sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14176: Historiografia da presença portuguesa em África (53): Revista de Turismo, jan-fev 1956, número especial dedicado à então província portuguesa da Guiné: anúncios de casas comerciais - Parte V (Mário Vasconcelos): 4 firmas de Bissau: Benjamim Correia (fundada em 1913), NOSOCO (francesa), Augusto Pinto Lda, e C. J. Matoso (talho moderno)








Fotos: © Mário Vasconcelos (2015). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Continuação da publicação de anúncios de casas comerciais, da Guiné. Reproduzidos, com a devida vénia, da em Turismo - Revista de Arte, Paisagem e Costumes Portugueses, jan/fev 1956, ano XVIII, 2ª série, nº 2. (*). Tem inegável interesse documental.

São uma gentileza do nosso camarada Mário Vasconcelos, ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72, Mansoa, e Cumeré, 1973/74; foto atual à direita] que descobriu um exemplar, já raro, deste edição, no espólio do seu falecido pai.

E, a propósito, faz hoje 52 anos que se iniciou, oficial ou oficiosamente, a guerra colonial na Guiné, com o ataque a Tite, na região de Quínara, em 23 de janeiro de 1963. Tenhamos um pensamento de homenagem a todas as vítimas desta guerra, civis e miliaters,  de ambos os lados.


2. Numa destas firmas, a NOSOCO - Nouvclle Société Commerciale Africaine [e não Africane, mais uma gralha], com sucursais em Bafatá, Farim, Bolama, Bissorã, Sonaco e Nova Lamego, trabalharam camaradas nossos como o Mário Dias [. ex-srgt comando, reformado], bem como o pai do nosso amigo Herbert Lopes, mas também conhecidos militantes do PAIGC, como o João Rosa, que guarda-livros...

A NOSOCO era então uma das principais firmas da Guiné, na opinião (qualificada) do nosso amigo e camarada Mário Dias, a propósito dos acontecimentos de 3 de agosto de 1959, no cais do Pidjuiguiti: "as principais casas comerciais da Guiné (vou designá-las pelo nome abreviado como eram conhecidas, Casa Gouveia (CUF), NOSOCO, Eduardo Guedes, Ultramarina e Barbosas & Comandita, tinham ao seu serviço frotas de lanchas - umas à vela e outras a motor - que utilizavam no serviço de cabotagem transportando mercadorias para os seus estabelecimentos comerciais e, no regresso, traziam para Bissau os produtos da terra, principalmente mancarra e arroz. A maioria deste tráfego era pelo rio Geba, até Bafatá e, para o Sul, até Catió e Cacine."

Segundo Carlos Domingos Gomes. Cadogo Pai, as empresas francesas sediadas na Guiné (SCOA, NOSOCO,  CFAO) começaram a ter problemas de liberdade comercial, face à posição monopolista da Casa Gouveia, ligada ao grupo CUF. O Luís Cabral, meio irmão de Amílcar Cabral, era empregado da Casa Gouveia, guarda-livros. As casas comerciais de Bissau, tal como o futebol e o 1º curso de sargentos milicianos, de 1959, deram fornadas de gente... ao PAIGC!


Guiné > Bissalanca > c. 1958/59 > Fotografia tirada na despedida do gerente da NOSOCO, Monsieur Boris, que nesse dia regressava a Paris (está ao centro de fato e gravata). O João [da Silva] Rosa, o guarda-livros, [e que foi um dos fundadores do MLG - Movimento de Libertação da Guiné e um dos primeiros contactos políticos de Amílcar Cabral, tendo feito reuniões clandestinas, na sua casa, com o próprio Amílcar Cabral e outros nacionalistas guineenses, segundo informação do Leopoldo Amado, e que morreu em 1961, no hospital, na sequência da sua prisão pela PIDE], está na segunda fila à direita; à sua frente, o 2º da direita é o Toi Cabral. Os restantes elementos da foto são alguns (quase todos) dos empregados do escritório da NOSOCO em Bissau (MD)

O terceiro elemento do grupo, a contar da esquerda, é Armando Duarte Lopes, o pai do nosso amigo Nelson Herbert, e velha glória do futebol guineense... (Esteve em 1943 no Mindelo, sua terra natal, integrado numa força expedicionária, vinda do continente, que veio reforçar o sistema de defesa da Ilha de São Vicente durante a II Guerra Mundial; viveu depois, trabalhou e casou em Bissau.

