo por principal fonte de investigação o livro publicado em sua memória pela sua família que, segundo creio, aconteceu a propósito do primeiro aniversário da sua morte, pela dedicatória que nele consta, tomei a liberdade de o citar, como elemento historiográfico, particularmente no que concerne aos antecedentes e a alguns detalhes relacionados com o desenrolar das acções que ditaram a sua morte e de mais três elementos da sua CCAÇ 508.



Mapa da Região do Xime, indicando os pontos mais problemáticos da actividade operacional das NT.



[…] O Xime, enquanto zona especialmente perigosa, era visitado pelos repórteres militares. […]

"Em 3 de Junho de 1965, foi [o capitão Francisco Meirelles] incumbido de mostrar aos operadores da R.T.P. como se fazia a detecção de minas, muito frequentes naquela zona, pois em menos de três meses tinham sido levantadas mais de 40. Logo a 2 kms do Xime foi detectada uma mina anti-carro. Como os trabalhos de levantamento da mina demorassem, o capitão Meirelles propôs ao major Abeilard Martins, 2.º Comandante do Batalhão 697, irem a pé até à tabanca de Ponta Varela, pois queria mostrar a conveniência da sua reocupação pelos nativos, em regime de auto-defesa, reocupando-se dessa forma uma região muito fértil. Ficariam assim os comandos a dispor de mais um ponto de observação e de vigilância, e também dificultada a colocação de minas naquela zona.

Aceite a sugestão, partiram aqueles oficiais, juntamente com o major Afonso, do Estado Maior do Comando Chefe, que acompanhava os operadores da TV, com o régulo da tabanca de Ponta Varela, com alguns pisteiros indígenas e com duas ou três secções que seguiam nos flancos. Percorridos os 4 ou 5 kms que distam de Ponta Varela, foi esta povoação observada minuciosamente bem como os pontos de defesa e apreciado o panorama do Canal do Geba e dos planos que o ladeiam. […]

Como fosse perto do meio-dia, comeram-se algumas frutas e iniciado o caminho do regresso, a umas centenas de metros da tabanca rebentou repentinamente uma mina antipessoal que tudo leva a crer fosse armadilhada depois da primeira passagem pelo local ou então comandada á distância.

A mina ao rebentar esfacelou o 1.º cabo João Maria [dos Santos] Corbacho, o soldado Domingos João de Oliveira Cardoso e o soldado indígena Braine [Braima Turé], que morreram instantaneamente e feriu gravemente na garganta e tórax o capitão Meirelles, que veio a falecer uns vinte minutos após a explosão. Ficaram feridos os majores Abeilard Martins (este com bastante gravidade) e Afonso e mais 4 soldados.

Com um sangue-frio impressionante, os operadores da TV Afonso Silva e Luís Miranda, que ficaram ilesos, começaram a filmar a cena, poucos momentos após a explosão, havendo assim, além das testemunhas sobreviventes, um documentário fotográfico da operação e das consequências do rebentamento". […] Op.cit. pp10-11.

Continua…




Fontes consultadas:

Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro I; 1.ª edição, Lisboa (2014); p195.

Ø Capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres Meirelles (s/d). Editora Pax, Braga.

Ø http://ultramar.terreweb.biz/index_MortosGuerraUltramar.htm (com a devida vénia)

Ø Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

14MAR2019.

________________

Nota do editor:

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19517: In Memoriam (340): Até sempre, 'comandante' Jorge Rosales (1939-2019)


Cascais > Alcabideche > Cabreiro > Restaurante A Camponesa > 24 de Novembro de 2011 > Almoço de convívio da Tabanca da Linha >  O régulo e o almoxarife Jorge Rosales  que tratava da "bianda da Tabanca da Linha"... Era ele que tinha a rede de contactos... E sobre a bianda lá na Guiné, contou.nos o seguinte, no nosso blogue:

"Na minha memória,recordo-me que uma vez o barco não entregou farinha e fermento, e aí é que foi um problema, porque faltava o casqueiro!!! Fomos buscar ao Geba  pequenas pedras, que serviram para acompanhar o molho.

