segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14065: (Ex)citações (256): Eu gostava de saber um pouco mais sobre esse missionário italiano, o padre António Grillo (1925-2014), que tinha um especial carinho pelos balantas de Samba Silate (e era respeitado por eles) (A. M. Sucena Rodrigues, ex-fur mil, CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, 1972-74)


1. Mensagem do António Manuel Sucena Rpdrigues [, foto à esquerda, em Ortigosa, Monte Real, no 3º Encontro Nacional da Tabanca Grande, em 17/5/2008]

Data: 21 de dezembro de 2014 às 19:37

Assunto: Obrigado, Luís


Obrigado, Luís Graça pela importantíssima ajuda que deste no texto que enviei e que foi já publicado (*). Nunca, antes nem depois, tinha ouvido falar do tal missionário Padre António [Grillo].

Fico agora com um peso de consciência, por não ter descrito este episódio ainda em vida desse missionário. Gostava que ele soubesse do respeito que me pareceu merecer, por parte desse guerrilheiro. Agora compreendo por que razão, passados 11 anos de guerra, ele se lembrou do padre António.

Também gostaria de saber um pouco mais sobre este guerrilheiro. Se pelas fotos fosse possível algum camarada identificá-lo... Fico na expectativa.

Obrigado, Luís.

Um abraço e Boas Festas.

A.M. Sucena Rodrigues
Ex-Fur Mil da CCaç 12 (72-74)

2. Comentário de L.G.:

Meu caro camarada Sucena Rodrigues;  Eis o que eu sei do tal padre missionário António Grillo, recentemente falecido, e sobre o qual já temos alguns postes. (Quanto ao guerrilheiro com quem foste a Samba Silate, será por certo mais difícil identificá-lo, no caso de ainda ser vivo; mas pode ser que alguém, na Guiné-Bissau, o reconheça... Afinal, o Mundo é Pqueno e a nossa Tabanca... é Grande!).





O missionário António Grillho de visita à sua querida Bambadinca, em 22/2/2008. (Fonte: blogue "Igreja Católica na Guiné-Bissau > 19 de junho de 2014 > Faleceu Pe. António Grillo, com a devida vénia)


Acerenza, comuna italiana da região da Basilicata, 
província de Potenza (Fonte: Wikipedia


António Grillo (1925-2014):

(i) Faleceu no passado 18 de junho de 2014, em Acerenza, Itália, com a idade de 89 anos;

(ii) tinha nascido no dia 10 de junho de 1925,  naquela cidadezinha, do sul de Itália (c. de 2500  habitantes em 2011);

(iii) foi ordenado sacerdote no dia 25 de junho de 1950;

(iv) partiu para a missão da Guiné-Bissau, então território sob administração portuguesa, aonde chegou em 16 de Novembro de 1951, como missionário do PIME ((Pontifício Instituto para as Missões Exteriores);

(v) esteve sempre muito ligado à Missão Católica de Bambandinca, que hoje faz parte do  território da Diocese de Bafatá;

(vi) foi detido pela então polícia política portuguesa, a PIDE,  a 23 fevereiro de 1963, sob a acusação de atividades subversivas;

(vii) esteve preso em Bissau e depois em Lisboa;

(viii) acabou por ser libertado em 4 de julho de 1963 em homenagem de Portugal, ao novo pontífice, o Papa Paulo VI (1898-1978), que em 21 de junho de 1963 tinha sucedido a João XXIII, na cátedra de São Pedro;

(x) voltou, entretatanto,  à Itália;

(xi) doze anos, com a  independência da Guiné-Bissau,  volta a Bambadinca,  onde trabalha, de 1975 a 1986, associado ao PIME;



Guiné-Bissau > Bambadinca > 22 de fevereiro de 2008 > Na inauguração do Liceu ( Fonte: blogue "Igreja Católica na Guiné-Bissau > 19 de junho de 2014 > Faleceu Pe. António Grillo, com a devida vénia)


(xii) no dia 22 de Fevereiro de 2008, foi inaugurado, em Bambadinca, o Liceu em autogestão Pe. António Grillo; a cerimónia contou com a presença de vinte amigos da Arquidiocese de Acerenza, entre os quais o Pe. António Grillo bem como o Arcebispo Dom Giovanni Ricchiuti; a diocese de Acerenza, que fez uma geminação com Bambadinca e por extensão com a diocese de Bafatá, colaborou na construção deste liceu, ajudando na conclusão de um pavilhão de 3 salas de aulas;




Visita a Bambadinca em 2010 (Fonte: blogue "Igreja Católica na Guiné-Bissau > 19 de junho de 2014 > Faleceu Pe. António Grillo, com a devida vénia)


(xiii) o Pe. Antonio Grillo visita,  pela  uma última vez,  a Guiné.Bissau e, mais propriamente, a sua querida Bambadinca, de 21 a 28 de Janeiro de 2010 em companhia de  Dom Giovanni Ricchiuti, familiares e amigos de Acerenza; a sua preocupação de sempre foi a cristianização dos balantas

(xiv) está sepultado em Acerenza.





