sábado, 13 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14022: Tabanca Grande (453): Luciano José Marcelino Jesus, ex-Furriel Mil. Art., CART 3494 (Xime-Enxalé-Mansambo, 1971/1974)

1. O nosso camarada Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/1974), enviou-nos mais uma mensagem, desta vez com a apresentação de mais um camarada nesta nossa parada virtual, local de todos os encontros da malta que um dia viu o Geba e suas extensas bolanhas… 

Caríssimo Camarada Luís Graça,

Os meus melhores cumprimentos.

Reencaminho o trabalho elaborado pelo meu/nosso camarada ex-Fur. Mil. Art. Luciano de Jesus, do 2.º GComb, e agora novo membro da CART 3494 a participar nesta tertúlia de ex-combatentes na Guiné.

Trata-se de um depoimento inquestionavelmente importante na historiografia da Unidade, por permitir completar, com novos desenvolvimentos, a dimensão operacional sofrida e vivida pelo seu contingente, nomeadamente com factos e feitos ainda omissos.

Um abraço,
Jorge Araújo.
Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494 

2. Apresenta-se então o Luciano José Marcelino Jesus, ex-Furriel Mil. Art., CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/1974),

ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CART 3494

(ATAQUE AO ENXALÉ COM ARMAS PESADAS E LIGEIRAS)

-19 de Julho de 1972 -

I– INTRODUÇÃO

Na sequência da narrativa elaborada pelo camarada Jorge Araújo [P13970], acerca do ataque de armas pesadas e ligeiras ao Destacamento do Enxalé perpetrado pelo PAIGC em 19 de Julho de 1972, venho pelo presente dar o meu modesto contributo histórico sobre esse acontecimento, fundamentado no facto de o ter vivido e sentido muito de perto. 

Com esta pequena narrativa procuro ampliar o ângulo de observação e análise sobre mais uma ocorrência contabilizada pela CART 3494 durante a sua presença ultramarina no CTIG [1971-1974], considerando-a, assim, como mais uma peça do puzzle que continua em construção.

Com efeito, o relato dos acontecimentos relacionados com o ataque ao Enxalé, no qual fui um dos actores, assume uma dimensão particular uma vez que, em termos formais, era eu que estava a comandar o Destacamento em virtude do Alferes José Henriques Araújo [1946-2012]se encontrar de férias e por ser o graduado mais antigo. Ao tempo estava comigo apenas o furriel Benjamim Dias, pois o furriel António Bonito, que era elemento constituinte do 2.º GComb, já tinha sido transferido para o Destacamento de Mato Cão.


Foto 1 – Enxalé 1972 – Da esquerda para a direita: Luciano de Jesus, José Araújo, Benjamim Dias e António Bonito, quadros de comando do 2.º GComb da CART 3494.

No ponto seguinte caracterizarei o período que antecedeu a concretização do ataque, referindo alguns detalhes que poderão ter influenciado essa acção.

II– FACTOS QUE ANTECEDERAM O ATAQUE

Cerca de uma semana antes, Bissau resolveu enviar o Grupo do Marcelino da Mata ao Enxalé para espevitar os dois grupos de “milícia especial” [309 e 310] que até então não apresentavam produtividade significativa.

O Marcelino da Mata trouxe consigo cerca de oito homens do seu grupo. Aterrou, chamou os dois Chefes de Tabanca [balanta e mandinga], mandou suspender o batuque que nessa altura estava a decorrer e começou a preparar a operação.

No outro dia de madrugada lá foi ele para o objectivo, que era a base mais próxima do PAIGC, a cerca de 20 Km de Sara. Fez o seu trabalho… bastante estrago… trouxe documentação e no regresso o IN tentou a perseguição e o envolvimento mas não conseguiu. Ficou ainda por ali [Enxalé] mais uns dias.

Durante essa curta estadia, os dias foram passados com alguma dificuldade do ponto de vista da logística [alimentação], uma vez que eram parcos os recursos aí existentes. Mesmo assim, ele ficou muito agradecido e reconhecido pelos esforços que fizemos para que lhes não faltasse nada.

Ficou entre nós uma amizade pessoal e mais tarde, em Bissau, encontrei-o e até andei de mota com ele.

Entretanto os hélis vieram recolher o grupo e tudo regressou à normalidade.

Quanto à dimensão do ataque, penso ter sido o maior que o BART 3873 sofreu não só em relação ao número de elementos envolvidos por parte do PAIGC [150 = 3 bi-grupos] como pelos meios utilizados. Se bem me lembro os meios que o IN fez deslocar para esta acção foram: 1 canhão s/r, dois morteiros pesados, mais de uma dezena de RPG e um grupo de assalto.


Foto 2 – Enxalé 1972 – Edifício do comando… e à esquerda a enfermaria.

III– O ATAQUE AO ENXALÉ COM ARMAS PESADAS E LIGEIRAS

- 19 DE JULHO DE 1972 -

Eram vinte horas e vinte minutos da data supra, estava eu a jantar na companhia do furriel Benjamim Dias, quando rebentou o fogachal que logo fez estoirar com toda a iluminação do quartel. No céu via-se o rasto das balas tracejantes que tinham por missão orientar o fogo das armas pesadas em direcção do quartel. O furriel Dias saltou de imediato para o abrigo do nosso morteiro e fez um trabalho exaustivo de bater toda a zona circundante. 


Foto 3 – Enxalé 1972 – Espaldar da bazuca, com protecções e respectiva vala. As casas eram utilizadas como dormitórios.

Eu fui ao gabinete buscar o mapa dos pontos marcados pela nossa bateria de obuses do Xime com o objectivo de orientar o nosso fogo pesado, logo que se localizassem os pontos de origem do fogo pesado IN. Nesse percurso entrou uma canhoada a cerca de dez metros de mim que entrou pelo depósito de géneros causando alguma destruição. Entretanto, o nosso posto mais acima no quartel, onde tínhamos alguns elementos utilizando também um morteiro pesado, fazia o seu trabalho de contenção, respondendo em conformidade.

O ataque durou cerca de vinte minutos.

O grupo de assalto IN movia-se perto do arame farpado, fazendo fogo. O nosso pessoal despejava metralha. Uns enchiam carregadores e outros disparavam. A bazuca não funcionou.

Esperámos nova vaga… mas ela não aconteceu… porque eles tiveram algumas baixas, graças à competência do nosso camarada furriel Josué Chinelo, do Pelotão de Artilharia [obuses 10,5] instalado no Xime, onde este observava perfeitamente, em posição privilegiada da margem esquerda do rio Geba, o desenrolar dos acontecimentos. 

Com a sua experiência e saber, ainda que a olho nu, apontou ao ponto de origem do fogo pesado IN (canhão s/r) e… foi na muche. Acertou no posto de comando e fez algumas baixas entre os quais o comandante. Entretanto eles já tinham despejado o fogo todo. 

Nessa altura chegou a milícia da tabanca com um ferido grave, um sargento de um dos pelotões. Ainda enviamos um grupo até ao rio para evacuar o ferido e recolher mais munições pois o stock tinha ficado muito em baixo. O ferido entretanto faleceu durante a caminhada. 


