domingo, 27 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15545: Libertando-me (Tony Borié) (49): Newark, New Yok, Newark

Quadragésimo nono episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66, enviado ao nosso blogue em mensagem do dia 24 de Dezembro de 2015.




Newark, New Yok, Newark! 

Devíamos de ter na altura, talvez 8 ou 9 anos de idade, foi quando celebrámos a “comunhão cristã”, que colocámos nos pés a primeira protecção, uns sapatos usados, oferecidos ou emprestados, não sabemos ao certo, pelo companheiro Carlos, filho do Santos dos Correios de Águeda, que tinha vindo dos lados de Leiria. Até essa idade, era “pé descalço”, no inverno, nas manhãs de geada, divertíamo-nos partindo o gelo das poças de água com os pés, nos carreiros da nossa aldeia, era uma bricadeira agradável, pois o gelo derretia com mais facilidade.
Ufa, até nos arrepiamos só de lembrar, mas é Dezembro, ainda não vimos neve, está muito frio por aqui, mas esta história de colocarmos nos pés a primeira protecção, para nós, ainda é considerada “o nosso primeiro Dia de Natal”.

Deixemos o passado, nesse bonito Portugal, vamos falar de hoje, chegámos a Nova Jersey, viemos em trânsito para Nova Iorque, passámos na cidade de Newark, visitámos a portuguesa Ferry Street, procurámos os lugares nossos conhecidos, onde moravam as personagens de que vos temos falado, está tudo diferente, no lugar do “Bar do Minhoto” está um Restaurante Grill, que aceita reservas via internete; onde morava a Gracinda está um parque de estacionamento, onde uma senhora afro-americana, nos atendeu, embrulhada num enorme casaco e cachecol, pois o frio era muito, teve dificuldade em receber o pagamento e guardar o dinheiro, pois usava umas luvas sem a parte dos dedos, onde sobressaiam umas “unhas azuis”, muito compridas. Perguntámos se falava português ou espanhol, pois era a “Ferry Street”, com um sorriso matreiro, respondeu-nos qualquer coisa como, “mi non habla”.

A Ferry Street tem algumas árvores, está limpa, alguns canteiros com flores, onde havia a loja do Orlando está um grande edifício de um Banco, os estabelecimentos têm portas de vidro, não mais aquelas portas em madeira, que “chiavam”, alguns restaurantes têm esplanadas nos passeios, está uma Avenida para turistas.

Vamos em frente, deixámos a viatura na cidade de Newark, seguindo de comboio, pois o estacionamento na cidade de Nova Iorque é muito caro. Estava nevoeiro, quase cerrado, como se dizia na minha aldeia. Atravessámos um dos túneis do rio Hudson que desagua na ilha de Manhattan, que é o mais densamente povoado dos cinco bairros da cidade de Nova Iorque, que se situa na ilha com o mesmo nome, delimitada pelos rios Hudson, East e Harlem, sendo um dos principais centros comerciais, financeiros e culturais do mundo. É o coração da "Big Apple", é onde estão os arranha-céus, cujas imagens correm o mundo, como o Empire State Building. As luzes de néon no Times Square ou os teatros da Broadway, nós saímos na área do World Trade Center, visitámos mais uma vez o museu educativo, dedicado ao “11 de Setembro”, meditámos em homenagem às vítimas, tomando em seguida o “subway” para a Rua 53, junto da Quinta Avenida, caminhando, fomos vendo a Catedral de São Patrício, parando por mais tempo na área do “Rockefeller Center”, onde está a árvore de Natal que tradicionalmente é um abeto vermelho da Noruega, sendo iluminada por 30.000 ecológicas luzes, que envolvem mais de cinco milhas de fio eléctrico, coroada por uma estrela de cristal Swarovski. Esta árvore de Natal é um símbolo mundial em Nova York, foi acesa pela primeira vez na quarta-feira, 2 de Dezembro, com performances ao vivo na Rockefeller Plaza, entre as Ruas 48, 51, e a Quinta e Sexta Avenidas, onde dezenas de milhares de pessoas todos os dias enchem as calçadas para assistir a este evento, que milhões podem assistir em todo o mundo pelos meios de comunicação que hoje existem.
Faz este ano 83 anos que foi iluminada pela primeira vez, e permanecerá acesa, podendo ser visitada até ao dia 7 de Janeiro de 2016. Oxalá seja a mensageira de Paz para todos nós, em especial para os nossos companheiros combatentes.


