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sábado, 23 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12334: Notas de leitura (537): A participação da CART 3494 na Acção Garlopa (Sousa de Castro)

1. Mensagem do nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), de 8 de Outubro de 2013:

Caros camaradas
Depois de ler o poste Guiné 63/74 - P12128: Notas de leitura (524): Reportagem do enviado especial do Diário de Lisboa, Avelino Rodrigues, CTIG, agosto de 1972 (Mário Beja Santos) leva-me a concluir que tem a ver com a actividade da CART 3494 em Julho de 1972, Operação Garlopa, conforme pág. 75 da História do BART 3873 que anexo, assim como a "Actividade da CART 3494 do BART 3873 no Teatro de Operações da Guiné (4)".

Sousa de Castro









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Nota do editor

Último poste da série de 22 de Novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12326: Notas de leitura (536): "Maré Branca em Bulínia", por Manuel da Costa (Mário Beja Santos)

sábado, 12 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12141: (Ex)citações (227): Nas duas Açções Garlopa em que participei, com a CART 3494 e a CCAÇ 12, não tenho ideia de termos capturado elementos pop mas destruímos dois acampamentos e outros meios de vida (António J. Pereira da Costa, ex-cap art, CART 3494, jun/nov 1972)

1. Mensagem de António J. Pereira da Costa, cor art ref, com data de ontem:

Assunto - Operação Garlopa 2
Olá Camaradas

Reporto-me ao Poste P12135.

É pena que se tenham "perdido" a História e restante documentação das unidades.

No caso da CArt 3494 posso garantir que participei em duas acções de nome Garlopa enquanto estive no Xime e sempre com CCaç 12 a proteger o flanco esquerdo da CArt que progredia em direcção ao Poindom,  deixando o Geba no seu flanco direito.

Em nenhuma das duas [acções] foram capturados elementos da população, mas apenas destruídos dois acampamentos e restantes meios de vida.

Na primeira,  não houve contacto e o mato era muito denso, de tal modo que o DO-27 teve dificuldade em nos localizar e só quanto o acampamento começou a arder é que nos viu.

Na segunda, continuámos a destruição, mas com dificuldade. Tinha chovido e não nos forneceram granadas de mão incendiárias. Destruímos a pontapé  alguns Irãs que existiam a descoberto.
Demorámo-nos e, no momento em que as duas companhias, se reuniam, sofremos uma curta emboscada, sem consequências.

Em nenhuma das acções pedi fogo de artilharia e não fomos à Ponta do Inglês [, na foz do Rio Corubal].

A CArt 3494, no meu tempo, recolheu um Companhia de Paraquedistas que fora colocada (?) na Ponta do Inglês, mas não actuámos juntos.

Os dez elementos da população [, referidos no poste,] foram recolhidos no Geba, depois da LDG lhes ter afundado a canoa.

A História da Unidade contem inúmeras inexactidões,  a começar na minha apresentação, que foi a 22 de junho de 1972, e não em Agosto de 1972.

Um Ab.
António J. P. Costa

2. Comentário de L.G. [, foto à esquerda, em Bambadinca, 1969]


Tó Zé, tome-se boa nota das tuas observações e apontamentos... Infelizmente, eu só tenho a história dos dois batalhões anteriores, o BCAÇ 2852 (1968/70) e BART 2917 (1970/72), além da história da CCAÇ 12 (de maio de 1969 a março de 1971), que eu próprio escrevi. Pode ser que apareça mais algum camarada com elementos novos, de memória ou documentais.  Pelos vistos, o Sousa de Castro possui uma cópia da história do BART 3873.

A esta distância, de mais de quatro décadas, a memória atraiçoa-nos. Valha-nos ao menos a existência dos preciosos mapas que o Humberto Reis em boa hora comprou, digitalizou e ofereceu à Tabanca Grande! (Ainda tenho alguns mais, "guardados", que só disponibilizo a pedido, nomeadamente os dos arquipélagos dos Bijagós)...

Já agora, fiquei a saber o que era uma... garlopasubstantivo feminino. Instrumento de carpinteiro, semelhante à plaina, mas maior do que esta. "garlopa", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/garlopa [consultado em 11-10-2013].