Foto 4 – Enxalé 1972 – Panorâmica da Tabanca… com o Geba pelas costas. Ao centro da imagem era a pista do Heli.

IV– DEPOIS DO ATAQUE

No dia seguinte, como seria de esperar, fizemos o reconhecimento do terreno. Encontrámos um ferido IN junto ao arame farpado; tinha um ferimento grave nas costas e outro na perna e estava em mau estado, crivado de estilhaços. É de assinalar que este ferido pertencia ao grupo de assalto; tinha vindo da zona do Morés. Estava ferido, mas que eles julgaram morto por isso levaram a sua arma. Vestia uma farda de nylon verde azeitona, calçava bota de lona francesa e as calças tinham elásticos nas bainhas para passar por baixo do pé.

Ainda nesse dia recebemos a visita do nosso comandante, Ten. Cor. António Tiago Martins [1919-1992], que tentou interrogar o ferido mas sem grande sucesso, sendo este evacuado, depois, para Bissau.

A primeira questão colocada pelo nosso comandante foi: “gastaram muitas munições” …. !!!!???? [fiquei aparvalhado].

Viemos a saber dias depois, por informantes privilegiados, que o IN tinha feito a sua aproximação durante o dia. Ficou na orla da bolanha e quando anoiteceu montou o dispositivo.

O esquema foi o seguinte: 

1) A força principal na mata do lado da tabanca. 

2) Alguns atiradores dispersos à volta do quartel para dividir o nosso potencial de fogo para zonas sem importância. 

3) Um grupo de assalto [o do ferido] oriundo de um mangal e outro arvoredo do lado esquerdo do quartel [para quem está de costas para o Xime, logo a seguir ao final da bolanha).

O mais curioso é que montaram o canhão s/r na bolanha, junto a uma árvore isolada, e que não era visível do quartel mas amplamente observado do Aquartelamento do Xime e que foi [bem] aproveitado pela experiência do Josué Chinelo.

Entretanto eu fui de férias e foi aí que o Jorge Araújo se deslocou ao Enxalé até à chegada do Alferes José Henriques Araújo.


Foto 5 – Enxalé 1972 – Entrada da Tabanca.


Foto 6 – Enxalé 1972 – A casa ao centro era a habitação do antigo fazendeiro do Enxalé antes da Guerra. No nosso tempo aí funcionava a Sala do Comando e o refeitório. À direita era o abrigo das transmissões e na retaguarda estava localizado o abrigo do morteiro. 

Quando aconteceu a tragédia no Rio Geba [em 10 de Agosto de 1972] eu já estava por cá, em Lisboa.
Em suma, esta é a minha versão dos acontecimentos relacionados com o ataque ao Enxalé, visto tê-los vivido de forma especial e muito intensa. Outros pormenores devem existir, justamente para engrossarem este esqueleto, mas só com a contribuição dos meus companheiros desse dia.

A História faz-se com a recolha de informação de várias fontes.

Concluo recordando o que consta, a este propósito, na História da Unidade:

- “Em 192030, o Destacamento do ENXALÉ foi intensamente atacado e durante 20 minutos. A nossa reacção surgiu pronta e ajustada. Sofremos 1 morto [Milícia] e 2 feridos [Milícias]. O inimigo: 4 mortos, 7 feridos e 1 prisioneiro. Salienta-se o tiro acertado de Artilharia do XIME em apoio às forças atacadas” [p.74].

– O GRUPO DO MARCELINO DA MATA


Foto 6 – O Marcelino da Mata, o 2.º da esquerda, acompanhado de elementos do seu grupo em 26MAR1973, no momento em que o Ten. Miguel Pessoa é resgatado depois da sua aeronave ter sido atingida, na véspera, por um míssil Strela [P12265-LG, com a devida vénia]. Provavelmente alguns dos elementos na foto participaram, também, nas missões do mês de Julho/1972 efectuadas no Enxalé.

Espero ter contribuído com alguma coisa.

Um abração.
Luciano de Jesus
ex-Fur. Mil., CART 3494.
06DEC2014
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Nota de M.R.: 

Vd. Também o último poste desta série em: 


Guiné 63/74 - P14021: A minha máquina fotográfica (10): Cerqueira, a Olympus Pen D3 que tens há 40 anos para entregar a um furriel da CCAÇ 13, a pedido do libanês Alfredo Kali, de Bissorã, deve ser do Alberto de Jesus Ribeiro, de Estremoz ( Carlos Fortunato, ex-fur mil trms, CCAÇ 13, Os Leões Negros, Bissorã, 1969/71; presidente da direcção da ONG Ajuda Amiga)


1. Mensagem que mandei ontem ao Carlos Fortunato, com conhecimebto ao Henrioque Cerqueira, a propósito de uma Olympus Pen D3,  de um furriel, Guerreiro, da CCAÇ 13:

 Carlos:

Saúde!... Dá uma vista de olhos a este mail e vê se podes ser útil ao nosso camarada Cerqueira, que também esteve na tua CCAÇ 13, em Bissorâ, na parte final da guerra...

Ele anda à procura do fur mil Guerreiro, algarvio, que veio antes dele... Tem uma encomenda para lhe entregar, há 40 anos... Pode ser que tu tenhas alguma pista, já que vais a Bissorã todos os anos e conheces muita malta da CCAÇ 13...

Entretanto, como estão as coisas este ano ? O contentor sempre vai seguir ? Dispõe do blogue para dar notícias da Ajuda Amiga...

Bons augúrios para 2015. Luis



2. Resposta de hoje de manhã do Mensagem de Carlos Fortunato  [ ex-fur mil trms, CCAÇ 13, Os Leões Negros, Bissorã, 1969/71, e presidente da direcção da ONG Ajuda Amiga]  ao Henriqu Cerqueira, com conhecimento ao editor LG, em resposta aos mails que me mandei ontem;

 De: Carlos Fortunato 

Data: 13 de dezembro de 2014 às 06:26

Assunto: Máquina Olympus de Furriel da CCaç 13

 Cerqueira: O Luís Graça deu-me a conhecer o teu email sobre a Olympus
 do furriel Guerreiro, mas não existia nessa altura nenhum furriel
Henriqiue  Cerqueira
 Guerreiro, existiam 2 furriéis do Algarve,  o Eduardo Coelho Silva, mais conhecido por Eduardo, e o José Teodoro Cabrita Vieira, mais conhecido pelo "Russo".

Se a memória não me falha (e às vezes falha nalgumas coisas), o único que tinha essa máquina era o furriel Alberto de Jesus Ribeiro, mais conhecido por Ribeiro, era uma máquina excelente, creio que a comprou em Bissau, tirava melhores fotos que a minha que era mais sofisticada, e que até tinha um sistema reflex, comprei-a em 2º mão em Lisboa.

Infelizmente o Ribeiro perdeu as fotos que tirou.

No último almoço da Ccaç 13 a que fui,  até perguntei ao Ribeiro pela máquina fotográfica, mas já não me lembro bem da resposta, mas creio que foi que ela se avariou.

