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quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24982: Boas Festas 2023/24 (8): Anabela Pires, amiga tabanqueira desde 2012, vive em Montenegro, Faro: "Gostaria de ter notícias de cada um@ de vós..."



Foto acima: Anabela Pires, janeiro de 2012, em Catesse, no sul da Guiné-Bissau, foto do nosso saudoso Pepito (1949-2014)... 

Nascida em Moçambique, técnica superior de serviço social no Ministério da Agricultura, reformada, amiga dos nossos grã-tabanqueiros Jero, falecido (Alcobaça), Alice Carneiro (Alfragide /Amadora), cidadã do mundo, "globetrotter", esteve três meses, entre janeiro e março de 2012, integrada, como voluntária, no projeto do Ecoturismo, da AD - Acção para o Desenvolvimento, e a viver em Iemberém; foi o golpe de Estado de 2012 que a obrigou a sair da Guiné-Bissau; voltou lá,  de novo, em fevereiro de 2018, data em que deixámos de ter notícias dela (*).

Tem c. 30 referências no nosso blogue, dela publicámos o "diário de Iemberém"; pacifista e feminista, ela não gosta que a gente lhe chame uma "mulher de armas"... mas é assim que a gente a vê, aqui da Tabanca Grande. 


1. Mensagem da nossa amiga Anabela Pires (entrou para a Tabanca Grande em 12/1/2012; não tem página no Facebook):


Data - terça feira, 19dez 2023, 11:16
Assunto - Gostaria de ter notícias de cada um@ de vós

Ex-colegas, amig@s, conhecid@s, familiares,

Os dias, os anos vão passando. Mesmo daquel@s que vivem a 1 Km ... muitas vezes não sei nada. Muitos de nós estamos reformados, cada um mete-se na sua "toca". Outr@s ainda trabalham, continuam muito ocupad@s. Para muit@s o convívio com a família é quanto basta.

Eu vivo em Montenegro (Faro). 

Sinceramente gostaria de ter notícias de cada um@ de vós. Não sou a maior amante de passar muito tempo ao telefone, mas gosto de escrever e receber mensagens, e-mails.

Espero que estejam bem de saúde, assim como todos os vossos. É realmente o mais importante. Com esta premissa desejo-vos umas Festas Harmoniosas. Que cada um/a se sinta confortad@, tanto fisicamente como no coração. 

Votos de um ano 2024 com tudo de melhor, nem que isso seja a coragem para ultrapassar momentos e circunstâncias mais difíceis. (**)

Um abraço suficientemente grande para a tod@s abraçar.

Anabela

2. Comentário do editor LG:

Querida Anabela:  tens razão, cada um anda metido na sua "toca" (é a imagem apropriada).. A nossa tendência para o "encapsulamento" agravou-se com a maldita pandemia de covid-19. A nossa Tabanca Grande, por exemplo, ainda não arranjou forças para voltar a realizar o seu encontro anual (fez-se ininterruptamente desde 2006 a 2019, e desde 2010 em Monte Real). 

A idade, as doenças crónicas, as dificuldades financeiras, os netos, as viagens, etc. são geralmente razões invocadas para uma cada vez menor participação nos nossos convívios (há mais tabancas, regionais) e outras iniciativas. 

A menor participação também é visível nas nossas redes sociais (blogue e facebook). É difícil, se não impossível, reverter a tendència. O nosso blogue vai comemorar os seus 20 anos de existência em 23/4/2024. Estás convidada para colaborar nos festejos, que em princípio continuarão a ser "virtuais"... Mas até lá pode ser que  haja uma milagre e apareça uma "c0missão organizadora" a convocar as "nossas tropas" para irmos tomar um copo todos juntos... Amigos, amigas e camaradas...

Folgo em saber que estás viva e te recomendas... Feliz Natal e Melhor Ano Novo de 2024. 
Um beijinho da Alice Carneiro. 
Mantenhas, 
Luís Graça
 ____________

(**) Último poste da série > 19 de dezembro de 2023 >  Guiné 61/74 - P24976: Boas Festas 2023/24 (7): Mensagens natalícias dos nossos camaradas Valdemar Queiroz, ex-Fur Mil Art da CART 2479/CART 11; Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav do Pel Rec Daimler 2208 e Paulo Salgado, ex-Alf Mil Op Especiais da CCAV 2721

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18314: (Ex)citações (328): Regresso de Iemberém, viagem até Bissau, das 3h às 10h da manhã... O Pepito continua no coração de muita gente do Cantanhez... Estive em Guileje, no dia 7. É sempre com emoção que ali paro... Mando-vos cinco fotos em homenagem a todos aqueles de vós que ali muito sofreram (Anabela Pires)


Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje >  Memorial à CCAV 8350 (1972/1974) e ao alf mil Lourenço, morto por acidente em 5/3/1973. De seu nome completo Victor Paulo Vasconcelos Lourenço, era natural de Torre de Moncorvo, está sepultado na Caparica.Foi uma das 9 baixas mortais da companhia também conhecida por "Piratas de Guileje" e um dos 75 alferes que perdeu a vida no CTIG..

Em segundo plano, vê-se o nicho que ao tempo da CCAÇ 3477 (1971/77), "Os Gringos de Guileje", abrigava a  imagem de Nossa Senhora de Fátima e do Santo Cristo dos Milagres. A CCAÇ 3477 era, na alturam, comandada pel cap mil Abílio Delgado, nosso grã-tabanqueiro.


Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Era a aqui a porta de armas, com a passadeira VIP feita com garrafas de cerveja dando acesso à pista de aviação, ao tempo da CCAÇ 3325 (Jan 1971/Dez 1971), "Os Cobras de Guileje", de que era comandante o cap inf Jorge Parracho.


Foto nº 3  > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Pormenor da passadeira VIP feita com garrafas de cerveja...


Foto nº 4 > > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guildje > Interior da capela, da CART 1613 (1967/68), entretanto  renascida das cinzas, graças ao empenho da população local, da AD, do Pepito e do Domingos Fonseca, e da boa vontade de alguns velhos tugas, o "grupo de amigos da capela de Guileje", com o apoio do Blogue Luís Graça & Canmaradas da Guiné. A data da sua inauguração oficial foi 20 de janeiro de 2010 (com a presença de nossa amiga Júlia Neta, viúva do Zé Neto, entre outra gente ilustre)... Guileje voltou a ser um local de paz, de fé, de solidariedade, de (re)encontro, de ecumenismo, de esperança.  Não sabemos se tem sido utilizado mais vezes em atividades de culto. Em 2010 foi consagrada pelo bispo de Bafatá.

A imagem de Nossa Sra de Fátima foi oferecida e trazida, em março de 2010,  pelos nossos camaradas e grã-tabanqueiros António Camilo e Luís Branquinho Crespo,


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Região de  Tombali > Guileje > Núcleo Museológcio Memória de Guiledje > A placa original, restaurada, que estava afixada na parede da capelinha, ao tempo da CART 1613 (1967/68), "Os Lenços Verdes", comandada pelo cap art Eurico Corvacho (falecido em 2011).

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 7 de fevereiro de 2018 > Núcleo Museológico Memória de Guiledje

Fotos: © Anabela Pires (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]


1, Mensagem de Anabela Pires, com data de ontem, às 19:00:

[Anabela Pires, janeiro de 2012, em Catesse, no sul da Guiné-Bissau, foto acima,  de Pepito... Nascida em Moçambique, técnica superior de serviço social no Ministério da Agricultura, reformada, amiga dos nossos grã-tabanqueiros Jero (Alcobaça), Alice Carneiro (Alfragide/Amadora), e do nosso saudoso Pepito, cidadã do mundo, "globetrotter", esteve três meses, entre janeiro e março de 2012, integrada, como voluntária, no projeto do Ecoturismo, da AD - Acção para o Desenvolvimento, e a viver em Iemberém; foi o golpe de Estado de 2012 que a obrigou a sair da Guiné-Bissau; está lá de novo, desde 18 do corrente; tem 25 referências no nosso blogue, dela publicámos o "diário de Iemberém"; pacifista e feminista, ela não gosta que a gente lhe chame uma "mulher de armas"... mas é assim que a gente a vê, aqui da Tabanca Grande]

Caro Luís,

Só hoje [, dia 12,]  ao chegar li o teu email em que me pedias para saber notícias do pai da Alicinha e do seu avô (*). Foi uma pena mas na noite anterior à partida deitei-me bem cedo e nem computador levei para Iemberém. 

