sábado, 21 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16115: Agenda cultural (486): Sessão de lançamento do novo livro do lusoguineense António Júlio Estácio, "Bolama, a saudosa...", Lisboa, Palácio da Independência, dia 25, às 18h00 - Resumo da obra: parte II


Capa do livro do António Júlio E. Estácio, "Bolama, a saudosa...". Edição de autor, 2016, 491 pp. Preço de capa: 15€.

Parte II do resumo do livro "Bolama, a saudosa...",
 da autoria do nosso amigo camarada, lusoguineense, António [Júlio] Estácio.


Vai ser lançado em Lisboa, 

no Palácio da Independência, mesmo ali ao lado 

do Teatro de D. Maria II, 

dia 25 de maio, 4ª feira,
às 18h00.


O autor:

António [Júlio Emerenciano]  Estácio, lusoguineense,
nado e criado no chão de papel, em Bissau, em 1947,
engenheiro técnico agrário (Coimbra, 1964-1967, Escola de Regentes Agrícolas, onde foi condiscípulo do Paulo Santiago), fez a tropa (e a guerra) em Angola, como alferes miliciano (1970/72). Trabalharia depois em Macau (de 1972 a 1998).

Vive há quase duas décadas em Portugal, no concelho de Sintra.
É membro da nossa Tabanca Grande desde maio de 2010 (*). 
Tem-se dedicado à escrita, é autor de dois livros que narram as histórias de vida de duas "mulheres grandes" da Guiné, a cabo-verdiana Nha Carlota (1889-1970) e a guineense Nha Bijagó (1871-1959). (**).


Sinopse da obra - II Parte (o início da decadência 

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16114: Convívios (748): Em Oliveira de Azeméis, no passado dia 7: celebração dos 50 anos de formação do BCAÇ 1894 e dos 48 anos do regresso da CCAÇ 1589, os bravos de Béli e Madina do Boé (Manuel Coelho / António Marques Alves)


Foto nº 1 > Insígnias da CCAÇ 1589 (1966-1968)


Foto nº 2 > O António Marques Alves, organizador e também director do Núcleo da Liga dos Combatentes de Oliveira de Azeméis, depositando um ramo de flores em homenagem aos mortos do concelho na guerra do ultramar.


Foto nº 3 > Aspeto da cerimónia de homenagem aos mortos ddo concelho na guerra do ultramar


Foto nº 4 > Concentração junto ao monumento aos mortos da guerra do ultramar


Foto nº 5 > Homenagem aos mortos do concelho (2)


Foto nº 6 > Igreja de Oliveira de Azeméis


Foto nº 7 Os bravos da companhia (1)


Foto nº 8 > Os bravos da companhia (2)



Mensagem do antigo comandante da CCAÇ 1589, Henrique Perez Brandão, cap inf, lida no encontro pelo ex-alf Veleda.

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1.  Mensagem, com data de 15 do corrente, do Manuel Caldeira Coelho (ex-fur mil trms,  CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68),

Caros amigos editores, meio século não é pouco na vida humana, por isso estou a pedir-vos a publicação da notícia deste encontro da CCAÇ 1589 que é anual mas desta vez comemorámos 50 anos da formação do batalhão (BCAÇ 1894) em Tomar, e 48 anos do nosso regresso da Guiné [, em 10 de maio de 1968, com chegada a Lisboa, a 15].

Assim envio as fotos mais expressivas do evento em Oliveira de Azeméis no passado dia 7, no qual o António Marques Alves, organizador e também director do Núcleo da Liga dos Combatentes, depositou flores em homenagem aos mortos do concelho na guerra do ultramar.

Também foi celebrada missa por sufrágio pelos falecidos da nossa companhia.

Envio também cópia da mensagem do nosso comandante de companhia, o coronel e então capitão Brandão, na qual resume o que foi o nosso percurso naquele fim do mundo que se chama
região do Boé.

