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domingo, 10 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24937: In Memoriam (488): Zélia Neno (1953-2023), que foi casada com o Xico Allen (1950-2022) e mãe da Inês Allen... Velório a partir das 11h00 de hoje na Igreja de São Martinho de Lordelo do Ouro (Porto) e funeral amanhã às 14h30


Zélia Neno (1953- 2023). Foto: cortesia da página do Facebook de Inês Allen.


Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Ingoré > 1998 > Uma foto que correu mundo... ou que , pelo menos, já deu a volta à Tabanca Grande... A legenda é do Albano (Costa): “Esta foto vale pela imagem, e os brancos em África converteram-se? Não é que ficaram a ver a Zélia a puxar o burro, mulher de armas!"... O Albano fez questão de me mandar esta e outras fotos da viagem do Xico e da Zélia, em 1998, com o seguinte recado: "... para ilustrares o que entenderes, com a devida autorização da Zélia" (sic).

Foto: © Francisco Allen / Zélia Neno (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné 


1. Por email de ontem,  às 19:40, do Zé Teixeira tivemos triste notícia do falecimento da nossa amiga Zélia Neno, a primeira mulher a integrar a nossa Tabanca Grande (em 19 de fevereiro de 2006; tem 14 referências no nosso blogue).

De seu nome completo, Zélia Neno Maria Cardoso, tinha sido casada com o Xico Allen (1950-2022) e era mãe também da nossa tabanqueira Inês Allen.

A Zélia estava internada no Centro Social Arcanjo Gabriel - ATRPT (Associação de Trabalhadores e Reformados da Portugal Telecom), onde os filhos ( a Inês e o irmão, que não conhecemos) a visitavam com frequência, em Vila Nova de Gaia,

A Inês deixou ontem, às 17:12, a seguinte mensagem na sua página pessoal e na página do Facebook da mãe:

Que grande exemplo de ser humano tu foste…
Para mim, e para quem se cruzou contigo na vida! 
Missão cumprida minha guerreira! Pra onde quer que vás…
Vai com tudo, e contagia-os com o teu lindo sorriso. 

Estará na Igreja de São Martinho de Lordelo (Lordelo do Ouro, Porto);
Entrada amanhã às 11:00;
Funeral : 2ª feira, às 14:30 (segue para o crematório  de Paranhos, Porto)
Missa do 7.º dia:  sábado, dia 16, às 18:30


2. Conhecia-a pessoalmente na Madalena, V. N. Gaia, em 2006, mas antes ele mandara-me o seguinte mail com data de 16/2/2006:

(...) Achará estranho receber este email enviado por uma mulher fã do Blogue-Fora-Nada, onde se encontram largas centenas de quilómetros de palavras sobre a Guiné.

(...) O senhor não me conhece, o mesmo não acontece comigo, pois não só através da escrita como por foto. Sou casada com o Xico Allen, que o senhor conhece mas ainda não é tertuliano, mas foi ele que há meses me alertou para a existência deste blogue e, como sou uma verdadeira amante da Guiné e da sua História, passada, presente e futura, que lamentavelmente teima em não vir a ser bem mais favorável para aquele seu povo tão sofredor, estou quase viciada a diariamente ler o que vão contando no blogue.

Por influência do Sr. Albano [Costa] e até do Sr. [José] Teixeira, que conheço pessoalmente pois ambos já foram à Guiné com o meu marido, fui incentivada a escrever contando algumas (pois são muitas) das minhas vivências naquela maravilhosa terra que conheci em março de 92, conforme conto no texto inicial e que enviei para o senhor no passado dia 15 Janeiro [por erro no endereço de -mail, não deve ter chegado, pelo que se volta a enviar]." (...)

Respondi-lhe nestes termos, em 19/2/2006, data em que passou a integrar a nossa Tabanca Grande, na altura conhecida apenas como tertúlia. Publicámos alguns postes dela ou com referência a ela, em 2006 (*):

(...) "A Zélia, de quem eu já tinha ouvido falar, no último Natal, na nossa minitertúlia do Porto-Matosinhos-Gaia, é o que se pode chamar, com toda a justiça, uma mulher de armas, uma mulher do Norte, uma caso sério de amor e de paixão (pelo seu Allen mas também pela Guiné e o seu povo)... Foi, por mor (como se diz no Norte) da guerra e do stresse pós-traumático da guerra, que ela acompanhou o marido à Guiné, em 1992, e já lá voltou várias vezes...

Fico muito honrado por publicar esta carta e, por desde já, convidá-la sem mais demoras a figurar no quadro de honra da nossa tertúlia (a ela e ao Allen, pois claro!). A Zélia (trato-o como se a conhecesse há anos!...) mandou-me mais documentos que serão inseridos no blogue ainda este fim de semana." (...)

À Inês Allen, ao seu irmão e demais família apresento as minhas condolências pessoais, a que se associam por certos os demais editores, colabiradores e restantes membros da Tabanca Grande.
____________

Notas do editor:

Vd. último poste da série de 22 de outubro de 2023 > Guiné 61/74 - P24783: In Memoriam (487): António Eduardo Jerónimo Ferreira, (15/05/1950 - 21/10/2023), ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493 / BART 3873 (Mansambo e Fá Mandinga, 1972/74)

(*) Vd. postes de:


19 de fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - P546: Zélia, um caso de amor e de paixão (II)

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8867: Inquérito online: Com que frequência tens visitado ultimamente o nosso blogue ?: Resultados e comentários preliminares

Guiné-Bissau > Região do Oio  > Mansoa > Jugudul > Abril de 2006 > Uma miúda  da região chupando uma guloseima que veio do Porto com açúcra e com afeto...

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Estrada Bambadinca-Saltinho > 18 Abril de 2006, 14º dia  da viagem Porto-Bissau > Alguém perdeu um chinelo, algures perto de Mansambo...

Guiné-Bissau > Região de  Quínara > Estrada Buba-Empada > 19 Abril de 2006, 15º dia da viagem Porto-Bissau > Um insólita seta indicando a direção e a distância até à desértica  Madina do Boé: 67 km...

Guiné-Bissau > Região do Oio > Farim > Jumbembém > 17 Abril de 2006, 13º dia da viagem Porto-Bissau > O brinquedo mais precioso, de "linha branca"...


Guiné-Bissau > Região do Óio  > Estrada Mansoa- Mansabá > 16 de Abril de 2006, 12ª  dia da viagem Porto-Bissau > Uma insólita "sementeira" de bagabaga preto (termiteiras em cogumelo)


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Estrada Bambadinca-Saltinho > 18 Abril de 2006, 14º dia da viagem Porto-Bissau > Ruínas do aquartelamento de Mansambo (monumento da CART 2339, 1968/69)...


Guiné-Bissau > Região de Óio  > Farim > 17 Abril de 2006, 13º dia da viagem Porto-Bissau > Cais de embarque no Rio Cacheu...


Imagens, sempre belíssimas, do álbum do nosso amigo Hugo Costa, filho do nosso camarada Albano Costa, documentando a viagem por terra, do Porto a Bissau, organizada pelo Xico Allen, em Abril de 2006, bem como a viagem emocionante pelo interior da Guiné-Bissau, a partir de Bissau e do Saltinho  (que os levou a vários sítios, de norte a sul e de leste a oeste: Bissau, Quinhamel, Mansoa, Mansambá, Barro, Bigene, Farim, Jumbembem, Canjambari, Xime, Fá Mandinga, Mansambo, Saltinho, Buba, Empada, Judugul, Bissau). A caravana era constituída por um único... jipe, que levou sete pessoas (!): além do Xico e da Inês Allen, o Hugo Costa, o A. Marques Lopes, o Zé Teixeira, o Casimiro e o Manuel Costa.

