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terça-feira, 5 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25241: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Inf Bettencourt Rodrigues, Governador-geral e Com-chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte VIII: Um adeus a Nova Sintra (texto e fotos de Ramiro Figueira, alf mil op esp, 2ª C/BART 6520/72, Nova Sintra, 1972/74)


Foto nº 1 > Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 3ª C/BART 6520/72 (1972/74 ) > c. jan/fev 1974 > Chegada do helicóptero com o general Bettencourt Rodrigues


 Foto nº 2 > Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 3ª C/BART 6520/72 (1972/74 ) > c. jan/fev 1974 >  Transporte no Unimog, com o General ao lado do condutor; e eu,  de costas, a falar com o condutor.


Foto nº 3 > Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 3ª C/BART 6520/72 (1972/74 ) > c. jan/fev 1974 > - Visita ao quartel. De costas, o mais alto, o capitão Machado. 3º comandante que tivemos ao longo da comissão; à sua esquerda,  um coronel ajudante de campo do General, creio que o coronel Monteny.


Foto nº 4 > Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 3ª C/BART 6520/72 (1972/74 ) > c. jan/fev 1974 > Fotografia 4 – Visita ao meu grupo de combate, novamente de costas o capitão Machado.



Foto nº 5 > Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 3ª C/BART 6520/72 (1972/74 ) > c. jan/fev 1974 > Localização de Nova Sintra no sector de Tite, região de Quínara. No mapa é referido Gatongó, que era a denominação da tabanca que lá existia antes e que foi destruída pelos bombardeamentos da FA, tendo sido construído na mesma localização o aquartelamento.





Foto nº 6, 6A e 6B  > Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 3ª C/BART 6520/72 (1972/74 ) > c. jan/fev 1974 > Vista aérea de Nova Sintra


Fotos (e legendas): © Ramiro Figueira  (2024) . Todos os direitos reservados (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)


 



O nosso camarada Ramiro Alves de Carvalho Figueira, médico na situação de reforma:  foi alf mil  Op Especiais, 2.ª CART/BART 6520/72 (Nova Sintra, 1972/74); faz parte da Tabanca Grande desde 23 de junho de 2022, sendo o membro nº 863.


1. Mensagem do Ramiro Figueira, com data de hoje, 5 do corrente, 13:05


Assunto - General Bettencourt Rodrigues em Nova Sintra

Boa tarde

Na minha visita, práticamente diária, ao blog encontrei fotografias de Fulacunda, do meu bom amigo Jorge Pinto, alferes da 3ª Companhia do BART 6520/72 que estava justamente em Fulacunda (*) e lá esteve o mesmo tempo que nós, do mesmo batalhão, mas nós em Nova Sintra.

Por volta dessa mesma altura (Jan/Fevereiro de 74), o general foi a Nova Sintra que, como referi em anteriores posts, se situava numa ponta Sul da região de Quínara, sector de Tite, perto de S. João e distante de Fulacunda.


Não era um aquartelamento como Fulacunda onde havia população de uma razoável tabanca. Nova Sintra resumia-se a um quadrado de cerca de 100m x 100m com uma microscópica tabanca que era suposto fazer segurança a Bissássema e, de certo modo, a Bissau.


Por volta da mesma altura em que o general esteve em Fulacunda deslocou-se a Nova Sintra (suponho que na mesma visita) . Do que me recordo dessa visita, chegou de helicóptero, “arengou” à tropa, deu uma volta ao quartel e foi-se embora.


Apesar de ter sido uma visita-relâmpago deixo o registo para as memórias do blog que, não sendo um colaborador assíduo, visito regularmente.

Um abraço, Ramiro Fuigueira


2. Comentário do editor LG:

O gen Bettencourt Rodrigues, no início do seu mandato, tinha pelo menos 225 guarnições para conhecer e visitar... Não deve tê-lo conseguido, uma vez que terminou, abruptamente, a sua comissão em 26 de abril de 1974. Mas sabemos que visitou, pelo menos, Fulacunda (*) e agora Nova Sintra, que pertencia ao mesmo setor (Tite) e ao mesmo batalhão (BART 6520/72).

Defendia, tal c0mo o CEMGFA, gen Costa Gomes (depois de visita ao CTIG ainda no final do mandato do gen Spínola), a retração do dispositivo militar (para um número próximo dos 80 e ta). O que era essa alteração ? Em 1998, em entrevista à investigadora Maria Manuela Cruzeiro, do Centro de Documentação 25 de Abril,o então marechal explicou: 

"Significava a retirada  de todas as forças colocadas nas fronteiras para um espaço onde não fôssemos vítimas dos morteiros de 120  (uma arma terrível que eles utilizavam com muita facilidade) e pudéssemos perseguir os guerrilheiros do PAIGC. 

"Na altura, com o dispositivo utilizado, as forças  no interior estavam muito enfraquecidas, porque demasiado concentras nas fronteiras. E, a meu  ver,  com enorme desvantagem, já que não há nada pior  do que combater para a retaguarda. 

"Por variadíssimas razões,  sobretudo morais,  as tropas são capazes de atos heróicos quando perseguem o inimigo na direção que elas consideram lógica, ou, seja, do inetrior para a fronteira. 

"A operação 'Mar Verde' foi um desastre e a 'invasão' do Senegal pelos comandos foi outro. Melhor: ainda que,  taticamente, a operação levada a efeito no Senegal tenha registado algum sucesso, a questão fundamental centrou-se nas Nações Unidas, onde fomos ameaçados de sanções graves se voltássemos a violar as fronteiras dos países limítrofes. 

"De facto, a extensão da fronteira terrestre (enorme para o tamanho da Guiné) desmoralizava as tropas e dava uma vatagem fantástica ao inimigo; é que ele atacava-nos quando queria; tinha a inicativa das operações, e nós não podíamos ripostar a não ser com armas de fogo, ou seja, sem liberdade de movimentos".

(Fonte: "Costa Gomes, o último marechal: entrevista de Maria Manuela Cruzeiro"- Lisboa, Editorial Notícias, 1998, pág. 159).

(Revisão / fixação de texto, itálicos: LG)

Guiné 61/74 - P25238: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Inf Bettencourt Rodrigues, Governador-geral e Com-chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte VII: Um adeus a Fulacunda (texto e fotos de Jorge Pinto, alf mil, 3ª C/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)


Foto nº 2A


Fot0 nº 2


Foto nº 1A


Foto nº 1


Foto nº 3A


Foto nº 3

Guiné > Região de Quínara > Sector de Tite > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Visita doo governador-geral e com-chefe gen Bettencourt Rodrigues, c. jan / fev 1974

Fotos (e legendas): © Jorge Pinto  (2014) . Todos os direitos reservados (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)



1. Fotos relacionadas com uma visita do general Bettencourt Rodrigues a Fulacunda, sector de Tite, em janeiro/fevereiro de 1974, enviadas em 28/1/2014 pelo nosso camarada e amigo Jorge Pinto (*):

[natural de Turquel, Alcobaça. é professor de história no ensino secundário, reformado, vive em Sintra; é membro da Tabanca Grande, desde 2012; tem 55 referências no blogue; foi alf mil, 3ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74; iremos falar mais vezes dele, proximamente, reeditando algumas das suas melhores fotos]


O adeus do general a Fulacunda,

por Jorge Pinto


(...) Lembro-me que esta visita foi curta e marcada por três pequenos discursos com conteúdo e tom adquados às características do grupo social a que o general se dirigia.