Como nos relembrou o Nelson, o pai era então "um jovem, robusto, futebolista conhecido na Guiné (Armando Bufallo Bill, seu nome de guerra, o melhor de futebolista da UDIB, do Benfica de Bissau, internacional pela selecção da antiga Guiné Portuguesa..). Foi encarregado, por muitos anos, do porto fluvial de Bambadinca, e ainda se lembra de episódios do djunda djunda (braço de ferro) entre a JAPG (Junta Autónoma dos Portos da Guine) e a tropa, relativamente a um batelão, propriedade do primeiro e que fazia regularmente o trajecto Bambadinca-Bissau, mas que a tropa insistia em açambarcar... para revolta das população da zona leste, já que dessa boleia dependia o escoamento da produção local (caprinos e produtos hortícolas) para os mercados de Bissau... (Seria o BOR?).

O apelido Herbert vem de outro lado, de um avô materno francês, que foi o representante local, na Guiné, da CFAO - Compagnie Française de l'Afrique Occidentale, fundada em 1887, e que continua a ser um importante grupo económico, líder da distribuição especializada em África e nos territórios franceses do Ultramar.

Foto: © Mário Dias (2006) . Todos os direitos reservado

2. Temos inúmeros postes sobre a cidade de Bissau. Alguns de nós fizemos lá comissão, tendo por isso um conhecimento das suas ruas, praças, monumentos,  restaurantes, esplanadas, casas comerciais, etc.  É o caso por exemplo do nosso camarada Carlos Pinheiro (ex-1.º cabo  trms op msg, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70):

Vd. poste de 20 de abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8138: Memória dos lugares (152): A cidade de Bissau em 1968/70: um roteiro (Carlos Pinheiro)

Outros camaradas viveram lá anets e depois da tropa, acompanhando o progresso da cidade, nos anos 50/60, como foi o caso do Mário Dias (ex-srgt comando, ref, trabalhou e viveu em Bissau na sua aolescência e juventude, tendo frequentado em 1959 o 1º curso de sargentos milicianos que se realizou no CTIG):


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14 comentários:

António J. P. Costa disse...

Olá Canaradas
Chamo a atenção para o anúncio do Augusto Pinto. Em vez de rubber (borracha) está escrito robber (ladrão).
Claro que aqui já não estamos a falar de gralha. Trata-se de ignorância pura e dura na elaboração de uma revista de "certa responsabilidade".
Não há dúvidas de que o ultramar estava entre a amadores e malandrecos, digo eu...
O resto, já todos sabemos.
Um Ab.
António J. P: Costa

Carlos Vinhal disse...

Caro Pereira da Costa
Bem apanhada, como uma letra muda tudo. Ainda dizem que o português é muito traiçoeiro.
Carlos Vinhal

Luís Graça disse...

"Firestone Tire and Rubber Company é uma fábrica de pneus fundada em 1900 por Harvey Firestone e que foi comprada pela empresa japonesa Bridgestone, também do ramo de pneus." (...)

https://pt.wikipedia.org/wiki/Firestone_Tire_and_Rubber_Company

Antº Rosinha disse...

A propósito do futebol da geração do pai de Herbert, diziam os nossos patrícios ultramarinos, que em Portugal (metrópole) a bola era quadrada e jogava-se de tamancos.

Claro que já apreciavamos muito Matateu, Beleneses, Fialho, Caboverdeano (Benfica)Peyroteo, Angola (Sporting) e qualquer africano mal chegasse entrava logo na equipa.

Mas essa da bola quadrada e dos tamancos já tinha um sentido figurado que ainda hoje se mantem.

Quando se chegava às colónias antes de 1961, levavamos uma ensaboadela de "atrazados de tamancos" que ficavamos com aquela cara que vi há dias dos jovens deputados que perguntavam onde estava o dinheiro àquele angolano que hoje é um dos donos do Sporting Clube de Portugal.

A cara era talqualmente "de boca aberta".

É sempre muito difícil a vida do português, mas vamos lá!

Luís Graça disse...

Julgo que esta revista ainda era feita à moda antiga, pelo processo clássico de composição por carateres móveis (tipogragia).

Estamos em 1956... A fotocomposição já existe na década de 1940, mas só se generaliza, em Portugal, com o "offset", nos anos 60/70...

Com gralhas ou sem elas, a verdade é que em Bissau, em 1956, já havia boas lojas onde se podia cpmprar a máquina de barbeart "Remington" ou a caneta "Parker" ou uma viatura da General Motors... E o Matoso tinha um talho com câmaras frigoríficas!...

