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domingo, 29 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16144: Ser solidário (197): Ler faz crescer - uma alegria em Cumura: texto e fotos dos nossos amigos Ana Maria Gala e João Martel















Guiné-Bissau > Cumura >  Missão da Cumura > A nova biblioteca!


1. Mensagem dos nossos amigos Ana Maria e João Martel:


Foto da página do Facebook  Um Pé na Guiné

 Data: 16 de abril de 2016 às 22:16

Assunto: Ler faz crescer - uma alegria em Cumura


Não podíamos deixar de partilhar com os amigos deste projecto "um pé na Guiné" mais esta grande alegria!

Damos graças a Deus e desejamos que uma luz única e maravilhosa se abra em cada uma destas pequenas mentes.

Agradecemos profundamente a todos os amigos e benfeitores que vão tornando isto possível.

Um abraço da Guiné!

Ana Maria e João

2. Ser solidário > Um pé na Guiné > 13 de abril de 2016 > Ler Faz Crescer!


[Um pé na Guiné: projeto criado por dois jovens profissionais portugueses, um médico, João Martel,  e uma professora do 1º e 2º  nciclos,, Ana Maria Gala,  que se propuseram a colaborar, pelo período de um ano, com a Missão de Cumura - uma missão humanitária Franciscana, na Guiné-Bissau. Cumura é uma pequena aldeia que se situa a 12 km de Bissau e que há mais de 50 anos conta com a presença Franciscana. Estes jovens, e nossos amigos, nossos grã-tabanqueiros, estão aqui deste setembro de 2015... e vão ficar  até ao próximo mês de junho, portanto mais uns dias ou mais umas semanas. O seu objetivo é(era) trabalhar para a continuidade da missão e para a formação de recursos humanos, colaborando no hospital e na escola de Cumura.  Parabéns pela obra feita e sobretudo pelo exemplo generoso e solidário. Bom regresso a casa.  LG]


Texto e fotos por  Ana Maria Gala e João Martel

– "É amanhã que libertamos aquela sala!"..,
– "Já pedi para limparem a sala",..
– "Tem de ser aquela, tem mais luz"...

Muito andávamos a conspirar para começar os trabalhos da nova biblioteca dos mais pequenos. Hesitações sobre o espaço, a disposição das estantes, a catalogação das obras, os novos bibliotecários a contratar e ensinar… Como em todos os empreendimentos, havia que começar!

Num sábado de Fevereiro pela manhã, arregaçámos as mangas, caixotes para dentro do carro, panos na mão e entrámos em acção! Uma pequena equipa de trabalho de 5 maduros fez-se ao pó e às tralhas da velha sala de professores, para fazer nascer ali um novo espaço para o conhecimento. Fazer a triagem dos materiais ali esquecidos, dar o justo destino aos livros de ponto do século passado, tirar grandes teias de aranha, arrastar as pesadas estantes,  tudo se justificava para aproveitar a boa luz daquela sala! Os professores iriam ter um novo espaço também, mais funcional e arrumado.
Desencantaram-se algumas mesinhas que os amigos de Itália tinham doado, reaproveitaram-se estantes que não estavam em uso e, praticamente a custo zero, o novo espaço começou a ganhar forma.

Para dar as boas-vindas aos nossos alunos, prontificou-se o nosso amigo “Honório Leitor” – um pequeno peixe que tinha chegado aos mares da Guiné, pela amizade de quem o enviou de Portugal, e que encontrou o seu lugar de anfitrião.

Se o Honório já tinha lugar….. era hora de inaugurar! E assim foi: no dia 31 de Março, fez-se a abertura e apresentação do espaço aos professores e alunos. A curiosidade já era muita e, ao verem a sua nova biblioteca, os sorrisos mostraram-se, com ânsia de folhear aqueles mundos desconhecidos (e houve quem o fizesse logo, não conseguindo esperar).

No fim da apresentação a cada turma e respectivos professores, muitos agradeceram a generosidade dos amigos de Portugal. Os professores salientaram a importância desta doação para os alunos de Cumura, dado que as crianças e jovens na Guiné têm muito pouco acesso a livros, no geral, e particularmente a literatura adaptada à sua idade.

O funcionamento da biblioteca só é possível garantindo o apoio e vigilância do espaço nos períodos da manhã e da tarde. A escola comprometeu-se com a contratação de dois bibliotecários, dois jovens da comunidade de Cumura, um deles ainda aluno do Secundário. Têm recebido alguma formação e começaram já a desempenhar as suas tarefas de forma aplicada, recebendo uma pequena quantia mensal.

Desde a abertura da biblioteca, assim que toca a sineta, fazem-se corridas para chegar primeiro, já que a capacidade do espaço não é grande (cerca de 18 alunos sentados). Muitos decoram o lugar do seu livro na estante para conseguir apanhá-lo antes de outros.

E a nós é isto que nos faz correr. Os resultados são bonitos de se ver.

Nota: Esta biblioteca só se tornou possível com o contributo de muitos amigos e benfeitores de Portugal. Desde a doação, à reunião, triagem e encaixotamento, expedição e recepção dos livros, inúmeras pessoas trabalharam afanosamente para este resultado. Queremos lembrar aqui:

– Familiares e amigos – em especial a Inês Martel e a Maria e Isabel Gala, que foram pontos de contacto, embaladoras e verdadeiras promotoras e dinamizadoras deste projecto;

– Os alunos do Secundário do Liceu Pedro Nunes, que reuniram e continuam a reunir várias obras para os colegas de Cumura;

– A Fundação João XXII [, com sede em Ribamar, Lourinhã], que tornou possível o transporte da maioria destas obras para a Guiné, sem custo para nós;

– Os colaboradores da Fundação Calouste Gulbenkian, que se mobilizaram para reunir um conjunto importante de obras de literatura infanto-juvenil.

__________________

Nota do editoral:

Último poste da série > 5 de março de  2016 > Guiné 63/74 - P15822: Ser solidário (196): Vamos ajudar a ONGD "Ajuda Amiga", com a consignação de 0,5% do IRS... Notícias: A "Ajuda Amiga" (i) tem novo sítio na Net; (ii) tem novos corpos sociais para o biénio de 2016-17; e (iii) os seus dois cententores deste ano já chegaram a Bissau (Carlos Silva)

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13215: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (11): Camarada traz outro camarada, amigo traz outro amigo... Com o Joaquim Jorge, de Ferrel, Peniche, ex-al mil da CCAÇ 616 (Empada, 1964/66), somos já 92 os magníficos grã-tabanqueiros e seus acompanhantes que vamos estar juntos e conviver em Monte Real, no dia 14 de junho próximo... Continuam abertas as inscrições



Lourinhã, Ribamar > Festa anual em honra de N. Sra. Monserrate > 14 de outubro de 2013 > Almoço anual de convívio de amigos do Oeste, organizado pelo Eduardo Jorge Ferreira > Na foto, dois camaradas que estiveram no TO da Guiné, e que são ambos naturais do concelho de Penicge: (i) em primeiro plano, o Joaquim da Silva Jorge, natural de Ferrel, ex-alf mil, CCAÇ 616 / BCAÇ 619, que esteve em Empada (1964/66); e a seguir, (ii) o António Miguel Franco, natural de (ou residente em) Casal Salgueiro, lugar da Estrada, Atouguia; foi capitão miliciano (não sei de cor qual a unidade que ele comandou e em que época; creio que foi já no final da guerra).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem, de 28 do corrente, que mandei ao meu amigo e vizinho (eu, da Lourinhã, e ele de Peniche) Joaquim da Silva Jorge, bancário reformado, ex-alf mil da CCAÇ 616 (Empada, 1964/66):

Joaquim :

Não queres aparecer em Monte Real no IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (*), ou seja, do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que reune já 658 camaradas (e amigos), membros registados desde 23 de abril de 2004, e dos quais 5% infelizmente já morreram ?...

