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domingo, 28 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23563: Camaradas, referidos no blogue, que estiveram em (ou passaram por) Bedanda, na 4ª CCAÇ (1961/66) e CCAÇ 6 (1967/74)


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971 > Reabastecimento do aquartelamento e povoação através do Nordatlas e do lançamento de géneros por paraquedas, durante a época das chuvas. Fotos do Álbum de Amaral Bernardo, ex-alf mil médicoCCS / BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72)... Esteve em 1971 em Bedanda, onde foi rendido em Dezembro de 1971 pelo Mário Bravo.

(...) "Estive em Bedanda, durante 13 meses, sob o comando do capitão de cavalaria Ayala Botto [, CCAÇ 6]. Um grande comandante, um verdadeiro oficial de cavalaria... que nos derretia com mimos: ovos liofilizados e outras delícias, que vinham de Lisboa, de uma fábrica da família...

"Estive primeiro em Cacine, que era deslumbrante... Percorri todo o sul, acabando em Bolama, depois de passar por Bedanda, Gadamael, Guileje, Tite... A CÇAÇ 6 tinha fulas e um pelotão de balantas... Em Bedanda, os tipos do PAIGC apareciam nas minhas consultas, nas calmas, disfarçados com a população...

"Bedanda, no tempo das chuvas, era inacessível por terra, transformava-se numa ilha. Ficava entre dois rios, o Cumbijã, a oeste e o seu afluente, o Ungariol, a leste e a norte... Era abasteciada pelos fuzileiros e pela força aérea...

"Em 2005 falei com o Nino sobre os ataques a Bedanda, quando ele era o comandante da região sul... Havia malta na tabanca que lhe fazia sinais de luz (com uma lanterna) para orientação do tiro... À terceira, eles acertavam todas...

"Os melhores abrigos, à prova do 120, eram os de Guileje... Mas o Spínola proibiu a construção de mais bunkers, queria que o pessoal fosse todo para as valas... Foram tempos muitos duros, tive uma [grande] actividade como médico... e eu próprio cheguei a desejar secretamente ser ferido para poder ser evacuado dali" (...) (Amaral Bernardo, membro da nossa Tabanca Grande, desde Fevereiro de 2007; 
poste P7802).

Foto (e legenda): © Amaral Bernardo (2011). Todos os direitos reservados.


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > 1969 > Álbum fotográfico do João Martins > Foto nº 135/199 > O temível obus 14... mais um elemento da guarnição africana do Pel Art, que dependia da BAC 1 (Bissau).


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > 1969 > Álbum fotográfico do João Martins > Foto nº 127/199 > Invólucros de munições deixadas em anteriores ataques do IN ao aquartelamento.

Escreveu o João Martins  no poste P9947: (...) Terminada a instrução que fui dar ao BAC  [Bateria de Artilharia de Campanha, nº 1], em Bissau, fui colocado em Bedanda onde já se encontrava um pelotão com três obuses 14 cm. 

Tive que fazer novamente as malas e apanhar uma aviioneta Dornier [DO 27] que, passando por Catió onde tirei algumas fotografias que já não sei identificar, acabou por aterrar em Bedanda. Sem dúvida um dos locais da Guiné que me deixou mais saudades.

Fazia a sua defesa a Companhia de Caçadores 6, do recrutamento da Província, um pelotão de milícia, e o pelotão de artilharia. A população era particularmente simpática e notava-se que tinha tido muito contacto com portugueses da metrópole. Aliás, a casa colonial existente, a do chefe de posto, era imponente.

Bedanda fica numa colina bastante elevada, atendendo aos padrões de altitude que normalmente se encontram na Guiné. Não sendo uma fortificação inexpugnável, não oferecia quaisquer vantagens ao inimigo que se colocaría sempre numa cota inferior. Por isso, os ataques eram pouco frequentes o que nos permitia respirar…

Atendendo ao “clima” relativamente ameno que se fazia, visitava com muita frequência a tabanca e cheguei mesmo a ir à pesca e a tomar banho no rio Ungariol, afluente do rio Cumbijã, na esperança de não me tornar um isco para os jacarés. (...)

Fotos (e legendas): © João José Alves Martins (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto B113


Foto B117

Guiné > Região de Tombali > Bedanda >  CCAÇ 6 >  Fotos do álbum do António Teixeira, "Tony",  ex-alf mil da CCAÇ 3459/BCAÇ 3863,  Teixeira Pinto, e CCAÇ 6, Bedanda (1971/73) , 

