domingo, 16 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13903: Consultório militar, do José Martins (10): Sobre a morte do alf mil Nuno da Costa Tavares Machado, em Guileje, em 28/12/1967: Parte IV - As três baixas mortais no decurso da Op Relance, no corredor de Guileje, entre a lala do Rio Tenhege e Guileje


Guiné > Região de Tombali > Mapa de Guileje > Escala 1\/50 mil > Posição relativa de Guileje e do rio Tenhege, a noroeste. Foi nesta região que o alf mil art Tavares Machado e os sold António Lopes e António de Sousa Oliveira (o "Francesinho") perderam a vida em combate, na decurso da Op Relance (local da operação: corredor de Guileje, numa lala do Rio Tenhege).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)


1. Quarta (e última) parte da informação recolhida pelo José Martins [ex-fur mil trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70, TOC reformado, residente em Odivelas]. no âmbito do seu "consultório militar" e, mais concretamente, em resposta a um pedido de informação do nosso leitor Aníbal Teixeira, cunhado do alf mil art Nuno da Costa Tavares Machado, morto em combate em Guileje, em 28712/1967, e que pertenceu CART 1613 / BART 1896 (Guileje, 1968/68). (*)


2. Na História da Unidade [CART 1613] e à guarda do Arquivo Histórico Militar (AHM), que fomos consultar, consta na página número 127, a seguinte nota, relativa ao período de 1 a 31 de Dezembro de 1967:


Em 27 – Executado a Operação “Relance”

Missão – Emboscada no “corredor” de Guileje.

Forca executante:

- Companhia de Artilharia 1613 (incompleta)

- 1 Grupo Combate da Companhia de Artilharia 1659 (**)

- 1 Grupo Combate da Companhia de Artilharia 1622

- Pelotão de Caçadores Nativos 51

- Pelotão de Milícias 138

Resultados obtidos:

- Causados ao IN 4 mortos prováveis e feridos vários não controlados

- As NT sofreram 3 mortos, 4 feridos graves (3 milícias) e 3 feridos ligeiros (2 milícias).




Fonte:  CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 8.º Volume - Mortos em Campanha: Tomo II - Guiné - Livro 1 (1.ª edição, Lisboa 2001), p. 309.



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > 1967 > Aspeto geral do quartel. Messe e quartos dos sargentos com cozinha ao fundo. Os maloagrados alf mil art Tavares Machado, sold António Lopes e sold António de Sousa Oliveira (o "Francesinho")  devem-se ter cruzado, em vida, diversas vezes com estes putos que viviam na tabanca e aquartelamento de Guileje.

Foto: © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]

______________

Notas do editor:

(*) Vd. postes anteriores: 


13 de novembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13885: Consultório militar, do José Martins (9): Sobre a morte do alf mil Nuno da Costa Tavares Machado, em Guileje, em 28/12/1967: Parte III - Ficha da Unidade, BART 1896, a que pertenciam as CART 1612, 1613 e 1614

Vd. também poste de 13 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13881: In Memoriam (206) Nuno da Costa Tavares Machado, alf mil inf, CART 1613, morto em Guileje, em 28/12/1967, e condecoado com a cruz de guerra, de 3ª classe, a título póstumo

(**) O nosso camarada Mário Gaspar, fur mil da CART 1659, tem uma versão em que não se faz referências a baixas entre as NT, de acrodo com a sua mensagem de 4 do corrente, de que transcrevemos alguns excertos:

(...) A  Companhia de Artilharia 1659 – CART 1659 entrou na “Operação “Relance” (...)  – e eu estive lá, e participei nela (...)

A Operação Relance", consta no Blogue, no poste P12412 (...)


Na História da Unidade da CART 1659, pode-se ler que a Operação Relance” foi  em 21/28 DEZ67. Missão: Montar emboscada no “corredor de Guileje”, região de Famora. Forças – 1 Gr Comb., desta CART (...), juntamente com 1 GR.COMB da CCAÇ 1622 e 2 GR.COMB. da CART 1613.

As NT foram emboscadas por duas vezes, tendo reagido pelo fogo e manobra. O IN sofreu 4 mortos prováveis e vários feridos não controlados.

Quanto aos 4 mortos prováveis e feridos vários, foi a informação que passou pelo famoso Régulo Abibo Injasso e seus informadores. O Régulo que dizem ter morrido era uma boa alma, a Meca ia todos os anos, e o Exército Português pagava. As informações tinham uma tabela, grande parte das vezes era verdadeira. 

O que sei é que se fosse minar ou armadilhar determinadas zonas , e fosse somente a NT, e não iam nem Caçadores Nativos nem Praças “U”, para mim era sinal que o PAIGC se desviava, não do local nem da zona, era a garantia que tinha que por determinados locais das imediações de Gadamael Porto não passavam. Nada dizia, nem ao Capitão. 