Um grande abraço,
Manuel Coelho
______________

Guiné 63/74 - P16113: Nota de leitura (840); "Outro Olhar, Guiné 1971-1973”, por Francisco Gamelas, edição de autor, 2016 (Mário Beja Santos)



Mário Beja Santos
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Maio de 2016:

Queridos amigos,

É verdade que já se escreveram histórias da unidade em verso, e há muitíssimas rimas em edições de autor. Não conheço nada de tão íntimo, despojado de pompa que este testemunho de um alferes das Daimler que viveu a guerra e o amor em Teixeira Pinto e arredores, e que põe fundamentalmente em verso a sua forma de ler as fotografias do seu álbum daquele tempo.
Ele não se ilude: "A pessoa que agora as revive é diferente daquele viveu os factos a que se referem".

Mas há tesouros que não se apagam, e o ouro brilha sempre, tal como ele canta a amizade em teatro de guerra, como ele escreve com tanta singeleza:

"Hoje sou eu que ajudo./Amanhã poderei ser eu o ajudado./Só o viver as situações/nos ensina quem somos".

Que ninguém perca esta leitura, digo-vos eu.

Um abraço do
Mário


Outro olhar, Guiné 1971-1973, por Francisco Gamelas

Beja Santos

O testemunho de Francisco Gamelas [, foto atual à direita[, que comandou um pelotão Daimler em Teixeira Pinto, entre 1971 e 1973, é um documento único. Nunca saberemos o tempo que levou a congeminar esta solução original de voltar à Guiné meditando e poetando sobre fotografias pessoais. É um autor despretensioso, nada de farroncas nem de bravuras e diz abertamente: nem sempre os episódios narrados foram diretamente vividos pelo autor, soube deles por narrativas feitas na altura por quem as viveu.

É um regresso muito íntimo, na Guiné viveu atribulações mas chegou a ter ao seu lado a mulher amada. Sentiu deceções, não se deu bem no enquadramento da máquina militar, como escreve: “A qualidade humana e profissional da hierarquia era maioritariamente fraca. As massas militares não passavam de números, de estatísticas, de peças descartáveis de uma engrenagem com um dono todo-poderoso”.

 Descreve Teixeira Pinto, pelo que pude ler e ver é a Teixeira Pinto que aparece no meu livro “A Mulher Grande”, que ali viveu nos anos 50 em cuja casa recebeu Amílcar Cabral e Maria Helena Vilhena Rodrigues, somente há que adicionar o quartel. Tudo pacato no sítio, mas o PAIGC movimenta-se em áreas próximas, no Balenguerez e na Caboiana.

Exalta a Daimler (p. 27), o seu instrumento de trabalho:

Esta bizarria careca e obsoleta 
também defendia o império. 
Puseram-lhe a tampa na valeta, 
desta vez com algum critério. 

No caso de pisar uma mina, 
no provável saltar e tombar, 
ao cuspir quem a domina, 
poderia a sua vida salvar (...). 

E apresenta também em métricas rítmicas as tarefas do seu pelotão (p. 29): 

(...) Nos caminhos com tapetes de alcatrão
rumo ao Cacheu e ao Pelundo, 
por vezes até João Landim,
exibíamos o nosso vozeirão
rouco, feroz e profundo
nunca faz de conta de ínterim.

Nas visitas dos senhores do poder
às terras das redondezas
erámos presença obrigatória
não fosse chegar e não ver
o aparato a garantir certezas
de um final feliz para a sua estória. (...)

Não lhe escapam datas de festividades, o trabalho da ação psicológica, as peripécias para angariar uma comida um pouco melhor, são saborosos os seus textos sobre a caça ao leitão e o rabo dos cabritos.

E temos as lavadeiras, assim louvadas (p. 49):

Serviço público por excelência
este de nos lavar a roupa suja.
Ranchos de jovens mulheres nativas
cuidavam de manter apelativas
as roupas dos brancos, cuja
paga era de uma esmola a evidência. (...)