Fotos (e legendas): © António Teixeira (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Lista, por ordem alfabética (e não exaustiva),  dos "bedandenses", referidos no nosso blogue (e em geral, membros da Tabanca Grande), ex-combatentes que estiveram em (ou passaram por) Bedanda, na maior parte dos casos integrando a 4ª CCAÇ (1961/66) ou a CCAÇ 6 (1967/74). É pena que não haja nenhum dos camaradas do recrutamento local. 
  • Amaral Bernardo, ex-alf mil médico, CCS/BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72), esteve na CCAÇ 2726, uma companhia independente, açoriana, que guarneceu Cacine (1970/72); passou também cerca de um ano (1971) em Bedanda (CCAÇ 6); tem cerca de meia centena de referências no blogue;                                                                                                           
  • António Teixeira, "Tony" (1948-2013), ex-alf mil, CCAÇ 3459/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, e CCAÇ 6, Bedanda (1971/73);António Henriques Campos Teixeira, nascido em 21/6/1948, falecido em 25/11/2013); era professor de educação física, reformado; vivi ame Espinho; tem mais de meia centenas de referências no blogue.                                                     
  • Aurélio Manuel Trindade, ex-cap inf, cmdt,  4ª CCAÇ / CCAÇ 6 (Bedanda, julho 1965/julho 1967), hoje ten gen ref, autor de (sob o pseudónimo Manduel Andrezo) " Panteras à Solta! (ed. autor, c. 2020, 447 pp.;                                                                                 
  • Artur José (Miranda) Ferreira, ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 6, Bedanda, 1968/70;                   
  • Belmiro da Silva Pereira (1946-2022) ex-alf mil, CCAÇ 6, Bedanda (1969/71); , natural de Peniche, era médico reformado;    tem 4 referências no blogue;                                                                                                         
  • Carlos (Pinto) Azevedo, ex-1º cabo, CCAÇ 6, Bedanda (1971/72); contemporâneo do Fernando Sousa e do Dr. Amaral Bernardo; "tive dois Capitães na Companhia em Bedanda, o Sr. Capitão Carlos Ayala Botto e o Sr. Capitão Gastão Silva, dois Homens com um H Grande";                                                                                                                                                              
  • Carlos Ayala Botto, ex-cap cav, cmdt, CCAÇ 6, Bedanda (1971/72), ajudante de campo do General Spínola, hoje cor cav ref;   "Soube do seu blogue e aqui estou a apresentar-me: Carlos Ayala Botto, estive na Guiné entre 1970 e 1973 e actualmente sou Coronel na Reforma. Na altura era capitão de Cavalaria mas mesmo assim fui nomeado Cmdt da CCAÇ 6 em Bedanda onde estive cerca de 20 meses." (Poste P1407);                                                                                             
  • Fernando de Jesus Sousa, ex-1.º cabo, CCAÇ 6, Bedanda (1970/71); DFA, autor
    autor de "Quatro Rios e um Destino” (Chiado Editora, 2014); tem 30 referências no blogue;                                                                                                                                                             
  • Hugo Moura Ferreira, ex-alf mil, CCAÇ 1621 (Cufar) e CCAÇ 6 (Bedanda) (Novembro de 1966 / novembro de 1968); tem 60 referências no blogue;                                                     
  • João Martins, ex-alf mil art, Pel Art / BAC1 (Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69);  tem mais de 60 referências no blogue:                                                                                                                                                      
  • Joaquim Pinto Carvalho, ex-alf mil, CCAÇ 3398 (Buba, 1971/72) e CCAÇ 6, Onças Negras (Bedanda, 1972/73); foi redator-coordenador do  jornal de caserna "O Seis do Cantanhez", criado e dirigido pelo Cap Gastão e Silva, cmdt da CCAÇ 6, tendo entre outros membros da redação, o saudoso alf mil António Teixeira , "Tony"(1948-2013); natiual do Cadaval, é advogado, e régulo da Tabanca do Atira-te ao Mar, Porto das Barcas, Atalaia, Lourinhã; tem 60 referências no blogue:                                                                    
  • Jorge Freire, ex-cap inf, CCaç 153, e 4ª CCaç, Bissau, Gabu, Bedanda, 1961/63); vive nos EUA, tem cerca de 20 referências no blogue, onde é conhecido como George Freire; nome completo, Renato Jorge Cardoso Matias Freire;                                                          
  • Jorge Zacarias Rodrigues da Rocha, 2ª Companhia do BCAÇ 4612/72, Jugudul (1972/74);  engenheiro técnico civil na REFER-EP, esteve em Bedanda entre junho e setembro de 1974;    presumimos que foisse alf ou fur mil:                                                                                                                                       
  • José (Conde) Figueiral, ex-alf mil, CCÇ 6, Bedanda (1970/72);tem 10 referências no blogue;                                                                                                                                                          
  • José Vermelho, ex-fur mil, CCAÇ 3520, Cacine, CCAÇ 6, Bedanda, e CIM Bolama (1971/73);   tem 8 referências no blogue;                                                                                                                                                       
  • Manuel Mendes, ex-sold.  CCAÇ 728 (Catió, Cachil, Bedanda e Bissau, 1964/66); conhecido como o  "Lisboa", era o "soldado 29", do 3º pelotão;                                                 
  • Mário Silva Bravo, ex-alf mil médico, CCAÇ 6, Bedanda, e HM 241, Bissau (1971/72); O Mário Bravo, ortopedista reformado, tem 55 referências no blogue;                                             
  • Mário (José Lopes) de Azevedo, ex-fur mil art, Pel Art, CCAÇ 6, Bedanda (1970/72); tem um dezena de referências no blogue;                                                                                                            
  • Rui Santos, ex-alf mil, 4.ª CCAÇ, Bedanda e Bolama (1963/65); tem mais de 3 dezenas de referências no blogue;                                                                                                                         
  • Tibério Borges, ex-alf mil inf MA, CCAÇ 2726, Cacine, Cameconde, Gadamael e Bedanda (1970/72); tem 10 referências no blogue; sobre Bedanda escreveu: "Em Bedanda a companhia era de africanos com excepção da maioria dos graduados. Fui encontrar, imaginem, o Zé Cavaco, que é meu conterrâneo. O mundo é pequeno. Apenas fui tapar um buraco durante um mês. Alguém que foi de férias ou que chegou ao fim da comissão. Quem sabe se doente! Pode ser que um dia saiba mais coisas através do Zeca. Sei que o Comandante era o Capitão Ayala Boto. Nesta unidade havia um padre."(Poste P15059);                                                                                                                                                           
  • Vasco Santos, ex-1º cabo op cripto, CCAÇ 6, Bedanda (1972/73); tem 38 referências no blogue; foi, com o Hugo Moura Ferreira, o organizador do 4º encontr0 dos bedandenses (Mealhada, 2014); nome completo:    Vasco David de Sousa Santos.                                                                                                                                                                                                        
Há mais "bedandenses" da 4ª CCAÇ / CCAÇ 6... Aparecem em fotos do blogue, em postes relativos a encontros da malta mas não têm postes específicos a eles dedicados. Nem são ainda membros da Tabanca Grande.  Caso, por exemplo, de: 
  • Lassana Jaló (ferido em combate e a viver em Portugal); 
  • Gualdino José da Silva (ex-fur mil, de 1967/69);
  •  João António Carapau (que foi alf mil médico em 1967/68,  hoje conceituado pediatra, reformado do Hospital da Estefânia, vivendo na Portela); 
  • Renato Vieira de Sousa (ex-cap inf, cmdt, 1967/68, hoje cor inf ref, vivendo em Lisboa); 
  • Victor Luz (fur mil, 1967/68); 
  • Eduardo Cesário Rodrigues (de alcunha, "Salazar") (ex-alf mil, 1967/68); 
  •  Aníbal Magalhães Marques (1972/74); 
  • Amadeu M. Rodrigues Pinho (ex-alf mil, 1967/68); 
  • António Rodrigues (O Capitão do Estandarte: o último Alferes / Capitão, fiel depositário do estandarte e da Cruz de Guerra da CCÇ 6); 
  • Carlos Nuno Carronda Rodrigues (ex-alf mil, hoje cor 'comandpo' ref; membro da Magnífica Tabanca da Linha) 
  • e    outros... Ver lista dos inscritos e dos participantes no encontro de Peniche em 2013 (Poste P12109).

quinta-feira, 30 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21211: Bombolom XXV (Paulo Salgado): Amaral Bernardo, um homem bom, um homem grande


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971 > A famosa e feliz foto do ex-Alf Mil Médico Amaral Bernardo, membro da nossa Tabanca Grande desde Fevereiro de 2007: a saída do obus 14, de noite.

"Foi tirada com a máquina rente ao chão. Bedanda tinha três. Uma arma demolidora. Um supositório de 50 quilos lançado a 14 km de distância... Era um pavor quando disparavam os três ao mesmo tempo... 


"Era costume pregar sustos aos periquitos... Eu também tive honras de obus, quando lá cheguei... Guileje não tinha nenhum obus, mas sim três peças de artilharia 11.4. A peça era esteticamente mais elegante do que o obus" - disse-me o Amaral Bernardo, no dia em que o conheci pessoalmente, no Porto, no seu gabinete no Hospital Geral de Santo António, que é a sua segunda casa, e onde é (ou era, em 2007) o director do ensino pré-graduado da licenciatura de medicina do ICBAS - Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar/HGSA Ciclo Clínico (ou seja, responsável por mais de meio milhar de alunos, um batalhão; reformou-se, entretanto]...


