sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13892: (Ex)citações (247): A propósito das ajudas (suecas e outras) ao desenvolvimento... Os elefantes brancos da Guiné-Bissau (Beja Santos)


Guiné > Região de Bafatá > Xime > Um "elefante branco": um silo de mancarra (que seria depois transportada de barco, pelo Rio Geba, até ao Cumeré, onde pelo menos já em 1991 o Beja uma  fábrica de descasque )... Não sabemos a proveniência do financiamento [O Rosinha diz que era gaulês...]


Foto: © Mário Beja Santos (2011). Todos os direitos reservados


1. Excerto de um texto de reportagem do Mário Beja Santos, de visita ao Xime, em finais  de 2010 (*):

(...) Ninguém ignora que há elefantes brancos na Guiné, construções grandiosas e sem préstimo, projectos faraónicos que serviram para sacar financiamentos e que não trouxeram um grama de desenvolvimento.

O que se está a ver, e segundo informaram o Tangomau, é um majestoso silo da mancarra que seria descascada no Cumeré onde o Tangomau em 1991 viu uma construção gigantesca que depois terá sido vendida para a Índia, a preço de saldo. 

São muitos os autores que se interrogam sobre os projectos que não levam a ponto nenhum. Em Bissau, o Tangomau comprou no INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa um livro sobre a intervenção rural onde uma autoridade, Flavien Fafali Koudawo, escreve coisas como esta: 

“Ao tomarem as rédeas da Guiné-Bissau independente, as novas autoridades assumiram-se portadoras de um modelo de desenvolvimento. Na ausência de uma visão clara deste modelo, e dado a inexistência de um quadro de articulação coerente das vias e meios para alcançar metas bem planeadas, o referido modelo ficou apenas um objectivo vislumbrado. Nem as orientações do terceiro congresso do PAIGC que pretenderam traçar em 1977 o quadro da reconstrução nacional, nem o primeiro plano quadrienal de desenvolvimento económico e social (1983 – 1986) conseguiram consubstanciar um verdadeiro projecto nacional, no sentido de uma projecção num futuro desejado, conscientemente escolhido e claramente delineado. Na ausência deste projecto, o modelo afogou-se na ineficaz heterogeneidade duma miríade de projectos que ilustraram sobejamente que de boas intenções o inferno está cheio”. 

Não é nada agradável terminar assim o dia depois de percorrer este território onde os guerrilheiros do PAIGC se impuseram do princípio ao fim, como se estivesses absolutamente conscientes do vigor da sua causa. 

Aqui, no Xime, avista-se esta construção faraónica que nunca foi usada, à sua volta há trabalhadores a cultivarem como há milhares de anos, no delta do Nilo. É uma visão da ficção científica ou de como em África há que repensar o desenvolvimento e o bem comum. E fiquemo-nos por aqui, foi um dia a valer, já nem haverá tempo de ver o pôr-do-sol no Bairro Joli. E, no regresso, ainda há uma paragem comovente em Amedalai que se contará no relato de domingo de manhã, antes do Tangomau ir às compras para a grande festa, o grande reencontro com todos quantos puderam vir. (...) (**)

_______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 11 de janeiro de  2011  Guiné 63/74 - P7590: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (13): Os mistérios da estrada da Ponta do Inglês

(**) Último poste da série > 5 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13850: (Ex)citações (246): Ainda o rebentamento de uma granada no meio da população de Ganturé, durante um batuque (Mário Vitorino Gaspar)

4 comentários:

Antº Rosinha disse...

Essa fábrica do Cumeré, cuja foto não dá ideia da grandiosidade, foi a França que projectou e o dinheiro se não era francês era da CEE.

Era a Guiné sonhada pelos irmãos Cabral, Amilcar e Luís.

É que segundo os grandes agrónomos do PAIGC e do (MPLA, e FRELIMO) que todos tinham lábia para enrolar os anti-colonistas europeus, anjinhos que estão a entregar o ouro aos chineses, diziam esses agrónomos, que se os guineenses e angolanos, debaixo do chicote produziam tanto amendoim, café, etc. para o branco, imaginem quando trabalharem para si próprios.

Pois dentro daquela filosofia, essa fábrica do Cuméré estava projectada e dimensionada para bombar o óleo de amendoim produzido, directamente para o porto do Pidjiquiti para os navios de exportação.

O BS deve ter fotografado à socapa porque não era muito aconselhável exibir máquinas fotográficas.

Mesmo apesar dos exageros, antes ver «as pequenas» coisas da Guiné do que a Manhatan em que o MPLA está a transformar Luanda.

O interessante é que era mesmo assim que os sonhadores do MPLA e do PAIGC diziam nos anos 50 que aconteceria se «se lhes dessemos a independência».

Era para ser tudo em grande!


Antº Rosinha disse...

Faz hoje anos do golpe de 14 de Novembro, do Nino, sobre o Luís Cabral.

Como ficou a ideia que era um golpe contra os Caboverdeanos, estes cavaram em maioria por terra mar e ar, aquilo a que deitaram a mão.

Foi como mais ou menos o que me aconteceu a mim, quando como retornado dei de frosques em Angola.

Um dos caboverdeanos mais relacionados profissionalmente comigo e com a TECNIL, era o encarregado geral da construção da fábrica do Cuméré que faltava pouco para terminar.

Esse rapaz tinha uma filharada enorme, e com um Geep grande fugiu pelo Senegal em menos de 24 horas.


Luís Graça disse...

Rosinha: percebeste mal... A foto foi tirada no Xime, em finais de 2010, quando o Beja Santos (disfarçado de "Tangomau") voltou ao "local do crime", o antigo setor L1 - Zona Leste 1 (Bambadinca, de que o Xime era subsetor, e onde apanhámos "manga" de porrada, ele no Pel CCAÇ Nat 52, eu na CCAÇ 12)...

É um armaz+em, um silo de mancarra, que depois iria alimentar a tal fábrica do Cumeré, de descasque e se calhar torrefacção, que, essa sim, foi vista pelo Beja Santos, em 1991, e que entretanto terá sido vendida aos indianos...

Mas. pelo que tu, Rosinha, nos contas, era um projeto "gaulês", numa área de influência "francófona"... Mais um "galo" na testa do "chauvinismo" gaulês...

Para mais mancarra, uma típica "oleaginosa" imposta pelo colonialismo !... Uma desgraça em termos ambientais, agrícolas, sociais, económicos... Tal como o caju...

Ah!, Amícal Cabral, Amílcar Cabral, senhor engenheiro agrónomo de grande visão estratégica, vê tu, lá do Olimpo dos guerreiros, como foi acautelada a segurança alimentar do teu povo!

Recordo-me dos fulas contarem-me a lenda da "semente do diabo" (a mancarra)...

Antº Rosinha disse...

Confundi a legenda da foto de facto estranhava a quela vista sendo do Cuméré, agora me lembro daqueles silos no Xime.

Mas sobre aquela mania das grandezas, dos dirigentes do MPLA, PAIGC e FRELIMO, também aqueles brancos antigos e mesmo modernos mais africanistas tinham as mesmas peneiras de grandezas.

E como se misturava aquela ideia do colonialismo e salazarismo, encaixava às mil maravilhas que era o Salazar o único culpado do atrazo, e dizia-se ora com a independência, ora com o fim do Salazar, iamos todos para o paraíso.

De qualquer maneira aqueles movimentos foram nossos aliados para salvar aquelas fronteiras.

No fim tudo se cria!