"Este grupo tinha o Alface, sargento do quadro, que com o seu "saber" safava-nos sempre nos dias mais dificeis, Aí aprendi, ou refinei, o espirito de equipe, que resolve tudo"


Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Tabanca da Linha > Cascais, Alcabideche, Carreiro > Adega Camponesa > 17 de outubro de 2013 > Um momento de grande camaradagem, captado pela câmara do Manuel Resende: o alfabravo entre o Jorge Rosales e o Armando Pires, dois homens de afetos.

Sobre o Jorge, escreveu o Armando (****):

"Já não sei pela mão de quem, fui ao almoço da Tabanca da Linha. Conhecia uns dois ou três dos presentes e os outros foram-me sendo apresentados.Já estávamos dos digestivos, iam-se misturando as histórias do passado, quando um decidiu incluir-me como actor de uma bravata por ele imaginada.

Senti necessidade de sair por ser mais forte o meu respeito por todos. Foi quando a tua mão forte pousou suavemente no meu ombro, e na tua voz serena me disseste, 'tem calma, Armando, a malta aqui da Linha conhece o gajo, é um inventor, ninguém acredita nas coisas que o gajo conta'...

O teu gesto, Jorge, tornou-se marca indelével de ti. A um grande Homem bastam pequenas coisas para o tornar admirado, respeitado. À admiração e ao respeito fui somando a amizade que te ganhei. Gosto de ouvir quando ao telefone me dizes: 'Armando, sabes quem fala? É o Jorge, o Rosales, estás bom Armando?'

E sinto até o vazio dos anos, tantos anos, que tardei em te conhecer. Ainda bem que te conheci, Jorge. Hoje fazes anos. Leva um profundo abraço meu. É o melhor de mim que tenho para te dar."



Tabanca da Linha > Cascais, Alcabideche, Cabreiro > Adega Camponesa > 17 de outubro de 2013 > Da esquerda para a direita, a Gisela (a única camarada presente), o Luís Graça (editor do nosso blogue), o "comandante" Jorge Rosales (, "régulo" da Tabanca da Linha) e Miguel Pessoa (, herói da FAP, que a FAP nunca reconheceu...)

Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


27.º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > Cascais > Carcavelos > Junqueiro > Hotel Riviera > 22 de setembro de 2016 > Quatro dos 'magníficos': da esquerda para a direita, Juvenal Amado, Jorge Rosales, Armando Pires e Mário Fitas.

Foto (e legenda): © Manuel Resende (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Leiria > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012> VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > O Jorge Rosales, régulo da Tabanca da Linha, ainda do tempo do caqui amarelo (1964/66) e a Giselda Pessoa, a primeira mulher a quem começámos a tratar, por direito próprio, como camarada, na sua qualidade de enfermeira paraquedista no TO da Guiné (1972/74).

Foto: © Manuel Resende (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Magnífica Tabanca da Linha > Cascais > Carcavelos> Hotel Riviera > 21/1/2016 >  Almoço-convívio > .Os manos Rosales, Jorge e José. Foto rara...

Foto (e legenda): © Manuel Resende (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Monte Real > XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 5 de maio de 2018 >  Dois veteranos... da Guiné e dos nossos encontros: o Virgímio Briote e o Jorge Rosales... (Infelizmente, o último encontro da Tabanca para o Jorge!)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. O Jorge Rosales nunca foi um hiomem de escritas. Era um homem da fala e dos afetos.  E um líder nato, um organizador, um agregador... Sem ele, nunca a Tabanca da Linha teria provavelmemte nascido e crescido... E foi, na juventude, um grande desportista... Começou nos Salesianos (que estão no Estoril desde 1931).

Recordo-me da primeira vez que o "conheci",  ao telefone. Ligou-me na tarde dia 9 de junho de 2009, há cerca de 10 anos atrás...