José Maria Ferreira do Amaral Bernardo, professor catedrático convidado, aposentado, Hospital Geral de Santo António, e  ICBAS, Porto  [ex-Alf Mil Médico da CCS / BCAÇ 2930, Catió, e CCAÇ 5, Catió, Guileje, Bedanda, 1970/72: ,membro da nossa Tabanca Grande ]

Fotos (e legendas): © Amaral Bernardo (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem de Paulo Cordeiro Salgado [, ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72); administrador hospitalar reformado; natural de Torre de Moncorvo]

Date: quinta, 30/07/2020 à(s) 12:30

Subject: Amaral Bernardo - algumas plavras

Três breves episódios sobre o Camarada, ex-alferes Médico, Dr. Amaral Bernardo, que hoje faz anos (*),

Tenho tido o privilégio de manter um contacto frequente com o nosso Dr. Amaral Bernardo.

Primeiro – O Amaral Bernardo é um intelectual emotivo. Vê-lo apresentar o livro Quatro Rios e Um Destino, de Fernando de Sousa, é comovedor, é infinitamente gratificante.

Neste livro, o autor afirma (transcrevo):

«Este livro, fala de realidades. Fala de mim, da minha vivência, da minha forma de ser e de estar, da minha entrega a tudo aquilo em que acredito. Das minhas convicções, dos meus sentimentos, da minha passagem, por uma Guerra e, suas consequências, de pesadelos sem fim, das muitas emoções.

Nele procurei inserir e exaltar os ensinamentos assimilados, das várias gerações com que me fui cruzando neste caminho da vida, de várias épocas, em dois mundos e duas culturas diferentes.»


Na oportunidade, na messe do Porto, onde decorreu a apresentação do livro, o Dr. Amaral Bernardo, escolhido pelo Sousa, exibe o grande humanismo que o norteou na missão para que foi chamado. Referiu a grande capacidade de resistência à dor do militar ferido, a quem tratou, antes de mandar evacuar para Bissau. O Dr. Amaral Bernardo exibiu, no momento clínico que promoveu, um grande profissionalismo e grandiosidade ética que sempre o norteou.

A falar dos outros, dos que sofreram consigo, mostra-nos o médico atento, organizado e sofredor - no meio de ataques e de andanças pelo Sul da Guiné.

Segundo – Em 1997, voltou o Dr. Amaral Bernardo, já professor no ICBAS [, Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salzar, o Porto], à Guiné-Bissau. Num projecto de cooperação – responsável médico na formação de quadros médicos no Hospital Nacional Simão Mendes.

Ali, a mesma atitude generosa, competente, emotiva. Mas firme. Organizada. O que lhe valeu a estima dos médicos guineenses. Nem podia ser de outra forma, pois o Amaral Bernardo não pactua com amadorismo. Mas não esquece o seu humanismo. Que o digam os médicos Dr. João Maria Goudiaby, Dra. Alice e Dr. Armando. Este episódio foi por mim acompanhado de muito perto.

Finalmente, na apresentação do meu livro Milando ou Andanças por África, na Associação Portugal – África, Porto. Vi-lhe as lágrimas reclamarem-lhe a emoção. Sentida.

Amaral Bernardo, és um homem bom. Homem Grande.

Parabéns e muitos anos de vida.

Paulo Salgado (**)
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Notas do editor:



Guiné 61/74 - P21209: Parabéns a você (1841): Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Médico do BCAÇ 2930 (Guiné, 1970/72); Jaime Mendes, ex-Soldado At Art da CART 1742 (Guiné, 1967/69); Júlio Costa Abreu, ex-1.º Cabo Comando do Grupo Centuriões (Guiné, 1964/66) e Victor Tavares, ex-1.º Cabo Caçador Paraquedista da CCP 121 (Guiné, 1972/74)




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Nota do editor

Último poste da série de 19 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21182: Parabéns a você (1840): Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616 e CART 2732 (Guiné, 1970/72) e João Santos, ex-Alf Mil Rec Inf do BCAÇ 2852 (Guiné, 1968/70)

segunda-feira, 15 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19980: 15 anos a blogar desde 23/4/2004 (11): quando os "artilheiros" davam lições aos "infantes", habituados a comer e a calar... (C. Martins, alf mil art, cmdt do 23º Pel Art, Gadamael, 1972/74)


Guiné > Região de Tombali > > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971 >  A saída do obus 14, de noite. Foto espetacular do  ex-alf mil médico Amaral Bernardo, membro da nossa Tabanca Grande desde Fevereiro de 2007.

Foto (e legenda): © Amaral Bernardo (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. A propósito de "infantes" e de "artilheiros" (*)... 

O C. Martins - nosso leitor e camarada, mais conhecido por ter sido o "último artilheiro de Gadamael" , alf mil art, comandante do 23º  Pel Art, que acabará por (con)fundir-se com o 15, mas também médico, hoje, no Portugal profundo, periférico, - não faz parte formalmente da nossa Tabanca Grande (TG), por razões alegadamente deontológicas, éticas e profissionais,  que eu entendo e respeito. Isto quer dizer que: (i) nunca pediu para aderir à TG; (ii) nunca aceitou o meu convite para ingressar na TG; (iii) nunca se apresentou ao "pessoal da caserna", como mandam as NEP do blogue; (iv) nem nunca enviou as duas fotos da praxe; (v) nem muito menos gosta que a gente lhe mostre a cara ou o use o seu nome profissional.. Mesmo assim tem 27 referências no nosso blogue.

Em contrapartida, é (ou foi) leitor assíduo, fã do nosso blogue, comentador quase diário, há alguns anos atrás, dos nossos postes, e frequentador dos nossos encontros nacionais (, já não foi aos dois últimos, o de 2018, por razões imprevistas de saúde...). É um profundo conhecer da Guiné,  onde depois da independendência fez voluntário como médico de uma ONG, enfim, é um verdadeiro amigo do povo guineense... Tem, além disso - e excecionalmente - uma série feita com os seus comentários neste blogue...

Já em tempos lhe transmitimos que tínhamos saudades das suas "lições de artilharia para os infantes", da sua boa disposição, do seu sentido de humor de caserna, da sua saudável irreverência, enfim, dos seus comentários, por vezes desconcertantes,  mas sempre certeiros, ou não fosse ele um artilheiro e, para mais, o último artilheiro de Gadamael!...Sabemos que alguns não lhe perdoaavam esse pequeno detalhe do seu currículo, mas a verdade é que alguém tinha que fechar a porta da guerra... E em Gadamael coube-lhe a ele, que nem sequer foi voluntário para a tropa, era dirigente estudantil quando foi apanhado pela "ramona"...