Recorde-se que essa viagem ficou registada numa série de crónicas assinadas pelo A. Marques Lopes, na I série do nosso bogue (pelo menos, uns 26 postes: Do Porto a Bissau), bem como em alguns apontamentos do Albano Costa (que, dessa vez, ficou na terra, em Guifões, Matosinhos,  onde é fotógrafo profissional)... O Hugo já tinha à Guiné, com o pai, em Novembro de 2000. Fica a nossa homenagem a ambos, pai e filho. (LG)

Fotos: © Hugo Costa (2006). Todos os direitos reservados


1. Mensagem, enviada ontem pelo correio interno da Tabanca Grande:

Assunto: Sondagem: Com que frequência tens visitado ultimamente o nosso ? Faltam 3 dias para terminar o prazo de votação

Amigo/a, camarada:

Faltam 3 dias para terminar a votação na nossa sondagem 'on line' (*).  Houve já mais de 150 votantes. A tua opinião, como membro registado da nossa Tabanca Grande (somos 520), é importante para quem está no "back office"...

Participa. Ajuda-nos a fazer mais e melhor. Estamos num período de reflexão e de reorganização interna da nossa "casa"...

Para participares, basta ires ao blogue e,  no canto superior esquerdo, escolheres uma das 8 possíveis respostas à pergunta da sondagem. A resposta é anónima.


Também podes mandar, por "mail", dando a cara, críticas, sugestões ou comentários  que nos ajudem a tomar medidas com vista à melhoria da organização e funcionamento do nosso blogue (que deve ser feito "por todos e para todos" os camaradas da Guiné...) e, por extensão, da nossa comunidade virtual que é a Tabanca Grande (por ex., regras de adesão, organização dos encontros, iniciativas).
Luís Graça

2. Comentário de L.G.:

À meia noite e meia de hoje, tínhamos 205 respostas, assim distribuídas:

(i) 75% dos respondentes visitam o blogue "diariamente" (39%) ou "quase todos os dias" (36%)

(ii) Os menos assíudos  vão lá "uma ou mais vezes por semana" (16%); ou "uma ou mais vezes por mês" (5%)

(iii) E os restantes 4%, "nunca ou raramente" visitam o blogue.


De acordo com a estatística produzida pelo nosso contador (Bravenet), desde 9 de Maio de 2010, o total de páginas visitadas foi de 2,918 milhões. Cerca de 85% dos visitantes costuma visitar a página mais de uma vez, no mesmo dia. Um em quatro visitantes vem de fora de Portugal (Brasil, Estados, França, etc.).

3. Alguns comentários de camaradas que tem andado ultimamente mais arredios das nossas páginas, mas que  responderam à nossa chamada, merecendo por isso um pequeno destaque:

Manuel Amante (, até agora em Macau):


Meu Caro Luís,


Estou de regresso a Cabo Verde e ao Ministério das Relações Exteriores.
Já votei e na primeira rúbrica porque vou ao nosso blog todos os dias.
Haja energia eléctrica ou não.
Haja insónia ou sono.
Haja ansiedade ou apatia geral.


Recebe um fraternal abraço. (...)


Albano Costa, de Guifões, Matosinhos, o nosso fotógrafo, e pai de Hugo Costa, que também seguiu as peugadas do pai no seu grande amor à fotografia e à Guiné:



Caros amigos: Embora esteja afastado há bastante tempo de participar no blogue, não tenciono deixar de fazer a minha visita diária.

Um bem haja para todos que, com o seu esforço, mantêm este "monstro" sempre actualizado. (...)


António Sampaio[, ex-Alf Mil na CCAÇ 15 e Cap Mil na CCAÇ 4942/72, Barro, 1973/74]

(...) Apesar de ainda ser "meio maçarico" aqui vai a minha resposta: "Sempre que abro o correio" (ou seja, quase diariamente).


Quando puder enviarei outra folha da minha passagem por aquelas terras. (...)


J. Eduardo Alves [, ex-Sold Condutor Auto da CART 6250, Mampatá , 1972/74]


Para responder à questão...  Eu visito o blogue de manhã e ao fim do dia (...)

Guilherme Sousa:

Um transmontano em França, Sens (...). Eu, desde que descobri este blogue, quase todos os dias dou uma vista de olhos. Infelizmente encontro poucos camaradas que passaram comigo quase dois anos na Guiné, ou seja, em Mansambo.  Fui condutor da CART 2714. Vivo em França desde que vim da Guiné, ou seja, desde 1972... Um abraço amigo e que o blogue continue (...)

Hilário Peixeiro [ ex-Cap Mil, CCAÇ 2403/BCAÇ 2851, Nova Lamego, Piche, Fá Mandinga, Olossato e Mansabá, 1968/70]:

Os primeiros e-mails que abro são os do Luis Graça mas há já uns dias que não visito o nosso blogue.  (...)

Jaime Machado

Todos os dias visito o nosso blogue (...)

Zé Carioca

As minhas visitas ao blogue passaram a ser esporádicas pela indigação com que fiquei sobre a aldrabice que ali foi escrita sobre o tema [Guileje] (...)



António Pimentel:

Parabéns pelo vosso  trabalho! Não desistam, apesar das dificuldades (...)

Valentim Oliveira:

Estou em falta e tenho sido um verdadeiro desmazelado de não fazer um pouco de escrita com algumas histórias das nossas passagens pelas terras da Guiné. Tudo isto se explica  devido à minha ocupação profissional.

Resumindo: O blogue para mim é sagrado, e todos os dias faço uma visita a este maravilhoso componente. (...)

J. Casimiro Carvalho:

Tive o meu momento Zen, quando fui um dos pioneiros a falar da guerra, não tive, não tenho e não terei intenção de ser, nem de perto nem de longe, centro de atenções, tenho uma forma muito naif de contar estórias, fui muito colaborador, e visitante assíduo, embora hoje vá "espreitar" para ver se encontro novos camarigos, novas estórias da nossa estadia no então ultramar, e desligo, pois acho que o blog está subvertido, [transformado]em montra de eruditos e escritores, ou mostra de livros e outros assuntos, não relacionados com a [essência] do blog (...).
 ______________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 3 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8851: O blogue em números (10): Três milhões de visitas em Novembro de 2011... Período de reflexão e de reorganização

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5819: O 6º aniversário do nosso Blogue (3): No início de Maio de 2006, tínhamos 100 tertulianos, 735 postes publicados e 3 mil páginas visitadas por mês (Luís Graça)


Ao fim de 735 postes (usávamos então uma numeração romana...), no início de Maio de 2006, o nosso blogue , I Série, tinha cerca de 100 membros, registados, e uma média de 3 mil páginas visitadas por mês... (No final de Maio de 2006, atingiríamos um total de 26500).

Hoje estamos nos 400 amigos e camaradas da Guiné, já publicámos mais de 5800 postes e estamos prestes a atinjir o milhão e meio de páginas visitadas...

São são uns pequenos elementos para a petite histoire do nosso blogue, cujo primeiro poste remonta a 23 de Abril de 2004 (*)... Daqui de Braga, com um chicoração para todos/as... LG

_________________

Reprodução do poste de 23 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXII: Entrevista a Fernando Pereira, correspondente do Expresso, sobre o Projecto Guileje

(i) Mensagem de Fernando Pereira, correspondente do semanário 'Expresso' na Guiné-Bissau:


Caro senhor: Sou Fernando Pereira, jornalista guineense, correspondente do semanário Expresso na Guiné. Estou a preparar um artigo sobre o projecto Guiledje, da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento. Nesse âmbito, queria saber o seguinte: (i) Que tipo de apoio o senhor e os participantes do blogue-fora-nada pensam atribuir ao projecto ? (ii) O que os atrai nesta iniciativa ? (iii) Já agora, quantas pessoas participam no fórum do vosso blogue ? (iv) Acha que a reconstituição do quartel de Guiledje e o lançamento de um turismo ecológico poderiam atrair visitas portuguesas a essas paragens ?

Se for possivel, agradecia uma resposta, o mais urgente possivel, a estas questões.
Cordialmente
FPereira

(ii) Respondi-lhe na volta do correio. O jornalista foi simpático, agradecendo-me de imediato "a atenção, assim como as interessantes evocações e opiniões".