Num primeiro momento (Foto nº 1), logo à entrada, ainda junto à pista de aviação, dirigiu-se à população em geral, que se juntou para o saudar, com os mais novos à frente.

Lembro-me que, sem referir a palavra "Nação", salientou a necessidade de Portugal manter a unidade territorial e multirracial. Percebi nas suas palavras a intenção de que vinha a Fulacunda para transmitir aos guinéus ali residentes a confiança na sua capacidade de "autodefesa", em relação ao "inimigo", sem necessidade de haver uma permanente presença da tropa.

Lembro-me que alguns soldados ao ouvirem a palavra "autodefesa", algo confusos, me perguntaram o que queria dizer... Ficando incrédulos e com um sorriso cínico após a explicação.

No segundo discurso, em frente à casa do chefe de posto (foto nº 2 ), dirigiu-se exclusivamente à juventude masculina. Dirigiu-lhes, apenas algumas palavras em tom militarizado e paternal. Incentivou-os a unirem-se àqueles que combatem o "inimigo" e lutam por uma Guiné com um futuro melhor para todos.

Por fim o terceiro discurso (foto nº 3), teve lugar na parada do quartel e foi exclusivamente dirigido à 3ª Cart/Bart 6520/72. 

Neste discurso começou por referir o longo tempo de comissão que a companhia já tinha. Enalteceu o espirito de missão e sacrificio vivido durante esse tempo. Alertou para a necessidade de estarmos preparados para mais sacrificios.

Como foi o encerramento desta visita, sinceramente não me recordo... julgo que o nosso general e a sua pequena comitiva não chegaram a almoçar em Fulacunda.

Esta foi a última visita de um Governador Colonial da Guiné-Bissau a Fulacunda. O esperado "25 de Abril" ocorrerá dois ou três meses depois desta visita." (...)


(Revisão / fixação de texto, título, parênteses retos, negritos e itálicos,  reediçã
o das fotos: LG)


2. Nota do editor LG:

O gen Bettencourt Rodrigues deve ter feito escassas visitas a quartéis e destacamentos no mato (eram cerca de 225 as guarniçóes então). Até por falta de tempo. Mas o assunto não está devidamente documentado no nosso blogue. Daí a oportumidade da republicação destas fotos que, de facto, são raras. (**)

O BART 6520/72 cumpriu 26 meses de comissão (jun 72/ago74), o seu pessoal devia estar farto da Guiné até à ponta dos cabelos. Mas era preciso acalmar os ânimos e manter a um nível razoável o moral da tropa. 

Na longa entrevista que deu à investigadora Maria Manuela Cruzeiro, o Marechal Costa Gomes fala sempre com  rasgados elogios deste general, de quem era amigo pessoal. Diz dele: 

(...) "Foi o general que melhor serviu sob as minhas ordens ". (...) 

"Era meu amigo pessoal e também de Marcelo Caetano, aceitou o lugar de comandante e de governador da Guiné, mas sempre com a corda no pescoço. 

"Não concordava nada com Spínola e, como mo disse pessoalmente, considerava que a sua ação na Guiné, não tinha sido muito positiva".  

Além disso, era de lamentar  "o facto de Spínola ter montado uma impressionante máquina de propaganda. que dava uma ideia distorcida da nossa ação na Guiné,  do que lá se passava  realmente" (Fonte: "Costa Gomes, o último marechal entrevista de Maria Manuela Cruzeiro"- Lisboa, Editorial Notícias,  1998, pág. 151).
____________

Notas do editor:


(**)  Último poste da série > 7 de fevereiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25220: 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Inf Bettencourt Rodrigues, Governador-geral e Com-chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte VI: Dois generais de escolas, perfis e personalidades muito diferentes

terça-feira, 27 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24434: S(C)em comentários (10): eu vi morrer na IAO, no CIM de Bolama, em 10/7/1972, no treino de dilagrama, o alferes Carlos Figueiredo e o soldado José Mata (António Carvalho, ex-fur mil enf, CART 6520/72, Mampatá, 1972/74)

1. Comentário ao poste P24433 (*), que decidimos transformar em poste para a série "S(C)em comentários" (**). 

O autor é o nosso querido amigo e camarada António Carvalho, mais popularmente conhecido como o Carvalho de Mampatá, ex-fur mil enf,  CART 6250/72, "Os Unidos de Mampatá" (Mampatá, 1972/74), escritor, autor de "Um caminho de Quatro Passos", Rio Tinto: Lugar da Palavra Editora, 2021, 218 pp., vive em Medas, Gondomar;  tem 76 referências no nosso blogue; é membro da Tabanca Grande desde 13/9/2008.


Caro Luís: Sinto-me grato por nos trazeres (mais uma vez) a narração sentida de uma das tuas páginas do "livro" das coisas imorredoiras do nosso tempo da Guiné. 

O modo como contas a morte "matada" de dois azarados, ainda por cima resultante de um misto de negligência e jactância de um pretenso guerreiro, leva-me a uma profunda reflexão que me permitem agora os meus setenta e três anos. 

Houve, estou certo, muitos acidentes decorrentes da formação militar feita à pressa e da graduação atribuída a jovens de 21 anos, no meu ponto de vista, sem a maturidade exigível a comandantes. Mas a guerra obrigava a distinguir com galões os mais aptos fisicamente. 

Eu vi morrer na IAO, na ilha de Bolama, ao 13º dia de Guiné, no treino de dilagrama, o alferes Figueiredo,  de S. Pedro do Sul,  e o Mata,  de Pinhel. (***) Não vou aqui culpar nenhum deles, aliás, presumo que o acidente se deveu a uma deficiência do grampo que segura a alavanca. 

Mas foi muito perturbador para mim e para todos os presentes a morte, no dia 10 de Julho de 1972,  desses dois jovens, sendo o comandante um ano ou dois mais velho que o comandado. 

A guerra, sendo primordial (como bem dizes), ela é a opção mais imbecil do ser humano, porque resulta da desistência do diálogo e da reflexão sobre a singularidade da condição humana, bem distinta da relação primária entre os outros seres vivos.


Carvalho de Mampatá |
27 de junho de 2023 às 17:24 

_______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 26 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24433: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (2): Que Alá te proteja dos teus amigos, que dos inimigos cuidas tu!

(i)  Carlos Manuel Moreira de Almeida Figueiredo, natural de São Pedro do Sul, alf mil art , CCS/BART 6520/72, CIM Bolama, 10/7/1972; porto pro acidente com arma de fogo: 

(ii) José António Mata, natural de Pinhel, sold at, CART 6520/72, CIM Bolama, 
 10/7/1972; porto pro acidente com arma de fogo: 


A CART 6250/72 fez a IAO no CIM Bolama, entre 10 de junho e 26 de julho de 1972.


