sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15153: FAP (90): Para acabar de vez com o mito dos MiG em Conacri: nunca os houve no nosso tempo, garantiu-me o comandante Pombo, no convívio da Tabanca da Linha (António Martins de Matos, ten gen pilav ref)


Cascais > Estrado do Guincho > Oitavos > Almoço da Tabanca da Linha > 24 de setembro de 2015 >  Selfie de dois bravos da FAP, o António Martins de Matos e o comandante Pombo...


Foto: © António Martins de Matos  (2015). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do António Martins de Matos


Data: 24 de setembro de 2015 às 18:41

Assunto: MiG


Caros amigos

Para terminar o assunto dos MiG

Dos postes anteriores (e foram muitos) (*), houve de tudo, MiG em Conacri, patrulhando a fronteira, picando aqui e ali, com pilotos guineenses, cubanos ou russos, em momentos cruciais escondidos ou deslocados para outras pistas (Labé), retaliando a quando da operação Mar Verde ….

Como não gosto de assuntos meio feitos, meio por fazer, tive que aprofundar o tema com quem tivesse uma visão mais completa do assunto.

E quem melhor para nos elucidar que o nosso amigo comandante José Pombo, piloto de caça e piloto dos TAGP [, Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa,] durante alguns anos, e depois de 1974 amigo do Presidente da Guiné Bissau e piloto privativo do Presidente Sékou Touré durante mais uns 5 ou 6 anos ?  (Interessante que, com tantos pilotos pró PAIGC, tenha escolhido um piloto portuga.)

Aproveitei o almoço, de hoje,  da Magnífica Tabanca da Linha e abordei-o. E ele disse-me o seguinte:

(i) nunca houve qualquer MiG em Conacri;

(ii) a coisa mais parecida com um avião de caça que vira em Conacri eram os restos da asa do Fiat G 91 [R/4 5419] do falecido ten cor pilav [Almeida] Brito, que o PAIGC tinha levado a título de troféu (**);

(iii) à  excepção de Conacri, mais nenhuma pista da Guiné tinha (tem) condições para receber os MiG;

(iv) confirma que a Rússia tinha dado treino a pilotos guineenses e, já depois da independência da Guiné Bissau, oferecido a este país  2 MiG;

(v) em data que não pode precisar, ao voar de Dacar para Conacri, descobriu que, no mar e à revelia do Governo de Bissau, alguém estava a fazer exploração petrolífera na águas da Guiné Bissau; avisou Bissau, saíram os 2 MiG pilotados por guineenses, não deram com a exploração, à volta e devido ao mau tempo, esmerdaram-se os dois, um ao pé do aeroporto, outro junto à estrada de Nhacra;

(vi) com tal performance,  a Rússia nunca mais lhes deu novos aviões.

E pronto, acho que está tudo dito.

Abraços

AMM


2. Esclarecimento:


(i) António (c/c Maria João), hoje:

Dizes que o comandante Pombo foi "piloto privativo" do Sékou Touré a seguir á independência da Guiné-Bissau ?... Nas conversas que já tive com ele, não me apercebi desse facto relevante...Sabia que tinha pilotado o pequeno Falcon da presidência da Guiné-Bissau; tendo estado ao serviço do Luís Cabral e depois do 'Nino"... Provavelmente querias dizer que foi "piloto privativo" do Luís Cabral de quem, além disso, era amigo. Como era amigo do 'Nino', a quem tratava por tu (***)...

António, é importante que me confirmes este facto... Peço a ajuda da Maria João.


(ii) Maria João Rodrigues Pombo, hoje

Bom dia,

Falei agora com ele [, o meu pai,] e diz que nunca foi piloto do Sékou Touré. Disse-me que chegou a levar várias vezes o presidente de São Tomé. no avião que era do Luís Cabral e que emprestava a aeronave.

Um grande bj e bom fds! Até breve.

______________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 11 de setembro de  2015 > Guiné 63/74 - P15103: FAP (89): Op Mar Verde: e se os MiG, que existiam de facto, mesmo que pouco operacionais, tivessem sido localizados e destruídos ? (José Matos)


(**) Vd, Fundação Mário Soares >  Casa Comum > Arquivo Amílcar Cabral

Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 05360.000.142
Título: Combatentes do PAIGC junto aos destroços de um avião Fiat G-91, abatido por um míssil terra-ar Strela
Assunto: Combatentes do PAIGC junto aos destroços de um avião Fiat G-91 abatido por um míssil SA-7 Grail (Strela), que resultou na morte do piloto José Fernando de Almeida Brito, Comandante do Grupo Operacional 1201.
Data: c. Março de 1973
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: FotografiasDireitos:
A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.
Arquivo Amílcar Cabral > 11. Fotografias > 3.PAIGC > Luta Armada

[Nota de LG: O documento está irremediavelmemte danificado, só se aproveitando a metade dop lado esquerdo. Tomámos a liberdade de o edirtar. Com a devida vénia...

