quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14173: Historiografia da presença portuguesa em África (52): Revista de Turismo, jan-fev 1956, número especial dedicado à então província portuguesa da Guiné: anúncios de casas comerciais - Parte IV (Mário Vasconcelos): Há, pelo menos, 6 comerciantes libaneses em Bafatá: Jamil Heneni, Toufic Mohamed, Rachid Said, Fouad Faur, Salim Hassan ElAwar e irmão











Fotos: © Mário Vasconcelos (2015). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Mais anúncios de casas comerciais, da Guiné, que foram publicados  em Turismo - Revista de Arte, Paisagem e Costumes Portugueses, jan/fev 1956, ano XVIII, 2ª série, nº 2. (*)

Desta vez fizemos uma seleção dos estabelecimentos abertos em Bafatá... Há surpresas curiosas: já havia, na época,  telefone!... Há pelo menos um empresário com telefone, o Fausto da Silva Teixeira, dono de um serração mecânica, fundada em 1928.  Em Bafatá, deveria ter os escritórios e a residência. As serrações deveriam ser em Fá e em Banjara. [Haveremos de descobrir mais tarde que este homem foi deportado, sem julgamento, para a Guiné em 1925, no final da I República. alegadamente por pertencer ao Partido Comunista Português.]

Todas as caixas comercias têm caixa postal e endereço telegráfico. 

Por outro lado, há um comércio diversificado e até especializado: o Abílio Carvalho Vieira, na sua loja, têm uma secção de produtos farmacèuticos, e a pensão e restaurante Bafatá, além dos pratos regionais e cozinha transmontana (!), oferece "os melhores whiskys (sic) e cervejas geladas" no seu serviço de bar...

Há, pelo menos, 6 comerciantes libaneses em Bafatá, em 1956: 

(i) Jamil Heneni, com grandes plantações de arroz em Jabadá [e não Janbanda], na região de Quínara [, mais um imperdoável  gralha!]; 

(ii) Toufic Mohamed [ou não seria Taufic ? Muitos dos anúncios vêm gralhados;: por ex, Bambadinga, em vez de Bambadinca, Bajicunda em vez de Bajocunda; o que quer dizer a toponímica da Guiné era "estranha" aos nossos jornalistas e tipógrafos...];

(iii) Rachid Said

(iv) Salim Hassan ElAwar e irmão (com sede em Bafatá e filial em Cacine, e não Canine, como aparece no anúncio: mais uma gralha tipográfica a juntar-se a muitas outras desta edição especial da revista de Turismo...); há um membro da família, presume-se, Mamud ElAwar, que era um conceituado comerciante de Bissau;

(v) Fouad Faur, com lojas também em  Piche,  Paunca, Bajocunda e Bambadinca.

Outro comerciante de Bafatá, com boa implantação no leste, era o Adelino A. Esteves, com filiais em Canquelifá, Saré Bacar e Cambaju.

Pela quantidade de anúncios publicados neste nº especial da revista, metropolitana, Turismo, dedicado à província portuguesa da Guiné) (*), parece que quase toda a gente quis "aparecer na fotografia".

Não sabemos se as grandes casas comoa  Gouveia  e a Ultramarina também aparece neste "mostruário" das "forças vivas" da colónia, e nomeadamente as da esfera económica, constituída por  pequenos comerciantes e empresários, de origem metropolitana, caboverdiana e libanesa.

 Como temos vindo a observar, estes anúncios (que nos chegaram às mãos através do nosso camarada Mário Vasconcelos) são um preciosidade, pelas inesperadas informações que nos trazem de lugares que muitos  de nós conhecemos e cuja prosperidade económica, mesmo que relativa, vai ser posta em causa (e em muitos casos destruída) com o início da guerra, iniciada em Tite, na região de Quínara, em 23 de janeiro de 1963, vai fazer amanhã 52 anos!


 [Foto à acima: Mário Vasconcelos, ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72, Mansoa, e Cumeré, 1973/74]

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 21 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14169: Historiografia da presença portuguesa em África (48): Revista de Turismo, jan-fev 1956, número especial dedicado à então província portuguesa da Guiné: anúncios de casas comerciais - Parte III (Mário Vasconcelos)

10 comentários:

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas
a Guiné pré-guerra.
Quantos mais número desta revista terão saído relativos à Guiné? E o turismo que nessa altura dava os primeiros passos na Metrópole onde estava ele na Guiné?
Ainda conheci (1968/69) uma senhora - Mariana Mayer de Brito - que trabalhava no "Turismo da Guiné", uma pequena loja com porta para aquela rua que corria paralela ao porto e cujo nome esqueci.
Essa senhora trabalhava em acumulação no MNF. Quando a procurei, em 1971, não a encontrei nem num sítio, nem no outro. Era uma pessoa simpática que "já vinha da Índia" onde tinha conhecido o meu capitão e que seria familiar de militares.
Qual seria a reacção dos "crescidos" (nós éramos miúdos) ao lerem aquela revista que hoje temos de considerar uma radiografia bastante nítida da Guiné?
Se calhar achavam gira e punham-na para o canto. O que é que "aquilo" interessava?
Um Ab.
António J. P. Costa

Luís Graça disse...