Consegui lá chegar [, a Iemberém,] e regressar sã e salva! Fiz parte da viagem de autocarro e para cá de 7place (tipo táxis coletivos) e o resto num jipe que está em Iemberém - fizeram o favor de me ir buscar e levar a Quebo pagando eu somente o gasóleo. 

Foi um regresso muito emotivo mas que eu precisava de fazer para encerrar o capítulo que tinha sido suspenso pelo Golpe de Estado de 12 de Abril de 2012 e depois com o desaparecimento do nosso tão estimado Pepito deste mundo.

Penso que para as pessoas de lá também foi reconfortante saberem que, apesar de eu só lá ter estado 3 meses,  regressei para as visitar. Como podes imaginar,  o Pepito esteve sempre presente nas nossas conversas. É daquelas pessoas que,  mesmo não estando fisicamente,  estão sempre nas nossas memórias e nos nossos corações e, quando digo "nossos",  refiro-me também a muitas, muitas pessoas de Cantanhez. 

Hoje estou muito cansada (saí de Iemberém às 3 horas da manhã e cheguei a Bissau às 10 - a estrada de Quebo até Guileje está muito pior do que há 6 anos!) mas quero dizer, a todos aqueles que aqui muito sofreram na guerra colonial, que faço sempre uma paragem em Guileje, em vossa homenagem.

Vou sempre à capelinha que,  embora tenha agora por fora um ar muito abandonado, mantém a imagem de Nossa Senhora intacta. Quero dizer-vos que fico sempre encantada com o "passeio" feito de garrafas de cervejas enterradas e que ainda se mantém em muito bom estado (bem hajam por não terem partido e espalhado todo aquele vidro!). É sempre com grande emoção que ali paro. 

Aqui há uns meses li, por acaso, um livro chamado "Deixei o meu coração em África", de Manuel Arouca (só o consegui comprar na Internet) cujo cenário principal é exatamente Guileje na época da guerra. Esta leitura só aumentou o meu desejo de regressar. Tenho a certeza de que muitos de vós gostarão de o ler. 

Por hoje só vos envio 5 fotos que tirei agora em Guileje. (**)

Um enorme abraço para tod@s,
Anabela Pires
____________

Notas do editor:

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18295: (In)citações (116): A 'mindjer grandi' Anabela Pires, de visita a Iemberém, até 2ª feira... Vai ser confrontada com uma série de memórias dolorosas: as perdas sucessivas dos nossos amigos comuns Cadi, Pepito, Alicinha... Esperemos que tenha notícias do nosso grã-tabanqueiro António Baldé, que voltou de mãos vazias, de Alfragide para Caboxanque, com o sonho desfeito de ser apicultor e dar um futuro melhor à Cadi e à Alicinha


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Farim do Cantanhez, 7 de dezembro de 2012... A última foto da Cadi...Morreria 2 meses depois...

Eu e a Alice conhecê-la-íamos em março de 2008. O nosso filho, médico e músico,João Graça, conhecê-la-ia, grávida, em Iemberém, em dezembro de 2009, a um mês de ter uma linda criança. a Alicinha do Cantanhez... Ficou com o nome da sua madrinha, a Alice de Candoz. O elo de ligação entre mãe, filha e madrinha era o Pepito, que entretanto morre em em fevereiro de 2014. Pouco tempos é a vez da Alicinha, que o pai, o nosso camarada António Baldé, a viver em Portugal, nunca chegará a conhecer!...É uma sucessão, dolorosa, de perdas...


Foto: © Pepito (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]


Guiné-Bissau > Bissau > Bairro do Quelelé > Casa do Pepito e da Isabel Levy > 2010 > A Alicinha do Cantanhez, de oito meses (à direita), que tem na Alice de Candoz (que vive em Alfragide, Portugal) uma madrinha, quase tão babada e ternurenta como a sua mãe, a Cadi (à esquerda)... O pai, da criança, vive e trabalha na Linha de Cascais como segurança de uma empresa. A Cadi é de Farim do Cantanhez. Não fala português, só um pouco de crioulo, para desespero da Alice de Candoz que de vez em quando lhe telefona... De tempos a tempos, esta manda à Cadi as roupinhas e outras coisas que fazem da Alicinha uma pequena princesa do Cantanhez... Pelo meio, vai-se rezando ao Nhinte Camatchol para que proteja a menina (e a mãe)... Da cólera, do paludismo, das desinterias, da fome e das mil e uma causas de morte infantil na Guiné-Bissau...

Foto: © Pepito (2010).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Guiné-Bissau > região do Cacheu > São Domingos > 15 de março de 2012... A Cadi, já doente, a caminho de Ziguinchor, no Senegal... E a Alicinha morrerá mais tarde, em Farim do Cantanhez. sem chegar aos cinco anos. (**)


Foto: © Pepito (2012). Todos os direitos reservados. [Eduição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem, que nos acabou de chegar de Bissau,  ontem, da nossa amiga e grã-tabanqueira Anabela Pires:



[Anabela Pires, janeiro de 2012, em Catesse, no sul da Guiné-Bissau, foto à esquerda de Pepito... Nascida em Moçambique, técnica superior de serviço social no Ministério da Agricultura, reformada, amiga dos nossos grã-tabanqueiros Jero (Alcobaça), Alice Carneiro (Alfragide/Amadora), e do nosso saudoso Pepito, cidadã do mundo, "globetrotter", esteve três meses, entre janeiro e março de 2012, integrada, como voluntária, no projeto do Ecoturismo, da AD - Acção para o Desenvolvimento, e a viver em Iemberém; foi o golpe de Estado de 2012 que a obrigou a sair da Guiné-Bissau; está lá de novo, desde 18 do corrente; tem 25 referências no nosso blogue, dela publicámos o "diário de Iemberém"; pacifista e feminista, ela não gosta que a gente lhe chame uma "mulher de armas"... mas é assim que a gente a vê, aqui da Tabanca Grande]


Queridos amig@s:
Parece que é amanhã que vou para o Sul, para Iembérém, Cantanhez, onde estive há 6 anos.  E digo parece porque só quando lá chegar é que direi "Cheguei!". 

Vou apanhar um autocarro de manhã cedo até Mampatá, a meio caminho, e depois irá um carro de Iembérém lá buscar-me. Vai correr tudo bem e talvez regresse na próxima 2ª feira. 

Lá não terei Internet e como tal a única forma de contacto é o meu nº de telemóvel português, quando é possível estabelecer ligação.

A situação política está mais calma mas .... bem, em Iembérém não há problemas desse género.
Darei notícias após o regresso.

Um abraço,
Anabela (*)


2 Resposta do nosso editor LG, na volta do correio:

Olá, Anabela!..Que faças boa viagem até Iemberém... E, já agora, vê se tens notícias do pai da Alicinha, a filha da Cadi. O seu nome é António Baldé, acho que nunca o chegaste a conhecer, vivia aqui em Alfragide. Vive hoje em Caboxanque (setor de Bedanda), a norte de Iemberém. Não chegou a conhecer a filha, a não ser por foto. Voltou para a sua terra, com o sonho (desfeito) de ser apicultor, levar com ele uma pequena reforma portuguesa e dar um futuro  melhor à Cadi e à filha de ambos... Foi um sucessão de tragédias... A Alice Carneiro era a madrinha, como sabes, o Pepito o nosso elo de ligação. Os três já morreram: a Cadi, a filha e o Pepito... Inevitavelmente vais reviver estes acontecimentos, dolorosos para todos nós...Eram nossos amigos comuns,,, O pai da Cadi ainda será vivo ? Vivia em Farim do Cantanhez, antigo combatente do PAIGC... Abdul Indjai, de seu nome, ficou sem uma perna numa mina.

Olha, dá depois notícias... Amanhã ponho notícia no blogue da tua partida. Boa estadia em Iemberém.... Bons encontros. Bj meus e da Alice. Luis

PS - Ah!, é vê se tens boas notícias da tua afilhadinha, de Catesse, e do projeto do Ecoturismo em que tiveste envolvida em Iemberém... A AD, parece-me,  ficou órfão do Pepito, perdeu o elã, entrou em entropia, não temos neste momento ligações diretas com a direção da ONG... É uma pena... Encontrámos há tempos em Lisboa a Isabel Miranda e o marido. Foi bom revê-los.  Boa noite. Luis.



Amadora > Alfragide > 27/7/2012 > O António Baldé com o nosso editior Luís Graça, foram vizinhos em Alfragide. O Baldé trabalhou em tempos com o Pepito no DEPA. É naural de Contuboel, onde fez a 4ª classe. Vive em Caboxanque e tem a nacionalidade portuguesa. Pertenceu ao Pel Caç Nat 57 (São João, 1969/70) e à CART 11 (Paunca e Sinchã Queuto, 1970/71). Era 1º cabo art.

