quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Guiné 63/74 - P16358: Os nossos seres, saberes e lazeres (166): Ai, se Bocage soubesse ou visse… (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Fevereiro de 2016:

Queridos amigos,
Gosto de antemão conhecer os aspetos capitais do que me espera esta ou aquela visita, mas confesso que o melhor da viagem são os encantos do que não estava previsto nem era suposto.
Passei muitas vezes por Setúbal, quase sempre confinado a ir ou a vir da Arrábida, à procura de uma comezaina de peixe e a visitar os monumentos concelebrados, como é o caso do incontornável Convento de Jesus. Desta vez, meti-me lá para as vísceras do casco histórico, e até a casa de Bocage visitei, aprendi que na juventude foi andarilho, foi uma viagem ao proscénio e quanta e quanta surpresa.
Oxalá vos tenha sido útil para os vossos passeios.

Um abraço do
Mário


Ai, se Bocage soubesse ou visse… (3)

Beja Santos




Há casarões bem remodelados e com diversa aplicação. Por exemplo, a espampanante delegação do Banco de Portugal converteu-se em galeria municipal, há casas que transpiram fartura e proprietários ciosos dos imóveis que lhes couberam e os mantêm a preceito. Há aquele slogan turístico que muitas cidades exploram, mas aqui não é desadequado dizer que Setúbal tem tudo o que se prende com qualidade de vida, espaço de recreio, educação e cultura, é evidente que há altos e baixos, vi gente andrajosa e sem trabalho, ali à volta de espaços onde se presta serviço social; e surpreendeu-me a comunicação omnipresente, ali ainda se para na rua para dar dois dedos de conversa e quem não nos conhece não deixa de procurar a faísca da comunicação, dá os bons dias e as boas tardes, é um valor acrescentado que hoje não tem preço.


Aqui temos a Sé, austera, possui harmonia mas é pesadona, bem lhe podiam ter posto torres mais esguias, mas foi assim na Contra-Reforma. Há algumas preciosidades no seu interior, como não dispunha de luz nada se gravou, mais uma razão para voltar. Os céus toldavam-se, a noite seria de intensa chuva, ou era agora ou nunca. E aqui está, um frente a frente pouco iluminado, mas dá para ver como se erguem toneladas de pedra.




A manhã foi ensolarada, o mau tempo começa a apresentar a sua fatura, o céu escurece, sigo pela Baixa setubalense e não resisto a certos pormenores, uma porta pintada a capricho que dá mais relevo e elegância às formas, cativou-me um edifício Arte Deco sóbrio mais cheio de caráter e esta porta lateral da Igreja de S. Julião, bem perto do Bocage que domina Setúbal do alto de uma coluna é irresistível, tem um rendilhado que lhe dá uma singular leveza.



Numa outra era, os armadores de pesca tinha o seu clube, no tempo em que clube se escrevia sem e, agora é um espaço comercial bem aprazível, um kitsch bem controlado, vê-se que procurava ostentar riqueza, entre dourados e rosados e azulados. Está bem preservado, ali fiquei a beberricar café e a agradecer aos céus, em fim de dia, como foi bom ter vindo demoradamente a Setúbal, descobrir novidades, até deambulei por um mercado de velharias, apercebi-me que há muitas coisas a ver no Fórum Luísa Todi, esta noite aqui cantará o nosso melhor soprano, Elisabete Matos. A contragosto, dou por finda a viagem, dando graças por ter sido cumulado por tanta surpresa.
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Nota do editor:

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20 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16320: Os nossos seres, saberes e lazeres (164): Ai, se Bocage soubesse ou visse… (1) (Mário Beja Santos)
e
27 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16338: Os nossos seres, saberes e lazeres (165): Ai, se Bocage soubesse ou visse… (2) (Mário Beja Santos)

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