Como sabes, somos uma "espécie em vias de extinção", os ex-combatentes que andaram por aquela terra verde e vermelho que, apesar de tudo,  nos ficou no coração... Da malta tua conhecida, lá do nosso oeste estremenho, vai aparecer: além de mim, o Jorge Pinto (Alcobaça) e  o Eduardo Jorge Ferreira (Vimeiro, Lourinhã).

Há mais de 3 mil marcadores no blogue... Um deles é o "Joaquim Jorge" (com 2 referências; sabias ? clica aqui) .

Monte Real fica a meio caminho do norte e do sul... Já temos neste momento, 83 inscrições [, 92, ao im da tarde de hoje], a duas semanas e meia do encontro, que é a 14 de junho, sábado, no Palace Hotel MOn te Real... Há missa às 11h30, e depois convívio, muito convívio.... O serviço de catering, por 30 morteiradas, inclui aperitivos (13h), almoço (14h) e lanche ajantarado (17h30).

Aparece e traz mais um camarada...

Um alfabravo (ABraço) fraterno. Luis

2. Resposta imediata do nosso camarada Joaquim da Silva Jorge:
Data: 29 de Maio de 2014 às 11:21

Assunto: Convívio da Tabanca Grande,  Monte Real, 14 de Junho

Amigo Luís Graça:

Já tirei licenciatura,  mestrado e estágios em convívios, de maneira que não posso deixar a prática de fora.

Se Deus me permitir, lá estarei em Monte Real no próximo dia 14 de Junho. Recordar é viver e eu quero viver enquanto puder porque depois vamos estar mortos muito tempo.

Aproveito para te informar que o convívio anual da CCAÇ 616, este ano,  será nos dias 26 e 27 de Julho, como de costume no Hotel Pax em Fátima. Comemoramos este ano os 50 anos da partida para a Guiné (08/01/1964). Agradeço que divulgues esta informação.

Por acaso consegues saber o contacto da filha do cabo nº 2514 Fernando Ferreira da minha companhia, falecido em 1991? Podes fazer o favor de me dar o e-mail do Francisco Galveia que era o cifra da minha companhia. Desculpa-me tanto incómodo da minha parte.

Um abraço do
Joaquim Jorge

3. Mensagem, de resposta, de L.G.:

Joaquim:

É com alegria que recebo o desejo de estares com a rapaziada da Guiné que acompanha o nosso blogue, gente de todos os tempos e lugares... Já dei conhecimento ao Carlos Vinhal,. da comissão organizadora, do teu pedido de inscrição.

Vou divulgar a notícia do vosso encontro, que é só em julho. Mas dá-me mais pormenores, manda-me o programa..

E já agora, e partindo do princípio que aceitas o meu convite para integrar a Tabanca Grande, manda-me uma ou mais fotos do teu tempo de Guiné, além de uma atual, tipo passe... Se tiveres uma história ou episódio para contar, melhor... É só esse o preço de ingresso: 2 fotos + 1 história... Faço questão de ser a aprensentar-te às tropas em parada...

Se responderes na volta do correio, serás o grã-tabanqueiro nº 659 ou 660... Mas estás à vontade: não é obrigatório fazer parte (formalmente falando) do blogue para ires ao encontro, em Monte Real, dia 14 de junho... (Este, o de 2014, é já a 9ª edição). Mas tem vantagens para ti e para todos: divulgação de iniciativas, publicação de histórias, partilha de memórias, contactos com a tua malta, etc.).

Aqui tens os contactos pedidos (endereços de email]  da malta da tua companhia (o 1º cabo cripto Francisco Monteiro Galveia e a filha do 1º cabo Ferreira, a Ana Paula Ferreira, a quem dou conheciomento desta mensagem, além dos nossos amigos Jorge Pinto e Eduardo Jorghe Ferreira com quem espero também estar no Vimeiro, a 28 de junho):

Um abração,
Luis
___________________

LISTA DOS  92 INSCRITOS, ATÉ HOJE,  NO NOSSO CONVÍVIO ANUAL, EM MONTE REAL, em 14 DE JUNHO DE 2014. 


[AS INSCRIÇÔES CONTINUAM ABERTAS} (**):

Agostinho Gaspar (Leiria)
Alcídio Marinho e Rosa (Porto)
António Faneco e Tina (Montijo / Setúbal)
António Fernando Marques e Gina (Cascais)
António José Pereira da Costa e Isabel (Mem Martins / Sintra)
António Manuel Sucena Rodrigues + Rosa Pato, António e Ana   
              Brandão (Oliveira do Bairo)
António Maria Silva (Cacém / Sintra)
António Martins de Matos (Lisboa)
António Rebelo (Massamá / Lisboa)
António Sampaio & Clara (Leça da Palmeira / Matosinhos)
António Santos, Graciela & mais 7 do clã (Caneças / Odivelas)
António Sousa Bonito (Carapinheira / Montemor-o-Velho)
Arménio Santos (Lisboa)

C. Martins (Penamacor)
Carlos Vinhal & Dina (Leça da Palmeira / Matosinhos)

David Guimarães & Lígia (Espinho)
Delfim Rodrigues (Coimbra)

Eduardo Campos (Maia)
Eduardo Jorge Ferreira (Vimeiro / Lourinhã)

Fernando Súcio (Campeã / Vila Real)
Francisco (Xico) Allen (Vila Nova de Gaia)
Francisco Baptista e Fátima Anjos (Aldoar / Porto)
Francisco Palma (Estoril / Cascais)

Hugo Guerra, Ema e neto Daniel (Marvila / Lisboa)
Humberto Reis e Joana (Alfragide / Amadora)

Idálio Reis (Sete-Fontes / Cantanhede)