Foto: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados. [Eduição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].




Carlos Schwarz da Silva, "Pepito" (1949-2014). 

Foto: © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


3. Recorde-se aqui o mail que a Anabela Pires nos mandou, em 20 de fevereiro de 2013,  por ocasião da morte da Alicinha:

Luís, acabei de receber o teu e-mail e estou em estado de choque. Nunca percebi de que mal padecia a Cadi mas depois de ir para o Senegal e para o hospital de Comura,  nunca pensei que o desfecho fosse este. Não imaginas como lamento esta notícia. E cuidado com a menina que pouco depois da mãe adoecer também ela andava doentita. Nunca me esqueço delas até porque no dia em que a Alicinha fez 2 anos (dia da minha chegada a Cantanhez) também eu ganhei uma "afilhada" em Catesse que tem o meu nome. As nossas "afilhadas" têm exactamente 2 anos de diferença. E não esqueço a visita que recebi da Cádi, da sua mãe (lindíssima mulher também), da Alicinha e do Ansumané (irmão mais novo da Cadi). Para sempre ficarão também no meu coração. Um grande abraço para ti e para a Alice.

Anabela Pires

___________

Notas do editor:



(**) Vd. postes de:

3 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3167: Ser solidário (19): Morreu o Nuninho, da Cadi. De paludismo. De abandono (Luís Graça)


19 de fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7816: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (4): 10/12/2009, último dia de consultas em Iemberém e viagem de regresso (10 horas!) a Bissau


18 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12738: In Memoriam (178): Carlos Schwarz da Silva (1949-2014)... Pepito ca mori! (Luís Graça)

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18269: (In)citações (115): A nossa amiga e grã-tabanqueira Anabela Pires, de volta à Guiné-Bissau, seis anos depois do golpe de Estado de 12 de abril de 2012



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > 10 de dezembro de 2009 > Mulheres...

Foto: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


[Anabela Pires, janeiro de 2012, em Catesse, no sul da Guiné-Bissau, foto à esquerda de Pepito... Nascida em Moçambique, técnica superior de serviço social no Ministério da Agricultura, reformada, amiga dos nossos grã-tabanqueiros Jero (Alcobaça), Alice Carneiro (Alfragide/Amadora), e do nosso saudoso Pepito, cidadã do mundo, "globetrotter", esteve três meses, entre janeiro e março de 2012, integrada, como voluntária, no projeto do Ecoturismo, da AD - Acção para o Desenvolvimento, e a viver em Iemberém; foi o golpe de Estado de 2012 que a obrigou a sair da Guiné-Bissau; está lá de novo, desde 18 do corrente; tem 25 referências no nosso blogue, dela publicámos o "diário de Iemberém"; pacifista e feminista, ela não gosta que a gente lhe chame uma "mulher de armas"... mas é assim que a gente a vê, aqui da Tabanca Grande]


1. Mensagem da nossa amiga e grã-tabanqueira Anabela Pires, com data de hoje

Queridos familiares e amig@s,

Estou na Guiné desde o dia 18  (*). A primeira semana foi agitada com passeios por Kéré nos Bijagós, depois Cacheu, Cachungo, Quinhamel.

Os últimos dias tenho-os passado num remanso calmo na residência dos meus amigos, a ler, com algumas saídas para almoços ou jantares enquanto tento descobrir como vou ao Sul, a Iemberém, onde estive há 6 anos. 

Tive um encontro breve com a Isabel Levy (mulher do Pepito) e espero voltar a estar com ela com mais tempo. Para já pareceu-me bem.

Entretanto o clima político na Guiné está bastante tenso. Hoje deveria começar o Congresso do PAIGC, maior partido nacional que ganhou as últimas eleições mas há 2 facções em confronto e a temperatura começou a subir na última noite. 

Bem, os que vos quero dizer é que se ouvirem notícias não fiquem preocupados. Pode ser que isto seja só fumaça mas se não for eu estou muitíssimo segura mesmo estando em Bissau. E se entretanto for para Iemberém também estarei em segurança pois todas estas tricas não passam, regra geral, de Bissau. Nada de preocupações ou alarmismos, neste país estas coisas são recorrentes.

Beijinhos e abraços,
Anabela (**)

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quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18147: Feliz Natal 2017 e Melhor Bom Ano Novo 2018 (15): Anabela Pires, que vai voltar à Guiné-Bissau por quatro semanas, em 18 de janeiro...


Um Natal em Harmonia e um Feliz 2018, são os votos da Anabela Pires, ecologista, defensora da permacultura, e que nos manda um "cartanito" com a sua horta que dá de tudo (e que presumo que seja comunitária)...

Foto: © Anabela Pires (2017). Todos os direitos reservados [ Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem da nossa amiga e grã-tabanqueira Anabela Pires, com data de 22 do corrente




[Anabela Pires, nascida em Moçambique, técnica superior de serviço social no Ministério da Agricultura, reformada, amiga dos nossos grã-tabanqueiros Jero (Alcobaça), Alice Carneiro (Alfragide/Amadora), e do nosso saudoso Pepito, cidadã do mundo, "globetrotter", esteve três meses, entre janeiro e março de 2012, integrada, como voluntária, no projeto do Ecoturismo, da AD - Acção para o Desenvolvimento, e a viver em Iemberém; foi o golpe de Estado de 2012 que a obrigou a sair da Guiné-Bissau; vai lá voltar em 2018; tem 25 referências no nosso blogue, dela publicámos o "diário de Iemberém"; pacifista e feminista, ela não gosta que a gente lhe chame uma "mulher de armas"... mas é assim que a gente a vê, aqui da Tabanca Grande]


Queridos familiares, amig@s, ex-colegas, vizinhos ....

Hoje é dia de começar a preparar o Natal que passarei em Alcobaça com a minha irmã e sua família. Por razões profissionais os meus filhos não poderão estar presentes mas a 28 voarei até à Dinamarca para festejar o 2º aniversário do meu neto e a passagem de ano. 

Projetos para 2018: 

(i) dia 5 de Janeiro venho por aqui para levar os meus pertences para Coimbra e fazer a mala para ir a 18 quatro semanas à Guiné-Bissau; 

(ii) a 15 de Fevereiro regresso e começarei então a fazer o caminho de volta ao Algarve ao fim de 6 anos. 

Esta é a parte que vai ser mais complicada pois já me falta muito a paciência para arrumar e desarrumar, mas tem de ser. Bem, uma nova fase vai começar. Depois de colocar de novo todos os meus pertences no apartamento do Montenegro - o que vai levar tempo .... logo se verá o que vou fazer. 

Desejo-vos um Natal muito harmonioso e se possível muito alegre e que continuem todos em grande forma em 2018.

Reencontramos-nos em 2018? Desejo que sim! Em finais de Fevereiro estarei no Algarve muito embora depois ainda tenha de vir cá acima buscar caixotes e vasos.

Mil beijos e abraços para todos,
Anabela


P.S. Terminei ontem os meus trabalhos aqui na horta, a qual ficou conforme as fotos que mando em anexo [e de que se reproduz uma, acima]. Ainda falta plantar morangueiros Diamante e mais alfaces. As ervilhas de trepar, as favas, as cenouras, os espinafres, os canónigos (ou alfaces cordeiro) ainda não nasceram! Espero que chova! Colhi as últimas pastinacas (Cherovias ou Chírivias).

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terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16887: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (22): Anabela Pires, amiga grã-tabanqueira e "globetrotter"


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Catesse > 22 de Janeiro de 2012 > A Anabela Pires, bendita entre as mulheres...

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento / Pepito (2012). Todos os direitos reservados [ Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem natalícia da nossa amigfa grã-tabanqueira Anabela Pires [nascida em Moçambique, técnica superior de serviço social no Ministério da Agricultura, reformada, amiga dos nossos grã-tabanqueiros Jero (Alcobaça) e Alice Carneiro (Alfragide/Amadora), "globetrotter", esteve três meses, entre janeiro e março de 2012,  integrada, como voluntária, no projeto do Ecoturismo, da AD - Acção para o Desenvolvimento, e a viver em Iemberém; foi o golpe de Estado de 2012 que a obrigou a sair da Guiné-Bissau]


Assunto - O Amor no Natal e no Ano Novo


Queridos familiares, amig@s, ex-coleg@s, vizinhos,

O Natal está a chegar! Para mim o Natal é, ou deve ser, uma época especial dedicada ao AMOR pelos outros. Por isso nestes dias há temas que não me saem do pensamento:

(i) Aleppo, atentados, refugiados, guerras ....