Não me lembro de ninguém com o nome Guerreiro na CCaç 13 (qualquer que fosse o posto), nem nas minhas listas da CCaç 13 tenho alguém com esse nome.

Por isso tens a minha hipótese de que essa máquina é do Ribeiro (o som do nome até é parecido), mas ele não é do Algarve, creio que é de Estremoz, no entanto o "Russo",  que também era furriel no mesmo pelotão (1º pelotão da Ccaç 13), era do Algarve e talvez na conversa que tiveste com o Alfredo [Kali] ela tinha ido parar ao Algarve.

O fato de ele a dar ao Alfredo faz sentido, pois o Alfredo ia frequentemente a Bissau, coisa que nós não podíamos fazer, e como ela tinha sido comprada em Bissau, o Ribeiro teria tentado acionar uma eventual garantia ou reparação.

O comerciante Alfredo [Kali] continua vivo, quando lá fui este ano em Março/Abril, disseram-me que estava em casa, ele não está lá sempre, tinha lá ido por causa do negócio do cajú, fui a casa dele à tarde [, em Bissorã,] mas disseram-me que estava a fazer a sesta, e depois não tive tempo de lá voltar outra vez, pelo que não falei com ele.

Não tenho email do Ribeiro,  nem dos restantes, mas fica aqui o telefone (919 364 941). Nos emails que trocámos anteriormente,  não sei se ficaste com o do Adriano Silva, que era do pelotão do Eduardo, por isso vou encaminhar este email também para ele, pois ele pode esclarecer se o Eduardo tinha alguma máquina Olympus, é ele quem organiza o próximo almoço da CCaç 13.

Lembro-me de me dizeres que estiveste pouco tempo na CCaç 13, mas aparece no próximo almoço da CCaç 13 e podes falar com o Ribeiro, e entregar-lhe a máquina, ele costuma aparecer.

O almoço da CCaç 13 é sempre no último sábado do mês de Maio.

Um abraço

Carlos Fortunato
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P14020: Fotos à procura de... uma legenda (48): O fim das hostilidades entre as NT e o PAIGC em Mansoa (Mário Vasconcelos, ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72, Mansoa, e Cumeré, 1973/74)


Foto nº 1 > Sem legenda


Foto nº 2 > Sem legenda


Foto nº 3 > Sem legenda

Guiné > Região do Oio > Mansoa >  CCS/BCAÇ 4612/72 >  c. Julho de 1974 > O encontro entre as NT e o PAIGC. Sabemos, através do Jorge Canhão [ ex-fur mil at inf da 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74] que estas fotos devem dizer respeito  aos primeiros contactos com o PAIGC na região, com vista a cessação das hostilidades. Uma delegação do PAIGC passaria depois a estar sediada, permanentemente,  em Mansoa, a partir de 19 de julho de 1974. (*)


Fotos: © Mário Vasconcelos (2014). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Mensagem, com data de 9 do corrente,  de Mário Vasconcelos [, ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72, Mansoa, e Cumeré, 1973/74; foto atual à esquerda]:

Anexo três fotos correspondentes ao final das hostilidades em Mansoa - Guiné 1974- (*)

Um abraço colectivo e votos de um Santo Natal.

Mário Vasconcelos (**)

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sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14019: Memórias de Gabú (José Saúde) (48): Natal de 1973, em Gabu



1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua fabulosa série.

As minhas memórias de Gabu

Natal de 1973, em Gabu

Festa no quartel

Diz o poeta, e expele com garra o cantor, que o “Natal é sempre que o homem quiser”. Partilho com os camaradas esse velho dito que se propagou numa sociedade cristã que sempre soube honrar a festa natalícia no mais recôndito lugar deste pequeno país à beira plantado.

Rebobino a fita da longa metragem da vida e recordo com saudade o Natal na minha querida Aldeia Nova de São Bento. O frenesim de uma criança que não conseguia dormir, perspetivando a eventual descida pela chaminé do imaginado Menino Jesus.

Antes, porém, numa atitude de pura inocência, lá colocava os sapatinhos ao canto da chaminé, onde um lume enorme consumia noite fora as chamas que aqueciam o sonhado Menino. E eu, ingenuamente, acreditava no palavreado da minha saudosa mãe que pintava o quadro com o rigor que a noite fria então aconselhava.

O tempo passou e o Natal, festa de família, determinou outras presunções a um jovem que continuou a aceitar a velha opinião que a quadra natalícia, era, afinal, uma tradição que se haveria de manter.

E é nessa viagem alucinante com a qual me deparei ao longo dos anos, que dei por mim a festejar o Natal de 1973 na Guiné, Gabu.

Recorro às minhas memórias e deixo expresso no nosso blogue mais um texto deste velho combatente.

“A noite da consoada de 1973, quente e de luar, deixou-me imensas recordações. Lá longe, num outro ambiente completamente antagónico, a família juntava-se à volta de uma lareira e cumpria a tradição. Era a noite do Menino.

Em Nova Lamego a festa era outra. A malta não se deliciava com as filhoses da avó, não comia o ensopado do galo à meia-noite, não sujava os lábios com os finos chocolates, tão-pouco contemplava as prendas deixados no sapatinho pelo Menino Jesus a um canto da chaminé, enfim, uma série de tradições que, na altura, se protelavam no tempo.

Na região de Gabu o Natal desse ano, já longínquo, foi inteiramente adverso àquele que marcou a minha juventude. Recordo que os momentos de festa nos palcos de guerra deixavam antever, e sempre, preocupações acrescidas.

Fazendo jus ao calor que se fazia sentir por aquelas bandas de África, resolvi dar treta à malta com momentos de atração teatral, recordando com ênfase o momento vivido. Ah, naquele instante já me sentia atraído pelas gotas de whisky que baldavam o meu corpo e me atacavam as pernas.

O Natal sempre se apresentou para mim como um momento nostálgico que curto com um místico de eterna saudade e de sentimentos múltiplos que muito me ajudaram a entender a filosofia da vida. Recordo os velhos tempos da minha aldeia. As noites infinitas, e chuvosas, de natais passadas a apanhar o calor do lume feito no chão. Diz o poeta que “Natal é sempre quando o homem quiser”. É verdade. Partilho por inteiro esta tamanha convicção. Na Guiné, aliás, como em qualquer outra parte do Mundo Cristão, nós vivemos o Natal de acordo com o ambiente em que fomos criados. É herança de gerações.

A noite de 24 para 25 de Dezembro em Nova Lamego esteve ao rubro. Alguém (eu, particularmente) acicatou a malta e toca a lembrar a rapaziada que o tempo, aclamado de divino, proporcionava momentos de laser. De relaxe puro. Procurei a indumentária que julguei apropriada, escrevi dizeres equacionados com a época vivida e toca a alegrar os camaradas de armas.

Escusado será dizer que a noite foi regada com uma mistura de álcool que me levou para a cama completamente toldado. Mas a noite da Consoada foi passada com euforia, confesso. Uma achega: uma Ballantines velha – 12 anos - custava naquela época 40 escudos, se a memória não me falha. O seu beber era divinal. Aliás, a destilação do precioso líquido era feita em pleno coração da Escócia, comentava-se. 