- Sou o Jorge Rosales,  tenho  69 anos de idade ,  vivo  no Monte Estoril / Cascais, e estive em Porto Gole, e 1964 a 1966. (*)

Fiquei a saber que falava ao telefone com o Henrique Matos,  o primeiro comandante do Pel Caç Nat 52, que  esteve a seguir a ele em Porto Gole, entre 1966 e 1968. Falei-lhe do Abel Rei (1967/68), que era mais novo, e que ele naturalmente não conhecia...

O seu objectivo era, muito simplesmente, o de poder ainda inscrever-se , a tempo, no  IV Encontro Nacuional da Tabanca Grande,  em Ortigosa. Naturalmente que eu assegurei automaticamente a sua presença. Foi  o nosso participante nº 96. 

Soube também que ele era o pai da Doutora Marta [Vilar] Rosales, mnha colega (ISCTE e FCSH/UNL), douorada em antropologia (2007), investigadora do ICS- Instituto de Ciências Sociais.  De resto, o Jorge falava dos filhos sempre com um brilhozinho nos olhos. Além da Marta, tinha o Tiago, bancário. E era um homem que se preocupava com a saúde da saúde da sua esposa.

Pude fazer então uma primeira apresentação do nosso novo camarada,  que me disse ter muitas fotografias do seu tempo de comissão de serviço na Guiné e que as iria  levar consigo, para o IV Encontro (***).

(i)  o Jorge era muito amigo do mítico capitão de 2ª linha, o Abna Na Onça, chefe espiritual, poderoso, da comunidade balanta da região, a quem o PAIGC havia cometido o erro fatal de “matar duas mulheres e roubar centenas de cabeças de gado”;

(ii)  o prestígio, a  influência e e o carisma do Abna Na Onça eram tão grandes que ele sabia tudo o que se passava numa vasta região que ia de Mansoa a Bambadinca (nomeadamente, importantes informações militares, como a passagem de homens e armas do PAIGC);

(iii) jovem (teria 72/73 anos se fosse vivo, em 2009), era um homem imponente, nos seus 120 kg. 

(iv) Schulz tinha-lhe oferecido um relógio de ouro e uma G3 como reconhecimento pelos seus brilhantes serviços;

(v) mais tarde, seria morto, em Bissá, em 15/4/67, com seis dos seus polícias administrativos, todos eles residentes em Porto Gole;

O Jorge Rosales, em  agosto de 1964, em Porto Gole,
com o seu guarda-costas bijagó.
(vi) nesse dia o destacamento de Bissá foi abandonado pelas NT: “ um dia trágico para quem estava no inferno de Bissá, como escreveu o Abel Rei no seu diário. 'Entre o paraíso e o inferno: de Fá a Bissá. Memórias da Guiné', 1967/68, editado em 2002, pp. 68/70);

O Jorge Rosales pertencia à 1ª Companhia de Caçadores Indígena, com sede em Farim (Havia mais duas companhias de caçadores indígeas, uma Bedanda e outra em Nova Lamego, acrescenta ele). 

Ficou lá pouco tempo, em Farim, tavez uma semana. A companhia estava dispersa. Foi destacado para Porto Gole, com duas secções (da CCAÇ 556, do Enxalé) e outra secção, sua, de africanos. Tinha um guarda-costas bijagó. Parte dos soldados eram balantas. 

Em Porto Gole possuíam apenas 1 morteiro (60) e 1 bazuca. A farda ainda era a  amarela. Ficou 18 meses em Porto Gole. Craque de futebol, ia a Bambadinca jogar à bola com os de Fá. Foi uma vez a Bafatá, apanhar o NordAtlas. Lembra-se da piscina.


Guiné > Região de Bafatá > Destacamento de Porto Gole > 1964 > À esquerda da foto o soldado Alfredo Ramos, algarvio, segurando a macaquinha  “Gabriela” enquanto o allf mil Jorge Rosales prova o rancho. O Ramos foi colega de infância do Estorninho, e ficou com uma dívida de gratidão ao alferes Rosales (**).

