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quarta-feira, 29 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19841: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XXIII: Luís António Andrade Âmbar, alf cav (Ponta Delgada, Açores, 1944 - Moçambique, 1967)






1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia). (*)

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva [, foto atual à direita], instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.

Morais da Silva foi cadete-aluno nº 45/63, do corpo de alunos da Academia Militar. É membro da nossa Tabanca Grande, com o nº 784, desde 7 do corrente.
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 26 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19718: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XXII: José Jerónimo Silva Cravidão, cap inf, cmdt CCAÇ 1585 (Nema e Farim, 1966/68) (Arraiolos, 1942 - Bricamal / Farim, Guiné, 1967)... Morreu, heroicamente, em combate, no dia em que fazia 25 anos... Ninguém lhe deu uma condecoração, por mais singela que fosse.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17877: Historiografia da presença portuguesa em África (98): Bissau, em 1947, ao tempo de Sarmento Rodrigues, revisitada por Norberto Lopes, o grande repórter da "terra ardente"





1. Norberto Lopes (Vimioso, 1900-Linda A Velha, Oeiras, 1989) foi um notável jornalista e escritor, tendo estado entre outros ao serviço do "Diário de Lisboa", onde foi chefe de redação, desde 1921, cronista e grande repórter, além de diretor (entre 1956 e 1967). Saiu do "Diário de Lisboa" para cofundar em 1967 o vespertino "A Capital" (que dirigiu até 1970, ano em que se jubilou).

Mestre do jornalismo na época da censura, transmontano de alma e coração,. sempre se bateu pela liberdade de expressão, que considerou a maior conquista do 25 de Abril. Entre a suas obras publicadadas, destaque-se:"Visado pela Censura: A Imprensa, Figuras, Evocações da Ditadura à Democracia "(1975). Aprendeu a lidar com a censura e os censores e a escrever nas entrelinhas, como muitos jornalistas que viveram no tempo do Estado Novo,

Claro, conciso, preciso. objetivo e imparcial... são alguns dos atributos da sua escrita e do seu estilo como repórter da imprensa escrita, um dos maiores do nosso séc. XX português. Foi. além disso, um grande amigo da Guiné e dos guineenses. Tal como nós, também ele bebeu a água do Geba... Visitou aquele território pelo menos duas vezes. Esteve lá em 1927  e em 1947. Das suas crónicas de 1947, publicou o livro "Terra Ardente -Narrativas da Guiné" (Lisboa, Editora Marítimo-Colonial, 1947, 148 pp. + fotos). (*)

2. O trabalho de Norberto Lopes, sobre a Guiné ao tempo do governador geral Sarmento Rodrigues, cuja ação ele apreciava e elogiava publicamente, merece ser conhecido dos nossos camaradas, que fizeram a guerra colonial, entre 1961 e 1974. Quando fomos mobilizados para o CTIG, pouco ou nada sabíamos daquela terra e das suas gentes, da sua história e da sua geografia...

O livro de Norberto Lopes, "Terra Ardente - Narrati vas da Guiné", já não é de fácil acesso, para a generalidade dos nossos leitores (e muito menos para os nossos amigos da Guiné-Bissau) mas em contrapartida as suas reportagens, publicadas no "Diário de Lisboa", podem ainda ser lidas no portal Casa Comum, da Fundação Mário Soares.

Hoje reproduzimos, com a devida vénia, a segunda crónica que ele mandou para o seu jornal, justamente sobre Bissau, então em fase de grande crescimento. Foi publicada em 10/2/1947, há  70 anos, a idade por que rondam muitos dos nossos camaradas.

Apesar do "desenvolvimentismo" do governador-geral  Sarmento Rodrigues, havia já  problemas cuja solução se iria eternizar como, por exemplo, a projetada construção da ponte sobre o rio Mansoa, ligando a ilha de Bissau ao norte e ao sul da colónia... No nosso tempo, por exemplo, lá continuávamos a usar a velha jandaga em João Landim...

Não é indiferente saber que Bissau era uma povoação insalubre e insegura até ao tempo da I República...e que a fortaleza da Amura iria custar, além de 50 contos de réis, mais de um milhar de vidas (!), entre os seus trabalhadores, "vitimados pelo gentio, pelo escorbuto e pela malária"...