No dia 25, dia de Natal, o 2º Sargento da nossa messe, de nome Martins, creio, um alentejano de Elvas, brindou-nos com um almoço reforçado e a malta divertiu-se à brava.

Momentos imperdíveis que jamais esqueceremos e passados em pleno palco de guerra. 


POSTAL ALUSIVO
 ALMOÇO MELHORADO E REFORÇADO
 O 2º SARGENTO MARTINS, RESPONSÁVEL PELA GESTÃO DA MESSE
EU DISCURSANDO ÀS TROPAS

Um abraço camaradas, 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 



Guiné 63/74 - P14018: A minha máquina fotográfica (9): a minha "arma de recordações" era uma Chinon M-1... E também tenho uma Olympus Pen D3, à espera, há 40 anos, de ser entregue ao seu dono: o ex-fur mil Guerreiro, da CCAÇ 13, algarvio de Boliqueime, tanto quanto sei... Ele por favor que me contacte... Foi o libanês Alfredo Kali que me encarregou da encomenda... (Henrique Cerqueira, ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, e CCAÇ 13, Bissorã, 1972/74)



Esta foto foi tirada pelo Guerreiro, ex-fur mil, CCAÇ 13, que terminou a sua comissão antes do 25 de abril de 1974, e cujo paradeiro o Henrique Cerqueira desconhece (, presumindo-se que viva no Algrave, takvez em Boliqueime). Esta foto tem como centro a máquina do Henrique Cerqueira, a Chinon M-1, e as fotos por ela tiradas... muitas delas já publicadas no blogue. Destaque para a esposa, Maria Dulcineia (NI) e para o filho Nuno que estiveram alguns meses na Guiné com o nosso camarada...


Uma Olympus Pen D3, igual à do Guerreiro...  Uma máquina lançada em 1965. (Fonte:Cortesia da Wikipedia)


Chinon M-1, japonesa, de c. 1972 (segundo informação da Camerapedia Wiki). 


Foto: © Henrique Cerqueira (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]


1. Mensagem, com data de 8 do corrente, do  Henrique Cerqueira [ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, e CCAÇ 13, Bissorã, 1972/74; casado com a Maria Dulcinea (NI), também nossa grã-tabanqueira]



Camarada Luís Graça.

Não resisti enviar umas fotos da minha “arma” de recordações da Guiné e ao mesmo tempo fazer a minha “prova de vida”, tal como solicitaste .

Mando assim em anexo duas fotos da minha máquina que ainda hoje a preservo com muito carinho e tentei compor um pouco a imagem com algumas fotos tiradas na altura . Por tal espero assim contribuir um pouco para o relembrar os nossos feitos fotográficos que cada um o ia fazendo conforme as possibilidades que tinha no terreno.

Luís,  foi muito bom que trouxesses este tema porque tenho que te pedir se é possível publicar neste poste um apelo que tem tudo a ver com o tema.

Então é assim: No final da comissão e talvez em junho de 1974,  quando nos preparávamos para regressar, o Alfredo Kali, m comerciante libanês que estava em Bissorã (parece que ainda está), veio pedir-me que trouxesse uma máquina fotográfica “ Olympus” para entregar a um ex-camarada que tinha regressado á metrópole mais cedo e tinha deixado essa máquina a reparar no Alfredo,  com a esperança que ele a enviasse por correio. Mas, e segundo o Alfredo, naquela altura do 25 Abril e com alguma confusão á mistura,  ele  recebeu a máquina de Bissau (por sinal sem reparação da avaria) e, como havia alguma amizade entre nós, ele me pediu se a entregava quando chegasse a Portugal.

Entretanto ficou de me dar a morada desse meu camarada e nunca a deu . Regressei e nunca consegui entrar em contacto com o meu camarada .

Hoje temos o nosso blogue e o Facebook... Na esperança que leia um destes meios e com este tema tão a propósito eu te peço que,  se possível,  publiques este meu pedido .

Bom,  falta pelo menos tentar identificar o meu ex-camarada, dono da Olymopus Pen D3:

Era:

(i) furriel miliciano na CCAÇ 13;

(ii) regressou á Metrópole antes de Abril de 74 (já não me lembro quando…);

(iii)   o seu nome é GUERREIRO (só o conhecia por este nome);

(iv)  natural do Algarve;

 e (v) penso que vivia em BOLIQUEIME.

Ei sei que estes dados são muito escassos, mas a ideia é que se o próprio conseguir ler este apelo e estabelecermos contacto, as coisas se tornarão mais claras.

Gostaria tanto de,  ao fim de 40 anos,  conseguir entregar a máquina ao eu dono. Em anexo envio a foto da máquina que é a Olympus Pem D3. A outra é uma Chinon é a minha.

Luís um abraço e obrigado. Henrique Cerqueira

Nota: a foto P1010311 é a do Guerreiro.

2. Comentário de L.G.:

Henrique, obrigado. A tua história merece ser divulgada. Vamos fazer tudo para encontrar o Guerreiro. És um homem do norte, de grande nobreza de carácter. Um bom Natal e um melhor ano, para ti, a Ni, o Nuno e demais família. LG

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P14017: Manuscrito(s) (Luís Graça) (40): Maresias, Lisboa, Tejo, memórias, amnésias... Parte I: Lisboa, como é bom rever-te, Tejo e tudo...


Lisboa > Museu de Lisboa > Torreão Poente da Praça do Comércio > Exposição "Maresias: "Maresias: Lisboa e o Tejo, 1850-2014" (de 14 julho a 19 dezembro de 2014) (*) > "Praça do Comércio". Litografia colorida. A Editora. Século XIX (finais). Museu da Cidade.

[Foto: Luís Graça (2014). Imagem reproduzida com a devida vénia, e para fins informativos]

Como é bom rever-te, Lisboa, Tejo e tudo

por Luís Graça (**)


Lisboa, sete colinas, o rio, uma paixão,
que deram origem
à arte e à ciência de fazer cocktails
de cores, sabores e sentimentos.
E tu, querida, 
eras uma das meninas que ficava bem,
à janela, recortada,
em pórtico manuelino da Casa dos Bicos
ou no laranjal da estória da Nau Catrineta,
desenhando frágeis castelos de Espanha
nas areias movediças de Portugal.

Lisboa, menina e moça,
cidade de memórias e de afetos,.
tu podias não saber nada de geografia,
nem da didática da educação de adultos,
nem da fisiologia do coração,
nem de macroeconomia,
nem de desenho a três dimensões,
nem do risco sísmico,
nem sequer do simples risco de existir e de estar viva.
Mas sempre tiveste por perto
o estúpido pirata de perna de pau,
vesgo e maneta,
irrompendo os teus sonhos
com o pesadelo do sentimento de um ocidental
na ponta mais fina de uma espada,
guardada na Torre de Belém.

Lisboa,
o casario, o castelo, a mouraria,
e, rente ao chão, a devoção,
a procissão da Senhora da Saúde,
que nos valia nos anos de peste,
nos meses de guerra,
nas semanas de fome
e nos dias de depressão,
a depressão funda, cavada,
do vale de Alcântara até Xabregas.