Não esqueceu as crianças, a sua inocência e o seu gargalhar estrídulo, as práticas de higiene no lavadouro  (p. 57):

O prazer lúdico da água a escorrer
sobre a pele nua de uma criança
exprime a aparente confiança
de uma subtil normalidade a decorrer.

Enquanto a mão, para sobreviver,
lava a roupa de militares, balança
a sorte de quem no mato se lança,
tanto para matar como para morrer.

Contudo, é reconfortante a ternura 
que sentimos na simples observação
deste quadro e pensar que perdura,
ainda, neste nosso aviltado coração,
um sentimento nobre. Pura e dura
é a loucura desta arma na nossa mão.

Não se exime ao uso da prosa para castigar o estilo da crueldade, da incompreensão do horror, aquilo que se chama a banalização do mal, é o que escreve o título com "A Queda" (P. 59):

  "Não mais de 35 anos, triste, franzino e alquebrado, um soldado armado de cada lado, mãos atadas atrás das costas. Da negrura do seu corpo sobressaia o branco das pupilas. Na sua frente, formando o bico do triângulo, o sargento de dia, que comandava o grupo. O africano tinha acabado de ser entregue pela PIDE à porta de armas. Da penumbra do seu gabinete o tenente-coronel emergiu, dirigindo-se ao grupo, que parou, na expetativa. De onde me encontrava, pareceu inquirir o africano que o encarou, humilde, embora firme e determinado no seu silêncio. Inesperadamente, uma chuva de murros e pontapés, aplicado meticulosamente, desabou, inútil, sob aquele corpo que se apequenava a caminho do chão, sem produzir um queixume. Um último e violento pontapé, no corpo em posição fetal, há muito no chão, confirmou o cansaço do comandante. Arrastou-se e foi arrastado até ao calabouço. Cedo, na manhã seguinte, um helicóptero veio por ele. Chegou vazio a Bissau. Constou que o preso caiu pelo caminho”.

Não lhe saíram da memória certos lugares e espaços: a camarata em Bissau, a vida da messe de oficiais de Bissau a Teixeira Pinto, duas crianças a conversar no Pidjiquiti, a visita do ministro da Defesa, não lhe escapa um retrato a corpo inteiro do coronel (pp. 70/71):

“Entroncado, seco, estatura meã, sempre de camuflado com a sua boina de paraquedista, parecia um atleta de pesos e alteres. Passo miúdo e saltitante, cabeça rapada e bigode apurado, já a grisalhar. Constava que tinha praticado boxe. Olhava as pessoas sempre de frente sem nunca desviar o olhar. Personalidade forte, gostava de ser obedecido com rapidez e de forma eficiente. Tinha pouca paciência para quaisquer discussões. As suas frases eram curtas e grossas. Sabia que, no final era a sua opinião que prevalecia. Era ele que mandava. Para quê perder tempo?"

E há momentos inolvidáveis: acompanhado pela mulher ocorre um encontro na bolanha, foi momento mágico, como ficará no poema e na imagem (p. 75):

No saibro da linha direita e vermelha
na nossa direção, surge a caminhar
um vulto negro, passo lento e seguro.
O que poderia ser uma mulher velha
no porte e compleição, veio a revelar
a frescura própria de um fruto maduro.

Dois pequenos ramos secos nas mãos.
Como uma coroa, cingia-lhe a cabeça
uma fita clara de pano fino enrolado.
Os brincos das orelhas eram irmãos
do colar de contas do pescoço, peça
típica de mulher com marido prendado. (...)

Nem tudo circunda à volta do estro poético, há acontecimentos duríssimos, inocentes mortos que nunca mais se esqueceram, é preciso ler com os olhos límpidos e o coração disponível um texto pungente que se intitula “Efeitos colaterais" (pp. 78/81). E há a mais extremosa das confissões de amor, até porque a Lena virá para Teixeira Pinto e será professora, foi uma decisão com muitos escolhos (pp. 99/101):

“Mesmo assim, amor, decidimos casar
e começar a nossa vida em comum
neste reino de guerra sempre latente
aproveitando os intervalos
de alguma normalidade
para nos inventarmos
como casal.
Éramos jovens.
Sentíamo-nos imortais
apesar da evidência em contrário.(...)