Visita a Bambadinca; Pe. Antonio com o tradicional barrete balanta, em 23 de fevereiro de 2008 (Fonte: blogue "Igreja Católica na Guiné-Bissau > 19 de junho de 2014 > Faleceu Pe. António Grillo, com a devida vénia)


3. Mais informações sobre o Padre António Grillo


3.1. Recorro aqui ao sítio de Paolo Grappasonni que, em finais de 1988, fez uma visita às missões italianas na Guiné-Bissau e evoca a figura do padre Anmtónio Grillo. Reproduzem-se excertos do texto "Notas de viagem à Guiné-Bissau", a partir de tradução minha do italino para português:

(...) "O Padre Antonio Grillo,  de Acerenza, viveu durante vários anos e em diferentes períodos entre os Balantas de Bambadinca. Publicou um opúsculo em Maio de 1988 intitulada: "Os Meus Balantas" de que retiro algumas das suas experiências mais significativas.

Tinha 26 anos quando a 12 de setembro de 1951, partiu do PIME de Milão, com três missionários num jipe americano,  a caminho de Portugal e depois da Guiné, em África.  Fazia parte da segunda expedição missionário do PIME à Guiné. Bambadinca é a região missionária para a qual o padre Grillo é enviado juntamente com o  padre Biasutti, em 31 de Janeiro de 1952. Depois um ano de espera para obter visto do Governo Português, e depois de uma viagem aventurosa por terra e mar, finalmente podiam começar.

 "Infelizmente - escreve o padre Grillo - nós tivemos que aceitar estabelecer a nossa residência em Bambadinca, a povoação onde estavam também as autoridades administrativas portuguesas, porque eles queriam manter-nos sob o seu controle constante. Já naquele tempo não nos permitiam com facilidade, mesmo a nós, missionários,  que entrássemos na floresta para contactar  as várias tribos. Teríamos preferido uma grande aglomerado populacional de Balantas como Samba Silate porque estes eram animistas, enquanto quase todos os habitantes de Bambadinca eram muçulmanos. "

Em língua madinga, "Bamba" significa "crocodilo", "Dinga" significa "cova": e na verdade, nos anos 50 o vizinho rio Geba estava cheio de crocodilos.

 A aldeia de Samba Silate, em 1955, já tinha 1750 habitantes, na sua maioria do grupo étnico Balanta, com poucos Papéis e alguns muçulmanos. Samba Silate, que significa "campo de arroz", foi a primeira estação missionária na zona de Bambadinca. O motivo que levou o padre Grillo a optar por esta aldeia, foi apenas o número dos seus habitantes que, se se convertessem, poderiam atrair as outras aldeias mais aldeias. (...)



3.2. De um outro site, italiano, sobre os 150 anos do PIME (Pierio Gheddo - PIME 1850-2000: 150 Anni dei Missione)  retirei, em tempos, a seguinte informação sobre o conflito do Padre Grilo com as autoridades portugueses, em 1963, bem sobre as crescentes dificuldades dos missionários italianos na sequência da escalada do conflito político-militar naquele território.

[Curiosamente, o meu atual programa de segurança não me deixa lá voltar, a este "site",  devido ao seu "conteúdo potencialmente perigoso"]...

(...) O PIME debaixo de fogo: a prisão do padre Grillo (1963)

O Superior Geral, padre Augusto Lombardi visita a Guiné (10 de Dezembro de 1959 -26 fevereiro 1960), e incita os missionários a empenharem-se mais para ajudar o povo da Guiné, mas evitando cuidadosamente qualquer gesto ou opinião política: o imperativo é permanecer no local sem se fazerem expular: os missionários estrangeiros podiam desempenhar um papel importante na defesa do homem.

 No início dos anos sessenta,  a Guiné entra significativamente em  clima de guerra. A primeira vítima é a padre Antonio Grillo, o apóstolo dos Balantas em Bambadinca, sob a acusação, que se soube mais tarde ser completamente falsa, de ser amigo de um líder da guerrilha.