Vd. também poste de 5 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21517: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (10): Relembrando a morte, por acidente com um dilagrama, no CIM de Bolama, em 10/7/1972, do alf mil Carlos Figueiredo


(...) Caro camarada Barros

Subscrevendo o que disse o meu irmão mais velho (combatente na Guiné) Manuel Carvalho, não posso deixar de acrescentar mais alguma coisa sobre esse terrível acidente ocorrido em 10 de julho de 1972, no décimo terceiro dia após a nossa chegada, porque assisti a toda aquela cena e ao que se lhe seguiu. 

A minha companhia, a  CArt 6250, do RAP 2, cumpriu a sua missão em Mampatá, sector de Aldeia Formosa, mas fez a IAO convosco. 

Depois da tragédia, ambos os corpos foram postos junto dos bancos laterais de um Unimog, procurando os soldados sentados nesses bancos ocultá-los com as pernas. Dali foram para a capela do cemitério de Bolama. Coube-me,  bem como a mais alguns voluntários, limpar e vestir esses corpos mutilados. Dispenso-me de mais pormenores. O Mata, da minha companhia,  está sepultado na aldeia de Valbom, concelho de Pinhel, o Figueiredo está sepultado no cemitério de S. Pedro do Sul, num jazigo tipo capela, junto ao passeio do lado esquerdo, em relação ao portão principal. Sempre que passo por essas terras visito esses cemitérios. Porquê ? Não sei. (...)

António Carvalho ex-Fur Enf da CART 6250 (Carvalho de Mampatá)
6 de novembro de 2020 às 20:40

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Guiné 61/74 - P23854: (Ex)citações (419): Após o 25 a Abril foi nascendo e ganhando raízes, em Nova Sintra, a sensação de que finalmente íamos ficar livres daquele inferno... (Ramiro Figueira, ex-Alf Mil Op Esp)

1. Mensagem do nosso camarada Ramiro Alves de Carvalho Figueira, médico na situação de reforma, ex-Alf Mil Op Especiais da 2.ª CART/BART 6520/72 (Nova Sintra, 1972/74), com data de 5 de Dezembro de 2022:

Boa tarde

Como sempre, acompanho todos os dias os posts que vão surgindo no blog e este, sobre as relações com o PAIGC pós-25 de Abril suscitou-me várias memórias.(*)

Após o 25 a Abril foi nascendo e ganhando raízes, em Nova Sintra, a sensação de que finalmente íamos ficar livres daquele inferno e rapidamente regressar a nossas casas depois de dois anos (na verdade mais alguns meses) de sacrifício com a morte a rondar diariamente e as provações contínuas a que fomos sendo submetidos que enumerar aqui seria fastidioso para quem por lá andou e tem memória dos anos de guerra.

Em Julho de 1974 (a 17, segundo o nosso amigo Carlos Barros, que também publicou sobre este tema) tinha recebido do capitão a indicação de que nesse dia iriam chegar ao quartel elementos do PAIGC que iriam substituir-nos e que eu iria recebê-los dado que falava crioulo (acrescento que sou natural de Cabo Verde e falava crioulo sim mas de Cabo Verde, diferente do da Guiné). Dias antes, portanto já bem depois do 25 de Abril, uma Berliet da nossa companhia tinha accionado uma mina na estrada de S. João e só por sorte não houve feridos, só um enorme susto para quem estava na viatura que ficou com a parte traseira feita em cacos.

Cumprindo o determinado lá fui até ao 4.º grupo que dava para a bolanha para onde se saía a caminho de Ganfudé Mussá, tabanca já sob duplo controle nosso e do PAIGC e onde capturámos algum armamento e um guerrilheiro. E assim, logo pela manhã começou a surgir um grupo, aparentemente pequeno, de homens armados que precedia um outro já mais numeroso. Desci pelo carreiro ao encontro deles, confesso que com algum receio e ensaiei umas palavras de crioulo ao que me responderam em português.

- Bom dia, sou o major Quinto Cabi e venho em nome do PAIGC para o quartel de Nova Sintra.

Acompanhavam-no um pequeno grupo de homens que, conforme se foram identificando, foram como campainhas que tocavam na minha cabeça. O comandante Tchambú Mané que comandava a artilharia que muitas vezes nos brindou com canhoadas e morteiradas, o Bunca Dabó que liderava os guerrilheiros que nos emboscavam e causaram tantas dores de cabeça, o Armando Napoca que tratava de colocar as malfadadas minas que tanta chatice nos deram, um comissário político cujo nome já não me recordo e vários outros. Caminhei com eles ao longo do arame farpado até à porta de armas por onde entraram e onde os aguardava o capitão e demais pessoal da companhia e a pequena população da minúscula tabanca que existia em Nova Sintra. Não consigo imaginar o que passava pela cabeça daquela gente, tantos anos junto da tropa e de repente viam o inimigo entrar pela porta dentro do quartel onde se abrigavam, embora tivessem conhecidos e família junto do PAIGC a sensação devia ser no mínimo confusa.

Entraram no quartel e foram-se espalhando entre os soldados e tabanca aparentemente convivendo como se tivessem sempre andado por ali…

Ao fim da manhã, vindo de Tite, chegou o comandante do batalhão, Ten. Coronel Almeida Mira, que reuniu na parada com os quadros do PAIGC numa longa conversa que não acompanhei, apenas o Capitão Machado que comandava a companhia estava presente. Seguiu-se um dia mais ou menos estranho de convívio entre a tropa e a guerrilha e dormimos todos pacificamente no quartel. No dia seguinte subimos para as viaturas e deixámos Nova Sintra para sempre a caminho do Cumeré e depois Lisboa. Interrogo-me hoje sobre o que sentia nesse momento. Acho que senti apenas alívio, depois de dois anos que só quem por lá andou é capaz de definir é a única coisa de que me recordo, outros terão outras sensações, eu apenas queria sair dali quanto mais depressa melhor.

Foto 1 – Viatura Berliet após accionar uma mina na estrada para S. João. Vê-se da esquerda para a direita o alferes Pereira, o furriel Elias e o furriel Sousa
Foto 2 – A chagada do PAIGC a Nova Sintra. À frente da esquerda para a direita, eu, o major Quinto Cabi, o comissário político e o comandante Tchambú Mané
Foto 3 – Reunião na parada do quartel de costas o ten. coronel Almeida Mira, de boné azul o major Quinto Cabi, de lado o mais alto o capitão Machado e de camisa branca o comandante da milícia
Foto 4 – Na parada do quartel o furriel Duarte conversa com o Bunca Dabó
Foto 5 – Dentro de uma Berliet eu a dizer adeus a Nova Sintra
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Notas do editor

(*) - Vd. poste 5 DE DEZEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23847: Casos: a verdade sobre... (32): o pós-25 de Abril no CTIG, as relações das NT com o PAIGC, a retração do dispositivo militar e a descolonização

Último poste da série de 30 DE OUTUBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23749: (Ex)citações (418): O termo "Brassa" como os Balantas se auto-denominam, na verdade, trata-se da denominação histórica de uma grande área geográfica que correspondia à província mandinga de Braço, B'raço ou Brassu (Cherno Baldé)

quarta-feira, 13 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23427: (Ex)citações (411): O calor e alguma ociosidade inerente levou-me a andar aqui pelo blogue a passear pela infinita quantidade de publicações que por cá há, com destaque para a região do Boé onde, em 1987, fui abrir uma missão com hospital de campanha, no âmbito dos Médicos Sem Fronteira (Ramiro Figueira, ex-Alf Mil Op Esp da 2.ª CART/BART 6520/72)

1. Mensagem do nosso camarada Ramiro Alves de Carvalho Figueira, médico na situação de reforma, ex-Alf Mil Op Especiais da 2.ª CART/BART 6520/72 (Nova Sintra, 1972/74), com data de 12 de Julho de 2022:

Boa tarde.