Em 1947 aguardava-se a projetada construção do porto de Bissau...Foi o  governador Carlos [de Almeida] Pereira quem, em 1913, deu início ao processo de desenvolvimento urbanístico de Bissau, então vila e depois  cidade (a partir de 1914), derrubando a famigerada muralha (um muro de tijolo de 4 metros de altura, e antes uma tosca paliçada...) que ia de um dos baluartes da fortaleza da Amura até ao cais do Pigiguiti, separando brancos e pretos, neste caso a colonos (europeus e cabo-verdianos) e o "chão de papel"...Era um muralha protetora com valor mais simbólico do que físico...Foi este gesto iconoclasta que acabou por dar origem à moderna Bissau que nós ainda iríamos conhecer.

Considerando que terá sido eventualmente um erro a transferência da capital, em 1941, por ter ferido de morte a histórica cidade de Bolama, o jornalista três décadas e tal depois. da ação decisiva do governador republicano, Carlos Almeida Paredes (outubro de 1910-agosto de 1913), dava  conta de (e descrevia em detalhe) os notáveis progressos de Bissau "onde se rasgaram largas avenidas paralelas ao eixo central formado pela Avenida da República" [, hoje, av Amílcar Cabral]...

3. Enfim, a cidade começava a ter uma "fisionomia europeia" (**)... O clube de ténis é local de encontro das  senhoras,  brancas e cabo-verdianas, tão raras ainda nos anos 20. Para os homens ficava reservada a bola ( e as paixões da bola). O campeonato de futebol da Guiné estava ao rubro: "Vi jogar os Balantas de Mansoa contra o Sport Lisboa e Bolama, em Bissau. Azuis e vermelhos lutaram com a mesma ralé [, garra, raça, vigor...] dos clubes lisboetas"... Enfim, duas boas equipas, constituídas, na curiosa expressão do autor, por "indígenas assimilados à civilização europeia"  (sic)...

E o repórter cita largamente o escritor Fausto Duarte (1904-1953), o autor de "Auá" (1934), de origem cabo-vrediana, funcionário da admimnistração colonial, que foi  testemunha privilegiada dessas mudanças históricas... Para Fausto Duarte, o coração, os pulmões, os braços e as pernas de Bissão estavam no Pigiguiti, nas suas embarações e nos seus estivadores... Onde Norberto Lopes parece ser menos preciso é quando escreve que a construção da primeira ponte-cais de Bissau, a "maior obra de engenharia da colónia",  foi atribuída a uma empresa inglesa.  Tanto quanto sabemos, a construção da ponte-cais do porto de Bissau, em betão armado, foi feita pela empresa Moreira de Sá & Malevez (1910-1913) (segundo informação de Luís Calafate, bisneto de Moreira Sá) (***).

A última crónica (ou "narrativa da Guiné") de Norberto Lopes será a do elogio público da obra e da personalidade do enérgico transmontano Sarmento Rodrigues, futuro ministro das colónias (e depois do Ultramar).  (***) (LG)





























Recorte do "Diário de Lisboa" (diretor: Joaquim Manso), nº 8694, ano 26, segunda  feira, 10 de fevereiro de 1947, pp. 1 e 9.

Cortesia de portal Casa Comum > Fundação Mário Soares > Arquivos > Diário de Lisboa / Ruella Ramos >  05780.044.11045

Citação:

(1947), "Diário de Lisboa", nº 8694, Ano 26, Segunda, 10 de Fevereiro de 1947, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_22342 (2017-10-18)

[Seleção, montagem dos recortes, edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Notas do editor

(*) Vd. poste de 21 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17785: Historiografia da presença portuguesa em África (92): quando a Guiné do tempo de Sarmento Rodrigues tinha uma "boa imprensa": Norberto Lopes, o grande repórter da "terra ardente"

(**) Sobre o planeamento e o desenvolvimento urbanístico de Bissau, bem como  da sua arquitectura colonial, vd. entre outros os  postes de:

12 de julho de  2014 > Guiné 63/74 - P13392: Manuscritos(s) (Luís Graça) (36): Revisitar Bissau, cidade da I República, pela mão de Ana Vaz Milheiro, especialista em arquitetura e urbanismo da época colonial (Parte VII): O melhor edifício da cidade, a Associação Comercial, hoje sede do PAIGC, projeto do arquiteto Jorge Chaves, de 1949-1952
20 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13312: Manuscritos(s) (Luís Graça) (33): Revisitar Bissau, cidade da I República, pela mão de Ana Vaz Milheiro, especialista em arquitetura e urbanismo da época colonial (Parte VI): O novo bairro da Ajuda (1965/68), um "reordenamento" na estrada para o aeroporto...