 Detido pela polícia política portuguesa (Pide), a 23 fevereiro de 1963, encarcerado primeiro em Bissau e depois em Lisboa, acabou por ser libertado em 4 de julho em homenagem de Portugal, ao novo pontífice, o Papa Paulo VI.

 As missões do PIME nas regiões mais remotas, estão na primeira linha da frente. A de Suzana ], no chão felupe, região do Cacheu]  é ocupada pelo exército Português, os missionários têm que retirar-se para evitar ficar comprometidos aos olhos da população local (os cristãos passam a ser  visitados todos os meses a partir de Bafatá).


Catió [, no sul, na região de Tombali,], por sua vez, está no centro da guerrilha por causa de sua proximidade com a Guiné-Conacri, de onde vêm as armas e os guerrilheiros: os padres já não podem visitar as aldeias sem a permissão da polícia e na cidade estão sujeitos a controlos rigorosos.

Farim, por seu lado, permanece isolada durante longos meses, as estradas estão cortadas e só se pode viajar em colunas militares; ataques noturnos dos guerrilheiros e represálias do Exército, com incêndios de aldeias, tortura, massacres.

Em 10 de junho de 1963 um novo Prefeito Apostólico: Monsenhor João Ferreira, jovem, entusiasta e com bons projetos, mas infelizmente resistiu apenas dois anos e meio ao clima da Guiné: Regressa a Portugal em Agosto de 1965. O seu sucessor, Mons. Amândio Neto, também está numa linha moderadamente inovadora: deixar trabalhar os missionários, defendendo-os sempre a suspeita dos militares e da Pide. (...)


3.3.   De 21 a 28 de Janeiro de 2010, o octagenário  Padre António Griillo (vd. foto à direita, com a devida vénia ao citado blogue ) voltou a Bambadinca, com uma delegação da sua diocese de Acerenza para inaugurar uma escola a que foi dado o nosso nome... Voltou a Samba Silate, aos seus balantas. Foi recebido com grande entusiasmo, alegria e espírito ecuménico.

É doloroso para a nossa memória, mas não podemos ignorar, esquecer, branquear, desculpar o que se terá passado em Samba Silate (e noutros locais do CTIG) em  1961, 1962, 1963, "anos de chumbo" que abntecederam a guerra...

Não sabemos exactamente qual foi o envolvimento dos militares portuguesesi, antes da guerra, envolvidos em ações que eram mais de polícia  do que propriamente de natureza militar... A PIDE costuma ficar com o odioso destas ações (bem como a polícia administrativa local que fazia o "trabalho sujo")... Era importante ter acesso aos arquivos da PIDE para se poder saber, mais em detalhe, as acusações ou suspeitas que recaíam sobre o missionário italiano... Sabe-se que as relações entre os missionários italianos e as autoridades portuguesas não eram das melhores, nomeadamente an Guiné e em Moçambique.

Sobre o que se passou em Samba Silate (e noutros sítios do setor de Bambadinca como o Poindon) não posso quem quero generalizar, prefiro que apareçam outros testemunhos e relatos, documentados, circunstanciados, com datas e factos, sobre violência exercida tanto pelas NT como pelo PAIGC (ou a FLING, em 1961) sob as populações indefesas, ou sob prisioneiros...  É importante haver várias fontes, idóneas.

No Arquivo de Amílcar Cabral / Casa Comum, apenas encontrei uma única referência a Samba Silate onde, em 15 de maio de 1962,  teria sido morto, pelas NT, "o chefe da tabanca de Samba Silate".

Em 1969, seis anos depois, os meus soldados da CCAÇ 12 falavam-me destes acontecimentos, com "naturalidade" e sem qualquer "pejo"... E eles eram insuspeitos, eram fulas, nossos aliados (**)...   LG




Guiné > Zona letse > Região de Bafatá > Bambadicna > Carta de Bambadinca >  Escala 1/50 mil ) (1955) > Posição relativa de Samba Silate e de Nhabijões, os dois grandes núcleos balantas....

Infografia: Blogue Luís Grça & Camaradas da Guiné (2014)

____________

Notas do editor:

(*) 20 de dezembro de 2014 >  Guiné 63/74 - P14055: Memória dos lugares (278): Samba Silate, no pós 25 de abril de 1974: As saudades que a guerra não conseguiu apagar mesmo nos guerrilheiros do PAIGC (António Manuel Sucena Rodrigues, ex-fur mil, CCAÇ 12, Bambdaionca e Xime, 1972/74)

(**) Último poste da série > 20 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14057: (Ex)citações (255): O Marcelino, que foi um militar valoroso, não precisa que se inventem, e lhe atribuam episódios desse género (Domingos Gonçalves)

12 comentários:

Antº Rosinha disse...

