quinta-feira, 16 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14887: Da Suécia com saudade (49): O visitante sueco de Bambadinca e Nhabijões, em janeiro de 1974, o jornalista e ativista político Christopher Jolin (1925-1999) (José Belo)

1. Mensagem do José Belo, régulo (e único) súbdito da Tabanca da Lapónia:

[ foto atual à esquerda:  José Belo, ex-alf mil inf, CCAÇ 2381 (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); atualmente é cap inf ref e vive na Suécia há quase 40 anos]


Data: 15 de julho de 2015 às 15:20

Assunto: O visitante sueco


O jornalista sueco Christopher Jolin (*), após a publicação do livro "Vänstervridningen" ("Manipulacäo à esquerda"),tornou-se figura representativa de algo contra-corrente na sociedade sueca dos finais dos anos sessenta.

Crítico violento, näo só dos comunistas mas também dos sociais democratas representados pela pessoa e ideias políticas de Olof Palme [1927-1996] que, segundo ele, empurravam cada vez mais a Suécia para um caminho errado.

Não foi por acaso que o jornal de grande tiragem "Svenska Dagbladet" (de centro direita, ligado ao capital) escreveu entäo :"Cristopher Jolin merece a gratidão da nação".

Surgiram numerosos artigos em outros jornais com comentários como:

(i) "o livro mais importante do ano";

(ii) "uma análise a frio e factual da propaganda comunista na Suécia,e não menos na TV";

(iii) "crítica violenta contra todas as cedências à esquerda"; 

(iv) "uma assustadora demonstração do que são as forçaas revolucionárias numa sociedade democrática";

(v)  "um desafio ao monopólio da opinião"...


O autor passou entäo a ser apreciado abertamente pela direita parlamentar, bem estabelecida na área da governação, representada pelo partido Moderater (centro direita), com várias passagens pelo governo, sendo a última em 2014.

A aproximacäo pública de Cristopher Jolin a agrupamentos extremistas e racistas como o "Bevara Sverige Svenskt" ("Mantém a Suécia...sueca") [, vd. cartaz à direita] levou a um afastamento táctico do centro direita parlamentar em relação ao autor.

O governo da ditadura [, em Portugal], no seu crescente isolamento internacional, procurava apoios propagandísticos neste tipo de personalidades em que um profundo racismo ,e anti-semitismo, acabavam sempre por se sobrepor ao legítimo direito de opiniar e divulgar as suas ideias e críticas anti-socialistas ou anti-comunistas.

Perante a tão divulgada política de integração racial em todos os territórios administrados por Portugal, estas contradições pontuais somavam-se a toda uma aproximação  táctica e estratégica com o racismo sul-africano e rodesiano.

Ao analisarem-se figuras controversas como Cristopher Jolin e o seu lugar na sociedade sueca actual, ou dentro de uma perspectiva histórica, não se pode esquecer a importância da Rússia como inimigo tradicional. Isto, sendo a Rússia dos séculos XVI e XVII, a Rússia dos comunistas, ou a actual Rússia de Vladimir Putin.

São nestes alicerces de nacionalismo anti-russo que se baseavam (e baseiam!) muitos dos anti-comunistas e extremistas suecos dos anos da guerra fria e...actuais.

A política seguida pelo governo sueco em relação aos países bálticos, e não menos à Ucrânia.   é espelhada por contínuas provocações militares por parte da Rússia,tanto no espaço aéreo como marítimo. Algumas quase provocaram incidentes graves que poderiam ter tido consequências imprevisíveis.

Um abraço do José Belo.

PS - Segue foto actual pois a outra já é.... pré-histórica! (**)


2. Comentário de LG: 

Obrigado, Zé, sempre atento ao que se passa à volta... Já agora, dá uma vista de olhos a este texto da embaixada de Portugal em Estocolmo: "Breve abordagem histórica das relações diplomáticas Portugal - Suécia" (***)

Finalmente temos  um endereço de email teu, atualizado... o teu enésimo endereço de email.

Vamos atualizar a tua foto. Estás com bom ar... de verdadeiro luso-lapão. Um xicoração fraterno.
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Notas do editor:




(...) Foi com a posterior ascensão de António Oliveira Salazar ao Poder que as relações entre os dois países entraram numa fase de algum congelamento e por vezes de tensão. A Suécia tinha-se transformado numa das nações mais ricas da Europa, com elevado perfil internacional e entrara numa fase de empenho nos esforços em prol da democracia, nomeadamente nas antigas colónias portuguesas. Assim a pressão internacional contra a colonização e o apoio aos movimentos de libertação, directo e indirecto (mas nunca em armamento) criou frequentes embaraços às autoridades portuguesas, nomeadamente nos fora internacionais (nomeadamente nas Nações Unidas).

Foi nesta fase que foram sendo desenvolvidos contactos com a oposição portuguesa ao regime. Em 1967 ocorreram os primeiros contactos de responsáveis do Partido Social Democrata sueco com Mário Soares, figura proeminente na luta contra o regime. Mário Soares foi então convidado a visitar Estocolmo pelo então primeiro-ministro sueco Tage Erlander. Durante a visita manteve encontros com Olof Palme, que seria posteriormente eleito PM, e criou deste então laços pessoais com um dos mais destacados democratas suecos. Palme viria a ser o primeiro Chefe de Governo estrangeiro a visitar Portugal depois da revolução de 25 de Abril de 1974, pressionando os políticos portugueses a organizarem eleições para uma Assembleia Constituinte no ano seguinte. Desde então iniciou-se um período de visitas recíprocas.