Será sempre aqui lembrado como um bom contador de histórias, com grande  sentido de humor, e muitas memórias da tropa, da guerra e da paz, que ele se dignou partilhar connosco, seus camaradas da Guiné...  Enfim, um "bravo da Guiné"!

Esta história que (re)publicamos a seguir,  é uma verdadeira lição de um "artilheiro", para os pobres coitados ds "infantes" que já cá, na metrópole, nos quartéis de Norte a Sul, comiam e calavam... Já nessa altura perguntavamos aqui: foi a tropa uma escola de virtudes ? Quero eu dizer, a tropa do nosso tempo... Aprendia-se lá só coisas de artilharia, infantaria, cavalaria, transmissões ? Mas também valores como os da justiça, equidade, liberdade, integridade, honestidade, coragem moral, patriotismo ?...

Espero que o C. Martins nos leia (ainda) e se sinta honrado com a republicação desta história  que é também uma forma singela de o associarmos às  discretíssimas comemorações dos quinze anos do blogue de todos nós (**)... Não sei se ele já se reformou, se sim (, mesmo que médico nunca arrume o estetoscópio e dispa a bata), acho que está na altura de ele entrar por aí adentro, na nossa Tabanca Grande, de mãos nos bolsos, a assobiar e dizer: - Rapaziada, finalmente cheguei!

2. Lições de artilharia para os infantes > Quando a gente nem sempre come e cala...

por C. Martins (***)

Este tema é muito interessante: Relação entre comandantes e comandados e vice-versa. Atitudes, justiça, injustiça, abuso de poder, capacidade de liderança ou não, coesão ou espírito de corpo. Todos nós tivemos casos, independentemente da categoria ou posto hierárquico. 

A propósito de rancho... Lembro-me de um caso passado num regimento de uma cidade alentejana. O oficial de dia fez um levantamento de rancho !!!!.

Este tinha por hábito não se limitar a provar a comidinha da bandeja, mas verificar as pesagens dos géneros segundo as NEP. Era vitela à jardineira: tanto de ervilhas, cenouras, batatas e a carne da dita.
Iniciado o repasto, que a bem da verdade o pessoal comia com sofreguidão, o dito oficial, olhando de soslaio para pratos e travessas repara que havia ervilhas, cenouras, grande quantidade de batatas e, surpresa, a carne praticamente tinha-se evaporado!.

- NINGUÉM COME MAIS, CAR...!!! - berra o gajo com um galãozito transversal no ombro, e enceta uma corrida frenética até à cozinha onde se depara com grandes nacos de carne sobre a bancada.

Transtornado, enfia uma cabeçada no 1º sargento vago-mestre ou lá o que era:
- Você está preso, seu f... da p...!. E estão todos presos, seus cabr...f...das p..., bandidos, gatunos! ...

Mais calmo, tenta contactar o comandante que não estava, o 2.º também não... Bem, a alternativa era o contacto com o QG da região militar. Atende o oficial de dia da respectiva:

- ... Fez o quê ?!! Você já desgraçou a sua vida!

Nesse dia almoçou-se só às cinco da tarde.

O sorja f... da p... tinha por hábito gamar a carne e outros géneros que vendia a talhos e estabelecimentos civis, com a conivência dum cabo RD... Os outros elementos da cozinha eram ameaçados para se calarem. A justiça militar atuou com penas exemplares... O aspiranteco teve um elogio verbal e foi mobilizado para o CTIG.

Qualquer coincidência com a realidade não foi mera ficção.

C. Martins

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Notas do editor:



segunda-feira, 8 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19658: Agenda cultural (678): Convite para a apresentação do livro "Milando ou Andanças por África" da autoria de Paulo Salgado, dia 10 de Abril, no almoço semanal da Tabanca de Matosinhos (José Teixeira)

C O N V I T E

Apresentação do livro "Milando ou Andanças por África", da autoria de Paulo Salgado (ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), a cargo do Prof Dr. Amaral Bernardo (ex-Alf Mil Médico da CCS / BCAÇ 2930, Catió, 1970/72), no próximo dia 10 de Abril no almoço semanal da Tabanca de Matosinhos - Restaurante O Espigueiro (antigo Milho Rei).


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Nota do editor

Último poste da série de 4 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19649: Agenda cultural (677): Apresentação do livro do Paulo Salgado, "Milando ou Andanças por África": 9 de abril, 18h00, Fundação Portugal África, Porto

quinta-feira, 8 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18391: (D)o outro lado do combate (21): "Plano de operações na Frente Sul" (Out - dez 1969) > Ataque a Bedanda em 25 de outubro de 1969 (ao tempo da CCAÇ 6, 1967-1974) - II (e última) Parte (Jorge Araújo)


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > Agosto de 1972 > O obus 14

Foto: © Vasco Santos (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971 > A famosa e feliz foto do ex-Alf Mil Médico Amaral Bernardo, membro da nossa Tabanca Grande desde Fevereiro de 2007: a saída do obus 14, de noite.

"Foi tirada com a máquina rente ao chão. Bedanda tinha três. Uma arma demolidora. Um supositório de 50 quilos lançado a 14 km de distância... Era um pavor quando disparavam os três ao mesmo tempo... Era costume pregar sustos aos periquitos... Eu também tive honras de obus, quando lá cheguei... Guileje não tinha nenhum obus, mas sim três peças de artilharia 11.4. A peça era esteticamente mais elegante do que o obus" - disse-me o Amaral Bernardo, no dia em que o conheci pessoalmente, no Porto, no seu gabinete no Hospital Geral de Santo António, que é a sua segunda casa, e onde é (ou era, em 2007) o director do ensino pré-graduado da licenciatura de medicina do ICBAS - Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar/HGSA Ciclo Clínico (ou seja, responsável por mais de meio milhar de alunos, um batalhão; reformou-se, entretanto] [LG]...

Foto (e legenda): © Amaral Bernardo (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 

Guiné > Região de Tombali > Bedanda> CCAÇ 6 > 1970 > O famoso obus 14... [Julgamos que esta foto terá sido dada ao Hugo Moura Ferreira por uma dos camaradas da CCAÇ 6 que estavam em Bedanda em 1970}.

Foto: © Hugo Moura Ferreira (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 

(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue desde março de 2018


GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE > "PLANO DE OPERAÇÕES NA FRENTE SUL" (OUT-DEZ'69) - ATAQUE A BEDANDA EM 25 DE OUTUBRO DE 1969 (AO TEMPO DA CCAÇ 6, 1967/1974)

(Parte II)
1. INTRODUÇÃO

Com a presente narrativa, a última de duas relacionadas com o ataque a Bedanda em 25 de Outubro de 1969, ocorrido treze dias após o primeiro, encerra-se a análise à segunda missão do "plano de acções militares" do PAIGC (*), de um "pacote" de nove – mais uma do que inicialmente pensado, uma vez que Buba seria contemplada com outra flagelação "extra" devido aos fracassos registados por "Nino" Vieira (1939-2009), e seus guerrilheiros, na primeira – todos eles previstos concretizar durante o último trimestre desse ano, nas regiões de Quinara e de Tombali, contra os diferentes aquartelamentos das NT, cujo calendário se recorda abaixo.