O calor e alguma ociosidade inerente levou-me a andar aqui pelo blog a passear pela infinita quantidade de publicações que por cá há. Chamou-me a atenção uma série de publicações sobre o local onde foi declarada a independência da Guiné, em 24 de Setembro de 1973. De entre estas publicações, a de uma antropóloga alemã de seu nome Tina Kramer que andou a percorrer a Guiné praticamente de lés-a-lés e que dedica uma referência a Lugadjole onde terá sido declarada a independência em 1973.

Ora acontece que nas minhas andanças pelas medicinas estive ligado aos Médicos Sem Fronteiras e, em 1987, coube-me ir abrir uma missão com hospital de campanha, na Guiné-Bissau, no sector do Boé. Confesso que senti algum entusiasmo, o Boé era para todos quantos estiveram na Guiné durante a guerra um local mítico e penso que não havia ninguém, pelo menos no meu tempo, que não soubesse da retirada de Madina do Boé e do desastre do Che Che.

Partimos de Lisboa num dia que não recordo em Setembro de 1987 com uma equipa de 4 médicos, um enfermeiro e um encarregado da logística. Não tinha regressado nunca mais à Guiné desde o fim da comissão em 1974, mas depressa me ambientei, desde logo à chegada com aquele calor intenso que nos subia pelas pernas acima a recordar o desembarque no mesmo local em 1972. 

Poucos dias depois a partida para Gabú (Nova Lamego) onde dormimos um dia e fomos recebidos pelo governador local, o Paulo (não me recordo do nome todo dele), homem que andou na luta e tinha uma recordação perene dela, uma prótese numa perna.

No dia seguinte partimos para Lugadjole, local destinado para a missão. A estrada era uma velha picada daquelas que todos nos recordamos com os seus buracos e saltos inopinados. Parámos em Canjadude, uma tabanca com ar arrumado e limpo, mas que logo a seguir tinha ainda as marcas da guerra, uma viatura blindada e uma camioneta, completamente calcinados jaziam à beira da estrada. 

Finalmente o Che Che e a jangada. Íamos num jipe cedido pelo governo,  seguidos por uma camioneta onde carregávamos todo o material para a montagem do hospital, a entrada na jangada foi uma habilidade de equilibrismo complicada, mas depois a saída, à chegada do Che Che, foi mesmo um prodígio de equilíbrio que o condutor do jipe, de seu nome Domingos, e o condutor da camioneta executaram quase que por milagre.

Reiniciámos a viagem a caminho de Béli onde chegámos ao fim de umas horas muito difíceis de trajecto. Em Béli estava uma missão de alemãs que nos acolheu muito bem e nos deram uma refeição deliciosa de cabrito (disseram-nos que era…) acompanhadas de vinho branco fresquíssimo delicioso, de tal forma delicioso que um dos colegas que me acompanhava apanhou uma enorme bebedeira e acabou por fazer o resto do caminho a dormir quase não se apercebendo dos tremendos saltos que o jipe dava. 

Chegámos a Lugadjole já ao anoitecer e ainda tivemos de descarregar a camioneta para termos camas onde dormir dado que a casa onde fomos alojados nada mais tinha do que paredes, eram casas construídas pelos soviéticos quando tentaram explorar bauxite naquele local, o que acabou por não se revelar rentável e o local foi abandonado.

Os dias foram-se passando entre as consultas e trabalhos para nos instalarmos e um belo dia conseguimos convencer o responsável local, um homem de poucas falas, chamado Kassifo N’Cabo, a levar-nos ao local onde fora declarada a independência. 

No jipe dele e ainda no jipe que nos tinha sido cedido pelo governo guineense, saímos a caminho da fronteira com a Guiné Conakri e, pouco antes da tabanca de Vendu Leidi subimos a um ponto um pouco mais alto, que na crónica da Tina Kramer fiquei a saber que se chamava Orre Fello, onde uma estrutura meio abandonada nos foi indicada como tendo sido o local da declaração da independência. 

Na verdade, não sei se realmente terá sido ali que se deu o acontecimento, mas dada a proximidade da fronteira (Vendu Leidi situa-se práticamente nela) e o local meio perdido nos confins do Boé, admito que terá sido esse o tal local.

Por agora é só, as descrições do trabalho em Lugadjole são longas e provavelmente fastidiosas. Resta dizer que montámos o hospital de campanha que tinha bloco operatório e que esteve a funcionar creio que cinco ou seis anos.

1 – Mapa da região, onde marcado com uma estrela se pode ver o local de Orre Fello
2 – Guiné-Bissau >Região de Gabu > Sector do  Boé > Médicos Sem Fronteira > 1987 > Fotografia minha acompanhado por um dos médicos, o Dr. João Luís Baptista, no Che Che
3 –Guiné-Bissau >Região de Gabu > Sector do  Boé > Médicos Sem Fronteira > 1987 > Baga Baga junto de Béli
4 - Guiné-Bissau >Região de Gabu > Sector do  Boé > Médicos Sem Fronteira > 1987 > Vendu Leidi > Orre Fello > Local da declaração de independência
5 –Guiné-Bissau >Região de Gabu > Sector do  Boé > Médicos Sem Fronteira > 1987 >  Vendu Leidi > Orre Fello >  Casa que se dizia ter sido de Amílcar Cabral
6 – Guiné-Bissau >Região de Gabu > Sector do  Boé > Médicos Sem Fronteira > 1987 >  Jangada do Che Che

Fotos (e legendas): © Ramiro Figueira (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Abraço
Ramiro Figueira

quinta-feira, 23 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23379: Tabanca Grande (535): Ramiro Alves de Carvalho Figueira, ex-Alf Mil Op Esp da 2.ª CART/BART 6520/72 (Nova Sintra, 1972/74). Senta-se à sombra do nosso poilão no lugar n.º 863

O médico Ramiro Alves de Carvalho Figueira


1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Ramiro Alves de Carvalho Figueira, médico na situação de reforma, ex-Alf Mil Op Especiais da 2.ª CART/BART 6520/72 (Nova Sintra, 1972/74), com data de 21 de Junho de 2022:

Boa tarde. Chamo-me Ramiro Alves de Carvalho Figueira, fui alferes de Operações Especiais na 2.ª CART do BART 6520/72 em Nova Sintra entre Julho de 72 e Julho de 74.