Tó Zé: Tens aqui um texto interessante sobre o desenvolvimento do turismo e das publicações sobre turismo em Portugal nos últimos 100 anos... Infelizmente não vi esta exposição na Biblioteca Nacional... A vida é curta é demais para a gente ir a todas... Um abração. LG

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Viagens pela Escrita: 100 Anos de Turismo em Portugal
MOSTRA | 27 Setembro 2011 - 7 Janeiro 2012 | Sala de Referência | Entrada livre
MOSTRA "VIAGENS PELO CARTAZ" | 6 Outubro - 10 Novembro | Galeria-corredor do Auditório | Entrada livre

http://www.bnportugal.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=657:mostra-viagens-pela-escrita-100-anos-de-turismo-em-portugal-27-set&catid=157:2011&Itemid=693

Luís Graça disse...

Jamil Heneni, Toufic Mohamed, Rachid Said, Fouad Faur, Salim Hassan Elawar e irmão... Libaneses de Bafatá!... Portugueses da Guiné!...


Pergunto-me: onde pára esta gente e/ou os seus descendentes ) Cerca de 2 centenas ficaram na Guiné... Outros são retornados, viverão em Portugal, a sua segunda ou terceira pátria...

Talvez o "nosso mais velho" Rosinha ou o nosso camarada Danif, antigo pára do BCP 12, hoje tenente coronel reformado do exército português, amigo do Humberto Reis, nos possam dar algum esclarecimento adicional...

Luís Graça disse...

Viagens pela Escrita: 100 Anos de Turismo em Portugal
MOSTRA | 27 Setembro 2011 - 7 Janeiro 2012 | Sala de Referência | Entrada livre
MOSTRA "VIAGENS PELO CARTAZ" | 6 Outubro - 10 Novembro | Galeria-corredor do Auditório | Entrada livre

http://www.bnportugal.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=657:mostra-viagens-pela-escrita-100-anos-de-turismo-em-portugal-27-set&catid=157:2011&Itemid=693

(Com a devida vénia... Em duas partes, que o texto é comprido, com mais de os 4096 careteres permitidos)


O Turismo também se escreve. Nos guias, roteiros, monografias, ensaios, teses, dicionários, revistas e literatura de viagens, em distintas abordagens e para diferentes fins, tipologias complementadas pelos cartazes, bilhetes-postais e mapas, sempre tão sugestivos. Observamos, assim, um amplo leque de opções que tornaram o Turismo um tema diverso na literatura e nos estudos técnicos e científicos.

Nas páginas escritas e na iconografia associada, viajamos pelos ensinamentos da Geografia, Economia, Arquitectura, Sociologia, turismo_cartazAntropologia, entre outras áreas do saber, ou pelos mundos da Hotelaria, dos Operadores Turísticos, da Gastronomia, dos Eventos, do Lazer e Recreação, do Ambiente, dos Recursos e Produtos Turísticos, envolvendo todas as áreas humanas e da Natureza.

Na evolução dos tempos, o primeiro êxito editorial de uma publicação dedicada às viagens e ao Turismo, em Portugal, remonta à Gazeta dos Caminhos de Ferro (desde 1888), na qual se destacam as rubricas “Viagens e Transportes” e “Termas, Campos e Praias”, bem como variadas crónicas e sugestões de viagem aos leitores.
turismo_gazeta
O director desta publicação, Leonildo de Mendonça e Costa, seria um dos principais dinamizadores da criação, em 1906, da Sociedade Propaganda Portugal, em cujos fins se inscrevia a publicação de “itinerários, guias e cartas roteiras de Portugal”. O seu Boletim mensal (a partir de 1907), distribuído gratuitamente aos sócios, incluía as realizações da Sociedade e propostas de viagens no país e divulgação do nosso património – “A Arte e a Natureza em Portugal”, que já em 1902 era bem patente no Álbum de photographia com descripções; clichés originaes; cópias em phototypia inalterável; monumentos, obras d’arte, costumes, paisagens, um verdadeiro inventário, feito pela arte fotográfica de Emílio Biel, que acompanhou a escrita.