João Alves Martins (Lisboa)
Joaquim Gomes Soares e Maria Laura (Porto)
Joaquim Luís Fernandes (Maceira / Leiria)
Joaquim Mexia Alves (Monte Real / Leiria)
Joaquim Nunes Sequeira e Mariete (Colares / Sintra)
Joaquim da Silva Jorge (Ferrel / Peniche)
Jorge Cabral (Lisboa)
Jorge Canhão & Maria de Lurdes (Oeiras)
Jorge Loureiro Pinto (Agualva / Sintra)
Jorge Rosales (Monte Estoril / Cascais)
José Barros Rocha (Penafiel)
José Casimiro Carvalho (Maia)
José Louro (Algueirão / Sintra)
José Manuel Cancela e Carminda (Penafiel)
Julio Costa Abreu e Richard (Holanda)
Juvenal Amado (Fátima / Ourém)

Luís Encarnação (Cascais)
Luís Graça & Alice (Alfragide /Amadora)
Luís Moreira (Mem Martins / Sintra)

Manuel Augusto Reis (Aveiro)
Manuel Joaquim (Agualva / Sintra)
Manuel Resende, Isaura e Palmira Serra (Cascais)
Manuel dos Santos Gonçalves e Maria de Fátima (Carcavelos / Cascais)
Mateus Oliveira e Florinda (Boston / EUA)
Miguel Pessoa & Giselda (Lisboa)
Mário Gaspar (Lisboa)

Raul Albino e Rolina (Vila Nogueira de Azeitão / Setúbal)
Rui Silva e Regina Teresa (Sta. Maria da Feira)

Vasco da Gama (Buarcos / Figueira da Foz)
Virgínio Briote e Irene (Lisboa)

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 29 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13207: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (10): Inscrevo-me para reviver um pouco da amizade, embora os camaradas, em Monte Real não sejam aqueles com quem convivi, sei que estão irmanados no mesmo sentimento (Francisco Baptista)

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12159: Convivios (539): Pessoal da CCAÇ 616 / BCAÇ 619 (Empada, 1964/66), em Fátima, nos dias 19 e 20 do corrente (Joaquim Jorge, ex-alf mil, natural de Ferrel, Peniche)


Lourinhã, Ribamar > Festa anual em honra de N. Sra. Monserrate > 14 de outubro de 2013 > Almoço anual de convívio de amigos do Oeste > O Joaquim da Silva Jorge, natural de Ferrel, Peniche, ex-alf mil, CCAÇ 616 / BCAÇ 619, que esteve em Empada (1964/66).

Foto: © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do meu amigo e nosso camarada Joaquim da Silva Jorge, com data de hoje:



Vai realizar-se no próximo fim de semana, dias 19 e 20 de Outubro, o convívio anual da CCAÇ 616.

O encontro será em Fátima no Hotel Pax. 

A receção será a partir das 14 horas de sábado. Ás 18h30 será a missa, seguindo-se o jantar. Depois do jantar teremos um animado serão com música e baile.

Um abraço do Joaquim Jorge.


2. Comentário de L.G.:

Estive, há dias, em Ribamar, por ocasiões da festa anual da terra, em honra de Na. Sra. Monserrate com uma série de amigos e camaradas da região Oeste, uma boa parte dos quais passou pelo TO da Guiné, durante o período da guerra...

O convívio (, a pretexto de um boa caldeirada, ou não estivessemos nós em terra de gente do mar, terra dos meus antepassados Maçaricos,) foi organizado mais uma vez pelo Eduardo Jorge Ferreira, nosso grã-tabanqueiro, ,ex-alf mil da Polícia Aérea (BA12, Bissalanca, 1973/74), natural de A-dos-Cunhados, Torres Vedras, e que está connosco na Tabanca Grande desde 31/8/2011.

No grupo de convivas, de várias zonas do oeste (Lourinhã, Peniche, Cadaval, Torres Vedras, Mafra, Caldas da Raínha, Alcobça, etc.), fui encontrar alguns "velhinhos" da guerra da Guiné, gente dos primórdios, mas também "periquitos", gente que fechou a guerra e as portas do império...

O Joaquim da Silva Jorge, ou simplesmente oaquim Jorge,   é dos "velhinhos". Reformado da banca (onde foi prospetor, trabalhando muito em Ribamar nessa qualidade...), o Joaquim Jorge é natural de Ferrel, Peniche, tendo sido all mil na CCAÇ 616 / BCAÇ 619, que esteve em Empada (1964/66).

De espírito jovial, o Joaquim Jorge contou-me alguns dos episódios que marcaram a história da sua companhia. Num dada altura, ele teve mesmo que assumir o comando, em substituição do capitão. por razões que já não fixei. Vem, desse tempo,  um forte ligação ao pessoal da companhia, que todos os anos se encontra.

O Joaquim Jorge visita o nosso blogue, conhece os nomes de camaradas que estiveram em Empada depois dele (o Zé Teixeira, o Xico Allen...) mas ainda arranjou pachorra para pedir a sua integração na nossa Tabanca Grande, com direito a guarda de honra e tudo. Aproveito o ensejo para o convidar. Pedi-lhe também para me mandar a notícia do próximo convívio, o que prontamente já fez.


3. Informação complementar:

 O BCAÇ 619 esteve sediado em Catió, ao tempo de camaradas nossos como o J.L.Mendes Gomes (ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil e Catió, 1964/66).

Deste batalhão também é o nosso tabanqueiro João Sacôto (ex-Alf Mil da CCAÇ 617/BCAÇ 619, CatióIlha do Como e Cachil, 1964/66), que muito provavelmente conhece o Joaquim Jorge. O seu nome completo  é João Gabriel Sacôto Martins Fernandes. Entrou para a Tabanca Grande em 29/12/2011. E já aqui contou uma série de histórias da sua unidade. O nosso grã-tabanqueiro nº 532 era amigo do João Bacar Jaló.

Da mesma CCAÇ 616 / BCAÇ 619 [ e não da CCAÇ 617, como aparece por erro num dos nossos postes] também era o já falecido 1º Cabo Fernando Ferreira [foto à direita]... 

O 1º Cabo nº 2514, Fernando das Neves Ferreira, da CCAÇ 616 / BCAÇ 619 (Bissau, Empada, Pirada, Bigene, Ilha do Como, Bafatá, 1964/66), mais conhecido por Cabo 14, está representado na nossa Tabanca Grande pela sua filha Ana Paula Ferreira, desde 2006.

O Cabo 14 morreu precocemente aos 48 anos, em 1991. A filha escreveu sobre ele um texto comovente, em 9/4/2006, e dedicou-lhe um blogue... Foi desenterrar também problemas da vida militar e disciplinar do pai. (Talvez por isso, o Joaquim Jorge, que ficou a comandar a companhia, desde 17/7/65, me tenha pedido o mail da Ana Paula Ferreira, o que já lhe facultei).

Do mesmo batalhão, mas da outra companhia, a CCAÇ 618, temos o João Henrique Pinho dos Santos. Ex-Alf Mil Inf da CCaç 618 / BCAÇ 619,  o João esteve em Susana e Binar no período 1964/66.