Sobre o crescimento e desenvolvimento da cidade de Bissau leiam este poste do Mário Dias (que lá viveu nos anos 50/60):


15 DE MARÇO DE 2006 > Guiné 63/74 - P611: Memórias do antigamente (Mário Dias) (3): O progresso chega a Bissau

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2006/03/guine-6374-dcxxx-memorias-do.html


(...) "O progresso vai chegando


"Aos poucos, Bissau ia melhorando. Com o decorrer do tempo, passou a ter electricidade durante todo o dia. A velha central eléctrica, situada num edifício próximo da entrada do estádio Sarmento Rodrigues (alguns se lembrarão dele), foi substituída pela nova, instalada em edifício construído de raiz lá para os lados do rio. Que maravilha a possibilidade de se porem de lado os frigoríficos a petróleo!

"A pavimentação das ruas começou, como teste, na rua onde se situavam as principais casas de comércio. Os engenheiros não conheciam bem qual seria o comportamento dos solos nem a solidez da pouca pedra que por lá se conseguia arranjar. A experiência resultou, apesar do cepticismo de alguns defensores da tese da impossibilidade de tal obra na Guiné." (...)

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas
Passar as culpas das "gralhas" para os gráficos é abusivo.
E a revisão não se fazia? Aquilo que aqui fica patente é que uma "revista" supostamente propagandística foi impressa "com a unha suja do dedo mindinho do pé esquerdo". Não creio que tenha havido outra revista do mesmo tipo, o que é natural. No fundo, o tema ficou esgotado com esta. Nada mais havia a dizer. Quanto às empresas estrangeiras "representadas" na colónia lembro, por exemplo que em 1971/72 o serviço de peças da FIAT era um "caixote de bacalhau" cheio de peças com as mais variadas finalidades e para viaturas que já não havia. Já no nosso tempo as empresas que representavam as grandes marcas (Peugeot, por exemplo) faziam-no toscamente...
Quanto mais naquela altura...

Um Ab.
António . P. Costa

Luís Graça disse...

Há uma referência a Benjim, Correia, no depoimento do Elisée Turpin (que fez parte do "núcleo fundador" do PAI, antecedente do PAIGC), Vejamos:

"... O espírito de revolta contra a presença colonial aumentou consideravelmente, a partir de 1942, altura em que o Governador da Província da Guiné era o Sr. Ricardo Vaz Monteiro, e o Administrador de Bissau era Pereira Cardoso.

"O Governador Ricardo Vaz Monteiro, fortemente influenciado pela esposa Maria Augusta, quis introduzir o sistema de Apartheid na Província, ao tentar impor que nos estabelecimentos comerciais fossem criadas zonas separadas para brancos e pretos. A tentativa gorou, pois foi contestada pelos proprietários dos estabelecimentos comerciais.

"Na sequência dessa tentativa, foi preso o maior comerciante guineense na altura, Sr. Benjamim Correia, alegadamente por se ter queixado junto do Governo Central de Lisboa sobre o ocorrido. Ele foi preso e transportado para Cabo Verde - Tarrafal.

"O mesmo Governador introduziu um código de postura em que era proibido andar nos passeios de Bissau a todo o indígena que não tivesse sapatos nos pés.

"Estes factos e mais outros que ocorreram durante os anos 50, reforçaram o espírito nacionalista e patriótico em muitos guineenses. Foi nesse período dos anos 50 que o Amilcar Cabral regressou à Guiné e começou a fazer contactos com vista à criação duma Associação Desportiva, através da qual levávamos a cabo actividades políticas.

(...) Vd. commnetário de LG ao poste:

30 DE JULHO DE 2010
Guiné 63/74 - P6807: Memórias de um Combatente da Liberdade da Pátria, Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai (1): Encarregado de uma empresa francesa, em Bissau e depois Bolama (1946-1951)

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2010/07/guine-6374-p6807-memorias-de-um.html

Luís Graça disse...

Não encontrei o nome do Benjamim Correira na lista dos presos políticos que passaram pelo Tarrafal. A informação do Elysée Turpin não está totalmente correta:

(...)"O Governador Ricardo Vaz Monteiro, fortemente influenciado pela esposa Maria Augusta, quis introduzir o sistema de Apartheid na Província, ao tentar impor que nos estabelecimentos comerciais fossem criadas zonas separadas para brancos e pretos. A tentativa gorou, pois foi contestada pelos proprietários dos estabelecimentos comerciais.