Sou médico já reformado, embora continue com alguma actividade, um médico reformar-se totalmente não é muito fácil…

Chegámos a Bissau em 23.06.1972, partimos para Bolama onde fizemos a IAO. Nesta altura, com duas semanas de Guiné, no batalhão aconteceu logo a morte de dois camaradas na carreira de tiro, o oficial de tiro (Alferes Carlos Figueiredo, também de Operações Especiais) e um soldado de que não me recordo o nome que pertencia a uma companhia independente que foi depois para Mampatá, ambos vitimados pelo manuseamento de um dilagrama em circunstâncias que não foram muito esclarecidas e também pouco importa agora.[1]

O comandante do batalhão “ofereceu-me” a prenda de ser eu a substituir o Figueiredo na carreira de tiro, onde estive durante toda a IAO. O Carlos Figueiredo era um companheiro desde os tempos de Lamego, fomos depois os dois colocados em Penafiel para formar batalhão e embarcámos para a Guiné, era um bom amigo e a morte dele foi duramente sentida, quer por mim quer por todos, especialmente os outros alferes que vieram de Lamego. O Carlos Barros se não me engano tem uma das histórias dele dedicadas a este triste episódio.[2]
O Alf Mil Op Esp Ramiro Figueira durante as filmagens das mensagens de Natal em 1973

Partimos depois para Nova Sintra, um aquartelamento meio perdido nos confins do sector de Tite, na ponta sul do Quínara que mais não era que um pequeno quadrado de arame farpado com cerca de 100m de lado rodeado de mato. Fomos recebidos pelos “velhinhos” com as habituais praxadelas (mas muito bem recebidos) e quinze dias depois a companhia assumiu o sector. Iniciámos a actividade operacional com patrulhamentos e logo, creio que em Setembro, num desses patrulhamentos um mina vitimou um dos alferes da companhia, o João Neves, natural de Avis, e feriu o guia Bunca Turé. Para início de comissão começávamos bem…
Vista aérea de Nova Sintra

A actividade operacional prosseguiu, com o ânimo que todos por aqui bem conhecem, e no mês de Outubro tive o meu primeiro contacto com o PAIGC. Durante um patrulhamento a uma tabanca abandonada, Aldeia Nova, o homem da bazuca, de seu nome Ribeiro pisou uma “viúva negra” e ficou de imediato sem uma perna. Seguiu-se a confusão e o medo, que todos também bem conhecem, socorremos o homem o melhor que foi possível e veio o helicóptero ali à bolanha fazer a evacuação. Logo que o heli descolou rumo a Bissau, começámos a levar pancada, trocaram-se tiros e morteirada que felizmente não maltratou ninguém do nosso lado e regressámos ao quartel sem mais percalços, já não era pouco…

A saga de Nova Sintra prosseguiu e no final de 1972 (cerca de Novembro) novo encontro com o PAIGC. Desta vez saíamos na direcção do local onde habitualmente nos bombardeavam, um local ligeiramente mais alto chamado Serra Leoa, e percorridos cerca de 100 a 200 metro do quartel demos de caras com um pequeno grupo que, aparentemente, se preparava para montar uma base de fogos para atacar o quartel. Armou-se uma enorme confusão e comunicando ao capitão o acontecido este decidiu chamar a Força Aérea e de repente vimo-nos sobrevoados por dois FIAT que lançavam foguetes e metralhavam por todo o lado a que se seguiu o helicanhão (o celebre Lobo Mau) que parecia perseguir alguma coisa capim fora aos tiros. Um espectáculo magnífico e terrivelmente assustador. O regresso ao quartel fez-se sem qualquer problema. Tínhamos ainda não seis meses e a coisa parecia compor-se…

Pouco depois vim de férias à Metrópole e voltei a Bissau penso que no dia 6 de Dezembro de 1972 e mal chego à messe a primeira coisa que me dizem foi “Então o teu aquartelamento levou porrada séria esta noite”, andei às voltas a tentar saber o que se tinha passado e fiquei a saber que três furriéis tinham ficado gravemente feridos num ataque ao quartel e tinha havido um morto. Fui logo para o HMBIS na tentativa de saber notícias, mas só consegui ver um dos furriéis e mesmo assim tinha sido operado e estava sedado pelo que só o pude ver, mas não falar. Os outros ainda estavam no bloco operatório. De regresso a Nova Sintra fiquei então a saber que tinham os três sido feridos quando fugiam da cantina, ao perceber-se do ataque, e o morto era um soldado do 4.º Grupo de que só conhecia a alcunha, o “Russo”. O moral no aquartelamento era deplorável. As descrições que me fizeram daquela noite eram simplesmente aterradoras, incluído a visita de uma alta patente do Comando-Chefe (cujo nome não recordo) logo no dia seguinte ao malfadado ataque, em que reuniu as tropas para arengar às massas com apelos ao patriotismo e grandes promessas (que nunca se cumpriram) da vinda de material de construção e arcas frigoríficas e mais não sei o quê…

O ano de 1973 trouxe-nos a ausência temporária (e depois permanente) do nosso capitão, o Armando Cirne, que acabou por ficar em Bissau. Só estávamos dois alferes na companhia, eu e o meu bom amigo Garcia, o alferes do 4.º Grupo, o Neves, tinha morrido logo no início e o 3.º Grupo estava destacado em GãPará, sendo eu o mais antigo fiquei a comandar, aguardando a chegada de um novo capitão. Foi um período relativamente calmo, continuou a actividade operacional e fomos sofrendo alguns ataques que, estranhamente, começavam a tornar-se uma rotina doentia. Ao fim de alguns meses lá chegou o novo capitão. Homem do quadro permanente de seu nome Campante de Carvalho, capitão de artilharia. Teve uma estadia curta em Nova Sintra, penso que cerca de dois ou três meses e acabou transferido para o QG em Bissau. Mesmo assim não se livrou de pelo menos um ataque violento em que caiu uma granada em cima de um poste de sustentação da caserna do 2.º Grupo de combate sem consequências. Novamente fico a comandar a companhia a aguardar novo capitão. Chegou um novo alferes para o 4.º Grupo e quase logo a seguir o Garcia é destacado para as companhias africanas e colocado em S. João, junto a Bolama, foi depois enviado para Guidaje onde passou pelas chamas do inferno que ali se viveu, voltando nós a ficar só com dois alferes. Passaram alguns meses e novo capitão chega a Nova Sintra, desta vez um capitão miliciano de seu nome Machado, homem do Porto.