Foi aqui, no Canchungo,
e nestas condições que aceitámos,
que o nosso amor floriu
que nos fomos aprendendo
na partilha permanente
nas cumplicidades do presente
e nela germinou a semente
que foi crescendo
no teu ventre
sangue do nosso sangue
carne da nossa carne
até nos acrescentar
em forma de rebento
a quem demos o nome de Sara”.

E, um dia, estão todos de regresso, finda uma saudade, rasga-se uma esperança, aquele barco de nome Niassa traz gente que vai recomeçar as suas vidas (p. 127):

Agora, quem espera já não desespera.
Está iminente o retomar da dignidade.
A felicidade pode mesmo ser verdade
e a carícia que nos afaga ser sincera. (...)

Não há livro neste extenso acervo da literatura de guerra como o de Francisco Gamelas. Resolveu o autor fazer a sua própria edição com uma tiragem de 150 exemplares. Irá arrepender-se pois há muito mais gente que quer guardar para si este majestoso e enternecido olhar de dois anos numa guerra, reescritos em alguns meses de 2015. Que obra tão bonita!


Parece olhar, enviesado, a objetiva/mas, sem nesse instante se manifestar/uma intenção do fotógrafo afrontar./Será mais um efeito de perspetiva. (Foto de Francisco Gamelas, p.114)


"Lena, por favor, a máquina fotográfica./Cicio numa pressa para a minha mulher./Máquina na mão, nos lábios um sorriso, abordo, afoito, aquela negra magnífica./Mas será que ela aceitar e entender?/Sorriu para mim, e nada mais foi preciso".  (Foto de Francisco Gamelas, p.74)
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de maio de 2016 Guiné 63/74 - P16094: Nota de leitura (839): Num número da revista Africana encontrei um trabalho de certo fôlego intitulado “Guiné: o gentio perante a presença portuguesa”, da autoria da antropóloga Maria Teresa Vázquez Rocha (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16112: Agenda cultural (485): Sessão de lançamento do novo livro do lusoguineense António Júlio Estácio, "Bolama, a saudosa...", Lisboa, Palácio da Independência, dia 25, às 18h00 - Resumo da obra: parte I

Parte I do resumo do livro "Bolama, a saudosa...", da autoria do nosso amigo e camarada, lusoguineense, António [Júlio] Estácio.


Vai ser  lançado em Lisboa, 
no Palácio da Independência, mesmo ali ao lado 
do Teatro de D. Maria II, 
dia 25 de maio,  4ª feira,
às 18h00.

O  autor:

António Estácio, lusoguineense,
 nado e criado no chão de papel, em Bissau,  em 1947, 
engenheiro técnico agrário (Coimbra, 1964-1967, Escola de Regentes Agrícolas,
 onde foi condiscípulo do Paulo Santiago), 
fez a tropa (e a guerra) em Angola, como alferes miliciano (1970/72). 
Trabalharia depois em Macau (de 1972 a 1998).

Vive há quase duas décadas em, Portugal, no concelho de Sintra, 
É membro da nossa Tabanca Grande desde maio de 2010 (*). 
Tem-se dedicado à escrita,
 é autor de dois livros que narram as histórias de vida  
de duas "mulheres grandes" da Guiné, 
a caboverdeana Nha Carlota (1889-1970) 
e  a guineense Nha Bijagó (1871-1959). (**).

Todos os amigos e camaradas da Guiné, que se sentam à sombra do poilão da Tabanca Grande, estão naturalmente convidados para este evento cultural. De resto, o Estácio é um bom amigo e melhor camarada, tem participado nos nossos encontros anuais em Monte Real, e é um elo de ligação fundamental com a história e a cultura crioula da Guiné-Bissau.