Parece que na Guiné só dá cristãos da etnia balanta.

Mas penso que têm pouca fé.

Ainda se fala no "furto de vaca", e isso os padres não ensinam.

Oxalá os guineense nunca entrem nas guerras religiosas como certos vizinhos fazem.

Parece que em Angola também se luta contra essa tipo de guerra.

Se Moçambique escapar também a essa guerra, então os PALOP serão os maiores.

Sem essa guerras, "tudo se cria".

Luís Graça disse...

Rosinha, li algures numa recensão feita pelo René Pélissier (o homem que "mais sabe" sobre a Guiné sem nunca lá ter posto os pés...), os missionários católicos italianos e portugueses seriam "rivais" em matéria de "evangelização", no tempo do padre Grillo... como se pertencessem a clubes diferentes...

A verdade é que o cristianismo marca passo na Guiné-Bissau e o islão molda-se melhor à idiossincrasia africana subsariana...

A tua pergunta é interessante mas eu não tenho resposta para ela: tenho pena de não ter conhecido suficientemente bem os balantas da região que me calhou na lotaria da guerra...

Estive destacado em Nhabijões, no meio deles, conheci Santa Helena e Mero, andei em operações em zonas de povoamento balanta sob controlo do PAIGC, no subsetor do Xime, fizemos prisioneiros balantas (população e guerrilheiros), tentei aproximar-me deles, mas sempre levei com os pés...

Afinal eu era um simples furriel miliciano do exército português, fardado, e o meu crioulo era mauzinho...

Como também não ia à missa, não conheci, hoje com penba minha, os cristãos de Bambadinca...

Luís Graça disse...

A morte de António Grillo vem noticiada o blogue "Intelectuais Balantas na Diáspora", o que não deixa de ser significativo...

Este obscurso missionário italiano, oriundo da Itália do Sul, pobre e palúdica, ganhou notoriedade pelo simples facto de ter sido preso pela PIDE, em fevereiro de 1963, levado para Lisboa e, mais tarde, em julho desse ano, ter sido solto em homenagem ao novo papa, Paulo VI... O mesmo papa que iria mais tarde, em 1 de julho de 1970,. enfurecer Marcello Caetano, ao receber, em audiência privada, três dos "nossos" arqui-inimigos, Agostinho Neto, Amílcar Cabral e Marcelino dos Santos, dirigentes respetivamente do MPLA, do PAIGC e da FRELIMO, no termo da "Conferência Internacional de Solidariedade com os Povos das Colónias Portuguesas" realizada em Roma.

Como se sabe, isso provocou tensões entre o Governo português, chefiado por Marcello Caetano, e o Vaticano. já em 1964 Salazar ficara furioso pelo novo papa ter ido a Bombaim, na Índia, em 1964.


http://tchogue.blogspot.pt/2014/06/faleceu-pe-antonio-grillo.html

Luís Graça disse...

A morte de António Grillo vem noticiada o blogue "Intelectuais Balantas na Diáspora", o que não deixa de ser significativo...

Este obscurso missionário italiano, oriundo da Itália do Sul, pobre e palúdica, ganhou notoriedade pelo simples facto de ter sido preso pela PIDE, em fevereiro de 1963, levado para Lisboa e, mais tarde, em julho desse ano, ter sido solto em homenagem ao novo papa, Paulo VI... O mesmo papa que iria mais tarde, em 1 de julho de 1970,. enfurecer Marcello Caetano, ao receber, em audiência privada, três dos "nossos" arqui-inimigos, Agostinho Neto, Amílcar Cabral e Marcelino dos Santos, dirigentes respetivamente do MPLA, do PAIGC e da FRELIMO, no termo da "Conferência Internacional de Solidariedade com os Povos das Colónias Portuguesas" realizada em Roma.

Como se sabe, isso provocou tensões entre o Governo português, chefiado por Marcello Caetano, e o Vaticano. já em 1964 Salazar ficara furioso pelo novo papa ter ido a Bombaim, na Índia, em 1964.


http://tchogue.blogspot.pt/2014/06/faleceu-pe-antonio-grillo.html

Antº Rosinha disse...