Lisboa, a Torre do Tombo,
os livros, os incunábulos, os alfarrabistas,
as pedras, as cantarias, as traves mestras
que nos falam da cidade em construção,
dos arquitetos, dos trolhas, dos estucadores,
das gaiolas pombalinas,
dos tristes, 
dos saudosos da partida,
dos pintores de tabuletas e de retábulos dourados das igrejas,
dos aguadeiros, 
do poço do mouros e do poço dos negros,
dos almoxarifes, 
dos vedores, 
dos provedores,
dos coveiros da pátria,
dos enfermeiros-mores,
dos físicos e dos tísicos,
do Carmo e da Trindade, outrora de pedra e cal,
dos agiotas, das tenças e das mercês,
dos engenheiros hidráulicos, 
dos agrónomos, 
dos agrimensores,
dos silvicultores do pinhal d’el-rei,
dos santos inquisidores,
das freiras e das frieiras 
que é coçá-las e deixá-las
no cemitério de todos os prazeres.
Ah, aí onde a vida acaba
na ponta de uma naifa no Bairro Alto das fadistas
e na Baixa Chiado dos seus chulos.

Mas não de tédio, minha querida,
diz o pregão da varina,
nem de desesperança,
que ainda a noite é uma criança,
e enquanto houver o 28 para a (Des)Graça
com bilhete de ida e volta,
as Escadinhas do Duque
ou a Calçada do Combro
e os escombros do terramoto
por subir, trepar ou escalar.
E os filetes de alfaquique ou peixe-galo 
com açorda de ovas
que não vão à mesa do rei.
E os pastéis de Belém com IVA
e o bife dos ricos à Marrare
e as iscas, dos pobres, com elas
nas carvoarias dos galegos
e o cheiro a carvão e a sardinha,
linda que tresanda,
nas ruelas e vielas dos bairros impopulares,
por fim reordenados,
e livres do tifo, da febre amarela,
da cólera, do bacilo de Koch
e das paixões cegas da alma.
E o Portugal very tipical do António de Ferro,
descalço e de barrete encarnado,
com que te quiseram tramar;
e as sécias e os peraltas da Belle Époque
que a Avenida da Liberdade
acaba na rotunda das edificantes públicas virtudes
e no beco dos mais torpes vícios privados.

Tu, terna, eterna, Olissipo,
onde o azul do céu é único,
diz o ofício do turismo,
e nos leva a todos os caminhos do infinito.
Ulisses sabia-o e bem guardado estava o segredo
do mais fundo do tempo.
E por isso fundeou no estuário do teu Tejo,
e te fundou e fecundou,
e trouxe com ele a caixinha de Pandora,
e os perfumes inebriantes das mais belas:
troianas, fenícias, gregas,
cartaginesas, romanas,
celtas, ibericíssimas,
godas, visigóticas,
mouras encantadas,
berberes, azenegues, 
judias sefarditas,
futa-fulas, mandingas, 
pretas da Senegâmbia,
crioulas de carapinha e olhos verdes,
ameríndias, guaranis,
bárbaras, belas, pérfidas, ubérrimas,
santas e peregrinas, 
errantes e penitentes,
místicas, algures perdidas,
loucamente perdidas
nos caminhos marítimos para as Índias.

Que te importa, amor,
se Lisboa já não é uma praça forte,
uma bolsa contra os valores
daqui d’el-rei
que o paço e o terreiro,
o trono e a régia cabeça,
tremem e estremecem,
entre o Martinho e a Arcádia,
na iminência de um ataque terrorista
ou da implosão do euro.
Dantes chamava-se anarquista, à bomba regicida,
quando a palavra de ordem era
a bolsa ou a vida, abaixo o Estado!
E não havia as avenidas novas, do Ressano Garcia,
nem o risco dos engenheiros,
nem o cordão sanitário,
nem a construção a custos controlados,
nem o prémio Valmor,
nem o Siza nem o Moura,
nem o fundo de mão de obra,
nem o Dow Jones ou o NASDAK.
Nem a apagada e vil tristeza
que te matou, 
meu irmão Luís de Camões.

E estavas tu, querida, 
postada à janela,
descalça e de xaile preto,
em sossego e bom recato,
com vistas largas para o casario, a sé, o castelo,
o mar da palha, 
o mundo vário,
a rua do ouro e a da prata,
o augusto senhor dom José a mata-cavalos,
a serra, a arrábida fóssil,
a armada outrora invencível,
a ribeira das naus,
e as iscas com elas a cinco paus,
o turista, o voyeurista,
o motorista
do senhor ministro sem pasta
nem forragem para o gado na canícula do verão,
nem para os puros sangues lusitanos da alcáçova,
nem sangue nem soro para os heróis menores, anónimos,
da guerra colonial
que vieram morrer na praia do 10 de junho,
o velho do Restelo,
que já foi praia sem bandeira azul nem glória,
o velho do Restelo agora ainda mais velho
e mais estupidamente lúcido e cruel,
o Cesário e a sua idiossincrasia,
o Cesário, verde e rubro, nos estádios dos eurofutebois,
mais o Eça de Queiroz, o estrangeirado,
que te amava à maneira dele,
a Sofia, a deusa, a olímpica,
o Almada e os seus marinheiros sem futuro,
o Bocage e o seu filho, Ary, debochados, panfletários,
mais o O'Neil, que era tão louco quanto irlandês,
e o luminoso Eugénio mais o Andrade,
e ainda a Amália e a nossa estranha forma de vida,
e tantos outros poetas que te cantaram,
e que morreram de amores e desamores por ti,
entre o Cais das Colunas e o Cais do Sodré.
Ah, e o Pessoa,
subindo e descendo o Chiado,
de braço dado contigo,
recitando-te o heterónimo:
A rapariga inglesa, tão loura, tão jovem, tão boa
Que queria casar comigo…
Que pena eu não ter casado com ela…
Teria sido feliz.
Mas como é que eu sei se teria sido feliz ?


Esquece o Álvaro, o Campos, o sedutor,
e deixa-me pôr-te a caminhar
pelos caminhos ínvios e íngremes
desta cidade-sortilégio,
que nós amamos no singular
e maltratamos no plural…
E se, contudo, há um privilégio,
é sempre o da amizade e do amor,
é esse de poder ter-te
ao alcance da mão e do coração dos amantes,
entre  o Rossio e o Terreiro do Paço,
ou de permeio, a Rua Augusta,
entre a liberdade sem rua nem abrigo
e os segredos de polichinelo da tua caixa de correio.

É, enfim, esse privilégio de poder dizer-te,
no regresso da última nau do império:
Como é bom rever-te,
Lisboa, Tejo e tudo.


