quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Guiné 63/74 - P13537: Biblioteca em férias (Mário Beja Santos) (5): De Oxfordshire para Derbyshire: os primeiros dias

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 31 de Julho de 2014:

Queridos amigos,
Consegue-se bom tempo em Maio, em Inglaterra, mesmo com chuvadas intercalares.
O que continua a impressionar-me, e já lá vão umas boas visitas, é a harmonia entre a natureza e o construído, há aquele privilégio do sempre verde, há o sombrio da pedra, aquele diálogo circunspeto entre o antigo e a intrusão da modernidade, tudo se processa sem violências.
Gosto muito da arquitetura de Oxford, os seus parques, os seus museus. E sabe bem vaguear pelo campo.
Prometo continuar, não defraudar as vossas expetativas, neste Verão.

Um abraço do
Mário


Biblioteca em férias (5)

De Oxfordshire para Derbyshire: os primeiros dias

Beja Santos

O fito era percorrer as velhas aldeias da região das Cotswolds, aqui viveu gente insigne, como o escritor Thomas Hardy e William Morris, o genial artista de Arts and Crafts, depois vagabundear por Oxford, uma vez mais, e apanhar um comboio para a região de Derby, passando pelas relíquias da Inglaterra da Revolução Industrial, dos séculos XVIII e XIX.

O primeiro passeio aconteceu nos arredores de uma terra bem curiosa, de nome Faringdon, que tem uma igreja que Cromwell mandou bombardear, naqueles tempos da guerra civil. Algum disse: “Vamos ver uns quilómetros de bluebells, se não for agora não as apanhamos viçosas”.
Estávamos em Maio, o passeio foi de tarde, entrámos no bosque com sombras aconchegantes, o tempo aprazível. E era aquela embriaguez de azul. Os ingleses são assim nos seus cultos às flores. Tudo começa no início de Fevereiro quando os campos húmidos brotam os snowdrops, é o anúncio floral, depois daquele Inverno taciturno, plúmbeo, com cargas de água diluviais, em que a natureza adormece profundamente.

Estes campos de bluebells são um espanto, parecem tapetes viçosos, anunciam a maturidade primaveril. Ora vejam, do grande para o pequeno:



Cambridge ou Oxford, qual delas a mais bela?
Voto por Cambridge, tem mais intimidade, toda ela cheira à vida universitária, sinto-lhe a intimidade. Mas não nego as belezas de Oxford, a sua opulenta biblioteca, os seus colégios históricos, o Ashmolean Museum, profundamente didático, rico em tudo, em escultura, pintura, cerâmica, de todas as épocas. Tive sorte com a luz, gosto deste pátio que dá acesso à Bodleian, uma biblioteca ímpar num edifício ímpar, como se vê há qui uma mistura bem doseada de vários séculos.


Passei pelo Sheldonian Theatre, reputada sala de música, dentro de dias iria passar por lá Maxim Vengerov, ali fazem preleções figuras do mundo, como Kofi Anan. Prudente com o valor das libras, fui ouvir um trio nacional, com uma escolha musical de arrebatados românticos. A sala é esplendorosa, os lugares desconfortáveis, paciência.


E mostro-vos algumas fotografias dispersas de colégios e igrejas. Dá gosto deambular, bisbilhotar, ouvir e perguntar. Vejam lá se gostam:




Gosto muito dos cemitérios ingleses, não é só a tranquilidade, é a ausência do espalhafato dos mortos, acabou-se o terreal e ficamos todos em amenidade, é possível contemplar sem arrepios estas lápides sóbrias, há bancos para ler e meditar, esta atmosfera é um bálsamo, não se sai daqui a pensar nas coroas de espinhos nem nas lágrimas vertidas, ganha-se força para nos alegrarmos com as coisas que o bom Deus nos oferece enquanto estamos vivos, em cemitérios como este até se tem discernimento para preparar em boa forma a passagem para a outra vida.
É assim que penso, é assim que vibro nestes locais de apaziguamento, ouvindo o chilreio das aves e o murmúrio do vento, até porque, por definição, o tempo inglês é instável.


E chega por hoje, vamos viajar amanhã até Swanage, no Dorset, é lindo de morrer, vamos visitar o historiador Ben Buxton. Depois eu conto, até porque andei num velho comboio decorado à moda dos anos 1950.
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13517: Biblioteca em férias (Mário Beja Santos) (4): "Carta aberta às vítimas da descolonização”, por Jacques Soustelle

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