(ii) corrupção, ganância, falta de vergonha, a grande desigualdade social atribuída às diferentes profissões, discussão do salário mínimo nacional comparado com os salários usufruídos por outros, a pobreza mesmo de muitos que trabalham todo o ano ....

(iii) depreciação constante de valores fundamentais tais como a Honestidade, a Educação (não a escolaridade, mas sim a correção com que tratamos os outros), a Sinceridade, a Humildade, a Gratidão, a Bondade, a Generosidade, a Igualdade, a Paz ....

(iv) o tão imperfeito apoio dado pelos nossos governantes às pessoas portadoras de deficiência ..... onde encontramos tant@s heróis e heroínas.

Porque os meus pensamentos andam por estes temas e porque penso que é disto que o nosso país e o mundo precisa, os meus votos de Natal e para o Ano Novo são para que cada um de nós se esforce por ser mais honesto, mais humilde, mais grato, mais generoso, mais pacífico e mais defensor da igualdade social.

Votos pessoais de um Natal e Ano Novo harmoniosos, para vós e vossas famílias, onde não falte a Coragem aos que estão a viver momentos difíceis.

Abraço cada um de vós em particular, com muita força, e quero expressar a minha gratidão a todos aquel@s que me manisfestaram o seu carinho no ano que agora termina.

Anabela Pires

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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16884: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (21): José Carlos Mussá Biai, José da Câmara, Aires Ferreira e José Lino Oliveira

terça-feira, 21 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11604: Guiné-Bissau, manga di sabe (2): Vídeo: Dança de bajudas nalus na tabanca de Catesse, no Cantanhez (José Teixeira)




Vídeo (2' 06''): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados. Alojado em You Tube > José Teixeira...


1. O nosso querido amigo e camarada Zé Teixeira regressou recentemente da Guiné-Bissau onde fez alguns vídeos que disponibiliza para visualização dos visitantes do nosso blogue (*). 

Da visita à tabanca de Catesse, na região de Tombali, Cantanhez, trouxe esta dança de bajudas nalus. A nossa tabanqueira Anabela Pires vai adorar, ao rever estas acrobáticas bajudinhas, suas amigas. Recorde-se que ela esteve, em 2012, cerca de três no chão nalu, como voluntária do projeto de ecoturismo,  desenvolvido pela AD - Acção para o Desenvolvimento. Foi a priemria tabanca que conheceu, depois de Iemberém. A Anabela está neste momento a viver em Auroville, no sul da Índia. Não temos tido notícias dela, mais recentemente. (LG)

PS - Sobre os nalus, tandas, sossos, balantas e fulas do Cantanhez, ver texto histórico-antropológico do nosso amigo Pepito. (P3070, de 18 de julho de 2008).
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sábado, 13 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11386: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (15): Em Catesse e em Cabedu... Os jovens por aqui, hoje, não querem fazer nada, talvez por influência do que lhes chega de outros mundos, através da TV


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Catesse > 22 de Janeiro de 2012 > A Anabela Reis, bendita entre as mulheres...

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2012). Todos os direitos reservados [ Edição e legendagem: LG]


Guine-Bissau > Aruipélagos dos Bijagós > Bubaque > 13 de dezembro de 2009 > 14h50_> Regresso, de barco, a Bissau. Uma juventude, aparentemente despreocupada, que viver o seu tempo...



Guiné-Bissau > Região de Cacheu > São Domingos > 18 de dezembro de 2009 > O risco de perda de identidade ?... 1º Festival Cultural de S. Domingos, sob o lema "Nô Laba Rostu di Nô Guiné". Dopis jovens mulheres em dança tradcional ... Foto tirados pelo João Graça no penúltimo último dia da sua viagem à Guiné-Bissau (5-19 de Dezembro de 2009)


Fotos: © João Graça  (20009). Todos os direitos reservados [ Edição e legendagem: LG]


1. Continuação da publicação do Diário de Iemberém, por Anabela Pires (Parte XV) (*)


25 de Março de 2012

Fiquei novamente mais de 8 dias sem nada escrever. Desde que comecei a dar as aulas de alfabetização às 8.30 da manhã deixou de me dar jeito escrever pela manhã.

A semana que passou, além de me dedicar às aulas de português, preocupei-me com a gestão financeira dos alojamentos e por isso o meu trabalho foi feito sobretudo com a Maria Pónu. Agora, sabendo o dinheiro que efetivamente temos em caixa teremos de decidir o que podemos comprar. Há muitas melhorias a fazer mas só podemos fazer aquelas para as quais houver dinheiro.

Com a Satú voltei a fazer doce de laranja mas em vez de cortarmos as cascas aos bocadinhos ralámos. É mais fácil de fazer muito embora eu prefira com as cascas aos bocadinhos. O doce ficou bastante bom, com o ponto certo. Já fiz os rótulos para pôr nos frascos mas ainda não os colámos pois a Satú tem estado doente.

Nas aulas de alfabetização percebi que havia dificuldades de aprendizagem e,  como não estava a perceber bem quais eram,  na 6ª feira fiz exercícios e agora já entendi as dificuldades de cada um dos grupos. Precisava de trabalhar mais tempo com o grupo mais atrasado mas não sei se quererão disponibilizar mais meia hora por dia. Tenho também uma enorme dificuldade em arranjar imagens para que possam associar as palavras às imagens. Sem internet estou bastante condicionada e o meu jeito para desenho é nulo.

Esta semana fiz também uma pequena reunião com as 3 formandas com quem irei à Gâmbia – a Satú, a Pónu e a Fatu de Farosadjuma. Nunca tive de preparar uma visita de estudo sem ter qualquer informação do que vamos visitar. Só sei que iremos a um ecoturismo na Gâmbia e ainda não sei quando.

Ontem, pela 1ª vez, saí de Iemberém, o que me soube muito bem apesar do calor e da “canseira”. Fui a Catesse, onde tinha estado no dia em que cheguei, fazer uma pequena reunião com a Associação de Mulheres. Elas estão a construir com o apoio da AD uma casa para hóspedes. Esta casa não se destina a turistas mas a locais que passem em Catesse a caminho da Guiné-Conacri ou de outras terras da Guiné-Bissau pois a AD está também a apoiar a reconstrução do porto e a aquisição de um barco. 

Nesta primeira reunião com as mulheres de Catesse o objetivo foi alertá-las para pensarem na forma como vão gerir a casa de hóspedes e nos acabamentos, materiais e utensílios que vão colocar considerando as dificuldades de manutenção. As pessoas acham muito bonito pintar as paredes de branco ou azul mas elas só estão limpas nas primeiras 24 horas – adultos e crianças, sempre com as mãos sujas da terra vermelha, põem as mãos nas paredes e pronto! Em menos de um ai está tudo um nojo. Elas decidiram o que fazer com a certeza de que terão de lavar paredes, trabalho que nunca fizeram e ao qual os seus corpos não estão habituados. 

Catesse é uma tabanca muito bonita, razoavelmente limpa e com um povo muito hospitaleiro. Assim que tenham um quarto pronto e a casa de banho estou disposta a ir para lá uns dias trabalhar com as mulheres. Quando entramos em Catesse encontramos quase uma avenida com árvores de um lado e de outro, as moranças ao longo da “avenida” e não se vê a sujidade que há, por exemplo, aqui em Iemberém, designadamente com os malditos “oleados” (sacos de plástico). 

Conheci finalmente a menina que nasceu no dia em que cheguei e a quem puseram o meu nome. A pequena Anabela tem bochechas como eu e é a 1ª filha de uma jovem de 17 anos, chamada Fatu. Fiquei preocupada pois tinha muitos bicos no corpo alguns dos quais bem infetados. Recomendámos à mãe que fosse com a bebé ao enfermeiro mais próximo e dei-lhe uma ajuda financeira para isso. Alice, agora também tenho uma Anabelazinha na Guiné, exatamente dois anos mais nova do que a tua Alicinha, pois nasceu a 17 de Janeiro.