Para a elaboração deste trabalho de pesquisa global, apresentado em fragmentos, continuaremos a utilizar um documento base, que é o relatório "das operações militares na Frente Sul" [http://hdl.handle.net/11002/ fms_dc_40082 (2018-1-20)], localizado no Arquivo Amílcar Cabral, existente na Casa Comum – Fundação Mário Soares, adicionando-lhe, sempre, outras informações de diferentes fontes bibliográficas, como metodologia de caracterização e de aprofundamento histórico.




2. O AQUARTELAMENTO DE BEDANDA E AS SUAS UNIDADES


Como foi referido no primeiro fragmento do ataque a Bedanda [P18387] (*), os antecedentes históricos da CCAÇ 6 têm a sua origem na estrutura orgânica da 4.ª CCAÇ (Companhia de Caçadores Nativos [ou Indígenas], esta criada e instalada, primeiramente, em Bolama em finais de 1959.


Quatro anos e meio depois, em Julho de 1964, mudou-se para Bedanda, por necessidades operacionais, como resposta ao pedido de intervenção dos africanos no esforço da guerra. Em 1 de Abril de 1967, decorridos três anos após a instalação dos seus primeiros efectivos em Bedanda, esta Unidade foi renomeada, passando a designar-se por Companhia de Caçadores n.º 6 [CCAÇ 6 - "Onças Negras"].


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1970 > Vista aérea da tabanca e aquartelamento. Foto que nos foi enviada pelo nosso camarada, da primeira hora, Hugo Moura Ferreira, ex-alf mil inf, que esteve na Guiné, entre novembro de 1966 e novembro de 1968, primeiro na CCAÇ 1621 (Cufar) e depois na CCAÇ 6 (Bedanda).

Foto: © Hugo Moura Ferreira (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Um ano depois, em 10 de Junho de 1968, como reconhecimento da importante acção desenvolvida nas múltiplas missões que lhe foram confiadas, a CCAÇ 6 viria a ser merecedora de uma condecoração atribuída pelo Governo Central ao seu Estandarte [Cruz de Guerra de 1.ª Classe], em cerimónia pública presidida pelo Chefe de Estado, Almirante Américo Thomaz (1894/1987), de homenagem às Forças Armadas Portuguesas, realizada no Terreiro do Paço, em Lisboa.

Recorda-se, acima, o texto que originou a condecoração tornado público na comunicação social [DL, em 11 de Junho de 1968, p11; e DN, em 12 de Junho de 1968].

Para além da CCAÇ 6, o Aquartelamento de Bedanda dispunha também de um Pelotão de Canhões sem Recuo [PCS/R], de um Pelotão de Artilharia de obus 14 [Pel Art] e de um Pelotão de Milícias [Pel Mil n.º 143], da etnia fula.


3.  O ATAQUE A BEDANDA EM 24OUT1969… QUE PASSOU PARA 25OUT1969 DEVIDO A SUCESSIVAS FALHAS NA SUA ORGANIZAÇÃO,

Desenvolvimento da acção: (Conclusão)

No dia 24 de Outubro [de 1969], às 17h15, as forças do Corpo Especial de Exército deviam atacar as instalações militares do campo de Bedanda mas, devido ao número insuficiente de transportadores não puderam concentrar no local toda a quantidade de munições necessária e muito menos distribui-la a tempo para as 3 posições de fogo, razão principal porque tiveram que adiar a missão.

No dia seguinte, com a aprovação do Comandante do Corpo Especial de Exército ("Nino" Vieira), as forças de Artilharia prontificaram-se a realizar a operação e a iniciá-la à mesma hora indicada para o dia anterior [17h15]. Às 17h00 todas as peças estavam prontas para o tiro, quando descobriram uma avaria na comunicação. Devido a esse imprevisto só meia hora mais tarde iniciaram o fogo de enquadramento com uma peça de canhão 75, desde a posição de fogo do GRAD. O inimigo [NT] respondeu imediatamente, cortando a instalação em dois pontos. Só 15 minutos depois foi retomada a direcção de tiro e deram por terminado o enquadramento para as [peças] GRAD [foguetes/foguetões de 122 mm]. Imediatamente as peças de canhão abriram fogo, realizando tiro indirecto desde a distância de 2.000 metros. Do posto de observação, pareceu (a visibilidade, dada a hora já avançada da tarde, era deficiente) ser um tiro efectivo, cobrindo a zona indicada.

Terminado o fogo dos canhões, as peças do GRAD fizeram o seu primeiro disparo que, do posto de observação, pelo clarão produzido, pareceu-nos ter atingido o objectivo. [Este disparo ficou na história da guerra por ter sido o primeiro foguete 122 mm a ser lançado por uma peça GRAD contra as NT]. Mais tarde, segundo os camaradas de infantaria situados a poucas centenas de metros do objectivo, esse disparo caiu dentro do objectivo. Deu-se a ordem de tiro de bataria e, salvo um foguete danificado, foram lançados os restantes [cinco], os quais se dispersaram pela periferia do objectivo.

Finalmente, os morteiros 82 iniciaram fogo, da mesma posição de fogo dos canhões, realizando fogo rápido, mas desordenado e sem muita afectividade, devido à impossibilidade de dirigir tiro naquela altura (tinha anoitecido já completamente) pois haviam roto [danificado] completamente as instalações telefónicas.


Citação: (1963-1973), "Combatentes do PAIGC deslocando uma peça de artilharia anticarro", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_ 43753 (2018-2-12) (com a devida vénia)

Conclusão

1. O tiro de artilharia, no seu conjunto, não foi efectivo como esperávamos, especialmente devido à falta de direcção continua e ordenada do tiro e isso motivado pelas interrupções sistemáticas das instalações telefónicas.

2. Dada a distribuição dos quartéis (com pequenas concentrações em 3 pontos), Bedanda não é um objectivo muito favorável à utilização das [peças] GRAD. Prova-o o facto do primeiro obus ter caído dentro do objectivo e os restantes terem-se dispersado sem atingi-lo.

3. Com a experiência herdada de B1, concluímos que a direcção de fogo feita com a utilização de telefone não dá a mínima garantia. A introdução de rádios impõe-se como uma necessidade urgente para que a realização dessas operações tenham o mínimo de garantia e coordenação com os bi-grupos de infantaria.


4. Não é recomendável a realização de tiro de enquadramento de noite. A observação e as respectivas correcções são vagas e imprecisas.

5. O transporte de munições até aos pontos desejados é algo que deve ser encarado com toda a responsabilidade e garantido contra quaisquer atrasos ou imprevistos.