P - Tipo de apoio que o senhor e os participantes do Blogue-fora-nada pensam atribuir ao projecto ?

Em cerca de 735 posts (ou textos) publicados no blogue, no espaço de um ano, uns 10% foram dedicados ou fazem referência a Guileje (ou Guiledje, segundo a grafia da Guiné-Bissau).


Guileje, o aquartelamento de Guileje, o corredor da morte de Guileje, a Mata do Cantanhez, mas também Madina do Boé, Gandembel e Gandamael, entre outros locais no sul, têm ainda hoje, passados mais de trinta anos sobre o fim da guerra colonial, uma enorme carga mítica, simbólica e afectiva para os ex-combatentes portugueses na Guiné...


A retirada de Madina do Boé saldou-se por um trágico acidente que vitimou quase meia centena de camaradas nossos; mas Guileje é considerado o único aquartelamento da Guiné que fomos compelidos a abandonar por razões militares e psicológicas: a pressão da guerrilha do PAIGC era de tal ordem que a situação se tornou insustentável...


Tanto para as tropas portugueses como para o PAIGC é um momento, se não de viragem (militar), pelo menos carregado de simbolismo...


Eu estive destacado, na zona leste, em Bambadinca, numa companhia africana, a CCAÇ 12, de Junho de 1969 a Fevereiro de 1971. Não conheci Guileje nem Gandambel. Mas no meu tempo contavam-se muitas estórias (falsas ou verdadeiras) sobre a degradação da situação militar no sul, e em especial em Guileje, Gadamael, Gandembel. Por exemplo, era extremamente popular a letra do Hino de Gandembel. Cantarolávamos, para espantar os nossos medos, exorcizar os nossos fantasmas e denunciar o absurdo daquela guerra a que estava condenada toda a juventude de um país, as quadras do Hino de Gandembel:


Gandembel das morteiradas,
Dos abrigos de madeira
Onde nós, pobres soldados,
Imitamos a toupeira.

(...) Temos por v'zinhos Balana ,
Do outro lado o Guileje,
E ao som das canhoadas
Só a Gê-Três te protege
(...)


Numa primeira fase, apoiamos o projecto Guileje, da AD - Acção para o Desenvolvimento, dando-o a conhecer, divulgando-o na Internet, recolhendo documentação sobre a presença militar portuguesa em Guileje (incluindo testemunhos de militares que por lá passaram)...

P - O que os atrai nesta iniciativa ?

Citando o líder da AD e autor da ideia, Pepito, o projecto Guiledje representa o triunfo da vida sobre a morte, da paz sobre a guerra, da memória colectiva sobre o esquecimento e o branqueamento da história...


É importantíssimo que a Guiné-Bissau recolha e preserve os testemunhos dos guerrilheiros do PAIG que lutaram pela independência, e que pertencem a uma geração que está a desaparecer... É importante igualmente ouvir o depoimento dos ex-combatentes e das autoridades militares portuguesas...

P - Quantas pessoas participam no forum do vosso blogue ?

Temos já uma lista de cem membros com endereços por e-mail...Por outro lado, o nosso blogue tem uma média de 3 mil visitas por mês... Há um crescente número de pessoas que o visitam, dentro e fora do país...

P - Acha que a reconstituição do quartel de Guiledje e o lançamento de um turismo ecológico poderiam atrair visitas portuguesas a essas paragens ?

Há uma crescente interesse pela Guiné-Bissau, por parte de uma geração como a minha que fez a guerra colonial e que hoje tem disponibilidade, vontade e poder de compra para ir à Guiné, juntar o útil ao agradável: fazer a sua romagem de saudade, exorcizar os seus fantasmas, visitar os lugares e as gentes que estão na sua memória, reconciliar-se com o passado, evocar os seus mortos, fazer o luto, conhecer o país de hoje, contribuir também para o seu desenvolvimento através de projectos integrados e inovadores como me parece ser este, liderado pelo Pepito e a AD...

____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes desta série:

14 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5815: O 6.º aniversário do nosso Blogue (2): Homenagem ao Fundador Luís Graça e a toda a tertúlia (Joaquim Mexia Alves)

13 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5807: O 6.º aniversário do nosso Blogue (1): Homenagem ao Fundador Luís Graça e a toda a tertúlia (Jorge Félix / Carlos Vinhal)

sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

Guiné 63/74 - P1333: A grande emoção de recordar Cufeu e Guidaje (Albano Costa, CCAÇ 4150)

Guiné- Bissau > Região do Cacheu > Guidaje > Novembro de 2000 > "Foto tirada no Cufeu, quando parámos para o almoço... Hoje está um pouco diferente do que era no meu tempo, em 73/74" (Albano Costa, ex-1º cabo da CCAÇ 4150, Guidaje, 1973/74).

Foto: © Albano Costa (2006). Direitos reservados.


Texto do Albano Costa, recebido em 15 de Novembro de 2006

Comentário de L.G.:
O Albano habituou-se à grafia Guidage, e não consegue escrever Guidaje... Vou respeitar a sua vontade, além de lhe agradecer este texto singelo e solidário, de grande autenticidade humana... Sei que lhe fez muito bem voltar à Guiné, em Novembro de 2000, ainda para mais na companhia do seu filho Hugo, que fez uma excelente - e já muito badalada aqui, no blogue - reportagem da viagem (3 CD, 6 horas, belas imagens, óptima música em fundo, enfim, um trabalho profissional)...

Caro Luís Graça:

Estive uns dias ausente da Net, mas já regressei e tenho estado muito atento ao que se tem escrito sobre o que se passou em Guidage no ano de 1973 (Maio e Junho). É um assunto que me interessa saber e muito, pena que só agora comece a ser contado o que se passou.

A minha companhia não estava lá nessa altura, só foi destacada para Guidage mais tarde. Quando lá chegámos, não sabíamos exactamente o que se tinha passado. Naquela altura era tudo muito fechado, a maioria dos militares que para lá foram na altura do conflito já lá não estavam, vieram embora, e os relatos que agora leio confirmam-no.

Quando lá chegámos só lá estava a CCAÇ 19, companhia, essa, africana. Só os especialistas e graduados eram brancos. Procurava-se não comentar muito para não destabelizar as tropas. Os militares brancos que pertenciam à CCAÇ 19 estavam psicologicamente traumatizados e procuravam não falar sobre o que tinha acontecido. Limitavam-se a dizer que não desejavam a ninguém o que tinham passado. Por seu turno, os nossos quadros superiores procuravam ocultar o sucedido para manter as tropas psicologicamente activas.

Quem conhece Guidage - e eu conheço muito bem, estive lá oito meses -, era um destacamento completamente isolado, ficava mesmo na fronteira com o Senegal. Não se passava nada a não ser receio, não havia gente nova, não era sítio de passagem, ninguém lá ía, eramos sempre os mesmo, enfim, não foi fácil. O isolamento era total, só faziamos colunas de 15 em 15 dias, fora disso estavamos ali sozinhos.

Quando saíamos de Guidage era só para fazer reconhecimento no mato para ver se o IN estaria a organizar algum ataque ou para vir a Binta em coluna sempre com bastantes militares.

Ninguém se atrevia naquela altura a fazer o percurso de Guidage a Binta sem ser em coluna, e aí tinhamos que passar pelo Cufeu. Era sempre com muito cuidado, passávamos sempre pelo cemitério. As NT perderam lá meia dúzia de viaturas e também sabíamos que tinham morrido colegas nossos... Sempre com muito cuidado falava-se que ali tinham havido grandes confrontos com o IN. Toda a gente queria evitar passar lá, mas ao mesmo tempo tínhamos que fazer as colunas.