Luís Graça, o papel das missões católicas e protestantes a par da doutrina marxista, era muito bem topado pelo Salazar.

Só não sei como este rural de Santa Comba, sem nunca sair da toca, nem falar balanta nem crioulo, e servido por funcionários que apenas eram(os) todinhos assíduos, zelosos e bem comportados e assinavamos a declaração 27003, mas na realidade não eramos assim tão devotos, e como é que o homem, que ao mesmo tempo que até apoiava esses missionários, ficava de pé atraz com eles.

Na realidade, no caso de Angola onde havia muitas missões, (mas não muçulmanos) Salazar mandou deportar padres e pastores protestantes, alguns casos foram mais ou menos divulgados.

É que tal como se fossem comerciantes, esses missionários faziam como que concorrencia entre si.

E se fossem de nacionalidades diferentes e ordens diferentes ainda procuravam roubar mais freguesia uns aos outros.

Usavam todos os meios, até o tipo de psico como a tropa fazia.

E acontece que o discurso deles perante os indígenas era nem mais nem menos aquela conversa que mais agradava aos MPLA e PAIGC e outros.

Ora acontece que havia indígenas que tinham mais fé nos Chefes de Posto do que na cruz e na hóstia.

E hoje sabemos, quem anda ou andou por lá, ignorantes e desligados como eu fui, que ainda hoje continua um discurso anti-tuga do mais descarado e sem vergonha que se possa imaginar, por esses missionários, à imitação de muitas ONG's.

É o que se chama, fazer tudo para "não perder o combóio".

Até mesmo portugueses ainda aparecem muitos por lá a "ajudar esta gente, coitada" com aquela conversa dos 500 anos.

Mas não dizem essas conversas numa Nigéria, num Quénia ou mesmo numa Guiné Conacry, porque há certas colónias que só os ex-colonizadores é que seleccionam quem vai para lá.

Bom Natal para todos.

António J. P. Costa disse...

Olá Camarada
Nunca tinha visto a tal cruz que mostraste num das tuas fotos. Era fora do arame? A que se destinava?
Manda-me uma cópia, por favor.
Nunca me falaram do padre Grillo.
Recebi, sim um pedido de uma família italiana - os Riciulli - que pretendia tomar posse das instalações que a companhia ocupava (abusivamente de acordo com o seu ponto de vista). Ficou tudo para decisão dos "Nossos Maiores" e, conforme as instruções eu entregaria as instalações...
Quanto ao resto, alarma-me a cobardia da igreja católica que, tendo mandado para o interior de África um quase-noviço, não esboça o menor movimento de defesa a nível Nacional e, muito menos Internacional para a sua libertação. Não surpreende a libertação aquando da visita de um Papa a Portugal... No fundo para um hipócrita, fingido e meio.
Será que o padre tinha prevaricado' Onde, como e com que meios?
E se o não fez porque o abandonaram (como ao JC)? É por estas e por outras que não me arrependo de não jogar nesse clube...
Quanto à acção das autoridades portuguesas, estamos conversados.
Foi, como em tantos casos, boçal arrogante e (muito) acéfala.
Um Ab.
António J. P. Costta

Anónimo disse...


António Manuel Sucena Rodrigues
23 dez 2014 18:03

Olá Luís,
Boas Festas.
Não sei como e agradecer toda a informação que me enviaste sobre o missionário Padre António Grillo.

Vejo que se tratava de um homem muito respeitado pela comunidade Balanta e que lá deixou a sua marca de Homem Bom. Os Balantas nunca mais o vão esquecer. Não imaginava eu, que por detrás daquele nome (Padre António) estava um grande homem.
Luís, o teu trabalho está excelente. Eu não merecia tanto.
Obrigado Camarada.

Boas festas
Sucena Rodrigues
Ex-Fur. Mil. CCaç 12 - 72/74

Luís Graça disse...

Tó Zé:

O nosso grã-tabanqueiro Arsénio Puim,. que foi alf mil capelºão do BASRT 2917 (Bambadinca, 1970/72) visitou as ru+ínas de Samba Silate e foi o primeiro de n´+os a sinalizar a tal a tal cruz em cimento, de resto bem visível na foto de 1974, do Sucena Rodrigues... Lê com atenção o excerto abaixo...

Vou-te mandar a foto. Boas festas. LG

___________________

/...) Um dos lugares tristemente célebres da guerra da Guiné, que eu tive oportunidade de visitar nos princípios de 1971, chama-se Samba Silate. Fica a poucos quilómetros de Amedalai, para o lado do Geba, entre Bambadinca e o Xime. Na continuação da tabanca estende-se, até ao rio, uma grande bolanha, tida como das melhores da Guiné. Para lá do Geba, fica Mato Cão e Madina.