Actuação da Infantaria

A infantaria deveria actuar imediatamente depois do bombardeamento artilheiro.

Contava com os seguintes efectivos assim distribuídos:

- 3 bi-grupos no quartel do meio, com 5 bazookas RPG-7 (4 granadas cada)

- 2 bi-grupos no quartel de cima (onde estão as lojas), com 2 RPG-7 (4 granadas cada)

A acção da infantaria, prevista para as 17h45 (a operação devia ter início às 17h15) só foi possível 3 horas mais tarde, devido à reacção do inimigo [NT], que abandonou os quarteis, refugiando-se no mato, contra o intenso, embora não muito efectivo, fogo da artilharia. Três horas depois, quando o inimigo [NT] regressava aos quartéis, foi completamente surpreendido com fogo de bazookas (21 RPG-7) e outras armas de infantaria. Sofreu grande número de baixas, que, segundo informações posteriores, ultrapassou os 30 [trinta].

A retirada foi sem problemas, pois o canhão inimigo [NT] e sua dotação foram destruídos pelo primeiro foguete do GRAD.


Correcção às informações obtidas posteriormente pelo PAIGC:

De acordo com a base de dados existente na Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra (sítio: http://apvg.pt), relativa ao número de militares – continentais e de recrutamento local – falecidos nos TO ultramarinos, verificou-se que durante o período em que a Companhia de Caçadores n.º 6 (CCAÇ 6) prestou serviço em Bedanda [de 01Abr1967 a 27Abr1974 = sete anos] o número total de baixas foi de 12 (doze), sendo 10 (dez) do Recrutamento Local e 2 (dois) do Contingente Metropolitano.

Das 10 (dez) baixas de naturais da Guiné, 5 (cinco) morreram em combate (50%), 3 (três) por acidente (30%), 1 (um) por doença (10%) e 1 (um) por afogamento (10%).

Para que conste, foi elaborado o competente quadro nominal.


Pelo acima exposto, conclui-se que as informações obtidas por parte do PAIGC, quanto ao número de mortos durante esta acção, carecem de fundamento (são absolutamente falsas), na medida em que este seu ataque não provocou qualquer baixa mortal, não obstante todo o aparato bélico.

Por outro lado, desde o início do conflito [1963] e até à alteração do nome para CCAÇ 6 [1967], a 4.ª CCAÇ contabilizou 15 (quinze) baixas, sendo 5 (cinco) do Contigente Metropolitano e 10 (dez) do Recrutamento Local.

Seguindo o mesmo procedimento anterior, apresenta-se o respectivo quadro nominal.


Continuaremos a desenvolver este tema com a apresentação dos principais factos ocorridos em cada um dos restantes ataques.

Com forte abraço de amizade,
Jorge Araújo.
07MAR2018.
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Nota do editor:

(`) Vd. poste de 7 de março de 2018  > Guiné 61/74 - P18387: (D)o outro lado do combate (21): "Plano de operações na Frente Sul" (Out - dez 1969) > Ataque a Bedanda em 25 de outubro de 1969 (ao tempo da CCAÇ 6, 1967-1974) - Parte I (Jorge Araújo)

sábado, 9 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18066: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 13 (Não quero morrer( e 14 (As praxes dos 'Capicuas', CART 2772)


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) >  O autor, ao volante de um Unimog 411 (o famoso "burrinho"), à entrada da vila de Fulacunda




Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) >  O autor, no seu  quarto, n acama, a ler "O Século Ilustrado"...

Fotos (e legendas): © José Claudino da Silva (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da pré-publicação do próximo livro (na versão manuscrita, "Em Nome da Pátria") do nosso camarada José Claudino Silva:

Nascido em Penafiel, em 1950, criado pela avó materna, reside hoje em Amarante. Está reformado como bate-chapas. Tem o 12º ano de escolaridade. Foi um "homem que se fez a si próprio", sendo já autor, com dois livros publicados (um de poesia e outro de ficção). Tem página no Facebook. É membro nº 756 da nossa Tabanca Grande .


Sinopse:

(i) foi à inspeção em 27 de junho de 1970, e começou a fazer a recruta, no dia 3 de janeiro de 1972, no CICA 1 [Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas], no Porto, junto ao palácio de Cristal;

(ii) escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, da Via Norte à Rua Escura.

(iii) passou pelo Regimento de Cavalaria 6, depois da recruta; promovido a 1º cabo condutor autorrodas, será colocado em Penafiel, e daqui é mobilizado para a Guiné, fazendo parte da 3ª CART / BART 6250 (Fulacunda, 1972/74);

(iv) chegada à Bissalanca, em 26/6/1972, a bordo de um Boeing dos TAM - Transportes Aéreos Militares; faz a IAO no quartel do Cumeré;

(v) no dia 2 de julho de 1972, domingo, tem licença para ir visitar Bissau,

(vi) fica mais uns tempos em Bissau para um tirar um curso de especialista em Berliet;

(vii) um mês depois, parte para Bolama onde se junta aos seus camaradas companhia; partida em duas LDM parea Fulacunda; são "praxados" pelos 'velhinhos', os 'Capicuas", da CART 2772.

2. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 13 (Não quero morrer)  e 14 (Os  'capicuas')

[O autor faz questão de não corrigir as transcrições das cartas e aerogramas que começou a escrever na tropa e depois no CTIG à sua futura esposa. Esses excertos vêm a negrito. O livro, que tinha originalmente como título "Em Nome da Pátria", passa a chamar-se "Ai, Dino, o que te fizeram!", frase dita pela avó materna do autor, quando o viu fardado pela primeira vez. Foi ela, de resto, que o criou. ]



13º Capítulo > NÃO QUERO MORRER


Pouco a pouco, estava a adaptar-me ao clima tropical, mas também ao clima emocional. Exactamente um mês após aterrar em Bissau, parti para Bolama, onde fui juntar-me aos meus camaradas da 3ª Companhia. Como calculara, tinha imensa correspondência. Passei algumas horas a ler e responder a todos os que me tinham escrito.

Quero desde já dizer-vos o seguinte: A distância, por incrível que possa parecer, tem o condão de aproximar as pessoas que se amam, e afastar aquelas cujos sentimentos não são tão genuínos. Todos os que, como eu, estiveram, ou estão ausentes, se o amor ou a amizade não tem raízes profundas, num curto espaço de tempo acabam por ser engolidos pelo esquecimento. No que eu escrevia era notório que a minha sensibilidade estava a mudar. Talvez eu estivesse a transformar-me.

No dia 29 de Julho escrevia:

“Estou neste momento a bordo duma lancha LDM, com destino a Fulacunda, local aonde vou cumprir a comissão, estivemos a ouvir o discurso do filho da puta do comandante e em seguida recebemos o armamento que é o seguinte. Uma espingarda G3, uma faca de mato, 100 munições (5 carregadores), um cinto, um cantil, um bornal, uma marmita. Depois tive de vestir a farda camuflada, foi a primeira vez que o fiz. Vou tirar fotografias com ela.”