Falta-nos, portanto, e se não erro,  um digno representante, vivo,  da CCAÇ 616 (que veio substituir a CCAÇ 417). O Joaquim Jorge vai-nos dar essa honra, a  de aceitar o nosso convite para desempenhar  esse papel, o de primeiro representante da CCAÇ 616. Joaquim, fico à espera de uma foto desse tempo, e de um pequena história, como é da praxe, para complementar os procedimentos para a tua entronização. Pode ser a/s) história(s) do Cabo 14. Gostei de te ver. Um Alfa Bravo. Luis. (**)

PS - Da CCAÇ 616 temos aqui um história contada  pelo Toni Borié, que vive nos States. Será que o Joaquim  Jorge se lembra do 1º cabo Fialho, que era natural Rio Maior, e que depois da peluda  foi emigrante na América   ?  (***)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4 de outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1148: Cabo 14, um blogue de homenagem de uma filha a seu pai (Ana Ferreira)
  
(...) Entretanto nas minhas diligências, e através do esforço impagável do Sr. Ilídio Costa, sei agora com todos os detalhes qual a companhia de meu pai, Fernando das Neves Ferreira: Companhia de Caçadores nº 616, 3º Pelotão, 1ª secção, atirador, soldado nº 2514/63. Os castigos disciplinares foram alguns e as despromoções também, tendo posteriormente sido transferido para a CART 676/RAP 2,  em Setembro de 1965.

No documento que me foi tão gentilmente fornecido dizia ainda que "esta Companhia, após o desembarque do Batalhão nesta Província em 15.1.64, ficou em Bissau às ordens do Quartel General. Passou novamente a pertencer ao Batalhão em 8.4.64 quando rendeu em Empada a CCAÇ 417. Nesta altura veio comandada pelo Sr. Capitão Mil António Francisco do Vale. Em 2.5.64 este Capitão foi rendido no Comando da Companhia pelo Sr. Capitão José Pedro Mendes Franco do Carmo. Presentemente está sendo comandada desde 17.7.65 pelo Alferes Mil Joaquim da Silva Jorge, em virtude do Sr. Capitão Franco do Carmo ter sido evacuado para a metrópole por doença". (...)


(**) Último poste da série > 14 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12151: Convívios (536): Almoço de confraternização no passado dia 14 de Setembro em Salicos e XX Convívio dos Combatentes do Ultramar, a levar a efeito no próximo dia 20, iniciativas do Núcleo de Lagoa/Portimão da Liga dos Combatentes (Arménio Estorninho)



(...) Também esteve por um pequeno período de tempo na povoação de Catió, onde encontrou pessoal de Rio Maior, lembra-se do seu grande amigo, o Zé de Alfruzemel, pois juntos cozinhavam grandes “patuscadas” para todo o pessoal. Nunca mais lhe saíram do seu pensamento os chuveiros do aquartelamento em Empada, que traziam água quente a cheirar a enxofre, e “encarnada”!.

De uma vez andaram trinta quilómetros de noite, carregados, chegando pela manhã, em auxílio de um batalhão que estava em dificuldades. Os guerrilheiros quando souberam que estavam a chegar os militares da companhia de Empada, fugiram, pois os caçadores da Companhia 616, já eram famosos.(...) 


sexta-feira, 23 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9647: Blogoterapia (202): Louvo e peço a benção de quem vela por nós (Ana Paula Ferreira, filha do ex-1º cabo Fernando Ferreira, o cabo 14, da CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió e Cachil, 1964/66)

1. Mensagem da nossa amiga Ana Paula Ferreira*, filha do ex-1.º Cabo Fernando Ferreira (mais conhecido por Cabo 14, da CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió e Cachil, 1964/66) [, foto à esquerda], com data de 16 de Março de 2012:

Peço verdadeiras desculpas por não seguir o protocolo, que só existe para facilitar a comunicação entre todos. Tenho lido vários postes. Vivo em Braga e aqui existe uma "subsidiária" da Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra. Deixo o meu apelo: não hesitem recorrer a esta associação.

Em primeiro lugar,  a minha mãe recebeu mil e tal euros, pelo tempo que o meu pai passou na Guiné (para ela, uma verdadeira fortuna). Temos também, como sócios, à nossa disposição e por 10 Euros, psicólogo, psiquiatra e assistência jurídica. Eu tenho usufruído da ajuda de um psiquiatra, que, quando lhe falo da Guiné, não tenho que esmiuçar. Posso ficar calada. Ele sabe do que falo e meus amigos, eu nunca estive na Guiné (isto só conseguiria ser explicado com postes  anteriores).

Louvo e peço a benção de quem vela por nós, pelo trabalho exaustivo que fazem por todos nós, veteranos e filhos de veteranos. A mim trouxeram-me o conforto da partilha (de forma detalhada também): tentei, em vão, como já disse anteriormente, e, agradeço do fundo do coração, a quem retransmitiu a mensagem que enviei, comunicar com os colegas do meu pai. Os que atenderam o telefone... são almas tristes e frustradas: os filhos abandonam sem compreender ou então nem sequer admitem terem estado onde estiveram, na altura em que estiveram.

Lamento profundamente a falta de ajuda que estes homens tiveram. Ou continuam a ter. Nem todos têm um computador, ou a alma gentil de alguém que os guie por estas terras menos conhecidas e muito menos perigosas do que algumas vezes enfrentaram, mas a ingratidão e ignorância grassam e asfixiam. Sei que não tenho de dizer mais.

Concluo. A todos aqueles que se julgam ignorados: Não são e nunca o serão,  enquanto pessoas como eu existirem... e são muitas.

A todos os que desistiram e amarguram: Há outros como vocês, que falam do mesmo, queixam-se do mesmo, acreditem, não estão sozinhos. Nunca estarão.

Vivam todos aqueles que,  obrigados,  viram as suas tvidas ransformadas para sempre, sem recurso, nem apelo. Bem hajam os que nunca aceitaram a morte.

Os meus cumprimentos mais respeitosos,

Ana Paula Ferreira, filha de Fernando das Neves Ferreira , intrépido Cabo 14, cujo coração desistiu a 23 de Janeiro de 1991, com apenas 48 anos. Saúdo-te pai e todos os teus colegas de armas e de coração. Alguns de vocês ainda por aí, mas sem quererem "falar no assunto". Eu sei. Dói. A mim também. De forma diferente, já sei, não estive no mato. De corpo e alma, não, só de alma.

