sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16569: As Nossas Madrinhas de Guerra (7): O Reencontro, no passado dia 21 de Setembro, com a sua Madrinha de Guerra Maria Isabel Gonçalves, a viver em França (Manuel Luís R. Sousa, ex-Soldado At Inf do BCAÇ 4512)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís R. Sousa, Sargento-Ajudante da GNR na situação de Reforma, (ex-Soldado da 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4512/72, Jumbembem, 1972/74), com data de 28 de Setembro de 2016:

Amigo Carlos:
É sobejamente conhecido para ti, e para outros companheiros, a história da minha misteriosa e desconhecida madrinha de guerra, publicada no post 8310 da nossa "Tabanca Grande", e no site do nosso companheiro Carlos Silva, e não só, além de fazer parte do enredo do meu livro PRECE DE UM COMBATENTE, que bem conheces.
Como já também te deves ter apercebido, através do facebook, recentemente tive a felicidade de ter reencontrado essa minha ex-madrinha de guerra. Sobre as circunstâncias desse mesmo reencontro, envio-te em anexo um texto e a fotografia de um aerograma editado por mim, para, se bem o entenderes, publicares no blogue para conhecimento de toda a tertúlia.

Nota: o aerograma foi retirado do site do Museu do Papel.

Um abraço
Manuel Sousa

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O REENCONTRO

No Poste Guiné 63/74 - P8310: As Nossas Madrinhas de Guerra (5): Avé-Maria do Soldado (Manuel Sousa) deste blogue, acerca de uma das minhas madrinhas de guerra, escrevia assim:

“Recentemente, ao fazer arrumações no sótão cá de casa, encontrei numa bolsa dessa mesma e já carcomida mala, uma pequena carteira em plástico, ressequida pelo tempo, com o desenho do crachá do Batalhão 4512, “Os Setas”, a que eu pertencia.

Já não me lembrava daquele objecto, recordando-me então que aquela mesma carteira tinha sido oferecida pelo Batalhão a todos os militares em Tomar, aquando da partida para a Guiné.
No seu interior, numa pequena bolsa, encontrei a fotografia de uma jovem que reconheci como uma das minhas madrinhas de guerra, há 38 anos, de cuja naturalidade não me recordo.
No verso tem a dedicatória: “Com muita dedicação da madrinha sempre amiga Isabel”, e tem a indicação de que foi revelada na FOTO CRISTO”.

Esta história fez parte, depois, do enredo do meu livro PRECE DE UM COMBATENTE, publicado, entre outros, no poste Guiné 63/74 - P10219: Bibliografia de uma guerra (59): Prece de um Combatente - Nos Trilhos e Trincheiras da Guerra Colonial, de Manuel Luís Rodrigues Sousa.

No passado dia 21 de Setembro, aqui, na minha residência, tive a felicidade de me reencontrar com essa misteriosa madrinha de guerra que, entre outras que tive, me ajudou, de algum modo, a tornar mais leve o fardo da minha comissão nas matas de Jumbembém, Farim, Guiné, decorriam os anos de 1973 e 1974.

Sobre este reencontro fiz a seguinte publicação na página do facebook dos “Amigos de Freixiel”, a freguesia da minha naturalidade:
“Recentemente, numa das páginas do facebook de Freixiel, fiz referência à hipótese de uma misteriosa e desconhecida madrinha de guerra que eu tive aquando da minha participação na guerra colonial, na Guiné, ser precisamente de Freixiel, a cujo facto fiz referência no enredo do meu livro "PRECE DE UM COMBATENTE".
Cinco segundos depois da publicação, que incluía a sua fotografia, eis o primeiro comentário com procedência de terras de França:
"É a minha mãe..."
A partir de então os contactos sucederam-se, culminando todo esse processo com a visita que hoje me fez, aqui em Vila do Conde, essa minha "madrinha" de outrora.
Algo de especial e emotivo, devo dizer.
Para assinalar este agradável encontro, reconstituí um aerograma do SPM (Serviço Postal Militar) gratuito de então, promovido pelo Movimento Nacional Feminino da época, tal qual o enviei para Freixiel, e que deu origem àquele nosso relacionamento, em 1973 e 1974, o tempo da minha comissão.
Na "badana" do lado direito, como se pode ver, consta a fotografia dela e a do meu livro.
Na do lado esquerdo, está inscrita a dedicatória desse mesmo livro que tive o gosto de lhe oferecer, para sua felicidade. Vi isso nos seus olhos.
Caso não seja legível o texto na fotografia, aqui transcrevo aquela dedicatória:

"À minha ex-madrinha de guerra
Maria Isabel Gonçalves:

"À menina que se dignar corresponder-se, como madrinha de guerra, com um soldado em serviço no Ultramar".
Foi a este pedido, expresso no endereço de um aerograma, que você respondeu à chamada e me ajudou, com as suas palavras de conforto, a suportar tempos difíceis, em 1973 e 1974, no meu cativeiro de guerra na Guiné.
Como reconhecimento, ofereço-lhe este livro, cujo título homenageia precisamente todas as madrinhas de guerra da época, onde, agradecido, o seu nome e fotografia fiz questão de registar.
Bem haja.
Espero que goste.

O ex-afilhado e autor"

NOTA: Como gestos tão simples, porém nobres, como estes, se tornam tão importantes com o passar do tempo...!
Algo inimaginável...!”

(Fim da publicação)


Aquando do encontro, a minha ex-madrinha apresentou-me um atado de folhas, religiosamente guardado na sua malinha de mão, que continham a impressão de textos e fotografias, minhas e dela, que estão publicados nos posts referidos.
Contou-me que depois de a filha lhe ter comunicado que eu a procurava através do facebook, e como não sabe lidar com as novas tecnologias, partilhou com a sua médica de família, aquando de uma consulta, esta relação que tivera comigo, como madrinha de guerra, e que isso estava registado num livro.
Curiosa, a médica, pediu-lhe o meu nome e o título do livro, que logo localizou na net, para deleite das duas, imprimindo então as várias folhas a que acima me referi.
Pediu-lhe então a médica que lhe lesse os textos e fizesse a tradução para francês, visto que não sabia português.
Sob arrepios, sensível a toda a história, seguiu atentamente a leitura da paciente.
Confidenciou-me que, lá em França, onde reside, mesmo depois de os ter lido e relido, nunca adormecia sem ler novamente um pouco daquelas histórias em que estava envolvida desde há quarenta anos atrás e que agora revivia.
Como o mundo é pequeno…!
E ainda bem, neste caso.

Árvore, Vila do Conde, 28 de Setembro de 2016
Manuel Luís Rodrigues Sousa
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8828: As Nossas Madrinhas de Guerra (6): Ainda guardo as fotos que ela e a irmã tiraram em Saint-Tropez e me enviaram para a Guiné (Juvenal Amado)

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