Foto (e legenda): © Arménio Estorninho (2010).. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Enquanto lá esteve, em Porto Gole, havia um certo respeito mútuo, de parte a parte, entre as NT e o PAIGC, disse-me o Rosales. A influência de Cabral era evidente, fazendo a distinção entre o povo (português) e o regime (colonialista). A nossa malta podia deslocar-se num raio de 10 km…. Mas a ligação com Mansoa já se perdera. O troço já não era seguro. Em Mansoa estavam os respeitados Águias Negras (o BART 645), que dominavam o triângulo do Óio: Olossato, Bissorâ e Mansabá .

Do lado do Geba, eram os fuzileiros que impunham a lei e a ordem. Lançavam uma bóia e fundeavam a LDG em frente a Porto Gole. Vinha quase tudo por rio: os frescos, a bianda, os cunhetes de munições… (excepto o correio, que era lançado do ar, de DO 27, e às vezes ir cair no tarrafo; em contrapartida, o correio expedido ia de LDG... Enfim, singuralidades de Porto Gole que não tinha uma simples pista de terra batida, para as aeronaves). 

Tem vários amigos fuzos, desse tempo, incluindo o comandante Castanho Pais.

Do outro lado, a nascente,  estava a CCAÇ 556, no Enxalé… Também conhece dois furrieís do Enxalé, de quem se tornou amigo. Também passou por Fá. E no final da comissão, esteve em Bolama, por onde passavam os periquitos… Conviveu com algumas companhias que, da ilha de  Bolama, partiam para operações no continente…


Guiné > Região do Oio > Porto Gole > Novembro de 1965 >  "Com o o meu amigo Alfero"...



Guiné > Bissau > Novembro de 1965 > O Jorge Rosales junto ao Palácio do Governador... "Foto tirada pelo infeliz alferes Madonado".


Guiné > Bissau > Praça do Império > Novembro de 1965 > O Jorge Rosales mais o Maldonado, junto ao monumento "Ao Esforço da Raça" ... "O alf mil Maldonado, meu camarada desde Mafra e meu substitulo em Porto Gole, (...) faleceu em março de 1966, em consequência do rebentamento de uma morteirada IN que o atingiu em cheio, no aquartelamento de Porto Gole". De seu nome completo, António Aníbal Maia de  Carvalho Maldonado, morreu  no dia  4/3/1966. Natural da Sé Nova, Coimbra, foi inumado no cemitério da Conchada.

Fotos (e legendas): © Jorge Rosales (2010).. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] (***)



No seu tempo (Março de 1966), morreu em Porto Gole o alf mil António Maldonado, que o veio substituir. O Maldonado, de Coimbra, estava em Bolama. Era alf mil da 1ª CCAÇ / BCAÇ 697. Eram amigos, tinham estado em Mafra. Tinham combinado revezar-se ao fim de um ano. O Maldonado vinha para Porto Gole e o Jorge ia para Bolama… No meio disto, há um coronel que vem dificultar o acordo de cavalheiros. Enfim, uma história que é preciso contar com tempo e vagar.

O Maldonado é morto num ataque violentíssimo a Porto Gole, depois de as NT terem feito um ronco nas áreas controladas pelo PAIGC… Ferido, aguardou em vão o heli que só podia vir de manhã. A mãe do Jorge foi ao enterro, em Coimbra. O cadáver foi rapidamente trasladado, contrariamente ao que acontecia na época. Esta morte de um camarada e amigo abalou-o.

Relativamente ao nosso IV Encontro Nacional, o Jorge estava entusiasmadíssimo com a ideia de poder encontrar malta de Bambadinca, Xime, Enxalé, Porto Gole, Fá... Queixava-se de estar isolado, de não ter ninguém do seu tempo, até pelo facto de ter ido, para o CTIG,  em rendição individual.