Depois de Catesse, onde comemos (eu, o Abubacar e o Antero, motorista da AD, todos da mesma tigela, cada um com a sua colher) um arroz com pó de lolo (umas folhas que secam e pilam e que depois põem na comida para dar gosto) e mafé (molho, acompanhamento) de peixe fumado e óleo de palma, fomos para Cabedu, uma tabanca grande com 8 bairros, também bem bonita e organizada. Lá tivemos uma reunião com uma já antiga associação de mulheres que a AD ajudou há 20 anos na construção de uma casa de hóspedes que tinha como objetivos terem uma divisão para guardarem arroz para a época das chuvas e fazerem dinheiro para comprarem arroz para a época da “fome”. 

Na época das chuvas o arroz da campanha anterior escasseia e como tal sobe muito de preço. Então as mulheres da associação compravam arroz quando estava mais barato e guardavam-no para distribuírem entre as associadas na época em que subia de preço. Não se preocuparam e talvez não o soubessem fazer em manter/conservar a casa, a qual está hoje muito degradada e a precisar de grandes obras. Pediram agora ajuda à AD para isso mas é preciso que entendam que têm de saber conservar aquilo que têm. 

Pedi-lhes então que me contassem a história da associação e da casa para que percebessem que não tinham tido o cuidado da conservação e que isso era fundamental pois a AD não pode constantemente repor o que as pessoas deixam estragar. Estava na reunião o Homem Grande de Cabedu que pediu que eu fosse dar formação e apoiar as mulheres da associação pois elas estão um pouco desorientadas. Uma dúvida, no entanto, me ficou – as mulheres que formaram a associação e que a fizeram viver durante 20 anos, são de uma determinada época histórica e estão hoje com idade para descansar. Segundo o que elas mesmo disseram as jovens não têm o mesmo espírito que elas tinham e não querem trabalhar. Quem será então que vai trabalhar, gerir, manter a casa de hóspedes se ela for renovada? O Homem Grande disse que as jovens terão de o fazer mas se as suas aspirações forem outras? 

Segundo me disse o Abubacar depois, no carro, os jovens por aqui, hoje, não querem fazer nada. Talvez por influência do que lhes chega de outros mundos, através da TV e não só, os jovens desejem vidas diferentes mas a verdade é que essas vidas não lhes estão assim tão acessíveis – basta dizer que a escolaridade é muito baixa e que a maioria nem português fala. Terei de ter estes aspectos em atenção e ver com os responsáveis da AD se vale a pena voltar a investir naquela casa.

Hoje, sendo Domingo, não vou à pesca. Vou com o Abubacar a uma outra tabanca para assistir a uma cerimónia de choro dos Balantas. Um professor Balanta (animista) faleceu há 3 meses e hoje a família fará uma cerimónia em sua memória em que matarão vacas e porcos (os Balantas comem porco mas como muitos dos presentes são muçulmanos matam vacas para lhes servirem) e dançarem em memória do falecido. 

A AD mandou uma viatura para aqui durante 5 dias para eu poder fazer outros trabalhos e ter outros contactos. Nos próximos 3 dias irei para Farosadjuma trabalhar com a Fatu (que também tem bungalows). Está a saber-me bem esta mudança pois aqui há agora que esperar para ver o que fazem as formandas sem eu andar em cima delas.

Havia muitos dias que não via o Neca. Há pouco o Abubacar chamou-me para me dizer que ele estava aqui nas árvores em frente da casa. Fui buscar uma laranja, cortei-a ao meio e chamei-o. Lá veio e pela 1ª vez veio buscar as metades da laranja à minha mão. Ainda não subiu os degraus da minha casa, eu é que tive de descer, mas já veio buscar a laranja à minha mão. Foi um bom avanço nas nossas relações. Os macacos são a minha perdição. Adoro passar tempo a observá-los e só tenho pena deles, à excepção do Neca, não se aproximarem.

São já 9 horas, aqui a hora não muda, e como vamos sair às 10 tenho de me ir despachar. Uma nota final – hoje adquiri a primeira ferramenta agrícola da minha vida! Uma pequena sachola, com a qual posso sachar o meu canteiro de flores e com a qual espero poder aprender a fazer uma horta. É muito bom não estar sempre ao computador e poder fazer outras coisas com o corpo (esta frase irá suscitar pensamentos maliciosos em muitos mentes mas foi escrita sem qualquer pensamento mais “pecaminoso”!).

[Termina aqui o diário de Iemberém. Por razões de segurança, e na sequência do golpe de  Estado de 12/13 de abril de 2012, a Anabela teve de seguir inesperadamente para Dacar,. por decisão da AD - Acção para o Desenvolvimento. Sobre essas peripécias, falaremos em próximo poste. LG].

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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P11359: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (14): Como é difícil suportar o calor na época seca... e dormir a sesta


segunda-feira, 8 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11359: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (14): Como é difícil suportar o calor na época seca... e dormir a sesta

1. Continuação da publicação do Diário de Iemberém, por Anabela Pires (Parte XIV) (*)


[, Foto à esquerda; créditos fotográficos: JERO]

O Diário de Iemberém é da autoria da nossa grã-tabanqueira Anabela Pires, nascida em Moçambique, técnica superior de serviço social no Ministério da Agricultura, reformada, amiga dos nossos grã-tabanqueiros Jero (Alcobaça) e Alice Carneiro (Alfragide/Amadora)...

Em 2012, esteve na Guiné-Bissau cerca de três meses (, de meados de janeiro a meados de abril). Mais exatamente, em Iemberém, Parque Nacional do Cantanhez, região de Tombali, onde esteve a trabalhar como voluntária no projeto do Ecoturismo, da AD - Acção para o Desenvolvimento. Devido ao golpe de Estado de 12 de abril , acabou por sair da Guiné-Bissau, por razões de segurança, passando  um mês em Dacar, no Senegal. Regressou a Portugal, fez agricultura biológica e, neste momento, vive na Índia, em Auroville (onde pensa ficar até meados deste ano).

Chegou em Iemberém no dia 17/1/2012. E ficou hospedada nas instalações locais da AD, a ONGD que é dirigida pelo nosso amigo Pepito. Levou o seu portátil, mas não trem internet. E luz elétrica só há 4 horas por dia (LG).


17 de Março de 2012

Há uma semana que não escrevo! Faz hoje 2 meses que cheguei a Iemberém! O calor começa a incomodar! Mesmo aqui dentro de casa, se estou a fazer algum trabalho físico/manual o suor cai “em bica”! Estivemos 15 dias sem energia elétrica e 12 sem água nas torneiras, mas já passou! Chegou um gerador novo e já temos 4 horas de luz por dia e água nas torneiras (que só tenho na casa de banho). E …EUREKA … já tenho impressora a funcionar! E papel A4! Falta a Internet mas esta já tenho muito pouca esperança ...

Esta última semana foi um bocado complicada pois no Domingo, dia 11, foram-se embora as visitas e clientes que cá estavam e só tínhamos uma reserva de 4 pessoas para 3ª feira, dia 13. Pois nesse dia, além dos “reservados”, apareceram 3 dinamarqueses e 1 sueco com 3 acompanhantes guineenses, 2 espanhóis e 1 acompanhante guineense, e no dia 14 mais 3 franceses. A Satú teve de ir a Bafatá, ao funeral de um tio, e eu tive de ajudar no restaurante.

Para compensar a “canseira”, comecei na 2ª feira as aulas de português para as pessoas que aqui trabalham e que querem aprender. Comecei com 6 mulheres, das quais 2 são analfabetas, muito embora já tenham frequentado cursos de alfabetização, e 1 homem. Tirando a Mariama e a Duturna todos os outros têm alguns anos de escolaridade. O Canha fez a 7ª classe mas como quase nunca falava português e a escolaridade é de muito baixa qualidade está a reaprender. A heterogeneidade do grupo torna a formação um pouco mais difícil mas eles próprios acharam que eu devia fazer uma só turma.

Agora tenho também o Gassimo, o menino meu amigo que vai fazer 15 anos e que é filho da Mariama e talvez venha também a Mimi que é a mulher do Abdulai, técnico da AD. O Gassimo está a preocupar-me. Eu já tinha percebido que ele tem um coração de ouro mas não é muito inteligente. Ainda só anda na 2ª classe e só este ano foi para a escola de um dos padres brasileiros. De vez em quando batalho com ele na tabuada. Está agora a aprender a dos 4. Como ele, apesar de lidar comigo quase todos os dias, continua a perceber-me muito mal e quase não diz nada em português, sugeri-lhe que viesse às aulas. E agora estou preocupada pois não sei se o menino não terá dislexia. Queria ter Internet para pesquisar os sintomas desta perturbação mas não tenho. E aqui não tenho ninguém a quem recorrer. Vou tentar falar com a Tumbulu, a nossa enfermeira, mas não sei se ela saberá alguma coisa do assunto.