A ponte de Ensalmá que que veio permitir
a ligação de Bissau a Mansoa
Vd. também os postes de Mário Dias:

9 de Fevereiro de 2006 >  Guiné 63/74 - P495: Memórias do antigamente (Mário Dias) (1): Um cabaço de leite



Bissau, 1908, antiga ponte cais em madeira: desembraque de
tropas
27 de março de 2008 > Guiné 63/74 - P2691: Memórias dos Lugares (6): A Bissau dos anos 50, que eu conheci (Mário Dias)

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17808: Memória dos lugares (366): em 1947, Canchungo ainda não se chamava Teixeira Pinto, nem a vila de Gabu era Nova Lamego... Xime e Xitole escreviam-se com "ch" e o Quebo (futura Aldeia Formosa) nem aparecia no mapa....


Viagem ministerial e Obras do V Centenário do Descobrimento da Guiné.
Composição e desenho de A. T. Mota [1947]

Excertos da carta da Guiné,  elaborada por 2º tenente Teixeira da Mota, com o itinerário percorrido (linha a cheio com setas) pelo subsecretário de Estado das Colónias, em fevereiro de 1947, com indicação das obras construídas no âmbito do V Centenário do Descobrimento da Guiné (*)

Fonte: Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, vol II - Número Especial, [Comemorativo do V Centenário da Descoberta da Guiné], 1947, 454-455 pp. [O nº completo está disponível "on line" aqui]

Infogravura: Adapt. pelo Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)

1. Como se pode ver, em 1947, Canchungo ainda não se chamava Teixeira Pinto, nem a vila de Gabu era Nova Lamego... Ambas já eram sede de circunscrição administrativa

Xime e Xitole escreviam-se com "ch" e o Quebo (futura Aldeia Formosa) nem aparecia no mapa.... Tudo indica que o aportuguesamento de alguns destes topónimos seja posterior, embora provavelmente ainda sejam no tempo do governador-geral  Sarmento Rodrigues, futuro ministro das colónias (e,depois, do Ultramar).

O jornalista Norberto Lopes, do "Diário de Lisboa", fez este mesmo percurso nesta data, e esteve em Canchungo e em Gabu. Vindo de Bolama, São João, Fulacunda e Buba, a caminho de Bambadinca e Bafatá. passou pelo Chitole... (e, antes de cambar o rio Corubal, passou pela tabanca Portugal, na margem esquerda). (**)

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17803: Memória dos lugares (365): Canchungo, depois Teixeira Pinto, de novo Canchungo... Quando, porquê e por ordem de quem? (A. Marques Lopes, cor DFA, ref, ex-alf mil, CART 1690, Geba, e CCAÇ 3, Barro, 1967/68)


Fonte: António Carreira (1947), com a devida vénia

1.  Reprodução parcial do poste de 7 de setembro de 2005 > 

Guiné 63/74 - P160: Teixeira Pinto ou Canchungo ? (Afonso Sousa / Marques Lopes)

Mensagem de A. Marques Lopes:

[A. Marques Lopes, coronel DFA, na reforma, ex-alf mil, CART 1690, Geba, e CCAÇ 3, Barro (1967/68), um dos 10 primeiros membros da nossa Tabanca Grande]

É tendência nossa, quando nos referimos a Teixeira Pinto, dizer "agora Canchungo". Descobri, recentemente, que estaria mais certo dizermos "novamente Canchungo".

É que o nome daquela terra da Guiné chamou-se Canchungo desde os tempos mais remotos. Assim é referida em alguns livros em meu poder quando narram as campanhas do capitão João Teixeira Pinto de 1912 a 1915. Nomeadamente em "A Guiné Através da História", da autoria do Coronel Leite de Magalhães, publicado pela Editorial Cosmos com o n.º 34 da sua colecção Cadernos Coloniais (sem indicação de data de publicação), e em "História da Guiné - Portugueses e Africanos na Senegâmbia, 1841-1936", de René Pélissier, publicado pela Editorial Estampa em 1997 (dois volumes).