Comemos “pretzels cookies”, que é um biscoito típico, parecido com pão, feito de massa, em forma de um nó torcido, que teve origem na Europa, provavelmente entre os mosteiros da Idade Média, que se vende em qualquer quiosque de rua, em Nova Yorque e não só. Continuando a nossa jornada, vendo os edifícios da cadeia de televisão NBC, do Rádio City Music Hall, onde em frente algumas “Rockettes”, que são as tais raparigas que dançando, levantam a perna esquerda ou a direita, todas ao mesmo tempo, fazendo uma coreografia de “cabaré do século passado”, convidam a partilharmos momentos inesquecíveis juntos, experimentando a magia do Natal, transformando tudo num país das maravilhas onde o “Pai Natal” não se cansa de espalhar elogios a todos.

Parámos por momentos no “Times Square”, já andam em montagem de estruturas para as celebrações da passagem de ano, continuando, pela Sétima Avenida, em direcção à estação de comboio “Pennsylvania”, que se localiza na Rua 34, por baixo do edifício de grandes eventos desportivos e não só, que é o célebre e histórico “Madison Square Garden”, onde tomámos o comboio de regresso à cidade de Newark, em Nova Jersey, de novo na portuguesa Ferry Street, onde tivemos a sorte de encontrar um restaurante que dá pelo nome de “Bar & Restaurante Sagres”, com charme, num espaço acolhedor, música ambiente, onde numa escala de dez, damos a nota dez, onde o Henrique, um simpático jovem, que se dedicava ao ensino em Portugal e veio para os EUA há uns anos para “ver a neve”, e que por cá ficou, nos atendeu com simpatia, servindo-nos “Chistorra” e “Bacalhau à Casa” com natas e camarões, que estava bom, mesmo muito bom, oferecendo-nos no final, um copo com vinho do Porto.

Não sabemos se era o efeito do vinho do Porto ou se sonhávamos, mas retornando à Ferry Street, já no regresso, em direcção ao parque de estacionamento, não vimos roupas escuras, xailes, tranças e bigodes, mas sim uma jovem, usava um sapato alto de cada cor, umas meias compridas de um azul escuro, por baixo de uma saia que parecia o lenço que a minha avó usava à cintura, quando ia à romaria do Senhor dos Passos, na vila de Águeda, onde uma espécie de blusa só lhe tapava parte da frente do seu corpo, mascava “chiclets”, algumas pinturas, não para tornar a face mais atractiva, mas sim diferente do normal, o perfume não era exótico, era diferente, o cabelo era curto, pintado com uma cor que nem era verde nem azul, usava óculos à “Hollywood”, não nos olhos, estavam colocados a segurar o cabelo, um casaco de “cabedal” amarelo, debaixo do braço onde usava umas cinco ou seis pulseiras que brilhavam e completavam a história do seu vestuário, falava alto, numa linguagem sem preconceitos, havia “frio de rachar” mas estava excitada, recebendo o calor, talvez do cigarro que fumava, pois era parecido com aqueles que nós algumas vezes, quando estávamos com o moral em baixo, fumávamos lá na então nossa Guiné, pela coreografia talvez fosse alguma descendente da Inês, aquela portuguesa espanholada, do nosso tempo da Ferry Street.

Boas Festas para todos, em especial aos companheiros combatentes e, já agora, se não é pedir muito, que continuemos juntos pelo ano de 2016, com saúde, alegria em ainda por cá andarmos, que nunca nos falte a panela a cozinhar no fogão e alguma “protecção nos pés”.

Tony Borie, Dezembro de 2015
____________

Nota do editor

Último poste da série de 20 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15514: Libertando-me (Tony Borié) (48): Vamos para Norte

1 comentário:

Antº Rosinha disse...

Tony, já pareces o Hemingway a escrever e nas fotos.
Parabéns e bom ano.