"Na sequência dessa tentativa, foi preso o maior comerciante guineense na altura, Sr. Benjamim Correia, alegadamente por se ter queixado junto do Governo Central de Lisboa sobre o ocorrido. Ele foi preso e transportado para Cabo Verde - Tarrafal." (...)

Vd. aqui a lista dos presos do Tarrafal:

http://disruptiva.net/uploads/files/Catalogo.Tarrafal_.pdf

Luís Graça disse...

O comerciante Benjamim Correia, com estabelecimento comercial fundado em 1913,na I República, fazia (ou fez) parte do Conselho Legislativo da Guiné, tal como o pai do Peppito, o dr. Artur Augusto Silva... Veja-se aqui um etxto do nosso amigo Leopoldo Amado:


(...) No início, a pequena burguesia organiza-se num quadro africano, mas cujo fim não é ainda a independência nacional. Trata-se de mais um desejo confuso de encontrar o seu lugar, de emergir socialmente. Mas a dominação portuguesa não é ainda contestada, a aspiração a assimilação mantém-se, nesta etapa, largamente espalhada. Isto apesar de alguns elementos da élite guineense serem já sensíveis a uma “reafricanização”. A prova eloquente disso é o facto de a maior parte dos "notáveis" guineenses da sociedade colonial pertencerem ao Conselho Legislativo do Governo da Guiné, tal como Mário Lima Whanon (comerciante), Dr. Augusto Silva (advogado), Joaquim Viegas Graça do Espírito Santo (aposentado e comerciante residente em Bafatá), Dr. Armando Pereira (advogado), Benjamim Correia (comerciante), Carlos Domingos Gomes (comerciante) e Dr. Severino de Pina (advogado). (...)

DOMINGO, 14 DE MAIO DE 2006
Simbólica de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau

Por Leopoldo Amado

http://guineidade.blogs.sapo.pt/11855.html

Luís Graça disse...

Mais referências ao Banjamim Correia, que eu ainda não sei se era portugu~es da matrópole, caboverdiano ou nascido na Guiné:


(...) Em 1955, José Ferreira de Lacerda (...), futuro patriarca e líder lendário do MLG, redigiu, a pedido de César Mário Fernandes e José Francisco Gomes (assinada por várias pessoas) uma “Representação” que foi entregue ao Presidente da República de Portugal aquando da visita deste a Província da Guiné, documento esse onde se condensava, segundo os seus subscritores, o essencial das aspirações da Guiné.

Paralelamente, nas eleições para membros do Conselho do Governo da Província da Guiné faziam parte dos elementos favoráveis aos candidatos da “oposição”, os seguintes guineenses: Benjamim Correia, Armando António Pereira (advogado de 54 anos e candidato a membro do Conselho do Governo da Província, proposto pelo grupo de Benjamim constituído pelo branco Luís Mata-Mouros Resende Costa, 36 anos de idade, natural de Bissau, que nesse processo encarregou-se de expedir circulares, em colaboração Gastão Seguy Júnior (...), 36 anos, oficial de diligências do Juízo de Direito da Comarca, natural de Bolama (...).

É igualmente digna de registo a existência, mais ou menos paralela, de outro grupo de nacionalistas que actuava sob a coordenação de Mário Lima Wanon e do qual faziam parte o Dr. Artur Augusto Silva (...), o Dr. Severino de Pina, Godofredo Vermão de Sousa, Víctor Robalo, Armando António Pereira, Manuel Spencer e Crates Nunes. Embora as acções desenvolvidas nesta fase da luta fossem poucas, devido à feroz repressão e apertada vigilância da PIDE, o certo é que contribuíram para a mobilização em Bissau, particularmente nas camadas ligadas à pequena burguesia local. (...)

I Série do Blogue Lu+is Graça & Camaradas da Guiné > 22 FEVEREIRO 2006
Guiné 63/74 - DLXXV: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - I Parte
Post nº 575 (DLXXV)

http://blogueforanada.blogspot.pt/2006/02/guin-6374-dlxxv-simbologia-de.html

Antº Rosinha disse...

Ou António P. Costa nunca teve acesso ao Rol dos merceeiros das nossas cidades vilas e aldeias, nos anos 60, 70 e 80, ou se leu algum, teve a sorte de esse merceeiro já tinha guarda-livros para preencher o Rol.

É que nos anos 50 os adultos portugueses ainda não tiveram em crianças as escolinhas do centenário nas aldeias que agora estão abandonadas.

O analfabetismo dos nossos paisinhos e avós era de 70 e picos por cento.

