sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13628: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte X: novembro de 1972, início da época seca: (i) desmantelamento de uma célula clandestina do PAIGC, com a prisão de caboverdianos em Bambadinca; e (ii) continuação das visitas ao Enxalé de elementos pop sob controlo IN

1. Continuação da publicação da história do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74), a partir de cópia digitalizada da história da unidade, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte.

[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972/74; foi voluntário para a CCAÇ 12 (em 1973/74); economista, bancário reformado, foto atual à esquerda].


Dois destaques, no mês de novembro de 1972, início da época seca:

(i) distribuição de panfletos clandestinos com a denúncia, por parte do PAIGC; da prisão de caboverdianos em Bambadinca; presume-se que as prisões tenham sido efetuadas pela PIDE/DGS, de Bafatá; o comando do BART 3873 admite a existência de uma célula clandestina do PAIGC, na vila de Bambadinca, "núcleo populacional, militar e económico de importância";

(ii) apresentaram-se, no Enxalé, mais 3 elementos da população controlada pelo PAIGC, e ao mesmo tempo o destacamento e tabanca recebeu a visita de 74 elementos pop; esta "desproporção" entre  "apresentações" e "visitas" é explicada pelo receio de represálias por parte do PAIGC sobre as populações que controla "no mato"; no entanto, estas visitas, cada vez mais frequentes, parecem ser toleradas ou até desejadas pela guerrilha...



Guiné-Bissau > Cuor > Belel > 2010 > Mneinos da escola de Belel... Muito provavelmente netos e filhos de "gente do mato", da zona de Madina / Belel  (a sul da região do Morés) que o PAIGC controlava, no tempo da guerra colonial, e que iam visitar os seus parentes ao Enxalé, a sul, na margem direita do Rio Geba, frente ao Xime...

"Seguiu-se para Belel. Esta é uma enternecedora memória, a escola de Belel. Curiosamente, o professor, vemo-lo na primeira fila de pé, também se chama Sori, recebeu-nos efusivamente, propôs fotografia. O Tangoamu gosta a valer desta imagem, mais do que futuro temos aqui a hospitalidade guineense. Aqui se interrompe a viagem, a motocicleta está cada vez pior e o narrador quer ter mais história para contar, amanhã. Vamos continuar, está prometido" (MBS).


Foto (e legenda): © Mário Beja Santos (2010). Todos os direitos reservados.




Guiné > Zona Leste > Mapa do Xime (1955), 1/50000 > Detalhe: o Rio Geba, o Rio Corubal, à esquerda,  o Xime e, do outro lado do Rio Geba, o Enxalé... Em novembro de 1972, a unidade de quadrícula do Xime era a CART 3494, com um 1 Gr Com destacado no Enxalé. Estava tanb+em no Xime o 20º Pel Art, com 3 obuses 10,5, além de um esquadrão do Pel Mort 2268 (, sediado em Bambadinca). O Enxalé tinha ainda 2 GEMIL, 309 e 310. A população era balanta (Enxalé) e mandinga (Xime)..

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014).


Novembro de 1972, início da época seca: (i) desmantelamento de uma célula clandestina do PAIGC, com a prisão de caboverdianos em Bambadinca; e (ii) continuação das visitas ao Enxalé de elementos pop sob controlo IN







(Continua)
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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13590: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte IX: outubro de 1972: (i) no final das chuvas, e ao fim de dez meses de comissão, o primeiro ataque a um barco civil, o "Mampatá", no Rio Geba Estreito, à 1 hora da noite, de que resultaram feridos, 1 militar e 3 civis; (ii) Spínola no encerramento do 3º turno de instrução de milícias; e (iii) 37 balantas de Mero recebem instrução militar...

8 comentários:

Sotnaspa disse...

Boa tarde
Camaradas

Vou "botar" palavra sobre o seguinte:
No Xime em Novembro de 1972 a esquadra do Pel Mort só podia ser do 4575/72 que rendeu o 2268 em 22 de Jul de 1972.
Tenho dito

Um alfa bravo do
ASantos
SPM 2558

Luís Graça disse...

OK, vamos corrigir... Reportámo-nos à situação do início da comissão do BART 3873...

Luís Graça disse...