Dantes, Samba Silate foi uma grande tabanca balanta e um importante centro de produção de arroz. Mas na altura em que lá estive, era uma terra desabitada e completamente inculta. Dizia-se que qualquer tentativa dos Fulas para o seu aproveitamento seria gorada pelos Balantas.

Neste chão balanta, o Pe. António Grillo, missionário italiano, desenvolveu uma actividade pastoral florescente, reconhecida por muitas pessoas. Lá estava ainda, a testemunhá-lo, uma grande cruz de cimento erguida no local, assim como uma campa, também de cimento, perto da cruz, com a inscrição de Mateus Iala, balanta, que havia falecido em 1958, apenas um mês depois de ser baptizado. (....)

2 DE MAIO DE 2010

Guiné 63/74 - P6292: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69/ Mai 71) (10): Samba Silate


http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2010/05/guine-6374-p6292-memorias-de-um-alferes.html

Luís Graça disse...

Li num "sítio" italiano que o missionário Antóni Grillo conheceu o forte de Peni9che at+e ser libertado por ocasião da eleição do novo papa, Paulo VI... Não tenho, de momento, outras fontes para confirmar ou informar:


(...) Padre Antonio Grillo, missionario in Guinea Bissau, è stato detenuto nella prigione fortezza di Peniche, come prigioniero politico.
Gli organismi umanitari si sono molto spesso interessati di queste prigioni per denunciare le sevizie inflitte dalla polizia (PIDE) e la spietatezza del regime carcerario applicato in quell’ “inferno dei vivi” come veniva definito.

Padre Antonio, è animato da autentico spirito missionario, si avvicina agli africani con amore autentico, non fa distinzione di censo, di ruolo o di credo politico. La sua passione per gli indigeni insospettisce il regime portoghese di Salazar, che lo arresta come un sobillatore anti governativo. Ha subito diversi mesi di carcere duro. Poi ritenuto estraneo ai fatti che gli venivano contestati viene liberato, ed egli riprende il suo posto ed il suo lavoro.

Rientra in patria, ormai anziano e cagionevole di salute, ma gli africani non lo dimenticano e recentemente hanno dedicato al suo nome un liceo additandolo ai giovani come modello di dedizione, di impegno civile e di correttezza morale. (...)


Telemaco Edizioni > Padre Antonio Grillo > Pubblicato il 22 giugno 2007

http://www.telemacoedizioni.it/2007/06/370/

Luís Graça disse...

Quem tiver tempo, vagar e curiosidade pode passar pela Torre do Tomo e consultar o processo do António Grillo, no Arquivo da PIDE/DGS:



"ANTÓNIO GRILLO"

NÍVEL DE DESCRIÇÃO
Documento composto

PT/TT/PIDE/E/010/131/26043
TIPO DE TÍTULO
Formal
DATAS DE PRODUÇÃO
1963-04-07 A data é certa a 1963-07-04 A data é certa
DIMENSÃO E SUPORTE
1 doc.
COTA ATUAL
PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, liv. 131, registo n.º 26043
Informação não tratada arquivisticamente.

(....)

http://digitarq.dgarq.gov.pt/details?id=4306599

Luís Graça disse...

Em 1970, o Antonio Grillo escreve, em português, a Amilcar Cabral e convida-o a ir à sua terra e à sua casa... Revela saudades dos seus balantas de Bambadinca, Samba Silate, Enxalé, Finete, Nhabijões, Ponta Luis Dias... da missão católica de onde "afastado à força"...

Ver no portal Casa Comum / Aqruivo Amílcar Cabral



Pasta: 04610.059.039
Assunto: Felicita-o pelo êxito da Conferência Internacional de Solidariedade com os Povos colonizados por Portugal e pela audiência dos "representantes mais qualificados dos movimentos de libertação" com o Papa Paulo VI. Expressa os seus votos para que a Guiné se torne independente.

Remetente: Sacerdote Antonio Grillo, Acerenza
´
Destinatário: Amílcar Cabral, Secretário Geral do PAIGC

Data: Domingo, 18 de Outubro de 1970
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral

http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=04610.059.039

José Nascimento disse...

Nos finais de 69, princípio de 70, passei por Samba Silate, só havia vestígios do que tinha sido uma aldeia indígena.