Mas vamos ao que interessa, e corroborando o que tu escreves: se consultares as cartas do Xime e de Fulacunda, e refrescares a memória, vais ver que era difícil chegar à Ponta do Inglês, a penantes... Concordo contigo. Por isso é que se usava a "helicolocação"... Sei não estiveste lá muito tempo, por aquelas bandas: de qualquer modo foram quase seis meses, o tempo de um gajo deixar de ser periquito...

Aliás, nem a nossa artilharia (o obus 10.5) lá chegava... Eu, que levei bastante porrada, ao longo da antiga estrada (ou picada) Xime-Ponta do Inglês,  nunca tive o privilégio de lá chegar, mesmo à ponta... da Ponta do Inglês. Nunca vi o famoso Corubal, nem os seus hipopótamos nem os seus crocodilos... Hoje, julgo que desapareceram, pelo menos os hipopótamos... Devem-nos ter caçado e comido durante a "guerra de libertação".  O mesmo aconteceu ao pobre do macaco-cão, que era abundante nas florestas do Corubal...

De resto, era quase impossível chegar, por terra, à Ponta do Inglês sem ser detectado pelos gajos de Baio ou da Ponta Varela e, depois, mais à frente, do Poindom... Aquilo era um ratoeira... Entrava-se naquela pensínsula, para levar porrada, se levássemos intenções (agressivas) de chegar ao Poindom... onde havia núcleos populacionais que o PAIGC procurava defender com unhas e dentes...

A última vez que as NT chegaram mesmo à Ponta do Inglês deve ter sido na Op Lança Afiada (março de 1969), a tal megaoperação que envolveu 1300 militares e carregadores civis...e em que 15% do pessoal foi helievacuada (por insolação, esgotamento, ataque de abelhas, etc.).

Quanto às "inexactidões" das histórias das nossas unidades...  bom, temos que saber viver com elas, despistá-las, remediá-las, remendá-las... Sempre é melhor do que não ter documentação nenhuma, por escrito... Temos que  ver também o que os outros, do outro lado, diziam de (ou escreviam sobre) nós... O que infelizmente também foi pouco.

Em todo o caso,  há alguns documentos interessantes no Arquivo Amílcar Cabral (disponível na Casa Comum, a tal comunidade de arquivos de língua portuguesa que a Fundação Mário Soares tem vindo a desenvolver, com diversas parcerias). Há documentos dos "outros" que vale a pena cotejar com os "nossos"... Só com o contraditório e a triangulação das fontes podemos avançar no conhecimento histórico. Vou fazer isso,  um dia destes, a propósito das duas minas A/C que accionámos em Nhabijões, em 13/1/1971... Numa nova série que terá como título qualquer coisa como "Taco a taco... A guerra vista do outro lado"... Para já tenho curiosidade em saber quem foram os filhos da mãe que puseram as duas minas, uma das quais matou o nosso (da CCAÇ 12) Manuel  da Costa Soares, aos 20 meses de comissão (. Infelizmente não chegou a conhecer a filha que nasceu e cresceu na metrópole. Era natural de Oliveira de Azeméis).

Boa noite, Tó Zé,  um abraço. E que os fantasmas da antiga picada do Xime-Ponta do Inglês  não te assombrem.  LG

PS - Junto se anexa a pag 75 da Hustória do BART 3873 (Bambadinca, 1971/74), onde se faz referência à Acção Garlopa, de 19/7/1972, e na qual participaram, além da CART 3494 e da CCAÇ 12, dois gr comb da CCP 121/BCP 12, que foram largados de helicóptero no objetivo.




Cópia da pág. 75 da História da Unidade, BART 3873 (Bambadinca, 1971/74), gentilmente cedida pelo Sousa de Castro.
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Nota do editor:

Último poste da série > 4 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12116: (Ex)citações (226): Não me lembro do Oh! Alexandre... mas é muito natural que ele se lembre de mim: afinal, em dois terços do tempo de comissão, fui eu que comandei a CCAÇ 798... Também se deve lembrar do alf mil Pinheiro, que comandava o destacamento de Ganturé e que foi evacuado com 14 perfurações no corpo, na sequência de uma emboscada na estrada para Gandembel (Manuel Vaz, Gadamael, 1965/67)