A imagem que vos envio é retirada de um mapa inserto no livro "Vida Social dos Manjacos", de António Carreira, editado pelo Centro de Estudos da Guiné Portuguesa em 1947. António Carreira foi, nessa altura, administrador da circunscrição de Cacheu, à qual pertencia a povoação de Canchungo.

Mais tarde, ainda não descobri quando, é que foi dado a Canchungo o nome do "pacificador" Teixeira Pinto (que acabou por morrer no combate de Negonamo, em Moçambique, quando continuava a "pacificar").

Os guineenses, natural e logicamente, baniram o nome de Teixeira Pinto e repuseram o nome original da povoação.

A. Marques Lopes



Guiné > Região do Cacheu > Mapa de Teixeira Pinto (1953) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Teixeira Pinto, vila, sede de circunscrição administrativa, e Canchungo, povoação indígena (com mais de 50 casas).

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)



2. Comentário do editor:

Em 19947, quando lá esteve o jornalista do "Diário de Lisboa", Norberto Lopes, o nome da povoação era Canchungo... E o administrador da circunscrição era o António Carreira, cuja ação o jornalista, de resto,  muito elogia por estar em consonância com a política do governador geral, o comandante Sarmento Rodrigues  (*). 

Julgo que a terra, capital dos manjacos, passou a chamar-se "Teixeira Pinto", ainda no tempo do governador-geral Sarmento Rodrigues, talvez em 1948... Mas a povoação indígena, Canchungo, continou a existir...

Alguns topónimos guineenses foram "aportuguesados" nessa época: Aldeia Formosa (Gebo), Nova Lamego (Gabu Sará), etc... Mas poucos, se compararmos este território com outros que foram "colónias de povoamento" (Angola e Moçambique),.

O nosso amigo Armando Tavares da Silva prometeu-me mandar, no próximo fim de semana, cópia de uma relação de 1948 com os nomes aportuguesados das diversas povoações das Guiné. Ele vai ver se fala lá da tabanca Portugal. Essa relação pode esclarecer a mudança de designação de Canchungo para Teixeira Pinto. (**)

Note-se que na carta de Teixeira Pinto (1953) (Escala 1/25 mil), coexistem os dois topónimos: Teixeira Pinto, sede de circunscrição administrativa, uma vila "europeia", e  Canchungo, a "povoação indígena" (com mais de 50 casas)...
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Notas do editor:

(*) Vd. Norberto Lopes: "Narrativas da Guiné ((6): Uma vila que nasce e uma vila que morre: o futuro brilhante de Canchungo e opassado glorioso de Cacheu. "Diário de Lisboa", nº 8702, ano 26, quarta-feira, 19 de fevereiro de 1947, pp. 1 e 9. [ Consult em 27/9/2017}. Disponível em http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=05780.044.11053

(**) Último poste da série > 25 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17795: Memória dos lugares (364): Quem se lembra (ou ouviu falar) da tabanca de Portugal, a seguir aos rápidos de Cusselinta e à Ponte Carmona (em ruínas) (carta do Xitole, 1955)? Seria distinta de "Gã Portugal" que terá existido, também na margem esquerda do Rio Corubal, mas na península de Gampará... (Luís Graça / Cherno Baldé / Alcídio Marinho / Luís Branquinho Crespo / Luís Marcelino / Mário Pinto / António Murta)

domingo, 18 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17482: (De) Caras (77): Fausto Teixeira, deportado político em 1925, empresário em Bafatá, de quem o 2º tenente Teixeira da Mota, ajudante de campo do governador Sarmento Rodrigues dizia, em 1947, ser um "incansável pioneiro da exploração de madeiras da Guiné"... Mais três contributos para o conhecimento desta figura singular (José Manuel Cancela / Jorge Cabral / Armando Tavares da Silva)


Guiné > Bissau > s/d [.c 1969] > À esquerda, o José Manuel Cancela. O terceiro é o António Teixeira, filho do Fausto Teixeira, que irá depois, em 1971, como furriel miliciano para Angola. "É curioso. O António Teixeira nunca me falou de um sobrinho nascido em Bafatá. Falava-me de um irmão mais velho que vivia em Palmela, tal como ele e o pai, o sr. Fausto".