Já sei em que me estava a transformar, numa Máquina de Guerra... mas também ainda tinha um pouco a sensação de estar num filme. Uma coisa afirmava na mesma carta. “Não quero morrer!”

Perdi algo de mim, em cada dia que passei naquele pedaço do continente africano. Não foram precisos muitos dias para começar a perceber que alguma coisa estava errada, mas ainda não sabia o que era.

Viajámos durante quatro horas pelo canal ou rio Fulacunda, fortemente armados, em duas lanchas com cerca de 70 soldados em cada e ainda hoje sinto um aperto enorme no peito ao lembrar a minha chegada ao local onde iria permanecer dois anos. Nós fôramos condenados a viver num campo de concentração.

Não sei se para impedir a entrada ou a saída, a vila de Fulacunda estava rodeada de arame farpado.

Neste capítulo, quero dizer-lhes que só relatarei o que na época escrevi. Não vou consultar absolutamente nada sobre Fulacunda ou a Guiné-Bissau, na internet, ou outro dispositivo de informação actual. Sensações ou emoções serão as que senti. Não me preocupa a geografia ou até se errar em discrições que faço de locais. Nos meus escritos, acredito ter alguns erros objectivos, mas, no fundo, o que pretendo é que sintam o que eu senti, se para tal tiver capacidade de o traduzir em palavras. A minha guerra, com certeza absoluta, é diferente de todos no íntimo e igual no tempo. A descrição que fiz sobre a vila de Fulacunda perdeu-se algures, apenas possuo as fotos.



14º Capítulo > OS CAPICUAS


A alegria estampada em cada rosto dos soldados que fomos render era tal que creio nunca mais na minha vida vi semblantes tão felizes.

Na sua recepção aos novos, cada elemento, de cada especialidade, transmitiu ao seu substituto todos os pequenos bens que foi usando durante a sua própria comissão e que não podiam, ou não queriam trazer consigo. De mecânico para mecânico, condutor para condutor, enfermeiro para enfermeiro, atirador para atirador, e por aí adiante, desde pequenas hortas, a ventoinhas ou rádios, livros ou discos. Informando-nos quais as mulheres locais que melhor lavavam a roupa e até às funções que desempenhavam dentro do quartel, dando-nos inclusive alguns conselhos, de como devíamos proceder em caso de ataques do inimigo.

Aqueles homens tostados pelo calor dos trópicos e endurecidos pelo sofrimento de estarem numa guerra longe de quem mais amavam,  fizeram-nos a melhor praxe que alguma vez algum caloiro teve, ou terá. Com a solidariedade de quem sobreviveu, fomos praxados para melhor enfrentar a morte.

A companhia que substituímos também foi um número, o 2772. Ficaram conhecidos como “Os Capicuas” [, CART 2772]. Em meu nome e em nome de todos os elementos da 3ª Companhia do BART 6520, a eterna gratidão. Após 45 anos, ainda me lembro de vocês. Se o cabo condutor que substituí ler este texto, a foto que junto é da sua cama. Peço desculpa por colocar a imagem da santa debaixo da mezinha de cabeceira. Embora, naquela altura, ainda possuísse alguma fé no divino, penso que era mais importante ter a G3 mais à mão do que os santos.

E comecei a deixar crescer o bigode. Estava a ficar um homenzinho. Penso que, na realidade e até hoje, nunca consegui. Também nunca fui verdadeiramente uma criança.

Quando foram distribuídas as tarefas, fiquei com a missão de zelar pelo depósito da cantina do bar de sargentos e bar de oficiais. A partir de agora, tudo que os meus camaradas precisassem, desde tabaco a bebidas, eu era o responsável para que nada lhes faltasse. Comecei a beber cerveja. Em breve, seria vinho, whisky, gin e por aí adiante. O menino da avó tinha ficado na Metrópole. O Claudino desaparecera mesmo, e ali, para simplificar, passei a ser o 118.



Guião do BART 2924 (Tite, 19670/72) a que pertencia a CART 2773, que foi substituída pela 3ª CART / BART 6220/72. Por este batalhãio também o nosso grã-tabanqueiro, o médico Amaral Bernardo, entre janeiro e julho de 1972.


Foto  (e legenda): © Amaral Bernardo (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]inua)

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terça-feira, 21 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P17999: Agenda cultural (610): O livro "Guiné - Crónicas de Guerra e Amor", da autoria de Paulo Cordeiro Salgado, foi apresentado no passado dia 16 de Novembro, na Messe de Oficiais, no Porto (Paulo Salgado / Amaral Bernardo)



O LIVRO "GUINÉ - CRÓNICAS DE GUERRA E AMOR", DE PAULO CORDEIRO SALGADO, FOI APRESENTADO, NO PASSADO DIA 16 DE NOVEMBRO, NA MESSE DOS OFICIAIS, NO PORTO

O Presidente do Núcleo do Porto da Liga dos Combatentes, Sr. Coronel José Manuel Belchior, deu corpo à apresentação do meu livro “Guiné – Crónicas de Guerra e Amor”, em ambiente militar, e que teve lugar na messe de oficiais, à Batalha, no Porto, no dia 16 do corrente mês de Novembro. 

A mesa foi constituída pelo representante do General Comandante do Pessoal, Sr. Coronel Jaime Sequeira, que presidiu; o Sr. Coronel José Manuel Belchior, que moderou; o editor, o Sr. Tenente-Coronel na reserva, António Lopes (Sá Gué); o apresentador, Sr. Dr. Amaral Bernardo, Médico e Professor jubilado, além do autor, Paulo Cordeiro Salgado, este vosso amigo.

Estiveram presentes alguns militares e ex-militares, pessoas amigas, colegas de juventude, além da mulher e da filha do autor.


O autor, Paulo Cordeiro Salgado, com a filha e a esposa

 O autor, Paulo Cordeiro Salgado, e o senhor Coronel José Manuel Belchior

Este encontro inseriu-se no contexto de tertúlias organizado pela Liga do Combatentes, sob o lema “Fim do Império”, evento que tem periodicidade mensal.

Após a apresentação do livro pelo Dr. Amaral Bernardo, teve lugar um animado debate em torno do livro e de situações relativas ao ambiente da guerra colonial, um tema que não está esgotado e que, segundo alguns dos presentes, deve ser abordado e transmitido às gerações que se seguiram à que teve de enfrentar uma situação bélica não desejável.

Como é razoável e intelectualmente correcto, abstenho-me de fazer comentários. No entanto, darei a conhecer, muito brevemente, a ideia geral, a súmula, da apresentação que, gentilmente, o Dr. Amaral Bernardo me entregou. Permitam-me, ao menos, uma palavra de respeitosa referência aos militares na reserva e ainda aos militares no activo e aos amigos que, uma vez mais, ousaram acompanhar este evento.