Aquela piada que escrevi acima dos tamancos que os ultramarinos nos alcunhavam, na realidade não era totalmente anedótica era bastante real.

É pena que continuemos a atamancar nos negócios ultramarinos, e de que maneira que supera para pior em muito o que se passou naqueles tempos.

António Costa é cada barrete, que no caso de Angola, e Brasil e Moçambique, os nossos empresários e banqueiros (e TAP e PT por exemplo) precisavam mesmo de ir para aquelas escolas bem primárias tal o analfabetismo empreendedor.

Eu que conheci muito comerciante de poucas letras em Angola e mesmo alguns na Guiné, garanto que tiveram mais sucesso do que têm muitos doutores hoje no Ultramar, caso dos milhões do BESA, e não quero falar de casos tristes porque pessoais, na Guiné.

Talvez muitos nunca tenham ouvido falar e eu não tenho elementos para demonstrar, mas os antigos falavam que só para Moçambique não podiam ir analfabetos portugueses.

Pelo menos os brancos moçambicanos, numa certa rivalidade que havia com angolanos gabavam-se dessa vantagem.

E na realidade os milhares de comerciantes que havia em Angola, nos anos 50 e 60 eram bem pouco letrados.

A maioria tinham a 4ª classe de adultos "comprada" para tirar a carta de condução.

Por ordem descrescente essa gente aventureira e corajosa, a sua origem distribuia-se assim: Trás-osMontes e Alto Douro; Minho; Beiras interiores, Madeira e Açores; Beira Litoral; Algarve; Alentejo.

Quase não se pode incluir nos comerciantes a Estremadura e Lisboa e Vale do Tejo.

Foram os comerciantes incultos que mais que os governadores e militares e Chefes de Posto colonizaram e fizeram um Brasil uma Angola e Moçambique.

Porque tirando os comerciantes coloniais, que se fizeram industriais, agricultores, importadores e exportadores, tudo o resto foi encostado ao orçamento, tal nesta apagada e vil tristeza a que chegamos hoje, só já há funcionário encostado ao orçamento para fazer greve.

Lembrar que enorme quantidade de alunos das universidades de Coimbra, Lisboa e Porto, era fornecida por esses comerciantes.

Cumprimentos

Torcato Mendonca disse...

Á nossa chegada á Guiné o que recordo bem foram as letras NOSOCO. Estavam escritas num edificio já a pedirem pintura.
Perguntei ao nosso 1º Sargento e ele disse-me serem de uma antiga Firma Comercial francesa.

Ficaram-me aquelas letras e o nome Nosoco, bem gravados na memória.

Esta série é boa para recordar e aprender como foi a Guiné.

Ab,T

António J. P. Costa disse...

OK Camarada Rosinha
Assino em baixo e mesmo isso que me preocupa. Parece-me que o "ultramar" neste caso a Guiné estava mal entregue. Basta recordarmos que Alves dos Reis, que se intitulava engenheiro pelo IST e com uma pós-graduação em Cambridge. Ela não tinha idade para tal formação, mas ninguém contestou e aceitaram-no como "o Homem que Fazia Andar os Comboios" e, se não calha a ser tão ambicioso, hoje teríamos de o venerar como um grande responsável pelo desenvolvimento da Colónia.
Um Ab.
António J. P. Costa

Antº Rosinha disse...

António P. Costa, esse assunto do burlão Alves dos Reis, que só fui ouvir falar dele em Luanda a gente que até o admirava, é um caso muitíssimo especial, que até se pode fazer comparações com os burlões banqueiros deste abrilismo que também de certa maneira mandaram "fazer dinheiro"

E como dizes se não fosse tão ambicioso...mas teve azar ao terminar a balburdia da 1ªa República, logo que poude deitou-lhe a mão, aquele ministro das finanças que repousa em Santa Comba.

A grande diferença desse burlão para estes actuais, é que Alves dos Reis não usava os tais de offshores.

Mas sobre o desenvolvimento das colónias, tirando os apartheid da Rodésia e África do Sul, a África subsariana era tudo igual, fossem francesas, ou inglesas ou belgas, as palhotas eram todas iguais.

Cinicamente diz-se que os outros e nós não, prepararam elites...chamar elites a Bokassas Kenniatas, Idi Amin, Lumumbas e Mobutus, e muitos que cristanizados, islamizados e marxizados, devidamente protegidos por um neo colonialismo de qualquer côr, foi deixar chegar a este êxodo que vemos atrvez de Lampedusa e Melilla.

Claro, eu estou nos antípodas.

Cumprimentos