O Cuféu tornou-se para todos os militares do meu tempo um lugar de muito respeito a partir daquela data. Quando lá se passava dava sempre um calafrio pela nossa espinha dorsal. Só quem lá esteve é que o sente, e eu, ao ler estes textos, deu-me para ver que todos os ex-militares que estiveram nessa altura no conflito, não conseguem esquecer. E não é para menos, todo aquele percurso faz medo, e esse medo ainda hoje os atormenta como lemos nas suas estórias e eu sei que é verdade, mas peço-lhes: Contem tudo o que vos vai na alma, que vão sentir-se melhor a falar nessas coisas...

Eu sei que há colegas que ainda hoje não gostam de falar nisso, vivem atormentados, por isso fiquei muito contente que o A. Mendes e o Vítor Tavares tenham desabafado um pouco da sua vivência. Não parem, passem tudo cá para fora, eu também sofri, mas de maneira diferente, sempre com o pressentimento de que a qualqer momento o IN poderia voltar à carga. E, como já disse, só podiamos ser ajudados por Bigene ou Binta, não tínhamos mais ninguém próximo.

Quando lá fui em 2000, ao passar no Cuféu tudo veio ao meu pensamento, tive momentos de muita tristeza, quem já viu o meu vídeo da viagem dá para notar: é nessa passagem, quando atarcesso Cufeu e Ujeque até chegar a Guidage. Aí, para mim tudo começou a ser diferente, a Guiné passou a ter outra beleza.

Todos os ex-militares que lá estiveram nessa altura, muito, muito difícil, sofreram mesmo muito. Eu quase fiquei paralizado ao ler os vosso testemunhos, confesso que as lágrimas correram pela cara abaixo, mas agora estou a sentir-me muito bem a ler estas estórias, que a história nunca irá contar, por isso caros camaradas desabafem, que vos faz bem.

A minha companhia andou por lá, durante meses, sempre com o mesmo pressentimento que a qualquer momento poderíamos passar por tudo o que vocês passaram. Psicologicamente foi muito complicado, nós estavamos isolados, não tínhamos aviação, estavamos ali à nossa sorte. É que ninguém lá ia a não sermos nós, que tínhamos que vir a Binta sempre que era preciso, não íamos porque queriamos, mas sim quando havia necessidade e isso foi durante todo o tempo em que lá estivemos.

Seria muito bom que estes nossos colegas tivessem possibilidades de lá voltar agora, iriam sentir-se muito mais aliviados, e todo o sofrimento que ainda hoje carregam, estou convencido que se esvaziava.

Quanto ao cemitério que foi o Cufeu e Guidage, eu sempre ouvi falar que morreu lá muito gente, mas ao certo nunca soube quantos. E não sei se alguém sabe ao certo, visto que o conflito se arrastou por vários dias, e não foi sempre com os mesmos combatentes. Enquanto lá estive tivemos apenas uma emboscada no Cufeu, e umas minas na picada.

Quanto ao irem recuperar os nossos mortos a Guidage, ficarei muito satisfeito, mas espero que o lema Ninguém fica para trás, seja para todos os que lá ficaram, afinal são todos portugueses.

Um abraço,
Albano Costa

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Guiné 63/74 - P1279: Encontro com o IN: artigo sobre a viagem Porto-Bissau, publicado no boletim da A25A (A. Marques Lopes)

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Fotos: © A. Marques Lopes (2006). Direitos reservados. Fotos alojadas no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.

Cópia do artigo do nosso camarada A. Marques Lopes, sobre a viagem, de jipe, Porto-Bissau, no passado mês de Abril de 2006, publicado em O Referencial, nº 84, Julho-Setembro de 2006. Trata-se do boletim da Associação 25 de Abril, que tem como director Pedro Pezarat Correia. O artigo ocupa 2 páginas (a 6ª e a 7ª) e é ilustrado com várias fotografias.

O título do artigo é sugestivo: Encontro com o IN... O nosso camarada, que relata as peripécias da viagem por terra até à Guiné-Bissau (incluindo a apreensão de 200 kg de medicamentos, destinadas ao Hospital Nacional Simão Mendes, por parte das autoridades marroquinas, a pretexto de poderem ir parar às mãos da guerrilha da Frente Polisário do Sara Ocidental!...), não esconde a sua emoção ao ir à antiga base do PAIGC em Sinchã Jobel, e ao reencontrar o comandante Lúcio Soares, que 39 anos antes, no subsector de Geba, na Zona Leste, o tinha mandado 9 meses para o Hospital Militar Principal...

Trata-se de um resumo dos posts já aqui publicados no nosso blogue: vd. por exemplo, post de 16 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXI: Do Porto a Bissau (16): Encontro com o IN (A. Marques Lopes).

O nosso amigo e camarada A. Marques Lopes teve a gentileza de citar o editor do blogue que, na altura, escreveu o seguinte:

"Agradeço ao A. Marques Lopes e ao Xico Allen esta oportunidade, excepcional, de conhecer o rosto daqueles a quem chamávamos eufemisticamente o IN... Pois o IN tinha rosto, eram homens (e mulheres), de carne e osso, como nós, que combatiam pelas suas razões... Reencontrá-los, apanhá-los ainda vivos e lúcidos, pô-los a falar, ouvi-los, saber por onde andaram, reconstituir a sua estória de vida como guerrilheiros, sentir a pulsão das suas emoções, paixões, alegrias e medos, mexer com a sua memória, fazer as pazes come eles... é uma tarefa urgente e imprescindível para que a nossa missão, agora de paz, se cumpra definitivamente...

"Temos essa obrigação, a de dar voz (e imagem) a esses velhos guerrilheiros, caboverdianos e guineenses, que deram o melhor da sua vida e da juventude pela realização de um sonho, o sonho de Amílcar Cabral e de mais um punhado de homens e mulheres que queriam ser livres e donos da sua terra, e passar a falar connosco, em português, mas de iguais para iguais... O texto e as fotos que hoje inserimos marcam um momento muito simbólico da vida da nossa tertúlia... Perdõem-me o abuso do tempo de antena, mas eu, como editor do blogue, precisava de fazer esta pequena chamada de atenção. Obrigado Marques Lopes, Xico Allen, Lúcio Soares, Braima Dakar e irmãos Nabo" (....).

quarta-feira, 7 de junho de 2006

Guiné 63/74 - P855: Do Porto a Bissau (26): leitão à moda de Jugudul (A. Marques Lopes)





Guiné-Bissau > Região do Oio (Mansoa) > Jugudul > Abril de 2006 > O antigo aquartalemento das NT, em Jugudul, cujas instalações foram cedidas, a seguir à independência, ao Manuel Simões, guineense branco de Bolama, para a sua fábrica de aguardente de cana.

Fotos: © A. Marques Lopes (2006)
Guiné-Bissau > Região do Oio (Mansoa) > Jugudul > Abril de 2006 > O A. Marques Lopes, de pé, mais elementos do grupo do Porto, sentados (onde reconheço o Armindo Pereira e o Manuel Costa), em casa do Manuel Simões.
Foto: © Inês (2006)

Guiné-Bissau > Região do Oio (Mansoa) > Jugudul > Abril de 2006 > O Manuel Simões, aqui à direita, fazendo as honras da casa. (LG)
Foto: © Inês (2006)

Guiné-Bissau > Região do Oio (Mansoa) > Jugudul > Abril de 2006 > O leitão da região do Oio, feito à moda de Jugudul, em casa do Mauerl Simões, não ficava atrás, bem pelo contrário, do letão à moda da Bairrada. Foi comer e chorar por mais... (LG)
Foto: © A. Marques Lopes (2006)
Texto de A. Marques Lopes, com data de 30 de Maio de 2006:

Desculpem a enchente, mas é que hoje tive tempo... que já se acabou. Mas vou acabar com uma coisa alegre: uma grande almoçarada (um leitãozinho!!) que o nosso amigo Manuel Simões nos ofereceu nas instalações na sua destilaria de aguardente de cana.