Foto (e legenda): © José Manuel Cancela (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Bafatá > Fá > Serração mecânica de Fausto Teixeira > 7 de fevereiro de 1947 > Visita do Secretário de Estado das Colónias, eng. Rui Sá Carneiro, e comitiva, no regresso a Bissau, vindo de Bafatá.

Segundo a "nossa leitura", do lado esquerdo, teríamos o eng. Rui Sá Carneiro, o prefeito apostólico José Ribeiro de Magalhães e o governador Sarmento Rodrigues; em segundo plano, rodeado dos seus empregados, parece ser o dono da empresa, observando (e possivelmente dando explicações sobre) o corte de um grande toro de madeira (à direita). O administrador da circunscrição de Bafatá, Carlos Costa, também terá integrado a visita, tal como o 2º ten Teixeira da Mota, ajudante de campo do governador. Não sabemos quem é o autor desta fotos e das restantes que acompanham o extenso e altamente detalhado relatório da "visita ministerial", que é assinado por Teixeira da Mota. Não temos até agora nenhuma foto do empresário Fausto [da Silva] Teixeira,

Fonte: Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, vol II - Número Especial, [Comemorativo do V Centenário da Descoberta da Guiné], 1947, p. 370 . [O número completo está disponível "on line" aqui]

[Imagem digitalizada a partir de cópia pessoal pertencente ao prof Armando Tavares da Silva,  historiador, membro da nossa Tabanca Grande]


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Fá (Mandinga) > 1968 > CART 2339 (1968/69) > O Grupo de combate do Alf Mil Torcato Mendonça (que hoje vive no Fundão e é um dos nossos colaboradores permanentes), antes de a CART 2339 ser colocada em Mansambo, cujo aquartelamento iria construir de raíz. O arriar da bandeira ... 

Tirando as patrulhas ao mato Cão, para montar segurança aos barcos civis que atravessavam o Geba Estreito (Xime-Bambadinca-Bafata), Fá Mandinga era uma "verdadeira colónia de férias", beneficiando de "instalações ótimas"... Já aqui se escreveu, erradamente, que tinha sido uma "antiga estação agronómica por onde passara, nos anos 50, o engº Agrónomo Amílcar Cabral, licenciado pelo ISA - Instituto Superior de Agronomia, de Lisboa"... o que parece ser falso. O engº agrónomo Amílcar Cabral trabalhou e viveu, isso, sim, em Pessubé, perto de Bissau, com a sua esposa e colega portuguesa, Maria Helena Rodrigues.  

Segundo o Torcato Mendonça, as "instalações civis" estavam, na altura, à guarda de um civil, mandinga, o Marinho, que deveria ser pago pela administração [circunscrição de Bafatá ?] (Veja-se a deliciosa história do bode que foi roubado ao Marinho, quando o grupo de combate do alf mil Torcato Mendonça recebeu ordem para deixar Fá...].

Foto: © Torcato Mendonça (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mais 3 contributos para o conhecimento desta história singular, a de um deportado político que se torna um importante empresário na época colonial, exportador de madeiras tropicais:


(i) José Manuel Cancela, natural de (e residente em) Penafiel (ex-sold ap metr pesada, CCAÇ 2382, Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1968/70):

Amigo Luís.
Vou tentar responder às tuas perguntas, a partir do que ainda lembro.
O meu conterrâneo, que também se chamava Teixeira, sem ter traços familiares com o patrão [, o madeireiro Fausto Teixeira],  veio embora após o 25 de Abril. Estava muito revoltado por ter perdido o emprego, e culpava o exército por não ter acabado com a guerra. Enfim!!!

Infelizmente não me pode ajudar no que toca a este tema. Faleceu ainda nos anos oitenta, não tinha cinquenta anos.

Recordo-me que, nos princípios de 71, estava ele de férias, perguntei-lhe pelo António. Disse-me que passou por Bissau, com destino a Angola, como furriel miliciano. Junto uma das minhas fotos, onde estamos juntos, em Bissau, eu e o António.