Isto passa-se em 2009, com ele já reformado de uma dessas empresas que faziam o reabastecimento de combustível aos aviões, no aeroporto de Lisboa. Alguma malta da TAP e da ANA deviam (re)conhecê-lo. Falei-lhe do Humberto Reis, do José Brás, do Alberto Branquinho, do Mário Fitas… Mas no aeroporto há milhares de pessoas a atrabalhar. Tem uma segunda habitação, no Couço, Coruche, sítio onde se refugiava quando podia.

Disse.me na altura que ainda acalentava a esperança  de voltar, à Guiné, com mais malta do seu tempo… Queria fazer parte do nosso blogue, que estava a  acompanha diariamente.

Tanto quanto sabemos morreu sem nunca poder realizar esse sonho, o de voltar à Guiné.

PS - Nunca escondeu de ninguém o seu orgulho de ter sido um antigo salesiano do Estoril. Tinha página no Facebook, aqui. Muitos tabanqueiros prestaram-lhe a última homenagem, em palavras simceras e sentidas. Não nos é possível reproduzí-las todas. Destaco o que escreveram o Manuel Resende e Manuel Joaquim. E recuperamos aqui um belíssimo texto do Zé Manel Dinis, de 2013.


2. Depoimentos:


Caros Magníficos,certamente todos estamos tristes pela partida do nosso amigo, camarada e comandante Jorge Rosales para uma viagem sem regresso. Não o veremos mais fisicamente por isso há que o recordar com as nossas festas, festas-convívio em que ele esteve sempre presente, com excepção do nº 20, altura em que foi operado ao aneurisma e problemas na coluna. Faço-lhe esta pequena homenagem com uma foto de cada convívio e estão numeradas de 1 a 39, correspondendo ao respectivo convívio

(2) Manuel Joaquim

Morreste-me, caro Jorge! De ti me despeço, querido amigo, profundamente chocado e dolorosamente emocionado pela tua partida.  E é já na saudade dos belos momentos de fraterno convívio que passámos juntos que relembro esse teu sorriso franco de que eu gostava tanto, sorriso algo tímido mas bem iluminado pelo brilho especial do teu olhar.

Pensando bem, para mim ainda vives e irás acompanhar-me no que resta do meu caminho, meu querido camarada da Guiné. E depois ... lá nos encontraremos no Absoluto do espaço e do tempo.
Até qualquer dia, Jorge!


Para os teus entes queridos vai a minha profunda solidariedade na dor.

(3) José Manuel Matos Dinis, em 7/10/2013,  na altura secretário da Magnífica da Tabanca da Linha (até 2016)

"O dia de aniversário do Rosales" (****)

 Don Rosales encantou-se pelo pré-cosmopolitismo da região entre Cascais e Estoril. Mas os laços só consolidaram, quando conheceu uma senhora de uma família tradicional de Cascais, por quem se apaixonou, e foi correspondido. Casaram, e decorridos pelo menos os meses que a natureza impõe, nasceu um robusto rapaz, a que se seguiu uma menina e outro rapazola. O primogénito foi rodeado de mimos, e veio ao mundo com seis quilos, setecentas e oitenta e cinco gramas, segundo dados oficiais da família. Chamaram-lhe Jorge, um nome distinto e com apetências imperiais.


Don Rosales assistia ao desenvolvimento do puto com indisfarçável orgulho, e cogitava, se houvesse mais uma dúzia daqueles matulões, garantia-se a si próprio, Portugal nunca se teria separado da Galiza.

Aos dez anos o meu pai deu-me um passe metálico, com fotografia, onde se colocava um bilhete semanal, e mandou-me estudar para os Salesianos do Estoril, a ESSA. Na minha turma andava um rapazito, também Zé, e de apelido Rosales. Tinha um irmão mais velho, que andava lá para os últimos anos do liceu, vestia-se à adulto, com casaco, levava uns cadernos debaixo do braço que lhe conferiam ar intelectual, e batia-me alarvemente, alegando que eu fazia macaquices ao irmão benjamim. Depois já não alegava nada, batia-me, porque sim. Jurei vingar-me.