Bem hajam.
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7731: Blogoterapia (176): Assinar a petição dos ex-combatentes e lembrar tempos difíceis de meu pai (Ana Paula Ferreira)

Vd. último poste da série de 16 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9615: Blogoterapia (201): De Nova Iorque com saudade e camarigagem (João Crisóstomo, ex-Alf Mil, CCAÇ 1439, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/66)

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7731: Blogoterapia (176): Assinar a petição dos ex-combatentes e lembrar tempos difíceis de meu pai (Ana Paula Ferreira)

1. Mensagem da nossa amiga Ana Paula Ferreira, filha do ex-1.º Cabo Fernando Ferreira da CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió e Cachil, 1964/66:

Olá a todos,
Já não visito o blogue há algum tempo, por isso já não estou muito familiarizada com a forma de comunicar com a Tabanca Grande.

Fora essas "debilidades técnicas" gostava de vos informar que também assinei a petição e com muito orgulho, em nome do meu pai: Fernando das Neves Ferreira.

Falei-vos dele pela primeira vez em 2006*, creio. O blog parou uns meses depois, mas mesmo assim voltava lá de vez em quando, porque me ajudava ler aquelas palavras e ver as fotografias. Tudo era para ele, sobre ele e todos os que embarcaram um dia, para defender a Nação e porque nunca ninguém lhes perguntou se quereriam realmente lutar naquela guerra, matar naquela guerra, ver morrer naquela guerra. A Nação precisava desse sangue? Mas ninguém lhes perguntou e assim não responderam a não ser com as suas vidas e os seus destinos mais ou menos fatídicos. Ninguém lhes perguntou, porque em ditaduras, nada se pergunta, apenas se ordena.

Não tenho visitado o blog, como já referi, mas continuei a ler todos os emails que recebia e continuei as minhas pesquisas, as minhas leituras... ontem ouvi Manuel Correia de Oliveira a cantar Roseira Brava (acrescentei a letra no final do email).

Quando era pequena e passavam aqueles pequenos documentários sobre a Guerra, as imagens eram sempre as mesmas, homens lutando para andar, enterrados em lama e àgua até ao pescoço, com os braços esticados para o céu segurando as armas, caminhando entre vegetação fustigada pelo corropio do helicóptero que se aproximava, carregando dois a dois, longos panos brancos com corpos mutilados... e a música era quase sempre esta: Roseira Brava de Manuel Correia de Oliveira. Por isso quando ontem a ouvi, tornei a ver tudo de novo. E pela primeira vez, hoje, depois de ter conseguido estes dados há mais de dois anos, contactei , ou tentei contactar colegas do meu pai: da mesma secção. Confesso que rezava enquanto marcava o número, não ferir ninguém a perguntar por alguém que poderia já cá não estar. A maior parte dos números já não eram reconhecidos, outros, não atenderam, restando apenas três. Três da lista de secção que eu tinha : 1 atirador, condutor e um furriel.

Tentei da melhor forma explicar porque ligava, até que a senhora que me atendeu, interrompe as minhas desculpas com "está engana, o meu marido nunca esteve na tropa". Titubeei ainda que estava com os dados do senhor à frente, mas a resposta foi irredutível e breve na despedida.O segundo, que sim, tinha estado, mas de repente, quando lhe pergunto se conhecia alguém daquela secção, não, não tinha estado lá como militar, mas como empresário. Mais uma vez apresentei as minhas desculpas pelo engano. Concluí que, ou tinham sido cometidos muitos enganos, nas listas de batalhões, ou então havia alguém que preferia não falar desses tempos.

Mas a parte que me levou a falar disto foi o último telefonema: fui imediatamente advertida que não queria comprar nada (e lembrei-me da minha mãe, que sózinha em casa, cada toque do telefone é um sobressalto de alma quando a maior parte das vezes é de facto alguém a querer vender... qualquer coisa. Este senhor tinha uma voz triste e tão desalentada que o ouvi com o coração apertado (até porque praticamente não me deixou falar muito): os filhos estão longe e indiferentes e sozinho queixa-se do que fez por eles e principalmente dos sonhos que ainda hoje o atormentam; este sim, confirmou lá ter estado, mas foi quase com raiva que se distanciou de pessoas ou pormenores de então. Raiva de muita coisa, raiva de ainda não ter tranquilidade ao cabo de todos estes anos. "É esta vida, que é uma porcaria sabe...". Falei-lhe dos apoios que poderia ter, gratuitamente, ou quase, na APVG, nos grupos imensos de pessoas que se encontram todos os anos e misturam lágrimas com sorrisos, numa catarse daquele mal que nunca saiu completamente; mas já não me ouvia e desligou a chorar.

É muito doloroso saber que fui desinquietar ainda mais alguém que vive enclausurado num mundo em que todos lhes escapam pelos dedos das mãos, e nada lhe fica a não a ser a falta de paz.

Temo que telefonar-lhe de novo, para saber como está, como se sente, seja ainda pior.

E assim termino (tenho um jantar que já deveria estar feito e uma menina que está a reclamar a minha atenção...) com desejos de paz, saúde e muito amor para todos.

Ana Paula Ferreira


2. Comentário de CV:

Cara amiga Ana Paula, muito obrigado pelo seu contacto, pois há muito não tínhamos notícias suas.

Temos que lhe agradecer também o ter assinado a nossa petição, que afinal é de todos os que se sensibilizam pelo abandono e falta de reconhecimento pelo esforço de uma geração que ao longo de 14 anos sustentou uma guerra sem solução e que custou muito sangue à juventude de então.

Se os males do corpo estão mais ou menos solucionados, o do stress pós-traumático de guerra nunca foi devidamente reconhecido, e poucos técnicos de saúde se dedicam a esta problemática. Os apoios e as informações que deviam chegar a quem delas necessita, não chegam, porque também não houve, nem há um rastreio aos ex-combatentes, nesta fase de idade mais avançada em que as depressões são mais vulgares, originadas pela solidão e falta de saúde geral.

Procurei na página do nosso camarada Jorge Santos (http://guerracolonial.home.sapo.pt/) pedidos de contactos do Batalhão ou Companhia de seu pai, e encontrei este contacto: A. Ferreira da CCAÇ 616, telemóvel 961 958 299. Se ainda não contactou este camarada, em princípio ele estará disponível para ser contactado. Não é propriamente da Unidade de seu pai, mas pode ter outros contactos.

Recentemente aderiu ao nosso Blogue um camarada do Batalhão de seu pai, pertencente à Companhia 618, João Pinho dos Santos, ex-Alf Mil. Consulte o Poste 7723 (clique aqui). Mais uma hipótese a explorar.

A propósito, e para que perceba esta coisa das Unidades, informo-a de que um Batalhão, o do seu pai era o 619, era composto por 3 Companhias operacionais.
O Batalhão 619 era composto pelas Companhias 616 à qual pertenceu o A. Ferreira, 617 à qual pertenceu o seu pai e a 618 à qual pertenceu o nosso e camarada e amigo João Pinho dos Santos.
Por sua vez, cada Companhia era composta por 4 Pelotões.
Estamos a falar de Atiradores, porque ainda há que somar a esta gente os Especialistas: Condutores Auto, Transmissões, Enfermeiros, Mecânicos, Cozinheiros e Corneteiros.