Os dias iam passando de patrulha em patrulha que iam entremeando com alguns ataques e uma actividade que se repetia, penso que de dois em dois meses, que era o reabastecimento no, pomposamente chamado, porto de Lala. Ficava a cerca de 5 – 6 quilómetros de Nova Sintra e a descarga das caixas, sacos, bidons e mais sei lá o quê era feita à mão com água pelo peito. O reabastecimento implicava picagem da estrada, segurança e com o tempo contado. Se não se fizesse durante a maré cheia as LDM e as canoas iam embora ou então teríamos de ficar a fazer segurança toda a noite até que apanhassem calado para zarpar, apesar de tudo eram umas horas de descompressão e sempre dava para tomar uma banhoca.

Reabastecimento em Lala

Neste ano de 1973 chegou ao aquartelamento um novo alferes para comandar o 2.º Grupo substituindo do Garcia, o Felício, homem de Castro Daire que já tinha cumprido parte da comissão no Ingoré, bom amigo. Foi nesse ano que surgiu a necessidade de abrir novo poço para o abastecimento de água potável. Para isso foi necessário abrir a estrada Nova Sintra - S. João para transportar o material e pessoal que ia tratar do dito poço o que significou dias e noites de segurança, de ficar de emboscada de caminhadas sem fim. Ao mesmo tempo o novo comandante do batalhão em Tite, o Tenente-Coronel Almeida Mira, decidiu que se deveria abrir a estrada Tite – Nova Sintra o que duplicou os trabalhos do pessoal. Entretanto nova evolução nos alferes. O Felício terminou a comissão e vem novo alferes para o seu lugar, bem como um outro para o 3.º Grupo, o Domingues. O 3.º Grupo que tinha estado destacado em GãPará regressou a Nova Sintra, era furriel deste grupo o Carlos Barros que tem escrito algumas histórias no blog. A abertura da estrada para Tite trouxe ainda mais riscos e, como seria de esperar, começaram a acontecer mortos e feridos. No meu grupo um dos picadores, o Guedes, fez rebentar uma mina antipessoal e foi atingido na cara tendo ficado parcialmente cego. Foi um tempo terrível o que levou a abertura desta estrada onde para além do Guedes não houve mais nenhuma baixa na nossa companhia felizmente.

Muita coisa aconteceu durante esse ano de 1973 e seria fastidioso enumerar tudo, no entanto não poderia deixar de referir o período a partir de Março em que começamos a deixar de ter apoio da Força Aérea, os Strela tinham entrado na Guiné e o PAIGC fazia bom uso deles.

Depois disto passou o tempo e chegámos a Abril de 1974. As coisas acalmaram e depois pararam. A guerra tinha acabado assim de repente, até custava a acreditar. Em Julho de 74 recebemos um grupo grande de guerrilheiros, comandados pelo major (pelo menos dizia que era…) Quinto Cabi, todos armados até aos dentes. Dormimos uma noite em Nova Sintra com os guerrilheiros e partimos para Tite, depois no mesmo dia Enxudé, Bissau, Cumeré e finalmente o voo Bissalanca – Lisboa.

E fica alinhavada a minha passagem pela Guiné, com o andar das coisas escreverei mais alguma coisa.

Abraço
Ramiro Figueir
a

Fotos: © Ex-Alf Mil Op Esp Ramiro Figueira - Todos os direitos reservados


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2. Comentário do coeditor

Caro Ramiro Figueira, sê bem-vindo à tertúlia do nosso Blogue.

Muito obrigado pela tua apresentação, que nos trouxe uma panorâmica muito precisa, embora resumida, da actividade da tua Companhia. Na verdade não foi fácil para a maioria de nós cumprir a sua comissão de serviço e no vosso caso foi um osso duro de roer. Referes as habituais e sempre inoportunas substituições de capitães e alferes. Na minha Companhia, um alferes, falecido em combate, teve dois substitutos; capitães, comandantes de Companhia, tivemos 6. Em todas as Unidades, enquanto isso, os alferes assumiam o Comando das Companhias e os furriéis comandavam Pelotões. No teu tempo já quase não se encontrava um capitão do QP no comando das Companhias, eram os milicianos, feitos capitães à pressa, a assumir a responsabilidade de comandar mais de 150 homens, tivessem ou não jeito para a guerra. Estou convencido que a maioria não tinha.


Voltando a ti, vens juntar-te ao grupo de Médicos existente na tertúlia, alguns mesmo antigos Alferes Médicos. Se não esquecer de nenhum, serão: o ex-Alf Mil Médico Adão Cruz, o ex-Alf Mil Médico Amaral Bernardo, o ex-Alf Mil Art C. Martins, o ex-Alf Mil Cav Ernestino Caniço, o ex-Alf Mil At Francisco Silva, o ex-Alf Mil Médico Mário Bravo e o ex-Alf Mil At Vítor Junqueira.

Lembro que estamos disponíveis para receber e publicar o que tiveres para nos contar da tua vivência na Guiné, incluindo fotos, que assim ficarão a fazer parte do nosso espólio. Será o nosso testemunho enquanto antigos combatentes.

Só por uma questão estatística, és o 863.º elemento da nossa tertúlia, que inclui 120 companheiros e amigos, que nos tendo já deixado, continuam cada dia mais presentes.

Deixo-te o habitual abraço de boas-vindas em nome do editor e fundador do Blogue, Luís Graça, dos coeditores, dos colaboradores permanentes e da tertúlia em geral.

Abraço
CV

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Notas do editor:

- [1] - A outra vítima mortal do acidente com o dilagrama, em 10 de Julho de 1972, foi o Soldado Atirador José António Mata da CART 6250/72

- [2] - Vd. poste de 5 DE NOVEMBRO DE 2020 > Guiné 61/74 - P21517: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (10): Relembrando a morte, por acidente com um dilagrama, no CIM de Bolama, em 10/7/1972, do alf mil Carlos Figueiredo


- Mensagem de 20 de Junho de 2022 do nosso camarada Ramiro Figueira, enviada ao Blogue através do Formulário de Contacto do Blogger:

Boa tarde
Chamo-me Ramiro Figueira. Fui alferes miliciano de Operações Especiais na 2.ª CART do BART 6520/72 e sempre em Nova Sintra, sector do Quínara, com oa comando do batalhão em Tite.
Tenho seguido o blog há anos e lendo os testemunhos que lá vão colocando, mas até agora não aderi.
E é por isso que aqui venho contactar convosco.
Um grande abraço
Ramiro Figueira


- Mensagem de resposta com data de 21 de Junho:

Caro camarada de armas Ramiro Figueira
Permite-me o tratamento por tu, usual no nosso Blogue pelo facto de sermos irmãos de armas e termos pisado a mesma terra vermelha da Guiné.
Muito obrigado pelo teu contacto e pela tua vontade de aderires à nossa tertúlia.

Do teu Batalhão temos alguns camaradas, e da tua Companhia, particularmente, o ex-Fur Mil Carlos Barros, com vários textos publicados. Podes ver aqui:

 https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/Carlos%20Barros 
A fim de seres recebido formalmente na tertúlia, manda-nos uma foto actual e outra, fardado, do teu tempo de combatente. Podes, a título de apresentação, falar de ti, julgo teres sido atirador, contares-nos alguma história vivida na Guiné e enviar-nos algumas fotos alusivas, acompanhadas das respectivas legendas.