[Foto, à direita: Meninos de Iemberém, 6 de dezembro de 2009. © João Graça (2009. Todos os direitos reservados (Edição: L.G.]

Ontem falei disto com o Abubacar e ele contou-me que o Gassimo pertence a uma família que tem já vários
casos de “loucura” que começaram com a sua avó paterna. Tem 2 tias que andam por aí a falar sozinhas e o pai parece que às vezes também já o faz. Para a maioria das pessoas daqui isto é uma “praga” da família e parece que começa a haver alguma relutância dos homens em se casarem com mulheres da família, que, diga-se, são lindas. Ora, isto deve ser um problema neurológico, transmissível, mas aqui não há como sabê-lo e menos ainda como tratá-lo ou preveni-lo. 

Vou continuar a tomar atenção ao Gassimo e quando tiver oportunidade tentarei contatar a Dra. Sónia (a médica alemã que cá esteve). Ela e o marido “apadrinharam” o sobrinho do Gassimo e,  como têm a ONG chamada “Tabanka”,  na Alemanha, através da qual financiam aqui muitos projetos, e até fala crioulo, será a pessoa certa para ver o que se passa com esta família. Nas aulas vi que o Gassimo é canhoto mas o que me preocupa é o facto de, quando lhe peço para escrever alguma coisa no quadro, ter a sensação de que ele troca letras. Vou continuar a observar e a trabalhar com ele individualmente para tentar perceber se o menino terá alguma dificuldade especial. 

As aulas têm sido divertidas mas as pessoas faltam muito e assim não sei o que vão conseguir aprender. Estou a seguir o método de alfabetização através de um manual que os professores portugueses que aqui vieram logo quando cheguei fizeram o favor de me oferecer.

As minhas rotinas começaram a ser alteradas. O Pepito recomendou-me que deixasse agora o pessoal dos alojamentos à vontade para ver o que fazem sozinhas. Assim, depois da aula de português que é às 8.30 da manhã,  venho para casa e começo a fazer com mais intensidade outros trabalhos no computador ou falo com a Maria Pónu sobre questões ainda pendentes nos alojamentos. Tenho muitos documentos para trabalhar no computador e agora que já tenho impressora – das 19 às 23 horas – será muitíssimo melhor.

Almoço a hora variável, normalmente entre as 13 e as 14 horas,  e a seguir ou tenho um trabalho em que me mexa ou tenho de dormir a sesta. Trabalhar no computador depois do almoço e com este calor não dá! Adormeço à mesa de trabalho. 

O Pepito está sempre a recomendar-me que durma a sesta mas isto é um problema para mim pois levo uma meia hora a adormecer e depois tenho de dormir 2 horas e mais meia para me pôr de novo capaz de fazer alguma coisa, são 3 horas que me fazem falta! Esta semana não dormi dia nenhum depois do almoço pois arranjei sempre alguma coisa para fazer que não fosse estar à secretária.

(Continua)
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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11336: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (13): Um batizado muçulmano

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11336: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (13): Um batizado muçulmano

1. Continuação da publicação do Diário de Iemberém, por Anabela Pires (Parte XIII) (*)


 [, Foto à esquerda: a Anabela em Catesse, janeiro de 2012, crédito fotográfico: Pepito]


10 de Março de 2012

Ontem foi o batizado do Arnold Abdulai Djaló, o bebé que vi nascer. A Dra. Sónia, a médica alemã que tinha ido observar a Mariatu, telefonou durante a viagem para Bissau a saber como estava a decorrer o parto e foi-lhe dito que já tinha nascido um menino. Ela pediu para lhe darem o nome do seu marido. E assim foi. O menino chama-se Arnold (nome do marido da médica) Abdulai (nome de um irmão da Mariatu já falecido) Djaló (apelido da família do pai). Desta vez não perdi pitada e fotografei todo o batizado. Só me retirei quando degolaram a cabra, o que foi muito rápido.

A determinada altura, o sr. João Manuel (nome português de um habitante local que fez tropa no exército português) apresentou-me no terreiro dos homens e resolveram dar-me um nome guineense: Adama Queta. Bom, foi quase um segundo batismo mas não me raparam o cabelo, nem me lavaram a cabeça com a água onde mergulham folhas de mangueira, de figueira e cola.


[ Foto à direita: um batizado muçulmano, Iemberém, 6 de desembro de 2009. Foto: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados]


Ontem chegou também o Pepito com o Claúdio, o Professor Turco e o Marco, italianos ligados ao Projeto EcoCantanhez. À tarde houve uma reunião com os guias turísticos e não percebi bem se também estavam os guardas do Parque. A reunião decorreu em crioulo e só consegui entender o sentido global do tema em debate. Hoje haverá nova reunião com os guias na qual irei participar. 

Temos cá, como turistas, um casal formado por uma guineense bastante clara e um italiano que vive em Bissau há 3 anos (namorados – penso que ele é representante da UE) e um casal americano que chegou de surpresa e veio de bicicleta desde Buba, uma terra que fica aqui a uns quantos quilómetros.

Por causa de todas estas pessoas, na 5ª feira estive grande parte do dia com a Satu na cozinha e fizemos bananas fritas, crepes de laranja (pela primeira vez; a Satu gostou muito e os clientes também) e tarte de limão. Como sempre acontece nas formações, de tudo o que vou ensinando à Satu sei que no futuro só fará três ou quatro receitas. Tenho sempre pena de que assim seja pois para mim a diversidade é importante. Para já sei que fará o Bolo de Laranja, a Tarte de Coco e Bananada Odile, talvez as Laranjas da Guiné à moda da Rosinda e … vamos ver se os Crepes de Laranja e a Tarte de Limão. Quem sabe a Salada de Repolho e Cenoura, a Sopa Juliana …. Só o tempo o dirá!

Agora vou começar a preparar a viagem que farei com 3 formandas à Gâmbia, a um projeto de ecoturismo. Bom, o mais difícil é preparar uma visita de estudo sem fazer a mínima ideia do que vamos ver e encontrar. Ainda não consegui que me dessem qualquer informação e não posso pesquisar pois não tenho Internet. O meu trabalho tem sido feito sem impressora (o Pepito já trouxe uma mas agora não temos eletricidade), sem viatura, sem Internet e agora sem eletricidade com menos possibilidades de carregar a bateria do computador.

Com um caderno B5 e outro material de escritório que trouxe de Portugal vou fazendo o que posso. A maioria das vezes faço as coisas no computador, para ficar com uma cópia, e depois passo à mão para as folhas do caderno (que está a acabar mas aqui há cadernos à venda!). E como a Judith [, francesa,] vai estar fora o fim-de-semana, o que me impedirá de carregar a bateria do computador no seu painel solar, o melhor é ficar-me por aqui pois já só tenho carga para mais 3 horas até à próxima 3ª feira!

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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11301: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (12): As mulheres, as mães...também aqui elas são, na maioria das vezes, o garante do sustento da família

sábado, 23 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11301: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (12): As mulheres, as mães...também aqui elas são, na maioria das vezes, o garante do sustento da família



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > 10 de dezembro de 2009 > Mulheres...

Fotos: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Continuação da publicação do Diário de Iemberém, por Anabela Pires (Parte XII) (*) [, Foto à direita, em Catesse, janeiro de 2012, crédito fotográfico: Pepito]

8 de Março de 2012

Hoje é o dia Internacional da Mulher que também aqui é comemorado. Parece que esta tarde haverá um jogo de futebol entre solteiras e casadas e as casadas querem que eu também vá jogar à bola! Aleguei que sou divorciada e que como tal não posso jogar mas elas não estão convencidas! Se calhar vou mesmo ter de dar uns pontapés na bola! Veremos.

As mulheres, as mães ….. também aqui elas são na maioria das vezes o garante do sustento da família. A Alice tinha-me dito que aqui elas é que trabalhavam e que os homens não faziam nada. Antes de vir perguntei ao Pepito e ele disse-me que os homens trabalham no duro na época das chuvas, altura em que fazem a cultura do arroz e que por isso teria dificuldade em dizer quem trabalha mais. Bem, a minha amostra é muito reduzida mas a Duturna, efetiva da AD, sustenta com o seu salário umas 9 pessoas, pelo menos. Claro que a neta e as sobrinhas netas vêm ajudá-la com muita frequência no trabalho. O marido, o sr. Manuel, que é mais novo do que eu, já não cultiva arroz porque os filhos foram para Bissau. Disse-me que talvez este ano cultive um pouco. 