Esta explicação é só para lhe dizer que haverá muita gente que se lembrará do Camarada 1.º Cabo Fernando Ferreira. Continue a tentar.

Posto isto, desejo-lhe, em nome da tertúlia, as maiores felicidades, dizendo-lhe que pode voltar ao nosso contacto sempre que queira.

Continue a acompanhar a II Série do nosso blogue em http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

Um abraço do
Carlos
____________

Roseira Brava, letra e música de Manuel Correia de Oliveira

Roseira brava, roseira
Barco sem leme nem remos
Roseira brava é a vida
Que amargamente vivemos.

Roseira brava não tem
Rosas abertas nos ramos
Roseira brava é espinho
Que em nosso peito cravamos.

Roseira brava, roseira
Rosa em botão desfolhada
Roseira brava é teu rosto
Rompendo da madrugada.

Roseira brava no vento
Vai espalhando a semente
Roseira brava é lembrar
Quem se não lembra da gente.

Roseira brava, roseira
Que o sol de Verão não aquece
Roseira brava é o amor
A quem amor não merece.

Roseira brava é o ódio
Que vai minando a raiz
Roseira brava, roseira
Roseira do meu país.

Roseira brava é o ódio
Roseira do meu país.
____________

(*) Vd. poste de 8 de Abril de 2006 > Guiné 63/4 - DCLXXXV: Aerograma de Ana Paula Ferreira: o meu pai, o 1º cabo Ferreira (CCAÇ 617, BCAÇ 619, 1964/66)

Vd. último poste da série de 3 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7714: Blogoterapia (175): O Regresso, ou quem nos quer ainda ouvir (Joaquim Mexia Alves)

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Guiné 63/74 - P1239: Recordando o meu pai: era o silêncio o que mais custava ouvir-lhe (Ana Ferreira)

Amigos & camaradas:

1. Segundo os nossos usos e costumes de cristãos (e antes deles, os antepassados dos nossos antepassados, recolectores-caçadores do Paleolítico Superior), hoje que é dia de lembrar todos os nossos entes queridos que partiram desta vida, incluindo os nossos camaradas que morreram na Guiné, incluindo as centenas que terão ficado enterrados, longe de casa, como o Lourenço, o Peixoto ou o Victoriano (Guidaje, Maio de 1973), ou muitos outros cuja nome a terra e os vivos já apagaram (em Bissau, em Bambadinca, e tantos outros 'cemitérios' militares, já aqui abundamente evocados (1) ...

Mas também podemos e devemos lembrar todos os que morreram precocemente, a seguir à guerra, ou muitos anos depois da guerra, na lassidão da paz que nunca chegaram a conhecer, vítimas de doença física ou mental, vítimas incluindo as do stresse pós-traumático de guerra...


2.
Hoje que é de dia de lembrar, de maneira muito especial, os nossos mortos, mando-vos em primeira mão o testemunho de Ana Paula Ferreira, filha do nosso camarada, o cabo Ferreira, carinhosamente conhecido como o cabo 14... A Ana Ferreira, que eu não conheço pessoalmente, é professora e, além disso, é membro da nossa tertúlia, uma das poucas mulheres, de resto, que têm enviado os seus escritos para o nosso blogue.

É mais um testemunho puro e duro de alguém, de nós, da nossa tertúlia, a quem a guerra dói, ainda dói, e continuará a doer... Emocionou-me o seu testemunho e transmiti-lhe isso, a par do convite para aparecer num próxmo encontro da nossa tertúlia: todos gostaríamos, seguramente, de a poder conhecer.

3. Texto de Ana Ferreira (2):


"Quando regressei estava convencido que ia ser fácil esquecer, mas não foi", diz o José Teixeira (3). Acredito. Não o foi para o José nem para ninguém. Não o foi para os que lá estiveram , de facto, nem para os que viveram esta guerra, através dos que amavam.

Nos primeiros tempos, ainda eu não era nascida, sei que o meu pai acordava banhado em suores frios, gritando. Achava que ainda estava lá..... a minha mãe não conseguia perceber as palavras que proferia..... falava a língua de lá, que nós aqui não chegámos a aprender.

Anos depois contava-nos os episódios mais pitorescos... o riso das hienas, o banho de mar surpreendido por alguns tubarões curiosos... e depois a voz ficava grave e soturna quando se lembrava dos amigos com quem tinha partilhado tudo e que não tinham voltado. A fome, a sede, a falta de dinheiro, os aerogramas para a minha noiva querida, as ladaínhas repetidas sem vontade nem coragem de contar a verdade.

Era o silêncio que mais custava ouvir-lhe, era quando se calava que mais doía. A todos. Tenho pena que não tivesse dinheiro e não tivesse fugido para fora; tenho pena que tivesse que pactuar com algo tão errado; tenho pena que ele próprio achasse que já não havia retorno; apesar da guerra ser errada, a lealdade para com os amigos falava mais alto.

Um dia chamaram o seu nome. Chamaram o seu nome para uma curta viagem a Portugal. A Lisboa. Mas foi outro que embarcou. A sua incorrecção com superiores tinha desfeito o prémio do louvor "com indómita coragem...blah, blah , blah". Indómita, significaria na altura, a adrenalina que vem da certeza da morte demasiado próxima. Daí a vontade de ir para o mato. Tantos já lá haviam ficado, porque não ele?...

Pequeno e franzino mas sempre livre, mesmo sem o saber desafiava o destino, os superiores , a estupidez da guerra. Trouxe fotografias que desafiam a moral, a sanidade, a ética. Trouxe histórias que arrepiam. Sendo apenas um miúdo, revolta-me.

Hoje vivemos com uma geração que não sabe, não conhece, não quer conhecer. Sou professora e invariavelmente acabo por falar deste tema. Alguns alunos sabem que algum familiar esteve em África. Alguns falam em guerra colonial mas sem saber o que significa. Faço questão de lhes falar da História, da nossa História. Não são as datas, mas os factos. Peço-lhes para falarem, com tios, avós; alguém que tenha vivido nessa altura e tenha de facto, sabido, o que significava partir para o Ultramar (É claro que tenho de explicar o significado de Ultramar. É claro que tenho de explicar o que significa colonial. É claro que tenho de explicar o que significa guerra).

"Justiça moral"? Ninguém vai pedir desculpas pelas vidas então destruídas. Mas nós podemos continuar a falar. Ninguém, nem nada nos poderá impedir se assim o desejarmos. É um direiro que nos assiste e não reconhecerei a ninguém, nunca, o direito de mo retirar. Alguém roubou ao meu pai e a milhares de outros Portugueses, Homens e Mulheres, o direito de escolherem as suas próprias vidas. A esses desejo-lhes o Inferno: a falta de paz, de serenidade, de tranquilidade.