(...)

Luís Graça disse...

Turismo - Parte II


(...) Simultaneamente ao Boletim, a Sociedade Propaganda de Portugal publicou ao longo dos anos várias outras obras, como monografias, dépliants e outras brochuras de divulgação, algumas noutros idiomas.
turismo_revista_turismo
A primeira publicação inteiramente dedicada ao sector, editada após a institucionalização do Turismo em Portugal (1911), abrangia “propaganda, viagens, navegação, arte e literatura”, para “desenvolver o gosto das viagens” (Revista de Turismo, 1916), à semelhança do que acontecia noutros países. O articulista enuncia, por esta ordem, França, Suíça, Itália e Espanha. Sublinha as condições climáticas do país, as suas paisagens, costa marítima e águas minerais, pelo que seria “preciso, pois, defender as preciosidades com que a Natureza tão prodigamente nos dotou, e é esse o principal objectivo da nossa campanha para o que possuímos uma excepcional boa vontade e uma coragem transcendente.”
Aliás, nos primeiros tempos, foram as revistas os principais veículos de divulgação do Turismo, como a Ilustração Portuguesa (desde 1903). Já no Estado Novo, a edição de uma revista “dirigida aos que gostam de viajar e ainda àqueles que, por suas favoráveis condições turismo_j_5308_bde vida, podem adquirir esse gosto que instrui e aristocratiza o espírito” (Viagem, 1940) e de uma outra, esta editada pelo Secretariado de Propaganda Nacional e dirigida por António Ferro (Panorama, 1942), foram as primeiras publicações de Turismo do Antigo Regime, com a colaboração dos melhores escritores, jornalistas e fotógrafos da época.
Nos anos 50, foi o tempo dos anuários (Portugal País de Turismo) e da edição de boletins municipais, “a bem servir a terra portuguesa” (Boletim da Comissão Municipal de Turismo da Figueira da Foz, 1941), tarefa aliás a que também se dedicou a própria estrutura central, no “órgão de divulgação e propaganda do turismo em Portugal (Jornal de Turismo, 1957), como “paladino de uma causa de interesse nacional”.
O mundo do Turismo alarga-se para além de Portugal, na “revista europeia de actualidades, cultura e turismo, dedicada a Portugal, ao Mundo, às ciências, à vida turismo_pp-3336-aquotidiana, às artes, aos espectáculos, aos desportos, ao turismo”. Abrangente, também, porque uma “revista é para todos” (Sol, 1963).
A coincidir com o ano da criação da Direcção-Geral de Turismo, surgem, em 1968, a nova Revista Turismo – Arte, Paisagens e Costumes de Portugal, num olhar abrangente pelos recursos turísticos, e o quinzenário Publituris, ainda hoje em publicação, inicialmente para cobrir a dispersa informação especializada em promoção do Turismo, aviação, cruzeiros, hotelaria, excursões e eventos. Deste, em 1973 foi lançada uma versão em inglês e, dois anos depois, os seus responsáveis seriam os promotores da Associação dos Jornalistas e Escritores Portugueses de Turismo.(...)

Luís Graça disse...

Turismo - Parte III


(...) A partir dos anos 70, assistiu-se a uma maior dinamização da imprensa turística. Novas revistas de grande divulgação; revistas de grupos, cadeias de hotéis, transportadoras aéreas e cruzeiros; boletins e revistas associativas turismo_pp-3555-aimpressas; e portais na internet. Expansão relacionada com a própria diversificação do Turismo Interno. Alguns órgãos generalistas publicam secções de Turismo, incluindo suplementos semanais de Turismo, ou mesmo guias e roteiros, estes últimos como literatura utilitária acarinhada e consultada neste arco de tempo de um século, relacionando-se com a Geografia – pela apreensão do território –, a História da Arte – pela definição em cada época do património valorizado – e a História Económica – pelo relato do progresso. São destinados a viajantes e excursionistas, assim como aos profissionais do sector, incluindo as publicações monográficas locais e as edições dos órgãos de promoção turística.
Muitos periódicos editaram publicações complementares, e as próprias revistas da especialidade interessaram-se em editar guias e roteiros, propondo circuitos, quase sempre incluindo plantas e mapas, com a informação geográfica ou cartográfica mais relevante para o turista, e anúncios de publicidade de estabelecimentos hoteleiros, termais e comerciais, de indústrias e empresas de transportes.
Relevamos, também, o espólio do antigo Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo (SNI), do qual se expõe um conjunto notável de guias e roteiros, editados por este organismo, em português e noutros idiomas, e outros editados por entidades estrangeiras, que expressam diversas visões sobre Portugal.
Os guias, roteiros e mapas, enquanto fontes históricas, têm ultimamente aberto novas linhas de investigação, no universo onde existem cada vez mais estudos técnicos e científicos, manuais sobre teorias, práticas e teses associadas ao desenvolvimento do sector e dos múltiplos ramos que o integram, incluindo publicações de carácter estatístico.

