domingo, 21 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13633: Fotos à procura de... uma legenda (34): Missas históricas no Império: do ilhéu de Coroa Vermelha, no litoral sul da Bahia, Brasil (26/4/1500) a Gandembel, Região deTombali, CTIG (25/12/1968)... (António Rosinha / Idálio Reis)


A Primeira Missa no Brasil, 1860. Museu Nacional de Belas Artes, Brasil. Imagem do domínio público. Cortesia de Wikipédia.

A obra prima do pintor  académico Victor Meirelles de Lima (Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis, 1832 — Rio de Janeiro, 1903) . A tela é um hino ao ecumenismo, ao retratar a chegada pacífica da armada de Álvares Cabral a Porto Seguro, no sul da bahía,  e a celebração da primeira missa, no Novo Mundo, assistida pelos habitantes locais, tupiniquins, pertencentes á nação tupi... Os descendentes dessas hstóricas testemunhas da chegada dos portugueses ao Novo Mundo não deverão ultrapassar hoje um milhar...

"A primeira missa no Brasil foi celebrada por Dom Frei Henrique de Coimbra no dia 26 de abril de 1500, um domingo, na praia da Coroa Vermelha, em Santa Cruz Cabrália, no litoral sul da Bahia. Foi um marco para o inicio da história do Brasil e descrita por Pero Vaz de Caminha na carta que enviou ao rei de Portugal, D. Manuel I (1469-1521), dando conta da chegada ao Brasil, então Ilha de Vera Cruz, pela armada de Pedro Álvares Cabral que se dirigia à Índia" (Fonte: Wukipédia).

Na sítio "História da Bahia", Jonildo Bacalar escreve o seguinte sobre esta priimeira missa:

"Quatro dias após ter chegado em Porto Seguro, no Domingo de Páscoa, em 26 de abril de 1500, Cabral determinou que se realizasse uma missa no ilhéu da Coroa Vermelha. Foi a Primeira Missa celebrada em solo brasileiro e o evento foi documentado pela Carta de Caminha. Era o último ano do século 15.

Cabral ordenou a presença de todos os capitães na Missa. Mandou armar um esperavel, e dentro dele um altar mui bem corregido.

A Primeira Missa foi celebrada pelo frei franciscano Henrique Soares de Coimbra, auxiliado pelo padre Marcos de Oliveira Ferreira. No total, eram oito frades, todos franciscanos, todos presentes e todos rezaram.

A bandeira de Cristo, trazida por Cabral de Belém, ficou hasteada durante a Missa. Não há menção de Caminha quanto a existência de uma cruz na Primeira Missa.

Acabada a Missa, frei Coimbra desvestiu-se e subiu numa cadeira alta, de onde fez uma pregação do Evangelho, terminando com referências à chegada dos portugueses na terra achada.

A cerimônia foi também acompanhada pelos tupiniquins. No final, levantaram-se muitos deles, tangeram corno ou buzina, e começaram a saltar e dançar um pedaço." (...)



Guiné > Região de Tombali > Gandembel > 25/12/1968 > Missa de Natal celebrada pelo capelão-mor das Forças Armadas, bispo de Madarsuma (*). Foi a última missa celebrada em Gandembel...


Foto: © Idálio Reis (2007). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]


1. Comentário do nosso "mais velho" Antº Rosinha ao poste P13616 (*):

(...) A foto da "Última Missa em Gandembel", é uma das fotos mais falantes do que qualquer outra que se possa ver sobre a Guerra do Ultramar. Aquela mesa/altar, aquele ajudante em tronco nú, representam bem o desenrascanço da malta.

Esta última missa documentada por Idálio Reis, contrasta com a 1ª missa, festejada por índios e pintada por artistas e documentada pela carta de Caminha.

Quatro dias após ter chegado em Porto Seguro, no Domingo de Páscoa, em 26 de abril de 1500, Cabral determinou que se realizasse uma missa no ilhéu da Coroa Vermelha. Foi a Primeira Missa celebrada em solo brasileiro e o evento foi documentado pela Carta de Caminha. (...)-


2. Comentário do editor LG:

Rosinha, é uma legenda genial, a tua,  para esta foto, como já te tinha dito... Tens olho de lince e um grande sentido do simbólico, e uma grande sensibilidade sociocultural, ou não fosses tu um português das sete partidas...

Descobri agora esta foto de uma conhecidíssima tela do pintoir brasileiro Victor Meirelles.. Foi pintada em 1860 e teve sucesso nuam exposição em Paris, em 1861.. Espero que os nossos leitores nos ajudem a enriquecer (ou a rescrever) a tua legenda... Há algum paralelismo entre uma e outra imagem, a primeira missa em terras brasileiras domingo de páscoa, 26/4/1500)  e a última missa na martirizada Gandembel (natal, 25/12/1968), aquartelamento que será avacuada um mês de depois  (E menos de nove meses sofreu mais de 370 ataques e flagelações) (**)....