(ii) Jorge Cabral, ex-alf mil art, Pel Caç Nat 63 (Fá e Missirá, 1969/71] [o segundo, na segunda fila, na foto à esquerda]

Obrigado Luís!
Fá estava dividido, em duas partes, a de cima e a de baixo. Esta foto parece-me ser na parte de baixo.

Como te disse ao telefone, existia um guarda civil, o Marinho do qual tanto eu como o Torcato Mendonça [ex-alf mil, CART 2239, Fá e Mansambo, 1968/69], já falámos. Terá sido contratado, por via do fim da serração? 

Penso que a tropa só lá se instalou, em Fá,  a partir de 1965. Foi sede de Batalhão e de muitas Companhias. Em Julho de 1969 e pela primeira vez, foi entregue a um Pelotão, o meu. 

Era na parte de cima que se encontravam as melhores instalações. Uma casa óptima com vários quartos e duas vivendas, além de mais dois edifícios. Teria tido água canalizada e com certeza um potente gerador, que ocuparia uma casa própria, que o meu soldado Dairo aproveitou para a sua residência. 

Entre Julho de 1969 e Fevereiro de 1970, data da chegada da 1.ª Companhia de Comandos Africanos, as mulheres e os filhos dos meus soldados viveram no Quartel. Não ocupámos nem a parte de baixo, nem a "casa grande" e as duas vivendas. 

Quem pagaria o ordenado do Marinho, que até fazia rondas nocturnas, munido apenas de uma lanterna e que uma vez foi alvejado pelo meu soldado Mamadú que, estando de sentinela, ao ver uma luz,  disparou ?... 

Abraço,   J. Cabral.


(iii) Armando Tavares da Silva, membro da nossa Tabanca Grande, autor de “A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar (1878-1926)” (Porto: Caminhos Romanos, 2016, 972 pp.).  

Luís,
O Fausto Teixeira faria parte de um grupo de 26 membros da Legião Vermelha que, a bordo do cruzador Carvalho Araújo,  foram deportados para a Guiné, onde chegaram em Junho de 1925.

A Legião Vermelha era um grupo anarcossindicalista que varreu o país com uma onda de atentados bombistas contra figuras de destaque no campo do comércio, indústria, etc.,  supostamente conservadoras. A 15 de Maio de 1925 atentam contra a vida do comandante da polícia, coronel João Maria Ferreira do Amaral, que fica ferido. É na sequência deste atentado que um grupo destes anarquistas é deportado para a Guiné [entre eles, Gabriel Pedro, pai de Edmundo Pedro]. Era presidente do ministério Victorino Máximo de Carvalho Guimarães.

Foi o mesmo grupo que, em 1937, atenta contra a vida de Salazar.


Gabriel Pedro, pai de Edmundo Pedro, com outros deportados para a Guiné, em 1925, alegados membros da misteriosa "Legião Vermelha". Neste grupo, é provável que conste o Fausto Teixeira. O Gabriel Pedro é o terceiro da segunda fila, a contar da direita.

[Fonte do fotograma:  You Tube > A Legião Vermelha - Portugal 1920/1925]




Excerto do Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, nº especial, dezembro de 1947, pp. 368-370, a partir de cópia pessoal do nosso amigo Armando Tavares da Silva
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Nota do editor:

Vd. poste de 16 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17477: (De) Caras (83): Ainda o madeireiro Fausto da Silva Teixeira, com residência familiar em Palmela, amigo do "tarrafalista" Edmundo Pedro... Apesar da "amizade" com Amílcar Cabral e Luís Cabral, teve um barco, carregado de madeiras, atacado e incendiado no Geba, a caminho de Bissau...

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17468: Historiografia da presença portuguesa em África (79): Carta da Guiné com o itinerário da viagem do subsecretário de Estado das Colónias em fevereiro de 1947 e obras do V Centenário

Viagem ministerial  e Obras do V Centenário do Descobrimento da Guiné.
Composição e desenho de A. T. Mota [1947]





Carta da Guiné (, elaborada por 2º tenente Teixeira da Mota, ) com o itinerário percorrido (linha a cheio com setas) pelo subsecretário de Estado das Colónias, em fevereiro de 1947, e que já levava 9 anos no cargo, com indicação das obras construídas no âmbito do V Centenário do Descobrimento da Guiné:  a sublinhado (linha horizontal por baixo do símbolo), as que as que foram iniciadas pelo subsecretário de Estado ou que já estavam em construção nessa data (fevereiro de 1947). Grande parte parte destas obras foram inauguradas ou visitadas pelo representante do Governo da metrópole nesta "histórica" visita.

