terça-feira, 27 de outubro de 2015

Guiné 63774 - P15296: (Ex)citações (296): "A ternura dos 20 anos", vídeo de Armando Ferreira, grã-tabanqueiro nº 704: seleção de comentários (António Murta, Cherno Baldé, José Sousa Pinto, Mário Vasconcelos e Tony Levezinho)

Armando Ferreira (ex.-fur mil cav, 
CCAV 8353, Cumeré, Bula, Pete
Ilondé e Bissau (1973/74)
1. Seleção de comentários ao poste P15291 (*), sobre o vídeo "A ternura dos 20 anos", de Armando Ferreira, grã-tabanqueiro nº 704 [foto à esquerda].





(...) A foto nº 7 deve ter sido tirada entre junho a agosto de 1974, no período de euforia do pós-25A74, nela estão elementos da guerrilha e jovens simpatizantes do PAIGC.

Sobre este período de transição escrevi no Poste (P6864 - A (mu)danca das bandeiras em Fajonquito em 1974) de 17/08/10 o seguinte:

"Pela forma como os recebiam e se congratulavam, trocando pequenos presentes e 'lembranças', os soldados portugueses pareciam muito mais satisfeitos com o fim da guerra do que os guerrilheiros. Talvez pela primeira vez na história dos conflitos armados, um dos beligerantes que, para todos os efeitos, tinha perdido a guerra, parecia estar feliz por não ter vencido. Era compreensível mas nem por isso deixava de ser intrigante."




(...) Inevitável não nos revermos em muitas das passagens do texto declamado. No entanto, perdoem-me a franqueza, o tom demasiado teatral da declamação, a querer imitar um Ary ou um Mário Viegas, belisca a sinceridade do contexto do estado de alma que levou o seu autor a sentir a necessidade de dar a conhecer o seu grito.

Não dexa por isso, em meu entender, de ser mais um contributo para a história coletiva de um Portugal colonial em agonia, ainda que, aqui e ali, possamos ter visões diferentes do pesadelo em que todos os combatentes se viram envolvidos.

Saúdo o Aramando Ferreira com um abraço, extensivo a todos os camaradas. (,,,)


(...) Visionei o vídeo do Armando Ferreira. Respeito o sentimento que ele exteriorizou, mas depois dos meus 27 meses passados no teatro de operações e já casado com 4 filhos, [não] deixei em algum momento, de sentir que cumpria uma missão Patriótica, para bem de Portugal e sobretudo para bem das populações autóctones,( neste caso da Guiné), pelo que, de forma alguma, me revejo nessas palavras.

Já voltei à Guiné por 3 vezes para participar em estudos de projectos para o desenvolvimento daquela Terra. Encontrei-me 2 vezes com o Presidente Nino, antes da sua morte e falamos do que eu fiz como militar de Portugal e do que eu pensava à cerca do que teria sido melhor para a Guiné. Compreendemos ambos as situações e fizemos amizade.

Não dou, de todo. como perdido o tempo que permaneci na Guiné, apesar do atraso que isso me provocou no arranque da minha vida profissional e foi muito, mas valeu a pena por Portugal.

As maiores felicidades e muita saúde para todos os Camaradas, Tanbanqueiros , ou não. (...)


(...) Ao Armando Ferreira, militar no teatro de operações da Guiné e ao cidadão português que transporta a raça que cumpre e sofre, endereço a minha saudação de amizade.

Sendo a escultura uma arte representativa de relevos, ela vive-se aqui na ilustração de sentimentos e vivências passadas, mas nunca esquecidas. Um clamor pessoal que a todos envolve.
Um abraço sentido, que abarca todos os camaradas. (...)


(...) Tem toda a razão o Cherno Baldé quando diz que um dos beligerantes parecia estar feliz.

Mas está completamente enganado quando diz que "parecia estar feliz por não ter vencido". Não, camarada Cherno, não era por não ter vencido, (que disparate!), era por ter sobrevivido àquela guerra, por não ter sido dilacerado por ela e, razão não menos importante, saber que podia regressar a casa e à Pátria, coisa que, até ao fim das hostilidades, nunca teve como certo.

De passagem refiro que a fotografia nº 3 deste poste  (*) foi tirada no Uíge, dado que é referida a partida em 16-03-1973. Eu também vinha nele e devo-me ter cruzado com o Armando Ferreira, mas os nossos destinos tiveram rumos diferentes após a chegada à Guiné no dia 22-03-1973: em fui direitinho a Bolama com o meu BCAÇ 4513 e o Armando foi para o Cumeré com a sua CCAV 8353.

Aproveito para lhe dar as boas vindas e um grande abraço de "periquito" para "periquito", com a certeza de que os "periquitos" já não irão mais para o mato, mas que a "velhice" pode ir no Bissau quando quiser. (...) (**)

______________

Notas do editor:

(*) 26 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15291: Vídeos da guerra (12): "A ternura dos 20 anos", de Armando Ferreira, natural de Alpiarça, escultor de profissão, ex-fur mil cav, CCAV 8353 (Cumeré, Bula, Pete, Ilondé, Bissau, 1973/74): uma emocionante e emocionada homenagem aos seus camaradas mortos e feridos, há 42 anos, no "batismo de fogo", em 5/5/1973, em Bula, em que "deixei de ser eu" (sic)

(**) Último poste da série > 4 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15200: (Ex)citações (295): Fui advogado e amigo de Luís Cabral, e até agora não encontrei uma explicação racional para o assassinato (gratuito) dos 4 oficiais portugueses no chão manjaco nem para o fuzilamento, no pós-independência, de muitos ex-militares guineenses que serviram lealmente as NT (António Martins Moreira, ex-alf mil inf, CART 1690, Geba, 1967/69)

Sem comentários: