quarta-feira, 25 de março de 2015

Guiné 63/734 - P14407: História da CART 3494 (5): O DESTACAMENTO DA PONTE DO RIO UDUNDUMA. - Hipopótamo do Corubal emboscado no Udunduma (Jorge Araújo)


1. Mensagem do nosso camarada Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/1974), com data de 6 de Fevereiro de 2015: 

Caríssimos Camaradas

Os meus melhores cumprimentos.

A presente narrativa fez-nos regressar ao meu tempo de residente no Destacamento da Ponte do Rio Udunduma, recuperando as memórias e as imagens de uma das muitas ocorrências que aí contabilizámos durante o 2.º semestre de 1973, as quais estão já a uma distância temporal de quarenta e dois anos.

Trata-se de um episódio pouco vulgar naquele contexto, envolvendo um mamífero artiodátilo [hipopótamo] que, por ter ousado invadir território proibido, naquele dia de OUT1973, foi emboscado… e morreu.

O DESTACAMENTO DA PONTE DO RIO UDUNDUMA
- Hipopótamo do Corubal emboscado no Udunduma -

1. - INTRODUÇÃO

Com as rotações entre a CART 3494, a CCAÇ 12 e a CART 3493, ocorridas nos primeiros dias de Março de 1973, os cenários, os contextos e as missões destes diferentes contingentes militares passaram a ser bem diferentes dos [as] vividos [as]. 

Enquanto a CCAÇ 12, sediada em Bambadinca, foi colocada no Aquartelamento do Xime, por troca com a CART 3494, esta passou a ocupar o Aquartelamento de Mansambo, onde se manteve até ao final da sua comissão [8 de Março de 1974], por efeito da CART 3493, aí instalada desde Janeiro de 1972, ter sido transferida para Cobumba, Região de Tombali, Território do Cantanhez, deixando de estar sob a jurisdição da sua unidade mãe – o BART 3873.

Como consequência de todas estas mudanças, e recuperado o que já deixei expresso nas narrativas anteriores [P12565 + P12586 + P12734], fui contemplado com a missão especial de comandar uma secção do meu GComb [o 1.º], num total de doze elementos, com o objectivo de proteger a [s] Ponte [s] do Rio Udunduma, actividade que registava já, à data, quatro anos, e por isso se chamar de «Destacamento da Ponte», local situado a quatro kms. de Bambadinca, na estrada Bambadinca-Xime.

Porque as condições aí existentes, quer logísticas quer físicas, eram incrivelmente pouco dignas e degradantes, como podem ser confirmadas através da descrição e visionamento das imagens já publicadas nos postes acima referidos, as recordações desse local são muitas e variadas, não se esgotando num simples texto, uma vez que aí permanecemos os últimos seis meses do ano de 1973, ou seja, fará brevemente quarenta e dois anos.

Já vos contei anteriormente algumas das acções especiais [desafios permanentes de superação] desenvolvidas durante esse 2.º semestre de 1973, assim como os contrastes do mesmo cenário. Agora, volto à vossa presença com os mesmos propósitos de sempre, o de fazer história escrevendo sobre o quotidiano da nossa passagem pelo CTIG, mesmo que o objecto [assunto] não esteja intrinsecamente relacionado com o confronto militar.

Aproveitando mais algumas fotos de diferentes espaços desse contexto e adicionadas as outras relacionadas com a ocorrência em referência [OUT1973], nada expectável de vir a acontecer por ali, permitiu-me estruturar este texto passando para o papel os principais factos narrados oralmente por quem a presenciou, uma vez que nesse dia me encontrava ausente do local. 

Como o subtítulo acima referido faz supor, iremos contar a história macabra sobre um hipopótamo adolescente que foi emboscado no Rio Udunduma e que não conseguiu escapar com vida. Identificámo-lo como sendo oriundo do Corubal, numa lógica de proximidade, mas nada nos garante que assim seja, uma vez que os dois principais habitat de hipopótamos da Guiné-Bissau [hippopotamus amphibius, nome científico], estão identificados como sendo na Ilha de Orango, no Arquipélago dos Bijagós, e no Parque Natural das Lagoas de Cufada, na região de Buba.

Sobre estes dois espaços onde vivem e se desenvolvem os hipopótamos da Guiné-Bissau, citaremos alguns apontamentos encontrados na nossa investigação na área das actividades de ecoturismo e biodiversidade, seguindo por correio interno os respectivos originais para leitura mais aprofundada, não deixando de os referir na altura própria [com a devida vénia aos seus autores].

2. - O DESTACAMENTO DA PONTE

As fotos que seguem têm por objectivo identificar os principais pontos da nossa missão, ajudando a circunscrever o contexto onde a acção se desenvolveu. 





3. - O LOCAL DA EMBOSCADA AO HIPOPÓTAMO 






4. - O HIPOPÓTAMO

Hipopótamo é o nome genérico um mamífero ungulado de grande porte pertencente à família Hippopotamidae. É um mamífero artiodátilo [que possui um número par de cascos (ou dedos) nas extremidades dos membros 

anteriores e posteriores], próprio de África, de pele muito grossa e nua, patas e cauda curtas, cabeça muito grande e truncada num focinho largo e arredondado.

Estes animais vivem geralmente próximo de rios, onde passam grande parte do seu tempo imersos. Têm uma pele sensível à luz solar. Os hipopótamos são herbívoros e alimentam-se durante a noite da vegetação existente nas margens dos rios que habitam, mas há indícios de canibalismo de machos adultos com filhotes.

Os hipopótamos são preguiçosos em terra, mas podem atingir velocidades de 50 km/hora. Na água são rápidos e mostram diversas adaptações na sua existência, na maior parte aquática, inclusive orelhas e narinas que podem fechar-se e uma secreção da pele que funciona como protector solar, anticéptico e antibacteriano. A sua pele é muito sensível a queimaduras solares e, para se proteger, segrega uma substância de cor vermelha que ao longe pode ser confundida com sangue. 

5. - O HIPOPÓTAMO NA GUINÉ-BISSAU [no presente]


5.1 - NA REGIÃO DE CUFADA - BUBA

As LAGOAS DE CUFADA estão classificadas como «zona húmida de importância internacional», tendo a Guiné-Bissau aderido à Convenção de RAMSAR e, em sequência, criado um regime legal de protecção dos ecossistemas locais. O Instituto de Conservação da Natureza, juntamente com outras entidades portuguesas, participou na preparação e realização do projecto do parque.

A Convenção de RAMSAR é um tratado intergovernamental que estabelece marcos para ações nacionais e para a cooperação entre países com o objectivo de promover a conservação e o uso racional de zonas húmidas no mundo. Essas acções estão fundamentadas no reconhecimento, pelos países signatários da Convenção, da importância ecológica e do valor social, económico, cultural, científico e recreativo de tais áreas.

Estabelecida em Fevereiro de 1971, na cidade iraniana com o mesmo nome, a Convenção de Ramsar está em vigor desde 21 de Dezembro de 1975, e o seu tempo de vigência é indeterminado. No âmbito da Convenção, os países membros são denominados "partes contratantes". Até Janeiro de 2010, a Convenção contabilizava 159 adesões.

Quanto ao PARQUE NATURAL DAS LAGOAS DE CUFADA, este abrange uma área de noventa mil hectares, na qual está inserida uma comunidade de cerca de três mil pessoas distribuídas por trinta e três tabancas. Os passeios pelas lagoas permitem a observação de várias espécies de aves, residentes ou migradoras, como flamingos, pelicanos e tucanos. Entre a fauna aquática abundam mamíferos como hipopótamos, manatins e crocodilos. Em terra, ocasionalmente, podem ser vistas gazelas, porcos do mato e antílopes.