Esta obra, até pela sua extensão (c. de meio milhar de páginas), foi um "parto difícil", é um projeto que já vem de 2012. Parte do material fotográfico foi cedido pelo nosso blogue.

Parabéns ao autor, por ter chegado a bom porto, o mesmo é dizer que não morreu na praia!... Fica aqui um "cheirinho" do seu livro, com este resumo (alargado) com que ele presenteou o nosso blogue. Obrigado, António!... E boa sorte para o teu livro. 


Sinopse da obra - I Parte (da chegada dos portugueses até 1932)










(Continua)
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(...) António Júlio Emerenciano Estácio  [,. foto à  esquerda, em 1964,]  nasceu em Bissau, a 3 de maio de 1947, no tchom de Papel.  Estudou no Liceu Honório Barreto, onde foi condiscípulo do nosso amigo Pepito e foi aluno da nossa decana, a dra. Clara Schwarz (n. 1915).

Conheceu, ainda na Guiné, o nosso camarada Mário Dias.

De 1964 a 67 estudou, em Coimbra, na ex-Escola Nacional de Agricultura, onde tirou o Curso de Regente Agrícola,  tendo depois estagiado no extinto Instituto de Algodão de Angola (IAA).

De Janeiro de 1969 a Abril de 1972 cumpriu o serviço militar obrigatório, tendo, a partir de março de 1970 a maio de 1972, prestado comissão de serviço na Região Militar de Angola (RMA), Esteve aquartelado nas povoações de Luquembo, Sautar e Bessa Monteiro.

Em 28/9/1972 chegou a Macau, a fim de desempenhar funções técnicas na então Brigada da Missão de Estudos Agronómicos do Ultramar (MEAU). Neste território, conviveu com o Mário Dias e com o  [nosso saudoso] José Neto, de quem ficou grande amigo. Trata.se de dois grã-tabanqueiros da primeira hora, camaradas da Guiné.

De 28 setembro de 1972 a 2 dezembro de 1998 viveu em Macau, onde exerceu vários cargos e funções. Vive hoje em Portugal. (...)

(**) Vd. postes de :

3 de julho de  2011 > Guiné 63/74 - P8500: Fotos do lançamento do último livro do nosso camarada e amigo António Estácio, Nha Bijagó: Respeitada personalidade da Sociedade Guineense (1871-1959) , Lisboa, 20 de Junho de 2011


20 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6434: Notas de leitura (109): Carlota Lima Leite Pires, 'Nha Carlota' (1889-1970), de António Estácio (Mário Beja Santos)

(***) Último poste da série > 18 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16104: Agenda cultural (477): Lançamento do livro "A Conquista das Almas: Cartazes e Panfletos da Acção Psicológica na Guerra Colonial", de Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, dia 23 de Maio, às 18h30, na Associação 25 de Abril, em Lisboa

Guiné 63/74 - P16111: Parabéns a você (1082): Mário Pinto, ex-Fur Mil Art da CART 2519 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 19 de Maio de 2016 Guiné 63/74 - P16106: Parabéns a você (1081): Joaquim Martins, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4142 (Guiné, 1972/74) e Xico Allen, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 3566 (Guiné, 1972/74)

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16110: Convívios (747): Almoço do pessoal da 3872, onde se encontraram dois grandes médicos, o Dr. Pereira Coelho e o Dr. Rui Vieira Coelho (Juvenal Amado)

 

1. Mensagem nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 11 de Maio de 2016, com o rescaldo do Convívio do pessoal do BCAÇ 3872, ocorrido no passado dia 8:


Almoço do 3872

No dia 8 de Maio realizou-se mais um Encontro da CCS do 3872 onde se juntaram alguns elementos em especial da 3491 - Dulombi e 3490 - Saltinho, que já vão sendo hábito marcar presença. Não foi dos mais concorridos pois vão as preferências geográficas do pessoal participante por de zonas mais ao centro do país.

