domingo, 11 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16474: Blogpoesia (468): "Magnos mistérios"; "O meu quintal esquadrinhado" e "O não crente", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. O nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) vai-nos enviando ao longo da semana belíssimos poemas de sua autoria, dos quais publicamos estes, ao acaso, com prazer:


Magnos mistérios

Há tanto ainda por descobrir
Nesta caminhada, aparentemente, sem sentido.
As razões verdadeiras de tanta inclemência
Que a natureza tem por nós.

Num repente, nos deixa nús, a arder no fogo do desespero.
Os nossos bens nos rouba atiçando-lhes o fogo do inferno.

O mar insano, avança voraz e destemido
pelas terras dentro, sem poupar viv'alma,
Tudo sepulta na destruição infame.

Chovem dos céus que até eram azuis,
Vagas de chuva desenfreadas,
Enxurrando os vales e as encostas.

Não há promessas nem clamores,
Por mais inflamados,
Que os sustenham.

Que impotência!
Tamanha maldade!
Grande mistério!...

Mafra, 7 de Setembro de 2016
9h52m

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O meu quintal esquadrinhado

Esquadrinhei o meu quintal,
Depois de arado.
Como se fosse uma folha quadriculada.
Não fiz muretes.
Apenas linhas e espaços livres.

Semeei e plantei lá de tudo.
Alhos e cebolas.
Alfaces e rabanetes.
Feijão verde.
Couves galegas.
Até melancias.

No fim, tudo ficou igual.
Nem eu sabia onde ficara tudo.
Ao calor do sol,
Não passou muito,
Do chão surgia,
Como formigas,
Amedrontadas,
Uns pontinhos verdes,
Sem grandes diferenças.

E, mais um pouco,
Surgiram as formas nítidas
Do que cada um era.

Digo-vos:
- Como ficou lindo o meu quintal.
Sem barreiras, em campo livre!...

Mafra, 10 de Setembro de 2016
9h9m

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O não crente

Não consigo imaginar
Que haja alguém
Que não creia
Em Algo, transcendente a nós,
Que tudo comanda.
O princípio e fim de tudo.

Já que nós de nosso,
Nada temos nem podemos.
E tudo queremos.
Até sensação de amar
E ser amado.

Que absurda a vida seria,
Se não tivesse um sentido,
Positivo, único e universal.

Preferível nunca tê-la.
Se com a morte certa,
Fosse o termo final e absoluto.

Para mim é claro e imperativo
Que assim seja...

Mafra, 5 de Setembro de 2016
8h23m
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16445: Blogpoesia (467): "Bom dia, Sol" e "O despertar do dia", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

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