Sendo tu nosso leitor habitual, saberás que o blogue tem como fim o registo de memórias escritas e fotográficas dos antigos combatentes da Guiné, no entanto confere aqui "O ESSENCIAL SOBRE O BLOGUE LUÍS GRAÇA & CAMARADAS DA GUINÉ": (https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/p/o-essencial-sobre-o-blogue-luis-graca.html).

Fico ao teu dispor para alguma dúvida suscitada.

A tua correspondência deverá ser enviada simultaneamente para luis.graca.prof@gmail.com e para carlos.vinhal@gmail.com para teres a certeza de ser lida pelo Luís e por mim.
Recebe um abraço e os votos de boa saúde.
Carlos


- Último poste da série de 9 DE MAIO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23249: Tabanca Grande (534): António Sebastião Figuinha, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCS/BCAÇ 2884 (Bissau, Bula e Pelundo, 1969/71). Senta-se à sombra do nosso poilão no lugar n.º 861

Vd. também poste de 18 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23275: (In)citações (206): Maria Ivone Reis (1940-2022), a primeira enfermeira paraquedista que eu conheci, em 1967, no Porto (Rosa Serra)

(...) Este depoimento (poste P5971) é um bom retrato do perfil humano e psicoprofissional da nossa saudosa Maria Ivone Reis. Aproveitamos, entretanto, para suprir um lamentável lapso nosso: o seu nome já há muito, desde 2009, deveria figurar na lista alfabatética dos membros da Tabanca Grande. E estávamos convencidos que sim, que lá figurava. Entra agora, a título póstumo, sob o nº 862. Saibamos honrar a sua memória. (...)

sexta-feira, 8 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23151: Recordando o Salgueiro Maia, que eu conheci, o meu comandante, bem como os demais bravos da minha CCAV 3420 (Bula, 1971/73) (José Afonso) - Parte V: Histórias pícaras: (viii) O brutibol e os treinadores de bancada

Guiné > Região do Cacheu > Bula > CCAÇ 2790 > A equipa de futebol... De pé, do lado direito, de camuflado, o cap inf  Gertrudes da Silva, que sucedeu ao cap José Pedro Sucena , no comando da CCAÇ 2790, entre fevereiro e setembro de 1972. Foto gentilmente cedida pelo José Câmara (que vive nos EUA) ao António Matos, ex-alf mil, MA, CCAÇ 2790 (Bula, 1970/72). 

Foto (e legenda): © José Câmara (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra >  2ª CART / BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74) > Equipa de futebol dos graduados...

Foto (e legenda): © Carlos Barros (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Bissau > HM241 (1968/70) > A equipa de futebol do Hospital Militar

Fotos: © Manuel Freitas (2011).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > A equipa de futebol de onze, aqui vestida a rigor, com o equipamento a condizer: simbolicamente, camisola preta e calção branco... Esta era a equipa principal...em que tinha lugar o fur mil Arlindo Teixeira Roda (, o primeiro da primeira fila, a contar da direita, o autor da foto). Mas, curiosamente, numa companhia em que as praças eram do recrutamento local (c. 100) e os restantes elementos (graduados e especialistas) de origem metropolitana (c. 50), não havia nenhum guineense...

Foto (e legenda) : © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Nâo temos nenhuma foto da equipa de futebol de Os Progressistas, mas sabemos que o futebol era acarinhado pelo cap cav Salgado Maio, comandante da CCAV 3420 (Bula, 1971/73). 

E no "jornal de caserna" o futebol ocupava um importante lugar nas edições (não sabemos quantas...) que se fizeram, como se pode avaliar por dois recortes, com prosa bem humorada, que republicamos hoje. A seleção é do José Afonso.

Como em todos os lados havia alguns craques e "treinadores de bancada" que, não sabendo jogar, escreviam sobre o "brutibol" no "jornal de caserna"... O Salgueiro Maia devia ser um bocado  "sarrafeiro", à falta de jeito para a bola... É o que deduzo destas crónicas...

É verdade que, para além da bola  (e das jogatanas de cartas) não havia muito mais formas de ocupar o tempo, nas horas de lazer, no TO da Guiné... Alguns liam ou ouviam rádio, nalguns aquartelamentos havia um armário com algumas dezenas de livros, em geral oferta do Movimento Nacional Feminino.  Um ou outro militar recebia jornais e revistas da metrópole ("A Bola", mas também a "Vida Mundial", a "Seara Nova", o "Comércio do Funchal", o "Notícias da Amadora", o "Jornal do Fundão", etc.). 

Em 1971/73, o país vivia ainda, desde 1926,  sob a "mordaça da censura", e praticamemte todas as notícias sobre a "guerra colonial" eram filtradas... Aliás, eram escassas, praticamente não saíam notícias sobre a guerra na Guiné, por exemplo, a não ser os "comunicados" das Forças Armadas, noticiando mais uma ou mais mortes de militares, no período de tal a tal...

A maior parte escrevia, obsessivamente, cartas e aerogramas para a metrópole... às carradas. Para os pais, as mulheres, as noivas, as namoradas, as madrinhas de guerra, os amigos... Mas escondia-se a dura realidade da guerra, por medo, por autocensura,  etc. Em contrapartida, os militares  adoravam receber os "bate-estradas", que chegavam ao SPM. No caso da CCAV 3420, era o SPM 1898.  

Outra forma de "matar o tempo" era passear pelas tabancas em redor dos aquartelamentos. Pescar  podia-se nalguns sítios. Mas, em geral, o peixe era intragável, sabia a lodo.  Quanto à caça,  era um luxo só permitido, em geral, aos oficiais (ou aos  milícias autorizados a  caçar para abastecer a tropa e/ou a população civil).

Sessões de cinema ou espetáculos de música podiam acontecer uma vez por festa, num sítio ou noutro... Raras eram as povoações (em  geral, sedes de circunscrição ou concelho) que tinham cinema: Bissau, Bafatá, Teixeira Pinto, Nova Lamego...

 As saídas às povoações mais importantes (Bafatá, Nova Lamego, Bissau, Teixeira Pinto...) era condicionadas por motivos de segurança, tal como os torneios de futebol "interregionais"... A feitura do "jornal de caserna" podia dar trabalho a uma pequena equipa...Mas a verdade é que, para além do futebol (e do "jornal de caserna") não sabemos como os Progressistas de "divertiam"... em Bula e outros aquartelamentos e destacamentos por onde passaram como Capunga,  Pete, etc. Talvez o José Afonso nos possa dizer algo mais sobre isto.




Capa do "jornal de caserna" da CCAV 3420 (Bula, 1971/73). Diretor: Cap cav Salgueiro Maia. 


Histórias pícaras > (viii) O brutibol e os treinadores de bancada


por José Afonso (*)



(i) COMENTÁRIO: O BRUTIBOL 

 Os Progressistas assistiram estupefactos aos acontecimentos no campo do Sporting Clube de Portugal num dos últimos domingos. Era visível em todos a consternação e incredulidade. Seria possível? Um árbitro a comer no toutiço,  ainda por cima daquela maneira? 