Foi no entanto um grande convívio, onde inesperadamente revi camaradas que já não via há muito tempo e presenciei reencontros de camaradas, que por estranho que pareça, não se reconheceram. O Cabo Enfermeiro Correia não reconheceu o Cabo Enfermeiro Catroga. Valeu a pena ver a estupefação genuína após a minha pergunta para adivinhar quem ali vinha. Ele não conseguiu reconhecer até eu desvendar o segredo. Depois, foi o que se esperava com abraços e conversas de nunca mais acabar.

O almoço foi bem condimentado com as nossas recordações como de costume. Também de costume se falou dos ausentes, reviveram-se as estórias com nuances e versões, que o tempo burilou onde o mesmo acontecimento é contado de várias formas.
Mas que interessa isso? Não se está a escrever a História mas sim a relembrar estórias.

A talhe de foice, acabou por vir à baila um dos nomes mais acarinhados, que por doença não pode estar presente.
Todos os que lidaram com ele têm estórias mirabolantes de que foi protagonista e como dava a volta ao tenente, que tinha por ele uma estima paternal.
Falo do Alfredo (estofador), que era um daqueles camaradas que tinha sempre uma piada, uma partida e sendo ele de riso fácil, o tornava contagiante espalhando-o pela assistência.

Em conversa com o primo, que foi furriel da ferrugem e por conseguinte superior no nosso pelotão, a respeito da doença (AVC) que o acometeu, diz este:
- ”O estofador não fala o que é uma grande injustiça”.

Como grande comunicador que era, ao perder o dom da fala, fica limitado no poder que tinha para espalhar a sua boa disposição. A sua forma de se expressar, com tiques de malandragem lisboeta, fazia dele uma companhia sempre desejada.

O tenente tinha-se arvorado em “padrinho” e protector. Passava a vida a ralhar por tudo e por nada. Mandava-o chamar a todo o momento para as tarefas mais disparatadas, facto esse que motivava o desaparecimento do “estofa” por largos períodos das vistas do nosso tenente. Mas o nosso superior deitava a mão a qualquer um que passasse junto à secretaria, mandava-o chamar a toda a hora e a todo o momento. Também lhe cortava a idas a Bafatá, o que motivava que ele se desenfiasse para a bolanha e aí apanhava boleia da coluna onde tinha sido proibido de participar.
Tal exagero quase perseguição, veio-se a saber que se devia à promessa do Alfredo “estofa”, de vir a integrar a Guarda-Fiscal, ou Republicana, após a desmobilização. E assim o tenente garantia que o nosso extrovertido camarada não apanhasse alguma porrada, que lhe sujasse a folha de serviços.
Nesse jogo de “sedução” o Alfredo tinha o que queria do tenente, mas também lhe tinha que aturar as reprimendas.

Assim se chegou ao fim da comissão sem que o “estofa” assinasse os benditos papeis que o tornaria membro dessas pouco prestigiadas, na altura, forças da ordem.

Já tínhamos os carros preparados com a bagagem para rumar ao Xime e embarcarmos para Bissau. A cerveja corria a rodos e todos bem bebidos, lá andava o tenente à procura do arredio camarada que não queria de maneira nenhuma ser apanhado e assinar os tais papeis.

Mas o imponderável aconteceu e o bem bebido Alfredo, entre a enfermaria e o edifício do comando, dá-se de frente com o até ali “benfeitor”. Levou um ralho a que os vapores do álcool fizeram responder assim mais ao menos:
- Raios parta o homem, que não larga da mão!
- O que é que disseste? Queres ver que levas já nas trombas?

O Alfredo embalado como estava e com voz distorcida responde:
- Dê-me sim, que logo vê o que lhe acontece!