A Mariama, que é contratada da AD durante a época seca, sustenta umas 12 pessoas. O marido é agricultor mas como os filhos não o ajudam cultiva pouco. Os dois filhos já homens fazem uns biscatos e vão ganhando uns trocos para eles. A Elisa, sobrinha da Mariama, que vive com eles, é negociante mas o que ganha é para si. É a Mariama que tem de pôr todos os dias o arroz e o peixe para as refeições, é a Mariama que tem de fazer o batizado do neto que nasceu. O seu filho mais novo, o Gassimo, que é um menino de bom coração que vai fazer 15 anos mas é miudinho, ajuda a mãe e anda quase sempre atrás dela. Costumo até brincar com ele dizendo-lhe que me parece um cabrito. Os cabritos balem “Mé, Mé” e o Gassimo “Né, né” (mãe em fula). A Pónu, contratada da AD durante a época seca, é viúva, tem 3 filhas e um filho, estão 2 em Bissau com a mãe dela, e ainda a enteada. Além de trabalhar aqui tem um pequeno negócio na tabanca. 

A Fatumata, que tem aqui um trabalho temporário, só 2 vezes por semana, é separada – deixou o marido na Guiné-Conacri por ele ter 4 mulheres. Diz que quer ser mulher única de um homem. Tem umas quantas filhas. Não sei o que faz mais para sustentar a família. Como diz o Abubacar, aqui, em média, uma pessoa trabalha para sustentar 10! E a maioria pensa se amanhã tem arroz para a família comer. Se tem, o depois de amanhã logo se vê. 

Enfim, apesar de mesmo estas mulheres se mostrarem cansadas rapidamente no trabalho do dia-a-dia, não sei se por estarem mal alimentadas, se por estarem efetivamente cansadas ou se porque o trabalho é um mal necessário, a verdade é que ainda assim são elas que se preocupam com a alimentação diária das grandes famílias e é por elas que uma filha chama na hora do parto. Por tudo isso, bem hajam as mulheres de todo o mundo.

Ainda nada escrevi sobre as minhas rotinas diárias, que são um pouco variáveis. Nunca me levanto depois das 7 horas e são muitos os dias em que me levanto às 6 ou antes. É quando acordo. Se me levanto antes das 7 e tenho bateria no computador venho escrever estas linhas. É bom levantar-me cedo pois são quase só as horas em que consigo estar sozinha e ter tempo até para pensar. Tomo o meu 1º pequeno-almoço, fruta e café, às vezes vou aqui ao lado comprar pão ao Mumini, às vezes faço algum pequeno trabalho doméstico, lavo-me, visto-me, faço a cama, como pão com queijo ou manteiga e bebo mais café e às 9 horas gosto de estar na rua e de ir ter com as mulheres e com o suposto jardineiro para ver quais os trabalhos do dia. 

Levo logo o bidão para pôr água a aquecer ao sol e a minha lanterna solar para carregar e às vezes o carregador solar de pilhas que as minhas colegas me ofereceram. As manhãs têm sido até agora quase sempre passadas nos alojamentos que foram sujeitos a grandes limpezas. Agora, que entrámos na fase de manutenção do que foi limpo, ando a ver como convencer o Sambajuma, guarda de dia e suposto jardineiro, a tratar melhor dos canteiros. Anteontem andei com ele a limpar 2 canteiros.

Se o Pepito visse ia zangar-se comigo pois diz-me que às tantas eles dizem “ela que faça”! Penso que o Pepito tem toda a razão mas se eu conseguisse dar a volta ao Sambajuma pela afetividade seria bom para nós e para ele. É “torrão”,  o Sambajuma! Era pescador de rede mas por causa dos copos perdeu tudo. Tem uns 60 e tal anos o que para aqui é muito e parece de facto um velho mas eu sei que ele ainda tem força pois quando vamos à pesca bem o vejo remar e nesses dias não se cansa. Andamos todo o dia na piroga e ele, como eu, não se cansa de estar à pesca mesmo quando não apanhamos nada! Vamos e voltamos a pé com as tralhas e se eu não estou pronta às 9 horas ele fica na maior inquietação. Ser guarda é fácil pois está sentado à sombra da mangueira todo o dia mas jardineiro … ih … dá “canseira”! O canteiro que ele limpou ontem não está devidamente limpo e eu disse-lhe mas … ainda não vi resultados! 

Falamos em francês porque ele cresceu no Senegal e comigo é muito educado e gentil. Ele vê mal, tenho a prova disso quando vamos à pesca, está muito desdentado mas tem uma mulher jovem e bonita e uma filha com uns 7 anos. Tem outras filhas adultas, de outros casamentos, mas as outras mulheres morreram. Mas o safado não se preocupa em alimentar a família! Há dias apareceu uma menina ao pé de nós a falar com ele. Disse-me que era a filha a pedir dinheiro para ir comprar arroz. Ele disse-lhe que não tinha e como a pequena não arredasse pé correu com ela e disse que fosse pedir à mãe dela! 

O Abubacar disse-me que já o mandou embora do trabalho 2 ou 3 vezes mas …. não tem coragem de tirar a este velho os únicos tostões que ele aqui ganha. Outro dia, na reunião que fizemos com todo o pessoal, à segunda vez que o Abubacar o chamou à atenção para aquilo que deve fazer melhor, ele não esteve com meias medidas – abandonou a reunião, e foi-se embora a dizer para o Abubacar “Tu ne me amais pas, tu ne me amais pas”! Mas nos dias em que o Pepito cá esteve não ficou sentado debaixo da mangueira. Ficou na Casa Redonda conforme o Abubacar lhe tinha dito que devia fazer. 

Quando o Pepito cá está cumprem horários e fazem de conta que andam direitinhos. O Pepito vai-se embora e volta tudo ao que é costume. Ele devia aparecer aqui de surpresa! Bem, o melhor trabalhador é o Lama que é guarda noturno e faz também alguns trabalhos de jardinagem, de limpeza de árvores, etc.. É muito, muito gentil, humilde, tudo o que se lhe diz acata e faz bem feito. A Mariama também é boa trabalhadora. Ao princípio dizia-me, quando queria que ela limpasse, por exemplo, pingos de tinta, “não sai”! E eu respondia “sai, sai, Mariama!” E lá ia eu com um esfregão de arame molhado mostrar-lhe que saía. Agora já limpa razoavelmente bem embora às vezes ainda se esqueça de limpar algumas coisas. É boa mulher, a Mariama! Escolhi-a para vir aqui a casa fazer a limpeza semanal, ao acaso, e tive sorte.

Estava a escrever sobre as minhas rotinas e acabei a escrever sobre as pessoas com quem trabalho. Voltarei à minha intenção inicial na próxima vez que aqui me sentar. São horas de me pôr a mexer!

(Continua)

Observ. de LG: Abubacar Serra, eng agr, é o o director do PIC (Programa Integrado de Cubucaré). Desenvolve actividades na área da promoção da fruticultura e horticultura, aproveitamento agrícola dos pequenos vales interiores, gestão comunitária dos recursos florestais e formação de viveiristas. Também faz consultorias no âmbito da fauna selvagem.  (Fonte: AD -Acção para o Desenvolvimento < Equipa)

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Nota do editor:

Último poste da série > 17 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11266: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (11): Todos os europeus deveriam passar aqui 6 meses, inclusive as crianças

domingo, 17 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11266: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (11): Todos os europeus deveriam passar aqui 6 meses, inclusive as crianças


1. Continuação da publicação do Diário de Iemberém, por Anabela Pires (Parte XI) (*) [, Foto à esquerda, em Catesse, janeiro de 2012,  crédito fotográfico: Pepito]

5 de Março de 2012

O gerador avariou-se de todo no dia 1! O depósito da água, ontem, ficou vazio. Agora é mesmo estar em África! Mais uma vez tem sido a lanterna solar e a lanterna de cabeça que o Paulo me deu para a pesca que me têm valido. A Judith, uma jovem francesa da idade da minha Mariana que está em Madina (tabanca que fica a 3 km) a estudar questões genéticas dos chimpanzés, fez-me o favor de levar o computador para o carregar no painel solar. Comprei 2 litros de gasolina para a Satu pôr o pequeno gerador que tem no restaurante a trabalhar e carregar o meu telemóvel. 