Não estou a ser ambiciosa. Lamento apenas, a nível pessoal, que o meu pai não tenha sobrevivido até hoje, para eu lhe poder contar, como tantos outros, ainda hoje se reunem e falam do que ele silenciou durante a sua curta vida. Afinal ele não estava sozinho nas suas recordações. Posso imaginar a sua comoção ao reencontrar amigos desses tempos tão longamente calados.

Obrigada por me fazerem sentir menos sozinha.


Filha do 1º Cabo Ferreira, Ana Ferreira
_________

Notas de L.G.:

(1) Vd., por exemplo, o post de 30 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXIX: Do Porto a Bissau (23): Os restos mais dolorosos do resto do Império (A. Marques Lopes)

(2) Vd. posts anteriores relacionados com a autora e com o seu pai:

8 de Abril de 2006 > Guiné 63/4 - DCLXXXV: Aerograma de Ana Paula Ferreira: o meu pai, o 1º cabo Ferreira (CCAÇ 617, BCAÇ 616, 1964/66)

9 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXXVI: Cabo 14: pergunto-me se ele algum vez regressou, de facto (Ana Ferreira)

4 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1148: Cabo 14, um blogue de homenagem de uma filha a seu pai (Ana Ferreira)


(3) Vd. post de 26 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1214: Tão longe e tão perto, camaradas de Empada, Gandembel, Guileje, Buba, Mejo, Cacine, Tite, Guidaje ... (Zé Teixeira)

quarta-feira, 4 de outubro de 2006

Guiné 63/74 - P1148: Cabo 14, da CCAÇ 616 / BCAÇ 619 (Empada, 1964/66): um blogue de homenagem de uma filha a seu pai (Ana Paula Ferreira)


Lisboa > 1966 > O Fernando Ferreira, de regresso à terra natal, Lisboa, em dia de inverno, a 3 de Fevereiro de 1966. "Pergunto-me se alguma vez regressou, de facto", escreveu a filha Ana Ferreira. E cita os versos da canção do Zeca Afonso, Menina dos Olhos Tristes: "Menina dos olhos tristes / O que tanto a faz chorar / O soldadinho não volta / Do outro lado do mar"... E explica a sua tristeza, a sua saudade, o seu espanto e a sua revolta: "E era assim que eu costumava adormecer, embalada por histórias de Meninas e Soldadinhos. O meu, o nosso Soldadinho voltou. Não veio numa caixa de pinho, mas a sua alma deve ter ficado junto daqueles que viu despedaçados à sua volta, enrodilhados em panos sangrentos que não cessavam de perguntar : porquê?"... O Ferreira, seu pai, morreria precocemente, 24 anos depois do regresso.

Fonte: Blogue Cabo14 Guiné, de Ana Ferreira (com a devida vénia...).


Louvor por feitos de guerra, na noite de 16/17 de Julho de 1964.

Fonte: Blogue Cabo14 Guiné, de Ana Ferreira (com a devida vénia...).

Fotos: Ana Ferreira (2006)

1. Mensagem de Ana Paula Ferreira, a filha do Cabo 14 (ex-1º Cabo Ferreira, CCAÇ 616, BCAÇ 619, 1964/66)

Olá Luís e todos os caros Tertulianos,

Embora tertuliana silenciosa, tenho lido e tenho tentado manter-me atenta a tudo oque tem sido colocado no site.

Entretanto nas minhas diligências, e através do esforço impagável do Sr. Ilídio Costa, sei agora com todos os detalhes qual a companhia de meu pai, Fernando das Neves Ferreira (1): Companhia de Caçadores nº 616, 3º Pelotão, 1ª secção, atirador, soldado nº 2514/63.

Os castigos disciplinares foram alguns e as despromoções também, tendo posteriormente sido transferido para a CART 676 / RAP 2, em Setembro de 1965.

No documento que me foi tão gentilmente fornecido dizia ainda que "esta Companhia, após o desembarque do Batalhão nesta Província em 15.1.64, ficou em Bissau às ordens do Quartel General. Passou novamente a pertencer ao Batalhão em 8.4.64 quando rendeu em Empada a CCAÇ 417.

Nesta altura veio comandada pelo Sr. Capitão Mil António Francisco do Vale. Em 2.5.64 este Capitão foi rendido no Comando da Companhia pelo Sr. Capitão José Pedro Mendes Franco do Carmo. Presentemente está sendo comandada desde 17.7.65 pelo Alferes Mil Joaquim da Silva Jorge, em virtude do Sr. Capitão Franco do Carmo ter sido evacuado para a metrópole por doença" (2).

Posso enviar-lhe algumas fotos , embora tenha que o fazer através doutro endereço de mail já que este não comporta espaço suficiente para o envio de fotos. Entretanto fica o blogue Cabo14 Guiné, já um pouco mais actualizado (3).

Saudações,

Ana Paula Ferreira,
filha de Fernando Ferreira, Cabo 14 (4)

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Notas de L.G.:

(1) Vd posts de:
8 de Abril de 2006 > Guiné 63/4 - DCLXXXV: Aerograma de Ana Paula Ferreira: o meu pai, o 1º cabo Ferreira (CCAÇ 617, BCAÇ 616, 1964/66)

(...) "Eu sei que deve parecer estranho falar assim, não embarquei para a Guiné, não peguei em armas, não matei ou vi morrer, mas as palavras são poderosas, principalmente quando proferidas por quem viu a sua vida mudada para sempre.

"A minha mãe guarda centenas de aerogramas, fotografias e memórias de um cais de onde viu partir um jovem, que voltou homem amargurado" (...).

9 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXXVI: Cabo 14: pergunto-me se ele algum vez regressou, de facto (Ana Ferreira)

(...) O meu pai esteve na Guiné de 64 a 66, mais exactamante de oito de Janeiro de 1964 a três de Fevereiro de 1966, partindo de Lisboa, onde vivia. Julgo que o quartel onde se encontrava era o da Amadora. Não tinha nenhuma especialidade, era apenas atirador (...).

"Pelos remetentes que encontrei nos aerogramas vejo que percorreu um pouco toda a Guiné: Bissau, Empada, Pirada, Bigene, Ilha do Como (que pelas suas descrições, terá sido um dos piores sítios), Ponderosa, embora, não seja este o verdadeiro nome, ignoro qual seja, Bafatá e mais alguns de certeza, pois sei que já não me lembro com exactidão de tudo o que me contou.

"Bolanhas, G3 carregadas em braços no ar, queimada de aldeias, tabancas destruídas, estadias surrealistas e fugas do hospital de Bissau .... Castigos, louvores, viagens prometidas e desprometidas à metrópole, a guia de marcha, o embarque e o regresso. Mas pergunto-me se alguma vez regressou, de facto (...)".

(2) Mais uma unidade que, durante a sua comissão, teve pelo menos três comandantes. Já aqui nos interrogámos sobre as estranhas doenças que atingiam os capitães, milicianos ou do Q.P....