O tenente ficou estarrecido. Era impensável o que acabara de ouvir do seu protegido. Desta vez, o nosso camarada tinha transposto a barreira do inaceitável até de um pai para filho.
A coisa ia acabar mal e logo chamamos o Alfredo à razão, que entre os vapores do álcool começou a aperceber-se do que tinha acabado de fazer. No dia seguinte partiríamos logo cedo para o Xime e urgia que o “estofa” arranjasse forma de pedir desculpa ao tenente, atribuindo que não sabia com quem estava a falar, pois para além dos copos, ali entre as viaturas carregadas estava escuro, etc. etc. etc.
Escapou à justa. O tenente não deve ter engolido as desculpas esfarrapadas e assim se acabou a amizade, bem como a entrada do Alfredo para a GNR ou congénere Guarda-Fiscal.
Parece que ainda vejo o Alfredo a contar isto imitando o nosso tenente e a fazer-nos rir até às lágrimas.

Compreende-se que seja uma injustiça ter perdido o dom da fala, ver os esforços que ele faz para nos comunicar, a coisa mais básica e insignificante sem o conseguir.
Este ano não foi ao encontro pois no ano passado emocionou-se de tal forma, que o médico desaconselhou a sua participação no deste ano. Para o ano talvez, e faço votos que ele esteja melhor para juntos recordarmos as peripécias de que ele era pródigo.

Um abraço
JA

 Drs. Pereira Coelho e Rui Vieira Coelho

 Enfermeiro Catroga e Ussumane Baldé

Momento do encontro dos dois grandes médicos do 3872
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de Maio de 2016 Guiné 63/74 - P16086: Convívios (746): 22.ª edição (2016): Pessoal de Bambadinca, 1968/71 (CCS/BCAÇ 2852, CCAÇ 12, Pel Rec Daimler 2046, Pel Rec Daimler 2206, Pel Caç Nat 63, e outras subunidades adidas) - Coimbra, 28 de Maio de 2016 (António Damas Murta, ex-1.º Cabo Op Cripto, CCAÇ 12, 1969/71)

Guiné 63/74 - P16109: Álbum fotográfico do José Salvado, ex-fur mil, CART 1744 (S. Domingos, 1967/69) - Parte II: São Domingos (1)


Foto nº 1 >  "Lendo o correio no mato... Curiosa foto, porque tirada com rolo novo, assumiu as cores da bandeira nacional. Foi mero acaso!" [...Ou entrou  luz ou houve erro na revelação,]



Foto nº 2 > "Ponte construída depois da nossa chegada"


Foto nº 3 >  "Regresso ao quartel, em S. Domingos"


Foto nº 4 > "S. Domingos, do lado oposto da ribeira"


Foto nº 5 > "Vista da Ribeira de S. Domingos"
Guiné > Região do Cacheu > S. Domingos > CART 1744 (1967/69)

Fotos (e legendas): © José Salvado (2016). Todos os direitos reservados








Segunda parte do álbum de fotografias do novo membro da nossa Tabanca Grande, José Salvado, ex-fur mil arm pes inf, CART 1744 (São Domingos, 1967/69). 

Natural da Covilhã, vive hoje nas Caldas Rainha onde é advogado. Também passou por Angola onde foi administrador de posto (1969-1975).

A CART 1744 partiu para o TO da Guiné, no T/T Uíge,  em 20/7/1967, desembarcou em Bissau a 25, sendo colocada em S. Domingos, na região do Cacheu, como companhia de intervenção. Fez operações em S. Domingos, Susana, Ingoré, Cacheu e Sedengal. Regressou à metrópole  no T/T Niassa, com partida a 16 de maio de 1969, e desembarque em Lisboa no dia 21.

Era comandante da companhia o  cap mil cav António José de Carvalho Serrão.

O José Salvado mandou-nos um resumo da história da sua companhia da qual sabíamos muito pouco até agora. (*)
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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16096: Álbum fotográfico do José Salvado, ex-fur mil, CART 1744 (São Domingos, 1967/69) - Parte I: Bissau e Bissalanca, 1968