Ele é o homem grande branco que eu indico nas fotografias tiradas pela Inês. É um guineense branco, nascido em Bolama, companheiro do Pepito e do Lúcio Soares, também nascidos em Bolama. Foi, mais novo, jogador de futebol e chegou a dirigir o clube Balantas.

Dedica-se à aguardente de cana, mas tem também uma ponta [herdade] onde explora caju. Após a independência conseguiu que lhe cedessem o aquartelamento de Jugudul para a sua fábrica de aguardente, deixando apenas uma parte destas instalações para ser montado um posto da polícia de viação lá do sítio... que ainda não existe.

É um amigo sempre de braços abertos, acolhedor, como vêem. Vale a pena visitá-lo.
Abraços

A. Marques Lopes

segunda-feira, 5 de junho de 2006

Guiné 63/74 - P846: Do Porto a Bissau (24): As ruínas de Fulacunda (A. Marques Lopes)


Guiné-Bissau > Região de Quínara > Abril de 2006 > Restos do antigo aquartelamento de Fulacunda.

Fotos: © A. Marques Lopes (2006)


O A. Marques Lopes e o Xico Allen passaram por lá, de jipe... Fulacunda é hoje um... lago (para não dizer um mar, por que seria uma hipérbole) de ruínas, como Có (1) ou outros sítios que o grupo de tugas visitou, em Abril de 2006.

Não temos muitos camaradas, na nossa terútulia, que tenham passado por (ou estado em) Fulacunda. Nos meus registos consta apenas a CCAV 2862, que pertenceu ao BCAV 2867 (Março de 1969/Dezembro de 1970), e que esteve aquartelada em Fulacunda (2). A este Batalhão, mais exactamente à sua CCS, pertencia o Horácio Martinho Ramos, já aqui evoacado pelo seu filho Fernando Martinho (2). A CCS do BCAV 2876 esteve em Tite, segundo pesquisas feitas pelo nosso incansável José Martins.

Se quiserem saber mais coisas sobre Fulacunda, leiam o romance Rumo a Fulacunda, do Rui Alexandrino Ferreira, editado em 2000 e de que já aqui foi feita uma breve recensão bibliográfica pelo nosso camarada Jorge Santos (2). (LG)

_____________

Notas de L.G.

(1) Vd. post de 30 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXV: Do Porto a Bissau (22): As ruínas de Có (A. Marques Lopes)


(2) Vd posts de

25 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXIV: BCAV 2876, o batalhão do Horácio Ramos ? (José Martins)

3 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCII: Horácio Ramos, presente!! (BCAV 2867, Tite, 1979/70)

24 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXI: À procura de camaradas do meu pai, Horácio Martinho Ramos (conhecido por Papel)

(3) Vd. post de 12 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CVII: Bibliografia de uma guerra (3)

(...) "O autor nasceu em Angola (1943). Fez o curso de oficiais milicianos em Mafra (1964). Foi mobilizado para a Guiné, tendo rendido um desaparecido em combate e pertencido à CCAÇ 1420, sedeada em Fulacunda (1965/67). Depois de frequentar o curso de capitães, em Mafra (1970), volta à Guiné, para comandar a CCAÇ 18. Em 1973 faz uma comissão em Angola. Regressa a Portugal em 1975. Vive actualmente em Viseu. É Coronel de Infantaria na situação de reforma. Rumo a Fulacunda é a sua obra literária de estreia" (...).

quinta-feira, 1 de junho de 2006

Guiné 63/74 - P832: Do Porto a Bissau (23): Matando saudades de Empada (A. Marques Lopes e Inês)

Texto do A. Marques Lopes:
Um dia, estava o grupo no Saltinho, o Allen decidiu ir com a Inês até Empada, para ela ver onde ele tinha passado os seus verdes anos.
Eu fui com eles, enquanto os outros preferiram ficar a refrescar-se nos rápidos do Corubal...
Lá andaram eles a ver tudo em pormenor, o Xico a lembrar, a Inês a tomar nota da história do pai, e eu a conhecer o que não conhecia... por exemplo, que o meu Sporting tem em Empada uma grande implantação!

O Allen deu-me, depois, um poema que fez quando lá estava, e deu-me autorização para o divulgar [vd. post de hoje > Guiné 63/74 - P828: Cancioneiro de Empada (Xico Allen) ] ...
E aqui vão algumas fotografias de Empada, da Inês e minhas [por razões técnicas, nem todas poderão ser inseridas no bloge, de imediato].
A. Marques Lopes


Guiné-Bissau > Região de Quínara (Buba) > Empada > Abril de 2006 > Entrada do antigo aquartelamento das NT onde é visível, ao centro, o pau da bandeira, as casernas ao fundo e a grande árvore secular, à direita. Em 2005 a localidade tinha sida visitada pelo José Teixeira (ex-1º cabo enfermeiro Teixeira, da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá, Empada, 1968/70), além do Xico Allen, que também lá esteve, mas mais tarde (CCAÇ 3566, Os Metralhas, Empada e Catió, 1972/74).

Foto: Inês (2006).
Guiné-Bissau > Região de Quínara (Buba) > Empada > Abril de 2006 > Uma outra perpectiva da parada do antigo aquartelamento das NT com os respectivos edifícios ao fundo e a grande árvore à direita. (LG)

Fotos: © A. Marques Lopes (2006)



Do ponto de vista administrativo, Empada faz parte actualmente da Região de Quínara, juntamente com Buba, a caital, Fulacunda e Tite. Quínara faz fronteira com as Regiões de Bafatá, Bissau, Bolama/Bijagós, Oio e Tombali. Tem uma superfície de 3.138 Km2, e uma população de 53.585 habitantes.

Às vezes, por lapso, Empada já tem sido referida como pertencente à Região de Tombali, que essa sim faz fronteira com a República da Guiné-Cronacri. Tombali é maior em superfície (3.736 Km2) e população (86.850 habitantes) do que Quínara. Inclui os seguintes sectores de Catió (capital), Bedanda, Komo, Quebo e Quitafine. (LG)




Guiné-Bissau > Região de Quínara (Buba) > Empada > Abril de 2006 > De novo, pai e filha, juntos na pesquisa de vestígios da presença dos Metralhas nos já idos tempos de 1972/4.

Foto: © A. Marques Lopes (2006)

Guiné-Bissau > Região de Quínara (Buba) > Empada > Abril de 2006 > O Xico Allen junto a um antigo abrigo...
Foto: Inês (2006)

Guiné-Bissau > Região de Quínara (Buba) > Empada > Abril de 2006 > Este edifício é pressuposto ser (ou ter sido) uma maternidade, segundo a lacónica legenda que acompanha a imagem... Outras instalações (casernas das NT) foram (LG)

Foto: Inês (2006)


Guiné-Bissau > Região de Quínara (Buba) > Empada > Abril de 2006 > O grupo também fez um visita à escolinha local, falou com o professor e tirou fotografias. Nesta, por exemplo, os meninos estavam a ter uma aula de português, a juntar as letras e a fazer palavras bonitas como casa e mesa ... (LG)
Foto: © A. Marques Lopes (2006)

terça-feira, 30 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P816: Do Porto a Bissau (22): As ruínas de Có (A. Marques Lopes)








1. O A. Marques Lopes já fez circular pela nossa tertúlia estas imagens, de reduzida dimensão, sem legenda e que testemunham as ruínas de Có, em pleno chão manjaco:

"Eu e o Allen passámos por aqui, a caminho de Canchungo [Teixeira Pinto]. Para quem lá esteve se lembrar daquilo... como está".