A água é o mais complicado pois o poço da tabanca fica longe daqui mas os meus vizinhos já ontem providenciaram para que não me falte água em casa. Aqui, mesmo quando há água na torneira, tenho bem a noção da sua preciosidade e por isso quase toda a água é reaproveitada. É difícil tomar banho de água completamente fria e por isso todas as manhãs ponho um bidão com 10 l de água ao sol. É o termómetro, quanto mais quente está a água à noite mais quente esteve o dia. Depois ponho a água numa grande bacia e tomo banho de púcaro. A água restante vai para o balde da esfregona ou serve para pôr roupa de molho ou para regar as plantas dos meus canteiros. Só quando a água tem muito detergente é que é atirada para o terreiro. Só não costumo deitar água suja de lavar a loiça na sanita para não a engordurar mas agora tenho de repensar esta questão.

Tudo aqui tem um valor bem diferente do que tem na Europa. Há dias, um turista italiano, antes de se ir embora, ofereceu-me uns quantos sacos de plástico forte, daqueles pretos que usamos em Portugal para o lixo, mas fortes. A alegria que senti! Parecia que tinha recebido uma grande prenda! Uma garrafa de água de plástico vazia tem aqui um enorme valor, as pessoas fazem de tudo para ficarem com elas pois servem-lhes para imensas coisas. A minha saboneteira é uma caixa vazia de queijo Filadélfia que comprei em Bissau quando vim. Guardo latas (já tenho uma de leite Nido em cima da secretária com elásticos e pioneses, todas as semanas gasto duas de refrigerantes que são os cinzeiros da casa de banho e da varanda), garrafas de cerveja vazias (tenho 4 para o que der e vier), sacos de plástico que não estejam rotos (a maioria dos que há aqui rompem-se logo porque são muito rascas) são lavados e reutilizados, caixas da manteiga vazias são lavadas e guardadas (servem para dar de comer aos gatos, para levar para a pesca para pôr o isco, para o que fizer falta), o frasco do creme de dia foi bem lavado e agora está com canela. 

Diferentemente do que as pessoas fazem aqui, eu separo o lixo – queimo os papéis e cartões que não reutilizo, as beatas, garrafas, latas e plástico sem utilidade vão diretamente para o poço seco e o lixo orgânico vai para os gatos, para as cabras ou é atirado para o mato. Quero aprender a fazer composto mas sem Internet tudo é mais difícil. Creio que já convenci o Abubacar a fazermos uma pequena horta aqui ao pé de casa. O Abubacar é engenheiro agrícola, especialista em horticultura e fruticultura e é fruticultor mas ….. como não estão habituados a comer legumes não fazem horta pois a rega dá muito trabalho. Mas assim que voltarmos a ter gerador, e consequentemente água, vamos fazer os viveiros. 

Também não sei por que razão é tão difícil comprar aqui papaias. Ontem um senhor em Camucote disse-me que a papaieira não se dá muito bem nesta região. Aqui há muitos citrinos – laranjas, mandarinas, diversas variedades de limões. Se não posso comparar os citrinos com os do Algarve considero, no entanto, um privilégio tê-los com fartura. 

Tudo aqui me sabe muito bem. Aquilo que mais facilmente conservo em casa (sem frigorífico) para o pequeno-almoço é queijo de bola que mando vir de Bissau. Ah, como me sabe bem o queijo de bola! Há dias dei à Judith, a francesa que vive em Madina em condições muitíssimo piores que as minhas, um pedaço de pão com queijo! Que alegria lhe proporcionei! 

Todos os europeus deveriam passar aqui 6 meses, inclusive as crianças. Como não têm brinquedos ocupam-se a maioria do tempo a fazer algum trabalho. No sábado acordei com espírito de agricultora, mas como não podíamos ir fazer os viveiros porque não tínhamos água, resolvi limpar os canteiros de flores da minha casa e da dos meus vizinhos. Já tinham demasiadas folhas secas e os do meu vizinho outras sujidades. Passados uns minutos tinha ao pé de mim o Mamadu e o Alaje! Eu não queria que eles saltassem para dentro dos canteiros pois pisam as plantas mas tive que os pôr a fazer alguma coisa para os dominar. Assim, eu ia tirando as folhas e eles iam levá-las ao monte onde são colocadas para depois serem queimadas. Primeiro iam levá-las na bacia velha ou no balde mas depois foram buscar a carreta. E tive que pôr ordem no assunto para irem à vez com a carreta. Levar as folhas na carreta é para eles um divertimento. 

E assim passei a manhã de sábado a limpar os canteiros com os dois garotos. No fim estava imunda de suor, de terra e fui tomar um duche de água fria do chuveiro. À tarde a Mariama veio com o Gassimo limpar a minha casa e mudei o meu quarto para o detrás pois é muito mais fresco. Dormia no Tarrafe (nome de uma das minhas divisões que quer dizer mangal) e agora durmo no Tagara (nome de uma árvore). É que o calor está a começar e dou comigo a suar em bica! E isto ainda não é nada pois em Abril e Maio é que o calor é mesmo a sério. Vamos ver como me adaptarei.

A limpeza da casa, esta semana, era para ter sido feita na 6ª feira mas a nora da Mariama, a Mariatu, começou com dores de parto e a Mariama teve de ir para casa. O Arnold e a Sónia, um casal alemão que viveu aqui na Guiné nos anos 80 e que até cá tiverem um filho, estiveram cá com o Pepito assim como uma sua amiga guineense, a Luana, que vive em França há muitos anos e tinham-se ido embora depois do almoço. Assim, fiquei pelo restaurante com a Satu até que ela resolveu que iríamos ver como o parto estava a decorrer. 

Na casa da Mariama, num quarto exíguo de espaço livre, porque quase todo ocupado com uma cama de casal, encontrei deitada no chão, em cima de uma manpufa (esteira mais grossa e macia onde as pessoas se deitam), a Mariatu, completamente nua. Por detrás dela estava a Fatumata sentada e que servia para a Mariatu passar os braços por detrás dela e fazer força. À frente da Mariatu estava a matrona (parteira) a controlar o andamento do parto e a Mariama e a Duturna a massajarem as pernas da parturiente. Depois a Mariama passou também para trás da Fatumata para ser mais uma a ajudar a rapariga a fazer força. A Mariatu chorava e queria gritar mas as fulas não querem que as parturientes chorem nem gritem. A rapariga já tinha chorado no primeiro parto, o que segundo as fulas é muito mau, pois se chora no primeiro vai chorar sempre. 

A Dra. Sónia, a alemã, que é médica materno-infantil e fala crioulo, ainda foi ver a parturiente mas o parto estava demorado e eles tinham de partir para Bissau. A Mariatu chorava, baixinho, chamava pela mãe em fula (né, né), mas a mãe já faleceu. A matrona dizia que estava quase a nascer. A Satu, que está habituada a ajudar aos partos, estava numa inquietação por ouvir a jovem chorar e quando ela quis gritar a Satu quis tapar-lhe a boca com um pano. Resolvi então agarrar na Satu e vir a casa buscar cigarros. Demoramos a vir e ir uns 15 minutos e quando lá chegámos o “bichinho” já tinha nascido! Para alegria da avó nasceu um rapaz. O casal já tinha uma menina. No chão, em cima da esteira e de um pano, estava o bebé, a placenta, e um jorro de sangue no chão. 

Meu Deus, entre esta cena ou a do nascimento de um bezerro a diferença não deve ser muito grande. A matrona, que, diga-se, tinha uma luva na mão direita, cortou o cordão umbilical e de seguida lavou o bebé em água fria. Tirei então uma foto ao bebé nas mãos da matrona. A Mariatu quis fazer xixi, chegaram-lhe um penico, começou a tremer de frio, voltou a deitar-se no chão e cobriram-na. Mas não havia pressa em tratar da mãe. Peguei um bocadinho no bebé, fiz uma carícia à Mariatu, dei-lhe os parabéns, agradeci a todas as mulheres em fula (Jarama, jarama) e vim-me embora pois achei que a Mariatu precisava de ser cuidada e de sossego. 

Tive pena de não ter assistido mesmo ao nascimento pois nunca vi nenhum mas certamente terei outras oportunidades. Felizmente tudo correu bem e a moça esteve pouco mais de cinco horas em trabalho de parto. Mãe e filho estão bem. Penso que não suportaria assistir a uma cena destas que acabasse mal, como acabam muitas aqui. E ao ver tudo isto pensava-nos no hospital, rodeadas de cuidados, e tão cheias de medo. E a Mariatu deitada numa manpufa no chão.

[ Fotos, acima, Iemberém, dezembro de 2009: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados]
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 9 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11217: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (10): Nunca pensei vir a gostar deste arroz e não me aborrecer de o comer praticamente todos os dias