[Disponível em: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43093]

(***) Vd. poste de 4 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14218: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (32): Falei ao telefone com o comandante Pombo, amigo de Luís Cabral e de 'Nino' Vieira... e sobretudo um orgulhoso sobrevivente dos Strela (em 1973/74) e da "Operação Atlas", em agosto de 1961 (travessia, com uma esquadra de F-86F “Sabre”, Monte Real-Bissalanca, num total de 3888 km e o tempo de 7h50 sobre o Atlântico) (Luís Graça, com José Cabeleira, cap TMMA ref, Leiria)

(...) O Pombo é hoje capitão pil, reformado Fez, segundo bem percebi, 4 comissões na Guiné. Voltou há pouco para Portugal, vive hoje em Bucelas, e é amigo pessoal do major gen paraquedista Avelar de Sousa, que passou pelo TO da Guiné, integrando o BCP 12, como comandante da CCP 123 (1970/71), e foi ajudante de campo, entre 1976 e 1981, do gen Ramalho Eanes, 1º presidente da república eleito democraticamente no pós 25 de abril. E esse fato é relevante para se perceber a influência, discretíssima, que o comandante Pombo terá tido na libertação do ex-1º primeiro ministro da Guiné-Bissau, Luís Cabral, depois do golpe do ‘Nino’ Vieira em 1980.

O comandante Pombo privou com os dois, e dos dois era amigo. Ao ‘Nino’ Vieira tratava-o inclusive por tu. E o Pombo continuou a ser o comandante Pombo, depois da independência da Guiné-Bissau. Terá havido um acordo entre as novas autoridades de Bissau e o governo português para que ele ficasse na Guiné... O PAIGC não tinha pilotos. O comandante Pombo pilotava o pequeno Falcon que fora oferecido ao Luís Cabral. Este gostava muito dele, e sempre que viajava com ele trazia-lhe uma garrafa de.. champagne.

Depois veio o golpe do ‘Nino’ e o Luis Cabral ficou preso na Amura… Sem cinto!... O comandante Pombo foi visitá-lo e encontrou-o sem cinto, com as calças na mão… Diziam-lhe, os seus carcereiros, que era para ele não poder fugir. Achando essa uma situação indigna, o Pombo foi falar ao seu amigo ‘Nino’, que lhe deu razão…

Mais tarde o Pombo moveu as suas influências, junto do Avelar de Sousa… O presidente Ramalho Eanes, como é sabido publicamente, exerceu forte influência junto de ‘Nino’, no sentido de obter a libertação de Luís Cabral que, primeiro, foi para Cuba e mais tarde para Portugal, onde veio a morrer. Ramalho Eanes e Luís Cabral tinham muita estima mútua.

Mas, e contrariamente ao boato que corria na Guiné, no tempo da guerra colonial, o comandante Pombo não estava feito com os “turras”… E a prova disso é que umas das aeronaves (não era um Cessna, era uma outra avioneta tipo DO 27…) foi perseguida por dois mísseis Strela, já depois do último avião da FAP ter sido abatido . (...) 

2 comentários:

António Martins Matos disse...


Apenas dois curtos comentários:
O primeiro… mea culpa, quando na conversa com o Comandante Pombo se falou em 2 Presidentes assumi … das 2 Guinés, em vez de 2 Presidentes da Guiné Bissau.

O segundo … esperava alguma “reacção” dos que asseguravam que havia MIGs na Guiné Conacri, nada aconteceu.

Acho que podemos encerrar o tema.

Hélder Valério disse...

Ora bem....

Fui ao Convívio/Encontro/Almoço da "Magnífica" já a desenvolver uma constipação que acabou por evoluir e deixou-me este fim-de-semana no 'molho'.
Por tal motivo, no almoço estava um bocado em 'baixo de forma', de modo que não interagi muito e até nem me meti com o Zé Dinis, como de costume. Por outro lado, a gripe, que me afectou as vias superiores, não me permitia ter os olhos abertos muito tempo, pelo que a internet correu à sua velocidade e deixei passar muita coisa.

Um caso concreto é o deste 'post'.

Pelos vistos, bem vistas as coisas, os MIGs eram um mito.
Não sei se se pode concluir isto assim, mas tenho para mim um outro conceito e que é "mais vale fazer constar que tens MIGs do que tê-los realmente" (dão muita despesa e maçada).

Seja como for, com a sua existência real ou fictícia, a verdade a que "a notícia da sua existência" fez o efeito desejado, não é verdade? E em 'guerra psicológica' é isso que conta, é esse o objectivo, o de fazer crer ao inimigo (ou adversário) que se tem mão o naipe de cartas capaz de ganhar o jogo. Chama-se 'bluff'? Pois chama-se! É válido? Moralmente, não, mas na guerra, no jogo, no amor, etc., quem se prende com esses 'somenos'?

E o pessoal acreditou? Porque não? Ainda hoje não há quem pense que é preciso votar em quem tem estado a governar(?) porque 'já têm experiência', porque os 'outros são piores', etc.?
Há gente para tudo....
Hélder S.