1. Na história do BART 3873, e mais especificamente em relação a este episódio da prisão de caboverdianos em Bambadinca, não há uma referência explicita à PIDE/DGS... E no entanto essas prisões, tratando-se de elementos da população civil, ligados a casas comerciais (provavelmente, Casa Gouveia) ou à administração do porto de Bambadinca ou ainda a famílias de agricultores de origem caboverdiana... Recorde-se que havia em bamabdinca uma conceituada família de agricultores, que tinha como patriarca o Inácio Semedo, um histórico do nacionalismo guineense... Não sei se era de origem caboverdiana, penso que sim... Um dos seus filhos, o enfº In+acio Semedo Jr, militante e dirigente do PAIGC e mais tarde embaixador...

Mas também havia uma família Brandão em Bambadinca, com ligações a Catió. Provavelmente, eram parentes. Falando, ao telefone, há uns anos atrás (2008) com Inácio Semedo Júnior, que vivia em Lisboa, apurei o seguinte:

(i) na altura com 65 anos de idade, deveria ter nascido, portanto, por volta de 1943);

(ii) era natural de Bambadinca;

(iii) era filho de Inácio Semedo, um histórico do PAIGC;

(iv) a família tinha propriedades na região; nomeadamente o pai tinha uma destilaria de aguardente de cana, tendo costume comprar arroz aos Brandão, de Catió, para alimentar os seus trabalhadores balantas de Bambadinca (possivelmente de Samba Silate, Nhabijões, Mero, Santa Helena...);

(v) trocava-se, naquele tempo, aguardente por arroz, sendo o arroz do sul, do celeiro da Guiné, o melhor;

(vi) A Guiné era pequena e todo o mundo se conhecia.

A família Brandão, de Catió, também deu pelo menos um militante do PAIGC, que ele, Inácio Semedo Júnior, irá conhecer na luta de guerrilha, no sul.

Confirmou-me que em Bambadinca também havia uma família Brandão (com quem os Semedo seriam aparentados, se bem percebi...).

2. Estas histórias e sobretudo da PIDE/DGS, com o seu duplo estatuto de "política política" e de "inteligência militar", dificilmente são evocadas pelos ex-combatenets, pelo menos publicamente...

Porquê ? Por pudor, por autocensura, por ignorância ? Não creio... A colaboração da PIDE/DGS com o exército era aceite, desejada, tolerada e ao mesmo tempo temida pelos oficiais e sargentos do quadro...

Além disso, a PIDE/DGS, dizia-se, tinha informadores entre os oficiais e sargentos do quadro, com quem convíviamos todos os dias...

A sua existência, o seu papel e a sua importância na guerra colonial escapavam em grande parte ao conhecimento da maior parte dos milicianos... para falar do restante pessoal do contingente geral...

E no entanto em Bafatá "convívíamos" (pior ou melhor) com os agentes da PIDE/DGS lá colocados em serviço... E eles trabalhavam estreitamente (, julgo eu...), com os comandos de batalhão e com o pessoal dos Pel Rec Info...

Os poucos ou nenhuns contactos que a maior parte de nós teve com os agentes da PIDE/DGS, no TO da Guiné, e por ser esta uma "oolícia secreta" (e temida...) podem ser duas razões por que "eles" não têm figurado nas nossas histórias...

Luís Graça disse...

Ainda sobre a família Semedo, de Bambadinca, que eu não sei se era de origem metropolitana ou caboverdiana (,a dmito que fosse caboverdiana)...

Já aqui, em tempos deixei estes apontamentos que resultaram de uma conversa telefónica com o engº Inácio Semedo Júnior, em 2008:

(i) O pai, Inácio Semedo, agricultor, proprietário, foi um nacionalista da primeira hora, que andou a conspirar com o Amílcar Cabral e outros históricos do PAIGC, e que como tal foi preso e torturado pela PIDE e condenado a 2 anos de prisão;

(ii) O filho, Inácio Semedo Jr, estava então, em 2008, a ver se ainda recuperava parte do património da família em Bambadinca... .

(iii) Aos 16/17 anos[ , por volta de 1959/60,] veio estudar para Portugal, onde fez o liceu;

(iv) Deve ter aderido ao PAI (ou ao PAIGC), mais ou menos nessa época nessa época, e saído de Portugal;

(v) Segundo o historiador lusoguineense (e membro da nossa Tabanca Grande) eLeopoldo Amado, o Amílcar Cabral foi padrinho de casamento do pai, numa cerimónia que se realizou justamente em Bambadinca, na década de 50 (quando o Amílcar, engº agrónomo, trabalhava na Guiné);

(vi) Em 1964 [, com c. 21 anos,] vamos encontrar o Inácio Semedo Jr, na guerrilha, no sul, sob as ordens do comandante Manuel Saturnino da Costa (, irmão do Vitorino Costa, morto em 1962 em Darasalame pela trop da cp Curto);