Fonte: Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, vol II - Número Especial, [Comemorativo do V Centenário da Descoberta da Guiné], 1947, 454-455 pp. [O nº completo está disponível "on line" aqui]


1. Esta curiosa (e preciosa) carta da Guiné foi-nos enviada em 1/6/2017 pelo nosso amigo Armando Tavares da Silva, autor de “A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar (1878-1926)” (Porto: Caminhos Romanos, 2016, 972 pp.). 

Ele fez questão de frisar que a fonte da  documentação fotográfica, que nos mandou (incluindo esta carta), é o número especial de outubro de 1947 do "Boletim Cultural da Guiné Portuguesa" (BCGP). As imagens foram, no entanto,  tiradas de uma cópia pessoal do BCGP e digitalizadas por ele.  Pela nossa parte, editores, fizemos a ampliação da carta (que consta das pp. 454-455 desse nº especial do BCGP) e recortámo-la em quatro quadrantes, grosso modo, correspondentes às principais regiões:

(i) norte-oeste: região do Cacheu e região do Oio;

(ii) sul-oeste: regiões de Bissau, Bolama/Bijagós, Quínara e Tombali;

(iii) norte-leste: regiões de Bafatá e Gabu;

(iv) sul-leste: regiões do Boé e Tombali.

Um quinto recorte dá-nos uma ideia mais detalhada da região de Bissau (centro da Guiné). No sexto recorte, podem ver-se as legendas.

Pelo itinerário da "viagem ministerial" (sic), verificamos que, por exemplo, no leste, o subsecretário de Estado das Colónias, engº Rui Sá Carneiro, acompanhado do governador Sarmento Rodrigues e comitiva, visitou apenas o eixo Bambadinca-Bafatá-Gabu. A visita, de carro, estava condicionada pela fraca rede rodoviária da colónia... De Gabu para o nordeste (Piche, Buruntuma, Canquelifá,
Pirada), só se devia ir por picada... Por sua vez, a região do Boé era praticamente desértica...

Em matéria de "estradas" (símbolo //), só havia em rigor alguns troços:

(i) Varela-Susana-São-Domingos-Sedengal-Barro;

(ii) Bissau-Nhacra-Jugudul:

(iii) Bissau-Bor-Prabis;

(iv) Bissau-Quinhamel;

(v) Bafatá-Gabú;

(vi) Bambadinca -Xitole;

(vii) Fulacunda-Buba



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Ponte General Craveiro Lopes > Novembro de 2000 > Lápide, em bronze, evocativa da "visita, durante a construção" do então Chefe do Estado Português, general Francisco Higino Craveiro Lopes, acompanhado do Ministro do Ultramar, capitão de mar e guerra Sarmento Rodrigues, em 8 de Maio de 1955. Era Governador Geral da Província Portuguesa da Guiné (tinha deixado de ser colónia em 1951, tal como os outros territórios ultramarinos...) o capitão de fragata Diogo de Melo e Alvim.

Foto: © Albano Costa (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


No rio Corubal ainda não existia, em 1947, a ponte do Saltinho (general Craveiro Lopes, inaugurada em 1956), impossibilitando portanto a ligação do leste às regiões de Quínara e de Tombali... Na margem direita  do Rio Corubal, a comitiva só vai chegar até ao Xitole (em 7 de fevereiro de 1947)... A ponte marechal Carmona tinha, entretanto, colapsado logo a seguir à sua construção em 1937...