Já agora convidamos os nossos leitores a conhecer (ou a reler) a famosa Carta de Pero Vaz de Caminha a el-Rei D. Mnauel I, fixada em português moderno e publicada pelo jornal Público, por ocasião do seu 24º aniversário, na sua edição de 5/3/2014. 

É um espantoso documento literário e etnográfico que os brasileiros valorizam muito mais do que os portugueses. É também uma fonte de inspiração e um exemplo a seguir por todos aqueles que, tendo sido combatentes na última guerra do império, se identificam com (e/ou seguem) este blogue, mas acham que não têm de nada especial ou excecional para contar ou ou que  têm pouco ou nenhum jeito para a escrita. Cite-se a parte final da Carta:

(,,,) "E nesta maneira, Senhor, dou aqui a Vossa Alteza do que nesta vossa terra vi. E, se algum pouco me alonguei, Ela me perdoe, que o desejo que tinha, de Vos tudo dizer, mo fez assim pôr pelo miúdo.

E pois que, Senhor, é certo que, assim neste cargo que levo, como em outra qualquer coisa que de vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro – o que d'Ela receberei em muita mercê.

Beijo as mãos de Vossa Alteza.

Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500.

Pêro Vaz de Caminha"


________________

6 comentários:

Luís Graça disse...

Acrescente-se que o escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral, então com 50 anos, tinha "olho para as bajudas"...

Veja-se como ele descreve uma que apareceu na 2ª missa, a do dia 1/5/1500:


(...) "Entre todos estes que hoje vieram, não veio mais que uma mulher moça, a qual esteve sempre à missa e a quem deram um pano com que se cobrisse. Puseram-lho a redor de si. Porém, ao assentar, não fazia grande memória de o estender bem, para se cobrir. Assim, Senhor, a inocência desta gente é tal, que a de Adão não seria maior, quanto a vergonha." (...)

O primeiro escritor brasileiro da história, Pero Vaz de Caminha (1450-1500), morreria, poucos meses depois, em Calecute, Índia, em 15/12/1500, em combate (segundo a tradição)...

Devem ter sido tempo fascinantes para estes nossos bravos antepassados, "achadores de novos mundos"...

Luís Graça disse...

E a propóito do final da carta, será que o Pero Vaz de Caminho, oportunista, mete uma "cunha" ao Rei, intercededendo pelo seu genro Jorge de Osório que estava na ilha de São Tomé ?

Há 2 artigos curiosos sobre este alegado atentado ao bom nome do nosso camarada Pedro Vaz de Caminha que teria introduzido no Brasil o famoso Fator C... e, mais do que isso, o "nepotismo", a corrupção de Estado...


Sítio Observatório da Imprensa
JORNAL DE DEBATES
HISTÓRIA & EQUÍVOCOS
Pero Vaz de Caminha pede justiça
Por Sinval Medina em 04/08/2009 na edição 549


http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/pero_vaz_de_caminha_pede_justica


Leia-se também no Ciberdúvdias da Língau Portuguesa:

Lusofonias
O nepotismo, o emprego e o "Estadão" *
Francisco Seixas da Costa**
Artigo do embaixador de Portugal no Brasil, Francisco Seixas da Costa, sobre o falso caso do «primeiro nepotista lusófono», publicado no "Estado de S. Paulo", de 31 de Agosto de 2008

http://www.ciberduvidas.com/lusofonias.php?rid=1933

Cito um excerto do artigo de Sinval Medina:


(..:) Para entender o significado do texto [, a ´«ultima parte da Carta}, vamos conhecer um pouco melhor seu autor. Pero Vaz de Caminha era filho de Vasco Fernandes Caminha, fidalgo e escrivão, que provavelmente o educou e encaminhou para o mesmo ofício. Supõe-se que tenha nascido na cidade do Porto por volta de 1450 – até hoje não foi localizado o assento de batismo. Em jovem, tomou parte nas lutas movidas pelo rei Afonso V contra Castela (1476-79). Ocupou cargos importantes na burocracia oficial e, em 1497, foi eleito vereador na Câmara do Porto. Nomeado escrivão da frota de Cabral, morreu em combate na Índia em dezembro de 1500, oito meses após deixar as praias de Pindorama, que pintara em cores tão vivas na missiva em que, segundo as más línguas, pedia emprego para um parente. A essa altura, a carta já chegara às mãos do Rei, levada por Gaspar de Lemos, comandante do navio que regressou a Portugal para levar a notícia da descoberta da nova terra.