Lisboa, Terreiro do Paço, 20 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P14016: Agenda cultural (364): Camarada, uma exposição a não perder, até ao dia 19 ( e, se a perderes, ficas mais pobre..): "Maresias: Lisboa e o Tejo, 1850-2014", no Torreão Poente do Terreiro do Paço (agora integrado no novo Museu de Lisboa)


Lisboa > Cais da Ribeira > A doca da Caldeirinha


Lisboa > A estátua equestre de Dom José I no centro da Praça do Comércio


Lisboa > 8 de dezembro de 2014 > O renovado Cais da Ribeira, com destaque parea a doca da visto  Torreão Poente do Terreiro do Paço. Em primerio plano, a doca da Caldeirinha


Lisboa  > 8 de dezembro de 2014 >  O Tejo visto de um janela do Torreão Poente do Terreiro do Paço (agora parte integrande do novo Museu de Lisboa, ex-Museu da Cidade)


Fotos: © Luís Graça  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]


1. Exposição: "Maresias:  Lisboa e o Tejo, 1850-2014"

Data / horário: de 14 julho a 19 dezembro | todos os dias | 10h00-20h00

Local

Torreão Poente do Terreiro do Paço

Terreiro do Paço, Lisboa

Visitas guiadas aos sábados às 15h00 (português) e às 17h00 (inglês)

Preço: 3€ | bilhete Família: 8€ ! Séniores: 2 €
Catálogo: 5€
+ Info T. 914 273 871 | email: maresias.expo.lisboa@gmail.com

2. Exposição fotográfica e documental, organizada em 6 núcleos: 

Cais dos Aventureiros, 
Terreiro do Paço, 
Barcos do Tejo, 
Cais do Sodré, 
Arsenal
e Fantasias Lisboetas, 

Caros leitores, camaradas e amigos:

E uma pena perderem esta exposição que vai acabar, oficialmente, no dia 19 do corrente. 

Eu, que sou um apaixonado por esta cidade, pelo rio Tejo, e pelo Terreiro do Paço, onde trabalhei uns largos anos, nas décadas de 1970/80, adorei ver, com tempo e vagar, esta exposição.... Eu chamar-lhe-ia "Maresias: Lisboa, Tejo, um século e meio de memórias e amnésias"... Eu explico: a amnésia, provavelmente, não intencional, é a ausência de um núcleo sobre o porto de Lisboa, p.d., e em especial, o Cais da Rocha Conde de Óbidos, donde partiram nos anos 60/70 mais de um milhão de homens para a guerra colonial...

Não percebo o critério do comissariado, constituído por José Sarmento Matos (comissário científico) e António Miranda e Margarida Almeida Bastos (Museu da Cidade), que optou por confinar a frente ribeirinha de Lisboa à zona que vai de  Xabregas a Santos, deixando de fora Alcântara, por exemplo... Ora um dos 6 núcleos da exposição são as "Fantasias de Lisboa", que inclui a Exposição do Mundo Português (1940) (em Belém) e a Expo' 98 (na zona oriental da cidade, que vai da Matinha e Cabo Ruivo até à Foz do Rio Trancão)...

Lisboa e sobretudo o Tejo, e o seu estuário (que é o maior da Europa) fazem parte também das nossas memórias e do nosso imaginário, enquanto  combatentes da guerra colonial.  Foi do Cais da Rocha  Conde de Óbidos  que muitos de nós partimos, por mar,   para a Guiné, nos T/T Uíges, Niassas, Anas Mafalda, Alfredos da Silva... Ou foi nos bares das putas do Cais do Sodré que bebemos o último uísque marada antes de subir o portaló do navio onde fizemos o "cruzeiro das nossas vidas"... Mas isso é outra história (que contamos aqui no nosso blogue há mais de 10 anos)... Como é outra história as dezenas de milhares de contentores, com os restos do império, os haveres dos "retornados e África", que atravancaram os cais do Porto de Lisboa, durante anos, emparedando os "amantes do Tejo"...

Eu sei que esta é a parte dolorosa da nossa história recente, dos anos 60 a 80 do século passado (a guerra colonial, a descolonização, o fim do império) de que os olipógrafos provavelmente não gostam muito de falar...

De qualquer modo, aqui fica o  convite, dos organizadores,  para  "uma viagem entre Xabregas e Santos, zona de contínuas e profundas transformações que se intensificaram a partir de meados do século XIX, por força da aceleração imposta pela tecnologia e modernização".

(...) "Cantada por fadistas, celebrada por poetas e, por vezes, maldita pelos lisboetas, a maresia que, por força da geografia, o Tejo empresta à cidade, é o fio condutor d[est]a exposição" que o Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa e a EGEAC organizaram no Torreão Poente do Terreiro do Paço.

É comissariada por José Sarmento de Matos, ilustre olissipógrafo,  com António Miranda e Margarida Almeida (Museu da Cidade).

"O Tejo, intemporal, e as suas margens, alteradas pela natureza e pelo homem, reuniram ao longo dos cerca de 160 anos retratados nesta exposição um vasto património material e imaterial feito de histórias, edifícios, projetos, pessoas, objetos."

Camaradas, os de Lisboa e arredores, aproveitem este fim de semana, para verem as "Maresias",,, de que todos nós, portugas, somos feitos,,, Parafraseando a Sophia de Mello Breyner, "mar, metade da minha alma é feita de maresias"... (LG).

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Nota do editor:

Último poste da série > 7 de dezembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13984: Agenda cultural (367): Apresentação do livro "Angola, Terra d'Uanga", de autoria do Comandante Luís Vieira da Silva, dia 11 de Dezembro de 2014, pelas 15h00, na Messe de Oficiais, Praça da Batalha, Porto (Manuel Barão da Cunha)

Guiné 63/74 - P14015: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (35): IMPÉRIO sem TAP versus TAP sem IMPÉRIO

1. Mensagem do nosso "mais velho" António Rosinha [ foto atual à direita, tirada em Pombal, 2007, no nosso II Encontro Nacional; ex-fur mil em Angola, 1961/62; ex-topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979/93; membro da nossa Tabanca Grande]:


Data: 11 de dezembro de 2014 às 21:55

Assunto: IMPÉRIO sem TAP versus TAP sem IMPÉRIO


Luís Graça, com um abraço, envio algo que não tem a ver com a guerra militar mas com a nossa história ultramarina. Se entenderes que tem alguma coisa a ver publica ou não.



A TAP é o último grande símbolo que nos lembra, aos mais velhos, a ditadura de Salazar e suas/nossas colónias.

Quando as companhias de navegação, Companhia Colonial de Navegação, e Companhia Nacional de Navegação,  desapareceram com o fim do Império colonial e com a revolução de Abril, até nem se esperava que a TAP sobrevivesse, por se tornar um "luxo" tão supérfluo como o Vera Cruz, o Santa Maria, ou o Príncipe Perfeito e o pequeno Uige.

Mas se o povo que vivia nas colónias pensava assim, durante o PREC, para quem não vivia nas colónias a TAP, essa, dizia-lhe tanto como uma «viola num enterro», nada.

E porque sobreviveu esta companhia TAP?

Hoje compreende-se porque a TAP durou como Empresa Pública durante estes 40 anos, mesmo sem o povinho pensar no assunto, excepto quem continuasse a viajar para as colónias, que pensava bem no assunto.