O saber imprime-se e divulga o trabalho crescente das universidades, com pioneirismo (Revista Turismo & Desenvolvimento, a partir de 2004), na primeira publicação científica da área do Turismo em Portugal, promotora de uma rede nacional de cientistas, que passou a servir de apoio ao sistema de revisão anónima (blind referee), através do qual têm sido analisados e avaliados todos os artigos. (...)

Luís Graça disse...

Turismo - IV (e última) parte

(...) Mas esta profundidade que as universidades emanam não faz esquecer todo o campo literário dedicado a edições temáticas ou crónicas de viagens em Portugal. Oferta bastante diversificada e actualizada de destinos e costumes, escritos por autores de mérito consagrado e por jornalistas de prestígio.turismo_guia
Há quem nos faça “um convite a passear” (Viagem a Portugal, 1981), quase sempre numa aposta de cuidada aparência, compatibilizando “um formato de divulgação com um mais técnico-científico” (Portugal Património. Guia Ilustrado, 2007). O Guia de Portugal (a partir de 1924) é o antecessor mais completo, e dele conhecemos e divulgamos, também, preciosos manuscritos.
Viaja-se pelos cafés, que sempre assumiram um aspecto literário e político, mas também turístico; pelos grandes hotéis de Portugal, com “todas as comodidades e confortos para todos os gostos e fortunas” (Grandes Hotéis de Portugal, 2001); pelo Turismo de Saúde e pela arquitectura termal, suporte das nossas termas e origem do nosso Turismo.

turismo_sc-60684-vPor estas Viagens pela Escrita têm passado a estratégia e a política de desenvolvimento turístico do nosso país: “ainda num passado recente olhado com desconfiança e alguma displicência, o turismo é já hoje uma realidade incontestada no país e um dos sectores prioritários na política económica nacional sendo considerado como sector chave do processo de desenvolvimento económico” (Política de Turismo, 1997).

Conclui-se o percurso com o que fica destas comemorações, desde o Congresso, em Maio passado, celebrando a institucionalização do Turismo em Portugal, às exposições em diferentes pontos do país, marcando a evolução do Turismo, visto em diversas perspectivas, como sejam as do empreendedorismo, da administração pública, da imprensa e da fotografia. No desenho de um bilhete-postal, assinalando este centenário, vemos muitos outros, mais antigos, reproduzindo imagens de Portugal e impressões escritas. Estas e outros importantes fragmentos manuscritos e presentes nesta Mostra são testemunhos guardados nesta Casa da Memória que os cuida com afecto e rigor técnico na sua conservação, porque, também na evolução escrita e imagética do Turismo, é necessário considerar a importância da Memória, enquanto criadora do sentido de pertença colectiva, de que o futuro se não pode desligar.

Biblioteca Nacional de Portugal, Setembro de 2011

A Comissão Nacional do Centenário do Turismo em Portugal

António J. P. Costa disse...

Olá Camarada
Aqui fica uma outra ref.ª sobre turismo reeditada pela Gulbenkian: Guia de Portugal ISBN 972-31-0163-7 Dep. Legal 90766/95 ISBN 978-972-31-0578-0 Dep. Legal 24016/88 ISBN 972-31-0635-3 Dep. Legal 81308/94 e mais quatro volumes que não tenho. É uma colecção descritiva de todas as regiões de Portugal Continental, descrito pelos melhores escritores e que começou por ser dirigida por Raul Proença e depois... esteve suspensa e depois lá se foi publicando. Enfim, o costume.
O ultramar não está contemplado, como era de calcular.
Um Ab.
António J. P. Costa

Valdemar Silva disse...

Mas, afinal, quem era o cliente, na Guiné, deste Export-Import ?
Que confusão que isto me faz.

António J. P. Costa disse...

Camarada Valdemar Silva
Como queres saber o que era aquilo do import/export? Nem eles próprios sabiam. mas que lá soava bem soava.
Assim, dia a dia estavam a ser lançadas as sementes da revolta.
Foi pena o abandono a que "aquilo" sempre esteve votado e o amadorismo, para não dizer pior com que sempre foi gerido. Esta a revista é a prova disso, quando apenas pretendia demonstrar o "fomento" que ali estava em vigor.
E foi assim...
Um Ab. para todos
António J. P. Costa