De pé, fantasmagórico, resta, ao que parece, o monumento, em forma insólita mas original de coração, erigido pela CCAÇ 2584, que pertencia ao BCAÇ 2884 (Maio de 1969/Fevereiro de 1971) e que era a unidade de quadrícula de , nesta época.
Para mim, estas imagens são tristes e deprimentes: daqui a muitos anos, serão para os arqueólogos guineenses um dos poucos testemunhos de uma civilização, tecnologicamente superior, que passou pela região do Cacheu... Espero que reste, ao menos, aquilo que é imaterial e que é o mais importante nas relações entre os povos: uma língua, o português, que ajudou a construir a identidade nacional da Guiné-Bissau e a preparar o caminho para a independência e o futuro... E em português, nos entendemos hoje, neste blogue e noutros fóruns, falando das ruínas de Có, dos sinistros jagudis que pairam pela Guiné-Bissau de hoje, da ameaça de fome no sul do país, da guerra latente na frinteiura com Casamança, do futuro de esperança que desejamos para os dois povos, dos sentimentos de respeito e de amizade que nos ligam aos guineenses...

2. Comentando estas e outras imagens (sobre Fulacunda), escreveu o Afonso M.F. Sousa o seguinte:

"Estas fotos fresquinhas têm um valor enorme, sobretudo pelo comparativo que imediatamente nos suscita e fazemos com aquelas imagens reais de há cerca de 35 anos.

"Ainda há dias estive num almoço-convívio da CART 2412 e notei a sofreguidão com que todos queriam ver imagens de Barro e Bigene, de Abril de 2006, e compará-las com a memória de 1969/70.

"Parabéns a estes bravos, intrépidos e entusiastas repórteres fotográficos que estão a trazer estes sítios da Guiné de hoje, até ao nossos domicílios! Afonso Sousa".

3. Recorde-se quem esteve em Có, da malta da nossa tertúlia: o João Varanda, que vive hoje em Coimbra e que foi furriel miliciano da CCAÇ 2636 (1969/70). Esta era uma companhia açoreana, fez na primeira parte da sua comissão a segurança à construção da estrada Có- Pelundo - Teixeira Pinto.
Aqui ficam alguns excertos do seu testemunho sobre a passagem da sua unidade por Có (de 4 de Novembro de 1969 a 2 de Abril de 1970):

(i) Post de 19 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXXIX: CCAÇ 2636 (Có, 1969/70) (5): Gastando o primeiro par de botas e as letras do alfabeto

(...) "A Companhia chegou a Có em 4 de Novembro de 1969, tendo no dia seguinte participado na protecção aos trabalhos em curso na estrada Có-Pelundo, ao lado da CCAÇ 2584, já com alguma experiência.

(...) "Assim foram passados quatro meses, onde por terra fomos a tudo quanto era sítio. Sem conta os kms. percorridos. Gastámos o primeiro par de botas, e no dia 2 Abril de 1970 partimos para nova aventura: o Sector Leste – Bafatá esperava por nós".

Guiné > CCAÇ 2636 > 1969 O João Varanda, lendo o jornal A Bola, na tenda de campanha, montada em Tel, entre Có e Pelundo, em pleno chão manjaco.
Foto: © João Varanda (2005)

(ii) Post de 26 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXV: CCAÇ 2636 (Có, 1969/71) (4): A acção psicossocial

(...) "Construímos ainda um espaçoso e seguro paiol subterrâneo para as centenas de granadas que jaziam praticamente a céu aberto, um sistema de filtragem de águas para beber e para banhos, uma oficina auto com fossa para lavagem e lubrificação de viaturas, com água corrente, para os nossos Unimog - para os grandes Furriel Marques e Teodoro Simões (Nanza) nos proporcionarem transporte seguro -, um heliporto para evacuação de feridos e doentes para a capital Bissau, um sugestivo e elegante monumento alusivo à nossa passagem pela aquela terra, evocando os nossos mortos brancos e africanos. O qual, mais de trinta anos depois, ainda se mantém incólume e erecto conforme me relatou o Capitão do PAIGC Eduardo Sanhá que veio, após o final de guerra colonial, cursar Direito na Universidade de Coimbra" (...).

(iii) Post de 26 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - CCCXIV: CCAÇ 2636 (Có, 1969/71) (3): O espírito de grupo

(...) "Có – e conforme vimos pelo teatro das operações antes da nossa chegada para tampão de zona - foi terra fustigada; no terreno, travava-se então lutas que pareciam eternas, mas a moral da CCAÇ 2636 era muito elevada, já que com os nossos comandos, na pessoa do jovem Capitão Miliciano Manuel Medina Mato e do 2º. Sargento Cruz, em pleno mato, às portas do combate do dia a dia, sentimos sempre o prodígio do apoio dos escalões superiores, traduzido em todas as valências, com oportunidade e eficácia" (...).

(iv) Post de 16 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXCIII: CCAÇ 2636 (Có, 1969/71) (2): "Periquito vai no mato, que a velhice vai p'ra Bissau"...

(...) "Em Có fomos recebidos pela velhice daCCAÇ 2584, com grande algazarra e desejo de bom regresso. Chegados ao destacamento, o nosso pessoal começou, de imediato, o frenezim da descarga da coluna, e o desenrrascanço de como passar a primeira noite no aquartelamento de Có, já que este era pequeno e não tinha instalações suficientes para nos acolherem na sua totalidade, dado o ajuntamento da nossa companhia com a guarnição normal do aquartelamento da CCAÇ 2584. Mas na guerra há sempre lugar para mais um, e apesar dessa tensão toda a companhia ficou acomodada e tudo correu pelo seu melhor" (...).

4. Quem também por lá passou e de Có tem boas recordações foi o nosso amigo e camarada João Tunes, que originalmente perteceu à CCS do Batalhão, o mesmo a que pertencia a CCAÇ 2584, com sede no Pelundo:

(i) Vd. post de 16 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXCII: Có ? Isto é comigo!

(...) "Eu li o magnífico texto do João Varanda, no ilustre blogue de que o Luís é Cmdt Chefe, depois li o nº da Companhia dele (2636), o número tocou-me uma campaínha, mais o período de comissão, fixei-me no local: Có.

"Depois lembrei-me as vezes que estive em Có, no mesmíssimo período, enquadrado no mesmo Batalhão (sediado em Pelundo). E como era, então, uma alegria dar um salto a Có, malta bacana, ok sobre rádios e cripto?, vamos aos copos, assegurando (eles) a segurança da construção de uma nova estrada asfaltada (que já não lembro se ia para Teixeira Pinto ou para Bula ou para a puta que pariu o Caco).

"Julgo até (outra falha ou confusão?) que a Companhia de Có era comandada por um Capitão Miliciano, já economista com canudo e antifascista, um gajo porreiraço, já com uns cabelos a puxar para o grisalho, com quem punha a escrita em dia, deitando abaixo a porra da guerra, o fascismo, o colonialismo, e, claro, o Caco, o Marcelo e o Tenente Coronel facho do Pelundo que não percebia nada da poda" (...).
(ii) Vd. post de 25 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXI: Pelundo: Nº do batalhão ? Não sei, não me lembro (João Tunes)
"Caro Luís: É como dizes, não me lembro mesmo [não, a bold, como faz questão de frisar o autor, em 2ª via]. BCAÇ 2864? BCAÇ 2854? Por aí...

"Pois, o João Varanda nada disse, mas pensando nos dados que ele deu, a sua Companhia açoreana não pertenceu ao meu Batalhão, foi sim em reforço à Companhia do meu Batalhão e que ele chama de velhinhos. O que não invalida, pelas datas, que não tenha estado em Có ao mesmo tempo que ele (eu, de tempos a tempos, pela minha missão, ia até lá).

"Mas de Có, além de me lembrar bem do quartel, memorizei a estrada em construção (Có-Pelundo-Teixeira Pinto), com segurança especial, os copos (muitos copos bebi em Có, o que não admira, eu até bebi copos onde não havia copos, bebendo pelo gargalo) e o tal capitão miliciano, economista e antifascista, lá de Có (também não lembro o nome, mas estou a ver-lhe a cara) que era um compincha do caraças para cortar na casaca do Marcelo, do Caco e das putas que os pariram" (...).

terça-feira, 23 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P784: Do Porto a Bissau (21): revisitando Barro (A. Marques Lopes)

Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Barro > Abril de 2006 > O que resta dos vestígios dos tugas...