(vii) Nunca andou na sua terra natal, Bambadinca, zona leste, a combater; parece que a orientação do PAIGC era, compreensivelmente, pôr os guerrilheiros em regiões diferentes daquelas onde tinham nascido e vivido (, op seu "chão");

(viii) Mais tarde (não percebi quando, exactamente) o jovem Inácio Semedo foi para a Hungria, onde tirou o curso de engenharia e fez o doutoramento em Ciências Agrárias (se não erro);

(ix) A seguir à independência trabalhou no Ministério das Obras Públicas, cujo titular da pasta era o Arquiteto Alberto Lima Gomes, mais conhecido por Tino, e que viria a morrer, mais tarde, num acidente de caça, actividade de lazer de que era um apaixonado;

(x) Inácio Semedo vivia, em 2008, em Portugal, retirado da vida pública do seu país;

(xi) Tinha um filho bancário;

(xii) Confessou-me que não conhecia o nosso blogue, por não estar muito familiarizado com a Internet; tinha endereço de email mas era o filho que o ajudava a gerir a caixa de correio;

(xiii) Continuava ligado ao seu partido de sempre, o PAIGC; prometemo-nos voltar a contactar, quando houvesse maior disponibilidade, de parte a parte: para falarmos da nossa Bambadinca ("hoje tão decadente, tão triste, tão morta"...), do nosso Geba Estreito ("onde já não circulam os barcos que lhe deram vida, cor e movimento"...), enfim, da "nossa Guiné" (onde o Inácio Semedo continuava a ir regularmente...);

(xiv) Infelizmente perdi o seu contacto e nunca mais voltámos a falar...

Antº Rosinha disse...

O Luísgraça&camaradas, já pode ser considerado uma enciclopédia onde caboverdianos e guineenses mais novos podem recorrer par compreenderem o seu passado.

Também no Luisgraça&camaradas se podem tirar lições para compreender atitudes de mancebos actuais, como ingleses e portugueses e franceses vão para o Iraque e Síria.

Já no nosso tempo se ia para Argel, Conacry, Bulgária, Croácia e Crimeia.

Luís Graça disse...

Rosinha, seria muita honra para o nosso blogue (e, por extensão, para a Tabanca Grande de que tu fazes parte, de corpo inteiro) se os nossos jovens (lusófonos...) aprendessem com os nossos, não direi "erros", mas "comportamentos" de juventude, em que alguns de nós caímos nas armadilhas dos totalitarismos (de esquerda e de direita)...

Não sei como daqui a 100 anos a história nos vai julgar... A interpretação da história da humanidade nunca foi nem nunca será de sentido único...

Mas não serei eu a condenar quem quer que seja que "pegou em armas" para defender os seus ideiais de juventude, portugueses, guineenses, caboverdianos, angolanos, moçambicanos, timorenses, etc... Todavia, denuncio as circunstãncias que levaram os jovens lusófonos a fazê-lo...

O avanço do(s) fundamentalismo(s) nas nossas "civilizadíssimas sociedades" do ocidente bem como no Próximo Oriente e na África (subsaariana e negra...) preocupa-me. Preocupa-me que se continua a cometer atrocidades "in nomine Dei", em nome do mesmo Deus que adoramos, ou que alguns dizem adoram (cristãos, judeus, muçulmanos...).

Um abraço fraterno para ti, grande portuga!

Luís Graça disse...

... O que me preocupa, Rosinha, é que estamos a crisr um mundo iníquo, dicotomizado, em que teremos um 1/3 de jovens trabalhadores, superquaiificados, bem remunerados e com perspetivas (razoáveis...) futuro, e os restantes 2/3 são gente subqualificacada, com empregos precários, mal remunerados, sem traabalho decente, vivemdo em "guetos", paredes meias com o crime organizado, em megacidades, e sem quaisquer perspetivas de futuro...

Como no passado "los desesperados" sõa uma boa fonte de recrutamento para aventuras totalitárias...

Antº Rosinha disse...

Luís, o mundo após as torres gémeas 11/9, deixa os nossos anos 60/70 parecerem histórias para crianças fazerem óó.

Sem falarmos na destruição da Europa na II Grande Guerra.

O nosso cantinho pode ser preservado se tivermos gente com "juizinho", com os pés no chão, e com manha, com patriotismo e humildade suficiente para reconhecer o comprimento da nossa passada.