Em relação [à informação] das NT sofrerem 3 mortes, 4 feridos graves (3 Milícias) e 3 feridos ligeiros (2 Milícias). Não tenho conhecimento que tivessem havido mortos e feridos. 

A Operação foi de 21 a 28 de Dezembro e estive sempre lá. (...)

4 comentários:

Luís Graça disse...

Zé Martins:


A Tabanca Grande não atribui louvores nem condecorações... por manifesta carência de meios... Talvez um dia ainda arranje um mecenas que nos resolva alguns problemas logísticos, informáticos, financeiros...

Mas, se o pudesse fazer, tu serias um dos nossos diletos colaboradores a estar na primeira fila para receberes uma medalha de mérito pelo teu trabalho, discreto, rigoroso, solidário, valiosíssimo...

Ainda por cima pagas do teu bolso as deslocações até ao Arquivo Histórico Militar, e não contabilizas (nem fazes alarde disso...) o tempo gasto com o teu consultório militar ou outros pedidos que os leitores e editores te fazem com frequência...


Bem hajas, camarada!


Luís Graça disse...

A missão do nosso blogue é (também) a de levar algum conforto às famílias dos nossos camaradas que morreram no TO da Guiné...

E essa missão temo-la cumprido (ou tentado cumprir) com compaixão, com paixão, com rigor, com procura da verdade factual (dentro das nossoas possibilidades e dos limites das fontes de informação, escrita e oral, de que dispomos)...

Devemos poupar as famílias desses camaradas, que ainda sofrem a perda dos seus enrtes queridos, evitando expô-las às nossas pequenas quezílías, azedumes, estados de alma ou divergências de pontos de vista, de leitura e de interpretação dos factos... Há problemas, menores, que devemos resolver dentro da "caserna"...

No caso dos três camaradas que morreram no decurso (ou na sequência) da Op Relance, o meu obrigado por todos os contributos, incluindo o do nosso leitor Aníbal Teixeira, casado com a irmã do malogrado alf mil art Tavares Machado.

Obrigado a todos. Luis Graça

José Marcelino Martins disse...

Não me bato por louvores e/ou condecorações.

Tive conhecimento e entrei para a "então tertúlia", ao ser falado o caso da "Jangada do Cheche" que, ao ter vivido esse caso de muito perto, me levou a entrar no diálogo.

Todos tivemos dois anos, mais mês, menos dia, de vivência terrível. De volta à santa terrinha, longe dos problemas bélicos, ainda houve outros problemas que todos e cada um de nós, teve de enfrentar.

Não há ninguém igual, nem os gémeos. Cada um reage à sua maneira, cada um defende a sua dama.

Por mim defendo o direito à informação dos familiares dos nossos camaradas que, por ironia do destino, tombaram no CAMPO DA HONRA. Se fosse eu a tombar, e "oportunidades em combate e/ou acidente" não faltaram, gostaria que transmitissem à minha própria família o que se passou, para que a verdade não lhes fosse ocultada.

Evidentemente que há verdades e verdades. Muitas vezes um simples caso é, agora a mais de 40 anos de distância, influenciado pelo amadurecimento das ideias e dos factos que vivemos e as informações que nos foram transmitidos.

Mas tem de haver um “equilíbrio” e, quer queiramos quer não e, esse “equilíbrio” chama-se “versão oficial”, aquela que foi escrita pelos protagonistas ou em seu nome, por alguém a quem foi dada essa missão, e o que foi escrito é o que é a versão oficial: A versão oficial é o que consta nas Histórias das Unidades, nos Relatórios de Operações, nas Ordens de Serviço e demais documentação, nomeadamente ofícios ou outra correspondência.

É essa documentação que eu consulto, cruzando dados para obter o ponto de equilíbrio. Há erros que se cometem, porque os documentos já os contêm, ou porque ao serem transcritos, também erramos. Por isso “todos somos poucos” para que as missões que nos foram confiadas não sejam escondidas ou falseadas. Para tal, só congregando o esforço de todos é possível.

Voltando às distinções, e para ti Luís, tens de “pôr travões ao teu coração” para que não ponhas amizade à frente da razão.



Luís Graça disse...

Tens razão... e coração, Zé: conciliar uma e outro, não é fácil. Nunca foi fácil... Veja-se o trabalho dos juizes, dos avaliadores, dos árbitros, dps examinadores.

No meu caso, procuro também não esquecer o avisado princípio de que, em tudo na vida, "há razões do coração que nem sempre a razão conhece"...

Um bom dia para ti e para todos... LG