Ainda com o grupo todo, passámos por Barro, a caminho de Farim.

O meu amigo Cacuto Seidi (1), o chefe da tabanca, morreu o ano passado, com muita pena minha, pois gostava de ter falado com ele novamente, mas estive com o seu filho, Bala Sani.

Coisas em pé, só a secretaria da companhia, mas em degradação, e o monumento da CART2412 ao cabo enfermeiro João Baptista da Silva.

Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Barro >Abril de 2006 > O Marques Looes com o filho do Cacuto Seidi, o Bala Sani.


Há restos de um outro monumento, mas sem qualquer elemento que o possa identificar, e há restos de outras instalações que também não consegui identificar, dado que o enquadramento está muito modificado.

Lembro aqui o Iero Seidi, soldado da CCAÇ 3 que foi ferido em Maio de 1973 em Guidage, ficando sem uma perna (colocaram-lhe uma prótese) e sem um braço.

Foi o filho, o Mamasaliu Seidi, que me deu uma fotografia do pai, pois ele morreu de doença, o ano passado.


Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Barro > Abril de 2006 > Fotografia do antigo militar da CCAÇ 3, Iero Seidi.




Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Barro >Abril de 2006 > O Marques Looes com o Mamasaliu Seidi , filho do Iero Seidi.

O Mamasaliu foi o condutor do jipe do António Almeida e do Saagum (2).
Mas encontrei também outros restos humanos (3)... mas fica para a próxima.
Abraços. A. Marques Lopes

Fotos: © A. Marques Lopes (2006)
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Notas de L. G.


(1) Vd. posts de:

2 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - XCIII: Barro, trinta anos depois (1968-1998)


15 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LIV: Cacuto Seidi, chefe da tabanca de Barro


Guiné-Bissau >Cacheu > Barro (1998) > Reeencontro do tuga A. Marques Lopes com Cacuto Seidi, chefe da tabanca de Barro.

"O Cacuto Seidi era o chefe da tabanca de Barro em 1968. Muitas vezes fui até à sua porta para falar com ele. Por duas razões: a primeira é que suspeitávamos que ele estava feito com o PAIGC (...).

"Em 1998 fui a Barro. Assim que me viu abriu a boca e disse admirado:
-Alfero Lopes!-

"Ao fim de 30 anos lembrou-se logo de mim, apesar de estarmos os dois mais velhos, de tal modo que, quem me acompanhava, ficou com a boca aberta de espanto. É que foi, de facto, muito tempo de convívio e de conversa.

"Perguntei-lhe pelo Braima, um caçador da tabanca de Barro, muito conhecedor de toda aquela zona e que foi o meu guia em 1968, porque conhecia todos os trilhos e buracos quer na mata quer no tarrafe das margens do Cacheu. O Cacuto ficou atrapalhado e respondeu:
- O Braima mataram.
- Ah! - disse-lhe eu - mas tu continuas a ser o chefe da tabanca! Então, eu tinha razão... -. Acabou por se rir, é claro" (...).

(2) Vd post de 2 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXV: Do Porto a Bissau (12): A fonte de Mansambo (Albano Costa)

(3) Quererá o nosso A. Marques Lopes referir-se aos filhos dos tugas que por lá ficaram, com alguns dificuldades de integração ? Vd. post de 22 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXX: Do Porto a Bissau (20): Os filhos que lá deixámos (A. Marques Lopes)

segunda-feira, 22 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P781: Do Porto a Bissau (20): Os filhos que lá deixámos (A. Marques Lopes)


Texto de A. Marques Lopes, coronel DFA, na reforma, ex-alferes miliciano na Guiné (1967/68) (CART 1690, Geba, 1967/68; e CCAÇ 3, Barro, 1968)... Visitou recentemente a Guiné-Bissau, num viagem de grupo organizada pelo Xico Allen...


Guiné-Bissau > Barro Guiné-Bissau >
> Jorge Gomes Bigene (à esquerda)
Bigene> Bacar Turé (à direita)
Fotos: © A. Marques Lopes (2006)


Caros camaradas e amigos:

Foram casos que muito me sensibilizaram nesta visita à Guiné. É sabido que há-de haver muitos casos destes (1), mas estes tocaram-me pessoalmente e quero dar notícia disso.

Em Barro, o Bacar Sani, filho do Cacuto Seidi, disse-me que havia um filho de branco (2) chamado Jorge Gomes. Pedi para o ir chamar, mas o rapaz não vinha, vergonha ou receio, não sei. Fui eu pela tabanca dentro à procura dele e lá cheguei á sua morança.

Disse-me que o pai se chamava Fernando Gomes e que lhe tinha dado o nome, mas fora-se embora. Não sabia quem era a mãe, porque ela desaparecera, por vergonha e repúdio dos da sua etnia (não lhe perguntei qual). Também não me soube dizer a qual companhia pertencia o pai, mas penso que terá sido das últimas a estar em Barro, pois que o rapaz tem 33 anos.

Passámos, depois, em Bigene, onde parámos bastante tempo para o turbulento fotógrafo Hugo [Costa] fazer a sua reportagem fotográfica. E aí conheci o Bacar Turé, que me disse ser filho do imediato Varela, médico do Destacamento 21 dos fuzileiros que estavam em Ganturé [no Rio Cacheu, a sul de Bigene], e que o comandante [Alpoím] Galvão conhecia bem o pai dele, que se fora e não lhe dera nome, daí ser Bacar Turé.

Há mais casos semelhantes a estes, é claro, pois é verdade, como disse o António Gedeão, que, como muitos, também eu "Tremi no escuro da selva, /Alambique de suores, /Estendi na areia e na relva, /Mulheres de todas as cores" (in Poema da Malta das Naus) (2). E tive de pensar sobre o que faria eu se soubesse que tinha medrado alguma semente minha em terras da Guiné... mas cada um deve pensar por si, evidentemente.

A. Marques Lopes

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Notas de L.G.

(1) Um outro caso já aqui foi referido, em Guileje: vd. post de 21 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXVII: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto) (3): Dauda, o Viegas

" (...) Este menino, na altura com onze, doze meses de idade, era filho da Sona, uma jovem de Cacine, comprada pelo alfaiate de Guileje para ser a sua terceira esposa. Tinha o nome de Dauda, mas era tratado por todos nós por Viegas, apelido do pai, capitão que comandara a companhia de Cacine. Ainda hoje, quando revejo as dezenas de fotografias que fiz do garoto, acho que poderíamos anteceder Silva a Viegas" (...).

Vd. também, do Zé Neto, o post de 18 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLVI: Os filhos de branco (Zé Neto)


(2) O Zé Teixeira também nos relatou aqui outros casos, de filhos de brancos que por lá ficaram, melhor ou pior integrados nas comunidades locais de suas mães: vd. post de 16 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXLV: O raio do puto era branco (Zé Teixeira)


(3) António Gedeão > Poema da malta das naus

Lancei ao mar um madeiro,
espetei-lhe um pau e um lençol.
Com palpite marinheiro
medi a altura do sol.

Deu-me o vento de feição,
levou-me ao cabo do mundo.
Pelote de vagabundo,
rebotalho de gibão.

Dormi no dorso das vagas,
pasmei na orla das praias,
arreneguei, roguei pragas,
mordi peloiros e zagaias.

Chamusquei o pêo hirsuto,
tive o corpo em chagas vivas,
estalaram-me as gengivas,
apodreci de escorbuto.

Com a mão direita benzi-me,
com a direita esganei.
Mil vezes no chão, bati-me,
outras mil me levantei.

Meu riso de dentes podres
ecoou nas sete partidas.
Fundei cidades e vidas,
rompi as arcas e os odres.

Tremi no escuro da selva,
alambique de suores.
Estendi na areia e na relva
mulheres de todas as cores.

Moldei as chaves do mundo
a que outros chamaram seu,
mas quem mergulhou no fundo
Do sonho, esse, fui eu.