Fizeram-se mesas para comentar o caso e a opinião foi unânime, aqui no campo dos Progressistas nunca sucedeu nem pode suceder tal coisa. E, no entanto, todos nós somos profissionais e desejamos ganhar o nosso campeonato. Mas entre nós cada jogador para além do elevado grau de tecnicismo que possui, dispõe também de uma correcção impecável. 

 Mas concretizemos para ver que não falamos de cor: antes de entrarmos em campo, uma das equipes, formada por oficiais e sargentos do QP,  já vai a ganhar entre 3 a 5 bolas à outra, a dos furriéis. Ora desta maneira já não há aquela ansiedade que estraga e destrói o verdadeiro desporto. Uma equipe ganha e a outra já sabe que perde até porque quando por qualquer motivo imprevisto começa a reduzir a diferença, o nosso Capitão acaba logo com o jogo porque entretanto já se está a fazer noite e a qualidade dos jogadores perde-se. 

 E há exemplos admiráveis de jogadores natos de correcção estrema: é o Monteiro fazendo triangulações e pasodobles; é o Almeida, autêntica locomotiva em ataques furiosos e que terminam algumas vezes no chão por placagem sempre serena do nosso Capitão; é o 1.º Beliz, guarda-redes magnífico, que com alguns empurrões e muita ciência acaba por dominar a situação; o sargento Pascoal sempre à frente, à espera da bola e nunca consegue terminar nenhuma avançada e, sou eu, cuja importância é tão grande no desenrolar do jogo que noutro dia o nosso capitão até me disse: - Saia daí que você está a atrapalhar tudo! 

 Temos ainda o sargento Carreteiro muito bom em discussões futebolísticas mas, uma negação na defesa; o furriel Sancho, el ninho d’ouro”, o máximo que se pode exigir em técnica, pena que ande constantemente com os calções a cair-lhe, não fosse isso, o rapaz daria que falar; também o que nos vale é não haver por estes lados uma “liga dos costumes”. 

 Bem ainda não falamos do Seringa que quer que os golos dos furriéis sejam golos quando o nosso capitão considera que, como ninguém pediu autorização para marcar, o golo seja anulado! 

 Depois temos o alferes Mendonça,  “el Olívia Palito”,  que cada vez que entra no jogo, arranja um paludismo para os dias seguintes. Esclareço que cada falta ao prélio é paga com um garrafão de verde. 

 Pois é assim. Cá os Progressitas  não vão em agressões ao árbitro. E, para mostrarem bem que isso nunca sucedeu nem poderá suceder, continuarão a fazer como até aqui. Jogar com delicadeza e quanto a árbitro, “Cá Tem”. 

 Se quer praticar bom brutibol, se quer desenvolver as nódoas negras e os joelhos descascados, se enfim quer ser um homem, então frequente às terças, quintas e domingos, no extraordinário complexo desportivo do estádio “Erva” em Pete. 

BIGODES, jornal Os Progressistas, 9 de novembro de 1972


  (ii) O TEMA É CRITICA 

 Antes de mais quero dizer a quantos lêem o Jornal dos Progressiats  que não sou crítico de rádio ou televisão. Sou crítico em exclusivo deste jornal, de que é propriedade a CCav 3420, comandada pelo Capitão de Cavalaria, Fernando José Salgueiro Maia 

 A crítica que vou fazer é sobre a nossa equipa de futebol, já que no último jornal se falou muito de futebol, mas ao que parece o autor do artigo não falou daquilo que devia falar. 

 Falando no valor individual de cada elemento, começo já pelo guarda-redes, o nosso sargento Carreteiro, sem dúvida, bem constituído e com grande poder de elevação mas, pareceu-me que é altura de ser substituído e, o melhor substituto é o Bártolo do depósito de género ou o Paulo, o cozinheiro. A defesa central tem um elemento com longa experiência adquirida ao longo de 4 comissões que já fez no ultramar. 

Trata-se do 1.º sargento Beliz que, quanto a mim,  parece ter uns quilos a mais mas, como o campeonato está ainda em princípio parece-me ter possibilidades de recuperação. 

Quanto ao sargento Pascoal, é pedra base na equipe, porque consegue estar os 90 minutos no mesmo sítio à espera que a bola lhe venha ter aos pés. Dos furriéis, Sancho e Moreira, prefiro nem falar. 

Quanto ao furriel Gomes consegue ser superior em todos, mas em bigode; temos ainda os furriéis Monteiro, Almeida e Marques. O primeiro em vez de pensar no futebol anda mas é a pensar como pode acontecer faltar o frango aos domingos. 

Estou mesmo a ver que qualquer dia o Santos cozinheiro fica sem os seus frangos que parecem andar a mais cá no destacamento. O segundo é um elemento também muito habilidoso mas muito rafeiro, entrando sempre em falta, mas suponho eu, que um jogador com a sua classe não precisa de fazer tantas faltas sobre o adversário. 

 Temos ainda o Marques, o jogador mais disciplinado que entra em campo, é bom também em técnicas Resta apenas falar no trio da avançada que é composto pelos jogadores: Alferes Simões, Alferes Mendonça e Capitão Maia e, ao que me parece ser este ultimo, o capitão da equipe porque,  para além de dar ordem para terminar o jogo quando está a perder, está constantemente a dizer aos espectadores para que saiam para fora do arame farpado. 

 Quanto ao alferes Mendonça que nem mesmo a tomar leite em pó com flocos de cereais, não consegue dar um pontapé certeiro. O alferes Simões, é um jogador de cabeça e que joga sempre à vontade, talvez por daqui a uns meses ir no “gosse” para a Metrópole. O capitão Salgueiro Maia parece-me ter medo da disputa de bolas de cabeça. Talvez seja derivado, a trazer sempre o cabelo curto, não deixa, no entanto de ser um bom extremo esquerdo e cheio de dinamismo e iniciativas que, por vezes são perigosas para o guarda-redes. 

 Resumindo e fazendo um balanço colectivo, parece-me que toda a equipa precisa de preparação física adequada e, essa preparação podia ser dada da seguinte maneira: Juntar todos os jogadores em grupos de 4 e fazerem talvez uns blocos de cimento pelo menos, sempre contribuíam para o bem estar de todos e, ainda para uma “Guiné Melhor” 

 Eu peço desculpa quanto à crítica. Não foi feita para prejudicar ninguém mas sim, para que o jornal em vez de 4 folhas comece a ter 6, se possível. Para isso, precisamos de mais colaboradores. 

Soldado João Ribeiro, jornal "Os Progressistas", setembro de 1972


[ Revisão / fixação de textos e títulos / negritos, para efeitos de publicação deste poste no blogue: LG ]

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 6 de abril de  2022 > Guiné 61/74 - P23145: Recordando o Salgueiro Maia, que eu conheci, o meu comandante, bem como os demais bravos da minha CCAV 3420 (Bula, 1971/73) (José Afonso) - Parte IV: Histórias pícaras: (vii) Os Mais dos... Progressistas (divisa da companhia e também título do jornal de caserna)