Ao que parece, Pero Vaz estava preocupado com a família quando partiu de Portugal. Sua filha única, Isabel de Caminha, fizera mau casamento. O marido, um certo Jorge de Osório, indivíduo de maus costumes, fora preso por assalto à mão armada e condenado a degredo para a ilha de São Tomé, na África. Mesmo sendo genro de um alto funcionário do reino, o meliante fora apanhado nas malhas da lei. À época, vigiam em Portugal as Ordenações Afonsinas, de 1446, que haviam separado o direito canônico do direito temporal.

Os delitos sujeitos ao degredo variavam da sedução de moça virgem ou viúva honesta até a adulteração de moeda. Roubo, lesões corporais, má-fé em transações comerciais também podiam levar o acusado a uma estadia forçada no ultramar. Só a condenação às galés ou a pena capital eram penas mais pesadas que o banimento para a África e, mais tarde, para o Brasil, já sob as Ordenações Manuelinas (1521) e Ordenações Filipinas (1603). (...)

Vasco Pires disse...


"...A carta do escrivão Pero Vaz de Caminha, iniciada em 26 de abril e concluída no dia 1º de maio de 1500, foi enviada imediatamente para o rei por intermédio de Gaspar de Lemos, anunciando a boa nova da descoberta de terras. Ela tornou-se “a certidão de nascimento” do Brasil, como a chamou Capistrano de Abreu. O documento, no entanto, só se tornou publico em 1790, sendo a carta publicada a primeira vez no Brasil em 1817, pelo geógrafo Manoel Ayres do Casal, no primeiro volume da Corographia.

É uma narrativa detalhada e minuciosa do que se passou na viagem e dedica inúmeras páginas, das 26 originais, a descrever os nativos e as terras encontradas, onde, segundo ele, maravilhado com a exuberância tropical, “Esta terra, senhor” escreveu “em tal maneira é graciosa que querendo-a aproveitar dar-se-há nela tudo”."
Voltaire Shilling

Pela transcrição:
VP

Anónimo disse...

Na minha estória Peluda...Peludas 17/10/2009, citava Pero Vaz de Caminha... as índias nuas,mostrando "suas vergonhas tão altas e cerradinhas"

Abraço.

J.Cabral

Arménio Estorninho disse...

Gostei dos extractos da narração da chegada de Pedro Alvares Cabral ao Brasil e do acto da primeira Missa em terra.

No entanto para elucidar sobre a data (1 de Maio de 1500)da realização da Missa, faço uma pequena descrição cronológica de:
No dia 21 de Abril de 1500, são encontradas plantas marinhas, as aves redemoinhando nos ares ou pousando sobre as águas, um hálito perfumado, impregnando a atmosfera, anunciaram aos navegantes a proximidade de regiões desconhecidas;
A 22 de Abril de manhã, o gageiro da nau capitanea bradou no cesto da gávea -terra!-;
A 23 de Abril de manhã, as naus aproaram e sulcaram as águas em direcção à terra,(na praia grupos de homens, de mulheres e de crianças apareciam entre as árvores). Não podendo desembarcar ai, porque o mar quebrava então muito na costa, seguiram os portugueses na volta do norte, buscando algum porto seguro; No dia 24 de Abril, encontraram uma enseada, onde logo entraram os navios menores e alguns marinheiros conseguiram de sobressalto tomar dois indigenas;
A 25 de Abril, os dois indigenas, que tinham sido levados à presença de Pedro Alvares Cabral, são enviados para terra a fim de evitar suspeitas ou receios;
A 1 de Maio de 1500, foi o dia designado por Pedro Alvares Cabral para resolveu solenemente tomar posse daquela região, com uma Missa em terra tendo assistido os navegantes, ataviados das melhores telas e de luzidas armas;
No Dia 3 de Maio, partindo Pedro Alvares Cabral e deixando em terra dois degredados, vivo testemunho de posse incontestada.

Com Um Abraço
Arménio Estorniho



Antº Rosinha disse...

Este post ficará sempre incompleto se o ajudante do Capelão Mor na missa de Gandembel, não fôr identificado.

Conhecemos o local da missa, o celebrante, mas aquele anónimo com aspecto de um simples praça, merecia sair do anonimato.

Faço votos que seja um homem feliz e com saúde, assim como desejo o mesmo para o Bispo celebrante.

Não costumo ir aos almoços da tabanca, por motivos variados, mas mandava os "motivos variados" às urtigas só para pagar o meu e o almoço dos dois, Bispo e ajudante, só para dar umas valentes gargalhadas com aquelas duas almas num almoço bem regado.