(3) Belíssima e sentida homenagem de uma filha a seu pai, combatente na Guiné: (...) "Esta não é uma história fácil de se contar. Muitas vezes ouvi-o dizer que tinha que escrever o livro da sua vida. Sei que a parte que mais crucial reportava-se a estes anos passados na Guiné. As emboscadas, os amigos vitimas das minas, as tabancas incendiadas, a fome, a sede e uma vontade súbita de tudo enfrentar; uma vontade indómita de penetrar na mata e matar ou morrer.

"À minha mãe, inundada de aerogramas com palavras de esperança e desespero, diziam-lhe os colegas de guerra que voltavam à metrópole, feridos para não mais voltar: 'A menina desista dele, porque ele não vai voltar'. Cabo 14 , menino quase imberbe que fazias tu, que vias tu, lá nessas terras distantes?" (...).

(4) O nosso camarada Fernando Ferreira morreu em 1991. A filha criou, com grande ternura, um pequeno blogue em sua homenagem. Foi um gesto que nos sensibilizou a todos, os seus amigos da tertúlia a que ela pertence, com todo o mérito.

domingo, 9 de abril de 2006

Guiné 63/74 - P675: Cabo 14: pergunto-me se ele alguma vez regressou, de facto (Ana Ferreira)

Guiné > O 1.º Cabo n.º 2514, Fernando das Neves Ferreira, CCAÇ 616, do BCAÇ 619, Bissau, Empada, Pirada, Bigene, Ilha do Como, Bafatá, 1964/66).

© Ana Ferreira (2006)

Texto da Ana Ferreira, Braga:

Agradeço-lhe imenso as suas palavras de apoio e aceito com muito prazer o convite para integrar a tertúlia. Sinto-me um pouco como uma intrusa, mas sei também que a partilha de memórias e de sentimentos há muito me fez entrar no vosso mundo.

Tenho uma longa tarefa pela frente... o livro que meu pai insistia que deveria escrever, vai ter um eco remoto neste blog que iniciei.

O tempo é sempre pouco, mas a perseverança não.

Como já sabe o meu pai esteve na Guiné de 64 a 66, mais exactamante de oito de Janeiro de 1964 a três de Fevereiro de 1966, partindo de Lisboa, onde vivia. Julgo que o quartel onde se encontrava era o da Amadora. Não tinha nenhuma especialidade, era apenas atirador, mas terei que confirmar nos documentos que ainda restam .

Pelos remetentes que encontrei nos aerogramas vejo que percorreu um pouco toda a Guiné: Bissau, Empada, Pirada, Bigene, Ilha do Como (que pelas suas descrições, terá sido um dos piores sítios), Ponderosa, embora, não seja este o verdadeiro nome, ignoro qual seja, Bafatá e mais alguns de certeza, pois sei que já não me lembro com exactidão de tudo o que me contou.

Bolanhas, G3 carregadas em braços no ar, queimada de aldeias, tabancas destruidas, estadias surrealistas e fugas do hospital de Bissau .... Castigos, louvores, viagens prometidas e desprometidas à metrópole, a guia de marcha, o embarque e o regresso. Mas pergunto-me se alguma vez regressou, de facto.

Saudações,
Ana Ferreira,
Braga
Blogue> Cabo14Guine

sábado, 8 de abril de 2006

Guiné 63/4 - P674: Aerograma de Ana Paula Ferreira: o meu pai, o 1º cabo Ferreira (CCAÇ 617, BCAÇ 619, 1964/66)

Mensagem de Ana Paula Ferreira (que nos mandou um aerograma de hoje):

Não poderia deixar de lhe agradecer pelo seu blogue: procurando algumas informações sobre a Guiné, onde o meu pai esteve de 64 a 66 (Fernando das Neves Ferreira, 1º Cabo, nº 2514, CCAÇ 616, do BCAÇ 619), deparei-me com as suas páginas repletas de testemunhos, fotografias, ou seja, algo que me é tão familiar, não porque lá estive, mas porque conheço as histórias através do meu pai.

Por coincidência iniciei também hoje um blogue sobre este assunto. Há muito tempo que pensava numa forma de dar a conhecer tudo aquilo que ouvi e senti através das palavras do meu pai. Tanta coisa aconteceu e muita gente não esqueceu. Eu não esqueci.

Eu sei que deve parecer estranho falar assim, não embarquei para a Guiné, não peguei em armas, não matei ou vi morrer, mas as palavras são poderosas, principalmente quando proferidas por quem viu a sua vida mudada para sempre.

A minha mãe guarda centenas de aerogramas, fotografias e memórias de um cais de onde viu partir um jovem, que voltou homem amargurado.

Os meus parabéns pela sua iniciativa!

Atentamente,
Ana Paula Ferreira


Comentário de L.G.

Ana: Fico/amos muito sensibilizado(s) pelas suas palavras de carinho e de amor pelo seu pai, que foi nosso camarada, bem como de simpatia pelo nosso blogue. Este é também um ponto de encontro entre gerações, entre nós e os nossos filhos... Você não esqueceu, nós também não.

Gostaria de a convidar para integrar a nossa tertúlia, se assim o desejar. Dê-nos mais notícias suas, diga-nos qual o endereço do seu blogue... Temos ainda poucos testemunhos e documentos do tempo em que o seu pai esteve na Guiné (1964/66). Teremos muito gosto também em divulgar o seu blogue.

Fica aqui também a notícia do 12º almoço/convívio da Companhia de Caçadores 617 – BCAÇ 619 (Guiné 1964/66) em Guimarães, no próximo dia 28 de Maio de 2006.

3. Também o nosso histórico Sousa de Castro quis transmitir à Ana Paula algumas palavras de boas-vindas ao nosso blogue (Como eu faço questão de lembrar, ele é o tertuliano nº 1, o mais antigo, o primeiro a trazer outros camaradas para a nossa tertúlia, e nessa medida um dos co-responsáveis pela abertura das comportas deste rio de memórias da Guiné, cujas águas continuam a correr e a engrossar):

Ana Paula, fiquei muito sensibilizado pelo testemunho e pelo interesse demonstrado sobre estórias da guerra colonial. Graças ao nosso comandante Luís Graça, porque sem ele não teria sido possível o trabalho extraordinário que é o blogue-fora-nada.

Não se encontram, todos os dias, filhos interessados nas estórias que os pais contam sobre aquele tempo desperdiçado. Foram os melhores anos da nossa juventude, embora no meu caso pessoal não estou minimamente arrependido de ter ido para a Guiné, creio que fiquei muito mais rico com aquela experiência. Um dia hei-de lá voltar.

Cumprimentos e, como o Luís diz, faça o favor de entrar para a nossa tertúlia e conte as estórias do seu pai. Se achar bem, pode publicar no seu blogue.

Sousa de Castro (ex- 1º Cabo TRMS, CART 3494, Xime e Mansambo, Jan 72 a Abr 74)