A apresentação do livro foi acompanhada de um texto que se junta na globalidade, respeitando o interesse e o empenho do Dr. Amaral Bernardo, bem como a autorização pertinente. À medida que ia lendo alguns excertos, ia comentando o que lhe “deu” o livro. Agradeço-lhe a generosidade, sempre despida de louvaminhices, pois este Amigo não é e nunca foi de “passar a mão pelo lombo” a ninguém.

O autor.

"Guiné - Crónicas de Guerra e Amor"
de Paulo Cordeiro Salgado,
Lema D'Origem, Lda. - Outubro de 2016
Prefácio de Mário Tomé


O apresentador, Prof Amaral Bernardo, e o autor Paulo Cordeiro Salgado

Professor Amaral Bernardo

«LIVRO “CRÓNICAS DE GUERRA E AMOR”, DE PAULO CORDEIRO SALGADO APRESENTAÇÃO PELO DR. AMARAL BERNARDO NA TERTÚLIA “O FIM DO IMPÉRIO” PROMOVIDA PELA LIGA DOS COMBATENTES DO NÚCLEO DO PORTO

O autor deste livro é o Dr. Paulo Salgado, aqui presente, amigo com quem partilhei “interessantes cumplicidades”, como ele teve a gentiliza de referir na simpática dedicatória com que fez o favor de me autenticar nesta obra.
Se a Mário Tomé, “não esperando”, não o surpreendeu por ser o comandante de companhia (ver prefácio), a mim, o convite para esta delicada tarefa apanhou-me… sexta-feira… num fim de tarde à secretária… Tinha estado na apresentação aqui no Porto. O Dr. Manuel Pavão havia lido algumas crónicas do livro… tinha deixado para altura mais oportuna a leitura plena… pum!
Não pude recusar!
E aqui estou.

Quem conhece o Paulo Salgado sabe que ele tem um traço partilhado pelos “malandrecos”… Olhem bem para esta foto da contracapa… Só há um termo que define plenamente… PÍCARO, julgo, como dizem os… espanhóis, no bom sentido, entenda-se.
Contudo sinto-me honrado com esta “malandrice” e de modo nenhum podia recusar, dado o nosso histórico comum… a Guerra, o Hospital de Sto. António e as andanças da cooperação com a Guiné-Bissau… embora sinta o peso da responsabilidade. Este livro já foi apresentado a vários públicos por pessoas bem legitimadas para o fazerem. Mas, como se calhar, só ele é que ouviu as outras, pelo que conto com a sua compreensão e benevolência. E quem sabe, porventura valorizará ainda mais as anteriores.

Sobre o livro em si…
Mais que apresentá-lo, vou mais descrever o que me tocou, as emoções que vivi.
Reconheço que após este nosso encontro aqui, no livro... ficámos ainda mias próximos.
Muito bem organizado, como se pode ver na arrumação de:
Advertência – Prefácio – Olossato – Termos utlizados – Bibliografia – Poilão de Brá.

A acção principal do livro desenrola-se na então Guiné, mormente no período da guerra pela independência – mas vai mais longe: dá traços históricos desde a descoberta até aos nossos dias, passando pelas vicissitudes da colonização (com tudo o que teve de bom e de mau – a escravatura) e, mais recentemente, já depois da independência, a COOPERAÇÃO. E de que é que trata, então?
Vinte anos depois de ter terminado a COMISSÃO DE SERVIÇO (como então se dizia) um ex-oficial miliciano-alferes volta à Guiné, agora como cooperante e conta-nos, em crónicas vividas, o que sentiu... e voltou a viver.
Estamos a falar do Alberto... e quem é ele? Quem foi ele?
Pode parecer estranho... mas eu conheci o Alberto antes de ele ser o Alberto (no Hospital de Sto. António nas nossas andanças da cooperação na montagem e execução de um projecto de formação pós-graduada a médicos da Guiné-Bissau promovido pelo Banco Mundial e que o consórcio ICBAS/HGSA ganhou em concurso Internacional - 2 anos, melhor, 4). Conheci-o, direi bem... em consequências das ”cumplicidades” que fomos criando.

É um livro muito bem conseguido.
Capa sóbria… singela… a respeitar e proteger o conteúdo raro… delicado… sublime… os sentimentos… as emoções vividas… vidas no limite!
Os últimos parágrafos de cada crónica são reveladores de ideias-chave:
DOR – DESESPERO – TRISTEZA – MAS TAMBÉM AMOR E ESPERANÇA; A HISTÓRIA – mergulhar no passado; os cenários; as personagens; o gongorismo do discurso.
Li este livro antes. Depois vivi o livro.
Não é um livro para ler… é um livro para se ir saboreando como deve ser feito com tudo o que é raro.
Este é um livro precioso... não é mais um livro... é genuíno... verdadeiro, que nos traz, e que nos faz viver com o autor, recordações de um tempo único, radical... no fio da navalha e que marcou e alterou a nossa vida para sempre, tão entranhadamente se meteu em nós que continuamos a viver ‘la’ (como diz Luís Albuquerque, psiquiatra – estes rapazes continuam em guerra!).
E que tem beleza... e a poesia que emana do destilado cristalino das vivências autênticas... primárias, sempre de sobrevivência... que nos agarraram à vida.
Puros adjectivos? Não! Quem o ler verá que eu fui modesto no que acabo de dizer.
Homenagem aos que morreram… aos que deixaram lá o nosso bem supremo – A VIDA
Nós somos História… breve acabaremos… depois, os historiadores deturparão consoante o figurino político.
Somos todos responsáveis…

LOBO ANTUNES refere na última entrevista ao Ípsilon (ver Público de 10.11.2107), de que respigo algumas ideias:
«Não sei explicar bem, mas a maior parte do que sou continua lá.
Foi uma experiência tão radical… tão violenta…
Isto vai dar cabo da nossa juventude, da nossa idade madura, da nossa velhice…
Não é possível contar um quotidiano de guerra a quem não esteve na guerra.»

Minhas Caras e meus Caros,
Aquilo dói muito.
Ninguém desce vivo de uma cruz!
Passaram? Ainda lá estou.
Está tudo tão vivo… os cheiros … as cores…
Nunca vi nada mais bonito… os crepúsculo e os amanheceres muito rápidos…
Uma sensualidade enorme!

Amaral Bernardo
16 de Novembro de 2017
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Notas do editor:

- Paulo Salgado foi Alf Mil Op Esp da CAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72

- Amaral Bernardo foi Alf Mil Médico do BCAÇ 2930, Catió, 1970/72

Último poste da série de 21 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17998: Agenda cultural (609): Tertúlia do Programa Fim do Império, 1.º Encontro no Clube do Alto da Barra, dia 24 de Novembro, 6.ª feira, às 15h00 (Manuel Barão da Cunha)