domingo, 23 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13934: Agenda cultural (360): lançamento do livro "Estudos Gerais Universitários de Angola: 50 anos, história e memórias", edição Colibri, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 5ª feira, dia 27, às 18h00




1. A minha amiga Marília de Sousa, engenheira agrónoma reformada, natural de Angola, e a viver em Portugal desde 1975,  mandou-me este convite que quero partilhar com mais amigos de Angola. Trata-se do lançamento do livro "Estudos Gerais Universitários de Angola: 50 anos, história e memórias".  A iniciativa é de um conjunto de Antigos Alunos dos Estudos Gerais Universitários de Angola. A Marília de Sousa é coordenadora de uma equipa de seis e autora de alguns textos. A edição é da Colibri. A apresentação, a cargo da jornalista Helena Matos, é na Fundação Calouste Gulbenkian, Sala 1,  no próximo dia 27, 5ª feira. A minha amiga  fez o curso de agronomia no ISA, Lisboa, mas começou o ensino superior em Luanda.



2. Sobre a evolução do ensino superior universitária em Angola, 
leia-se aqui este excerto do sociólogo angolano Paulo de Carvalho, uma voz crítica mas respeitada no seio da sociedade angolana de 
hoje [ Fez a licenciatura e o mestrado  em sociologia pela Universidade de Varsóvia, Polónia, e o doutoramento em Lisboa, no ISCTE -IUL, em 2004, com uma tese sobre "Exclusão Social em Angola. O caso dos deficientes físicos de Luanda"]




 (...) O ensino superior foi implantado em Angola (então colónia portuguesa) somente no ano de 1962, com a criação dos Estudos Gerais Universitários de Angola. A Igreja Católica tinha, porém, criado em 1958 o seu Seminário, com estudos superiores em Luanda e no Huambo (...). À criação dos Estudos Gerais Universitários de Angola seguiu-se a criação de cursos nas cidades de Luanda (medicina, ciências e engenharias), Huambo (agronomia e veterinária) e Lubango (...)  (letras, geografia e pedagogia).

/...) Em 1968, os Estudos Gerais Universitários de Angola foram transformados em Universidade de Luanda, tendo em 1969 sido inaugurado o Hospital Universitário de Luanda. A Igreja Católica havia, entretanto, criado em 1962 o Instituto Pio XII, destinado à formação de assistentes sociais.

 (...) No período colonial, o acesso ao ensino superior destinava-se somente a quem integrava as camadas superiores da hierarquia social, podendo mesmo dizer-se que, nos primeiros anos de implantação em Angola, era difícil que alguém pertencente às camadas médias da hierarquia social tivesse acesso ao ensino superior. O local de nascimento, o local de residência e a posição social determinavam claramente o acesso a este nível de ensino, que reproduzia para as gerações seguintes a estratificação social da Angola colonial. (...)

(...) Com a proclamação da independência política de Angola, em 1975, foi criada a Universidade de Angola (em 1976), mantendo-se uma única instituição de ensino superior de âmbito nacional. No ano de 1985, a Universidade de Angola passou a designar-se Universidade Agostinho Neto, que se manteve até 2009 como única instituição estatal de ensino superior no país. Neste ano, a Universidade Agostinho Neto (UAN) foi “partida” em 7 universidades de âmbito regional, mantendo-se a UAN a funcionar em Luanda e na província do Bengo, enquanto as faculdades, institutos e escolas superiores localizados nas demais províncias passaram a ficar afectos às demais seis novas universidades estatais. (...)

(...) Os Estudos Gerais Universitários de Angola, instalados em 1963 em Luanda e Huambo, possuíam em 1964 um número de 531 estudantes. No final do período colonial, esse número tinha evoluído para 4.176, com um aumento médio de 22,9% ao ano (...). Com o processo de descolonização, o número de estudantes diminuiu para 1.109 no ano de 1977, o que equivale a uma diminuição drástica, em 73,4%. Só por aqui se comprova a tese apresentada acima, segundo a qual o acesso ao ensino superior estava no período colonial vedado aos angolanos, cuja maioria se enquadrava nas camadas sociais mais desfavorecidas. (...)

Fonte: Paulo Carvalho - Evolução e crescimento do ensino superior em Angola. "Revista Angolana de Sociologia (RAS)", 9, 2012, pp,  51-58 [Texto integral disponível aqui[

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Nota do editor:

4 comentários:

Antº Rosinha disse...

Os "estudantes do império" sempre foram poucos mas bons.

Os estudantes do império sempre deram lições aos estudantes metropolitanos, e continuam.

Haverá estudantes do império durante imensos anos e de certa maneira não sobreviveremos (o Puto)bem sem a sua presença.

Os estudantes do império sabem que sem eles em Portugal, a "Bola é quadrada".

O que vale é que alguns dos genes ultramarinos já há muitos anos estão cá disseminados.

Esperemos que os estudantes do império não abandonem totalmente África ao seu destino.

J. Gabriel Sacôto M. Fernandes (Ex ALF. MIL. Guiné 64/66) disse...

O sociólogo angolano Paulo de Carvalho afirma que no tempo colonial só as camadas superiores da sociedade tinham acesso a estudos superiores na Universidade de Luanda. Estranho que após a independência, quando os colonialistas deixaram de ditar as regras de acesso, e que, portanto as novas autoridades não limitaram a ninguém esse acesso, a diminuição de frequência ao ensino superior, tenha decrescido 70,4%.

Antº Rosinha disse...

Desculpa Sacôto, mas deixa eu traduzir "pra tu" (angolês à Luandino Vieira)

Paulo de Carvalho, quer dizer com descrecimento de universitários em Luanda com a independência, é que eram brancos estudantes que deram o cavanço (retornados) e que ficaram só os pretos.

Paulo de Carvalho quer dizer que não eram angolanos aqueles que abandonaram a Universidade.

Eram brancos colonialistas, imperialistas a maioria dos Universitários.

Penso J. Sacôto, que te estou a interpretar bem aquilo que Paulo de Carvalho quer dizer.

Luís Graça disse...

Camarada Sacôto Fernandes: Antes de mais, obrigado pelos camaradas que tens trazido para o blogue, a começar pelo teu sobrinho, João Martins (que é uma joia de pessoa).

Quantoaos números da discórdia... O Rosinha já deu a explicação, que é óbvia, para a quedra de 70% na população do ensino superior em 1977... Angola perdeu em 1975 os seus melhores quadros, e centenas milhares de pessoas que procurarm destinos mnais seguros opara refazer as suas vidas (Portugal, Brsail, África do Sul)...

Portugal, em contrapartida, cresceu cerca de 5% em termos populacionais nesse ano.

O Paulo de Carvalho, que eu não conheço pessoalmente, embora dê conta do crescimento exponencial da população que frequenta o ensino superior em Angola, sobretudo depois do fim da guerra civil, é muito crítico em relação à qualidade do ensiino, dos alunos e dos professores (Le~até ao fim o artigo dele, dispon+ivel em formato pdf)...

Mas Angola está a fazer o seu caminho e é um país lusófono que temos de acarinhar, sem falsos paternalismos. Hoje tratamo-nos de igual para igual, e isso é que importa, natuarlmente tentando compreender os fatos históricos... Um abraço. Luis