5.2 - NO PARQUE NACIONAL DE ORANGO - BIJAGÓS

O PARQUE NACIONAL DE ORANGO ou o Parque Natural das Ilhas de Orango está situado na parte sul do Arquipélago dos Bijagós [ver mapa], ocupando uma superfície de 1582,35 km2 e compreende 3 ilhas principais: Orango, Orangozinho e Atanhible. A profundidade do sector marinho não ultrapassa os 30 metros. A biodiversidade da fauna, particularmente no sul do parque, compreende populações de hipopótamos (Hipoppotamus amphibius), onde se pode observar os únicos hipopótamos que vivem em água salgada, e de crocodilos (Crocodylus niloticus e C. tetraspis). O parque é frequentado por 5 espécies de tartarugas-marinhas: tartaruga-verde (Chelonia mydas), tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea), tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta) e tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea). De entre os mamíferos destacam-se também a gazela-pintada (Tragelaphus scriptus), o macaco-verde (Cercopithecus aethiops) e, na parte marinha, lontra (Aonyx capensis), manatim (Trichechus senegalensis) e golfinhos (Sousa teuszii e Tursiops truncatus).

Por outro lado, o Arquipélago dos Bijagós, constituído por um conjunto de oitenta e oito ilhas e ilhéus espalhados no Oceano Atlântico, em que um quarto desses espaços de terra não estão habitados, foi declarado Reserva Mundial da Biosfera, em 16 de Abril de 1996.

Em reportagem realizada em Dec2012 por Fernando Peixoto, jornalista da Agência Lusa, este refere no título da peça que «Orango, na Guiné-Bissau, é a ilha dos hipopótamos especiais».

Continua, afirmando que “a Ilha de Orango, na Guiné-Bissau, tem hipopótamos únicos no mundo e que "salvam" vidas. Por causa deles, a ilha tem uma lancha rápida para levar doentes, escolas e centros de saúde arranjados e a funcionar, graças à construção do ORANGO PARQUE HOTEL, onde os lucros revertem para melhorias na ilha, com o envolvimento e aplauso da comunidade.

Hoje, os hipopótamos dos Bijagós precisam de água doce para beber, mas muitos deles vivem permanentemente na água salgada, o que os faz únicos no mundo. "Há dias estávamos na Ilha de Unhocomozinho e vimos chegar um [vindo do mar]. As pessoas fizeram-no fugir sendo visto depois na ilha de Unhocomo".

Por outro lado, a coordenadora do Seguimento das Espécies e dos Habitat, do Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP) da Guiné-Bissau, Aissa Regala, avança que em Janeiro de 2013 será iniciada em Orango uma nova contagem de hipopótamos. A espécie vive também em rios e lagoas do continente, lembra, acrescentando que na zona de Cacheu [norte] vão ser vedados campos de arroz por causa dos animais. Em Orango a proteção das bolanhas [campos de arroz] com cercas eléctricas para evitar a intrusão dos hipopótamos foi um sucesso e a produção quase duplicou.

Como refere o guia Belmiro Lopes, o hipopótamo é um "animal emblemático", que surge nas pinturas e nas danças dos Bijagós; e que em 2011 quase mil pessoas visitaram a ilha para ver os animais. Porém, esses mesmos animais destruíam os campos de arroz, provocando a ira das populações.

Nota: este tema foi já aflorado no P10.854.

Outras fontes:

- http://sustainabledevelopment.un.org/content/documents/977guineabissau.pdf.

- Arquipélago dos Bijagós - Guiné-Bissau O modo... - Rituais.

- RDP África - Hipopótamos únicos no mundo "salvam" vidas em Orango, na Guiné Bissau.

- http://noticias.sapo.mz/lusa/artigo/15431686/html

Termino, enviando a todos os tertulianos um forte abraço.
Jorge Araújo.
Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494
___________
Nota de M.R.: 

Vd. Também o último poste desta série em: 



1 comentário:

Hélder Valério disse...

Amigo Jorge Araújo, camarada

Gosto sempre de ler as tuas crónicas, os teus relatos.
São objectivos, ilustrados, bem explicados e pormenorizados.

Neste caso concreto acresce ainda o enriquecimento que trazes aqui e que nos dá uma visão muito interessante da fauna e flora da região, incluindo apontamentos sobre a actualidade.

Parabéns e obrigado por este persistente trabalho de paciência, pesquisa e informação.

Abraço
Hélder S.