O meu sabor é diferente.
Provo-me e saibo-me a sal.
Não se nasce impunemente
nas praias de Portugal.

In Teatro do Mundo, 1958

Fonte: CITI - Centro de Investigação para Tecnologias Interactivas, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa (com a devida vénia...)

domingo, 21 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P777: Do Porto a Bissau (19): Do Quelélé a Guileje, a obra da AD do Pepito (A. Marques Lopes)

Texto do A. Marques Lopes:

Logo no dia 13 de Abril, os que fomos de jipe fizemos uma visita à AD do Pepito, no Bairro do Quelélé, onde tivemos o gosto de conhecer ao vivo este nosso amigo, que mostrou ser a pessoa maravilhosa e sensacional que já imaginávamos.

Já sabem da nossa participação na Rádio Comunitária Voz do Quelélé, apoiada pela AD. Mas, ali no Quelélé, onde tem a sua sede, esta ONG tem outras iniciativas que me deixaram grandemente espantado, pelo inesperado do seu alcance, pelo inusitado que me pareceram num país sem quase nada.

Com óptimas instalações, a Escola de Artes e Ofícios do Quelélé tem um belo pavilhão com várias salas onde se podem ver dezenas de jovens:

(i) numa delas aprendem informática, em secretárias individuais com computador;

(ii) noutra aprendem as técnicas da electrónica, também em secretárias individuais com aparelhagem própria;

(iii) numa outra as futuras auxiliares de educadora de infância aprendem como participar na educação das crianças guineenses;

(iv) recebem aulas sobre transformação de frutas, gestão dos recursos marinhos, radialismo, de actor de teatro e iluminação de teatro noutra sala...

Explicou-nos o Pepito que muito daquele material, secretárias, computadores e material electrónico, tinha sido oferecido, porque já não usado, por empresas e ministérios portugueses, e com a grande ajuda do Instituto Marquês Valle Flor, uma ONG portuguesa (no dia seguinte, quando fomos esperar ao avião os quatro elementos que se juntaram ao nosso grupo, encontrámos o Pepito e um representante deste Instituto que tinha chegado para ver a AD na zona do Cantanhês).

Foi o que nós vimos, mas todas as iniciativas e acção da AD estão plenamente expressas no seu Relatório de Actividades, já referenciado no blogue.

Convidou-nos o Pepito para irmos ver as instalações da AD na zona do Cantanhês, oferecendo-nos as suas instalações para pernoitar, pois, disse, seriam precisos dois ou três dias. Infelizmente, devido à dificuldade em organizar todas as visitas com um grande grupo, não nos foi possível lá ir.

Mas, quando sozinhos, eu e o Allen decidimos um dia ir a Guileje e ver a sua recuperação histórica, e aqui estão algumas fotografias [mostrando nomeadamente granadas abandonadas pelas NT e que ainda não foram neuralizadas ou detonadasa]. Depois, o dia já ia alto, não deu para ir mais longe e houve que regressar a Bissau.

Abraços

A. Marques Lopes

Fotos: © A. Marques Lopes (2006)

quinta-feira, 18 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P771: Do Porto a Bissau (18): Sadiu Camará, um sobrevivente (A. Marques Lopes)

Guiné-Bissau > Buba > Tabanca Lisboa > 2005 > O Zé Teixeira com o chefe da tabanca e a sua lindíssima filha. A tabanca Lisboa, a 5 Km de Buba, era um antigo centro de treino do IN, de nome Sare Tuto... Aqui ainda vivem vários antigos combatentes do PAIGC... Sadiu Camará, antigo paraquedista, casou aqui com uma guerrilheira... Foi ele que mudou o nome da aldeia e ajudou a população como caçador... Uma história com final (quase) feliz. (LG)

© José Teixeira (2005)

Guiné-Bissau > Saltinho > Abril de 2006 > Saliu Camará, beafada, um antigo paraquedista português, um sobrevivente nato...

Foto: © A. Marques Lopes (2006)

1. Texto do A. Marques Lopes:

Já que se fala dos guineenses que estiveram ao lado da tropa portuguesa contra o PAIGC, vou contar-vos o que o Sadiu Camará, beafada, me contou a mim (1):

(i) tirou o curso de paraquedista em Tancos, 70/71, e regressou à Guiné na Comp.ª 122 do BCP;

(ii) com essa companhia participou em operações, fazendo especialmente de intérprete, participando, inclusive, em interrogatórios de prisioneiros; isto até ao 25 de Abril;

(iii) após esta data, fugiu de Bissau e foi para a zona de Fulacunda, embrenhando-se no mato durante seis meses, sobrevivendo com recurso à caça, raízes e frutos alimentícios;

(iv) durante esse período ajudou com as suas peças de caça as populações daquela zona, sendo aceite por eles;

(v) acabou por ser apanhado e esteve preso durante seis semanas: "levei muita porrada e passei muita fome", disse-me;

(vi) mataram vários que também estavam presos, mas a ele não o mataram porque tiveram em conta as ajudas por ele prestadas às populações;

(vii) perguntei-lhe, a propósito, quem é que tinha mandado fazer os fuzilamentos; disse-me, sem hesitações: "foi o Nino Vieira, que era comissário das Forças Armadas, o Gazela (comandante daquela zona, na altura, já falecido) e o Chico Té (nome de guerra de Francisco Mendes, morto em 1998, de forma violenta e em circunstâcias estranhas);

(viii) após ser libertado, inscreveu-se na Juventude Amilcar Cabral, onde esteve seis anos;

(ix) após deixar essa organização, acompanhou, como guia, durante dezoito anos, os técnicos do Centro de Conservação da Natureza (disse-me o nome de um deles, o dr. António Araújo);

(x) em 1998 foi incluído nas Forças Armadas da Guiné, ao lado de Ansumane Mané, como faz questão de frisar;

(xi) viveu na tabanca Sare Tuto, antiga base do PAIGC, na zona de Buba, aí casando com a guerrilheira Neura, beafada, e construíu, depois, uma tabanca, a que deu o nome de Lisboa, cujo actual chefe é Assume Cassamba, onde construíu um posto de recolha de água e um sistema de produção de sal; segundo ele, é ainda "consultor" (homem que faz coisas e apoia a população) dessa tabanca;

(xii) trabalha actualmente como guarda no Clube de Caça do Saltinho.

Outro percurso, como se vê.

A. Marques Lopes

PS - Disse-me o José Teixeira, após divulgação desta minha mensagem através de e-mail, que Sare Tuto é a tabanca Lisboa, nome mudado pelo Saliu Camará. E ele até tem fotografias dessa tabanca. A fundação a que o Camará se me referiu foi, pois, uma mudança de nome. Diz também o José Teixeira que ele é guia e pisteiro dos caçadores que vão ao Clube de Caça do Saltinho, e não guarda. Também o percebi mal. Fica a correcção.

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Nota de L.G.:

(1) Por elementar precaucção (protecção das nossas fontes de informação e segurança das pessoas), perguntei ao António se podia publicar as (in)confidências sobre o Camará... "Haverá problemas de segurança ? O nosso blogue chega à Guiné, aos esbirros do Nino Vieira ?"...

Resposta pronta do nosso camarada:

Caro Luís:

Não me parece que haja problemas graves.

Primeiro, porque o Camará não tem papas na língua e conta isto que eu contei em frente de toda a gente, porque é um homem conceituado e querido junto das populações, sente-se seguro.

Segundo, porque muita gente ouvi na Guiné a dizer mal do Nino abertamente, sem peias, inclusive o jornal Gazeta, que se publica todos os dias em Bissau, trazia diariamente editorias altamente críticos ao Presidente, assinados por António Monteiro (o que muito me espantava), daí eu estar convencido que a situação não ficará como está durante muito tempo.

É talvez por isso que o Nino anda, actualmente, empenhado numa campanha de pacificação da sociedade guineense... E não me parece que os serviços de inteligência guineenses estejam tão avançados a ponto de vasculharem a Internet (...).