Avião da TAP no aeroporto da Guiné-Bissau,
em abril de 2006. Foto de Hugo Costa (2006)/Blogue Luís
Graça & Camaradas da Guiné
É que ao contrário das Companhias de Navegação que eram privadas e os donos não tinham mais capacidade de suportar, a TAP era empresa pública, e continuando viva, estava garantida uma grande «mamata» para uns tantos senhores.

Até a malta se esquecia que aquilo tinha sido uma das obras primas de ditadura de Salazar, e ao contrário da Ponte, nem era preciso cambiar o nome à Companhia TAP porque tudo lhe ficava bem.

Mas agora que as "mamatas" devido às crises estão mais difíceis de manter, fala-se que a TAP corre o risco de se privatizar.

E, politicamente e simbolicamente, para uns é verdadeiramente o "fim do Império", mas para outros não passa do fim da tal "mamata" que os subsídios e compensações do Estado vão suportando fazendo greves pela Páscoa, Natal e Férias de verão.

A TAP chegou a fazer greves por simples apoio a greves de CP e do Metropolitano.

Quem profissionalmente tenha viajado muito para Angola, Guiné e Madeira e outras partes do mundo sabe muito bem o que é o horror das greves da TAP pontuais como um relógio suíço nas férias de quem trabalha no exterior.

Hoje sabe quem viaja muito que quaisquer companhias low cost resolvem o nosso problema de transporte aéreo sem custos para o Estado e não alimenta «funcionários» encostados ao orçamento.

Mas uns por saudosismo e sentido histórico gostariam de ver a nossa velha TAP no ar como empresa portuguesa, a ligar pelo menos o mundo onde se fala português.

Mas infelizmente, parece que tudo tem sido feito para não ficar nada, nem do que foi bom nem do que foi mau.

Parece que até certas embaixadas que existiam em Lisboa Salazarista, quando estávamos orgulhosamente sós, hoje residem em Madrid.

Será que o Estado não tem capacidade para administrar a TAP, nem que recorra a um brasileiro como a selecção de futebol fez?

Claro que a mim podem tirar-me tudo,  menos a saudade.

Um abraço

Antº Rosinha

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Guiné 63/74 - P14014: Convívios (646): Magusto do Combatente no Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, dia 29 de Novembro de 2014 (Armando Costa / Abel Santos / Carlos Vinhal)

Magusto do Combatente no Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes

No dia 29 de Novembro, pelas 12h30, dezenas de sócios, familiares e amigos, reuniram-se nas instalações do Núcleo no tradicional Magusto do Combatente. 

Logo à chegada e no hall de entrada do edifício, foram depositados donativos em géneros alimentares (arroz, massas, farinha, bolachas, cereais) e produtos de higiene (sabonetes, pasta de dentes, escovas de dentes, papel higiénico) para doar às famílias mais carenciadas da freguesia, por forma a dar resposta à campanha que está a decorrer no âmbito da Rede Social de Matosinhos/Comissão Social de Freguesia de Leça do Balio, de que o Núcleo é membro efetivo.

Os donativos trazidos pelos participantes no Magusto do Combatente

Num ambiente já assumido por todos como familiar, o almoço iniciou-se depois do Presidente da Direção tecer algumas considerações sobre o programa para este dia, sobre a organização/tarefas a ter em conta para o bom desenrolar do referido almoço e igualmente sobre a vida interna do Núcleo e da Liga dos Combatentes.

O TCor Armando Costa sempre atento, comandando as hostes

Começando pelas entradas, continuando com carapaus, fêveras e entremeada grelhadas, batata cozida, caldo verde e as famosas castanhas “Longal” de Serapicos/Bragança, acompanhadas por vinho branco e tinto, e terminando com as sobremesas e o café, “o objetivo foi integralmente conquistado” devido, em grande parte, ao trabalho árduo e incansável do nosso “chef de cozinha” e Secretário do Núcleo, Sargento Ajudante Joaquim Oliveira, um autêntico profissional no ramo no que toca fundamentalmente “no fazer e no orientar”.

O incansável SAj Joaquim Oliveira

À volta das brasas: Raúl Ramos (ex-combatente em Angola), amigo do editor há 59 anos; Mestre Cartaxo (ex-combatente na Guiné); António Fangueiro (ex-combatente da Guiné, da Companhia do Raul Albino) e outro camarada da Guiné cujo nome neste momento não me ocorre.

Seguiu-se a animação musical durante toda a tarde com o grupo formado por Fernando Menezes, Cristina Gonçalves e Vítor Rodrigues que graciosamente e com grande qualidade artística deliciaram e fizeram mexer os presentes com o seu vasto reportório que incluiu fado e música ligeira.

Vítor Rodrigues, uma surpresa para o editor que não via este seu amigo há mais de 40 anos. Mantém uma forma invejável e um vozeirão que só "ouvisto"

A fadista Cristina Gonçalves é a prova provada de uma grande artista quase anónima para o grande público. Portuense de alma e coração, canta a canção de Lisboa como a melhor das melhores fadistas alfacinhas.
Atrás, nas teclas, Fernando Meneses.

No intervalo da sua atuação foi feito o sorteio de nove prémios que durante quase uma hora prenderam a atenção dos participantes.

Uma das premiadas do sorteio, esta senhora, filha de um militar, viveu, quando muito pequena, na Ilha das Galinhas, que como sabemos era a ilha-prisão da Guiné.

Houve ainda a oportunidade para o Coro do Núcleo cantar as Boas Festas a todos os que estiveram presentes neste magusto.

 O Coro do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes


Os participantes

Como notas relevantes desta atividade fica o facto de alguns familiares e amigos de sócios se terem inscrito como sócios da Liga; o trabalho, a disponibilidade e a entrega evidenciada pelos voluntários(as) que ajudaram na realização deste evento; e mais uma vez a evidência da importância da realização destes convívios para fortalecer os laços de amizade e de relacionamento entre dirigentes, sócios, familiares e amigos envolvidos pela sua demonstração de adesão aos objetivos da Liga: defesa dos valores morais e históricos de Portugal e promoção da solidariedade social e do apoio mútuo aos mais carenciados.

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Texto: Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes
Fotos: Abel Santos
Selecção, edição e legendagem das fotos: Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13993: Convívios (645): Almoço de Natal da Tabanca dos Melros, dia 13 de Dezembro de 2014 na Quinta dos Choupos, Fânzeres, Gondomar (Carlos Silva)

Guiné 63/74 - P14013: Notas de leitura (656): “Tributo de Sangue”, escrito pelo Tenente António da Silva Loureiro, Edição a propósito da I Exposição Colonial Portuguesa, 1934 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Abril de 2014:

Queridos amigos,
É vasta a bibliografia sobre as campanhas militares da ocupação da Guiné.
Este trabalho do Tenente Silva Loureiro, que apareceu na primeira Exposição Colonial Portuguesa, que decorreu no Porto em 1934, é seguramente o primeiro dessa longa fila.
Recorde-se que só depois é que a Agência Geral das Colónias publicou os documentos então inéditos de João Teixeira Pinto sobre as suas campanhas.
Este “Tributo de Sangue” é minucioso, temos que reconhecer que o autor o terá elaborado com acesso a poucas fontes de informação. A linha dominante é a exaltação por esse mesmo derrame de sangue, e há uma compostura e uma dignidade no tratamento dos revoltosos que só é possível nos combatentes que deram o peito nas batalhas.