Mais tarde, quando eu andava pelos dezassete ou dezoito aninhos, o meu clube de putos, o CAC, mas com grande aura na região, foi treinar algumas vezes contra o Estoril-Praia, clube mais ou menos referenciável em ambientes luminosos e dragonianos, fundado por um grupo de que se destacava um primo meu. Lá andava outra vez o Rosales, o tipo assanhado que eu, ainda lingrinhas, tinha que evitar no meio do campo. Por isso jogava a extremo-direito.

Havia dois defesas na equipe da Amoreira que, alternadamente, me calhavam em sorte, o Coropos, e mais escassamente, porque era direito, o Virgílio. Eram dois bulldozers, e a minha equipa fazia um futebol geométrico de grande efeito prático: antes de recebermos a chicha, já tínhamos que saber a quem a endossar. Era lindo, ver os canarinhos em corridas desenfreadas de um lado para o outro. No meio do campo amarelo, o alferes promovido a capitão levava as mãos à cabeça e clamava por calma.

Felizmente para eles, os jogos-treino não tinham espectadores, ou seriam varridos com saraivadas de pedras, sempre abundantes no topo norte. A vingança consumar-se-ia muito mais tarde, no Blogue do Luis Graça, onde voltei a encontrar a imponente figura, mas mais lento de movimentos, sem as fintas com jogo de cintura, e até umas artroses que lhe tolhem os lançamentos em profundidade.

Por isso aproveito esta magnífica ocasião gentil e solidariamente concedida pelo Boss, para vos dar conta do que o aniversariante tem ocultado de personalidade litigante.

Para não faltar à verdade, ainda acrescento que o dito Rosales foi campeão nacional de ténis de mesa, que se transferiu para a Académica, onde esteve quase a triunfar, se o Dr. Rocha tivesse mudado de ares, e posteriormente optou por ir defender a Pátria, e escolheu Porto Gole como destino de privilégio. Assessorado pelo Alface, distinguiu-se com virilidade e distinção. Também manteve relações próximas com o chefe local Abna Onsa, temido e fiel à NT, com quem consertava táticas e acções.

A vocação imperial que lhe estava destinada, tem-na praticado com visíveis resultados, em tascas, bares, e outros estabelecimentos de bebidas. Às vezes aparece em minha casa, sempre a dar ordens disfarçadas de perguntas gentis, do género Ó Zé, tens cá algum vinho bonzinho?

Com o óbvio desejo de lhe tornar a vida num castigo, daqui lhe apresento os parabéns, e o desejo longa vida.

JD [ José Manuel Matos Dinis, ex-fur mil, CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71]
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 9 de junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4488: Tabanca Grande (151): Jorge Rosales, ex-Alf Mil, Porto Gole, 1964/66, grande amigo do Cap 2ª linha Abna Na Onça

(**) Vd. poste de 23 de outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7165: Estórias do meu amigo de infância Alfredo Ramos, ex-Sold Condutor Auto da CCAÇ 556 (Guiné, 1963/65) (Arménio Estorninho)

(***) Vd. postes de:

30 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6501: Álbum fotográfico de Jorge Rosales, ex-Alf Mil da 1.ª CCAÇ, Porto Gole, 1964/66 - I (Jorge Rosales)

1 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6511: Álbum fotográfico de Jorge Rosales, ex-Alf Mil da 1.ª CCAÇ, Porto Gole, 1964/66 - II (Jorge Rosales)

(****) Vd. poste de 7 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12123: Parabéns a você (634): Bom dia, comandante Jorge Rosales!... Um feliz e magnífico dia de aniversário! (José Manuel Matos Dinis, Armando Pires, Beja Santos, Hélder Sousa, Luís Graça)

(*****) Último poste da série  > 19 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19508: In Memoriam (339): Jorge Rosales (1939-2019): morreu esta manhã o comandante, o cofundador e o régulo da Magnífica Tabanca da Linha... Velório na igreja de Stº António do Estoril, e funeral na sexta-feira, 21, às 14h30.