2. Relativamente às obras, não as construídas,  mas as iniciadas ou em fase de construção (símbolos com sublinhado, com traço horizontal), no âmbito do Centenário,  ao tempo do Subsecretário de Estado das Colónias (que tomara posse do cargo em 1938), pode constar-se, por exemplo, que:

(i) em Bafatá, sede de circunscrição,  as obras do Centenário iniciadas ou em fase de construção eram um monumento (a Oliveira Muzanty), um edifício público, um celeiro, o sistema de abastecimento de água e o hospital; em contrapartida, estava já construído o cais do porto fluvial, o bairro indígena e o matadouro;

(ii) em Gabu, também sede de circunscrição,  tinha-se iniciado a construção ou estava em construção a igreja/capela, a energia elétrica e um bairro indígena; pronta, só estava a fonte;

(iii) em Bambadinca e no Xitole, postos administrativos, montava-se  o telefone; prontos só estavam a escola (em Bambadinca) e o posto sanitário provisório (em Bambadinca e no Xitole).

Dá para perceber quais eram as localidades mais importantes do leste ("chão fula") nessa época; além das já citadas, temos Chime (ou Xime), Fá, Geba, Dandum, Contuboel (posto administrativo), Sonaco (posto administrativo), Pirada (posto administrativo), Cam Quelefá (ou Canquelifá), Buruntuma, Piche (posto administrativo),  Madina (Boé)... E ainda Sinchã Tom Bom, sede do regulado de Chanha...).

Ficamos também a saber que, em matéria de equipamentos sociais (escola, enfermaria, hospital, posto sanitário, fontanário, etc.) o interior da Guiné era ainda muito pobre... e o programa de obras públicas do Estado Novo concentrava-se sobretudo em Bissau, a nova capital (a partir de 1941, em substituição de Bolama, que entra em decadência). Em Bissau, as obras do Centenário incluíam: monumentos (2), campos desportivos (2), igreja (1),  além de comunicações telefónicas, abastecimento de água, hospital, maternidade, posto sanitário, edifícios públicos, cais portuário, campo de aviação (Bissalanca)...

Além de Bissau, a capital, Bafatá e Gabu (mo leste), as sedes de circunscrição eram: 

São Domingos e Canchungo (região do Cacheu);
Farim e Mansoa (região do Oio); 
Fulacunda (região de Quínara);
Bolama (região de Bolama/Bijagós);
Catió (região de Tombali).

Não sabemos se nesta altura já havia as atuais regiões (ou as regiões do nosso tempo). 

Todas estas sedes de circunscrição foram contempladas pela "visita ministerial", bem como a maior parte dos respetivos postos administrativos... Ficaram de fora, por exemplo, no leste, Contuboel, Sonaco, Pirada e Piche... 

Em contrapartida, nas regiões de Quínara e de Tombali, o subsecretário de Estado das Colónias visitou (ou passou por) Catió, Bedanda, Guileje, Balanazinha, Balana, Mampatá, Teroiel e Missirá, vindo de (e regressando a) Bissau, por Enxudé, Tite, Fulacunda e Buba... Ficou de fora, por exemplo, Empada e Cacine,  que eram postos administrativos...

Verificamos, por este valioso documento, que alguns dos topónimos da Guiné ainda estavam por fixar em 1947: caso de Chime (hoje, Xime), Chitole (hoje, Xitole), Canchungo (, mais tarde, Teixeira Pinto), Dandum (, mais tarde, Dando), Gabú (mais tarde, Nova Lamego), Cam Quelefá (hoje, Canquelifá), Begene (hoje, Bigene), Ingtorei (hoje, Ingoré)... (Comparar com carta da província de 1961.)


4 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17318: Historiografia da presença portuguesa em África (75): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte IV: No chão fula, Bafatá e Gabu, 6 de fevereiro de 1947...

26 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17287: Historiografia da presença portuguesa em África (74): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte III: Por Cacheu, São Domingos e Farim, a 2, 3 e 4 de fevereiro de 1947... No tempo que ainda era politicamente correto falar-se em colónias, raças, população indígena, colonos europeu... e felupes que "nasceram e querem morrer portugueses", setenta anos depois do "desastre de Bolor"

9 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17224: Historiografia da presença portuguesa em África (73): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte II: Prosseguem as inaugurações, em 29 e 30 de janeiro... Nessa época havia uma linha área, a Linha Imperial, entre Lisboa e Lourenço

19 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17155: Historiografia da presença portuguesa em África (72): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte I: A consagração do governador geral, o comandante Sarmento Rodrigues, como homem reformador e empreendedor (Reportagem de Norberto Lopes, "Diário de Lisboa", 27/1/1947)