Um abraço do
Mário


Tributo de sangue: Registo das campanhas para a ocupação da Guiné

Beja Santosexposiç

Isto de andar a surfar nos sites onde se vendem livros leva muitas vezes a descobertas auspiciosas. Por puro acaso, descobri que havia um “Tributo de Sangue”, escrito pelo Tenente António da Silva Loureiro, Edição a propósito da I Exposição Colonial Portuguesa, 1934. Não há para ali novidades retumbantes, René Pélissier já fizera um levantamento exaustivo que dava para perceber que até 1936 a paz e a ordem na Guiné eram pura ficção.

O Tenente Silva Loureiro age como um cronista, aqui e acolá releva o que julga relevante, nunca omite que não esmiuça mais por falta de documentação. Aliás, diz logo à cabeça: “O que foi a Guiné até 1842 não o sabemos por falta de elementos”. E desencadeia assim as hostilidades: “Principia a história militar da Guiné por um vulto que desempenhou um papel preponderante na defesa da colónia: foi Honório Pereira Barreto, oficial de artilharia. Este oficial celebrou em 21 de dezembro de 1843, como governador de distrito, um contrato com o rei de Banhune, Saugo-Dogu, residente em Bissary, na margem direita do rio Casamansa, para a cedência ao Governo português de todo este território. Em 29 do mesmo mês e ano, o referido governador celebra com o gentio de Boro e Cabono, aldeia de Banhunes, na margem esquerda do rio Casamansa, um outro contrato para a cedência dos seus terrenos pela quantia de 50 mil reis. E até 1855 a vida da colónia decorreu pacatamente, parecendo que, no entretanto, se preparava para o período agitado em que bem brevemente a vamos encontrar”.

Enumera caudalosamente insurreições, sublevações, tratados de paz, negociações espúrias. Logo em 1871 regista a sublevação de Cacheu que originou uma expedição composta por Forças de Caçadores n.º 1 (um batalhão) e marinheiros da armada real, que efetuou um ataque à povoação destruindo-a totalmente. Em 1879, foi celebrado um tratado de cessão do território ocupado pelos Felupes de Jafunco à Nação Portuguesa. Em 1880, foi celebrado um tratado de paz na povoação de Buba, entre os régulos Beafadas e o Governo. No ano seguinte, foi ampliando o tratado feito em 1856 entre o Governo e os chefes Beafadas de Guinala e Beduk, na margem direito do rio Grande. Em fevereiro desse ano, Fulas atacam a praça de Buba, ataque repelido. Em julho, é celebrado um novo tratado de paz entre o Governo e os régulos Fula-Forros e Futa-Fulas do Forreá. Em julho e agosto de 1882, as tabancas de Mamadi Paté sublevam-se em Buba, e no ano seguinte os Fulas Pretos capitaneados por Dansá, aprisionaram em São Belchior do Geba todos os indígenas cristãos e reduziram a cinzas todas as suas casas. Segue-se o comportamento extraordinário do Alferes Francisco Marque Geraldes que praticamente sozinho se meteu a caminho e foi recuperar os indígenas cristãos.

Entrou-se numa época de tumultos ininterruptos, convém não esquecer que se caminha para a conferência de Berlim e que comerciantes franceses, com a anuência das suas autoridades, tudo fazem para subverter as regras de entendimento entre as autoridades indígenas e as portuguesas. Mussá Molo é uma das principais figuras da agitação, procura pôr a região Leste a ferro e fogo. O Tenente Marques Geraldes, chefe do presidio de Geba, ataca as tabancas do régulo Mussá Molo e arrasa-as. Por atos de bravura, Marques Geraldes é promovido a capitão. Enfim, não há um só ano sem sinais de desobediências, insurreições, rebeliões.

Em 1891, a ilha de Bissau começou a dar sinais de revolta, em breve chegarão os motins, assassinatos, viver-se-á numa atmosfera completamente descontrolada, e o Tenente Silva Loureiro escreve: “Foram terríveis os dias 3 e 19 de março, e 19 de abril, houve que suportar combates com um gentio bem armado e em número cem vezes maior”.

O pior estava para vir. Em 1907, o régulo do Cuor, supondo que tinha fortalecido alianças com régulos vizinhos, impede a navegabilidade do Geba, o comércio fica paralisado, será necessário encontrar uma resposta dispendiosa, virão tropas da metrópole e de Moçambique, a campanha contra o rebelde Infali Soncó é o grande acontecimento de 1908, nunca o Leste da Guiné vira tantos soldados brancos. O acontecimento relevante posterior foram as campanhas do Capitão João Teixeira Pinto, aqui já largamente documentadas, há que reconhecer que o Tenente Silva Loureiro não esconde a faceta de heroísmo e bravura do pacificador.

Em 1925, os indígenas da ilha Canhabaque davam sinais manifestos de rebelião. Há descrições elucidativas: “Ao aproximar-se a coluna da tabanca de Juliana desencadeou-se forte peleja. Depois de renhida fuzilaria, foi a tabanca assaltada, mas quando caiu nas nossas mãos não era mais que um enorme braseiro. Neste ataque estiveram empenhadas 800 espingardas, 3 metralhadoras e 3 peças de 7 milímetros. Impossível era, pois, a resistência por parte do inimigo, apesar da sua provada valentia, que não fica mal confessar, antes nos honra, por mais valorizar ação das nossas tropas. E foi nestas operações, tão simples na aparência, que tivemos 96 baixas!”.

Mais adiante, o autor deplora a situação existente: “E depois de todo este sacrifício de vidas e de tantas canseiras passadas, causa pena saber que os indígenas Bijagós continuam ainda meio selvagens, prontos a insurgiram-se na primeira ocasião, tal é o espírito inquieto e aguerrido dos habitantes da ilha de Canhabaque”. Mas não foi só nos Bijagós que a pacificação se revelou um processo demorado, em 1921 ainda havia guerra entre os Papéis de Bissau.

O tenente Silva Loureiro relatara as circunstâncias dramáticas em que o nome Teixeira Pinto fora alvo de críticas injustíssimas e acusações infames. Em dado passo, ele exulta: “Em 1929, a Província saldou a dívida com Teixeira Pinto erguendo-lhe um monumento no centro de Bissau, inaugurado em 30 de novembro". E finaliza a sua monografia das campanhas militares para a ocupação da Guiné com as seguintes considerações: “Sem a sua quota-parte de sangue – talvez a maior que se pode dar – a Guiné não chegaria a gozar os benefícios que os nossos colonos lhe ministraram”.
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13988: Notas de leitura (655): Apresentação do livro "O Concelho de Fafe e a Guerra Colonial (1961-1974)", dia 12 de Dezembro de 2014, pelas 21h30, na Sala Manoel de Olivera, em Fafe (Beja Santos)