Foi igualmente nos anos imediatos à revolução, que para os democratas suecos, apresentavam sinais preocupantes, que Olof Palme decidiu promover um encontro de chefes de Governo e líderes social-democratas europeus para uma conferência em Estocolmo "a fim de salvar a democracia em Portugal"... O encontro realizou-se no Verão de 1975 e entre os presentes estavam, para além do anfitrião, Olof Palme, o alemão Willy Brandt, Harold Wilson da Grâ-Bretanha, Ytzhak Rabin, de Israel, e constituiu "uma das maiores junções de força de sempre da social democracia europeia". (...)

3 comentários:

Anónimo disse...



Ainda bem que os comunistas desapareceram da face da terra, por velhice, por morte súbita, por doenças epidémicas e por cataclismos vários sem que os países livres tivessem necessidade de recorrer à bomba nuclear. Os povos podem acreditar na propaganda ideológica mas um dia deixarão de crer na prática quando ela está em contradição com essa propaganda.
Cá como lá já há muitos anos apareceram os esquerdistas mais puros, mais extremos, que para aproveitar o falhanço da velha esquerda, alguns inventaram uma sociedade tão irreal que ninguém consegue construir e outros deram uma volta tão grande que essa esquerda tão extrema acabou por apertar a mão direita da família política. O nosso despertar, armado, para a democracia, depois de um sono letárgico de dezenas de anos, trouxe-nos além da velha esquerda mais ou menos adaptável, a direita em reconstrução pois toda ela tinha fugido para onde não se sabe, trouxe-nos ainda os grandes revolucionários, que tal como esse grande escritor e intelectual sueco, por terem verificado que as ideias deles não seriam exequíveis se acomodaram à direita que é onde as pessoas inteligentes se devem instalar depois da euforia e dos exageros da juventude. Dos nossos, destes últimos, alguns foram ministros e outros tiveram grande relevo internacional, apoiados até pelos países ditos "imperialistas.
Entretanto com o suicídio político dos comunistas ajudado por um Santo Padre e um Presidente doutro povo e Igreja, os socialistas e sociais-democratas foram esmorecendo as suas lutas no contágio, sem resguardo, com os conservadores, bem instalados na História e nas Nações.
Hoje as ideologias morreram, morreram os sonhos e as ilusões de um mundo melhor , hoje está tudo vigiado e controlado pelo grande capital financeiro que governa o Mundo, os nosso governantes e os da maioria das nações não passam de fiéis funcionários ao seu serviço.
O comunismo foi um desilusão enorme para muitos povos que viveram nesse regime e para muitos que vivendo fora dele acreditaram que finalmente os homens poderiam ser irmãos.
A descrença do comunismo tem arrastado a descrença no socialismo, conclusão estamos a regredir, estamos lançados às feras. Quando não há religiões, quando não há valores, não há ética com algumas bases e pressupostos, quando o valor de um homem se mede em euros ou dólares, só podemos pedir que algum Deus nos salve.
Um abraço ao camarada Lapão. Francisco Baptista

Antº Rosinha disse...

A luta que tivemos que aguentar, sob a batuta de Salazar, era contra os esquerdismos e os capitalismos da guerra fria.

Estavamos isolados (?) pelos dois lados.

Talvez, dos poucos períodos da nossa história em que fomos autónomos, nós a decidir por nós próprios.

Já está na hora de se começar a ver a (merda) a que isto chegou, na Europa principalmente e em África, continentes vizinhos e irmãos.



Mas que aqueles 13 anos da guerra do Ultramar nos ajuda a compreender coisas que alguns "reaccionários" diziam, ou ficaram proibidos de dizer.

Hélder Valério disse...

Para começar é justo dizer que a foto do José Belo é agora bastante mais condizente com a sua condição de luso-lapão.

Em relação ao texto, muito interessante e com conteúdo que é, também, uma ajuda esclarecedora de muitas coisas que se foram passando, ressalto dois aspectos:
O primeiro deles é esta frase "O governo da ditadura [, em Portugal], no seu crescente isolamento internacional, procurava apoios propagandísticos neste tipo de personalidades em que um profundo racismo, e anti-semitismo, acabavam sempre por se sobrepor ao legítimo direito de opinar e divulgar as suas ideias e críticas anti-socialistas ou anti-comunistas."
É bem verdade que o direito à opinião deverá ser uma 'coisa sagrada', em democracia, claro, mas é uma grande 'tentação' o resvalar para as posições e apoios aos mais retrógrados o que, no fundo, acaba por ser revelador das suas verdadeiras e mais fundas motivações.

O outro aspecto interessante é a constatação da contradição que havia na prática política dos governantes portugueses da época (e que alguns saudosos e chorosos não se cansam, nos tempos de hoje, de tentar incensar) e que se pode ver por aqui, quando José Belo escreve: "Perante a tão divulgada política de integração racial em todos os territórios administrados por Portugal, estas contradições pontuais somavam-se a toda uma aproximação táctica e estratégica com o racismo sul-africano e rodesiano."

Ou seja, havia que deitar mão a quem pudesse 'ajudar', mesmo que isso fosse feito à custa da 'negação' da propaganda da política oficial.

Hélder S.